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XX Encontro Anual de Iniciação Científica – EAIC

X Encontro de Pesquisa - EPUEPG

QUANDO ANALISAVA O VELHO BRAGA...

Rafaela Godoi Bueno Gimenes (PIBIC/CNPq-UEL), Luiz Carlos Santos


Simon (Orientador), e-mail: rgimenes@live.com.

Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Letras Vernáculas e


Clássicas, Londrina, PR.

Área: 8.02.00.00-1. Sub-área: 8.02.06.00-0.

Palavras-chave: crônica, Rubem Braga, público.

Resumo:

Este estudo tem como objetivo demonstrar o que foi abordado em um


projeto de iniciação científica cujo foco concentrava-se em análise de
crônicas de Rubem Braga partindo do princípio de que, além das já citadas
temáticas da crônica, o escritor também faria uso de seu próprio público, de
seus ouvintes, de amigos e leitores, para a produção literária. A fim de
construir a crônica, Braga abrigaria outra pessoa, o “outro”, para dar
continuidade ao texto. Este fará, muitas vezes, com que o eu de Braga
adentre em assuntos íntimos, sendo a inspiração da crônica, já que toda ela
será desenvolvida a partir dos questionamentos ou do desconsolo de
outrem.

Introdução

Nenhum título pode expressar tanto quanto o que está no topo destas
páginas. Rubem Braga esteve presente há mais de seis anos como um
predileto; analisá-lo era impensável para a garota de quinze anos que se
divertia colecionando primeiras edições do cronista capixaba. Foi quando,
por obra de algo que pode ser Deus, destino ou acaso, conheceu, aos
dezenove anos, o homem que, mal sabia ela, seria seu futuro orientador – o
professor que abriu caminhos e a porta que dela se escondia.
Este é o resumo expandido de alguém que já participava do mundo
de Braga, mas que o mantinha inatingível, não por medo ou incapacidade
intelectual; ela só não imaginava que o escritor da cabeceira de sua
adolescência poderia ser estudado e analisado com a mesma importância
dos clássicos de Machado ou Guimarães Rosa. Trata-se, em poucas
palavras e sem falsa poesia, do futuro de uma garota que transformou o que

Anais do XX EAIC – 20 a 22 de outubro de 2011, UEPG, Ponta Grossa –PR.


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nem achava que poderia ser sonho em realidade.


Quando analisava o velho Braga, o eu do cronista, a intimidade ou as
mulheres que surgiam, pediu ajuda, muitas vezes, a quem já não poderia
ajudá-la, ao urso que morreu no mesmo ano em que ela havia nascido: a
benção para a análise, para as divagações incertas. Nesta introdução,
poderíamos informar sobre todo o trabalho realizado, sobre a visita à
Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, e o acervo, os
manuscritos de Rubem Braga. Ao contrário disso, introduzimos com
algumas supostas irrelevâncias e fatos pequenos de uma vida que a todos
pouco importaria, embora seja necessário dizer que Rubem Braga esteve
presente nas descobertas, nos caminhos estreitos das análises por demais
concretas.
A garota analisou, é verdade, alguns pontos que cria significativos:
pesquisou a forma como outras pessoas podiam motivar o assunto de toda
uma crônica (como é o caso de “Aproveite sua paixão”, “Acontece que Deus
é grande”, “A moça chamada Pierina”, entre outras); depois, mesmo
sabendo que o foco da IC era outro, enveredou-se no caminho das
mulheres nomeadas nas crônicas de Rubem Braga, como Joana e Pierina –
estudando os relacionamentos, a intimidade e o caráter que tornava tudo
isso público: as crônicas expunham!
Agora, já totalmente convencida de que o caminho destinado a ela é
o das mulheres e o do amor; iniciou outro estudo: a transitoriedade do amor.
São pesquisas que não podem ser concluídas, nem deveriam ser; são
estudos científicos pautados em muito afeto e dedicação ao cronista.

Revisão de literatura

No que diz respeito ao embasamento literário, procuramos, com freqüência,


as crônicas de Rubem Braga publicadas em livros, pois são de fácil acesso
para todos aqueles que futuramente quiserem lê-las. Tivemos a
oportunidades, vale notar, de obter alguns manuscritos de Rubem Braga
que estão em acervo na Fundação Casa de Rui Barbosa; tais textos,
retirados diretamente de jornais e revistas, colaborarão para a manutenção
da pesquisa.
Já em relação à teoria e ao que serviu como fonte de críticas e
perspectivas, há livros que abordam tanto o que é do âmbito privado como
também do público; entram nesta listagem, autores como: Giddens,
Habermas, Adorno, Sennett e Sibilia. Como críticos, ensaístas e
historiadores literários, escolhemos basicamente: Antonio Candido, Afrânio
Coutinho, Massaud Moisés e Davi Arrigucci Jr..

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Resultados e Conclusões

No que concerne à pesquisa realizada na IC, o papel do outro, de outra


pessoa como motriz para a revelação de aspectos íntimos do eu do cronista,
percebemos que o “outro” poderia ser tanto um amigo pedindo conselhos
sobre sua paixão inviável quanto uma senhora culta contando suas
insatisfações na vida; vale lembrar que todas as crônicas, cuja presença do
outro é constatada, são desenvolvidas tendo como base os
questionamentos ou o desconsolo de outrem.
Como resultado dessa pesquisa, podemos afirmar que o leitor, os
amigos, as enamoradas, imaginários ou não, possuem certa influência na
produção literária de Rubem Braga. Assim como o fato miúdo de um jornal
pode dar voz a uma crônica como “Flor de maio”, determinadas pessoas,
sempre reservadas ao anonimato da amizade ou da correspondência,
conseguem inspirar a criação de uma crônica; como exemplo, além das já
citadas na Introdução, temos ainda: “Faço questão do córrego”, do livro As
boas coisas da vida, “A moça do carnaval”, “‘Enquête’ pelo telefone”,
“Confissões de um embaixador”, “Receita para mal de amor” e “Amor e
outros males”, de A traição das elegantes; estas crônicas são um exemplo
de como o cronista pode se utilizar de um leitor ou jornalista para produzir
sua crônica.
Entretanto, é relevante observar que diferentemente da crônica em
que o escritor simplesmente cita uma pessoa ou outra, nos textos acima, é o
outro quem estabelece o primeiro contato com o eu, ou reclamando de uma
crônica ou pedindo conselhos. Lembramos também que as crônicas
analisadas tinham, além desse caráter, mais um: o outro, integrante da
crônica, deveria abordar fatos relacionados aos aspectos da intimidade,
como problemas pessoais, de amor ou não. Resultou dessa pesquisa
diversas indagações e preocupações e um fascínio pelos sentimentos
amorosos expostos nesses textos. Consta como resultado, de certo modo, a
percepção de que a publicação, diária ou semanal dessas crônicas em
revistas e jornais, e o acesso, o contato direto com o público, propiciaram o
enriquecimento da produção literária de Rubem Braga; seja um leitor
inventado para o momento em que a inspiração para a crônica “não baixa”,
seja, de fato, um amigo que clama por conselhos amorosos. O cronista faz
uso de todos os artifícios palpáveis para continuar produzindo, respeitando o
deadline do jornal, ganhando seu salário, sobrevivendo; acreditamos que o
público seja também um dos mecanismos de que o cronista se utiliza, além
de todos aqueles já tão repetidos, como o fato miúdo, o cotidiano, o fazer da
crônica; o público, o ouvinte ousado que invade a crônica, transforma-se em

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uma temática constante na obra Rubem Braga.

Agradecimentos

Agradeço a Rubem Braga, por ter me apoiado quando, desesperada, pedi


sua benção, à minha mãe, por nunca ter duvidado das minhas ambições
acadêmicas, ao meu orientador, pela paciência e prontidão constantes, e a
todos aqueles que consciente ou inconscientemente me seguraram, quando
a insegurança permanecia, e ajudaram a mudar o rumo de tantas
divagações.

Referências

ADORNO, Theodor W.. Minima moralia. 2.ed. São Paulo: Ática, 1993. pp. 24, 25,
67, 68.
ARRIGUCCI Jr., Davi. Outros achados e perdidos. São Paulo: Companhia das
Letras, 1999.
______. “Braga de novo por aqui”. In: ______. Enigma e Comentário. São Paulo:
Companhia das Letras, 2001. pp. 29-50.
CANDIDO, Antonio; CASTELLO, José Aderaldo. Presença da literatura brasileira:
história e antologia III. São Paulo: Difusão européia do livro, 1964. p. 358-69.
COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. 2.ed. Rio de Janeiro: Sul Americana,
1971. v. 6.
GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo
nas sociedades modernas. São Paulo: Editora da UNESP, 1993.
HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da Esfera Pública: investigações quanto a
uma categoria da sociedade burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 1974. p.
131-3.
SENNETT, Richard. O declínio do homem público: as tiranias da intimidade. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998.
SIBILIA, Paula. “Eu, eu, eu... você e todos nós”. In: ______. O show do eu: a
intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

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