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Mulheres em cargos

gerenciais na Universidade Federal de Sergipe

Joatã Mathias Atanázio Júnior (Universidade Federal de Sergipe) joata@sergipemedical.com,br


Jamile Lima (Universidade Federal de Sergipe) jamile.contatos@outlook.com
Gustavo Barros Costa (Universidade Federal de Sergipe) contabeis.gustavo@yahoo.com.br
Nathalia Carvalho Moreira (Universidade Federal de Sergipe) nathalia.arierom@gmail.com

Resumo:
Este estudo teve como objetivo mapear a presença de mulheres em cargos gerenciais na Universidade
Federal de Sergipe (UFS). Realizou-se uma pesquisa de natureza quantitativa de caráter descritivo, a
partir de fontes secundárias disponíveis no portal da transparência e documentos institucionais. Em
geral, foi possível verificar que, na UFS, a maioria dos cargos gerenciais é ocupada por homens,
principalmente, em cargos de alto nível hierárquico. Confirmaram-se os resultados esperados, ao
observar que a ascensão na carreira ainda pode ser limitada ou direcionada, para as áreas em que elas
já estão em maior número. Finalmente, pode-se concluir que a presença de mulheres em cargos
gerenciais na UFS tem sido revista no ambiente organizacional ao longo do tempo, mas ainda é
incipiente e ainda distante da equiparação com homens nas mesmas funções.
Palavras chave: Mulheres na gestão, Gestão universitária, desigualdade de gênero.

Women at management
positions on Federal University of Sergipe

Abstract:
This study aimed to analyze the presence of women in management positions at the Federal University
of Sergipe (UFS). It was a quantitative and descriptive research, using secondary sources available on
the website of transparency and institutional documents. In general, we found that in the university,
most management positions are held by men, especially in high-level hierarchical positions. We
confirmed the results, observing that the mobility may still be limited or directed to the areas where
they are already in greater numbers. Finally, it can be concluded that the presence of women in
management positions in UFS has been revised in the organizational environment over time, but is still
in its still far from equality with men in the same functions.
Keywords: Women in management, university management, gender inequality.

1. Introdução
A desigualdade de oportunidades entre gêneros ainda é um tema recorrente nos dias atuais.
Em grande medida isso ocorre devido ao abismo histórico das condições oferecidas para os
homens e para as mulheres, tanto do ponto de vista social quanto profissional. Elas foram
pouco a pouco conquistando mais espaço e abrindo caminhos outrora impensáveis. Com isso,
essa lacuna entre os gêneros foi se encurtando, a ponto de vivenciarmos um período bem
distinto ao do início do século XX. Porém esse movimento ainda é gradativo e requer um
esforço concentrado da sociedade no sentido de promover uma menor desigualdade entre os
sexos.
Nesse contexto, o mercado de trabalho tem se mostrado bastante engessado às igualdades
entre gêneros. Não só pelo fato de as mulheres terem sido inseridas historicamente neste setor
a posteriori da consolidação da participação masculina no mesmo, como também em razão da
evolução tardia no que tange os espaços de trabalho e as áreas de atuação. Contudo, já
encontramos os sinais de progresso, ainda que incipientes, no mercado de trabalho das
mulheres, principalmente entre o final do século XX e primeira década e meia do século XXI.
Atualmente, temos cada vez mais vagas preenchidas por mulheres no setor produtivo, por
exemplo.
Com o avanço no que se refere à igualdade de tratamento entre os sexos e a quebra de
paradigmas – imagem da mulher como chefe do lar –, foi crescendo também a ocupação delas
em cargos de chefia e liderança tanto em organizações privadas – de pequeno, médio e grande
porte –, como nas públicas. Para Tonani (2011), foi uma demonstração do reconhecimento de
habilidades como versatilidade, capacidade de administrar conflitos e persuasão, por parte das
mulheres.
Para Capelle (2004), no contexto organizacional demonstram-se as relações de poder, que
englobam também as relações de gênero. Essa análise, no entanto, não deve estar situada na
polarização simplista de duas categorias – o masculino e o feminino –, ao contrário, precisa-se
ir além desse conceito. Existem aspectos mais amplos a respeito de como as atuais regras
sociais são percebidas nos diferentes espaços ou como os hábitos e condições de vida
modificam as interações sociais e, consequentemente, devem estar inseridos nos estudos.
Diversos trabalhos tem estudado a presença de mulheres em cargos de gestão e liderança
feminina, como por exemplo: Cappelle et al. (2004), Cappelle et al. (2013), Siqueira et al.
(2016) e Miranda et al. (2015). Neste trabalho, nosso objetivo é mensurar o nível da
participação das mulheres nas áreas de comando da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Investigamos se, na gestão da instituição pública de ensino superior, existe uma equiparação
dos números de direção e assessoramento superior (DAS), cargos de direção (CD), função
comissionada (FUC) e funções gratificadas (FG) entre os homens e as mulheres. Através da
análise dos dados pesquisados, diagnosticamos o cenário atual da presença feminina nas
posições de liderança na gestão acadêmica.
A relevância deste estudo se deve em razão de que o mapeamento da situação ocupacional das
mulheres em postos de liderança em uma Instituição de Ensino Superior como a UFS
evidenciará o nível de participação das mesmas na Gestão Universitária no Estado de Sergipe.
Além disso, os dados encontrados devem auxiliar na política de inclusão de gêneros na
administração pública.
Por fim, este trabalho está dividido em cinco partes. Após esta breve introdução,
apresentamos o referencial teórico sobre “Mulheres, mercado de trabalho e liderança”. Em
terceiro lugar, detalhamos os procedimentos metodológicos. Em seguida, apresentamos o
local de estudo e priincipais resultados e discussões. E finalmente, sem pretenção de esgotar o
assunto, concluimos com as principais reflexões e sugestões para pesquisas futuras.
2. Referencial teórico
2.1 Mulheres e mercado de trabalho
A inserção da mulher no mercado de trabalho ocorreu de forma tardia, bem depois da
consolidação da participação masculina neste segmento. De acordo com Samara (2002), nos
séculos XVI e XVII, havia uma separação bem definida dos papéis entre homens e mulheres
dentro das uniões legítimas. Cabia ao marido a tomada das decisões formais, enquanto que
ficava sob responsabilidade da esposa o governo da casa e a assistência moral à família. A
tradição e os costumes da época também contribuíram para que a presença das mulheres no
mercado de trabalho se desse em casos pontuais, somente em situações consideradas
excepcionais.
No entanto, com as mudanças de paradigmas culturais sobre a contribuição das mulheres em
atividades profissionais, elas abriram espaços em diversas frentes, inclusive no mercado de
trabalho. A desmistificação da “mulher do lar” ocorreu ao passar das décadas, à medida que
surgiam os frutos da luta das mulheres em prol da garantia de seus direitos. De acordo com
Siqueira et al. (2016), outros fatores como a queda na taxa de fecundidade, a expansão na
escolaridade e o aumento no número de divórcios podem ter contribuído com o fenômeno.
Os registros dão conta de que o marco da inclusão das mulheres no mercado de trabalho
aconteceu no período entre a I e II Guerras Mundiais. Enquanto que os homens estavam nas
frentes de batalha, as fabricas se viram obrigadas a contratar as mulheres e a colocá-las nas
linhas de produção. Essa participação feminina nos estabelecimentos fabris permitiu que a
economia permanecesse ativa, especialmente com a produção de artigos bélicos. Quando as
guerras terminaram, muitas mulheres permaneceram ocupando postos de trabalho, uma vez
que parte dos homens não retornou aos seus lares e outros estavam impossibilitados de
retomar às suas funções anteriores nas indústrias.
A partir de então, o nível da participação feminina no mercado de trabalho se tornou mais
acentuado. Conforme verificou Samara (2002), no século XX, elas passaram a realizar
atividades de prestação de serviços, como advocacia, medicina, odontologia, empregos
públicos, e também em diferentes ramos da indústria, funções que não despontavam nos
séculos anteriores. Na visão de Brushini (2007), algumas fatores explicam o aumento do fluxo
de mulheres no mercado de trabalho. Dentre eles, destaca-se a aceleração do processo de
desenvolvimento econômico, que ampliou a oferta de empregos em geral, e resultou na maior
demanda por mão-de-obra feminina. Além disso, a metaformose ocorrida nos padrões de
comportamento e nos valores relativos ao trabalho feminino que facilitou esse processo de
inclusão. Outro aspecto foi a diminuição do nível de renda das famílias brasileiras nas últimas
décadas. Esses elementos combinados determinaram a crescente participação do segmento
feminino no mercado de trabalho ao longo dos últimos anos.
2.2 A mulher e a relação com a liderança
A arte de liderar, segundo Robbins (2005), é definida como a habilidade de influenciar um
grupo com o objetivo de alcançar os objetivos. Partindo desse conceito, depreende-se que
liderar é uma prática abrangente, que envolve não somente uma posição, mas também o poder
de influência sobre outras pessoas. Portanto, um líder pode surgir naturalmente dentro de uma
organização ou ser indicado formal para tal função.
Para isso, são necessárias algumas qualidades que caracterizam a liderança moderna. Esta
prática deve ser exercida por pessoas que criam visões de futuro e que consigam inspirar os
membros da organização a realizar tais visões. Conforme Tonani (2011, p. 6), “liderar pode
significar conduzir, motivar, orientar, agregar pessoas e idéias.”. Destarte, a busca de
profissionais com esse perfil seria uma condição plena das organizações modernas em razão
das crescentes demandas de um mercado cada vez mais competitivo. Nesse contexto, as
mulheres, assim que foram derrubando a concepção social sobre papel delas como dona de
casa, mãe e esposas, no exercício das atividades domésticas, ingressaram no mercado de
trabalho e passaram a enfrentar as dificuldades para assumir cargos gerenciais e de comando
nas organizações públicas e privadas. Esse fenômeno, como citou Siqueira et al. (2016), era
reflexo de relações de poder e da resistência entre as pessoas, em que havia o predomínio
histórico do homem.
Conforme identificou Cappelle et al. (2004), a divisão por sexos está evidente dentro das
organizações, com a diferenciação técnica do trabalho. Percebeu-se que os homens
usualmente ocupam os trabalhos considerados mais estratégicos, com maior estabilidade,
além de mais cargos de chefia. Enquanto isso, as mulheres ficam com os postos de trabalho
mais periféricos, frágeis e com menos atribuições, ou direcionadas a funções de atendimento,
como secretárias, recepionistas, telemarketing e outros serviços de contato direto com o
público.
Ademais, as distinções hegemônicas entre masculino e feminino seriam desiminadas dentro
das organizações, de uma forma sutil, através de discursos, políticas e procedimentos que
fundamentam a vida social e organizacional. Ainda segundo Cappelle et al. (2004), essas
práticas seriam equivalentes a prisões psíquicas, com forte poder de dominação e controle,
que não poderiam ser facilmente percebidas por já fazer parte do cotidiano organizacional.
Uma corrente explica que as próprias mulheres resistem a se candidatarem a cargos de poder.
O motivo para tal comportamento seria oriundo da educação sexista que as impediria de
“gostar do poder”, (GROSSI e MIGUEL, 2001). Nesse viés, o poder teria gênero, ou seja, o
masculino, em que não haveria abertura para as mulheres. Em outras palavras, significa dizer
que as próprias mulheres possuem preconceitos e concepções que foram assimilados
socialmente, de maneira preponderantemente involuntária, que prejudicam o avanço das
conquitas no processo de igualdade entre os gêneros. Essa distinção sexista precisa ser
primeiramente reconhecida e assim analisada para que possa ser superada adequadamente.
Outro fator que favoreceu a impermeabilidade das mulheres a postos de alto escalão foi a
preexistência de modelos estereótipos, que delimitava as atividades de acordo com o gênero e,
com isso, aumentava as diferenças sexuais socialmente construídas. No ambiente
universitário, esse elemento ainda está presente. Siqueira et al. (2016, p. 54) explicam que “os
modelos estereotipados podem contribuir para a escolha da profissão, tanto do homem quanto
da mulher e também consolidar e perpetuar esse tipo de concepção”.
Nas instituições públicas, onde os critérios para o acesso a cargos de chefia passam também
por questões políticas, a luta das mulheres pelo reconhecimento e valorização profissionais
ainda é árdua, contudo, já revela uma série de melhorias que ajuda a reescrever a participação
desse público nas gestões. Para Grossi e Miguel (2001), a busca pelo acesso por níveis de
paridade começam a se fazer visíveis nos demais poderes constituintes do Estado: o
Executivo, Legislativo e o Judiciário. No bojo dessas novas reivindicações de paridade,
também se encontram as lutas pelo acesso igual das mulheres a cargos de chefia no serviço
público.
Ademais, Miranda et al. (2015) afirmam que, nas universidades, as mulheres que assumem
cargos de gerência deparam-se, de um lado, com a necessidade de incorporar traços
identitários comuns à função gerencial, tradicionalmente vistos como masculinos e, muitas
vezes, diferentes de sua formação profissional anterior (quando não formadas em
Administração ou áreas correlatas), ao mesmo tempo em que apresentam traços típicos de
outros papéis que assumem na vida pessoal, tais como os de mãe e esposa. Ao longo de sua
trajetória de vida, sua identidade transita de forma dinâmica e, às vezes, contraditória, por
esses inúmeros papéis que vivenciam.
3. Procedimentos metodológicos
O presente trabalho classifica-se como uma pesquisa descritiva, bibliográfica e documental,
baseando-se em dados obtidos no site do Portal da Transparência
(http://www.portaldatransparencia.gov.br/), juntamente com os do Portal da UFS
(http://www.ufs.br/). Quanto à abordagem, enquadrou-se como estudo quantitativo, com a
análise de estatística simples.
A coleta das informações sobre o quantitativo de servidores da UFS, de ocupantes de cargos e
funções de liderança, foi realizada através do sitio eletrônico do Portal da Transparência,
definindo na aba Consulta a opção Servidores e, logo em seguida, selecionou-se a modalidade
Órgão de Lotação. Neste momento, dentro do campo Órgão Superior, escolheu-se
primeiramente a opção Ministério da Educação e, logo após, Fundação Universidade Federal
de Sergipe – UFS, de onde foram extraídos os numerários pesquisados. Ressalta-se que a
última atualização dos conteúdos deste portal havia ocorrido em 31 de agosto de 2016.
No Portal da UFS, foram encontrados conteúdos secundários, a exemplo de dados oficiais
sobre a história da instituição, relatórios e anuários sobre a gestão universitária, indicadores
sobre o quantitativo de vagas nos diversos cursos de graduação e pós-graduação, além de
elementos institucionais complementares que darão suporte à pesquisa.
As informações coletadas foram dispostas em planilha para facilitar a manipulação dos dados
e as inferências de seu conteúdo. Com estes elementos, serão apresentadas as análises
estatísticas.
4. Resultados e discussão
4.1 A UFS
A Universidade Federal de Sergipe (UFS), maior instituição pública de ensino superior do
Estado de Sergipe, foi criada oficialmente em 1968, fruto da criação da Faculdade de Ciências
Econômicas e da Escola de Química (1948), seguida da Faculdade de Direito e Faculdade
Católica de Filosofia (1950), da Escola de Serviço Social (1954) e da Faculdade de Ciências
Médicas (1961), número mínimo necessário de escolas superiores para a fundação da
universidade.
Nesse quase meio século de existência, a UFS cresceu e se consolidou como uma referência
no ensino superior no Estado. Atualmente, a Universidade é composta por seis campi, a saber:
Campus Aracaju – Hospital Universitário, Campus Itabaiana, Campus Lagarto, Campus
Laranjeiras, Campus do Sertão e Campus São Cristóvão. De acordo com o anuário estatístico
2013-2015, são ofertadas mais de 5.500 vagas no ensino de graduação, distribuídas em 114
cursos presenciais, além de mais de 60 cursos de pós-graduação, com mais de 2.200 alunos
matriculados. A Tabela 1 demonstra o quadro de funcionários da UFS.

2013 2014 2015


Corpo docente efetivo 1.345 1.420 1.455
Corpo Técnico-Administrativo 1.306 1.478 1.483
Total 2.651 2.898 2.938
Fonte: Elaborado pelos autores, 2016
Tabela 1 – Quantitativo de servidores da UFS
Como os dados da tabela 1 foram obtidos por meio do anuário da UFS, não há a separação
dos números por gênero. Nesta análise, o levantamento do quantitativo de servidores
(professores e técnicos administrativos), referente ao ano de 2016, foi conseguido a partir da
consulta aos dados do Portal da Transparência, através do somatório de todos os nomes
vinculados à Fundação Universidade Federal de Sergipe. Chegou-se, deste modo, ao montante
de 3.339 funcionários, dos quais 1.634 são do sexo masculino, o que representa cerca de
48,9% do universo total de servidores, e 1.705 do sexo feminino, que equivale a 51,1%.
À primeira vista, observou-se que, em valores numéricos, a diferença quantitativa entre
homens e mulheres na instituição é baixa, de apenas 71 servidoras a mais que o grupo
masculino. Em termo percentual, esta variação é de 2,2% em favor delas.
Para se ter uma referência, a população do país em 2016, segundo dados do IBGE, já
ultrapassa os 206 milhões de brasileiros. Do montante total, cerca de 50,64% são mulheres e
49,36% são homens. Quando tomamos por base o mesmo parâmetro, identificamos que o
Estado de Sergipe possui mais de dois milhoes de habitantes, sendo 51,16% do sexo feminino
e 48,84% do sexo masculino
De forma analítica, percebe-se que o Estado de Sergipe apresenta uma população feminina,
em termos percentuais, maior que a do país. Já a Universidade analisada tem a presença de
mulheres como servidoras em disposição praticamente igual à da população estadual. Nos três
aspectos analisados, a presença feminina superou a masculina em termos de quantidade
absoluta, sendo a maior diferença apresentada quanto aos dados populacionais do estado de
Sergipe.
O objetivo seguinte consistiu em calcular o número de servidores homens e de mulheres que
ocupavam cargo de direção e assessoramento superior (DAS), cargos de direção (CD), função
comissionada (FUC) e função de confiança (FC), através das informações registradas no
referido portal eletrônico, buscando o nome de servidores vinculados a qualquer das rubricas
mencionadas. Com base nisso, conseguiu-se o resultado de que a UFS possui um total de 451
ocupantes de cargos ou funções de chefia, assessoria ou direção. Desse montante, elas
preenchem 182 postos, cerca de 40% do total, enquanto que os servidores homens ocupam
269, que equivale a 60%, conforme a Figura 1.

1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
Servidores Cargos
Mulheres 1705 182
Homens 1634 269

Fonte: Elaborado pelos autores, 2016


Figura 1 – Relação de servidores por sexo e cargo
Diante dos dados, constata-se que os homens, mesmo sendo em número inferior ao das
mulheres no Brasil, no Estado de Sergipe, ou no quadro geral de servidores da universidade,
encabeçam o percentual de postos de liderança na UFS na ordem de aproximadamente 50%
superior ao de mulheres. Observa-se a clara inversão da Figura 1 no que concerne ao
quantitativo absoluto de homens e mulheres (à esquerda) na universidade e a relação que estes
ocupam nos cargos. Esse desequilíbrio entre os “líderes” homens e as mulheres pode
demonstrar o caminho que elas ainda precisam para percorrer pela igualdade, pelo menos
numericamente, em relação ao sexo masculino, dentro da gestão universitária.
Se analisarmos cada gênero separadamente em relação aos cargos que ocupam a disparidade é
ainda maior, em virtude de que as mulheres são em maior quantitativo, entretanto, ocupam
menos cargos na universidade. Aproximadamente a cada dez mulheres, apenas uma ocupa
cargos de chefia no âmbito da UFS, conforme a Figura 2.

% Mulheres em
Cargos (UFS);
10,67%
Cargos;
182
Servidoras

Cargos

Servidoras;
1705 % Mulheres em Cargos
(UFS)

Fonte: Elaborado pelos autores, 2016


Figura 2 – Porcentagem de servidoras que ocupam cargos
Para o universo masculino, a porcentagem de ocupação dos cargos em relação ao seu universo
é bem superior ao registrado pelo segmento feminino, com cerca de 16,50%. Tal dado
percentual representa que, aproximadamente, a cada seis servidores do sexo masculino, um
ocupa cargo de liderança, tais valores estão representados na Figura 3.
% Homens em
Cargos (UFS);
16,46%

Cargos; 269
Servidores

Cargos

Servidores;
1634 % Homens em Cargos
(UFS)

Fonte: Elaborado pelos autores, 2016.


Figura 3 – Porcentagem de servidores que ocupam cargos
Dentre os cargos e funções pesquisados – DAS, CD, FUC, FG –, cada um possui um conjunto
de atribuições e responsabilidades diferente do outro e seus valores monetários são definidos
com base nessas características. No serviço público federal, as menores remunerações e
atribuições são as FUC e FG, enquanto que os CD e DAS representam os mais complexos e
mais remunerados cargos da Universidade.
Quando se analisa a questão de gênero apenas por grupo de cargo ou função, percebe-se que
existem diferentes níveis de ocupação.

120,00%

100,00%

80,00%
Homens

60,00% Mulheres
Linear (Homens)
40,00% Linear (Mulheres)

20,00%

0,00%
FUC FG CD DAS

Fonte: Elaborado pelos autores, 2016


Figura 4 – Porcentagem por gênero de ocupação dos cargos
Verifica-se na análise da Figura 4 que, para a Função de Confiança (FUC), a porcentagem de
homens que as ocupam monta aproximadamente em 60% contra 40% das mulheres. Já para a
Função Gratificada (FG), a porcentagem cai seis pontos percentuais para o universo de
servidores e diminui a disparidade para 8%, ou seja, 54% são ocupadas por servidores homens
e 46% por mulheres. Para o segundo grupo dos cargos, os de direção – CD –, a disparidade
aumenta consideravelmente. Assim, a cada dez cargos de direção existentes na universidade
sete são ocupados por homens e apenas três por mulheres. Em termos percentuais, os
servidores ocupam aproximadamente 71,5% dos cargos de CD, contra cerca de 28,5% dos
ocupados pelas mulheres. Quanto ao cargo de Direção e Assessoramento Superior, existe
apenas um que é ocupado pelo reitor da instituição.
5. Considerações finais
As desigualdades de gênero ainda são percebidas na estrutura social brasileira de maneira
pujante. O mercado de trabalho é apenas uma das áreas em que podemos comprovar as
distinções de oportunidades entre homens e mulheres, tanto nas organizações privadas quanto
nas públicas. Mesmo diante dos avanços no ingresso das mulheres nesses setores, ainda
podemos confirmar que o ideário de “igualdade” ainda continua distante, tornando mais
complexas as relações sociais e as de poder. Vários estudos comprovam que a busca por
condições semelhantes ou equivalentes entre homens e mulheres deve ter um caminho longo
pela frente.
O Brasil, conforme mostrou uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial, ficou na 79º
posição no Índice Global de Desigualdade de Gênero, cujo ranking levou em consideração
estatísticas de 144 países, avaliando as condições enfrentadas por mulheres nas áreas de
saúde, educação, paridade econômica e participação política. O resultado mostrou que o país
ainda está atrasado nesse quesito e precisa da adoção de políticas pragmáticas para
reequilibrar a relação entre os gêneros. Diante desta realidade, este estudo teve como objetivo
mapear a presença de mulheres em cargos gerenciais na Universidade Federal de Sergipe
(UFS). Em geral, foi possível diagnosticar que, na UFS, a maioria dos cargos gerenciais é
ocupada por homens (técnicos administrativos e professores), principalmente, em cargos de
alto nível hierárquico. Mesmo as mulheres sendo maioria em números absolutos no Estado de
Sergipe e na própria Universidade, entre os servidores em geral da UFS, a diferença de
ocupação dos cargos e funções de liderança entre homens e mulheres é de 50%, em favor dos
homens. Além do mais, apenas no universo masculino, um em cada seis servidores ocupam
postos de direção, já para as mulheres, essa proporção é de apenas uma em cada dez
servidoras.
Confirmaram-se os resultados esperados, ao observar que a ascensão na carreira ainda pode
ser limitada ou direcionada, para as áreas em que elas já estão em maior número. Assim,
pode-se concluir que a presença de mulheres em cargos gerenciais na UFS ainda está em
descompasso em comparação à ocupação dos homens nos mesmos postos de liderança. Esse
diagnóstico demonstra que, apesar de terem conseguido abrir portas na gestão universitária,
ainda existe um cenário oportuno para que elas continuem exijindo, lutando e trabalhando por
condições igualitárias de acesso a vagas estratégicas na instituição.
Para estudos futuros, recomenda-se que sejam realizadas entrevistas e estudos em
profundidade com mulheres em cargo de chefia, direção ou assessoramento, a respeito de suas
trajetórias profissionais na UFS e outras universidades (públicas e privadas), bem como suas
percepções a respeito das desigualdades de gênero e o empoderamento de mulheres em cargos
de liderança no serviço público e privado.
Deve-se ressaltar que as considerações aqui tecidas não pretendem esgotar o assunto nem
mesmo detalhar profundamente os debates. O intuito deste trabalho foi traçar subsídios
iniciais para a discussão sobre a área de liderança feminina no ambiente de gestão
universitária, lembrando as rápidas transformações que vem sofrendo e a tentativa de firmar-
se como uma área de estudo cada vez mais relevante, ou seja, que colabore e participe
crescentemente com a busca e desenvolvimento de soluções dos principais problemas que
afetam as inequidades de gênero no mundo do trabalho, especialmente na esfera pública.
Referências
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