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Resumo
Este trabalho procura contextualizar as monografias de pós-graduação no âmbito
da pesquisa científica, ou seja, como se obter um resultado significativo na
pesquisa tendo em vista que os prazos tanto no âmbito nacional como internacional
têm estado ao redor de 24 meses no total. O trabalho fornece informações e
subsídios para que o pesquisador possa juntamente com o seu orientador,
estabelecer limites para a abrangência e a viabilidade da pesquisa.
Abstract
This work seeks to contextualize the post-graduation works within the scope of
scientific research, that is, how to obtain a significant result in the research
considering that both national and international deadlines have been around 24
months in total. The paper provides information and support so that the researcher
can, together with his advisor, set limits to the scope and feasibility of the research.
Pensar de forma cientifica para uma pessoa que vive no século XXI e que possua
um mínimo de escolaridade não é uma tarefa difícil de executar, nem tampouco de
se compreender. As pessoas foram acostumadas a isto, desde as primeiras lições
de alfabetização, quando disseram a elas que 1 + 1 é igual a 2, ou seja, um número
inteiro, somado a outro número inteiro, resulta em outro número inteiro. Da mesma
forma quando se busca explicações acerca de algo que não nos é compreensível,
busca-se de fato a veracidade por trás dos fatos; assim, pode se dizer que alguém,
ao pensar de forma cientifica, é porque não está satisfeita com explicações poucos
convincentes, e mesmo que elas sejam dadas, as pessoas certamente
desconfiarão da resposta, permanecendo, assim, com a dúvida. Neste ponto,
importante se tocar em um termo e em um conceito-chave para o pensamento
científico, que é a “dúvida”; ou seja, o pensamento científico admite a dúvida. Ao
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admitir a dúvida, ele admite a ausência de resposta para uma determinada questão
e este fato ao mesmo tempo em que é frustrante, é tremendamente instigante, pois
desafia, move, questiona, impulsiona. Muitos filósofos, cientistas e pensadores
viveram este momento, uns tiveram a oportunidade de encontrar as respostas que
procuravam, outros faleceram buscando estas verdades, como o físico Albert
Einstein2, por exemplo, que por 30 anos buscou a Teoria do Campo Unificado e
faleceu sem encontrá-la.
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São três os desafios dos candidatos que postulam realizar pesquisas de pós-
graduação na categoria Mestrado Profissional:
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programa de Doutorado: estes estão corretos. Para se entender com clareza qual
é a essência de uma ou de outra modalidade, é necessário inicialmente traçar os
limites entre uma coisa e outra.
Fronteira do conhecimento
MESTRADO
Figura 1 – A fronteira deve ser tocada nos programas de Mestrado. Fonte: o autor.
Por outro lado, em um mundo onde o conhecimento pode duplicar a cada dois anos
e isso significa que as fronteiras podem se alastrar sobremaneira, o ato de tocar a
fronteira do conhecimento em uma dada área torna-se uma tarefa cada vez mais
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Alastrar a Fronteira do
conhecimento
DOUTORADO
Figura 2 – A fronteira deve ser expandida nos programas de Doutorado. Fonte: o autor.
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Profundidade
da pesquisa
Profundidade
da pesquisa
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• Recorte temático;
• Recorte geográfico e;
• Recorte temporal.
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foi resolvido ou pode ser resolvido reduz o impacto da pesquisa. Neste caso uma
sugestão de recorte geográfico seria utilizar como estudo de caso uma dada
empresa “A”, e que não seja identificada diretamente, tendo em vista potenciais
questões de sigilo envolvidas.
Existe um fato muito presente na mente do candidato que está postulado uma pós-
graduação, quer no mestrado ou quer no doutorado, de que a pesquisa necessita
ser absolutamente inovadora para si mesmo e que só assim ela alcançará o
sucesso necessário. Embutido neste conceito, existe um outro conceito subjacente,
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CONHEÇE E
TRABALHA
CONHECE E
NÃO TRABALHA
NÃO CONHECE, E
NÃO TRABALHA
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contribuição para si sem que tenha investido em demasia pois os custos com o
funcionário pesquisador já estão cobertos pelo contrato funcional.
Uma segunda condição, ainda favorável, porem não tão favorável, é que a pesquisa
seja realizada em uma área que o candidato conhece porem não trabalha
cotidianamente. Nesta situação, o candidato não terá tanta facilidade para a
obtenção dos dados, porém a área de estudo não é absolutamente nova, ou seja,
o candidato não parte do zero em termos de conhecimento do assunto.
Uma vez definido o recorte do objeto, tanto do ponto de vista temático, quanto do
ponto de vista geográfico e temporal, a pesquisa ganha limites e passa a possuir
condições de ser realizada. Entretanto, a definição do recorte não garante que a
pesquisa seja realizada com objetividade, pois um mesmo objeto pode ser
visualizado de diversos pontos de vista ou ênfases diversas. Desta forma torna-se
necessário optar por uma ênfase principal e específica mantendo os demais pontos
de vista. A existência e definição de uma ênfase principal não anula a presença das
ênfases secundárias no desenvolvimento da pesquisa, mas apenas separa o mais
importante do menos importante e o que é essencial e o que é não essencial. As
ênfases secundárias são como satélites ao redor da ênfase principal. Elas estão ali
para mostrar que a ênfase principal está contextualizada e que outras questões,
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ÊNFASE PRINCIPAL
A não determinação de uma ênfase principal faz com que nenhum ponto de vista
seja escolhido a priori e deixará certamente a dissertação de mestrado ou a tese
de doutorado sem um rumo claro e sem a determinação do que é essencial e do
que é satélite. A escolha da ênfase e a sua caracterização devem estar presentes
no título, no resumo, na introdução e ao longo de todo o trabalho científico. Ela
também atuará como uma linha condutora de raciocínio claro para os avaliadores
que, durante o processo de leitura, a terão em mente e caminharão sobre ela. A
determinação da ênfase principal e das ênfases secundárias é a última etapa do
recorte do objeto do trabalho científico.
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Por exemplo, uma pesquisa cujo recorte do objeto seja: “O impacto do lançamento
de resíduos sólidos residenciais na represa do Guarapiranga entre 2000 e 2003”,
possui um recorte temático claro, que é a questão dos resíduos. Possui um recorte
geográfico definido que é a represa do Guarapiranga na Região Metropolitana de
São Paulo e possui um recorte temporal definido, que é o período entre os anos de
2000 e 2003. Entretanto, apesar dos recortes estarem claramente definidos, este
mesmo objeto e esta mesma questão podem ser encaradas, descritas e
pesquisadas a partir de diversas ênfases:
A problemática que se coloca aqui é qual delas será a ênfase principal adotada pela
pesquisa e esta é uma decisão a ser tomada pelo aluno pesquisador e pelo seu
orientador. Se todas as ênfases forem escolhidas em igualdade de condições, a
pesquisa ficará ampla demais, pois diversos serão os aspectos a serem
pesquisados. Por outro lado, não é possível analisar uma destas ênfases sem
mencionar as demais, pois os problemas se relacionam e se entrelaçam, mormente
quando se analisa uma questão sob o viés da interdisciplinaridade. A solução para
este impasse é definir uma das ênfases acima citadas como sendo a principal,
e tratar as demais como secundárias. Desta forma, todas as questões serão
abordadas, porém com pesos diferenciados, e, para o leitor, o texto científico
produto desta pesquisa estará mais claro, pois possuirá a precisão adequada para
a sua compreensão (ver figura 6 a seguir).
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ÊNFASE PRINCIPAL
Figura 6 – Uma ênfase secundária se torna principal e as demais permanecem secundárias Fonte:
o autor.
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No início da pesquisa, a condição mais corriqueira, ou seja, aquela que ocorre com
mais frequência na relação orientador-orientando é a de que o orientador possua,
na área de recorte da pesquisa, mais conhecimento do que o orientando. Esta
condição é perfeitamente compreensível, uma vez que o orientando ainda não
iniciou a sua pesquisa; ainda não se debruçou sobre uma vasta gama de dados
secundários; ainda não produziu as suas próprias reflexões a respeito do tema e
ainda não elaborou análises mais elaboradas que levem a conclusões mais
contundentes. Ora, neste cenário, é muito razoável que o orientador possua um
pouco mais de conhecimento que o orientando na área pois ele, minimamente já
percorreu uma vasta gama de dados secundários que o orientando ainda irá
percorre. No entanto, com o desenvolvimento da pesquisa, é muito natural que o
orientando vá adquirindo mais conhecimento que o orientador e ao término desta,
o orientando deve possuir mais conhecimento do que o orientador. Vale ressaltar
que, na temática de pesquisa escolhida pelo orientando, este deve possuir mais
conhecimento do que qualquer membro da banca pois quem desenvolveu a
pesquisa foi o orientando e não os demais (ver figura 7 a seguir).
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mais dela do que eu? O ideal é que este questionamento surja antes da banca de
qualificação para que novos rumos sejam tomados.
ORIENTADOR ORIENTANDO
Inicio da pesquisa
ORIENTADOR ORIENTANDO
Meio da pesquisa
ORIENTADOR ORIENTANDO
Término da pesquisa
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9. Considerações finais
Uma questão ainda necessita ser discutida e diz respeito à escolha do objeto da
pesquisa. Será ela do candidato ou do programa para o qual ele está postulando?
Esta discussão já permeou muitas rodas de conversa científica e debates
inflamados. Aqueles que defendem que o candidato deve escolher a sua temática
argumentam que se não for assim a academia perderá a chance de obter novas
ideias e proposições uma vez que ficará fechada em si mesma e olhando somente
“intramuros” e não “extramuros”. Eles têm razão na sua argumentação porque não
é raro observar a quantidade de novas ideias, novas abordagens, novos processos
e metodologias que chegam aos programas de pós-graduação no Brasil e no
mundo. Muitas provenientes de experiências anteriores dos candidatos,
desenvolvidas durante a graduação ou a iniciação cientifica e que precisam ter
continuidade e ninguém melhor para dar esta continuidade do que quem já está no
processo, ou seja, o próprio candidato. Não aceitar novas proposições é muita
presunção de um programa e certamente este programa perderá excelentes
oportunidades.
Por outro lado, há aqueles que defendem que somente o programa de pós-
graduação, quer para mestrado ou, quer para doutorado, deve fornecer aos
candidatos as linhas e as possibilidades de pesquisa existentes, todas elas
provenientes e advindas dos grupos de pesquisa já existentes. Aqueles que
defendem esta ideia argumentam que o programa precisa se fortalecer em
determinadas áreas e precisa ser conhecido por isso criando especificidades e
identidade própria. Eles têm razão na sua argumentação, mormente em programas
mais jovens que necessitam desta identidade para se fortalecerem e para serem
reconhecidos no mercado profissional.
Acredita-se fortemente que as duas posturas estão corretas e não são excludentes
entre si. É importante que um programa esteja aberto para novas proposições
advindas de outros repertórios científicos que não pré-existiam no programa. Isto
mantem um programa vivo e sensível a determinadas demandas do mercado. Por
outro lado, é importante que o programa possua temáticas do seu interesse e ainda
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1
Marcelo de Andrade Roméro é Arquiteto e Urbanista. Possui Mestrado nas áreas
de ambiente versus Comportamento, Doutorado na área de Energia, quatro pós-
doutorados nas áreas de Psicologia Ambiental, Arquitetura e Resiliência Urbana e
possui Pós-Graduação em Filosofia e Ensino de Filosofia. Orientou 390 alunos de
pós-graduação (09/2019).
2
Até sua morte em 1955, Einstein procurou por uma formulação geométrica que
não só explicasse os fenômenos eletromagnéticos, mas também os unificasse com
a gravitação. Uma teoria unificada da gravitação e do eletromagnetismo trata
fenômenos gravitacionais e eletromagnéticos como manifestação de uma única
força, ou mais precisamente, de um único campo, o campo unificado. A cada força
está associado um campo. Se colocarmos um prego perto de um ímã, sentimos a
presença do campo magnético criado. Campo é uma manifestação espacial da
presença de uma certa fonte. A ideia de unificação é fundamental em física.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/10/26/mais!/42.html
(Acesso em 19-09-19)
3
RONAN, Colin. A. A História Ilustrada da Ciência. Universidade de Cambridge,
Volume I – Das origens a Grécia. São Paulo, Círculo do Livro, 1987, pág.69.
4
The Estate of R. Buckminster Fuller. Hailed as "one of the greatest minds of our
times," R. Buckminster Fuller was renowned for his comprehensive perspective on
the world's problems. For more than five decades, he developed pioneering
solutions that reflected his commitment to the potential of innovative design to create
technology that does "more with less" and thereby improves human lives. Disponível
em: https://www.bfi.org/about-fuller/biography (Acesso em 11-09-19).
5
SCHILLING, David Russell. “Knowledge doubling every 12 months, soon to be
every 12 hours”. In: Industry tap into news, April, 19th, 2013. Disponível em:
http://www.industrytap.com/knowledge-doubling-every-12-months-soon-to-be-
every-12-hours/3950 (Acesso em 11-09-2019).
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6
IMPRENSA NACIONAL – DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. PORTARIA Nº 131, DE
28 DE JUNHO DE 2017. Disponível em: http://www.in.gov.br/materia/-
/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/19150989/do1-2017-06-30-portaria-n-
131-de-28-de-junho-de-2017-19150907 (Acesso em 20/09/2019.
7
FUNDAÇÃO CAPES.Mestrado Profissional: o que é? Portal do Governo
Brasileiro. Disponível em: http://capes.gov.br/avaliacao. (Acesso em 11-09-2019).
8
BRASIL – Diário Oficial da União. Portaria 389 de 23 de março de 2017.
9
O Erasmus Mundus é um programa de cooperação internacional e financiado pela
Comissão Europeia, que permite a mobilidade de alunos que estejam no ensino
superior. Graças a bolsas de estudo, estudantes e pesquisadores de todo o mundo
podem realizar um intercâmbio ou mesmo ter sua formação completa em algumas
das melhores universidades europeias. De 2004 até hoje, além do intercâmbio
entre alunos, várias instituições de ensino superior – inclusive as ‘tops’ do Brasil
como USP, Unesp, UFRJ, dentre outras – realizaram convênios com centros de
ensino da Alemanha, Bélgica, Itália, França, Espanha, e demais países membros.
Mas não é só: assim como os brasileiros têm a chance de estudar na Europa,
alunos europeus também já vieram ao Brasil passar uma temporada em nossas
universidades graças às bolsas Erasmus. Em 2014, o programa completou dez
anos de existência e passou a ser chamado de Erasmus+. Essa mudança está
atrelada a uma significativa expansão, que unificou diversos tipos de financiamento
em um só projeto. Com um orçamento de quase 15 bilhões de euros, a ideia vai
muito além da ampliação do número de bolsistas: o projeto é arrojado, e seu
principal objetivo é promover uma mudança socioeconômica na sociedade
europeia – e, por consequência, em todos os países participantes –, graças a um
forte investimento em educação. Disponível em:
https://www.estudarfora.org.br/bolsas-erasmus-mundus-levam-voce-para-a-
europa/
(Acesso em 19-09-2019).
10
ROMERO, Marcelo de A.; PHILIPPI, Arlindo. “Metodologia do Trabalho
Científico em Gestão Ambiental”. In: ROMERO, Marcelo de A.; PHILIPPI, Arlindo;
BRUNA, Gilda C. Curso de Gestão Ambiental. Manole, São Paulo, 2014. 2ª.
Edição, págs 1215 a 1228.
11
ECO, Humberto. Como se faz uma tese. São Paulo, Perspectiva, 1977, 2ª.
edição, pág. 07.
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