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civilização comuns como a que embasa a maior parte das ideologias nacionalistas
"a raça cria a nacionalidade num grande número de espíritos ...e porque a nação criou a
raça acreditamos que a raça criou a nação" (Mauss, 1969:595-596)
A crença forçada quanto a língua nacional e o pensamento nacional resulta no
nacionalismo fanático, que vê o outro como inferior. Banton reflete que esse paradigma
muito serviu aos povos que queriam se unir em Estados no século XIX.
No entanto, as minorias sempre estiveram presentes e impediram maior força deste
nacionalismo.
Weber apesar de analisar o nacionalismo por um viés político não deixa de utilizar o
conceito de habitus (modo de viver).
Há de fato dificuldades em conceituar nação, nacionalismo, origem em comum e processo
histórico em comum para defini-lás.
Boehm atribuí também a língua e etnicidade um papel central para existência de uma
nação, e Hobsbawm complenta ao chamar o nacionalismo étnico aqueles que além
desses fatores agregam movimentos imigratórios e a ciência enquanto transformadora da
raça em conceito central.
O conceito de raça como divisor é que inicia o que Hanna Arendt chamou de nova chave
da história- o racismo, quando se impôs através de características culturais e fenótipos a
hierarquização dos povos. Papel importante nesse processo teve a Antropologia física e
em partes a ciência, também aqui no Brasil. Nesse cenário estudiosos dos campos da
ciências sociais e humanas tiveram sua importância ao abusar da teoria de Darwin e
propagar a sobrevivência do mais forte, o que deu origem a Eugenia, que através de
políticas públicas provocou e provoca limpezas étnicas.
Segundo Arendt foi com a lógica da formação dos Estados em torno de uma unidade
nacional que deu origem a ideologia excludente para fins políticos.
A classificação pela frenologia não se limitou a traçar hierarquias pelos fenótipos de
negros, índios e brancos, logo a posição social também teria espaço nessa ciência
racista, diferenciando brancos entre si. O Brasil do século XIX adotou a tendência e levou
a sério o projeto de eugenia, acreditando na teoria do Darwinismo de que determinadas
raças não avançariam na sociedade devido a sua suposta inferioridade. A miscigenação
só entra em destaque a partir de 1850, sendo vista como uma possibilidade de criar uma
hegemonia da sua população, desde que resultasse no branqueamento, fortalecendo
assim a nacionalidade.
O eixo da discussão sobre a imigração assume um teor mais racista. Com a criação do
primeiro curso de Antropologia Física no Museu nacional em 1877 os estudos sobre as
raças tomam um rumo mais sistematizado sob a orientação de Paul Broca, Gobineau,
Chamberlain e Lapouge, tornando a tese do darwinismo social e o mito ariano pontos de
referência. Foi então que J. B. De Lacerda apresentou a teoria do branqueamento e os
mestiços superiores. Segundo ele, em 3 gerações o Brasil teria uma população de
fenótipo branco, formando um povo específico que simbolizaria a nação. O frande fluxo
migratório de europeus, especialmente italianos entre 1880 e 1920 dariam credibilidade a
imaginada nação branca do futuro. O acirramento nas primeiras décadas do século XX
chegou ao Brasil sob a forma da crítica das colônias do sul, por serem consideradas
autônomas demais, exibindo costumes e culturas não brasileiras.
“Enfim, nesta perspectiva, para que servem arianos conquistadores (conforme imagem de
Gobineau, citado por Romero na sua obra mais conhecida, a História da Literatura
Brasileira) se eles recusam a "fusão" com os nacionais.” p. 50
Os imigrantes que por função deviam se misturar e formar o povo brasileiro deveriam ser
predominantemente latinos, mais de acordo com o portugueses, sendo os alemães nesse
caso demasiadamente alemães. O que revela outro traço de hierarquização dos brancos,
a da semelhança cutlural. A imigração pois deveria acontecer já que as outras raças, as
consideradas inferiores, sumiriam com o passar do tempo.
“Na verdade, qualquer que seja a imagem construída de cada tipo ou raça, e apesar da
crença nos bons resultados do processo de branqueamento pela miscigenação, há uma
divisão bipartida onde, de uma
lado, estão os brancos (assimiláveis ou não) e do outro todos os diversos graus de
"inferiores" - pois mesmo a concepção de "mestiço superior" 16 implica distanciamento
seletivo por contraste com o civilizado pleno - o branco.” p. 52
Os textos e estudos sobre a migração toma outros contornos, sem deixar de ser
racista, a medida que começa a englobar medidas que dessem “sentido cívico a
naturalização”, através de uma moral em comum pelo ensino público e melhoria na
comunicação entre as colônias.
O esquema de classificação de raças de Le Bon foi largamente adotado, sendo as raças
cada qual a sua maneira, mais ou menos indicada para a colonização. O que se percebe
a partir dessa discussão é mais uma vez a ausência do debate econômico que inclua os
trabalhadores nacionais e os negros e mestiços como possíveis colonos.
Dois pontos considerados importantes para o atraso do Brasil seriam a colonização
português que não seguiu princípios do capitalismo e a do império por permitir que o
“povos civilizadores” se estabelecem no Brasil em separado da população a qual ela
devia branquear.
“Silva Rocha em nenhum momento usa a palavra "branqueamento", mas esta "unificação
do tipo nacional" é exatamente a mesma pretendida por Lacerda e Romero e outros
autores do mesmo período - e os imigrantes bons para colonizar e povoar são brancos
europeus com tendências assimilacionistas.” p.55
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“É nesse sentido que fazem suas criticas ao sistema imperial de colonização, que também
pode ser lido como sistema de povoamento de territórios considerados desabitados
(dentro da noção de "vazios demográficos"), já que as populações regional e indígena
raramente são mencionadas, ou aparecem como entraves à implantação de um modelo
de agricultura moderna.”
Além disso ele pretende explicar porque os europeus foram privilegiados na imigração
enquanto os negros, índios e mestiços foram excluídos dos programas que visavam a
criação de uma nação brasileira.