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ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS


Prof. Dr. Rodrigo Paiva Souza
ALAVANCAGEM OPERACIONAL
E FINANCEIRA

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Toda decisão financeira dos gestores deve ser orientada a aumentar o A variação no nível de atividade pode ser expressa de diferentes
resultado operacional e líquido da empresa. O estudo da alavancagem formas, mas o volume de vendas de dois períodos pode ser uma proxy
financeira permite analisar o resultado operacional da empresa, bastante útil para representar a variação no nível de atividade de uma
determinada pela adequação na aplicação dos recursos, do resultado organização. Com relação à variação no nível de lucro operacional,
líquido, que é influenciada por sua estrutura de capital. O impacto também poderá haver certa heterogeneidade na definição de lucro
combinado da alavancagem operacional e financeira é conhecido operacional, cada empresa poderá empregar o seu próprio critério
como alavancagem total. Neste tema, vamos estudar separadamente para definir as variáveis que integram o lucro operacional, entretanto,
os efeitos da Alavancagem Operacional e Financeira e, depois, o efeito sempre que o lucro operacional considerado for negativo em um
combinado refletido na Alavancagem Total. período não é possível calcular o GAO.

GRAU DE ALAVANCAGEM OPERACIONAL (GAO) Considere o seguinte quadro:

Empresa A Empresa B
O GAO é influenciado pela participação dos custos e despesas fixas na
$ % $ %
estrutura de custos e despesas da organização. Os custos e despesas
RT 100 100
fixas são aqueles cuja variabilidade não está relacionada às oscilações
no nível de atividade. CDV -30 -30% -70 -70%
MCT 70 70% 30 30%
O cálculo do GAO evidencia como a variação no nível de atividade
CDF -60 -60% -20 -20%
poderá influenciar a variação do lucro operacional. Quanto maior
RO 10 10% 10 10%
o GAO, maior o risco operacional e quando nos referimos a risco,
devemos entender que é o risco de perder muito ou ganhar muito. Em que:
RT = Receita Total
CDV = Custo e Despesa Variável
LUCRO OPERACIONAL MCT = Margem de Contribuição Total
GAO =
NÍVEL DE ATIVIDADE CDF = Custo e Despesa Fixa
RO = Resultado Operacional

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As empresas A e B pertencem ao mesmo segmento econômico e são Como o GAO da Empresa A é maior, para cada 1% de aumento das
de tamanhos comparáveis. A empresa A é mais automatizada e tem vendas da Empresa A, o resultado operacional será aumentado em
uma estrutura de contratos que proporciona uma maior participação 7%, enquanto na empresa B, o impacto no resultado operacional seria
dos CDF em sua estrutura de custos e despesas. Porém, apesar das de 3%.
duas empresas apresentarem o mesmo volume de venda e o mesmo
resultado operacional, a capacidade de a empresa A alavancar o seu Agora, suponha uma redução de 20% no nível de atividade de ambas:
resultado é maior.
Empresa A Empresa B
Por outro lado, os riscos operacionais de A também são maiores. Antes $ Depois % Antes $ Depois %
Vejamos o que aconteceria se houvesse um aumento de 20% no nível
RT 100 80 100 80
de atividade de ambas:
CDV -30 -24 -70 -56
Empresa A Empresa B
MCT 70 56 30 24
Antes $ Depois % Antes $ Depois %
CDF -60 -60 -20 -20
RT 100 120 100 120
RO 10 -4 10 4
CDV -30 -36 -70 -84
Resultado -140% 60%
MCT 70 84 30 36 Operacional

CDF -60 -60 -20 -20 Nível Atividade -20% -20%

RO 10 24 10 16 GAO 7,0 3,0


Resultado Operacional 140% 60%
Observe que, nesse cenário, a Empresa A estaria operando com
Nível Atividade 20% 20%
prejuízo operacional, enquanto a empresa B ainda teria algum lucro a
GAO 7,0 3,0 oferecer aos seus acionistas. Observe ainda que não houve alteração
no GAO.

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O GAO funciona como um recurso para aumentar o lucro em período
LOP
de expansão do nível de atividade, mas pode também aumentar GAF =
o prejuízo em períodos de retração. Por esse motivo, em período
LOP - DF
de crise e retração da economia, as empresas costumam tomar Em que:
decisões para reduzir os custos fixos e, consequentemente, reduzir LOP = Lucro Operacional
o GAO. Dentre essas medidas para redução do GAO, destacam-se: DF = Despesas Financeiras
(a) demissão de funcionários; (b) desinvestimentos; (c) adiamento de
novos investimentos, etc. O GAF demonstra quanto uma variação no Lucro Operacional
proporciona de variação no Lucro Líquido, por exemplo, um GAF = 1,50
GRAU DE ALAVANCAGEM FINANCEIRA (GAF) significa que a cada 1% de variação no lucro operacional, haverá uma
variação de 1,5% no lucro líquido. O GAF pode ser também expresso
O GAF representa quanto a estrutura de capital da empresa contribui da seguinte forma:
para a variação do seu lucro líquido (do acionista). Em princípio,
sempre que o GAF for maior do que 1,0, o endividamento contribui LL
GAF =
para “alavancar” o lucro líquido. Em outras palavras, sempre que a LOP
aplicação de recursos produz um retorno superior ao custo de capital
de terceiros, o efeito do GAF é positivo. Considere o seguinte Balanço Patrimonial:

ATIVO 300
Por outro lado, sempre que o custo do capital de terceiro é maior que
o retorno proporcionado pela aplicação dos recursos, o efeito do GAF PASSIVO 100

é negativo. O cálculo do GAF pode ser expresso assim: PL 200

Considere ainda que com essa estrutura patrimonial a empresa


proporcionará um lucro operacional de $45 (ROI = 15%). O Passivo

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“oneroso” deve ser remunerado a um custo médio de 12% (DF = $12), GAF E O IMPOSTO SOBRE A RENDA
dessa forma, o lucro líquido deverá ser de $33 ($45 - $12).
Em geral, para cálculo do GAF, pode-se trabalhar com o conceito de
Considerando esses dados, o GAF da empresa é aproximadamente lucro líquido das despesas financeiras e antes do imposto de renda
1,36 vezes maior, ou seja, qualquer variação no LOP proporcionará (IR). Porém, caso o analista deseje trabalhar com o Lucro Líquido após
uma variação 1,36 vezes maior no LL. Então, suponha uma variação o imposto sobre a renda, deverá utilizar o LOP também após o imposto
de 20% no LOP, que passa a $54, o lucro líquido deverá ser $42 ($54 de renda.
- $12), ou, um aumento de 27,3% (20% x 1,36).
Suponha no exemplo anterior uma taxa de imposto sobre a renda de
27,3% 40%.
GAF = = 1,36
20,0%
$
Lucro Operacional 45,0
Impostos sem renda (40%) -18,0
LOP Líquido 27,0
Despesas Financeiras -12,0
Economia IR (40%x-$12) 4,8
Lucro Líquido após IR 19,8
GAF 1,36

Por conta de a Despesa Financeira ser dedutível, há um benefício


fiscal equivalente à taxa de Impostos sobre a renda aplicada ao LOP,
portando, o GAF não se altera.

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GAF PARA DIFERENTES ESTRUTURAS DE CAPITAL Observe que em qualquer que seja a estrutura de endividamento, o
lucro operacional após o imposto de renda não é alterado ($27.000)
Considere que uma empresa pode tomar empréstimos a um custo de porque as despesas financeiras (DF) são reconhecidas após o resultado
25% e uma alíquota de imposto de renda (IR) de 40%. operacional. Nesse exemplo, quanto maior o nível de endividamento
BALANÇO
A B C D E F
da empresa, maior o retorno para o acionista (lucro líquido/PL).
PATRIMONIAL

Ativo Total 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000


Na estrutura A, por não haver endividamento, o lucro operacional é
Passivo Exigível 0 20.000 40.000 60.000 80.000 90.000
igual ao lucro líquido. Na estrutura B, a cada 10% de aumento do LOP,
Patrimônio Líquido 100.000 80.000 60.000 40.000 20.000 10.000
haverá aumento de 11,3% do lucro líquido. Na estrutura F, se houver
DRE um aumento de 10% no lucro operacional haverá um aumento de 20%
Receita de vendas 110.000 110.000 110.000 110.000 110.000 110.000 no lucro líquido.
CMV -50.000 -50.000 -50.000 -50.000 -50.000 -50.000

Lucro Bruto 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000 Por outro lado, o GAF apresenta maiores riscos ao negócio. Suponha
Despesas que o Lucro Operacional após os impostos seja reduzido de $27.000
-15.000 -15.000 -15.000 -15.000 -15.000 -15.000
Operacionais
para $10.000 (-62,96%). O que acontece com o lucro líquido em cada
Lucro Operacional
antes do IR
45.000 45.000 45.000 45.000 45.000 45.000 estrutura de financiamento?
Imposto de renda
-18.000 -18.000 -18.000 -18.000 -18.000 -18.000
(40%)

Lucro Operacional
27.000 27.000 27.000 27.000 27.000 27.000
após IR

Despesas
0 -5.000 -10.000 -15.000 -20.000 -22.000
Financeiras

Benefício fiscal da
0 2.000 4.000 6.000 8.000 9.000
Dívida

Lucro Líquido 27.000 24.000 21.000 18.000 15.000 13.500

GAF 1,00 1,13 1,29 1,50 1,80 2,00

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Lucro Operacional GAT = GAO x GAF
10.000 10.000 10.000 10.000 10.000 10.000
após IR OU
Despesas
0 -5.000 -10.000 -15.000 -20.000 -22.500 LL
Financeiras GAT =
Nível de Atividade
Benefício Fiscal da
0 2.000 4.000 6.000 8.000 9.000
Dívida
Por exemplo, caso o GAT de uma empresa seja 2,7, interpreta-se que
Lucro Líquido 10.000 7.000 4.000 1.000 -2.000 -3.500
com o dado aumento de 1% no nível de atividade (vendas), haverá um
LOP -62,96% -62,96% -62,96% -62,96% -62,96% -62,96%
aumento de 2,7 no lucro líquido.
LL -62,96% -70,83 -80,95% -94,44% -113,33% -125,93%

GAF 1,00 1,13 1,29 1,50 1,80 2,00


DRE Atual +20% -20%

Receita de vendas 1.200,00 1.440,00 960,00


Em situação de retração das operações, quanto maior o endividamento,
CDV (38%) -456,00 -547,20 -364,80
menor será a remuneração dos proprietários.
Margem de Contribuição 744,00 892,80 595,20

GRAU DE ALAVANCAGEM TOTAL (GAT) CDF -384,00 -384,00 -384,00

Lucro Operacional antes do IR 360,00 508,80 211,20

O GAT é o efeito combinado do GAO e do GAF. Esse indicador permite Imposto de Renda (40%) -144,00 -203,52 -84,48

que se avalie ao mesmo tempo o impacto da variação do nível de Lucro Operacional após IR 216,00 305,28 126,72
atividade sobre o resultado operacional e financeiro. Despesas Financeiras -50,00 -50,00 -50,00

Benefício Fiscal da Dívida 20,00 20,00 20,00


Se uma empresa trabalha com alto nível de GAO e GAF, uma pequena
Lucro Líquido 186,00 275,28 96,72
variação no nível de atividade poderá provocar grande variação no
GAO 2,07
Lucro Líquido. O GAT pode ser expresso da seguinte forma:
GAF 1,16

GAF 2,40

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O GAO é 2,07, enquanto o GAF é de 1,16. Essa combinação indica INDICAÇÃO DE LEITURA
um GAT de 2,40, ou seja, um aumento de 1% no nível de atividade
provocará um aumento de 2,4% no lucro líquido dos acionistas.

ESTRUTURA E ANÁLISE DE BALANÇOS

ASSAF NETO, A. Estrutura e Análise de Balanços:


Um Enfoque Econômico-Financeiro. São Paulo:
Editora Atlas, 2010. Capítulo 8.

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Diretoria de Curso: Eliana Rodrigues
Coordenação Geral: Edgard Cornacchione
Coordenação Educacional: George Sales
Autoria: Prof. Dr. Rodrigo Paiva Souza
Supervisão Geral: Juliana Nascimento
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Captação e Produção de Mídias: Erika Alves e Daniel Ferreira
Revisão de Texto: Patricia Brasil

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