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ABSTRACT: The article discusses the intellectual production in Fortaleza, capital of the
province of Ceará during the 1880s. Discusses how the European scientism and evolutionary
theories were received and influenced the ways in which intellectuals have come to think about
the society they lived in the last decades of the nineteenth century, its population and nature. It is
shown how scientism and other evolutionists theoretical currents contributed to the reflections
that helped to build a society and identity of Ceará.
Introdução
De acordo com Alonso, em fins do século XIX não havia um campo intelectual
autônomo no Brasil e, por isso, toda manifestação intelectual era imediatamente um evento
político. Logo, a denominada “renovação das ideias” esteve atrelada ao momento político pelo
qual o Brasil passava nesse período. Concordamos com a autora quando ela afirma que
“argumentos e conceitos de teorias estrangeiras não foram adotados aleatoriamente, sofriam um
processo de triagem”, isto é, “havia um critério político de seleção”, pois os intelectuais
escolheram determinadas teorias e práticas no intuito de subsidiar suas compreensões acerca da
realidade que viviam, bem como para “desvendar linhas mais eficazes de ação política”4.
A crise do Segundo Reinado, iniciada a partir de meados dos anos 1860, proporcionou
discussões sobre a reforma do regime de trabalho, a secularização das instituições e a
reestruturação do sistema político. Como resultado dessa crise política e das reformas que
1 Ver: CANDIDO, Antônio. O método crítico de Sílvio Romero. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.
2 SOUZA, Vanderlei Sebastião de. Por uma nação eugênica: higiene, raça e identidade nacional no movimento
eugênico brasileiro dos anos 1910 e 1920. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 146-166,
jul/dez 2008. p. 146.
3 Ver: SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930).
39.
Nessa época, o Ceará intensificou suas relações econômicas com outras províncias
brasileiras, bem como com países do exterior, em decorrência do seu desenvolvimento
econômico, ocorrido a partir da ampliação da produção e exportação do algodão, o que
ocasionou o crescimento urbano e demográfico de sua capital, Fortaleza. De acordo com
Cardoso, a partir de 1860, o comércio do algodão e a migração da população sertaneja fugida da
seca colaboraram para que a cidade se formasse como um espaço de atuação de vários grupos
sociais.6
Nesse sentido, Oliveira assevera que esse também é um momento em que diversos
estudantes transitavam na província do Ceará devido ao aumento dos cursos preparatórios e
secundários, além da saída e da entrada daqueles que realizavam seus cursos superiores em outras
províncias, principalmente em Recife e no Rio de Janeiro.7
As novas ideias permearam o pensamento dos letrados não somente em Fortaleza, mas
em todo o Brasil, os quais compuseram a chamada “geração de 1870”8, ou “geração modernista
de 1870”9. A maioria dos pensadores que fizeram parte dessa “geração”, marcada por correntes
de pensamento europeias de cunho científico, evolucionista e racialista, pertencia principalmente
às camadas mais abastadas da sociedade brasileira.
No caso de Fortaleza, alguns dos intelectuais que se reuniram na cidade nos anos 1870, se
associaram novamente na década subsequente e influenciaram outros pensadores, os quais, por
meio do contato com as novas ideias europeias, foram impulsionados a formular modos de
pensamento social (1887-1914). 2001. Tese (Doutorado em História Social) - Pontifícia Universidade Católica, São
Paulo, 2001, p. 29-127.
8 VENTURA, Roberto. Estilo tropical: história cultural e polêmicas literárias no Brasil (1870-1914). São Paulo:
As décadas de 1870 e 1880 foram marcadas por debates, seja na literatura ou na imprensa
partidária, acerca de diversos projetos sociais, econômicos e políticos para o Brasil que passava
por transformações. Interpretando esse processo de mudanças, várias foram as ideias e posturas
adotadas pelos letrados, as quais podem ser notadas nos periódicos que circularam no período.
10 CARDOSO, Gleudson Passos. Literatura, imprensa e política (1873-1904). In: NEVES, Frederico de Castro
(Org.) et al. Intelectuais. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002, p. 45.
11 Ver: BARREIRA, Dolor. História da literatura cearense. Edição fac-similar. Fortaleza: Instituto do Ceará, 1986. Vol. I,
p. 85-86; e NEVES, Berenice Abreu de Castro. “Intrépidos romeiros do progresso”: maçons cearenses do Império.
In: NEVES et al. Intelectuais, 2002.
Rocha Lima também serviu de inspiração para os letrados de Fortaleza nos anos 1880.
Tendo falecido jovem, aos 23 anos, em 1878, esse autor foi bastante admirado tanto por suas
reflexões como pelo conhecimento e interesse pelo pensamento europeu do período, além das
atividades exercidas em tão pouco tempo de vida. Rocha Lima havia participado da Academia
Francesa, proferiu conferências na Escola Popular e fez contribuições ao jornal Fraternidade. A
trajetória de suas influências teóricas assemelha-se muito a de Capistrano de Abreu, pois ambos
teriam lido primeiramente Taine e Buckle, passaram para Comte e daí para Spencer.15
Na capital da província, entre os anos 1877-1880 ocorreu uma seca que representou uma
fratura demográfica, com a redução de mais de um terço da população. O Ceará atraiu a atenção
e a compaixão de todo o império e, por meio desse fenômeno climático, foi gerado o sentimento
de unidade nacional para combater a miséria dessa província. A seca de 1877 foi a primeira a ter
12 WEHLING, Arno. Capistrano de Abreu – a fase cientificista. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio
de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, v. 311, abril/junho 1976, p. 45.
13 ______. Capistrano de Abreu, p. 46.
14 ______. Capistrano de Abreu, p. 51.
15 Ver introdução feita por Djacir Menezes para a obra: LIMA, Raimundo Antônio da Rocha. Crítica e literatura. 3. ed.
29.
Com o fim da seca no início dos anos 1880 e com as novas ideias e consciência do poder
de reivindicação ao governo central, os letrados da província se reuniram e houve a revitalização
das atividades intelectuais que haviam sido interrompidas. Nessa época, uma das bandeiras de luta
que se fortaleceram e geraram discussões no Ceará e em grande parte do império foi o
abolicionismo.
17 ALBUQUERQUE Apud RIOS, Kênia Sousa. Apresentação: A Comissão Científica e a seca do Ceará. In:
CAPANEMA, Guilherme Schurch de; GABLAGLIA, Giacomo Raja. Estudos sobre seca: escritos de Guilherme
Capanema e Raja Gabaglia Fortaleza: Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, Museu do Ceará, 2006, p. 14.
(Coleção Comissão Científica de Exploração, 2).
18 BARREIRA, História da literatura cearense, p. 78-79.
19 Ver introdução de Djacir Menezes à obra: LIMA, Raimundo Antônio da Rocha. Crítica e literatura. 3. ed. Fortaleza:
De acordo com o texto, pelo fato de os trabalhadores escravos serem negros, de antemão
eles eram considerados naturalmente degenerados, entregues aos vícios, e para mostrar que tal
malefício não havia de se realizar na sociedade em que viviam, os libertadores expunham
exemplos em que isso não ocorreu, como no caso das sociedades europeias, que eram tidas como
modelos a serem seguidos.
Dentre os aspectos que eram mais presentes em suas reflexões, encontrava-se a formação
do chamado “povo cearense” e de suas “aptidões” para a sobrevivência no território que
habitava, fatores que, segundo os intelectuais, haviam contribuído para sua “evolução”. Vale
20 Parte I do artigo intitulado “Consequencias da emancipação”. In: BPMP, Núcleo de Microfilmagem. Jornal
Libertador. Fortaleza, 15 jan. 1881, p. 3, rolo nº. 127-A.
21 Parte II do artigo intitulado “Consequencias da emancipação”. In: BPMP. Libertador, 15 jan. 1881, p. 3.
Raça e natureza
Se uma parte do império só sabe elevar-se auxiliada pelo braço do escravo, que
lhe proporciona as comodidades da riqueza, alem da uberdade do solo, da
regularidade das estações, da doçura do clima, que tudo lhe é favorável, nós os
desamparados da fortuna, que luctamos com as calamidades inherentes a
posição geographica de nosso trovão, para quem a vida é difficil e exige
constante trabalho; nós os beduinos do deserto, acostumados a arrancar do
solo o sustento quotidiano com muito suor da fronte, devemos orgulhar-nos de
termos sido os primeiros que enunciamos o trabalho livre e que primeiro
extinguiremos o elemento servil, que tanto destoa do nosso adianta[mento]22.
De acordo com Araújo, até os anos iniciais do século XX a ideia de natureza que
prevalecia entre a elite política e cultural brasileira era a de que o Brasil tinha uma “vocação
agrária”. Havia a evocação da “fecundidade divina da terra”, representada, principalmente pela
economia cafeeira; a questão apresentada era a da gestão da terra: era preciso uma boa gestão da
natureza, pois era através dela que o país tomava seu lugar dentre as nações civilizadas23.
A partir do texto, percebemos que havia a crença de que a natureza não tinha sido
generosa com o homem do Ceará, o qual, devido ao clima seco e árido e ao solo pouco fértil, se
esforçou mais para obter o alimento e sobreviver em meio às adversidades naturais, comparado
aos habitantes das áreas consideradas mais férteis do território brasileiro.
Na mesma acepção, para Rocha Lima o “homem deixa de ser uma passividade diante de
Deus e da natureza como no fatalismo teológico ou metafísico, para tornar-se um reagente
contínuo, um Prometeu sem Cáucaso, que vai cada dia, pelo progresso de sua inteligência,
roubando à natureza o segredo de sua onipotência”24. Ou seja, o homem não esperava mais pela
providência divina, mas buscava mudar sua realidade em favor do próprio progresso intelectual,
enfrentando as dificuldades impostas principalmente pelas forças naturais.
Segundo esses intelectuais, a luta pela sobrevivência do homem do Ceará em uma terra de
difícil habitação e cultivo mostrava o quanto ele estava adaptado a esse ambiente. Tal adaptação
era apresentada pelos letrados de Fortaleza estando relacionada à miscigenação das “raças”,
branca e indígena principalmente, que teria contribuído para a formação física e moral de um tipo
humano diferenciado.
O debate sobre as raças atingiu seu auge nos anos finais do século XIX. Legitimado pela
ciência, o racismo despertou novas perspectivas intelectuais acerca das transformações da espécie
humana e engendrou pensamentos racialistas.
Nessa obra encontra-se o artigo homônimo do livro em que Bezerra expõe sua crença
“de que o pôvo cearense tem no sangue uma parte do sangue do cigano”26. Bezerra afirma que
“da fusão desses dois elementos [português e índio] e do elemento europeu [cigano] se formou a
população do Ceará”.27
Ora, de acordo com Louis Agassiz (1807-1873) e Joseph Arthur de Gobineau (1816-
1882), estudiosos franceses, cujos pensamentos eram conhecidos pelos intelectuais da região Sul e
Sudeste do Brasil, o homem do Ceará, constituído da forma como Bezerra afirmava, era sem
dúvidas degenerado, uma vez que esses estudiosos europeus consideravam a miscigenação das
raças um fator negativo.
25 Ver: MURARI, Luciana. A mestiçagem da alma: literatura crítica e ciência na construção do discurso racial no
Brasil pós 1870. Intinerários, Araraquara, n. 23, p. 175-190, 2005.
26 BEZERRA, Antônio. O Ceará e os cearenses. Edição fac-similar. Fortaleza: Fundação Waldermar Alcântara, 2001, p.
Kury, em seu estudo sobre a expedição científica comandada por Agassiz no Brasil na
região Amazônica entre os anos de 1865 e 1866, afirma que o naturalista avaliava negativamente
o que chamava de hibridizações, pois “o indivíduo resultante do cruzamento de diferentes raças
perde as melhores características das raças puras”29. Ainda acerca do pensamento de Agassiz,
Roberts acredita que o naturalista francês admitia a existência de uma ligação entre as espécies
que surgiram no transcorrer da história terrestre, porém destacava que a relação não era do tipo
“descendência familiar”, mas sim uma conexão de “natureza imaterial e superior”, ou seja, uma
ligação entre as ideias na mente do Criador30.
Para Gobineau, de acordo com Sousa, a questão étnica teria sido a responsável pelo
declínio das civilizações antigas. E isso ocorreria pelo fato de uma raça originalmente pura, ao
misturar-se com outras, se tornava degenerada e, assim, perdia as suas qualidades essenciais,
levando ao fim essas civilizações31.
29 KURY, Lorelai B. A sereia amazônica dos Agassiz: zoologia e racismo na “Viagem ao Brasil”. Revista Brasileira de
História, São Paulo, v. 21, n. 41, p. 157-172, 2001. p. 169.
30 Ver: ROBERTS, Jon. Louis Agassiz: poligenismo, transmutação e metodologia científica – uma reavaliação. In:
DOMINGUES, Heloisa Maria Bertol... [et. al.] (Orgs.). Darwinismo, meio ambiente, sociedade. São Paulo: Via Lettera; Rio
de Janeiro: MAST, 2009.
31 Ver: SOUSA, Ricardo Alexandre Santos. A extinção dos brasileiros segundo o conde Gobineau. Revista Brasileira de
Diante disso, podemos pensar que o referido autor e talvez outros letrados de Fortaleza,
estariam a par do debate entre monogenistas e poligenistas que ocorria principalmente na região
Sul do Brasil e no estrangeiro. Ao analisarem a sociedade onde estavam inseridos, se
reconheceriam como inferiores, por serem mestiços, e enquanto raça não branca tinha que
mostrar reiteradamente a superação desse caráter através de sua história, cultura, atitudes políticas
e grau de instrução.
(...)
Baqueia a escravidão ao choque do heroísmo
D’um povo pobre sim, mas cheio de civismo
E rico de ambição!
Honra a ti nobre terra, estádio da egualdade
Que antepões á vida o amor á liberdade
A gloria da tua nação!33
Baseados nesses versos, consideramos que para o autor a população da Vila de Redenção
era pobre, todavia, apesar das dificuldades, tinha o interesse em contribuir para o progresso da
pátria, por meio da luta contra a escravidão. Bezerra afirmava que a Vila, a qual inspira o título do
poema e foi a primeira a libertar os escravos na província, era local de igualdade, onde o amor, a
vida, a liberdade e a glória da nação estavam em primeiro lugar.
33BEZERRA, Antônio; SERPA, Justiniano de; MARTINS, Antônio. Três Liras: poesias. Fortaleza: Typographia
Economica, 1883, p. 15.
No Ceará, curiosa foi a atuação de João Lopes: deputado da província em 1854, professor
e jornalista, iniciou os estudos em Direito na Faculdade de Recife, mas logo teve de retornar à
terra natal devido às dificuldades financeiras, contribuiu com a fundação da sociedade Phoenix
Estudantil, participou da Academia Francesa, foi redator dos jornais Fraternidade, Gazeta do Norte,
Cearense, colaborou no Libertador, foi um dos fundadores do Clube Literário, tendo colaborado em
seu órgão, a revista A Quinzena, bem como no jornal O Domingo, no Estado do Ceará, n’A República
e em outros periódicos de várias cidades do Brasil. Lopes escreve o seguinte sobre o
branqueamento da sociedade brasileira:
Quando, amanha, o sangue caucasico, atrahido pela abolição, tiver trazido seiva
sadia ao nosso solo e os milagres do trabalho livre tiverem dignificado o lugar
do Brazil nas grandes officinas da industria moderna, o nome cearense fulgirá
deslumbrante na memoria das gerações para as quaes estamos preparando uma
patria livre34.
Nesse sentido, podemos perceber que na visualização e análise de sua sociedade, esse
grupo de letrados geralmente defenderia em seus discursos a mestiçagem como benéfica, a qual
seria uma peculiaridade do “povo do Ceará”. Consideramos também a existência da influência de
alguns participantes da Academia Francesa no pensamento dos intelectuais na década de 1880,
visto que alguns de seus remanescentes atuaram nos anos posteriores, dentre os quais destacamos
João Lopes, que teve participação em várias agremiações e periódicos em fins do século XIX e
início do XX, tendo contato com Capistrano de Abreu e Rocha Lima, mentores do movimento
na década de 1870.
Uma ramificação do movimento abolicionista surgida na segunda metade dos anos 1880
foi o Clube Literário[1], responsável pela publicação da revista A Quinzena[2]. Dentre os
colaboradores desse periódico estava Antônio Martins, o qual, no ano de 1887, contribuiu com o
artigo intitulado “Os quinze dias”, onde o autor faz menção ao caráter “livre” da “terra
cearense”, ao mesmo tempo em que considerava a existência de dificuldades impostas pelo
ambiente e pela política do governo em relação à província:
Diante das palavras de Martins, podemos notar que em seu pensamento a seca poderia
ser considerada como um mecanismo de seleção natural, uma vez que enquanto fator ambiental
que causou estragos na sociedade, parte da população conseguiu superá-la e sobreviver. Esta, por
sua vez, além de lutar contra a seca e tentar se reconstruir material e socialmente, tinha também
de lutar contra as dificuldades políticas impostas pelo regime central; e, ainda assim, teria logrado
êxito, florescendo, ou seja, tendo forças e condições para prosperar.
No Ceará, por um destino, que não se desmentiu jámais, toda calamidade foi
sempre um passo á frente. A seca de 1792 foi seguida do plantio do algodão e
da fundação do commercio directo; a de 1825 deu incremento á cultura da
cana; a de 1815 fez desenvolver-se a açudagem da província; a de 1877-1879
finalmente acabou com os captivos; a prova de que não ha mal, que a vontade
humana não supere, e os infortunios de um povo quasi sempre lhe despertam
uma faculdade, que dormitava.37
Esse artigo foi veiculado na seção editorial no dia 25 de março de 1884. Percebemos,
então, que a seca era compreendida pelo autor como uma catástrofe e após a devastação causada,
havia impulsionado a população a encontrar forças para superá-la e encaminhar a sociedade em
que vivia ao progresso. Brígido utilizou metáforas botânicas ao ter comparado o povo do Ceará a
uma semente adormecida que estava à espera de algo que a despertasse, a fizesse germinar. A seca
seria, portanto, o fator que desabrocharia a espécie humana da latência na qual se encontrava,
fazendo emergir nos mais capacitados, os sobreviventes, virtudes que porventura estivessem
escondidas, as quais os faria lutar por melhoramentos.
(...) a seleção natural não é uma força que se acrescenta à luta pela existência, ela
não é uma causa suplementar, ela é um conceito recapitulativo que retém, sem
o realizar, com maior razão sem o personificar, o sentido de um procedimento
humano utilizado, como mecanismo analógico, na explicação do fenômeno
natural42.
Esse autor compreende a seleção natural como um conceito recapitulativo, como uma
definição ou explicação que se repete, tal como foi apontado por Brígido e Martins, os quais
apontaram a seca como um fenômeno destruidor que é sempre superado: aquele se referiu à seca
de 1877-1880 e a despeito dela mencionou um crescimento no Ceará e este citou várias datas em
que ocorreram secas na província e os melhoramentos ou atividades que teriam resultado de cada
uma. Nessa perspectiva, cogitamos a possibilidade da existência de um conflito entre a população
e a seca, a qual desenvolveria faculdades essenciais nos sobreviventes, que ajudariam o Ceará a se
civilizar.
La Vergata afirma que um dos grandes autores que influenciaram Darwin foi o
economista liberal, ensaísta e crítico Walter Bagehot (1826-1877), o qual considerava que os
estudos históricos demonstravam a existência de uma relação indissociável entre civilização,
inteligência e guerra e que as nações mais civilizadas também foram as mais bélicas. Baseado
nisso, La Vergata afirma que
(Orgs.). Darwinismo, meio ambiente, sociedade. São Paulo: Via Lettera; Rio de Janeiro: MAST, 2009, p. 244-5.
Considerações Finais
A partir de meados do século XIX diversas ideias europeias puderam ser verificadas no
ambiente intelectual brasileiro, as quais exerceram sua influência na maneira de pensar daqueles
que tinham acesso a elas. Em relação aos intelectuais do Ceará, notamos que não houve uma
única linha de pensamento que os influenciaram, mas sim uma amálgama de teorias das quais era
aproveitado aquilo que convinha à situação ou à realidade vivenciada.