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Carolina Góis1
Newton Duarte2
Resumo: O presente trabalho tem como tema o critério de definição de clássico, que
consideramos de suma importância para pensarmos a questão da educação e, mais
especificamente, da educação escolar. Lukács, filósofo marxista húngaro, defende a
superioridade de certas obras – que considera clássicas – em comparação com expressões
artísticas de menor importância. Nos apoiando em sua concepção e, também, na de
Dermeval Saviani, que defendeu a tese de que a noção de clássico pode ser uma referência
para a definição do currículo escolar, buscamos, ainda que na forma de primeiras
aproximações, contribuir para a pedagogia histórico-crítica, assim como para a tese que a
questão central da pedagogia está nas relações que professor e alunos estabelecem com o
conhecimento objetivado pela humanidade.
Palavras-chave: Clássico; Arte; Pedagogia histórico-crítica.
Introdução
Este artigo apresenta uma pesquisa em andamento, com bolsa do programa PIBIC
CNPq/UNESP e integra-se à investigação, também em andamento, desenvolvida pelo Prof.
Dr. Newton Duarte, intitulada “Arte e Formação Humana em Lukács e Vigotski” (bolsa de
produtividade em pesquisa CNPq). Vinculado a essa temática mais geral, nosso tema
específico é o critério de definição do clássico, questão central para a arte e para a
educação. Trata-se de uma pesquisa teórica fundamentada no método materialista histórico-
dialético e desenvolvida por meio de análise bibliográfica.
Também estão articuladas a essa investigação realizada pelo orientador, duas
dissertações de mestrado, em fase de conclusão, junto ao Programa de Pós-Graduação em
Educação Escolar da UNESP/Araraquara, a saber: a de Maria Cláudia da Silva Saccomani,
sobre o tema “A criatividade na arte e na educação escolar” e a de Mariana de Cássia
Assumpção, sobre o tema “Arte e vida em Vigotski e Lukács: uma referência para a análise
da categoria de prática social na pedagogia histórico-crítica”.
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Graduanda em Pedagogia da Unesp/Araraquara (carolina.gois88@gmail.com).
2 Professor titular da Unesp/Araraquara (newton.duarte@uol.com.br).
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[…] clássico é aquilo que resistiu ao tempo, tendo uma validade que extrapola
o momento em que foi formulado. Define-se, pois, pelas noções de
permanência e referência. Uma vez que nascendo em determinadas
conjunturas históricas, capta questões nucleares que dizem respeito à própria
identidade do homem como um ser que se desenvolve historicamente, o
clássico permanece como referência para as gerações seguintes que se
empenham em apropriar-se das objetivações humanas produzidas ao longo
do tempo. (SAVIANI. DUARTE, 2012, p. 31)
Saviani afirma que o objeto da educação diz respeito, por um lado, à identificação
das formas culturais de conhecimento que precisam ser assimilados e, por outro, da
identificação das formas mais adequadas para o desenvolvimento do trabalho pedagógico.
Saviani ressalta que não basta o conhecimento sistematizado para a escola existir, é
necessário também viabilizar as formas mais adequadas para a realização do trabalho
docente. No que diz respeito ao primeiro aspecto, o autor explicita que a definição de
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clássico é central, pois é ela que norteará a seleção dos conteúdos nucleares que deverão
compor o currículo. Assim, introduz também, a fundamental distinção que deve ser feita: o
clássico não significa tradicional, nem se opõe ao novo. Nas palavras do autor:
Porém esse não é o único momento que Saviani utiliza o termo clássico.
Parafraseando uma afirmação que Gramsci fez acerca da polêmica entre as pedagogias
ativas e a escola tradicional, Saviani escreveu, em meados dos anos oitenta do século
passado, que o processo de desenvolvimento de uma pedagogia crítica que não fosse
produtivista também precisava superar a fase romântica, centrada na polêmica, em direção
à fase clássica, de cunho mais propositivo. Esclarece o autor que isso não significa que o
momento da crítica já tenha passado, tendo chegado a hora da ação, mas sim que é
necessário que tanto os conteúdos da crítica quanto da ação atinjam um novo patamar, uma
nova fase, recuperando assim, aquilo que resistiu ao tempo. É com esse raciocínio que ele
utiliza novamente o conceito de clássico, desta vez para se referir que clássico na escola é a
transmissão-assimilação do saber sistematizado. Que esse é o fim, o objetivo da escola.
Quando Saviani se refere ao saber sistematizado, ele está afirmando que não é
qualquer tipo de saber que diz respeito à escola, mas trata-se da cultura erudita, do
conhecimento elaborado e não ao conhecimento espontâneo. É nessa perspectiva que ele
situa o critério de clássico. O autor justifica essa posição argumentando que quem domina a
cultura erudita consegue apropriar-se da cultura popular sem maiores problemas, mas a
recíproca não é necessariamente verdadeira. Nas palavras do autor:
Para complementar e dar maior justificativa ao citado acima, Duarte (2003), fornece
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apoio para auxiliar na fundamentação de que o conhecimento mais elaborado nos fornece
possibilidades para a compreensão do menos desenvolvido, porém, a recíproca não é válida
– o menos desenvolvido não nos fornece elementos suficientes para a compreensão do
mais desenvolvido. O autor, analisando as relações da dialética entre Marx e Vigotski,
defende a tese que a psicologia vigotskiana fornece apoio a uma pedagogia que valorize a
transmissão dos conhecimentos mais ricos e desenvolvidos. Defendendo que a Pedagogia
Histórico-Crítica é a pedagogia que melhor valoriza a transmissão do conhecimento mais
elevado, afirma Duarte (2003, p. 77):
Por fim, ficou evidente que tanto para Marx como para Vigotski, as formas
mais desenvolvidas devem ser o ponto de partida para a compreensão das
formas menos desenvolvidas. Assim como a concepção pedagógica de
Dermeval Saviani, também a psicologia vigotskiana apoia-se no método
dialético de Marx, em cujo âmbito não há margem nem para o evolucionismo
ingênuo (seja no plano da história da organização social humana, seja no
plano da história do conhecimento), nem para o relativismo que nega a
existência de formas mais desenvolvidas de vida social e de conhecimento,
nem, finalmente, para o subjetivismo que nega o conhecimento enquanto
apropriação da realidade objetiva pelo pensamento.
Assim, toda grande arte é realista. Desde Homero. E isto porque ela reflete a
realidade; este é o critério irrecusável de todo grande período artístico, ainda
que naturalmente, variem infinitamente os meios de expressão.
(ABENDROTH et al, 1969, p. 184)
Porém, quando Lukács afirma que toda grande arte é realista, está se remetendo ao
“[…] realismo não como um conceito estilístico mas como a arte de qualquer época”
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(ABENDROTH et al, 1969, p. 34). Assim, mesmo uma obra cujo conteúdo tenha origem em
concepções que se voltam para a transcendência do mundo humano (religião), ela supera
esse idealismo transcendental, pois possui um caráter imanente próprio da composição das
obras de arte. Em outras palavras, a obra de arte é uma obra humana e como tal ela
reafirma o fato de que a realidade na qual vivemos é resultante da prática social, é obra de
seres humanos. Portanto, toda obra de arte é um todo que tem significado próprio, em si
mesmo, isso acaba por fazer com que toda grande obra de arte seja um testemunho da
criação humana, um testemunho da imanência do social, do humano. Lukács (1978, p. 283)
afirma que a transcendência
Para Lukács, a arte é mediadora entre o indivíduo e a vida. Ela possui uma função
social, desfetichizadora em relação à realidade, faz com que o indivíduo questione sua
própria individualidade. Portanto, a eficácia da grande arte reside no fato de que ela
proporciona uma ampliação e um aprofundamento das experiências do indivíduo, ela faz
superar as experiências que o indivíduo já viveu, proporcionando-lhe novas e
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enriquecedoras.
Portanto, o efeito provocado pela grande obra de arte proporciona uma elevação do
indivíduo em direção ao gênero humano; porém, essa elevação não significa que, em
contato com a obra de arte, o indivíduo torne-se imediatamente outro homem, ou seja, esse
enriquecimento não ocorre simplesmente pelo contato com a obra de arte, mas é um
processo de enriquecimento de sua personalidade. Nas palavras do autor:
Resultados parciais
Referências
ABENDROTH et al. Conversando com Lukács. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969.