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XX Encontro Anual de Iniciação

Científica – EAIC
X Encontro de Pesquisa - EPUEPG

DELEUZE, COSSUTA E O ESTATUTO PEDAGÓGICO DO CONCEITO

Evânio Márlon Guerrezi (PIBIC/Fundação Araucária/UNIOESTE), Ester


Maria Dreher Heuser (Orientadora), e-mail: ester.heuser@unieoste.br

Universidade Estadual do Oeste do Paraná/ Centro de Ciências Humanas e


Sociais/ Campus de Toledo/ PR

Palavras-chave: Educação, filosofia, conceito

Ciências Humanas - Filosofia

Resumo
O objetivo principal da pesquisa foi avaliar a relação que a filosofia mantém
com as suas produções, a maneira com que ela se expressa, o que lhe cabe
por direito, tendo em vista a possibilidade de se constituir um guia que
viesse servir como uma ferramenta útil no estudo de filosofia em todos os
níveis de escolarização. Para tanto, a obra de Gilles Deleuze e Félix
Guattari, O que é a filosofia?, se apresentou como uma interessante
perspectiva em relação à filosofia. Seu conceito de pedagogia do conceito
foi o ponto balizador da pesquisa, e justamente por meio dele que nos foi
permitido o acesso a obra Elementos para a leitura de textos filosóficos de
Frédéric Cossutta que, segundo Deleuze, teria constituído uma interessante
pedagogia do conceito. Com a análise destas obras, se tornou possível a
elaboração de tal guia que poderá servir de auxílio em nosso contato com a
filosofia.

Introdução
Quando tratamos de filosofia, duas atividades parecem se encontrar
indissociáveis da prática filosófica: leitura e escrita. Partindo dessa
consideração e da observação de que outras disciplinas possuem métodos
e artifícios que auxiliam em sua prática, nos pomos a problematizar a
possibilidade de elaboração de um guia que venha auxiliar essas duas
atividades que se encontram intimamente ligadas a filosofia. Para tanto,
consideramos que se faz necessário fazer valer a força da história da
filosofia em nosso favor e buscar nela elementos que nos auxiliem nessa
tarefa. Mesmo que o problema do que vem a ser a própria filosofia tenha se
tornado objeto de estudos para vários filósofos, encontramos em Gilles
Deleuze escritos poderosos e que parecem ser de extremo auxílio para tal
questão. Sua obra de velhice, O que é a filosofia? escrita juntamente com
Félix Guattari, tem, como o próprio título adianta, uma grande preocupação
para com a atividade própria da filosofia. Um conceito em particular se
apresenta como fundamental para determinar sua empresa: a pedagogia do
conceito. É justamente com o aparecimento deste conceito que vemos

Anais do XX EAIC – 20 a 22 de outubro de 2011, UEPG, Ponta Grossa –PR.


ISSN:1676-0018 http://eventos.uepg.br/eaic/portal/
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surgir outro grande pilar que norteou nossa atividade de pesquisa: segundo
Deleuze, Frédéric Cossutta teria em seu livro Elementos para a leitura de
textos filosóficos, proposto uma “pedagogia do conceito bastante
interessante”.

Revisão de literatura
A pesquisa possuiu cunho essencialmente bibliográfico, tendo como cerne o
estudo de O que é a filosofia? de Gilles Deleuze e Félix Guattarri e
Elementos para a leitura de textos filosóficos de Frédéric Cossutta. Foram
feitas resenhas dos livros para o auxílio de consultas posteriores, dando
ênfase aos elementos que se encontravam mais diretamente em conexão
com o conceito de pedagogia do conceito, como as de personagem
conceitual, plano de imanência, geofilosofia e a própria concepção de
conceito, além do interessante conceito de cenário filosófico elaborado por
Cossutta. Também foram utilizados textos de comentadores da obra de
Deleuze, que serviram de auxílio para a compreensão de seu pensamento,
como também foi utilizado o Abecedário de Gilles Deleuze, vídeo que
contém entrevista realizada pela ex-aluna do filósofo, Claire Parnet, com o
próprio Deleuze. Ao longo do projeto foram elaborados alguns textos que
serviram como exercícios de escrita. Esses exercícios culminaram na
elaboração de uma “proposta-guia para o auxílio da leitura, escrita e
compreensão filosófica”, tanto para o nível de Ensino Médio como para os
ingressantes no ensino Superior. A concepção de Deleuze quanto à
atividade da filosofia é clara: a filosofia é a atividade que consiste em criar
conceitos (DELEUZE; GUATTARI, 1992, p. 13). Para ele, no entanto, a
própria concepção de conceito é apresentada como dotada de “idades”. As
idades dos conceitos evidenciam a elasticidade deste, que chega até
mesmo a ser apropriado indevidamente por outras disciplinas. É justamente
por meio de uma destas idades que Deleuze nos auxilia apontando-nos
pistas para a constituição de um guia para a leitura e escrita em filosofia,
objetivo maior da pesquisa. A idade enciclopédica, que possui como seus
representantes exponenciais os pós-kantianos, almeja a constituição do que
se pode chamar “um glossário de verdades”, uma verdadeira enciclopédia
de certezas imutáveis expressas por meio de conceitos. A outra idade do
conceito é a que os filósofos denominaram “formação profissional
comercial”, a qual, na perspectiva dos filósofos, não pode ser compreendida
como filosófica, ainda que tenha se apoderado da palavra conceito, mas
que, de modo algum, atinge a potência do conceito, sendo tomado apenas
como uma inovação, um novo produto, p. ex., um novo conceito de carro,
um novo conceito de creme dental. Resta-nos, portanto, a “idade
pedagógica do conceito”, a qual, segundo os filósofos, nos impede de cair
dos picos da idade enciclopédica e do “desastre absoluto da formação
profissional comercial” (Idem, p.21). A análise dessa “idade pedagógica do
conceito” nos forneceu elementos para cumprir nosso objetivo da pesquisa,

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uma vez que ela aponta elementos que podem ser encontrados em toda a
história da filosofia. Reconstituindo os elementos que permanecem
singulares no momento da criação conceitual, a pedagogia do conceito liga
a própria concepção de conceito a outros elementos, sem os quais a
filosofia não pode se constituir. Para os filósofos, toda filosofia trata de
conceitos, ou melhor, é criação de conceitos, todos os conceitos são
respostas a problemas. O conceito só pode ser julgado na medida em que
responde ao seu problema, o que faz com que a filosofa mantenha uma
estreita relação com os problemas. Nota-se também que os conceitos se
encontram interligados, sendo no mais das vezes necessária uma
verdadeira cadeia conceitual para dar conta de um problema.

Resultados e Discussão
Se a filosofia é a criação de conceitos, o singular ponto onde criação e
conceito se encontram, não se deve, portanto, compreender a filosofia como
uma atividade contemplativa, de desvelamento, de reconhecimento ou
busca de verdades já existentes e que esperam prontas para serem
encontradas. Os conceitos não estão prontos, devem ser fabricados,
criados. Se assim procede a filosofia, seu estudo deve ser realizado de
modo que os conceitos e os problemas possam ser reconstituídos, que a
singularidade de cada conceito possa se mostrar. A pedagogia do conceito,
neste sentido, pode ser considerada, além de toda a importância que possui
na obra de Deleuze, uma interessante ferramenta de auxílio na
compreensão da filosofia. Frédéric Cossutta em seu Elementos para a
leitura de textos filosóficos apresenta uma proposta bastante interessante
que, se unida à filosofia de Deleuze no que diz respeito ao conceito e suas
relações, formam um poderoso artifício para auxílio nas práticas de escrita e
leitura. Segundo Cossutta o estabelecimento de um "cenário filosófico" da
obra a ser estudada facilita seu entendimento (1998, p. 22). Esse conceito
elaborado por Cossutta é formado por três componentes mais elementares.
A função autor seria a força da escrita, aquele que escreve a obra, mas que
não pode ser confundido com os dados biográficos do filósofo, trata-se de
questionar em nome de quem a obra está escrita. No caso de Kant, para
termos um exemplo, sua função autor nas críticas seria a de um juiz. O
destinatário, segundo elemento, versa sobre a quem a obra está destinada,
já que o conhecimento prévio desse elemento nos ajuda a compreender
possíveis requisitos que algumas obras nos impõem. O terceiro elemento, a
função intertextual evidencia a relação dialógica necessária que a filosofia
mantém com sua história.

Conclusões
É possível identificar tanto nos escritos de Deleuze, quanto nos de Cossutta
uma invariabilidade de elementos que perpassam e compõem a história da
filosofia. A atenção e a tentativa de reconstituição desses pontos singulares

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parecem ser imprescindíveis para a compreensão da filosofia, além de


constituírem interessantes elementos a serem considerados no momento da
escrita. Tornou-se, portanto, viável, a constituição de uma espécie de guia
para a leitura e a escrita em filosofia. O guia toma a concepção de Deleuze
como base, a operação da filosofia por conceitos e tendo em foco sua
concepção de pedagogia do conceito tenta apresentar os caminhos pelos
quais ela se desenvolve, seu funcionamento, maneiras e possibilidades de
se defrontar com uma obra propriamente filosófica,
O conhecimento da estrutura e desses elementos que compõe a
filosofia é de grande auxílio. Compreender a filosofia operando por
conceitos, os quais estão sempre ligados a problemas, e constituindo um
cenário filosófico da obra em estudo, constitui-se em uma interessante
chave de leitura e escrita, que não devem ser utilizadas como um método
rígido e fixo, mas, antes, como um aparato que só deve ter seu uso
concretizado na medida em que seja útil em nosso contato com a filosofia.

Agradecimentos
Ao PIBIC/UNIOESTE, à Fundação Araucária e à organização do evento.

Referências
COSSUTTA, Fréderic. Elementos para a leitura dos textos filosóficos.
São Paulo: Martins Fontes, 2001. [Tradução portuguesa: Didáctica da
Filosofia: como interpretar textos filosóficos? Lisboa: ASA, 1998.]

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a Filosofia? Tradução de


Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.

DELEUZE, Gilles. O abecedário de Gilles Deleuze. Vídeo. Editado no


Brasil pelo Ministério de Educação, “TV Escola”, 2001.

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