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DE OLHO
ABERTO
A régua subiu, mas
falta dar velocidade e
escala à transparência
Amazônia
Alta exposição joga luz
nas caixas-pretas da região
José Eli da Veiga
Empresas devem prestar muita
atenção às vozes da juventude
Cultura e democracia
Campo ambiental saiu na frente
graças à mobilização social
EDITORIAL
Próximo desafio:
escala e velocidade
Em maio de 2008, a P ágina 22 publicou uma edição explicando por
que era tão importante o mercado financeiro se integrar ao debate
JORNALISTAS FUNDADORAS Amália Safatle e Flavia Pardini
da sustentabilidade. Doze anos depois, é gratificante noticiar que, EDITORA Amália Safatle
antes tarde do que nunca, as finanças não só embarcaram no tema, EDIÇÃO DE ARTE José Roosevelt Junior
como estão puxando a régua para cima, ao precificar o risco das www.mediacts.com
EDIÇÃO DE FOTOGRAFIA Flavia Sakai
más práticas ambientais, sociais e de governança. As boas notícias, REVISÃO Carolina Machado
entretanto, dependerão da escala e da celeridade dessas mudanças. PRODUÇÃO Jorge Novais Telles
na reportagem de capa desta edição, a melhor forma de fazer isso é CONSELHO EDITORIAL
Ana Luiza Aranha, Glaucia Terreo, Daniela Lerda, José Eli da
com mais transparência na gestão e uma agenda ambiental forte. Veiga, Juliana Lopes, Marco van der Ree, Malu Paiva, Natalie
Assis, Paulo Moutinho, Roberto Silva Waack, Vânia Bueno
A Amazônia, fronteira de grandes disputas, é um exemplo dessas agendas PARCERIAS EM PROJETOS ESPECIAIS
conflitantes. A clareza dos dados territoriais sobre ocupação e uso do solo Para informações, escreva para contato@pagina22.com.br
propiciada pelas imagens de satélite contrasta com obscuras transações Os artigos e textos de caráter opinativo assinados
em meio a mentiras e meias-verdades. A região é marcada por um contexto por colaboradores expressam a visão de seus autores,
não representando, necessariamente, o ponto de vista
de violência e ilegalidade: grilagem de terras, conflitos fundiários, tráfico de Página22.
Boa leitura!
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ÍNDICE Use o QR Code para acessar Página22
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14
CAPA
6 Entrevista Para o professor José Eli da Veiga, o movimento da jovem ativista ambiental sueca Greta Thunberg, o
Fridays for Future, terá muito mais peso do que diversos políticos estão imaginando, simpáticos ou não à causa. Segundo ele,
as empresas também precisam prestar muita atenção na mudança de comportamento e de valores da juventude
20 Cultura Instaurar uma cultura da transparência no Brasil é um longo processo, em estreita relação com o avanço da
democracia, o combate à corrupção e a superação da "tradição patrimonialista". O campo ambiental chama atenção
por ter obtido avanços antes mesmo da Constituição de 1988 – e isso tem muito a ver com a mobilização da sociedade civil
26 Amazônia A riqueza natural convive com a desigualdade social e o submundo da violência e da ilegalidade: grilagem
de terras, conflitos fundiários, tráfico de drogas, animais e pessoas, desmatamento. Mas a crescente exposição global da
Amazônia, devido à demanda pela mitigação climática, joga holofotes na escuridão da floresta
33 Engajamento Investidores, consumidores e empresas dão sinais de que as mudanças sistêmicas rumo à
sustentabilidade estão em curso. O desafio ainda é dar escala e celeridade a este movimento – impulsado também pela
pandemia do novo coronavírus, que agiu como um catalisador
4 PÁ G I N A 2 2 O U T U B R O 2 0 2 0
PROJETO ESPECIAL
E a régua subiu?
Bem-vindos à segunda edição especial sobre transparência da Página22, idealizada
em parceria com a Global Reporting Initiative (GRI). Este projeto traz uma avaliação geral
do estado da transparência no Brasil na perspectiva de diversos setores da sociedade.
Em que avançamos e no que precisamos melhorar desde a primeira edição, em 2019?
É preciso celebrar e agradecer a todos que estão juntos nesta jornada desde o início. E
lembrar que as grandes decisões tomadas nas instituições são feitas por pessoas, nos seus
papéis de ativista, funcionário, mãe, pai, professor, jornalista, empresário, investidor,
estudante etc. Ou seja, um futuro melhor também depende da evolução pessoal de cada um.
Leituras como esta contribuem para abrir a cabeça e ampliar a visão. Por isso,
agradecemos à equipe da revista, que novamente provou seu profissionalismo e
compromisso com a informação, e também à Agência Sueca de Cooperação Internacional
(SIDA), patrocinadora deste projeto da GRI. Agradecimentos especiais aos entrevistados
e membros do Comitê Editorial desta edição.
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ENTREVISTA JOSÉ ELI DA VEIGA
Isso é só o começo
POR AM ÁL I A SAF AT L E FOTO REPRODUÇÃO
O debate sobre uma retomada econômica verde não vem de hoje. Quando o mundo tentava se reerguer da
crise que sacudiu os mercados financeiros e a economia global a partir de 2008, o assunto já tinha vindo
à tona. Mas de lá pra cá, especialmente desde 2015, houve uma aceleração do processo. Muitos setores
sociais e agentes econômicos importantes que antes eram reticentes, ou tinham uma certa indiferença,
passaram a se engajar, sendo o setor financeiro um dos últimos a embarcar. “Os fundos que demoraram
para entrar nisso agora entraram com tudo”, diz José Eli da Veiga, professor sênior do Instituto de Energia
e Ambiente da Universidade de São Paulo.
Há um componente geracional forte nessa evolução. Nos bancos centrais, por exemplo, hoje se vê um corpo
técnico formado por excelentes economistas que são muito jovens, e já discutiam questões relacionadas
a clima e sustentabilidade quando estavam na faculdade. Segundo Veiga, muitos autores têm enfatizado
que o movimento da jovem ativista ambiental sueca Greta Thunberg, o Fridays for Future, vai pesar no que
vamos assistir na próxima década. “Terá muito mais peso do que diversos políticos estão imaginando, sim-
páticos ou não à causa da Greta”. Segundo ele, as empresas também precisam prestar muita atenção na
mudança de comportamento e de valores da juventude. “A gente está vivendo só o início”, afirma.
Professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da USP (IEA-USP). Por 30 anos (1983-2012), foi docente do Departamento de Economia da Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), onde obteve o título de professor titular em 1996. Tem 29 livros publicados, entre os quais O
Antropoceno e a Ciência do Sistema Terra (2019); Amor à Ciência (2017); Para entender o desenvolvimento sustentável (2015) e A desgovernança mundial
da sustentabilidade (2013). É colunista da Página22, do Valor Econômico e da Rádio USP.
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JOSÉ ELI DA VEIGA
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JOSÉ ELI DA VEIGA
Em Davos, os últimos anos uma atitude importante nesta direção [em julho, apre-
sentaram ao governo federal 10 medidas para o de-
Analisando a possibilidade de evolução dessas
agendas em plano internacional, a grande incógnita O Brasil virou um vilão de
foram impressionantes primeira linha. Se alguém
senvolvimento sustentável na região]. Esses bancos é a relação entre Estados Unidos e China. São poucas
deram um recado que deve ter sido ouvido pelo me- as pessoas com capacidade de observar o que está
nos no âmbito do superministério da Economia, mes- acontecendo na China. Mas para aquilo que nos inte-
na mudança da percepção mo que não tenha sido em outras áreas do governo.
Mas imagino também que o vice-presidente [Hamilton
ressa e até onde as informações estão disponíveis,
há coisas altamente avançadas. Outro dia estava
quiser dar um exemplo ruim,
sobre a crise climática Mourão] e a Casa Civil também estejam atentos.
Na verdade, o governo está tendo uma atitude
ouvindo um brasileiro que vive lá e conhece muito
bem o país dizer que no ano que vem será proibido
vai lembrar do Brasil, até
e da biodiversidade desastrosa nas questões ambientais em geral e,
particularmente, no aspecto Amazônia, o que dá
usar carro com motor a explosão na sua cidade. Isso
é quase a vanguarda, porque isso se planeja muito na
antes de lembrar do Trump
uma visibilidade muito grande. O Brasil virou um Europa, mas até agora as datas não são assim.
vilão de primeira linha. Se alguém quiser dar um Na Europa, há uma ambição clara de acelerar
social e a ambiental –, quando, na verdade, a exemplo ruim, nunca vai lembrar dos negacionistas o processo de transição ecológica, mas ela ainda
ambiental é a grande base para tudo. O uso da da Europa do Leste. Vai lembrar do Brasil, até an- está muito amarrada às energias fósseis. A China
sigla ESG estaria fazendo uma nova separa- tes de lembrar do Trump. Isso está sendo negativo parece em ascensão, na vanguarda, mas ao mes- termos de formulação da governança. Vou dar um
ção em áreas? Seria um novo modismo para para o Brasil economicamente. Não é tão sério para mo tempo se tem notícia de que está usando cada exemplo que é quase que uma curiosidade histórica,
dizer a mesma coisa? alguns setores do agronegócio porque as exporta- vez mais carvão, que é o pior dos combustíveis fós- mas para dizer que a maneira como essas organiza-
Quando ele fez uma espécie de autocrítica com ções, de certa forma, continuam bombando e são seis. Então é difícil interpretar. ções internacionais evoluem não é nada óbvia.
relação a isso, chamou a atenção de que o tripé tinha principalmente dirigidas à Ásia e ao Oriente Médio. O fato é que a China está empenhada em ter um Hoje a gente fala muito dos ODS [Objetivos de
virado uma maneira de as empresas simplesmente Com isso, a péssima imagem do Brasil na Europa papel muito mais importante no plano geopolítico e Desenvolvimento Sustentável], que foram assina-
subdividirem a questão e criarem métricas específi- para que o Brasil seja boicotado ainda não assusta que isto entra em contradição com as vocações dos dos em 2015, e vieram substituir os ODM [Objetivos
cas. Assim, podiam dizer: “Ah, eu não vou tão bem no essa parcela do agronegócio. EUA. E caso o Trump se reeleja, vamos entrar em um do Milênio] – que já tinham sido uma grande inova-
resultado ambiental, mas estou tão bem no social Mas pelo lado da capitalização, a coisa está séria, período pior do que este, sem perspectivas mesmo. ção a partir de 2000. O componente sustentabilida-
que isso compensa”. A crítica dele foi de que isso ri- porque os fundos que demoraram para entrar nisso Aí o que a Europa poderá fazer sozinha? de nos ODM era muito fraco. Recentemente, fazen-
fou a ideia central do valor novo que era a sustenta- agora entraram com tudo. Teve aquele anúncio do Ao mesmo tempo, a Europa vai ficar cada vez mais do pesquisas, acabei notando que, na verdade, os
bilidade, que exigiria uma visão mais holística e não BlackRock no começo do ano, e já são não sei mais exigente. Dá para ver isso na tramitação do tal acordo ODM nasceram na OCDE. Havia um departamento
subdividida e usada mecanicamente. Nesse sentido, quantos grandes fundos estão nessa linha de adotar, União Europeia e Mercosul. Um ano atrás eu escrevi na OCDE que procurava assessorar os países a gerir
o ESG não mudaria grande coisa. por exemplo, o ESG. E se você adotar o ESG, a última na Página22 um artigo elogiando o texto do acordo. a aplicação de recursos de cooperação internacio-
O mais surpreendente na sigla ESG é que o lucro coisa que vai topar é bancar investimento em um país Tenho a impressão de que se o governo Bolsonaro fizer nal. Antes de ser da ONU, portanto, os ODM foram
“sumiu”. Quando Elkington lançou a ideia, falou: “É com esta imagem que o Brasil está criando. Ou já criou. mesmo este acordo, vai se arrepender logo, porque uma ideia da OCDE, do Banco Mundial e do Fundo Mo-
claro que a empresa precisa lucrar, mas também Não creio que esses três bancos, por exemplo, um acordo deste tipo teria a possibilidade de judiciali- netário Internacional.
tem de se preocupar com as pessoas e com o plane- tenham evoluído para essa condição só por causa zar as relações comerciais quando ocorrer o que está Se 10 anos atrás me dissessem que a OMC esta-
ta”. Essa era a mensagem, que foi muito boa do ponto das relações econômicas do Brasil com a Europa. acontecendo neste momento na Amazônia. ria condenada e nós estaríamos falando muito bem
de vista pedagógico no âmbito empresarial. Agora De certa forma, também refletem esse sentimen- Mas a possibilidade de esse acordo de livre comér- da OCDE, eu consideraria um “chute” muito grande.
está se falando em ambiente, social e governança. Eu to mais geral que a gente estava descrevendo. Por cio vingar é mínima, por várias razões. Uma delas é o Mas é isto que acabamos vendo.
acho estranho, mas de fato é como se tivesse acon- exemplo, todas as grandes empresas, e particular- fato de que a Argentina já não está tão interessada, e Nesse período todo de evolução oscilante em
tecido o seguinte: “É óbvio que tem lucro, mas lucro mente esses bancos, estão sempre em Davos. Nes- sim meio inclinada a fazer um pacto com a China. Para relação à transição ecológica, algumas iniciativas
a gente mede de outra forma. Para aquilo que é o pa- te ano, o encontro foi adiado por conta da pandemia, entrar em vigor, o acordo precisará ser ratificado em foram importantíssimas, sem as quais dificilmente
pel mais filantrópico das empresas, a gente vai usar mas os dois ou três últimos anos foram impressio- todos os países da União Europeia e do Mercosul – e o a gente estaria assistindo ao que há agora de positi-
essa sigla ESG”. Vejo na Harvard Business Review nantes como sinalização de uma mudança de per- segundo principal membro do Mercosul já está dando vo. Por exemplo, o reporting, como faz a GRI [Global
autores procurando discutir se ESG já é mainstream cepção da questão climática, em primeiro lugar, e pra trás. Além disso, há forças contrárias na Europa, Reporting Initiative], foi uma das iniciativas que pre-
ou ainda não. Talvez a gente esteja em um momento também da biodiversidade. por exemplo, Holanda, Áustria, França. cisam ser colocadas como admiráveis, assim como
de difícil avaliação do que vai ficar como convenção. Eu não sei como isso vai se resolver, mas não é foi a criação de índices, como o Bloomberg e o Dow
possível que dure por muito mais tempo o Brasil ser Então a governança global está mais compli- Jones Sustainability, pois era um período desfavo-
O atual governo brasileiro atrapalha a considerado o vilão, sendo que justamente é um dos cada do que a governança nas empresas? rável. Hoje, com a chancela do Fórum Econômico
evolução dessas práticas ou pode até mesmo países com maior condição de apresentar resulta- Isso com certeza. Agora a gente está assistindo Mundial de Davos, a coisa mudou completamente de
estimulá-las na medida em que provoca uma dos. Não apresenta e é uma pena. a OMC [Organização Mundial do Comércio] a andar figura. Mas essas foram iniciativas heroicas, porque
contrarreação, uma mobilização por parte do para trás. E por outro lado, tudo indica que a OCDE não era assim tão fácil vender esse tipo de ideia para
setor privado e da sociedade civil organizada? Como a governança global vai interferir na [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento muitos setores sociais e políticos.
Vamos pegar a iniciativa recente dos três grandes tendência de uma recuperação verde, uma vez Econômico], que no início era considerada uma orga-
Assista aqui ao vídeo com trechos desta entrevista.
bancos – Itaú, Santander e Bradesco –, que tomaram que o multilateralismo está em xeque? nização regional, tem um papel cada vez maior em
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NOTAS
FAKE NEWS RELATÓRIOS PANDEMIA
F
alácias, mentiras e meias-verdades O Fórum Econômico Mundial lançou em Como parte de sua contribuição à transpa-
são comuns na narrativa antiam- setembro um conjunto básico de métricas rência empresarial durante a pandemia, o
bientalista. Mas ganham expres- ESG e critérios de transparência que pode Instituto Ethos lançou o Covid Radar, um co-
são em um governo negacionista como ser usado pelos membros do International letivo de mais de 40 empresas que se junta-
o brasileiro. Diante disso, a plataforma Business Council. O IBC reúne mais de 120 ram para enfrentar os desafios do sistema
Fakebook.eco procura restabelecer os CEOs globais, com participação do Bank of de saúde e auxiliar na retomada da eco-
fatos e desfazer os principais mitos e America e das chamadas Big Four (Deloitte, nomia. Entre os conteúdos disponíveis no
desinformações no campo ambiental. EY, KPMG e PwC). O documento é intitulado site, há um guia com oito recomendações
Recentemente, dissecou o discurso do Measuring Stakeholder Capitalism To- relacionadas à responsabilidade social no
presidente da República Jair Bolsonaro wards Common Metrics and Consistent contexto da pandemia. Uma delas trata da
na abertura da Assembleia Geral da ONU Reporting of Sustainable Value Creation, transparência empresarial e abertura das
em 22 de setembro. traduzido livremente como “Medindo o decisões, e pode ser acessada aqui.
A plataforma traz ainda uma lista dos mi- capitalismo das partes interessadas em di-
AGENDA 2030
tos ambientais mais frequentes e permite reção a métricas comuns e relatórios con-
a interação com o público, que pode su-
gerir a verificação de informações. Criada
sistentes de criações de valor sustentável”.
Com isso, será possível alinhar os rela-
Apagão de
este ano, é resultado da união entre dois tórios sobre o desempenho em relação a dados
projetos anteriores: o Fakebook, pro- indicadores ambientais, sociais e de go-
O Relatório Luz da Sociedade Civil sobre a
duzido pelo Observatório do Clima (OC), vernança, e identificar contribuições para
Agenda 2030, que acompanha o andamento
Greenpeace e ClimaInfo, e o Agromitôme- os Objetivos de Desenvolvimento Susten-
dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Susten-
tro, uma iniciativa de checagem de infor- tável, por meio de uma base consistente e
tável (ODS) no Brasil, não traz boas notícias.
mações ambientais do OC. com maior convergência.
Nesta quarta edição, foram analisadas 145
das 169 metas da Agenda 2030, sendo que 17
metas nem sequer possuem dados para aná-
lise e sete não se aplicam ao Brasil. Mesmo na
análise das 145 metas, especialistas tiveram
dificuldades no levantamento de informa-
RASTREABILIDADE ções devido ao “apagão de dados” no País,
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DROPS
S
er transparente significa ser sin- Quatro adolescentes trazem suas opiniões Acompanhe os momentos em que o pro-
cero. Sinceridade gera confiança. sobre os atributos que o mundo empresa- fessor aborda a agenda ESG, o papel dos
Mas, nas relações empresariais, rial deve oferecer para atrair investimen- bancos, a influência das novas gerações,
esse encadeamento é mais desafiador, tos e os melhores talentos. E contam o a sustentabilidade diante de um multila-
principalmente quando se trata de uma que esperam em termos de diversidade no teralismo em xeque e os sinais contradi-
grande empresa que possui extensa cadeia mercado de trabalho. Veja também o reca- tórios que vêm da China (leia a entrevista
produtiva. Entenda por que e como as em- do que elas deixam para as empresas. completa à pág. 6).
presas podem evoluir em transparência.
MAKING OF
Furo de reportagem
Ouça o depoimento do fotógrafo André Pessoa, sobre a produção da imagem
que ilustra a capa desta edição. A foto registra uma nova pedra furada, recen-
te descoberta geológica no Piauí, em pleno século XXI. A descoberta simboliza
a riqueza histórica, ambiental e cultural da região, com imenso potencial para o
turismo sustentável em uma região ainda tão pouco explorada.
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REPORTAGEM CAPA
E
passada, sob o
m um extremo, regimes com tendência autoritária des- slogan Green New
Deal, e entrou na
constroem conquistas socioambientais recentes, nutrindo pauta da Comissão
uma briga contra o próprio passado. Na outra ponta, so- Europeia em
ciedades progressistas seguem na luta pela construção de dezembro de 2019
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CAPA
B.V., da Holanda, Valdemar de Oliveira Neto, podem escapar da necessidade de abraçar na cadeia produtiva se tornou avassaladora surfar na onda do Green New Deal, jogará fora
Disclosure
mais conhecido por Maneto. “Empresas que o tema da responsabilidade social. Para ele, nesse último ano” , informa. essa oportunidade” , diz.
significa tornar
dependem de inserção no mundo de forma as pessoas perderam a confiança nos gover- No entanto, esse tipo de mensagem atin- A diretora-executiva de Sustentabilidade algo conhecido. Nos
ampla, com acesso a mercado e a capital ex- nos e pressionam as empresas a ocupar esse ge somente um núcleo de empresas de pon- da Suzano, Maria Luiza (Malu) Paiva, tem negócios, se refere
à divulgação, por
terno, precisam desvincular sua imagem da vazio. A dúvida é se a pressão às empresas é ta e internacionalizadas, o topo da pirâmide uma percepção similar. No período recente, a
exemplo, de um
agenda autoritária brasileira, e a melhor for- mais eficaz quando feita por meio de boicote empresarial. A massa das grandes empre- evolução da transparência no ambiente em- risco que pode ser
ma de fazer isso é com mais transparência na e desinvestimento, ou por meio do convenci- sas brasileiras, em boa parte, ainda não está presarial vem se dando no aumento de cons- relevante para o
público
gestão e uma agenda ambiental forte” , diz. mento e do engajamento. instrumentalizada para atender essas exi- ciência dos executivos. Algumas empresas
Na opinião de Maneto, o Brasil já não podia Esse é o tema do estudo que Hart assina em gências. Na avaliação de Waack, a maioria já partem para uma segunda fase, que é a da
se dar ao luxo de virar as costas ao mundo em parceria com Luigi Zingales, da Universidade encontra-se na fase do awareness [tomada mobilização para a mudança. A qualidade do
razão de suas necessidades comerciais, e pode de Chicago, e Eleonora Broccardo, da Univer- de consciência], e umas poucas já estão em conteúdo dos principais mecanismos de
menos ainda agora, com o agravamento da si- sidade de Trento. O desinvestimento em em- busca das instrumentalizações necessárias disclosure – sejam os relatos socioambientais Traduzido
tuação fiscal provocada pela crise econômica e presas não sustentáveis pode, sim, provocar para implementação de modelos de avaliação ou os índices de sustentabilidade – também como “partes
sanitária. Para ele, a saída da crise exigirá um uma redução no preço das ações e forçar o seu de externalidades. “São raras as empre- está em estado de transição: “Os stakehol- interessadas”,
designa as pessoas
esforço de atração de capital cada vez maior e a “esverdeamento”. sas brasileiras que sabem como aplicar, por ders já não aceitam receber somente boas e os grupos mais
polarização nos negócios em nada ajuda. Mas é bem possível que investidores inte- exemplo, um mapa de externalidades”. notícias. Expor vulnerabilidades, erros e fra- importantes e
Ele explica que, de um lado, há uma massa ressados apenas em lucro imediato comprem Assim como há mapas de risco, normal- cassos, e os respectivos aprendizados, é uma estratégicos para o
relacionamento de
de pequenos empresários ressentidos com o essas ações subvalorizadas, anulando even- mente avaliados em comitês de auditoria, necessidade para conquistar e manter a cre- uma empresa, tais
impacto econômico provocado pela pandemia tuais impactos sociais. O mesmo pode acon- esse mapa aponta quais são as externalidades dibilidade junto ao público interessado. Esta como funcionários,
e atribuindo o problema não ao governo fede- tecer com os boicotes dos consumidores. Os na empresa, se positivas ou negativas. Indica não é uma evolução fácil para empresas, mas fornecedores,
clientes,
ral, mas a governadores que não priorizaram produtos boicotados tendem a cair de preço, também as ações para eliminar, reduzir, miti- é cada vez mais necessária” , afirma a execu- investidores etc.
suas necessidades nesse momento difícil; de o que pode atrair uma onda de novos consu- gar ou compensar as negativas e as ações para tiva.
outro, o discurso dos setores mais sofistica- midores interessados apenas em preço baixo. potencializar as positivas. Idealmente, esse
dos e internacionalizados em relação à cen- mapa deve também mostrar como essas ocor- HORA DE RASTREAR A BOIADA
Reflexos tralidade da questão da sustentabilidade, da O BRASIL SEGUE NO JOGO rências podem afetar o valor da empresa. Para a ex-ministra do Meio Ambiente e
negativos ou A BlackRock é
conservação ambiental e das políticas trans- Apesar de avaliar o momento atual como “Esse repertório é muito novo. Imagine senior fellow do Centro Brasileiro de Relações
positivos de uma a maior gestora
parentes, que são compromissos do País com volátil e de grandes incertezas em razão das uma pirâmide empresarial. Faça um corte na Internacionais (Cebri), Izabella Teixeira, uma de investimentos
atividade que
são sentidos o sistema global. “O fim desse ambiente pola- polarizações locais e globais, Roberto Silva metade. A parte de cima já ouviu falar nesses nova conformação de mundo vem ocorrendo do mundo, com
por aqueles que US$ 7 trilhões em
rizado pode levar até uma década para acon- Waack, presidente do conselho do Institu- conceitos e sabe que é algo relevante. Subin- há tempos, embora em alguns países de ma-
pouco ou nada ativos. Em 2019,
tecer. Não vejo perspectiva de curto e médio to Arapyaú e conselheiro da Marfrig, se diz do a barra para o topo, um quinto da pirâmide neira mais pontual. A ativista Greta Thunberg, seu presidente
contribuíram para
gerá-los. No caso prazo e acho que questões de conservação am- otimista em relação à participação do Bra- está efetivamente tentando usá-los. E, ali, só a Encíclica Laudato Si’, a carta da BlackRock, Larry Fink, em sua
de externalidades carta anual aos CEO
biental e de políticas mais transparentes, por sil nos debates internacionais no campo da um décimo está usando de verdade”. O qua- as ameaças dos grandes mercados consumi-
negativas, os globais, convidou
enquanto, estarão apenas na agenda de uma sustentabilidade. “O governo brasileiro está dro parece ruim, mas o otimismo de Waack dores de boicotar o comércio com países não os executivos a
prejuízos impostos
à sociedade não elite do mundo empresarial” , deduz. fora desse debate, mas a sociedade civil e a se baseia justamente neste momento inédi- comprometidos com agendas ESG, a pro- reavaliarem os
são arcados por pressupostos
Compõem essa elite, por exemplo, os três sociedade empresarial estão mais dentro to de muita busca por conscientização e ins- posta de decrescimento econômico da Holan-
aqueles que os básicos de suas
maiores bancos privados do País – Bradesco, do que nunca e continuam pautando grande trumentalização, em um período de pande- da não são fatos isolados, são resultados desse empresas,
provocam, e sim
pagos por todos Itaú Unibanco e Santander – que, em agosto parte desse movimento.” Segundo ele, per- mia com grande restrição de recursos. Esse processo de transformação. Segundo ela, a considerando os
riscos climáticos
passado, propuseram ao governo brasileiro siste uma conexão forte entre a sociedade avanço pode ser parte do aprendizado que a Covid-19 chega escancarando a globalização
e seus impactos
um plano de desenvolvimento sustentável brasileira – civil e empresarial – e o sistema pandemia deixará para a civilização. Waack e tem um efeito catalisador que sinaliza a ur- sobre o mundo
para Amazônia. Segundo Maneto, esse mo- financeiro internacional, tanto no main- acredita que o momento joga luz sobre as de- gência de um novo business as usual. tangível e o sistema
que financia o
Maior produtora vimento foi importante, não apenas pela stream econômico (fundos de investimento) sigualdades, sobre o excesso de coisas inúteis O ritmo das mudanças dependerá das es-
crescimento
global de papel proposta em si, mas porque mostra que fi- quanto na filantropia. Essas atividades só não sendo consumidas, sobre a necessidade de um colhas de cada sociedade. “Estamos vivendo econômico
e de celulose de
eucalipto, além
nalmente os bancos privados decidiram mi- estão mais tão explícitas, talvez para evitar maior equilíbrio das relações humanas com a esse momento de mundo que pode resultar em
de estar entre as grar de um compromisso mais conceitual, eventuais retaliações. Ou seja, de acordo com questão ambiental. E lembra que as projeções uma transição passo a passo, bem articulada e
líderes brasileiras com pouco enraizamento em ações, que são Waack, investimentos voltados à sustenta- do mundo pós-Covid-19 já estão mostrando calibrada, ou pode ser um processo disrupti-
em ações
socioambientais,
os Princípios do Equador. “Após cerca de 20 bilidade, e muito particularmente à trans- que, se é para recuperar a economia global, vo. Eu aposto em um processo mais calibrado e
Sigla em inglês
é também climate anos de aparente contradição entre o dis- parência, continuam fluindo para dentro do que a recuperem mais verde e com mais jus- coordenado, mesmo sabendo que vamos lidar para ambiental,
positive, isto é, curso e a prática, os bancos deram um passo País. “O que os investidores internacionais tiça social. Essa tendência está muito clara e cada vez mais com as incertezas e a volatilida- social e governança
retira da atmosfera (ASG), critérios
mais carbono do
realmente importante.” mais estão pedindo é rastreabilidade. Eles surpreendentemente intensa na Alemanha, de dos fenômenos naturais” , afirma.
aplicáveis às
que sua cadeia de Ao jornal Valor Econômico, o professor de têm interesse na commodity brasileira, mas França, China, e entre os grandes fundos de Considerando a magnitude do impacto decisões de
valor emite Harvard e Prêmio Nobel de Economia (2016), querem saber de onde vem o produto e como investimento globais. “Não posso acreditar econômico provocado pela pandemia, a ex- investimentos
Oliver Hart, afirmou que as empresas não foi produzido. A exigência da transparência que o Brasil, o país mais competitivo para -ministra avalia o momento como uma opor-
16 PÁ G I N A 2 2 O U T U B R O 2 0 2 0 PÁ G I N A 2 2 O U T U B R O 2 0 2 0 17
CAPA
“Não se trata mais de passar a boiada, trata-se esse “pecado” não é exclusivo dos países si-
tuados abaixo da linha do Equador. Moutinho
Amazônia. Segundo ele, os envolvidos em
importação e exportação de commodities Movimento
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REPORTAGEM CULTURA
A
“cultura da transparência” tornou-
-se uma expressão tão ubíqua que é No auge das
queimadas em
fácil perder de vista a dificuldade 2019, o presidente
de cultivá-la. As recentes dificul- Jair Bolsonaro
dades enfrentadas por jornalistas e acusou o Instituto
Nacional de
pesquisadores para obter dados por meio da Pesquisas Espaciais
Lei de Acesso à Informação (LAI), o decreto (Inpe) de mentir
que, em 2019, tentou ampliar o sigilo de do- sobre os dados
obtidos por satélite,
cumentos do governo, e a disputa em torno do episódio que levou
monitoramento da Amazônia reacendem à exoneração do
a antiga preocupação: como garantir que a diretor Ricardo
Galvão
sociedade saiba como está sendo governada?
Instaurar uma cultura da transparência é
um longo processo, em estreita relação com o
avanço da democracia, o combate à corrupção
e a superação da chamada tradição patrimo-
nialista, segundo explicação de Marco Anto-
nio Teixeira, professor de Gestão Pública da
Fundação Getulio Vargas de São Paulo.
O vínculo entre democracia e transparên-
cia é visível: no regime em que a população
é considerada responsável pelo próprio des-
tino, ela deve poder controlar o que fazem
os governantes. Daí se segue o vínculo entre
transparência e corrupção: a vigilância dos
cidadãos dissuade os agentes de usar a coisa
pública em benefício próprio. Já a tradição pa-
trimonialista designa o hábito de não distin-
guir, ou distinguir mal, o que é público do que
é privado; e é considerada um grande obstá-
culo à cultura da transparência no Brasil.
Segundo Teixeira, a transparência é “uma
das reivindicações morais fundamentais nas
sociedades democráticas, em que o direito
do povo de ter acesso às informações é am-
plamente aceito”. Portanto, um traço funda-
mental do espírito republicano é que as de-
20 PÁ G I N A 2 2 O U T U B R O 2 0 2 0 PÁ G I N A 2 2 O U T U B R O 2 0 2 0 21
CULTURA
Grupos que consideram a transparência um estorvo não entenderam que a democracia dá trabalho
cisões tomadas são expostas, não apenas em primeira a obrigar os gestores a deixar dis- po de batalha decisivo no avanço da cultura ção rigorosa de órgãos de transparência ou da
Lançado em
seus resultados, mas também em seus pro- poníveis seus números “praticamente em democrática. Grupos políticos que lidam mal imprensa pode produzir um aumento da per-
2000, o Pacto
cessos. “É uma questão de explicar como se tempo real”. com a democracia sempre se esforçarão por cepção da corrupção, quando o problema, na Global é uma
chegou a esse resultado” , diz. Outras leis importantes se seguiram, esconder dados ou torná-los menos claros, verdade, está diminuindo. chamada das
Nações Unidas
Assim, o princípio da democracia já como a Lei de Transparência, de 2009, que seja ampliando o sigilo de documentos, seja No entanto, observa Aranha, a medida da
para as empresas
aponta para aquilo que hoje se denomina obrigou entidades públicas a esclarecer suas atrasando a atualização do portal da trans- percepção revela traços presentes na própria alinharem suas
accountability, isto é, a capacidade e a obri- despesas e receitas, e a Lei de Acesso à Infor- parência, ou ainda enfraquecendo espaços de sociedade, isto é, características culturais. estratégias e
operações a
gação de prestar contas do que é feito e como mação, de 2011, que forneceu mecanismos participação social, como os conselhos. “Quando a percepção da corrupção é alta,
10 princípios
se faz. A transparência, por sua vez, é indis- para que a população exigisse dados do go- No início de seu mandato como presiden- muitos maus comportamentos são desculpa- universais nas
pensável à accountability: só é possível pres- verno. Em 2015, foi aprovada a Lei nº 13.109, te, Jair Bolsonaro (sem partido) chegou a edi- dos. Alguém que tem a expectativa de que a áreas de Direitos
Humanos, Trabalho,
tar contas se as informações estão acessíveis que define as relações do poder público com tar um decreto-lei extinguindo alguns desses outra pessoa vai ser corrupta se permite ser
Meio Ambiente
e compreensíveis. “Accountability nada mais organizações da sociedade civil. conselhos, mas sua decisão foi revertida pelo corrupta também, dizendo que, se todos fa- e Anticorrupção.
é do que responsabilização. É prestar contas, Nem tudo são avanços, porém: a Consti- Supremo Tribunal Federal. “Essa é a marca zem errado, quem não faz é besta” , explica. “O Possui cerca de 14
mil membros em
justificar, dizer por que uma decisão foi to- tuição prevê a criação de um Conselho de Fi- de grupos que consideram a participação e a que a percepção mede é o grau de tolerância
70 redes locais,
mada ou não” , resume Teixeira. nanças Públicas, que unificaria as informa- transparência um estorvo, que não deixam das pessoas em relação ao fenômeno da cor- que abrangem 160
ções do orçamento público. Segundo Teixeira, governar ou tornam as decisões mais lentas. rupção. Isto tem implicações grandes nas países
AVANÇOS DEMOCRÁTICOS a ausência desse conselho facilita aos gover- São grupos que não entenderam que a demo- práticas das pessoas.”
Os escândalos de corrupção nos últimos nantes mudar métodos e regras, o que leva à cracia dá trabalho” , explica. A alta percepção de corrupção tem um
anos, somados às tentativas de reverter chamada “contabilidade criativa” , pela qual Segundo Daniela Lerda, coordenadora da efeito negativo particularmente insidioso:
avanços presentes na LAI, fortalecem a sen- se busca esconder a irresponsabilidade com o Aliança pelo Clima e Uso da Terra no Bra- ela pode gerar “uma certa apatia política”.
sação de que a opacidade reina no Brasil. Mas dinheiro público. sil, da Fundação Ford, o enfraquecimento “As pessoas se dizem cansadas, consideram
essa má fama deve ser posta em perspectiva, Há várias escalas para a transparência, dos espaços de participação, a partir do ano a corrupção uma fatalidade, contra a qual não
segundo Teixeira. Há países com séculos de para além da disponibilidade das informa- passado, teve um forte efeito sobre a capa- é possível fazer nada. Na sociedade civil, isto
lenta evolução na institucionalidade demo- ções, a dita transparência ativa. É preciso que cidade de pressão da sociedade civil sobre o enfraquece as mobilizações e a capacidade de
crática, que vêm desenvolvendo há gerações elas estejam acessíveis e compreensíveis, e governo. “Ao longo de 12 anos, nós nos acos- reivindicar” , lamenta. “Outro efeito é o mo-
as “práticas de compartilhamento da infor- não simplesmente escondidas no website de tumamos com uma série de mecanismos de ralismo: acreditar que a via de escape da cor-
mação”. Também há países mais opacos que prefeituras, autarquias e ministérios. Em se- intervenção da sociedade nas políticas pú- rupção é mudar o caráter das pessoas.”
o Brasil, em que a participação da sociedade guida, existe a transparência passiva, quando blicas, que têm sido restritos ao máximo, ou Por outro lado, os avanços da lei têm um
nas decisões do governo mal é considerada. uma solicitação de cidadãos é atendida: esta é até mesmo extintos: conselhos para discutir impacto visível sobre traços culturais arrai-
Mas a principal comparação é com a pró- uma das inovações da LAI. alimentação, agricultura familiar, popula- gados. Aranha se refere à Lei Anticorrupção,
pria tradição do País. Os avanços da parti- Mas o conceito não para por aí: uma vez que ções tradicionais” , relata. “O resultado é um de 2014, que mudou a prática dentro de grandes
cipação social e do acesso à informação não a transparência está na raiz da responsabili- constrangimento: sem esses espaços, onde empresas: “Ouço sempre de advogados que o
apenas são um movimento de consolidação zação e da prestação de contas, sobretudo no as organizações podem atuar?” trabalho deles foi completamente transfor-
da democracia. São também processos de poder público, ela também envolve a necessi- Uma cultura opaca ou transparente se re- mado. Eles dizem que jamais se preocuparam
combate e erosão da tradição patrimonialis- dade da participação social. Este é o papel das força por conta própria, como uma bola de com a possibilidade de ser apanhados quando
ta, afirma Teixeira. instituições colegiadas, como o Conselho Na- neve. “É assim que os avanços e retrocessos faziam coisas fora da lei” , relata.
A Constituição de 1988 é um marco de- cional do Meio Ambiente (Conama), o Conse- da transparência se refletem na corrupção” , A própria Lei de Acesso à Informação,
terminante da cultura de transparência no lho Nacional de Saúde (CNS) ou o Conselho Na- explica a cientista política Ana Luiza Aranha, apesar de enfrentar problemas e resistên-
Brasil. “Foi ela que determinou incorporar a cional de Segurança Pública (Conasp) e outros, assessora anticorrupção do Pacto Global, cias, mudou a cultura. “O setor público não
população nas decisões de políticas públicas, além de conselhos estaduais e municipais. dando o exemplo da medida da percepção da tem mais a postura do ‘por que você quer sa-
fornecendo informações” , aponta. O profes- corrupção. Esta é a medida mais comum da ber isso’. A ideia de que a informação tem que
sor assinala que o primeiro campo a avançar DISPUTAS presença de corrupção em um país ou socie- estar disponível é o ponto de partida” , afirma
na transparência, a partir da Constituição, Se a transparência é o ponto de partida dade. Claro que desvios percebidos não cor- Aranha. Teixeira acrescenta que a categoria
foi o dos gastos públicos. O grande marco foi para a presença da sociedade nas decisões respondem perfeitamente aos atos corruptos que mais acessa a LAI não é a dos jornalistas,
a Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2000, a de política pública, diz Teixeira, é um cam- que acontecem de fato, a tal ponto que a atua- mas a dos advogados: em geral, são contra-
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CULTURA
Registro público tados de empresas que perderam licitações, tores do Estado, introduziu mecanismos de
eletrônico nacional, cujo trabalho é esquadrinhar editais e outros participação e transparência, tais como con-
obrigatório para documentos para entrar com recursos. selhos federais, estaduais e municipais de
todos os imóveis
rurais, que integra meio ambiente, comitês de bacia, conselhos
informações TRANSPARÊNCIA AMBIENTAL de Unidade de Conservação. A transparência
ambientais das Antes mesmo da Constituição de 1988, um foi se constituindo em sistemas, cadastros,
propriedades e
posses rurais setor já reivindicava – e obtinha – avanços de obrigações de transparência ativa e passiva”
,
referentes à transparência: o movimento ambientalista. completa o coordenador. Conservação, Terras Indígenas, áreas qui- que legalizaria propriedades irregulares com
situação de Ainda durante a ditadura militar, em 1981, Aos poucos, foram criados diversos me- lombolas, áreas produtivas). Isso favorece até seis módulos fiscais (na Amazônia, cada
áreas protegidas
como Áreas de entrou em vigor o Plano Nacional de Meio canismos de informação no setor ambiental, quem queira invadi-las para, mais tarde, módulo fiscal pode corresponder a até 110
Preservação Ambiente, que continha o projeto de um sis- como o Programa de Cálculo do Desflores- demandar sua regularização. hectares). Essa lei substituiria a Medida Pro-
Permanente e tema de informações ambientais em escala tamento da Amazônia (Prodes), o cadastro É fácil criar um número de CAR, a tal visória 910, que caducou em maio.
Reserva Legal,
compondo nacional, embrião do Sistema Nacional do do Snuc, o Sistema Nacional de Informações ponto que existem cadastros dentro de Ter- Além disso, a fiscalização é insuficiente.
base de dados Meio Ambiente (Sisnama). sobre Recursos Hídricos (Snirh), o Sistema ras Indígenas, onde não deveria ser possí- “Sem uma fiscalização efetiva do governo,
para controle, “Sem ter entrado no processo de redemo- de Registro Nacional de Emissões (Sirene). vel. Em estados como Pará e Mato Grosso, seja na emissão de licenças, seja no controle
monitoramento,
planejamento cratização, o Brasil já tinha um marco legal que, “O Brasil conta com uma legislação robusta levantamentos concluíram que as áreas feito por órgãos públicos, é difícil atribuir res-
ambiental e para a sua época, era muito avançado, reconhe- e com práticas de transparência ambiental reivindicadas somam uma superfície maior ponsabilidades quando algo errado é encon-
econômico e cendo que o Estado tem a obrigação de gerar in- bastante avançadas” , afirma Morgado. do que o próprio território. Os números são trado” , explica. “É preciso um setor público
combate ao
desmatamento formação ambiental e deixá-la disponível” , diz Esses sistemas, à medida em que se tor- fortes indicativos de grilagem. A conivência fortalecido, que possa verificar e punir quem
Renato Morgado, coordenador do Programa de nam públicos, permitem um controle maior de poderes locais, a proximidade com lide- está agindo ilegalmente. Mas justamente os
Integridade Socioambiental da Transparência sobre todo o processo que leva ao desmata- ranças políticas e a dificuldade em obter in- servidores que estão buscando cumprir a lei
Internacional Brasil. Antes da Lei de Acesso à mento e à degradação ambiental. Analisan- formações distribuídas por cartórios onde sofrem sanções de seus superiores” , alerta.
Licença
Informação, que entrou em vigor em 2011, já do o Cadastro Ambiental Rural (CAR), o a digitalização avançou lentamente foram Esse é um dos motivos pelos quais o pro-
obrigatória para
o controle do existia a Lei nº 10.650, de 2003, determinando Documento de Origem Florestal (DOF) grandes facilitadores da grilagem. blema do desmatamento na Amazônia, que
transporte e a acessibilidade das informações ambientais. e outros dados, é possível saber quem é res- O cenário de opacidade e indefinição é um chamou atenção de observadores interna-
armazenamento
Morgado atribui esse avanço do setor ponsável pelo desmate de uma área ou pela incentivo à ocupação ilegal de terras em bio- cionais e pôs o governo brasileiro em conflito
de produtos e
subprodutos ambiental à capacidade de organização e extração ilegal de madeira. A partir dessas mas como a Amazônia e o Cerrado, segundo com financiadores como a Alemanha e a No-
florestais de mobilização de entidades da sociedade civil informações, podem ser tomadas medidas Daniela Lerda, da Fundação Ford. Frequen- ruega, desenrola-se, também, como dispu-
origem nativa. O
dedicadas ao tema. “O setor ambiental com- tanto na esfera pública quanto na privada. temente, o avanço sobre os territórios foi ta em torno da coleta e divulgação de infor-
documento deve
conter informações preendeu desde o início que o avanço rumo à No entanto, ainda há muito caminho a apoiado pelos governos federal e estaduais, mações. O esforço de enfraquecer a atuação
sobre as espécies, sustentabilidade é indissociável da transpa- percorrer. A falta de dados disponíveis e de sobretudo a partir da década de 1950, e refor- do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
tipo do material,
rência e da participação” , afirma. “Consegui- definições legais está na fonte de uma das çado por lobbies em Brasília. (Inpe) na divulgação de dados de desmata-
volume, valor do
carregamento, ram instituir, pouco a pouco, as várias polí- maiores causas do desmatamento no Brasil: Ocupantes das terras têm conforto para mento na Amazônia tem como pano de fundo
placa do veículo, ticas do guarda-chuva ambiental: política de a grilagem, ou seja, a apropriação fraudada especular e desmatar porque repetidas leis de a produção de dúvidas em relação às infor-
origem, destino,
recursos hídricos, de mudança climática, o de terras. Ainda há muitas terras públicas regularização são apresentadas ao Congres- mações disponíveis, afirma Lerda. Ou seja, a
além da rota
detalhada do Snuc [Sistema Nacional de Unidades de Con- com propriedade indefinida (se perten- so e, muitas delas, aprovadas, gerando uma instauração de uma atmosfera mais opaca e,
transporte servação] e assim por diante. cem à União ou aos estados) e sem destina- expectativa de impunidade e anistia. Atual- consequentemente, mais hostil às pressões e
A sociedade civil, em parceria com se- ção definida (se deverão virar Unidades de mente, o governo tenta aprovar a Lei nº 2.633, à participação da sociedade civil.
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REPORTAGEM AMAZÔNIA
Neblina
na floresta
Caixas-pretas na região amazônica levam riscos aos negócios,
ao colocar o Brasil como vilão do desmatamento
U
ma cortina de fumaça tomava conta do amanhecer daquela terça-feira plúmbea de
Estudo do setembro em Manaus, a maior metrópole da Amazônia. O “nevoeiro” indicava mais
Instituto de
Pesquisa Ambiental do que a expansão das queimadas no interior da floresta e os impactos ao clima glo-
da Amazônia e bal, à biodiversidade e saúde respiratória de quem já convive no dia a dia com o drama
da Human Rights da Covid-19. Em 2019, a poluição do fogo causou pelo menos 2,2 mil internações
Watch revela o
custo de R$ 5,6 em toda a região, metade relativa a pessoas com 60 anos ou mais – números que, em meio à
milhões para o imensidão verde, expõem desafios ainda ocultos para a maior parte da sociedade.
sistema de saúde Entre 1º e 8 de setembro de 2020, os focos de calor no Amazonas aumentaram 170% em
devido à fumaça
das queimadas relação ao mesmo período do ano passado, e por trás da nuvem de fumaça há uma Amazô-
nia obscura a ser desvendada. Nela, a riqueza natural convive com a desigualdade social e o
submundo da violência e da ilegalidade: grilagem de terras, conflitos fundiários, tráfico de
drogas, animais e pessoas, desmatamento. Mas a crescente exposição global pela demanda
da mitigação climática joga holofotes na escuridão da floresta. E a necessidade de abrir portas
e janelas para entender e resolver os seus problemas – que na verdade são de todo o planeta –
pode tornar a região fiel sinalizadora do movimento de governos e empresas em torno de um
tema essencial à sustentabilidade: o da transparência.
Uma das principais caixas-pretas da maior floresta tropical do mundo está nos garim-
pos, ou seja, na cadeia do ouro, diamantes e outros minerais – ativo que chama atenção pela
valorização como lastro de reservas cambiais dos países e investimento na paralisia econô-
mica global, devido à Covid-19. Com um alerta: quem compra alianças de casamento ou aplica
em fundos baseados na rentabilidade do que sai dos garimpos da Amazônia tem alta chance
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AMAZÔNIA
A corrida do ouro move engrenagens de corrupção e violência, com fiscalização que chega a ser bizarra
de financiar impactos irreversíveis à floresta, crescimento de conflitos com povos indí- para a garantia do lastro ambiental ao ouro rência ocupa o centro do debate na pecuária –
Dados do Banco
A Associação com morte de rios e danos à saúde e à biodi- genas e tradicionais, em locais de potencial brasileiro. Um levantamento de dados públi- principal vetor de desmatamento e emissões Mundial indicam
Nacional do Ouro
versidade pela poluição do mercúrio, asso- para extração. Nos últimos dez anos, a ANM cos, desenvolvido pela organização, inspirou de gases de efeito estufa. A rastreabilidade que o mundo perde
estima que pelo
ciado a esquemas de contrabando. registrou 656 processos minerários nesses campanha nas redes sociais dirigida a com- da carne requer acesso a dados completos da US$ 15 bilhões por
menos dois terços
ano em impostos
da produção territórios, com tendência de alta. Além dos pradores: “Seus brincos dourados podem ser Guia de Transporte Animal (GTA), inclu- que deixam de ser
brasileira seja
OURO DE TOLO Munduruku, no Pará, os pedidos se concen- tão pesados quanto uma floresta. Consegue sive para controle dos fornecedores indiretos arrecadados devido
ilegal
A corrida do ouro move engrenagens da traram nas terras dos Kaxuyana e dos Kaya- lidar com isso?”, dizia uma das mensagens. dos frigoríficos, ainda desprovidos de con- à exploração ilegal
de madeira
corrupção e violência onde muitas vezes im- pó, ambos também no Pará, e dos Yanomami, A análise revelou os maiores arrecadado- trole seguro (mais na reportagem à pág. 33).
pera a lei da selva, escondida pela realidade em Roraima e no Amazonas, segundo divul- res da Compensação Financeira pela Explo- Há caminhos em testes no mercado. “Mas
difusa do isolamento amazônico. Da origem gado pela Agência Pública. ração de Recursos Minerais (CFEM), as con- a prioridade deve ser o fomento do diálogo e
A mineração
desmatou em 2019 na floresta ao mercado financeiro, indústrias Os garimpeiros de hoje estão longe da cessões de lavras garimpeiras e os impactos transparência, que trazem luz a essa com- Documento
e 2020 mais do que de joias e exportações, o caminho do metal imagem romântica do trabalho manual com econômicos e ambientais. Em 2020, até o fim plexidade” , afirma Isabel Drigo, coordena- obrigatório
a soma dos três está aberto a processos de “lavagem” por bateia e peneira. Eles usam maquinário pe- de julho, foram exportadas 54,9 toneladas de dora de cadeias agropecuárias e florestais do para o trânsito
anos anteriores, interestadual de
com liderança do meio de permissões falsas e outras operações sado, de maior capacidade destrutiva, para minério de ouro (US$ 2,5 bilhões), com cres- Instituto de Manejo e Certificação Florestal gado para abate,
Pará, segundo fraudulentas. “Não há sistema de controle explorar o ouro primário, mais abaixo da su- cimento de 30% em relação a janeiro. e Agrícola (Imaflora). “Sozinhos, os grandes recria, engorda e
dados dos alertas como em outros ativos, e a fiscalização che- perfície, pois acima dela as jazidas já se esgo- frigoríficos não resolverão o problema do reprodução, por
do Deter/Inpe exemplo
ga a ser bizarra, com notas fiscais de papel” , taram. Basta ver a movimentação do porto de NÓ DA MADEIRA desmatamento pela pecuária” , adverte.
afirma Ana Carolina Bragança, procuradora Itaituba (PA), no Rio Tapajós, segundo maior “Ter informação não é suficiente; é pre- No projeto Boi na Linha, a ONG harmo-
da República no Amazonas. “Já na primeira município brasileiro produtor de ouro, atrás ciso utilizá-la” , observa Renato Morgado, nizou protocolos e critérios para monitora-
aquisição nesta cadeia, o ouro ganha aparên- de Paracatu (MG). A cidade do oeste paraense, coordenador do Programa de Integridade mento e auditoria dos compromissos assu-
cia de legalidade” , revela. na Rodovia Transamazônica, é conhecida por Socioambiental da Transparência Interna- midos por frigoríficos de todos os portes que
Faltam dados confiáveis e o resultado, não abrigar a maior revendedora de uma multi- cional Brasil, em recente webinar sobre o se- operam na Amazônia, de modo a não com-
raro, é a exploração em áreas não permitidas, nacional de retroescavadeiras, tratores e ou- tor florestal. Para ele, o uso de dados serve prar de áreas desmatadas. A ideia é promo-
em reservas ambientais e Terras Indígenas, tros equipamentos, em parte financiados por não apenas ao controle e punição, mas como ver engajamento e melhores práticas, dimi-
por exemplo. “Precisamos avançar na ras- bancos públicos e privados. oportunidade de mercado, com a valorização nuindo impactos ambientais e sociais, como
treabilidade do ouro, até porque os problemas “Um movimento novo está ocorrendo na de quem adota padrões sustentáveis. o trabalho análogo à escravidão.
mancham a imagem do mercado minerário região: a confluência de interesses de garim- Com a Constituição Federal de 1988, a Lei O Termo de Ajuste de Conduta (TAC) da
como um todo” , recomenda a procuradora, in- peiros, mineradoras, grandes comerciantes de Acesso à Informação (2011), o Novo Código Carne, firmado em 2009 junto ao MPF, abran-
tegrante do Grupo de Trabalho (GT) Amazônia e agronegócio, que antes mantinham cer- Florestal (2012) e a Política Nacional de Dados ge hoje 89 frigoríficos que compram gado na
Legal do Ministério Público Federal (MPF). ta distância e hoje se sentem empoderados Abertos (2016), o Brasil, segundo Morgado, está Amazônia, entre os 115 existentes na região,
Ela lembra que o cenário atual de pressões pelo discurso do governo federal” , constata bem municiado de marcos legais relacionados sem contar os do Acre. Dos signatários, 55%
comerciais é propício a mudanças vindas do Alfredo de Almeida, pesquisador da Univer- à transparência. “Mas há bases de dados não foram auditados. “Não adianta só assinar um
mercado, em especial por parte de empre- sidade Federal do Amazonas. O projeto Nova integradas ou totalmente disponíveis” , ressal- papel e achar que a crise está resolvida”, com-
sas interessadas em separar o joio do trigo e, Cartografia Social da Amazônia, coordenado va. Um dos problemas mais visíveis consiste pleta a coordenadora, ao lembrar que a pressão
assim, tirar vantagens na competição com a por ele, mapeou a mineração e o garimpo em no controle da madeira nativa: 75% da pro- internacional impacta principalmente o pro-
ilegalidade. Terras Indígenas: a Amazônia é o epicentro, dução de toras do Pará e 44% do Mato Grosso duto exportado, em especial para a Europa, e
Por lei, a atividade requer a Permissão de na esteira da diminuição da fiscalização am- é ilegal, ou seja, é lastreada por autorizações grande parte do desmatamento causado pela
Lavra Garimpeira, conferida pela Agência biental sobre a atividade. “O País não toma irregulares que esquentam o produto obti- pecuária está associada a frigoríficos de me-
Nacional de Mineração (ANM); licenciamento pé do que está acontecendo e hoje a transpa- do de maneira predatória em terras públicas nor porte que fornecem ao mercado interno.
ambiental pelo município, estado ou União, rência é punida como crime por quem tem in- e outras áreas proibidas, segundo o Sistema
dependendo do porte do empreendimento; e teresses contrários”, lamenta o pesquisador. de Monitoramento da Exploração Madeireira NOVO CONSUMIDOR CHINÊS
notas fiscais emitidas pelas Distribuidoras de “O garimpo quer se legalizar, mas não as- (Simex), mantido pelo Instituto do Homem e O que acontece com os gigantes da car-
Títulos e Valores Minerários – representadas sumir a responsabilidade decorrente disso” , Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). ne, no entanto, resvala no mercado em ge-
pelos postos de compra situados nos garim- concorda Sérgio Leitão, diretor-executivo do ral. “Está surgindo um novo consumidor
pos, de onde o ouro segue para o mercado. Instituto Escolhas, que enviou uma propos- RASTREABILIDADE DA CARNE chinês, que vincula cada vez mais a saúde ao
A consequência da falta de controle é o ta à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) A preocupação em desatar nós da transpa- meio ambiente, após a Covid-19” , atesta Fa-
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AMAZÔNIA
O desmatamento afeta toda a economia. As medidas propostas pelos bancos precisam ser de curto prazo
biola Zerbini, diretora regional da Tropical ao Conselho Nacional da Amazônia Legal e dois meses. “Defendemos uma agenda de Es- fundamentado em informação de qualidade.
Forest Alliance (TFA). A organização iniciou criou um grupo consultivo de especialistas tado; uma chamada a ações pelo setor privado De acordo com ele, o futuro da região de-
rodadas de diálogo entre Brasil e China so- para implementá-las – um sinal claro de que com metas, indicadores e resultados concretos pende dessa abertura de caixas-pretas e a
As
A iniciativa bre pecuária sustentável, envolvendo autori- a preocupação saiu da bolha ambientalista e na redução do desmatamento” , destaca Mari- solução é basicamente política. Dessa forma, recomendações
abrange também dades de governo, empresas exportadoras, aterrissou no mundo financeiro. na Grossi, presidente do Conselho Empresarial “o caminho está no envolvimento da socie- vão da retomada
cacau com selo de da fiscalização
origem amazônica bancos financiadores e ONGs. “Estamos no epicentro das cadeias pro- Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável dade pelo poder de voto, já agora nas eleições
à destinação de
e soja beneficiada O objetivo é construir um mapa de rotas dutivas, da fazenda ao garimpo, e no que elas (CEBDS). A organização divulgou comunicado municipais, e pelo sentimento coletivo de 10 milhões de
por Pagamento baseado em acordos, para então se chegar a representam para o futuro dos nossos negó- ao Executivo, Legislativo e Judiciário em que desonra face à destruição da floresta” , com- hectares à proteção
por Serviços e uso sustentável
Ambientais um case (projeto demonstrativo) bilateral em cios”, disse Sérgio Rial, CEO do Santander, em ressalta a preocupação com o impacto da ima- pleta Waack, para quem a pressão comercial,
e concessão de
que rastreabilidade e intensificação produ- recente seminário virtual sobre a iniciativa. gem negativa do Brasil nos negócios, devido às na forma de boicote, pode ser uma armadilha. financiamentos
tiva são temas centrais. “O governo chinês Ele sublinhou: “São cadeias globais estraté- questões socioambientais da Amazônia. “Não sob critérios
socioambientais
tem demonstrado claramente o propósito de gicas e a Amazônia é a grande reguladora de dá para fazer mais do mesmo” , reforça Grossi. NÃO FALTA TECNOLOGIA, MAS AÇÃO
Desde setembro alimentar a população com segurança e crité- possibilidades para o Brasil continuar líder Marcello Brito, presidente da Associação Hoje em dia, não há como esconder pro-
de 2018, o sistema rios de sustentabilidade, e no mínimo separar no agronegócio”. Na visão do executivo, re- Brasileira do Agronegócio, integrante do mo- blemas diante dos avanços na inteligên-
subsidiou a análise o ilegal do legal”
, afirma Zerbini. novar a estrutura de coerção e fiscalização é vimento, vai além: “Somente o protagonismo cia artificial e dos inúmeros pesquisadores
de 70 mil propostas A plataforma
de crédito pelo “Tecnologias existem e com custo viável” , urgente, porque hoje “a possibilidade de ga- do setor privado, pela capacidade de investi- abastecidos por imagens de satélite mundo reúne perfis de
Banco da Amazônia, destaca Carlos Souza, diretor da empresa Ter- nho com ouro, por exemplo, é muito maior do mento, vai tirar a Amazônia do buraco, mas afora – sem falar do poder de replicação das 65 instituições
sendo que metade para emissão
ras, de Belém (PA), voltada a sistemas de ima- que o risco de ser preso”. isso só acontecerá dentro de um processo de redes sociais. “O desafio é muito mais de ação de relatórios de
foi reprovada
por problemas gens de satélite que apoiam bancos na análise Karine Bueno, superintendente executi- transparência que garanta a segurança jurí- do que de informação” , atesta Tasso Azevedo, desmatamento,
socioambientais de riscos para crédito rural sem desmata- va de sustentabilidade do banco, explica que dica”. Entre o legal e o ilegal, diz o empresá- coordenador do MapBiomas. com um total de
600 usuários
mento. A tecnologia está sendo refinada para a transparência se dará por meio de devolu- rio, existe o informal, “que é gigantesco na Barreiras do Cadastro Ambiental Ru- cadastrados,
que produtores rurais obtenham facilmente tivas à sociedade e uso de dados públicos na Amazônia e desfavorece investimentos”. Ele ral (CAR) para acesso a dados de identificação como órgãos de
comprovantes de conformidade ambiental gestão de riscos. No agronegócio, em expan- pergunta: “Quem faz a coisa correta está que- dos proprietários, por exemplo, não impedem controle, governos
e empresas
no telefone celular, e possam abrir portas em são nas operações da empresa, foi construído rendo esconder o quê?”. o poder público e a iniciativa privada de agir.
mercados preocupados com a origem do gado. um sistema de monitoramento 24 horas por Em igual caminho, a Coalizão Brasil Cli- “Não é preciso esperar uma área ser embarga-
Atualmente, segundo Souza, o aumento do satélite. “Com o compromisso público, a res- ma, Florestas e Agricultura, formada por da para reter crédito a quem desmata” , ilustra
desmate se deve mais a fatores especulativos ponsabilidade na execução aumenta” , enfa- mais de 300 representantes do agronegócio, Azevedo, ao lembrar que qualquer um pode fa- Registro público
do que produtivos, com ocupação de novas tiza Bueno, informando que o plano conjunto setor financeiro, sociedade civil e academia, cilmente receber relatórios de imagem de sa- eletrônico nacional,
fronteiras em terras públicas e áreas protegi- dos bancos será pragmático. entregou documento ao governo federal com télite sobre desmatamento, seja onde for. “Há obrigatório para
todos os imóveis
das. Tecnologias ágeis e precisas detectam o Tão logo o anúncio ganhou eco na mídia, seis propostas para a queda rápida do des- um processo político em curso de dificultar rurais, que integra
problema, mas há barreiras culturais, buro- reportagens apontaram que instituições fi- matamento, e uma delas pede “total transpa- esse monitoramento, mas, entre os seis sis- informações
cráticas e administrativas para maior escala nanceiras do Brasil e exterior destinaram R$ rência e eficiência às autorizações de supres- temas existentes no País, o único sem acesso ambientais das
propriedades e
do controle. “Instituições financeiras preci- 235 bilhões à criação e ao abate de gado na Ama- são da vegetação”. aberto é o do Ministério da Defesa” , explica. posses rurais
sam internalizar essas ferramentas, porque o zônia, entre 2016 e abril de 2020, segundo estu- Na Amazônia, há uma peculiaridade mar- Enquanto, há uma década, o Ibama recebia referentes à
controle passará de nicho a obrigação, e será do global do Forests and Finance (F&F). cante: “O paradoxo entre a clareza dos dados 1 mil relatórios por ano baseados em alertas situação de
áreas protegidas
necessário disponibilizar informação segura “O desmatamento da Amazônia afeta toda territoriais sobre ocupação e uso do solo, que dos sistemas de monitoramento, agora são como Áreas de
sobre os compromissos para a sociedade.” a economia e as medidas agora propostas pe- é um movimento inexorável devido às ima- 100 mil, o que representou 2 milhões de hec- Preservação
los bancos precisam ser de curto prazo para gens de satélite, e as obscuras transações que tares de desmatamento, no ano passado. No Permanente e
Reserva Legal
ENGAJAMENTO DOS BANCOS não prevalecer o discurso do Presidente da acontecem na região, impactadas por uma entanto, o dado de quantos efetivamente re- compondo
A transparência sobre a origem do gado República, que já reflete na contínua expan- grande nebulosidade de mentiras e falsas sultaram em medidas práticas de fiscalização base de dados
com desmatamento zero é prioridade na são da grilagem em novas fronteiras” , alerta verdades” , avalia Roberto Silva Waack, presi- só é disponibilizado pelo governo federal via para controle,
monitoramento,
agenda proposta para a Amazônia pelos três Paulo Barreto, pesquisador do Imazon. dente do conselho do Instituto Arapyaú, e in- Lei de Acesso à Informação. planejamento
maiores bancos privados brasileiros – Bra- tegrante de Uma Concertação pela Amazônia. Estudo realizado pelo Imaflora mostrou ambiental e
desco, Itaú e Santander –, diante dos riscos RISCOS À IMAGEM A iniciativa articula mais de 100 lideranças da melhora na abertura de dados em clima, flo- econômico e
combate ao
econômicos da imagem do País como vilão da A iniciativa dos bancos soma-se a outros academia, sociedade civil e iniciativa priva- resta e agricultura entre 2017 e 2020, no Bra- desmatamento
mudança climática. Em setembro, a aliança movimentos empresariais que fizeram périplo da, visando a construção de sinapses entre sil. “De que adianta isso, se na prática houve
entregou um manifesto com dez propostas nos gabinetes do poder em Brasília, nos últimos diferentes pontos de vista e o engajamento redução da fiscalização?” , questiona Leonar-
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AMAZÔNIA
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REPORTAGEM ENGAJAMENTO
Pistas de uma
transformação
POR ANDREA VIALLI FOTO EGOR VIKHREV/UNSPLASH
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ENGAJAMENTO
M
FOTO: EV/UNSPLASH
arcado pela pandemia da Co- se o alimento tem muito sódio” , diz Fábio Col-
vid-19, o ano de 2020 frustrou letti Barbosa, sócio da Gávea Investimentos
tentativas de planejamento por e membro do conselho de grandes empresas,
parte de empresas e organizações. como Natura, Itaú Unibanco e Hering.
Sigla em Entre demissões e home office, Como ex-presidente do Banco Real, de-
inglês para
ambiental, social a preocupação com a sobrevivência ocupou pois adquirido pelo grupo espanhol Santan-
e governança, corações e mentes, especialmente nos meses der, Barbosa teve papel relevante em trazer
critérios aplicáveis mais delicados da quarentena e do isolamento inovações em sustentabilidade para o setor
às decisões de
investimentos social. Ao mesmo tempo, pesquisas diversas bancário – como o Fundo Ethical, de 2001,
captaram o aumento do questionamento, en- primeiro fundo de investimentos com temá-
tre os cidadãos, sobre seu papel no mundo, as tica ESG lançado por um banco privado; e a
relações familiares, suas escolhas de consumo adoção de análise de risco socioambiental na
Índice de
e o impacto da presença humana no planeta. concessão de crédito.
Sustentabilidade
Empresarial, Ainda paira a dúvida se a pandemia trans- Em webinar sobre critérios ESG e risco fi-
carteira de ações formará de fato comportamentos humanos e nanceiro realizado pelo escritório Veirano
criada pela
se isso se refletirá em mudanças sistêmicas Advogados, de São Paulo, Barbosa relembrou
Bovespa, hoje B3,
para direcionar rumo à maior transparência nas informa- casos emblemáticos dos primórdios do ESG no
investimentos ções que chegam aos cidadãos e a padrões Brasil. Primeiramente, o banco começou a res-
para empresas
de produção mais sustentáveis por parte das tringir crédito para empresas que não tinham
comprometidas
com uma gestão companhias. Mas há pistas que apontam para boas práticas, como uma madeireira no Paraná
sustentável uma transformação em curso, seja no campo que estava desmatando a Mata Atlântica além cionar o crédito rural para práticas sustentá- A XP Investimentos, uma das gestoras de
dos investimentos, seja do consumo, seja nas do permitido. No segundo momento, conta o veis no campo. A ideia é tanto reforçar o veto maior visibilidade atualmente, navega nes-
estratégias empresariais. executivo, a ideia era agir de forma mais edu- a produtores em desconformidade ambiental sa direção. Este ano, estruturou sua área de
Disclosure Nos investimentos, este foi o ano em que cativa, ajudando as empresas a se adequarem a quanto premiar aqueles que possuem ou que- sustainable wealth – expressão utilizada pela
significa tornar mais se falou em ESG no País, mesmo o con- novos padrões. “Outro caso foi de uma empresa rem adotar práticas mais sustentáveis. A me- indústria de fundos internacional, e que sig-
algo conhecido. Nos ceito tendo sido lançado oficialmente há mais do Ceará que estava praticando pesca predató- dida deve abranger todo tipo de crédito rural nifica literalmente “riqueza sustentável” –,
negócios, refere-se
à divulgação, por de uma década, com a criação do Índice de Sus- ria do camarão. Em vez de cortar o crédito da (custeio e investimento), um mercado anual lançou seus primeiros três fundos de investi-
exemplo, de um tentabilidade Empresarial ( ISE), em 2005. empresa, o banco financiou a contratação de da ordem de mais de R$ 200 bilhões em mais mentos sustentáveis e pretende alocar R$ 100
risco que pode ser No consumo, uma sondagem da consul- um oceanógrafo que ensinou a empresa a tra- de 2 milhões de operações. milhões em capital-semente para desenvol-
relevante para o
público toria Accenture com 3 mil consumidores em balhar de forma sustentável” , diz Barbosa. O “tsunami” ESG que está varrendo o uni- ver essa indústria no País.
15 países, lançada em maio, mostrou que 64% Com essas práticas, foram surgindo clien- verso dos negócios hoje é resultado não ape- Segundo Marcela Ungaretti, analista ESG
dos entrevistados afirmaram estar mais fo- tes que perceberam que a então chamada res- nas da pandemia, mas de um processo que da XP, o interesse cada vez maior pelos te-
cados na redução do desperdício de alimentos ponsabilidade socioambiental poderia ser já vinha norteando os investidores mundo mas sociais, ambientais e de governança tem
Força-Tarefa e que manterão esse comportamento no pós- um diferencial competitivo na hora de pedir afora, com o assunto em pauta no Fórum Eco- transformado rapidamente a indústria de in-
sobre Divulgações
Financeiras -pandemia. Do total, 45% afirmaram fazer um empréstimo. “Quando uma empresa que nômico de Davos, a TCFD, as iniciativas em- vestimentos no mundo todo e é um indício do
Relacionadas escolhas sustentáveis em suas compras e que produzia madeira certificada no Pará procu- presariais para reduzir emissões e combater que está por vir no Brasil. “A pandemia do co-
ao Clima, na também manterão esse comportamento. rou o banco para fazer negócios, descobrimos a mudança do clima, e as cartas de Larry Fink, ronavírus agiu como um catalisador e vemos
sigla em inglês.
Padrão criado Nas estratégias empresariais, há exem- que havia um nicho a ser explorado” , acres- CEO da BlackRock, aos investidores, respon- razões estruturais pelas quais a participação
pelo Conselho plos vindo tanto de pequenas empresas, cada centa o ex-presidente do Banco Real. sáveis por ditar tendências de mercado, com dos investimentos ESG continuará ganhando
de Estabilidade vez mais atentas às demandas do consumidor Chamado de “banqueiro verde” e “abraça- ênfase na sustentabilidade. A BlackRock é a força no Brasil. Em nossa visão, as empresas
Financeira,
ligado ao G20, por sustentabilidade, quanto de conglome- dor de árvores” , Barbosa e suas equipes acaba- maior gestora de investimentos do mundo, que não se adaptarem a esse novo cenário fi-
para quantificar rados ligados à cadeia da carne bovina, que ram antecipando tendências que chegariam, com US$ 7 trilhões em ativos. carão para trás”, diz a analista.
os riscos e avançaram em compromissos para aumentar enfim, a ser postuladas pelo regulador. No No Brasil, embora várias gestoras de ativos O apetite do mercado por informações
oportunidades
associados à a rastreabilidade de fornecedores indiretos e início de setembro, o Banco Central do Brasil e bancos tenham lançado produtos com viés ESG também pressiona as empresas para
mudança climática dar disclosure dessas informações. anunciou que as instituições financeiras te- ESG em anos anteriores (muitos deles repli- que façam o disclosure dessas informações,
para os negócios. “Estamos vivenciando outro padrão de rão de reportar seus riscos e oportunidades cando a carteira do ISE), o tema estava restrito de modo mais transparente do que o que é
O entendimento da
força-tarefa é de consumo e de comportamento, com a régua associados à mudança climática nos moldes a um nicho. Mas a pressão global movimentou habitualmente relatado nos relatórios de
que as mudanças mais alta. Tenho participado de muitas con- da TCFD, e lançará uma consulta pública o mercado no último ano: muitos fundos per- sustentabilidade das companhias.
do clima ameaçam versas sobre ESG, e vejo entrar no mercado um sobre o tema no ano que vem, com adoção ceberam que já não conseguiam captar recur- O ato de consumir de forma mais sustentá-
a estabilidade do
sistema financeiro investidor que acha relevante tudo isso de que mandatória a partir de 2022. sos no exterior sem a adoção de critérios ESG vel também tende a ser um hábito mais incor-
global estamos falando. A geração atual quer saber O Bacen também propôs a criação de uma e passaram a incluir o tema na agenda (mais porado durante e após a pandemia, como cap-
de onde vem a carne, se causa desmatamento, espécie de cadastro positivo verde para dire- sobre ESG na entrevista à pág. 36). tam diferentes pesquisas de mercado. “Apesar
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ÚLTIMA Intervenções urbanas
Veja através
A pandemia tirou o véu de muita coisa – deu mais visibilidade às desigualdades,
jogou luz sobre o essencial, escancarou o caráter dos governantes. A solidariedade
também ganhou espaço. Um ação articulada chamada Fotos Pró Rio, finalizada em
outubro, arrecadou recursos para comunidades cariocas e também para artistas
e fotógrafos em dificuldade por conta da Covid-19.
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