Você está na página 1de 6

Estrutura do trabalho final

PARTE ORAL
Fale do poema, das impressões que ele te causa, das ideias que te sugere, por que
você o escolheu, como lhe veio a ideia do tema do trabalho, se você já trabalhou esse
tema em outras oportunidades, et al.
PARTE ESCRITA
1. introduzir a questão (tema do trabalho) a ser tratada, informando se ela
Tendo como base o poema “Autopsicografia” de Fernando Pessoa, falarei sobre a
percepção da realidade pelo Baudelaire como um ser artístico, levando em conta a
distorção da realidade dentro da arte. O compararei com o texto da carta I de Rilke e
também ao videoclipe de “Marry the Night” da cantora Lady Gaga.
a) é recorrente em Baudelaire (principalmente em sua obra), em outros períodos
literários, outras literaturas, autores;
b) é relevante e por quê;
A relevância do tema é o estudo de como o subconsciente dos artistas citados tem seu
processo criativo, como ele interpreta de diferentes maneiras a realidade e como a
transforma e a transpõe na arte.
c) já foi estudada por críticos literários, fazendo as referências. (Obs: Isso se
chama fortuna crítica, que é o levantamento dos principais trabalhos em que a
questão foi abordada);

2. anunciar o objetivo do seu trabalho (ex.: analisar o papel da sinestesia na


relação do poeta com a cidade de Paris). (Atenção: um objetivo sempre é
expresso com verbo no infinitivo);
Tenho como objetivo analisar as diferentes interpretações da realidade pelos artistas
citados e compará-las ao arquétipo de “poeta fingidor” apresentado no poema de
Fernando Pessoa.
3. precisar a hipótese que sua análise deseja verificar (ex.: parte-se da hipótese de que
a sinestesia é provocada pelo excesso de estímulo sensorial da experiência urbana);
Parte-se da hipótese que o poeta é um fingidor, disseminada pelo poema
“Autopsicografia” do poeta Fernando Pessoa, em que o poeta relata o fingimento
como uma ferramenta utilizada por poetas para escrever sobre sentimentos que ele,
talvez, não tenha tido ou sentido, criando, a partir daí a teoria do fingimento poético.
4. apresentar a teoria e a crítica literária nas quais você se apoiará para cumprir o seu
objetivo;
5. desenvolver o seu tema de pesquisa (a questão de que você tratará), o que deve ser
feito por meio de uma análise detalhada do poema, dos seus recursos, empregados
nos versos, estrofes, ou seja, como a questão está presente no poema do início ao fim;
No famoso poema “Autopsicografia” de Fernando Pessoa (1932), logo no
primeiro parágrafo temos a presença e o reconhecimento do tão conhecido
“poeta fingidor”, que deu origem a muitos estudos:

“O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”

Em 1964, o autor, teórico e linguista português José Gonçalo Herculano de


Carvalho lançou o estudo intitulado “Sobre a criação poética”, onde analisa o
porquê de poemas e outros escritos carregarem pesos sentimentais. Dentre os
tópicos discutidos por José Gonçalo, cito aqui uma passagem encontrada no
tópico de número 5: “Onde está a poesia?”:

“[A poesia] Não consiste nas palavras que são meros sinais [...] mas na
realidade que significam; - a qual não é todavia a realidade concreta e
objectivamente real, mas a realidade fingida pelo poeta, a que ele agora cria
imaginativa e poeticamente e nos manifesta.”

Ou seja, segundo Pessoa e José Gonçalves, a realidade e sentimentos da


poesia não são reais, ou melhor, são reais dentro de sua própria realidade,
esta que seria uma cópia dramática de uma realidade vivida pelos poetas e
artistas, são sentimentos e realidades fingidas.
Partindo desses conceitos, apresento agora o poema que escolhi para analisar:
“Elevação”, de Charles Baudelaire, traduzido por Ivan Junqueira:
“Por sobre os pantanais, os vales orvalhados,
As montanhas, os bosques, as nuvens, os mares,
Para além do ígneo sol e do éter que há nos ares,
Para além dos confins dos tetos estrelados,

Flutuas, meu espírito, ágil peregrino,


E, como um nadador que nas águas afunda,
Sulcas alegremente a imensidão profunda
Com um lascivo e fluido gozo masculino.

Vai mais, vai mais além do lodo repelente,


Vai te purificar onde o ar se faz mais fino,
E bebe, qual licor translúcido e divino,
O puro fogo que enche o espaço transparente.

Depois do tédio e dos desgostos e das penas


Que gravam com seu peso a vida dolorosa,
Feliz daquele a quem uma asa vigorosa
Pode lançar às várzeas claras e serenas;

Aquele que, ao pensar, qual pássaro veloz,


De manhã rumo aos céus liberto se distende,
Que paira sobre a vida e sem esforço entende
A linguagem da flor e das coisas sem voz!”
Durante todo o poema, Baudelaire faz alusão ao poeta e a arte de ser um
poeta, quase chegando ao ponto de endeusa-lo. Mas o interessante do poema
que se conecta com o estudo e poema trazidos acima é o modo como
Baudelaire explicita a viagem da alma artística que vai além da realidade
mundana e material. Na primeira e segunda estrofe:
“Por sobre os pantanais, os vales orvalhados,
As montanhas, os bosques, as nuvens, os mares,
Para além do ígneo sol e do éter que há nos ares,
Para além dos confins dos tetos estrelados,
Flutuas, meu espírito, ágil peregrino,
E, como um nadador que nas águas afunda,
Sulcas alegremente a imensidão profunda
Com um lascivo e fluido gozo masculino.”
Aqui o autor nos mostra os caminhos percorridos por sua alma. Ela anda acima
das coisas materiais e terrestres. Ele mostra como a alma artística vê além do
que vemos no cotidiano real e como isso é prazeroso ao poeta. Mesmo que no
início possa parecer sufocante, como em “Como um nadador nas águas
afunda”, desse sufoco, o espírito artístico e poético luta para filtrar todo aquele
mal e transformá-lo em arte: “Sulcas alegremente a imensidão profunda”. Já
nas últimas três estrofes vemos um pouco mais sobre a criação poética, de
onde vem a poesia:
“Vai mais, vai mais além do lodo repelente,
Vai te purificar onde o ar se faz mais fino,
E bebe, qual licor translúcido e divino,
O puro fogo que enche o espaço transparente
Depois do tédio e dos desgostos e das penas
Que gravam com seu peso a vida dolorosa,
Feliz daquele a quem uma asa vigorosa
Pode lançar às várzeas claras e serenas;
Aquele que, ao pensar, qual pássaro veloz,
De manhã rumo aos céus liberto se distende,
Que paira sobre a vida e sem esforço entende
A linguagem da flor e das coisas sem voz!”
O autor fala sobre a visão artística. Que, apesar do tédio e dos desgostos e das
penas, feliz é o poeta que vê a beleza em tudo isso, que transcendo além da
tristeza e da pobreza artística que é a realidade, e a escreve de forma a
viajarmos dentro daquela nova realidade criada dentro do poema e que vai
além das palavras.
Após essa pequena análise do poema de Baudelaire em que ele fala sobre a
visão artística e sobre a transformação da realidade em beleza, apresento
agora o prelúdio escrito por Lady Gaga (nome artístico de Stefani Joanne
Angelina Germanotta) para o produto audiovisual de sua música “Marry the
Night” (2011). No produto audiovisual, Lady Gaga narra o trajeto de sua vida
desde que quebra um contrato com uma gravadora, tem um surto psicótico, se
destrói e começa novamente, até o momento em que assina com uma nova
gravadora. Intitulado “Prélude Pathétique”, ela nos conta como vê os momentos
passados de sua vida até chegar naquele exato momento:

“When I look back on my life


It's not that I don't want to see things exactly as they happened
It's just that I prefer to remember them in an artistic way

And truthfully, the lie of it all is much more honest


Because I invented it
Clinical psychology tells us, arguably, that trauma is the ultimate killer
Memories are not recycled like atoms and particles in quantum physics
They can be lost forever

It's sort of like my past is an unfinished painting


And as the artist of that painting
I must fill in all the ugly holes
And make it beautiful again

It's not that I've been dishonest


It's just that I loathe reality
For example, those nurses
They're wearing next season Calvin Klein
And so am I

And the shoes, custom Giuseppe Zanotti


I tipped their gauze caps to the side like parisian berets
Because I think it's romantic
And I also believe that mint will be very big in fashion next spring

Check out this nurse on the right


She's got a great ass

Bam

The truth is, back then at the clinic


They only wore those funny hats to keep the blood out of their hair
And that girl on the left
She ordered gummy bears and a knife a couple of hours ago
They only gave her the gummy bears
I'd wished they'd only given me the gummy bears”

Durante todo o prelúdio, Lady Gaga fala sobre a visão artística de um momento
passado. Assim como os poetas citados acima, ela é uma artista que finge, que reproduz
uma realidade em sua arte que não é exatamente a mesma que viveu. Assim como
Baudelaire em seu poema “Elevação”, Lady Gaga eleva seu espírito artístico-poético
acima dos reais acontecimentos. Temos em seu prelúdio, o que o linguísta José
Gongalves diz sobre a criação poética: “When I look back on my life/It's not that I don't
want to see things exactly as they happened/It's just that I prefer to remember them in
an artistic way”.

Ainda dentro do prelúdio, Lady Gaga fala sobre o fingimetno poético ao olhar para trás
em sua vida: “It's sort of like my past is an unfinished painting/And as the artist of that
painting/I must fill in all the ugly holes/And make it beautiful again”.

Para fechar as comparações, apresento agora um trecho da primeira carta presente no


livro “Cartas a um jovem poeta”, que é um livro composto por um compilado de dez
cartas trocadas entre Rainer Maria Rilke e um aspirante a poeta chamado Franz Xaver
Kappus, em que fala justamente sobre o fingimento:

“[;;;] Caso seu cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele, reclame de si mesmo, diga
para si mesmo que não é poeta bastante para evocar suas riquezas; pois para o criador
não há nenhuma pobreza e nenhum ambiente pobre, insignificante. Mesmo que
estivesse em uma prisão, cujos muros não permitissem que nenhum dos ruídos do
mundo chegasse a seus ouvidos, o senhor não teria sempre a sua infância, essa riqueza
preciosa, régia, esse tesouro das recordações? Volte para ela a atenção. Procure trazer à
tona as sensações submersas desse passado tão vasto; sua personalidade ganhará
firmeza, sua solidão se ampliará e se tornará uma habitação a meia-luz, da qual passa
longe o burburinho dos outros.”

Todos os artistas citados aqui utilizaram-se da dica de Rilke, mesmo que não tenham
lido sua carta. Viram a riqueza, a poesia, a arte na pobreza da realidade, e as replicaram
em seus escritos como uma realidade alternativa.

E em todas as artes, da música ao teatro, à poesia, ao romance, às artes circenses, a


realidade não é uma cópia e sim uma nova realidade adaptada para aquele momento.
Arte que tenta replicar exatamente o que vivemos diariamente não poderia nem se
encaixar em arte, é, simplesmente, a vida usual. E esse é o grande ponto que a arte toca,
o que vemos, ouvimos, lemos, sentimos, não é a realidade, é uma outra versão dela.
Uma realidade que temos acesso brevemente, por minutos apenas, e por isso sentimos
ao consumirmos arte. Ela vai além da vida. Ela cria outra vida e nos deixa famintos para
sentirmos aquela outra vida que não é a nossa.

6. mostrar como a leitura do poema, aliada à teoria e à crítica que você usou, permitiu
verificar sua hipótese;
7. concluir ou fazer considerações finais (uma possibilidade interessante também é não
fechar a conclusão tão categoricamente, deixá-la em aberto, mas também não é
regra).
8. fazer as referências bibliográficas.
BAUDELAIRE, Charles. "Elévation". In:_____. As flores do mal. Trad. de Ivan
Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
PESSOA, Fernando. Poesias. 15ª ed. Lisboa: Ática, 1942.
PRÉLUDE Pathétique (Marry the Night Intro). Letras, 2011. Disponível em:
>https://www.letras.mus.br/lady-gaga/prelude-pathetique-marry-the-night-intro/<
Acesso em: 1 dez. 2020.
GAGA, Lady. Marry the Night. Youtube, 2011. Disponível em: >
https://www.youtube.com/watch?v=cggNqDAtJYU< Acesso em: 1 dez. 2020.
CARVALHO, José Gonçalo Herculano de. Crítica filológica e compreensão poética.
Rio de Janeiro: MEC – Departamento de Assuntos Culturais. –– (1984 [1964]). «Sobre
a criação poética». In Estudos Linguísticos. Coimbra: Coimbra Editora (II, 169-190).

Você também pode gostar