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ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS


Prof. Dr. Rodrigo Paiva Souza
ANÁLISE DOS FLUXOS DE
CAIXA

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O fato de uma organização ter bons resultados econômicos é uma
X3 X4
garantia de ter bons resultados financeiros? A avaliação dos fluxos
de caixa de uma empresa proporciona a comparação entre os fluxos A) Receitas Recebidas 10.000 20.000

econômicos e financeiros das organizações. B) Caixa despendido na produção -6.000 -13.000


= Caixa Bruto das Operações 4.000 7.000
Através da análise dos fluxos de caixa é possível entender a relação e
o comportamento de diversos indicadores de liquidez, endividamento Em termos absolutos, a geração de caixa da organização aumentou
e rentabilidade. O modelo para avaliação dos fluxos de caixa proposto em 75%. Porém, em termos relativos, reduziu de 40% para 35%. Esse
nesse tema é dividido em 7 etapas: comportamento pode refletir um aumento de contas a receber, estoques
ou mesmo uma ineficiência da produção. É importante verificar se o
1. CAIXA BRUTO DAS OPERAÇÕES
Caixa Bruto é suficiente para cobrir todos os demais compromissos da
empresa.
(+) Receitas Recebidas
(-) Caixa despendido na produção 2. CAIXA GERADO NOS NEGÓCIOS
(=) Caixa Bruto das Operações
= Caixa Bruto das Operações

O caixa bruto é necessário para cobrir todas as outras despesas (-) Pagamento despesas de vendas

operacionais, financeiras (com acionistas e terceiros) e ainda realizar (-) Pagamento despesas administrativas
novos investimentos. (-) Pagamento despesas antecipadas
(=) Caixa gerado nos negócios
Exemplo: uma organização tem os seguintes dados:
Refere-se ao caixa gerado pelo ciclo operacional da organização.
Se esse item for negativo por um período prolongado, fatalmente a
empresa irá à falência. O caixa gerado nos negócios é necessário para
pagar os compromissos financeiros e realizar novos investimentos.

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Se o negócio não gera caixa, a organização tentará obter caixa de As despesas financeiras devem incluir a remuneração do capital
receitas extraordinárias (venda de ativo permanente) ou novos aportes de terceiros (juros) e do capital próprio (dividendos). A organização
de capital (sócios ou instituições financeiras). solvente consegue cobrir todas as obrigações financeiras pelo item 2
(Caixa gerado nos Negócios), uma vez que não é possível contar com
3. CAIXA LÍQUIDO APÓS EVENTOS NÃO OPERACIONAIS os eventos não operacionais. Esse item deve ser positivo, a menos
que a empresa esteja em um período de rápido crescimento (aumento
= Caixa gerado nos negócios
de contas a receber e estoques).
(+) Outras receitas recebidas
(-) Outras despesas pagas 5.CAIXA APÓS AMORTIZAÇÃO DOS EMPRÉSTIMOS
(=) Caixa após eventos não operacionais
= Caixa após eventos financeiros

Esse item inclui os fatos não recorrentes como: venda de ativo (-) Amortização de empréstimos

permanente; dividendos recebidos, aluguéis recebidos; pagamento de (=) Caixa após amortização de empréstimos
multas; pagamento de franquia de seguros, etc.
O ideal é que esse item seja positivo, ou seja, que a empresa consiga
4. CAIXA LÍQUIDO APÓS EVENTOS FINANCEIROS cobrir todas as obrigações operacionais e financeiras e ainda tenha
recursos para novos investimentos. Caso o item 4 seja positivo e o item
= Caixa após eventos não operacionais 5 negativo, pode ser um indício de que a organização utilizou recursos
correntes para pagamento de dívidas antigas. A situação seria caótica
(+) Receitas financeiras recebidas
se o item 4 fosse negativo, indicando que a organização não consegue
(-) Despesas financeiras pagas
pagar nem os juros, nem o principal.
(=) Caixa após eventos financeiros

Esse item demonstra o caixa que sobra na organização para amortizar


os empréstimos e financiamentos e fazer novos investimentos.

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6. CAIXA APÓS NOVAS FONTES DE RECURSOS Corresponde ao fluxo de caixa de um período e todas as causas de
suas variações.
= Caixa após amortização de empréstimos
O modelo completo de análise dos fluxos de caixa permite visualizar o
(+) Novos financiamentos - terceiros
resultado de caixa (positivo ou negativo) em vários níveis e oferece ao
(-) Novos aportes de capital - sócios
gestor um panorama completo das origens e consumo dos recursos
(=) Caixa após novas fontes de financiamento monetários.

O ideal é que esse item seja positivo, significando que todas as


(+) Receitas recebidas
obrigações operacionais e financeiras foram cumpridas e há sobra
(-) Caixa despendido na produção
para novos investimentos: compra de imobilizados, aumento do capital
de giro, etc. Se o item for negativo, é preciso analisar os fluxos de caixa (=) Caixa bruto das operações

passados, para detectar se foram realizados grandes investimentos, (-) Pagamento despesa vendas
cujo fluxo de caixa ocorra em períodos futuros e o socorro financeiro (-) Pagamento despesa administrativas
visa cobrir necessidades operacionais do presente. É interessante
(-) Pagamento despesa antecipada
que esse item seja, pelo menos, igual ao valor das depreciações, para
(=) Caixa gerado nos negócios
indicar a capacidade de reposição dos ativos permanentes.
(+) Outras receitas recebidas
7. CAIXA LÍQUIDO FINAL (-) Outras despesas pagas

(=) Caixa após eventos não operacionais


= Caixa após novas fontes de financiamento
(+) Receitas financeiras recebidas
(-) Aquisição de ativo permanente
(-) Despesas financeiras pagas
(=) Caixa líquido final
(=) Caixa após eventos financeiros

(-) Amortização de empréstimos

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(=) Caixa após amortização de empréstimos

(+) Novos financiamentos - terceiros


(-) Novos aportes de capital - sócios

(=) Caixa após novas fontes de financiamento

(-) Aquisição de ativo permanente

(=) Caixa líquido final

No cenário ideal, o Caixa Bruto das Operações deverá ser o bastante


para cobrir o dispêndio de caixa em toda a operação, remunerar o
capital de terceiros e ainda garantir novos investimentos em ativos
permanentes. Entretanto, esse cenário é bastante raro e, em geral,
os novos investimentos são financiados com novos aportes de capital.

O Caixa após eventos não operacionais expressa o resultado financeiro


após todos os eventos operacionais e alguns eventos que podem ter
relação com as operações (e.g. pagamento de impostos) e outros
eventos imprevisíveis e inesperados (e.g. multa, acidentes, etc.).

A seguir é demonstrado um exemplo de aplicação de análise de fluxos


de caixa pelo modelo de Fluxo de Caixa da Contabilidade Financeira
(CPC-03). Considere as demonstrações contábeis dadas:

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ATIVOS 20x3 20x4 DRE 20x4
Circulante 580.000 650.000 Receita líquida 800.000

-
Caixa 40.000 10.000 Custos 650.000
Contas a receber 150.000 220.000 Lucro Bruto 150.000

Despesas
Estoques 390.000 420.000 Operacionais

Não Circulante 210.000 180.000 Vendas -30.000


Realizável LP 50.000 40.000 Administrativas -60.000
Investimentos 60.000 50.000 Depreciação -10.000
Imobilziado 70.000 60.000 Resultado antes do RF 50.000
Instangível 30.000 30.000 Receita financeira 10.000

ATIVO TOTAL 790.000 830.000 Despesa financeira -30.000

PASSIVOS + PL Resultado após RF 30.000

Circulante 340.000 280.000 Impostos sem lucro -6.000


Fornecedores 200.000 220.000 Resultado líquido 24.000

Salários a pagar 30.000 40.000

Impostos a pagar 60.000 6.000

Dividendos a pagar 50.000 14.000

Não Circulante 100.000 150.000

Financiamentos 100.000 150.000

Patrimônio

Líquido 350.000 400.000

Capital 300.000 340.000

Reservas 50.000 60.000


Passivo + PL
790.000 830.000
TOTAL

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Observa-se que a empresa está consumindo caixa de $10.000 em suas
Demonstração dos Fluxos da Caixa - DIRETO 20x4
operações. A situação se apresenta ainda mais crítica com a inclusão
(a) Operações -10.000
dos eventos financeiros, chegando a um fluxo negativo de $90.000.
(+) Receitas recebidas 730.000

(-) Caixa despendido nas compras -660.000 Para amenizar esse problema, a empresa além de não fazer novos
(-) Despesas de vendas -30.000
investimentos, passa a fazer desinvestimento, considerando que
(-) Despesas administrativas -50.000
a empresa venda $10.000 de participação em coligadas, além de
b) Outras receitas e despesas -80.000
empréstimos de coligadas terem sido parcialmente recebidos no valor
(+) Receitas financeiras 10.000
de $10.000.
(-) Despesas financeiras -30.000

(-) Imposto de renda pago -60.000 Porém a situação permanece deficitária em $70.000, então, a empresa
(=) Fluxo das atividades operacionais -90.000 recorre a novos empréstimos no valor de $50.000 para aplicação no
c) Atividade de investimento capital de giro. A empresa paga aos acionistas dividendos de $50.000
(+) Venda de ações de coligadas 10.000 (provavelmente para cumprir uma obrigação legal), mas recebe novos
(+) Recebimentos de coligadas 10.000 aportes de $40.000.
(=) Fluxo das atividades de investimento 20.000
A situação geral do fluxo de caixa foi deficitária em $30.000,
d) Atividade de financiamento
principalmente por conta de dívidas de exercícios anteriores com
(+) Novos Financiamentos 50.000
Instituições Financeiras e o Governo.
(+) Aumento de capital 40.000

(-) Dividendos pagos -50.000

(=) Fluxo das atividades de financiamentos 40.000

(=) Fluxo de caixa do período -30.000

(=) Caixa inicial (20x3) 40.000

(=) Caixa final (20x4) 10.000

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Pelo modelo indireto, fica ainda mais claro que o fluxo de caixa foi
Demonstração dos Fluxos de Caixa - INDIRETO 20x4
deficitário porque a empresa investiu no CCL:
(a) Operações 34.000

(+) Lucro Líquido 24.000 • Houve, de fato, um lucro financeiro de $34.000


(+) Ajuste depreciação 10.000

(b) Ajuste do capital de giro -124.000 • Houve investimentos em ativos correntes de $100.000
(-) Aumento de contas a receber -70.000
• Houve redução das dívidas em $24.000
(-) Aumento de estoques -30.000

(+) Aumento de fornecedores 20.000


Para aumentar o fluxo de caixa em períodos futuros, a empresa pode
(+) Aumento de salários a pagar 10.000
lançar mão de desconto de duplicadas, liquidação de estoques e
(-) Redução de impostos a pagar -54.000
renegociação com fornecedores.
(=) Fluxo das atividades operacionais -90.000

c) Atividade de investimento

(+) Venda de ações de coligadas 10.000

(+) Recebimentos de coligadas 10.000

(=) Fluxo das atividades de investimento 20.000

d) Atividade de financiamento

(+) Novos Financiamentos 50.000

(+) Aumento de capital 40.000

(-) Dividendos pagos -50.000

(=) Fluxo das atividades de financiamentos 40.000

(=) Fluxo de caixa do período -30.000

(=) Caixa inicial (20x3) 40.000

(=) Caixa final (20x4) 10.000

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Comparação dos fluxos econômicos e financeiros

FLUXOS
Descrição Econômico - DRE Financeiro - DFC $
Receitas 800.000 730.000 -70.000
Custos -650.000 -660.000 -10.000
Lucro Bruto 150.000 70.000 -80.000
Desp. Vendas -30.000 -30.000 0
Desp. Administrativas -70.000 -50.000 20.000
Desp. Financeiras -20.000 -20.000 0
Lucro operacional 30.000 -30.000 -60.000
Imposto de renda -6.000 -60.000 -54.000

Lucro Líquido 24.000 -90.000 - 114.000

Vendas ações 0 10.000 10.000


Recebimento coligada 0 10.000 10.000
Financiamentos 0 50.000 50.000
Aumento Capital 0 40.000 40.000
Pagamento dividendo 0 -50.000 -50.000

TOTAL 24.000 -30.000 -54.000

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A empresa recebeu menos do que vendeu. Caso tenha recebido
MODELO DE ANÁLISE DO DFC $
integralmente as contas a receber de 20x3, aproximadamente 28%
(+) Receitas recebidas 24.000
das vendas de 20x4 não foram recebidas.
(-) Caixa despendido na produção -4.000
Os custos financeiros foram maiores por conta de um aumento de (=) Caixa bruto das operações 20.000
estoques de $30.000, parcialmente compensados com um aumento (-) Pagamento despesas de vendas -1.000
de fornecedores de $10.000. Das despesas administrativas, $10.000
(-) Pagamento despesas administrativas -4.000
são referentes à depreciação e outros $10.000 a salários e encargos
(-) Pagamento despesas antecipadas -
que não foram pagos no período.
(=) Caixa gerado nos negócios 15.000

A empresa pagou impostos de períodos anteriores no valor de $60.000. (+) Outras receitas recebidas -

A coluna de variações entre o DRE e o DFC Direto é muito próxima do (-) Outras despesas pagas -3.000

DFC Indireto. (=) Caixa após eventos não operacionais 12.000

(+) Receitas financeiras recebidas -


ANÁLISE DE INDICADORES DO DFC
(-) Despesas financeiras pagas -5.000

Considere a tabela abaixo para cálculo dos indicadores do DFC (=) Caixa após eventos financeiros 7.000
conforme modelo proposto (-) Amortização de empréstimos -3.000

(=) Caixa após amortização de empréstimos 4.000

(+) Novos financiamentos - terceiros 3.500

(-) Novos aportes de capital - sócios -

(=) Caixa após amortização de financiamento 7.500

(-) Aquisição de ativo permanente -4.000

(=) Caixa líquido final 3.500

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COBERTURA DE JUROS (CJ) Caixa após eventos financeiros
CDQ =
Financiamentos onerosos
Mede a capacidade da empresa de cumprir suas obrigações financeiras
com os recursos financeiros gerados nos negócios, ou seja, após a
entrada e saída de caixa relacionadas aos principais eventos: 7.000
CDQ = = 0,25
28.000
Caixa gerado nos negócios
CJ = Este resultado indicaria que a empresa tem capacidade para quitar as
Juros pagos no período
dívidas em 4 anos, caso o prazo real das dívidas seja, por exemplo, 7
anos. A empresa poderá utilizar 3 anos desse prazo para reinvestir no
15.000
CJ = = 3,0 negócio.
5.000
TAXA DE RETORNO DE CAIXA (TRC)
No exemplo em questão, para cada $1,00 pago em juros as operações
geraram $3,00 de caixa. Em outras palavras, a empresa trabalha 4 Mede a capacidade de renovação dos ativos com o caixa gerado nas
meses (1/3) no ano somente para pagar juros. operações. Admita que o Ativo total da empresa é $75.000. Nesse
caso, a taxa de retorno de caixa é de 20%.
CAPACIDADE DE QUITAR DÍVIDAS (CQD)

Este indicador mede a capacidade da empresa em liquidar as dívidas


Caixa gerado nos negócios
com credores externos com o caixa excedente após os eventos TRC =
Ativo
operacionais e pagamento dos juros correntes. Considere que os
financiamentos onerosos, que geraram juros de $5.000, somam
$28.000. Nesse caso, a empresa gerou recursos para pagar 25% da 15.000
TRC = = 0,20
dívida: 75.000

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Esse indicador mostra que a empresa demora em média 5 anos para
converter em caixa a totalidade de seus ativos. Pode também ser Caixa após eventos financeiros
CNI =
utilizado apenas o Ativo Operacional ou mesmo o Patrimônio Líquido. Novos investimentos (imobilizados)

NÍVEL DE RECEBIMENTO DAS VENDAS (NRV) 7.000


CNI = = 1,75
4.000
Esse indicador pode ser comparado com anos anteriores ou com
concorrentes para avaliação e revisão da política de crédito. Suponha
que o total de vendas da empresa tenha sido $30.000, então, a empresa Este resultado demonstra que a empresa tem capacidade para
recebe em média 80% das vendas. investimento com recursos próprios, o que faz com que os ativos
aumentem sem aumentar o endividamento.

Receitas recebidas
NRV =
vendas

24.000
NRV = = 0,80
30.000

CAPACIDADE DE NOVOS INVESTIMENTOS (CNI)

Este indicador mede a capacidade de gerar recursos, após pagamento


dos juros e dividendos, para aumentar o negócio com recursos próprios.
Suponha que os investimentos da empresa nos imobilizados somaram
$4.000. Nesse caso, o índice seria de 1,75.

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INDICAÇÃO DE LEITURA

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

MARION, J. C. Análise das Demonstrações


Contábeis. São Paulo: Atlas, 2009. Capítulo 10

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Coordenação Educacional: George Sales
Autoria: Prof. Dr. Rodrigo Paiva Souza
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Revisão de Texto: Patricia Brasil

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