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C Perspectivas de

omunhão
Revista de Espiritualidade e Pastoral
Ano XX - setembro de 2011 - n. 08

Encontro dos padres focolarinos responsáveis de regiões e focolares


Saint Maurice - Suíça, 22-27/08/2011. Pe. Hubertus Blaumeiser saúda os presentes

Renovar nossas Paróquias

Leigos corresponsáveis e pequenas comunidades: Bento XVI

Paróquias “novas”: Chiara Lubich

O sim da paróquia ao projeto de Deus: Adolfo Raggio

Discernimento comunitário: Tonino Gandolfo

«Animar» os Conselhos pastorais: Vinko Paljk

Experiência: Luis Fernando da Silva


Editorial

Antonio Capelesso

E
m resposta a um desejo expresso pelo Papa Paulo VI, em 1966, Chiara Lubich deu início ao
Movimento Paroquial convidando as pessoas do Movimento dos focolares que atuam nas paró-
quias a animar esta “célula da Igreja” com o espírito da unidade. Um programa que mais tarde se
revelou em profunda sintonia com a Novo millennio ineunte, de João Paulo II, em que ele nos convida a “fazer da
Igreja, portanto concretamente da paróquia, a “’casa e escola de comunhão’” (NMI, 43).

A luz sobre o candeeiro


O Evangelho nos orienta muito claramente de que a lâmpada deve ser colocada sobre o candeeiro, a fim
de que ilumine a todos os que estão na casa e não debaixo da mesa, ou da cama.
A experiência nos mostra que as pessoas que tiveram a possibilidade de se encontrar com a luz de um novo
carisma que, de tempos em tempos, o Espírito concede a algumas pessoas para o bem de toda a Igreja, percebem
que uma nova luz ilumina suas mentes e impele seus corações a um novo ardor evangélico a serviço dos irmãos.
Esta luz colocada sobre o candeeiro ilumina a vida dos irmãos e da comunidade.
Esta é a experiência de muitos leigos e sacerdotes que se encontraram com o ideal da unidade. Esta luz
pode ser levada para dentro de nossas comunidades paroquiais se dois ou mais estiverem reunidos em nome de
Jesus. Este é um caminho privilegiado para Deus operar grandes maravilhas neste ambiente.

A fonte desta luz


Uma das palavras da Escritura que fulgurou Chiara e suas primeiras companheiras e que se traduziu logo
numa forte experiência de comunhão foi a promessa de Jesus de garantir a sua presença onde duas ou mais pessoas
estão reunidas em seu nome. É a presença de Jesus na comunidade cristã que vive o seu mandamento novo (cf.
Mt 18, 20).
Os discípulos de Emaús, refletindo sobre a convivência com o Ressuscitado ao longo do caminho que
os levava para casa, perceberam nova luz para entender as Escrituras e novo ardor no coração. Assim as pessoas
que fazem a experiência dessa presença espiritual de Jesus na comunidade sentem que não podem manter os seus
frutos somente para si, mas que esses devem ser transbordados na vida dos demais irmãos, nos vários âmbitos da
Igreja e da sociedade.

A Palavra de Vida
Em muitas comunidades paroquiais essa nova luz renovadora começou com o acolhimento e a prática da
Palavra de Deus. Desde o início do Movimento dos focolares, Chiara e suas companheiras tendo que correr para
os refúgios devido aos bombardeios que ocorriam por ocasião da segunda guerra mundial, levavam para lá apenas
uma lamparina e um pequeno evangelho. A graça desse novo carisma fez com que elas entendessem a Escritura
de modo totalmente novo. Foi assim que surgiu a prática de escolher e praticar uma frase completa da Escritura
durante um mês e partilhar as experiências vividas, denominando-a Palavra de Vida.
Desta prática, surgiram os encontros da Palavra de Vida onde costuma-se acolher, meditar e, concreta-
mente colocar em prática a Palavra de Deus, partilhando depois as experiências feitas. Quase sem perceber as
relações se transformam: tornam-se mais verdadeiras, sinceras, adquirem profundidade. A Palavra de Deus que
ilumina todo homem que vem a esse mundo, desse modo vivida e partilhada, tem levado muita luz e renovação
espiritual para as comunidades paroquiais.
Nesta edição de setembro, apresentamos vários textos que podem ser uma excelente oportunidade para
uma verdadeira renovação espiritual que deve transbordar de nossos corações para dentro de nossas comunidades
paroquiais, graças à realização da promessa de Jesus de estar presente onde seus discípulos estão reunidos em seu
nome.

2 Perspectivas de Comunhão
Leigos corresponsáveis
e pequenas comunidades
Bento XVI

No dia 26 de maio de 2009, na Basílica de São João de Latrão, o Papa Bento XVI, por ocasião da abertura do
Congresso Eclesial da Diocese de Roma, proferiu um importante discurso sobre a co-responsabilidade dos leigos
e a constituição de pequenas comunidades. Abaixo reproduzimos apenas alguns trechos deste discurso.

É
necessário [...] melhorar a orientação da população, a sua fisionomia social e cultural, com
pastoral, de modo que, no respeito das frequência muito diversificada. Seria importante se este
vocações e dos papéis dos consagrados método pastoral encontrasse aplicação eficaz também
e dos leigos, se promova gradualmente a co-responsa- nos lugares de trabalho, que hoje devem ser evange-
bilidade do conjunto de todos os membros do Povo de lizados com uma pastoral de ambiente bem pensada,
Deus. Isto exige uma mudança de mentalidade no que porque devido à elevada mobilidade social a população
diz respeito particularmente aos leigos, passando de transcorre nele grande parte do dia.
considerá-los “colaboradores” do clero ao reconhecê-los
realmente “co-responsáveis” do ser e do agir da Igreja, A forma primária da missão
favorecendo a consolidação de um laicato maduro e
comprometido. Esta consciência comum de todos os Por fim, não se deve esquecer o testemunho da
batizados de ser Igreja não diminui a responsabilidade caridade, que une os corações e abre à pertença eclesial.
dos párocos. Compete precisamente a vós, queridos pá- À pergunta como se explique o sucesso do cristianismo
rocos, promover o crescimento espiritual e apostólico dos primeiros séculos, o crescimento de uma presumí-
de quantos já são assíduos e comprometidos nas paró- vel seita judaica à religião do Império, os historiadores
quias: eles são o núcleo da comunidade que servirá de respondem que foi particularmente a experiência da
fermento para os outros. caridade dos cristãos que convenceu o mundo. Viver
a caridade é a forma primária da missionariedade. A
Palavra anunciada e vivida torna-se credível se se en-
Pequenas comunidades vivas
carna em comportamentos de solidariedade, de parti-
Prodigalizai-vos, portanto, para voltar a animar lha, em gestos que mostram o rosto de Cristo como de
cada paróquia [...] aos pequenos grupos ou centros de verdadeiro amigo do homem. O silencioso e cotidiano
escuta de fiéis que anunciam Cristo e a sua Palavra, lu- testemunho da caridade, promovido pelas paróquias
gares nos quais seja possível experimentar a fé, exercer graças ao compromisso de tantos fiéis leigos, continue
a caridade, organizar a esperança. Este articular-se das a propagar-se cada vez mais, para que quem vive no
grandes paróquias urbanas através do multiplicar-se de sofrimento sinta que a Igreja está próxima e conheça o
pequenas comunidades permite um alcance missioná- amor do Pai, rico de misericórdia.
rio mais amplo, que tem em consideração a densidade

Encontro das Regiões do Brasil, Bex, 29/08/2011 Centros de espiritualidade, Bex - CH, 28/08/2011

Leigos corresponsáveis e pequenas comunidades 3


Paróquias «novas»

Chiara Lubich

Apresentamos alguns trechos da última mensagem de Chiara Lubich, enviada aos membros do Movimento dos
focolares, denominados empenhados paroquiais, reunidos em Congresso em Castel Gandolfo no dia 24 de maio
de 2005. O texto integral pode ser encontrado na Revista Gens 35 (2005) pp. 108­-109.

C
onsideremos a realidade da paróquia, Difundir a espiritualidade da unidade
hoje. Em várias partes do mundo, pa-
rece que ela esteja atravessando – assim Mas agora os convido a dar um passo ulterior:
afirmam os peritos – um período de incerteza ou até […] aproveitem de cada ocasião oportuna – encon-
mesmo de crise. A paróquia, com as novas condições tros pessoais, catequese, reuniões... – para difundir
de vida (o fim da civilização agrícola, a mobilidade da amplamente a espiritualidade da unidade: trata-se de
população e a difusão do secularismo), de centro da espiritualidade de comunhão, é Evangelho puro! Sede
vida social, muitas vezes se viu reduzida a uma rea- “ fermento de comunhão”4, como dizia João Paulo II,
lidade periférica, procurada ocasionalmente para os procurando desamarrar os nós e as divisões, que pos-
serviços religiosos. Ela não possui mais aquele influxo sam surgir, com a caridade e o amor pessoal a Jesus
evangelizador capaz de atrair os homens e mulheres do abandonado.
nosso tempo. E não se dêem tréguas até não chegardes a se-
Os bispos sempre afirmaram, também em do- mear a comunhão em toda a comunidade paroquial.
cumentos recentes1, a importância desta instituição; Somente assim ela será um testemunho convincente,
porém, ao mesmo tempo, salientaram que essa tem ne- uma comunidade que resplandece em toda a Igreja.
cessidade de renovação2. Então surgirão “paróquias novas”.
Paróquias onde se vive a Palavra, a Eucaristia e
a comunhão fraterna, como nas primeiras comunida-
Caminhos para a renovação des cristãs.
No momento, procura-se muitas estradas para Paróquias que valorizam em seu seio os diver-
dar à paróquia uma nova imagem. sos carismas: que agem em comunhão com as outras
Para nós, o Senhor concedeu um carisma pró- paróquias: que colaboram com os vários movimentos,
prio para o mundo de hoje, o carisma da unidade. em plena sintonia entre instituição e carisma.
Estou convencida de que ele pode ajudar também as Paróquias que vivem os diálogos com cristãos
comunidades paroquiais a renovarem-se, a tornarem-se de outras Igrejas ou com fiéis de outras religiões, e res-
aquilo que devem ser: Igreja viva, onde todos encon- piram a catolicidade.
tram a presença de Deus, de Jesus.
Por isso sentimos a responsabilidade de ter re-
cebido tal dom de Deus e temos a coragem de difundir O rosto materno da Igreja
a espiritualidade da unidade, especialmente agora que Enfim, paróquias, nas quais resplandece o ros-
João Paulo II a lançou para toda a Igreja como “espiri- to materno, mariano da Igreja. Ou melhor, nas quais
tualidade de comunhão”3.
Sei que vocês trabalham nas paróquias como Maria está presente, porque como ela, a comunidade
membros dos vários Conselhos e comissões, catequis- “gera”5 Jesus em meio a seu povo.
tas, ministros da Eucaristia, ou colaboram nas várias Não seria maravilhoso promover uma Igreja
iniciativas paroquiais e em diversos âmbitos. Com cer- local tão viva, de modo que se possa dizer a muitos:
teza a vossa vida já irradia essa espiritualidade. venham e vejam?
Isto pode parecer um sonho. Mas deve tornar-se
realidade. É o que eu espero de vocês.
Estou convencida de que vossos bispos, como
toda a sociedade que vos circunda ficariam muito
felizes.
1 Cf. Por exemplo: Conferência Episcopal Italiana (CEI), O rosto
missionário das paróquias num mundo que muda. Nota pastoral, 4 João Paulo II, Saudação aos animadores do Movimento paro-
30.5.2004. quial, Audiência geral de 15.5.96.
2 Cf. Christifideles laici, 26. 5 Cf. Ensinamentos de Paulo VI, Cidade do Vaticano 1964,
3 Novo millennio ineunte, 43. pp.107-2­73.

4 Perspectivas de Comunhão
O sim da paróquia ao projeto de Deus

Adolfo Raggio

Pe. Adolfo Raggio há muitos anos é responsável pelo Movimento paroquial e Movimento diocesano, ramifica-
ções do Movimento dos focolares que tem como finalidade contribuir para a renovação da paróquia e da diocese
através do empenho dos seus membros nas atividades concretas das paróquias e dioceses, procurando viver e
difundir a espiritualidade de comunhão. Nesta entrevista se detém nas idéias-força e atitudes que animam
centenas de paróquias pelo mundo à procura de uma renovação de sua vida.

O modelo da Igreja-comunhão que é “comunhão” [...]. Assim nasce a Igreja [...]. É desse
modo que nasce também a Igreja em cada paróquia. A
PdC: Partimos de uma pergunta fundamental: Igreja em cada paróquia tem em si este mistério de Deus
quais as pistas e sinais que podem ajudar a comunidade que é “comunhão” [...] porque é Amor”9. De modo seme-
paroquial a perceber e realizar sobre si o projeto de Deus? lhante Bento XVI afirma: “A primeira e mais importante
Adolfo Raggio: O modelo a ser olhado é sem exigência é que a paróquia constitua uma “comunidade
dúvida Jesus com a sua comunidade de discípulos, este eclesial” e uma “família eclesial”10. Este é o modelo de
pequeno rebanho, que ele escolheu e formou6. O seu comunidade paroquial que Deus quer: “uma família ani-
estilo de vida tem continuidade na primeira comunidade mada pelo espírito da unidade”11, “uma casa de família
cristã, como os Atos dos Apóstolos o descreve7. Tratava- fraterna e acolhedora”12.
se de um tempo parecido com o nosso, em que era ne- Foi necessário todo um período histórico para
cessário dar origem a uma sociedade alternativa, onde os superar uma visão da paróquia que a reduzia a uma
relacionamentos de amor fraterno estivessem claramente comunidade de culto, onde se celebra a missa, admi-
em contraste com os do mundo que o circundava. Suces- nistram-se os sacramentos e se faziam os enterros, en-
sivamente este modelo se concretizou, na Igreja, ao longo quanto ficava em segundo plano o aspecto essencial da
dos séculos, com diversas variações. Koinonia, do ser comunidade viva do Povo de Deus.

Igreja comunhão Um contributo


Podemos descobrir o projeto atual de Deus para Hoje é indispensável formar pessoas conscien-
a paróquia também através dos recentes documentos tes de que o elemento distintivo da Igreja é o amor fra-
eclesiais. Tudo pode ser sintetizado nas palavras: Igre- terno em Cristo, pessoas animadas por uma espiritua-
ja comunhão8. É muito significativo nesse sentido um lidade de comunhão e empenhadas em fazer com que a
pensamento de João Paulo II: “Deus é comunhão por- paróquia seja sempre mais verdadeira família de Deus.
que amor, e sendo amor não pode não ser comunhão. Um número sempre maior de comunidades estão se
Nós trazemos em nossas raízes esta realidade de Deus movendo nesta direção, também pela influência dos
novos Movimentos.
6 Cf. G. Lohfink, Como Jesus desejava a sua comunidade, Ed. PdC: Neste sentido, qual a contribuição que o
Paulinas, cinisello Balsamo (Milão) 1986, pp. 81-82. carisma da unidade pode dar à edificação da comunida-
7 Cf. At 2,42; 4,32. Escreve E. Castellucci: “Este quadro [a co-
munidade cristã descrita nos Atos] é colocada no interno de uma
dimensão ‘doméstica’ da comunidade, que era uma forma normal 9 João Paulo II, Comunione e missione nella Chiesa di Roma. Dis-
na Igreja apostólica e na dos dois séculos seguintes” (Ser comuni- curso ao clero da diocese de Roma, em “L’Osservatore romano”
dade cristã hoje), em “Il regno” 55 [2010/13] p. 416). de 4 de março de 1990.
8 Cf. Christifideles laici 19 que repropõe a frase “A eclesiologia 10 Aos bispos da Conferência episcopal da Polônia (III grupo),
de comunhão é a idéia central e fundamental nos documentos do na visita ad limina, Cidade do Vaticano, 17 de dezembro de 2005.
Concílio”, expressa pelo Sínodo extraordinário dos bispos aconte- 11 Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, 28.
cido em 1985, vinte anos após a conclusão do concílio Vaticano II. 12 João paulo II, Cathechesi tradendae, 67.

O sim da paróquia ao projeto de Deus 5


de paroquial? Existe algo específico que o Movimento dos Percebe-se isto, de modo particular, quando uma
focolares pode oferecer? comunidade de tal modo concorde reúne-se na assem-
bléia dominical. Pessoas que normalmente não frequen-
Adolfo Raggio: Seguramente. Também para
tam a Igreja, participando ocasionalmente de uma destas
minha vida de sacerdote o encontro com a espirituali-
celebrações, tocadas pelo clima fraterno e evangélico en-
dade da unidade trouxe um contributo, o aprofunda-
contrado, muitas vezes se exprimem, até publicamente,
mento de vários aspectos. Agora, porém, devo procurar
com frases como estas: “Aqui encontrei Deus; “percebi
expressar qual o contributo para a vida da paróquia.
que devo me converter”; “encontrei-me em casa”.
Antes de tudo – e esta é a premissa de tudo o
que direi em seguida – o carisma da unidade focali-
za e, de algum modo, confere um sentido novo a três Ver Jesus no irmão
elementos chaves da vida da comunidade: a Palavra, a PdC: Bastam apenas duas pessoas que vivem des-
Eucaristia e o relacionamento fraterno. Neste sentido, te modo a Eucaristia e se eleva o clima espiritual do con-
Chiara fala de “três comunhões”. junto. Portanto, não se deve pensar: “Mas entre nós isso
não é possível!” Porém Existe uma terceira “comunhão”: o
Partilhar as experiências relacionamento fraterno.
Iniciemos pela comunhão com a Palavra. Adolfo Raggio: No seminário aprendi a ver
Quando eu encontrei os focolarinos fiquei impressio- Jesus na Eucaristia: ia à igreja e lhe falava. Mas posso
nado pelas suas experiências do Evangelho vivido no dizer que jamais pensei que o colega sentado perto de
cotidiano. Também eu comecei a pôr em prática a Pa- mim era Jesus. É verdade que vivíamos antes do Con-
lavra. cílio Vaticano II.
A partir desta rica experiência, já são inúmeras O encontro com os focolarinos abriu-me os
as paróquias em que se fazem encontros da Palavra de olhos e me possibilitou esta realidade: ver Jesus em
Vida. É indispensável iniciar estes encontros valorizan- todos. Isto mudou todos os meus relacionamentos.
do, antes de tudo, os relacionamentos de amor mútuo Quando esta visão de fé, “a Mim o fizestes”, anima as
de modo que Jesus, Palavra Viva, se torne presente na pessoas de uma comunidade, o clima espiritual muda
comunidade reunida em seu nome. Além disso, não completamente.
nos limitamos somente a ler e meditar a Palavra, mas se Fazer isto é o que os membros do Movimento
comunicam as experiências feitas ao vivê-la. empenhados na paróquia se propõem; “Procuramos fa-
zer circular o amor na comunidade paroquial – narra
PdC: É preciso dizer que, efetivamente, o caris- um deles – acolhendo as pessoas na porta da igreja e
ma da unidade foi um grande estímulo a este respeito. cumprimentando-as no final da celebração. Estamos
Mas tem também a Eucaristia... atentos às suas necessidades, procuramos uma cadei-
Adolfo Raggio: Sabemos que a comunidade ra para quem está em pé, ou entregamos o folheto da
encontra a plenitude da unidade como cume e raiz na missa a quem não o tem. São pequenos gestos, mas
Eucaristia. De fato, Jesus pediu ao Pai o dom da unida- procuramos fazê-los com amor e por Jesus. Assim elas
de entre os seus depois de ter-nos deixado a Eucaristia criam o clima de família, o ambiente de casa, de modo
que é seu fundamento. É a Eucaristia que nos faz um: que as pessoas se sentem amadas. Há pessoas que vem à
somos um entre nós conforme o modelo do Pai e do nossa paróquia exatamente por causa do clima de aco-
Filho no Espírito, portanto uma coisa só, pela Euca- lhimento que encontram”.
ristia13. Esta visão de fé em relação ao próximo dá novo
Mas para que esta unidade possa manifestar-se, é sentido também às atividades caritativas e sociais. Ela
preciso fazer a nossa parte. É típico do Movimento, quan- estimula a cuidar particularmente dos pobres, dos ido-
to a isto, fazer o “pacto de amor recíproco” procurando sos, dos portadores de problemas físicos, dos margina-
estar prontos a dar a vida uns pelos outros. Quando na lizados de todo o tipo, dos imigrantes14, ajuda a pro-
comunidade reina este relacionamento, a Eucaristia ma- mover a dignidade humana nas várias situações sociais e
nifesta plenamente o seu efeito: faz-nos “um” e a comuni- locais. Além disso, somando forças com a sociedade civil,
dade demonstra ser, de maneira misteriosa mas verdadei- procuram promover aqueles valores cristãos, que são, ao
ra, Jesus, o seu Corpo místico vivo.

14 Cf. por exemplo R. Beck, “E voi tutti siete fratelli”, Pastorale


13 Cf. Chiara Lubich, Scriti Spirituali/IV, Città Nuova, Roma com l’audacia del Vangelo in contesto multietnico, em “Gen’s” 40
1981, p. 46. (2010) pp. 40-41.

6 Perspectivas de Comunhão
mesmo tempo, plenamente humanos, universais. Faz-se de e vede? Isto pode parecer um sonho, mas pode na
isto reconhecendo nestas ações um serviço a Jesus vivo realidade tornar-se uma realidade17. É exatamente isto
em seus membros, como contributo para construir a “ci- que Bento XVI desejou aos animadores do Movimento
vilização do amor” e para progredir o projeto de Deus paroquial e diocesano, ramificações do Movimento dos
para a humanidade15. focolares, naquele mesmo ano: “Sejam sinal de Cristo Res-
suscitado em vossa comunidade e nos ambientes de vida”18.
A presença do Ressuscitado É nesta ótica e, a partir de tal experiência, que
se pode entender tantos comentários que ouvi da parte
PdC: Se compreendemos bem, até aqui falamos de alguns párocos: “Compreendi que buscar a presen-
somente da “premissa”. Quais são os outros elementos ca- ça de Jesus em meio à comunidade deve ser o objetivo
racterísticos com os quais o carisma da unidade contribui prioritário da minha ação pastoral”.
para a vida da paróquia?
Adolfo Raggio: Desejo colocar em relevo dois Um só coração, uma só alma
deles. Antes de tudo uma atualização e, diria, uma
compreensão da presença de Jesus na comunidade. E, Aqui gostaria de fazer uma reflexão. Muitas
depois, a descoberta de Jesus crucificado como chave pessoas vão à igreja para participar da missa, para re-
da unidade. ceber a Eucaristia, para rezar, para cumprir o preceito
Desde o início os Apóstolos e os primeiros cris- dominical, porque é tradição... Mas quantos o fazem
tãos tinham profunda consciência do significado desta para recriar aquele relacionamento fraterno que nos faz
presença e repetiam: “Jesus ressuscitou! Jesus ressusci- “Igreja”, Ekklesia (=assembléia), que nos faz ser como
tou!”. Os Padres da Igreja falavam amplamente sobre os primeiros cristãos “um só coração e uma só alma”?
isto porque experimentavam esta presença de Jesus na Quantos entram na igreja com aquela disposição de
comunidade. Sucessivamente essa consciência foi di- amor para com todos que “atrai” a presença de Jesus
minuindo. Sabemos que até o século XII a Igreja era Ressuscitado para o meio da comunidade? Quantos
considerada o “corpo verdadeiro” de Cristo enquanto estão conscientes de que quando nos encontramos
que a Eucaristia era considerada o “corpo místico”. para a assembléia dominical, nosso primeiro empenho,
Mais tarde o uso destas duas expressões se inverteu é o de compor o seu Corpo místico vivo, antes mes-
e o acento foi posto na “presença real” na Eucaristia, mo de nutrir-nos de sua Palavra e alimentar-nos dEle
entendida como “verdadeiro corpo de Cristo”16. Des- Eucaristia, convictos de que, se não circular a caridade
te modo, a realidade da Igreja como Corpo de Cris- entre todos, a comunidade não testemunha a presença
to ficou na penumbra, enquanto veio em relevo a es- de Deus em seu meio?
trutura hierárquica da Igreja. Somente em 1943, Pio Na verdade, é necessária uma mudança de ati-
XII repropõe esta visão na encíclica Mystici Corporis. tudes e de mentalidade, com imensas consequencias
É impressionante constatar que exatamente no mesmo pessoais, interpessoais e estruturais, na comunidade
ano o Espírito Santo suscitou um carisma que ajuda a eclesial e na sociedade.
viver a realidade do Corpo místico, pondo em relevo a
presença de Jesus na comunidade, anunciada no Evan- Reconhecer Jesus abandonado
gelho de Mateus 18, 20. PdC: O senhor acenou ainda a outro aspecto: a
descoberta de Jesus crucificado como chave da unidade...
Um sonho ou realidade? Adolfo Raggio: Jamais se pode esquecer quan-
Chiara Lubich dizia que se soubermos colocar to é central na espiritualidade da unidade Jesus que na
em relevo a presença de Jesus em nosso meio, expe- cruz grita: “Meu Deus, meu Deus, porque me abando-
rimentaremos a presença viva do Ressuscitado. Não é nastes” (Mt 27,46; Mc 15,34), descoberta que remonta
somente a unidade, é o Ressuscitado. “Não seria mara- aos primeiros momentos do Movimento dos focolares
vilhoso – nos escreveu em maio de 2005 – fazer nascer e à vida nova que nasceu ao redor de Chiara Lubich.
uma Igreja local tão viva que se possa dizer a todos: vin- O ter fato de ter fixado o olhar sobre aquele
abissal momento da paixão de Jesus dá a verdadeira

15 Cf. M. Cataldi A. Capella (a cura di), Una città si trasforma. Il


Vangelo come fermento di fraternità. “Gen’s” 40 (2010) pp. 42-43. 17 Dar visibilidade ao ressuscitado, em “Gen’s” 35 (2005) p. 109.
16 Cf. J. M. Tillard, Chiesa di Chiese. L’eclesiologia di comunio- 18 Citado em A. Raggio, Por uma paróquia casa e escola de co-
ne, Queriniana, Brescia 1989, p. 36, nota 68. munhão, em “Gen’s” 35 (2005) p. 117.

O sim da paróquia ao projeto de Deus 7


medida do amor exigido dos cristãos para serem se- os próprios apegos. Essa é uma atitude que precisa ser
mentes de unidade. “Amai-vos uns aos outros assim cultivada na comunidade paroquial.
como eu vos amei” (Jo 13,34). Um pároco escreveu-nos recentemente: “Senti-
Jesus, contemplado no seu momento mais es- mos a exigência de formar as consciências de modo que
curo, sobre a cruz, deu um novo significado à dor: nos as pessoas aprendam a estarem atentas aos sinais que
faz ver no negativo, nas dificuldades, na dúvida, um manifestam o plano de Deus e estejam prontas a reali-
encontro com Ele. Quando descobrimos o seu vulto zá-lo. Convidamos os membros do Conselho pastoral a
nos sofrimentos e os carregamos juntos, em comunhão, participar de um curso onde foram comunicadas expe-
estes se tornam mais leves, têm-se a força para enfren- riências sobre a escuta da voz do Espírito. Agora é mais
tá-los na paz e com fé. fácil chegar a um consenso à procura do que Deus quer
Nós percebemos que, nas paróquias onde se para a nossa paróquia”.
procura reconhecer e amar este vulto de Jesus nas pro-
vações pessoais, eclesiais, sociais, se respira um ar de Desígnio comunitário
serenidade, de confiança. E, exatamente, por esta at-
mosfera luminosa uma destas comunidades paroquiais Porém, o desígnio de Deus para a paróquia
foi chamada pelo povo “a comunidade da alegria”. comunitário e, portanto, deve ser buscado em comu-
nhão, na luz que nasce da unidade. Não é suficiente a
disposição interior dos indivíduos singularmente para
Discernimento comunitário e
descobrir e atuar o projeto de Deus para a comunida-
corresponsabilidade de, é preciso mover-se comunitariamente. Deste modo
PdC: Para completar o quadro, seria preciso vem em relevo uma segunda condição fundamental
falar aqui também do contributo que o Movimento dos para que a vontade de Deus se manifeste: procurá-la
focolares oferece às paróquias no campo dos vários diálo- juntos, em unidade, em sinodalidade como se sublinha
gos iniciados pelo Concílio19 e de uma sempre mais plena hoje20, realizando um discernimento comunitário.
realização do perfil mariano da Igreja. Mas antes disto aqui Um estilo que exige uma mudança de mentali-
nos perguntamos: como conhecer concretamente a vontade dade, passar de uma visão de Igreja piramidal para a de
de Deus para a própria comunidade? uma Igreja povo de Deus. Mas, sobretudo, uma mudança
de relacionamento entre sacerdotes e leigos no agir coti-
Adolfo Raggio: Existem elementos objetivos que diano, possibilitando aos leigos serem verdadeiros corres-
indicam a vontade de Deus para a paróquia: as normas da ponsáveis pela administração da comunidade paroquial
Igreja universal e diocesana, o contexto eclesial e social, e não somente colaboradores. É neste jogo de partilha
as circunstâncias concretas do momento. com os outros sacerdotes presentes na paróquia e com os
Mas desejo acenar a duas condições existenciais fiéis leigos que o pároco encontra a graça de levar avante
para que o projeto de Deus sobre a paróquia se torne ma- a comunidade segundo o plano de Deus uma vez que en-
nifesto e depois seja atuado: colocar-se na escuta da voz do tão Jesus se faz presente e ilumina sobre o que Deus quer
Espírito e agir em comunhão. e tornando-se alto falante da voz interior de cada um. É
Muito frequentemente se pensa poder orientar a fundamental para a condução de uma comunidade agir
paróquia, sobretudo, com uma boa preparação pedagó- em comunhão.
gico-pastoral, com uma aprofundada análise sociológica
do local, com a própria experiência e dons pessoais. Sem
dúvida, tudo isto é útil, mas esta não é a atitude funda-
Os conselhos pastorais
mental para realizar na terra o projeto que Deus tem no PdC: Existem instrumentos que ajudam nesta
céu para aquela comunidade. busca comunitária da vontade de Deus?
A primeira condição é estar abertos às inspi-
Adolfo Raggio: São aqueles indicados pelo
rações do Espírito. É necessária a presença de pessoas
Concílio Vaticano II: as estruturas de participação.
que tenham feito a escolha de Deus e estejam à procura
Entre estas ocupa um lugar particular o Conselho
daquilo que Ele quer delas e para a comunidade. Trata-
pastoral, que não deve ser considerado simplesmente
se de uma atitude interior de “escuta” do Espírito, que
supõe fazer calar outras vozes, de estarem prontas a co-
20 Acerca do conceito de “sinodalidade” cf. o artigo sintético,
locar de lado os próprios projetos, as próprias ideias, mas atualizado e estimulante de T. Gandolfo, Sinodalidade, isto
é ser Igreja, em “Città Nuova” 54 (2010/21) p. 25; para ulteriores
19 Para este aspecto cf. O caderno Paróquia em diálogo da revista aprofundamentos, cf. Associazione Teologica Italiana, Igreja e si-
“Gen’s, 32 (2002) pp .97-168. nodalidade, Glossa. Milano 2007.

8 Perspectivas de Comunhão
como uma comissão para a organização do programa Os membros destas ramificações do Movimen-
pastoral ou uma estrutura de coordenação das diversas to dos focolares estão plenamente inseridos nos vários
atividades e realidades da paróquia, mas antes de tudo, âmbitos da paróquia que lhes são confiados, ou empe-
como um ambiente de treinamento para a comunhão nhados nas diversas iniciativas e atividades paroquiais,
e corresponsabilidade entre sacerdotes e leigos superan- e procuram ser “fermento de comunhão”, em toda par-
do atitudes de poder de uma parte e de outra, com a te promovendo a colaboração e a união fraterna para
contribuição construtiva e desapegada de todos. Neste que a comunidade paroquial se torne sempre mais Igre-
sentido ele se torna um lugar privilegiado do ser Igre- ja viva, comunhão realizada.
ja juntos. É importante, portanto, que todos os seus Conscientes de que não podem dar aos outros
membros sejam orientados a descobrir juntos o que aquilo que não possuem, eles por primeiros fazem uma
Deus quer naquele momento para a paróquia pondo- experiência concreta de vida de unidade junto com os
se, para isso, à escuta do Espírito. É necessário parti- outros membros do Movimento, com as exigências e
lhar as diversas opiniões propostas, mas com desapego, os passos que ela comporta. Nas paróquias nas quais
como um dom a ser acolhido reciprocamente na dis- atuam, eles constituem “células de unidade” imersas
posição de saber perder se no conjunto for encontrada no meio do povo, que pela mútua e contínua caridade
uma decisão melhor. Num clima de diálogo e de escuta mantém viva a presença de Jesus, irradiam o Evange-
as pessoas são mais iluminados sobre as decisões a se- lho e envolvem muitas pessoas para construir a civili-
rem tomadas. zação do amor.
Infelizmente não faltam paróquias onde os Frequentemente estas células se multiplicam
Conselhos pastorais se reduzem a espaços organizati- nos bairros, nos vários setores ou condomínios, dando
vos e até, às vezes, em locais de desencontros das várias vida a muitas pequenas comunidades abertas a todos,
opiniões antes que encontro em busca da luz do Espí- que se encontram para aprofundar e viver a Palavra,
rito. Para facilitar o bom funcionamento do Conselho para crescer na unidade e difundir a linfa do amor na
pastoral, em algumas paróquias se dedica um primeiro vida da sociedade.
momento da reunião para criar um clima de amor fra-
terno e de abertura ao outro, servindo-se de documen- Um formidável impulso
tos da Igreja ou de escritos espirituais que convidam à
comunhão. Sobre esta base depois torna-se mais fácil e PdC: Fazemos votos de que este testemunho possa
mesmo mais rápido ver juntos e programar as ativida- encorajar as pessoas a agirem “como corpo” para descobrir
des que restam, que marcam e produzem vida, fruto da qual a vontade de Deus na própria paróquia. Porém é ne-
luz que brota da unidade. cessário levar em consideração que nas várias regiões, na
Itália ou na Alemanha, na África, na Ásia ou nas Amé-
ricas, sob muitos pontos de vista, a situação é diferente...
Células de unidade
Adolfo Raggio: Isto é verdade e por isso é im-
PdC: Concluindo, nos perguntamos qual a linha portante seja levado em consideração. Todavia a expe-
que os membros do Movimento dos focolares que traba- riência nos ensina que as ideias-força, as linhas fun-
lham na paróquia ou nos organismos e estruturas diocesa- damentais da espiritualidade de comunhão a que ace-
nas devem seguir? namos, são – em nível de pensamento e de vida – um
Adolfo Raggio: A longa experiência do Movi- formidável impulso para a renovação eclesial em todas
mento paroquial e do Movimento diocesano foi con- as culturas, situações e latitudes. Trata-se de uma pers-
densada nos regulamentos, ou melhor, na linhas de pectiva que torna a Igreja existencialmente mais santa,
vida destas duas ramificações. Ali se encontram pre- mais bela e atraente, porque mais unida, em todos os
ciosas indicações sobre como agir nas várias expressões níveis, inclusive no das comunidades paroquiais e dio-
da vida da paróquia e das dioceses, juntamente com cesanas.
orientações para que se viva sempre mais a comunhão.

O sim da paróquia ao projeto de Deus 9


Discernimento comunitário
Tonino Gandolfo

O plano de Deus sobre a paróquia, como também sobre a Igreja e toda a humanidade, é um desígnio comu-
nional. Apresentamos uma experiência concreta sobre a importância de procurar discernir comunitariamente o
projeto de Deus e os caminhos para realizá-lo. Um caminho que requer tempo, mas que traz frutos abundantes
e duradouros.

N
o período de minha formação, no com toda a comunidade, que teria me conduzido a
seminário, um dos meus “sonhos” amar pessoas e situações. Assim foi durante os 16 anos
frequentes era imaginar-me no pá- que se seguiram. Assim aconteceu nos momentos mar-
tio de um oratório em contato direto com os adolescen- cados pela alegria de construir juntos um pedaço de
tes e jovens, para brincar com eles e, sobretudo, para humanidade renovada pelo Evangelho e nos momentos
escutar as suas confidências e transmitir-lhes a “luz” marcados pela escuridão, pelo desânimo, pela vontade
que o encontro com Jesus trouxe para minha vida. de largar tudo...
Ainda não era padre, um ano antes de minha
ordenação, o bispo convocou um meu companheiro e A unidade como alicerce
eu, para comunicar-nos que o nosso “ministério” seria
novamente no seminário, como professores, um de Li- Dentre os aspectos aos quais senti necessidade
teratura e outro de Ciências Naturais. Deste modo, três a dar prioridade, gostaria de sublinhar dois. Antes de
dias após a ordenação, fiz o primeiro exame universitá- tudo o relacionamento com os padres, a partir do rela-
rio em zoologia. Descobri com o tempo que, também cionamento com o vigário paroquial e com os demais
por detrás deste chamado um pouco “surpreendente”, padres da região pastoral. Desde padre jovem sentia
se manifestava um desígnio e assim, por anos, exerci o que, antes de assumir um encargo qualquer na dioce-
ministério de professor e, nos tempos livres, o serviço se, eu entrava a fazer parte de um presbitério e o meu
pastoral! desejo foi sempre o de torná-lo visível. Com os padres
da região pastoral procuramos seguir o ditado: «Amar
a paróquia do outro como a própria». Deste modo os
A paróquia com as suas incógnitas nossos encontros assumiram um pouco mais esta fisio-
Depois de mais de vinte anos, quando comecei nomia, colocando o relacionamento e o encontro pes-
a sentir o desejo de mudar, o bispo me convocou e me soal na base da programação pastoral. Por uns dez anos
disse que chegou o momento de uma “virada”: passei aceitei o serviço de secretário da região; um dos elogios
a exercer o ministério presbiteral numa paróquia, tal- de que eu mais gostei foi: «Agora é belo encontrar-se na
região, porque nos conhecemos mais e os problemas se
vez uma das mais empenhativas, porque jovem e muito
enfrentam com mais serenidade e velocidade!».
dinâmica. Mas isto que, em outros momentos, pode-
Com o último vigário paroquial vivemos jun-
ria parecer-me como a resposta a uma espera que ficou
tos mais de 10 anos. Nunca brigamos, e uma vez nos
bloqueada por anos caía sobre mim como um peso.
definiram como sendo “o casal mais bonito do mun-
Perguntava-me: como serei capaz de enfrentar as trans- do”. Quando fui embora, os paroquianos prepararam
formações que as paróquias sofreram desde os tempos um álbum e a primeira mensagem era a do vigário pa-
em que eu era um jovem padre? Como poderia levar roquial que escreveu: «Nestes 10 anos (um recorde!)
adiante toda a vida que meus predecessores haviam or- nos amamos de verdade, com aquele Amor que nos faz
ganizado no caminho comunitário? experimentar a presença de Jesus entre nós!».
Naquele dia o Evangelho da missa apresentava O segundo aspecto é o relacionamento com os
o anúncio a José: «Não temas de tomar contigo Ma- leigos, a começar com o Conselho pastoral, entendido
ria, tua esposa, porque o que nela é gerado, vem do como o “coração” da Igreja – povo de Deus. O estilo
Espírito Santo». Entendi que seria o Espírito, agindo que procuramos instaurar foi aquele da escuta: antes
no relacionamento vivido com os outros sacerdotes e de tudo escuta do Espírito, colocando sempre em pri-

10 Perspectivas de Comunhão
meiro lugar a pergunta: «O que Deus quer de nossa se passa a constituir um Conselho pastoral “alarga­do”,
Comunidade neste momento?». O início de cada reu- onde idealmente confluem ideias, projetos, “sonhos” de
nião era sempre “condicionado” por esta pergunta: não qualquer membro da comunidade. E a paróquia é pen-
estamos aqui para gerenciar uma empresa, mas para sada e vivida como uma realidade de círculos concên-
acolher das circunstâncias, das vozes das pessoas, do tricos que, como ondas na água, se movem do centro à
desenvolvimento crescente da comunidade (que quase periferia e da periferia ao centro. Apresentamos como
duplicou no espaço de uma dezena de anos) aquilo que exemplo o âmbito da acolhida. Como alcançar todos
o Pai quer fazer-nos “entender”. A figura de Maria, que os paroquianos, especialmente os novos, em uma reali-
“guardava e meditava no seu coração” tudo quanto lhe dade ainda em pleno movimento? Uma ideia simples e
acontecia, servia de pano de fundo e de modelo neste genial, que nasceu do coração do primeiro pároco e foi
caminho. compartilhada nos primeiros anos de vida da paróquia,
levou a pensar nas pessoas fechadas nos condomínios.
O dom do conselho Sem nenhum título de autoridade, pessoas desses con-
domínos começaram a procurar seus vizinhos. Assim
Nos deixamos ajudar por um escrito do cardeal nasceu um relacionamento de conhecimento e de ami-
Martini, então arcebispo de Milão, sobre o “Aconse- zade, fazendo uma ponte com o “centro” da comuni-
lhamento na Igreja” do qual nos marcaram, em parti- dade. Deste modo, de uns vinte no início, se chegou
cular, duas expressões: «Entre os dons do Espírito Santo, com o tempo a uma centena de “animadores das casas”.
o dom do conselho é o que faz referência à atividade de Somente sobre estas bases e com estes pactos foi possí-
aconselhar na Igreja e em cada Conselho Pastoral»; «A vel fazer também passos “corajosos”.
imagem do Conselho exige a capacidade de superar
o plano humano da prudência e da ponderação para
Busca dos sinais de Deus
alcançar um plano ulterior que impele procurar e des-
cobrir a vontade de Deus aqui e agora... Aconselhar é, Nossa paróquia jovem e constituída na sua
portanto, aquela forma de discernimento que o Conse- grande maioria por famílias jovens, não podia dispor
lho pastoral diocesano pratica para ajudar o bispo e a de uma soma de entradas consistente, mas o suficiente
Igreja local para compreender o que Deus exige dela». para cobrir as saídas!
O crescimento numérico dos adolescentes e dos
Escuta recíproca jovens apresentava interrogações: ainda é possível con-
tinuar a acolher os grupos para a catequese em locais
A escuta do Espírito se traduzia, por aquilo que que se mostram sempre mais inadequados? E como
éramos capazes, na escuta recíproca, no procurar valo- responder à pergunta dos jovens que reclamavam um
rizar a ideia e a proposta de cada um. Deste modo, nem lugar “todo para eles” e também auto-gerenciado por
mesmo o pároco era alguém que tinha a “varinha má- eles? Sem esquecer os anciãos que, mesmo tendo ini-
gica” e podia chegar no Conselho com um “programa” ciado um Centro para Anciãos ligado à Prefeitura, de-
pré-fabricado apenas para ser aprovado! Muitas vezes sejavam tê-lo em um lugar mais central?
fizemos a experiência que, ao colocar em comum as Colocamos o problema e promovemos uma
ideias sem a pretensão de impô-las, todos se encontram sondagem entre os paroquianos: naturalmente revela-
numa nova ideia: uma realidade que não é mais nem ram-se sensibilidades diferentes, de quem via a absolu-
a minha nem a tua, mas uma na qual se reconhece, de ta necessidade e urgência da coisa e de quem, guiado
modo novo, seja a tua como a minha. por uma imagem de Igreja mais “pobre”, preferia não
Um aspecto que sempre mais veio em evidência lançar-se num empreendimento que teria exigido um
é que, se é verdade que o Conselho pastoral é o “cora- empenho dispendioso e, talvez, de contratestemunho.
ção”, não é o “tudo” da comunidade paroquial. Por isso «O Pai nos dará os seus sinais», dissemos entre nós.
o Conselho foi se delineando como o ponto de conver- E não aceleramos os tempos. Graças à disponibilidade
gência de vários “âmbitos”: economia, evangelização, de uma paroquiana que era arquiteta, por quatro vezes
harmonia dos ambientes, liturgia e oração, catequese modificamos o projeto, até que a fantasia de um pa-
das crianças, dos jovens, dos adultos, comunicação... roquiano, em uma das várias assembleias e propostas,
E, se cada âmbito tem a sua expressão em dois ou mais individuou a localização certa para a nova construção.
representantes no Conselho, por detrás destes um nú- Esperávamos também os sinais da Providência
mero mais ou menos relevante de “animadores” são os divina: e estes vieram sob a forma de contribuições até
porta-vozes e a alma da vida da comunidade. Assim mesmo inesperadas de Entes eclesiais e Instituições

Discernimento comunitário 11
bancárias e, em particular, da iniciativa autônoma de preparação ao Batismo dos nossos filhos, que somos
famílias através de uma auto-taxação anual. Por seis nós os primeiros educadores deles para o encontro com
anos esta iniciativa foi avante, mas contemporanea- Jesus»: assim me diziam alguns pais, lembrando o des-
mente também cresceu a consciência de ser aquela “fa- taque das palavras introdutórias do rito do batismo:
mília” que é guiada por uma “vontade” paterna. «Pedindo o Batismo para vossos filhos, vos empenhais
em educá-los na fé …». E, assim, num entrelaçar-se de
A qualidade da formação trocas de ideias entre famílias e Conselho pastoral, se
chegou à decisão de agregar um grupo de “pais cate-
A resposta ao crescimento numérico dos ado- quistas” com os catequistas “tradicionais” ou até de
lescentes não poderia consistir somente em aspectos es- substituí-los. Esses “pais catequistas” carregam con-
truturais, por mais urgentes e necessários que fossem, sigo a experiência de serem mães e pais de crianças e
mas devia traduzir-se também em termos qualitativos adolescentes.
para a formação deles à vida da fé. Certo, a procura Dia após dia, ano após ano, fomos ajudados a
de “catequistas” formados teve sempre uma priorida- descobrir a vontade de um Deus que é Pai e encon-
de. Mas como envolver de modo responsável a família tramos o segredo na escuta daquela Palavra que é “luz
nesta missão? Foi justamente do relacionamento vivido para nosso caminho”. Por detrás de cada iniciativa,
entre Conselho pastoral e o âmbito familiar que brotou no cansaço e na alegria, na incerteza e na descoberta
a “coragem” de um passo inovativo: tornar os pais os de etapas novas, o caminho da comunidade foi sendo
principais protagonistas da catequese dos adolescentes, construído.
mesmo se de um modo formal. «Tu sempre disseste na

Para um autêntico discernimento

Por ocasião de um Congresso realizado em Palermo, na Itália, o discernimento comunitário foi forte-
mente recomendado. Trata-se de um projeto pastoral como expressão da comunidade eclesial e, ao mesmo
tempo, de método de formação espiritual e de leitura da história.

Elementos que o compõem


Para que este seja autêntico, deve compreender os seguintes elementos:
- docilidade ao Espírito e humilde procura da vontade de Deus;
- escuta fiel da Palavra;
- interpretação dos sinais dos tempos à luz do Evangelho;
- valorização dos carismas no diálogo fraterno;
- criatividade espiritual; missionária, cultural e social;
- obediência aos Pastores, a quem cabe disciplinar a busca e dar a aprovação definitiva.
Assim entendido, o discernimento comunitário se torna uma escola de vida cristã, uma via para
desenvolver o amor recíproco, a corresponsabilidade, a inserção no mundo a começar pelo próprio terri-
tório. Eele leva a edificar a Igreja como comunidade de irmãos e de irmãs, com igual dignidade, mas com
dons e tarefas diferentes, plasmando uma figura que sem desviar em democratismos e sociologismos, resulta
credível na hodierna sociedade democrática.

12 Perspectivas de Comunhão
«Animar» os Conselhos pastorais

Vinko Paljk

Uma importante conquista do Concílio Vaticano II foram as estruturas para promover a comunhão e a par-
ticipação em todos os níveis da vida eclesial. Porém, a experiência mostra que, para concretizar a comunhão
para as quais nasceram, essas estruturas precisam ser animadas por uma conveniente espiritualidade. Para
responder a essa necessidade alguns sacerdotes diocesanos do Movimento dos focolares na Eslovênia propuseram
aos Conselhos pastorais de diversas paróquias uma jornada de encontro que foi acolhida com grande interesse.

Uma proposta para todos Espiritualidade de comunhão


Há anos nos damos conta de quanto a vida e Um momento fundamental daquele encontro
o espírito que cultivamos nos nossos Conselhos pas- foi o tema sobre a espiritualidade de comunhão apre-
torais sejam decisivas para o caminho e a vitalidade sentado por um dos sacerdotes que há anos faz essa
das nossas comunidades paroquiais. Entendemos que experiência juntamente com outros padres e leigos.
não poderia mos guardar somente para nós essa expe- Ele iniciou precisando o que se entende por
riência positiva de comunhão que pode tornar-se um espiritualidade: um modo de viver o Evangelho, um
grande dom para muitos. Então, por que não convidar estilo de vida cristã. Mesmo que o cristianismo é uno,
os membros dos Conselhos de outras paróquias que es- existem vários modos de vivê-lo, como o demonstram
os diversos carismas ao longo de sua história: os car-
tejam interessados nesta experiência?
tuxos o vivem de modo diferente dos franciscanos, os
Foi assim que propusemos um encontro inti-
carmelitas com acentuações diferentes dos jesuítas e,
tulado: “Para o aprofundamento da espiritualidade de
assim, por diante.
comunhão”, o qual contou com uma centena de parti- Depois disto ele traçou um percurso histórico
cipantes, dos quais, mais da metade não conheciam a mostrando como o Espírito Santo ao longo dos sécu-
espiritualidade de comunhão. Foi realmente uma expe- los colocou em relevo alguns aspectos ou palavras cha-
riência nova para eles e também para nós, porque, até ves do Evangelho, suscitando diversas espiritualidades
o momento, jamais tínhamos organizado um encontro como resposta às exigências dos tempos.
semelhante.
Muitos membros de nossos Conselhos pasto- Algumas características
rais já conhecem essa espiritualidade e experimentam
sempre mais o grande contributo que ela constitui para Mesmo que, depois, em grandes linhas os ele-
estabelecer relacionamentos de unidade entre párocos mentos se entrelaçam, seguindo uma intuição desen-
e leigos, às vezes muito difíceis, e para promover uma volvida por Fabio Ciardi21, ele destacou que no primei-
pastoral mais eficaz, mas adequada às várias situações e ro milênio prevalece nas várias espiritualidades, sobre-
exigências de nosso tempo. tudo, o relacionamento pessoal com Deus: “Amarás o
Senhor, teu Deus com todo o teu coração, com toda
Com cerca de um terço dos participantes nos
a tua alma e com toda a tua mente”. Os exemplos são
encontramos já na noite precedente. Eles nos falaram
bem conhecidos: basta pensar no monaquismo, com
espontaneamente como, frequentemente, falta um
Santo Antão, São Bento, e tantos outros fundadores
verdadeiro amor evangélico que anime as estruturas.
Contaram experiências e várias situações concretas de
21 “Três mandamentos para uma tríplice presença de Cristo”, in
suas paróquias e, assim, se constituiu um maravilhoso
AA.VV., Ele está vivo. A presença do Ressuscitado na comunida-
clima de família entre todos, que se tornou fermento de cristã, (aos cuidados de M. Vandeleene), Città Nuova, Roma
para animar a jornada do dia seguinte. 2006, pp. 11­-34.

Animar os Conselhos pastorais 13


que com seus seguidores geraram correntes de espiri- Jesus. Existe o perigo de que nas reuniões se vá adiante
tualidade, entre as quais algumas terão uma grande no empenho de procurar resolver os problemas pasto-
influência no cristianismo e na vida social e cultural rais, de programar as diversas atividades a serem reali-
de sua época. Tais espiritualidades colocavam em re- zadas, porém sem antes criar um autêntico relaciona-
levo, sobretudo, o aspecto pessoal da união com Deus, mento fraterno, um clima de diálogo sereno e autêntico
o fato de viver só por Ele através da oração, da penitên- entre seus membros.
cia, da solidão, o silêncio... Esclarecemos que o CPP é chamado a ser, antes
No segundo milênio veio em relevo de modo de tudo a mais bela escola e casa de comunhão na paró-
particular “Ama o teu próximo como a ti mesmo”, com quia. Quando ele é animado por esse espírito ele se tor-
caminhos de concretização do Evangelho em cujo cen- na o coração propulsor, vital, criativo da comunidade.
tro encontra-se o ser humano como especial presença
de Jesus e que deve ser servido como tal: doentes a se- A renovação do CPP
rem curados, adolescentes e jovens a serem instruídos,
pobres e marginalizados de todo tipo a serem socorri- Constata-se que a harmonia gerada no CPP
dos segundo as necessidades dos tempos. produz muitos efeitos benéficos sobre a vida de toda
Neste terceiro milênio numerosos sinais mos- a comunidade paroquial e civil. As experiências parti-
tram que acentua-se prevalentemente o mandamento lhadas durante essa jornada pelas paróquias animadas
que Jesus chamou de novo e seu: “Amai-vos uns aos ou- por essa espiritualidade de comunhão testemunharam
tros, assim, como eu vos amei”. Deste modo, o Espírito isso. Elas fizeram compreender como, na verdade, a co-
Santo reconduz a Igreja à vida das primeiras comuni- munhão pode ser vivida nas reuniões dos nossos Con-
dades cristãs, que eram um só coração e uma só alma, selhos, partindo do amor recíproco, da escuta sincera
fazendo redescobrir com novas acentuações como e profunda, do saber perder para fazer-se um com o
modelo, raiz, seio, vocação de toda a comunidade, a outro, do apresentar as nossas idéias e propostas não
participação – por quanto é possível para a experiência como uma imposição ou com impaciência, mas como
humana – a própria vida de comunhão da Santíssima um dom. Mostrando os frutos gerados pela unidade
Trindade. que “atrai” a presença do Ressuscitado com os seus
Deus respondeu às necessidades da humanida- efeitos típicos: luz para analisar mais objetivamente a
de e da Igreja de hoje colocando em relevo com nova realidade, criatividade para encontrar as respostas que
força a espiritualidade de comunhão. Espiritualida- vêm do Espírito, eficácia operativa, promoção de ações
de de comunhão que João Paulo II na Novo millenio atraentes e multiplicadores que permanecem no tem-
ineunte destaca como indispensável para poder realizar po... A presença nesse encontro de Dom Andrej Gla-
aquela Igreja comunhão tão central nas afirmações do van, bispo de Novo Mesto, trouxe uma confirmação e
concílio Vaticano II. um timbre especial o qual falou da nova evangelização
reportando-se à Novo millennio ineunte e comentando-
Como vivê-la nos Conselhos pastorais? a com alguns pensamentos de Chiara Lubich.
Procuramos, sobretudo, mostrar não apenas de
Efeitos suscitados
modo conceitual, mas também experiencial, em que
consiste tal comunhão e como ela pode ser vivida con- Para muitos, seja a apresentação dos temas
cretamente para auxiliar o CPP a tornar-se um orga- como das experiências representaram uma novidade e
nismo vivo, do qual emana vida para toda a paróquia e uma descoberta. Alguns diziam: “Jamais ouvimos es-
para a sociedade na qual ela está inserida. sas coisas, tão importantes para o trabalho e a vida na
Uma afirmação da Novo millenio ineunte foi paróquia. No fundo era o que trazíamos dentro como
muito acolhida pelos presentes: “Não nos façamos ilu- exigência e agora o encontramos”. Outros declaravam:
sões: sem esse caminho espiritual, os instrumentos exterio- “Conhecíamos essas coisas por tê-las ouvido ou lido.
res de comunhão serviriam bem pouco. Seriam estruturas Mas na realidade não sabíamos como vivê-las. Aqui
sem alma, máscaras de comunhão, mais que caminhos de encontramos o modo para isso”.
crescimento e manifestação”. O encontro também fortaleceu os que já parti-
Frequentemente os membros do CPP das pa- cipavam da espiritualidade de comunhão, porque pas-
róquias não se conhecem. E é necessário um longo ca- saram a ter maior consciência de sua universalidade e
minho para que cresça entre eles a comunhão de modo de quanto a Igreja hoje tem necessidade dela. Foi uma
a tornarem-se uma verdadeira família de discípulos de surpresa poder experimentar com todos um clima de

14 Perspectivas de Comunhão
unidade com a luz e a alegria da presença de Jesus em nhão foi fruto da presença do Ressuscitado que expe-
meio. rimentamos”.
A importância desse tipo de encontro a enten-
demos também pelo que outros participantes disseram: Ecos desse encontro
“Não sei porque, mas jamais como desta vez senti uma
proximidade tão grande de Jesus. Eu o invoquei com Por último apresentamos o testemunho de um
uma fé nova, pedindo tantas coisas. Este, certamente, sacerdote: “O encontro significou uma nova confirma-
era também um efeito da presença de Jesus entre nós”. ção de que a espiritualidade de comunhão abre uma es-
E um sacerdote assim se expressou: “O clima era es- trada, na Igreja e na humanidade. De modo particular
pecial. Sentia-se que as palavras caiam nos corações. a novidade que desejamos viver em nossas paróquias
Apresentou-se uma nova visão de Igreja, não apenas nos convenceu. Entendi como seja importante edificar
quanto ao conteúdo, mas também no modo de falar... juntamente com os leigos das comunidades a fazer res-
Esse encontro fez crescer em mim o otimismo com re- plandecer a imagem mais bonita da Igreja. Mais que
lação a meu ministério e fortaleceu a fé em Jesus, pre- antes percebo que a base de toda atividade na paróquia,
sente entre nós. A imagem da Igreja era radiante, era deve ser a vivência do mandamento novo de Jesus”.
aquela de Jesus, atraente, atual. Sim, eu sonho e desejo Após esse encontro sentíamos bem forte que
uma Igreja assim. Mais do que isso, posso realizá-la um momento tão maravilhoso não poderia permane-
vivê-la”. cer um fato isolado, mas que deveria ter uma continui-
Uma senhora afirmou: «Aqui recebi um novo dade. Deste modo, estabelecemos realizar um encontro
impulso para o meu trabalho no Conselho pastoral, deste tipo a cada dois anos, em vista também da ajuda
com o olhar fixo em Jesus crucificado e abandonado recíproca e de uma partilha sobre o caminho feito por
como medida do amor diante de toda dificuldade e cada comunidade. Sobretudo, nos deixamos com o
como chave sem a qual realizar e manter a comunhão empenho de levar para nossos Conselhos paroquiais o
seria uma utopia”. Outra ainda: “Estou convencida de que experimentamos durante esse encontro e de ajudar
que esse encontro contribuiu para dar à Igreja na Es- os membros dos conselhos, a trabalhar com esse espíri-
lovênia um novo vigor. A presença tão forte de comu- to em suas paróquias.

Diálogo com Eli e Gis, ao lado da casa de Chiara em Mollens - Suíça 27/08/2011

Animar os Conselhos pastorais 15


Experiência
Luis Fernando da Silva

Queremos descrever aqui uma experiência da transmissão de valores evangélicos por meio da música. Nas en-
trelinhas poderíamos falar de uma nova forma de evangelização.

N
a praça central do município de danças, partilha de experiência de jovens que consegui-
Vargem Grande Paulista - SP, cons- ram superar a dependência química, além de tudo, a
tatou-se um crescente aumento da alegria dos presentes que contagiou toda a praça, justa-
violência e uso de entorpecentes. Diante disso, a pre- mente na sexta-feira à noite, quando ela é literalmente
feitura municipal quis realizar, naquele ambiente, um tomada para outras finalidades.
evento que visasse oferecer valores positivos. Como Os jovens que costumam frequentar a praça
fruto de uma parceria entre o Movimento dos focola- naquele horário e manter o som do carro sempre em
res, o Conselho Municipal da criança e do adolescente alto volume, respeitaram nossa programação deixando
e a Paróquia Nossa Senhora das Graças22, foi elaborado o som desligado até o fim do evento e vários deles fica-
o evento “Ser forte, sem ser violento”. ram atentos ouvindo o que era cantado e falado.

A disposição de doar a vida O segredo do sucesso


Uma coisa é certa, sempre existe um abismo Os ecos que nos chegaram desse evento foram
entre o projeto sonhado e a concretização do mesmo, muito bons, inclusive estão surgindo convites para que
principalmente por causa da falta de estrutura e de cer- esse grupo participe em outros momentos nos projetos
to desinteresse institucional. Contudo o que vale res- sociais e nas comunidades paroquiais. Para os jovens
saltar dessa experiência é a força de vontade de alguns que animaram essa apresentação o segredo desse su-
jovens, que decidiram reviver o slogan de Chiara, lan- cesso fui cultivado de longa data. É certo que eles se
çado ha tantos anos: “morrer pela própria gente”. reuniam para os ensaios, mas antes de tudo para pedir
A idéia foi ganhando vida quando o seminaris- e atrair a presença de Jesus entre eles através da vivência
ta Alcione e os jovens Carlos Eduardo, Alan e Rodrigo, do amor recíproco. Antes de subir ao palco eles deseja-
ligados ao Projeto Social Jardim Margarida, decidiram ram estar ali em nome de Jesus (Cf. Mt 18,20).
formar um grupo de pagode pensando na possibilidade Por meio da arte e da parceria de instituições
de, por meio da música, transmitir valores que fossem foi possível de forma pequena e local fazer jus àquilo
um verdadeiro contributo para os jovens frequentado- que Bento XVI cita logo na introdução da Carta apos-
res da praça. tólica Ubicumque et semper “a missão assumiu na histó-
Após várias noites de ensaio, muitas conversas ria formas e modalidades sempre novas de acordo com
e muito empenho para mobilizar as instituições envol- os lugares, as situações e os momentos históricos”23.
vidas, no dia 19 de agosto, aconteceu o tão esperado Desejamos que muitas outras iniciativas como
evento que contou com a participação de mais de 200 esta, possam surgir como ação propulsora da fraterni-
pessoas. Foi uma noite muito intensa com músicas, dade e paz entre os povos.

23 Cf. Bento XVI, Carta Apostólica em forma de “Motu próprio”


22 A Paróquia foi representada pela Pastoral da Juventude.
Ubicumque et semper”, p. 1.

16 Perspectivas de Comunhão
Congresso Sacerdotal
Mariápolis Ginetta, 17-20/10/2011

A Nova Evangelização:
Cenários, modalidades e instrumentos.
A contribuição do Carisma da Unidade
Informações: Pe. Tadeu - Fone: (19) 3582-1919 - E-mail: pe.tadh@netsite.com.br
Pe. Capelesso - Fone (11) 4158-3580 - E-mail: pe.capelesso@uol.com.br
Inscrições: Pelo Site: www.cmginetta.org.br - Senha: ginetta
Início: Dia 17 de outubro às 18h30, com a Missa.
Conclusão: Dia 20 de outubro, com o almoço.
Taxa completa do Congresso: R$180,00

“Perspectivas de Comunhão”
Redação: Antonio Capelesso; Hipólito Gramosa; Cristiano Soares Sanches; Fernando
Francisco; Júlio Antonio da Silva; André Heijligers, Luis Fernando e Fernando Steffens
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Congresso de padres e seminaristas 17

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