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DOI: 10.30962/EC.1446 www.e-compos.org.

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Recebido em: 21 de novembro de 2017 | Aceito em: 04 de abril de 2018 | E-ISSN 1808-2599 |

Novos desafios para a ideia


de transparência pública1

ID 1446
Wilson Gomes, Paula Karini Dias Ferreira Amorim e Maria Paula Almada

Resumo A ideia de transparência pública

Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.2, maio/ago. 2018.
A pesquisa em transparência tem sido revigorado
objeto de estudo das mais diversas áreas acadêmicas.
Transparência é, naturalmente, uma metáfora
O debate público sobre transparência vê-se
complicado por um conjunto de outros conceitos e antes de ser um conceito. Deve-se notar, antes de
verbetes (como publicidade e accountability) que com
tudo, que é uma palavra recente, não reconhecida
ele concorrem e a ele se sobrepõem, ganham novas
ênfases. Este trabalho de cunho teórico tem o objetivo no latim clássico. É proveniente do adjetivo
de ordenar a pluralidade de termos e conceitos latino transparens-entis (composto pelo prefixo
mediante os quais a transparência pública é referida
na literatura especializada; definir e pormenorizar a
lat. trans – “trans” – e pelo verbo pareo –
transparência pública e suas dinâmicas nas práticas “aparecer”), que surge apenas no latim medieval.
e condutas de governos e instituições; sugerir o lugar
No latim clássico, usava-se, para se referir à
dos recursos e ambientes da comunicação digital no
futuro do debate sobre transparência pública. mesma coisa, outros adjetivos como perlucens,
Palavras-Chave translucidus, perlucidus ou splendidus, que
Democracia. Transparência Pública. Publicidade.
querem dizer “nítido” ou “límpido”, aplicados,
por exemplo, à água e ao ar. Quando começa a ser
Wilson Gomes
Doutor em Filosofia pela Universitas a Scte. Thomae – Roma, Itália. empregado, “transparente” serve para designar
Professor Titular da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal
da Bahia. Pesquisador e orientador no Programa de Pós-Graduação um corpo que deixa ver, de maneira mais ou menos
em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal
da Bahia (Salvador, Bahia, Brasil). E-mail: wilsonsg@terra.com.br
clara, outros objetos que, do ponto de vista do

Paula Karini Dias Ferreira Amorim observador, estão atrás, além dele.
Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade
Federal da Bahia. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Tocantins – campus Palmas. Pesquisadora do CEADD Note-se desde já que transparente não se diz do
– Centro de Estudos Avançados em Democracia Digital da Universidade
Federal da Bahia (Salvador, Bahia, Brasil). E-mail: paula.karini@gmail.com corpo que exibe integralmente ao olhar, mas do

Maria Paula Almada corpo que não impede que o olhar passe através
Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade dele e vislumbre outros corpos que, caso fosse
Federal da Bahia (Salvador, Bahia, Brasil). Pesquisadora de Pós-
Doutorado (CAPES) do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em opaco, esconderia. A condição, digamos, natural
Democracia Digital (INCT-DD). Universidade Federal da Bahia (Salvador,
Bahia, Brasil). E-mail: mariapaula.almada@gmail.com dos corpos é a opacidade: corpos normalmente
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impedem que um observador que lhes esteja que não se veda o olhar, não há acessos blindados
diante possa ver os outros corpos que se situam ou governos invisíveis, arcanos e mistérios, razões
atrás dele. A exceção são os corpos transparentes, que não podem ser compartilhadas (as velhas
que não vedam a passagem do olhar, embora, Razões de Estado).
e isso é importante, funcionem como filtros.

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Permitem que se veja através dele, mas essa visão, Na história da teoria política, contudo, parece-
naturalmente, é limitada. O corpo transparente nos que o conceito de transparência, embora
é diáfano, isto, é, deixa passar a luz, mas ainda muito valorizado em nossos dias, foi precedido,
assim é um corpo. O corpo que é o termo do olhar, em tempo e valor, pela noção de “publicidade”.

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literalmente, não é transparente, mas geralmente É este, e não aquele, o conceito mormente
opaco. Por outro lado, transparente não é, de empregado pelos clássicos do pensamento liberal
algum modo, o corpo que se vê, mas o corpo para designar aquela característica normativa do
através do qual se pode ver outro corpo. Estado liberal-democrático que se colocava em
perspectiva (I. Kant) ou se institucionalizava (J.
Transformando a palavra em conceito, deparamo- Bentham). Kant foi o primeiro a usar a ideia de
nos com uma decisão inicial: destaca-se, dos Publizität para conferir uma plataforma moral
transparentes, o fato de que eles impedem uma para o direito e a política (KANT, 1795), princípio
visão integral do que lhes está por trás ou o fato de nunca abandonado pela teoria política de base
que permitem que se veja através deles? Claro que kantiana (HABERMAS, 1992; RAWLS, 1971). Por
ambas as dimensões fazem parte do conceito, mas outros caminhos e com outros propósitos, a teoria
nos parece que o contraste entre “transparente” política do utilitarismo adotou a mesma publicity
e “opaco” marque claramente que o que está (BENTHAM, 1839) com fundamento moral para a
realmente em questão é o trans + aparecer, é vida pública.
o fato de poder mostrar o que está por trás, do
outro lado, mesmo sem que ele próprio tenha que O argumento em favor da publicidade
desaparecer. Chegando ao campo das aplicações
contemporâneas, uma instituição transparente No opúsculo de Kant Sobre a Paz Perpétua, a
não é, tecnicamente, simplesmente uma em que publicidade, enquanto princípio, materializa-se
tudo está escancarado, acessível, disponível. numa máxima relativa à qualidade moral de razões
Transparente, como o contrário de opaco, significa ou argumentos que justificam ações e decisões na
que uma instituição desta natureza é aquela em vida pública. Em Kant, a máxima da publicidade

1   A primeira versão deste artigo foi apresentada no VI Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e
Política (VI COMPOLÍTICA), na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), de 22 a 24 de abril de 2015.
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– normas, políticas e decisões cuja efetividade benefício próprio. Uma autoridade pública,
dependa do segredo diante daqueles que são por definição, ocupa-se dos negócios públicos,
por elas afetados não podem ser moralmente portanto, dos outros, cuja satisfação é claramente
satisfatórias – é um teste de suficiência moral. O menos vantajosa do que a saciedade dos próprios
que quer que seja reprovado neste princípio fica interesses. Ademais, tem à sua disposição os

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destituído de base moral. meios de satisfazer-se, às expensas do público.
Quem é que, em sã consciência, se interpõe entre
Jeremy Bentham adota a publicidade como forma os seus apetites e a satisfação deles? Os kantianos
de evitar o abuso do poder político por parte das diriam que é a lei moral que cada consciência

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autoridades. Em última instância, como forma comporta em si, o imperativo categórico que nos
de garantir que o poder político no Estado não diz para agir como se a nossa ação devesse ser
seja desviado para beneficiar os agentes públicos o parâmetro da ação de todos. Os utilitaristas
em prejuízo do interesse geral. Como forma, em nos dirão que o que nos faz resistir a colocar
suma, de manter realmente pública a res publica. nossos interesses em primeiro lugar é o temor da
Sem querer simplificar demais, mas para fins opinião pública e do seu julgamento, o desejo de
de didatismo, diríamos que, no normativismo preservação da nossa imagem e reputação, o que
kantiano, a publicidade é um experimento só de fato se concretiza se as nossas ações se
conceitual e moral que funciona como teste derem à vista de todos (GUTMANN; THOMPSON,
normativo da consistência moral de uma norma ou 1996). A publicidade é, antes de tudo, uma
política, enquanto no utilitarismo benthamiano, poderosa sanção social, um constrangimento
avesso ao imperativo categórico, a publicidade consistente para que os indivíduos se comportem
é basicamente um constrangimento: peias e de maneira virtuosa principalmente em situações
controles morais que se usam para evitar que os em que estejam sob forte tentação.
apetites de uns sejam satisfeitos em prejuízo do
interesse público. Além disso, a publicidade não apenas constrange
as autoridades públicas a fazerem o que deles é
Mas por que quem exerce o poder em nome de esperado por todos, mas é também valiosa “por
outros precisa de sistema de constrangimentos? ser uma amiga da accountability”, bem como por
Não é meramente uma questão de caráter, encorajar “os cidadãos a deliberar sobre políticas
de forma que a autoridade pública fosse públicas” e por possibilitar “que autoridades
necessariamente menos virtuosa que os cidadãos. aprendam sobre a e da opinião pública”
Trata-se simplesmente do fato de que quem detém (GUTMANN; THOMPSON, 1996, p. 97). Como se vê,
uma grande autoridade estará sempre submetido a publicidade finda por se constituir num sistema
à tentação de abusar dela, isto é, de usá-la em de interface entre os que tomam as decisões
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políticas ou tomam decisões e implementam condição na qual a ação se realizará). Neste


políticas públicas, no interior do Estado, e os sentido, a publicidade como teste intelectual e
cidadãos em geral. Assim, em primeiro lugar, moral parece uma garantia menos firme para o
ela age em favor da responsabilização das desenho de instituições eficazes para evitar que
autoridades (no seu duplo e completar sentido, autoridades sacrifiquem o interesse público em

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de obrigar a autoridade a responder, legal e benefício das suas próprias conveniências.
administrativamente, por seus atos e de obrigá-
la a se explicar por eles): governos invisíveis Da máxima kantiana da publicidade decorre, de
são, literalmente, governos irresponsáveis. A fato, uma ética da argumentação pública e regras

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segunda dimensão da publicidade tem a ver com a normativas sobre a legitimidade da esfera de
valorização da opinião e da vontade dos cidadãos, discussão pública. O que não é pouco para uma
neste caso dotados de insumos (informações teoria democrática coerente, mas certamente não
e conhecimento) para proceder ao escrutínio é muito em termos de formação de instituições
argumentativo dos fatos e feitos da autoridade voltadas para se garantir que ações e decisões
pública “em seu nome”. A terceira dimensão, de indivíduos e grupos que desfrutam do
a esta associada, prende-se ao fato de que a poder público não se desgarrem do interesse
autoridade pública tem, nas arenas da discussão geral da comunidade política. Eis a razão por
gerada e sustentada pela visibilidade dos atos que a noção de e a condição de publicidade
dos agentes públicos, meios e oportunidades (e não as razões públicas) se consolidaram
para considerar o juízo público sobre temas e como parâmetros da qualidade democrática de
fatos em questão. comportamentos e decisões de agentes públicos
na democracia liberal.
Tanto em Kant como em Bentham, a publicidade
é um instrumento para o alinhamento entre o A pensar bem, o conceito de publicidade vem dar
comportamento do indivíduo e as normas morais um novo suporte à clássica aspiração liberal de
gerais voltadas para o benefício de todos. Mas que governos legítimos são apenas os baseados
enquanto Kant concentra a sua atenção no no consentimento dos governados. Já o velho
que pode justificar o valor para todos de um John Locke insistia que era a presença do povo,
determinado comportamento (o fato de ele se na forma de legisladores eleitos supervisionando
apoiar em razões públicas ou razões que todos a coroa, “o melhor guardião da liberdade, vez
os afetados por uma ação poderiam aceitar como que requer que o governo se torne obrigado
válidas), Bentham está concentrado no que pode a responder perante os governados”. Pois
forçar o comportamento individual a ficar nos bem, não é apenas de liberdade que se trata: a
limites do interesse público (a publicidade como premissa de que a coisa que as pessoas mais
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desejam é a liberdade, e que, por conseguinte, exigência, a depender do Estado e do nível de


resistiriam a qualquer esforço do Estado para comprometimento das suas instituições e da sua
dela se assenhorar, tem o seu duplo simétrico cultura política.
no pressuposto de que as pessoas não desejam
ser governadas por potências invisíveis, Dito da maneira mais simples possível, há

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desobrigadas de prestar conta dos seus feitos ou transparência quando há controle cognitivo
de responder pelos seus atos, servindo-se para externo de um ato, ou do que dele resulta, para
isso do segredo ou da reserva. À supervisão do além do agente que o praticou. Por controle
governo por representantes eleitos corresponde, cognitivo entende-se uma adequada compreensão

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de algum modo, a supervisão do Estado por todos de um comportamento ou do seu resultado
os cidadãos, ambos como formas de torná-lo por meio de volumes apropriados de dados,
accountable perante os governados. informações e conhecimento. Há transparência
quando sujeitos independentes do agente ou dos
De volta à transparência agentes públicos que praticaram determinada
ação têm acesso à informação necessária para
A razão pela qual “transparência” tornou- saberem, pelo menos, que ato foi praticado, por
se a expressão preferida para dar conta da quem e com qual escopo.
normatização e institucionalização do princípio
democrático da “publicidade” nos escapa, mas o O nível de transparência alcançado sempre tem
fato é que, hoje, essa é a expressão consagrada a ver com, pelo menos, três dimensões: (a) os
para se falar da condição de exercício da assuntos e âmbitos sobre os quais se podem
autoridade pública sob o controle cognitivo produzir informação pública; (b) a extensão e
alargado dos cidadãos e de instituições externas a qualidade da informação disponível, e (c) o
ao Estado. No estado atual da compreensão do montante de pessoas e de classes de pessoas
conceito, transparência é uma condição e um a quem é permitido acesso a essa informação.
princípio; antes, uma condição que responde Quanto mais extensa e clara a informação
a um princípio moral e democrático. Uma disponível, quanto maior o número de pessoas
condição e um princípio a que se obriga tudo a quem essa informação for disponível,
aquilo em que consiste a atuação em nome do mais transparente será o Estado. Diferentes
povo (de decisões administrativas ao processo administrações públicas, legislaturas ou
legislativo, do gasto às políticas públicas, das configurações do Judiciário podem adotar
sentenças às regulamentações de leis, da decisão diferentes políticas de transparência pública,
policial ao comportamento do agente público), por exemplo, aumentando ou diminuindo o
em maior ou menor grau, com maior ou menor número dos objetos submetidos ao regime de
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transparência, a quantidade da informação valorização do jornalismo e de outros recursos e


disponível e o número de olhos que podem atividades profissionais voltadas para a produção
acompanhar decisões e processos in fieri ou a e distribuição de informação, o crescimento
posteriori. Ou essas variações podem não ser de audiências públicas e de iniciativas de
deixadas simplesmente às ênfases específicas dados abertos e o incremento considerável de

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das autoridades no comando de algum Poder organizações independentes voltadas para a
do Estado e se tornar política da nação, distribuição de informação sobre governos,
materializadas coercitivamente em estruturas sistemas políticos, sistemas financeiros etc.
legais, políticas e institucionais.

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Embora todas as democracias liberais (e até
O compromisso com a publicidade, materializado instituições de Estados não democráticos
em instituições e normas, vem crescentemente e empresas privadas) tenham assimilado o
tornando-se uma marca distintiva de qualidade princípio de publicidade, e até se comprometido
democrática dos Estados contemporâneos. Sem com ele de algum modo, o nível de transparência
mencionar as clássicas emendas constitucionais adotado é sempre dependente de políticas de
sobre a liberdade de expressão e de imprensa, transparência ou de estruturas legais, políticas
leis de acesso a documentos, registros e atas (ou e institucionais que estabelecem o que pode ser
Sunshine Laws), marcos legais sobre a liberdade visto, quando e como pode ser visto e por quem
de informação e, por último, as iniciativas e (por quantos) pode ser visto. Afinal, segredo,
projetos internacionais de “governo aberto” reserva e privacidade continuam valores ativos,
(OPEN GOVERNMENT DIRECTIVE, 2009), mesmo em regimes estritamente liberais. Demais
com todas as consequências implicadas, são disso, é evidente que atores sociais fortes tendem
exemplos claros da onda mundial de adesão ao a se eximir das obrigações e constrangimentos
compromisso com a transparência pública. Por que os regimes de publicidade comportam, e há
fim, a tendência para maior transparência não se uma perene tensão política entre a publicidade
limita às decisões no Estado, mas ultimamente que se deseja e a publicidade que se consegue. O
se estende para incluir instituições como bancos fato de nunca se ter falado tanto de transparência
centrais e até mesmo empresas privadas, inclusive como agora não implica que a transparência não
as estrangeiras operando no território de um país enfrente desafios cada vez maiores.
(FINEL; LORD, 1999).
Além disso, há a questão do “momento” da
A tendência contemporânea para a transparência transparência. Aos deliberacionistas, como James
tem incluído o reforço dos mecanismos que Bohman (BOHMAN, 1996, 1999), Amy Gutmann
levam a mais abertura do Estado, em que há e Dennis Thompson (GUTMANN; THOMPSON,
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1996), por exemplo, a ideia que lhes parece Os cidadãos, partícipes da decisão que lhes é
mais agradar é a da publicidade como condição apresentada previamente, têm confirmada a
da discussão alargada dos cidadãos na esfera sua convicção sobre as regras da boa conduta
pública. Neste sentido, a ideia de uma publicidade republicana; 3) Razões públicas antecipadas
ou transparência que se aplique a posteriori, supõem e firmam o respeito recíproco entre

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isto é, sobre atos, normas e decisões já tomadas, as partes da sociedade, mesmo no que tange a
parece como que desprovida de certas qualidades desacordos morais permanentes, e ajudam a
essenciais. A transparência que estamos aqui construir canais de recíproco esclarecimento; 4)
qualificando como a posteriori não apenas não Autoridades e grupos da sociedade podem mudar

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evita o dano já praticado pela autoridade que a sua própria opinião, diante de razões públicas
tomou a decisão errada ou injusta nem repara antecipadas para uma política.
o fato de que cidadãos inocentes já possam ter
sofrido por ela, mas, sobretudo, não garante o Por mais que se reconheça o valor de razões
que, para os deliberacionistas, a transparência, públicas apresentadas previamente à tomada
ao fim e ao cabo, deveria assegurar – que os da decisão política ou à implementação de
cidadãos decidam, juntos, que tipo de políticas uma política pública, seria pouco razoável
eles desejam. Desta forma, o melhor momento imaginar que grandes decisões legislativas e
para a efetividade de um regime de transparência administrativas e programas e normas de ações
é quando práticas e políticas estão em processo, que compõem políticas públicas são os únicos
estão acontecendo2. objetos que seria prudente imaginar submetidos
a um regime rigoroso de transparência pública.
Os deliberacionistas apresentam quatro bons Não apenas porque há decisões sobre ações que
argumentos para defender a transparência simplesmente não podem ser submetidas a um
in fieri (ou apresentação pública antecipada processo de antecipação e discussão de razões
das justificativas de uma política) versus uma (pense-se no conjunto contínuo de decisões
transparência a posteriori (através de relatórios administrativas tomadas diariamente no Estado),
e da prestação pública de contas) (GUTMANN; não somente porque há decisões que, embora
THOMPSON, 1996 p. 101). São elas: 1) O consenso tenham publicadas as suas justificativa, não
antecipado a uma política pública é a forma estão submetidas à deliberação pública (decisões
eminente de garantir-lhe legitimidade e de tornar judiciais, algumas decisões legislativas), mas
possível a cooperação dos outros cidadãos; 2) sobretudo porque não haveria ganhos para a

2   “To fulfill the purposes of deliberation in a democracy, it is not enough that policy could be justified. The political process of
justification itself shapes in several ways the nature and validity of the reasons that officials give” (GUTMANN; THOMPSON, 1996).
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democracia em deixar de solicitar transparência depois da ação praticada. A avaliação pública,


a posteriori de tudo o que diga respeito às como parte do processo de produção de boas
decisões tomadas, por quem de direito, no que decisões políticas, parece-nos inquestionável na
se refere aos negócios públicos. Neste sentido, maioria dos casos de produção de decisão política,
relatórios, balancetes, atas, depoimentos e outras mas a revisão pública a posteriori, por meio

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respostas que órgãos responsivos do Estado têm da qual outros órgãos do Estado e os próprios
que apresentar sob regime de transparência, cidadãos podem realizar uma avaliação das
têm tanto valor para o reforço do poder relativo decisões tomadas, com possibilidade, inclusive de
dos cidadãos perante a autoridade pública desaprovação das políticas e das decisões, além da

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quanto a possibilidade de discutir os assuntos responsabilização dos envolvidos, é fundamental
públicos quando as decisões políticas ainda para a democracia.
não foram tomadas. Afinal, government based
on the consent of the governed e accountable Caracterizando a transparência
government são, por assim, dizer, duas faces da
mesma moeda. Se sairmos do território da ideia de transparência
na direção da caracterização dos tipos e modelos
Se concebemos que, para uma política pública de transparência adotados, entretanto, teremos
ou uma lei, não é suficiente que sejam apenas que começar a fazer distinções e a estabelecer
relatadas e justificadas a posteriori, para escalas de intensidade. E há aqui várias
muitos outros atos do governo, da burocracia clivagens importantes para que se possa de
da administração pública, do legislativo ou do fato caracterizar o regime de transparência
judiciário é suficiente que a ação e o agente existente em um determinado Estado, governo,
público que a praticou sejam obrigados a regimes instituição ou organização.
de transparência e submetidos às sanções que
deles decorrem. Dito de outro modo, entendemos Quem pode ver? Se começarmos com a questão
que políticas públicas, principalmente as que transparente para quem?, por exemplo,
envolvem grandes projetos e programas, precisem teremos que decidir sobre as categorias de
ser discutidas em um processo de deliberação audiências ou públicos cujo acesso é autorizado,
pública, antes de serem implementadas. Mas ou requerido, às informações sobre as ações
entendemos, também, que as autoridades de autoridades e funcionários públicos, em
eleitas, os gestores nomeados e os funcionários particular, e sobre quaisquer dados reunidos e
envolvidos tenham que dar explicações públicas organizados pelo Estado, em geral. Neste sentido,
sobre suas decisões, ações e práticas sempre a expressão “transparência pública” pode ser
que forem solicitados a tanto, mesmo que seja consideravelmente ambígua, uma vez que há
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transparência pública quando a informação legais e institucionais para tanto (portanto,


está disponível principalmente para os órgãos e livrando-o do arbítrio do poder discricionário do
instituições de controle horizontal no interior do agente público) é tarefa a que hoje se impõem
próprio Estado ou quando o destinatário primário Estados nos quais a tendência à transparência é
da informação é o cidadão em geral. Isso acontece consistentemente levada a sério. Isso se justifica

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porque, geralmente, o adjetivo “público” refere-se porque, como visto, a ideia de uma pirâmide de
à fonte da informação (o Estado, no todo ou em acesso demasiado restritiva, no que diz respeito ao
suas partes) e não ao destinatário dela. conjunto dos cidadãos, parece incompatível, por
princípio, com a ideia de um governo responsivo.

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De qualquer forma, como sabemos, há diferentes
esferas de destinatários, ou “públicos”, da O que pode ser visto? A segunda pergunta
informação pública: órgãos de controle, o Poder diz respeito ao objeto da transparência: o que
Judiciário, o Poder Legislativo por meio de a transparência deixa ver? Há, certamente,
comissões específicas, por exemplo, governantes níveis variados de compromisso dos Estados
eleitos e titulares de pastas na administração com o princípio da publicidade e com a prática
pública, especialistas, membros de comitês da transparência pública que produzem esferas
nomeados pelo próprio governo, os cidadãos mais ou menos intensas de transparência. No
do país, qualquer pessoa. Os que têm acesso à Brasil, o Judiciário, por exemplo, é um âmbito
informação, em diferentes formas, distribuem- do Estado com notável poder de demandar
se de forma piramidal, vez que apenas alguns transparência dos outros Poderes, mas um zeloso
têm a prerrogativa de disporem de informações guardião da própria opacidade, temeroso de que
completas e contínuas sobre tudo (em geral, a transparência possa tornar os seus agentes
órgãos de controle, p. ex.)3. Além disso, há vulneráveis à opinião pública. A administração
aqueles públicos para os quais essa informação é pública federal sofre maiores constrangimentos
garantida por estruturas legais, posição política e à transparência do que os Executivos estaduais e
institucional, e aqueles que dependem de políticas municipais, por exemplo. Mesmo na administração
adotadas por titulares de governos, órgãos ou pública, há setores mais ou menos transparentes.
repartições. A tarefa de incluir o cidadão comum Aqui também, o incremento do objeto da
como o destinatário do máximo possível de transparência pública, reduzindo ao mínimo
informação qualificada, assegurando-lhe garantias necessário a opacidade do Estado, é uma tarefa

3   Por razões de espaço, restringimos a exemplificação da transparência no Setor Público, mas certamente o discurso inclui
igualmente a estratificação piramidal dos públicos pelos níveis de autorização de acesso à informação (de “aberta” a
“confidencial” ou “secreta”). Auditores, boards, acionistas e clientes/consumidores são distribuídos na “pirâmide dos níveis de
acesso” em organizações e instituições privadas de maneira análoga ao que acontece em setores do Estado.
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importante para a construção de governos O terceiro tem por objeto medidas mais gerais de
responsivos, mas o movimento mais audacioso transparência governamental ou administrativa,
consiste em retirar a decisão sobre o que deve e refere-se às informações relativas ao modo de
ser aberto do poder discricionário de gestores e funcionamento do governo e tem seu amparo
funcionários e transferi-las para a norma legal. legal na Lei nº 12.527/2011. A transparência

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governamental ou administrativa representa
No caso brasileiro, são notáveis alguns as formas de organização e processo para
empreendimentos nesta direção. O primeiro é permitir a reversibilidade completa da troca
relacionado à contabilidade pública e corresponde de informações entre cidadãos e governo. O

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ao que podemos chamar de “transparência fiscal”. objeto aqui é o acesso às informações que
Refere-se às informações relativas às receitas estão sob o poder dos órgãos em relação aos
(arrecadação) e às despesas (gastos) do governo, cidadãos e à instituição governamental. Diz
por determinação da Lei Complementar (LC) nº respeito a informações sobre a organização
101/2000, que estabelece que a União, os Estados e o funcionamento do governo. Por exemplo,
e os Municípios são obrigados a dar ampla atribuições e responsabilidades da equipe
divulgação, inclusive em meios eletrônicos de diretiva ou informações explicativas sobre o
acesso público, a seus planos, orçamentos e leis processo de aprovação de leis. Em maio de
de diretrizes orçamentárias, a suas prestações de 2012 foi publicado o Decreto nº 7.724, que
contas e ao respectivo parecer prévio e, por fim, tem como finalidade definir os procedimentos
ao relatório resumido da execução orçamentária que garantam o acesso à informação e a
e do relatório de gestão fiscal. A Lei impõe às classificação de informações no âmbito do
administrações públicas a obrigação de apresentar Poder Executivo Federal.
a origem dos fundos e a sua destinação no
contexto da ação pública, por meio de documentos O mais recente exercício de trazer para a
financeiros oficiais das autoridades e de esfera legal o imperativo da transparência foi
mecanismos de verificação externa de relatórios. a aprovação do Decreto nº 8.777/2016, que
instituiu a política de dados abertos do poder
O segundo trata da obrigatoriedade de publicar em executivo federal. Essa iniciativa mostra-se
tempo real (até o primeiro dia útil subsequente à como uma forte promessa de alargamento da
data de registro contábil no sistema de controle) publicidade e de novas possibilidades de uso e
as informações relativas à execução orçamentária reuso da informação pública.
e financeira de receitas e despesas em meio
digital de acesso público. Estamos falando LC nº No conjunto, alcançamos certo nível de
131/2009, que alterou o artigo 48 da LC 101/2000. transparência pública, que, se não nos torna um
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exemplo de país governado por sunshine laws, ao instituição ou organização. Insistimos que há
menos nos afasta do padrão dos regimes opacos transparência apenas quando há informação
dominados pelo patrimonialismo e todas as suas sobre os atos que se praticam em volume e
consequências. Temos um bom nível de disclosure qualidade suficientes para que um “olhar externo”
nos processos em que as decisões governamentais (“externo”, evidentemente, à órbita dos agentes)

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e estatais são tomadas, se bem que militares, possa formar uma adequada compreensão da
governos e ministros podem suprimir ou ação praticada. A este ponto acreditamos ser
dificultar o acesso a informações. Há um fluxo claro que a informação que produz transparência
razoável de informação proveniente do governo – não se destina simplesmente à mesma esfera que

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informação relativamente precisa sobre reuniões a produz: toda transparência é uma introdução
governamentais, audiências e outros eventos e de um regime de heteronomia numa esfera
atividades oficiais estão publicamente disponíveis, geralmente autônoma. A autonomia produz esprit
mas relatórios e documentos críticos ao governo, de corps, autoindulgência, redes de complacência
nem tanto. Os partidos de oposição supervisionam recíproca, compadrio etc., que só podem ser
o governo, embora haja tensão permanente entre rompidos por meio do olhar heterônomo. Dada
informação solicitada e informação tornada a premissa, a questão prática a este ponto é:
disponível. A nossa imprensa é livre, bastante quem produz, reúne e organiza as informações
plural e consideravelmente influente no debate necessárias para que um olhar heterônomo se
sobre políticas e ações de governo. E temos torne possível? Esta é a questão das fontes da
um alto grau de debate público alargado sobre informação usadas em regimes de transparência.
políticas, decisões e ações do governo por meio
de partidos bem mobilizados, grupos de interesse Quando há normas e bases legais para sanções, a
e por meio dos cidadãos em geral. Mas, embora resistência a abrir mão da autonomia em favor da
tenhamos caminhado aceleradamente para a transparência tende a ser vencida, ou os custos
institucionalização e a legalização do acesso à que a resistência paga são tão altos que ela tende
informação, a transparência consistentemente a ser praticada apenas quando as recompensas
esbarra em cotas iníquas de poder discricionário cobrem os riscos. Quando há apenas diretivas
ainda em mãos dos gatekeepers do Estado. baseadas em princípios gerais e recomendadas à
boa vontade dos agentes, a autonomia fatalmente
Qual é a fonte da informação? Partimos neste prevalece sobre a heteronomia, e os sistemas
artigo de um conceito de transparência que inclui se fecham. Há, claro, outros fatores em jogo,
necessariamente o controle cognitivo sobre as como a cultura política (valores e significados
ações (e sobre o que delas resulta) praticadas compartilhados socialmente), qualidade das
por um determinado agente em um governo, instituições de controles e do sistema de pesos
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e contrapesos que funcionam no Estado. E há, sistema de produção e difusão de informações


sobretudo, os sistemas peritos em produzir sobre governos e organizações baseado em
informações aptas ao controle cognitivo das coleta de informação por meio de documentos,
instituições à revelia dos seus agentes, o que depoimentos e apuração. Embora possa se
inclui desde outros setores do Estado com apoiar em cooperação de fontes e informantes

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poder de investigação e inquérito, passando de dentro das instituições, o jornalismo, e não
pelo jornalismo investigativo e chegando até as os agentes, é quem produz as narrativas que
práticas de vazamento de documentos e dados dão sentido aos fatos e explicam antecedentes
confidenciais por parte de insiders que se rebelam e consequentes. Diferentemente dos órgãos

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contra o corporativismo ou fazem retaliações que de accountability horizontal, o jornalismo
se explicam por redes de alianças e inimizades. não conta geralmente com a ajuda de leis que
aumentem o “nível de acesso” dos jornalistas à
Neste quadro, Tribunais de Contas, por informação ou que lhe conceda direitos de receber
exemplo, uma vez que há leis determinando que relatórios e balancetes produzidos por agentes
informações e quais informações lhes devem ser dos próprios governos e organizações, devendo
prestadas pelos agentes públicos, funcionam coletar e organizar a informação necessária para
à base de dados cuja fonte são os próprios permitir ao público um olhar heterônomo sobre a
agentes que fiscalizam. O controle para garantir conduta das instituições. No máximo, o jornalista
a contenção da autonomia das fontes (e a pode entrar pelas mesmas portas e janelas que
fidedignidade da informação prestada) é dado por Sunshine Laws abrem para os cidadãos em geral,
prescrições legais, dentre as quais se incluem as obviamente fazendo um melhor uso, em virtude da
penas aplicadas quando do descumprimento da competência técnica dos ambientes profissionais
norma. Outros órgãos (CPIs, Ministério Público) do jornalismo, dos dados (geralmente brutos)
têm acesso irrestrito às informações públicas, obtidos do sistema.
mas não esperam das instâncias internas todos
os dados de que necessitam, sendo necessário Por essas mesmas portas e janelas é que podem
instaurar inquéritos e procedimentos de entrar as organizações não governamentais
investigação. Neste caso, prevalece a irrupção especializadas em coletar dados abertos e em
heterônoma uma vez que não se pode esperar produzir interfaces e outputs inteligíveis para os
completo provimento de informação confiável de cidadãos. Esses novos atores só puderam existir
quem se suspeita. e se multiplicar quando dados abertos, governos
abertos e leis de acesso apareceram como resposta
Na mesma linha da busca ativa de informação se típica às pressões, inclusive internacionais, por
coloca o jornalismo investigativo e qualquer outro mais transparência pública. Cada um a seu modo,
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jornalismo e organizações não governamentais 2014; MCDERMOTT, 2010; MEIJER; CURTIN;


dedicadas à transparência pública são hoje dois HILLEBRANDT, 2012; MESKELL, 2009). O
sistemas importantes, externos e independentes governo aberto é a mais nova materialização do
dos Estados e das suas instituições, encarregados clássico princípio liberal da publicidade, ainda
de jogar luz sobre o comportamento dos agentes entendido como meio de produção de governos

ID 1446
públicos, especializados, portanto, em uma responsivos e baseados no consentimento dos
espécie de transparência que é heterônoma seja governados, mas em um contexto de explosão
como posição institucional (fora do Estado) seja e consolidação de dados e comunicações
como fonte de informação. digitais. Instrumento fundamental do governo

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aberto e parte essencial da sua ancoragem em
No meio do caminho entre autonomia e ambientes quase integralmente digitais são os
heteronomia, estão formas muito recentes de chamados open data ou dados públicos abertos4
cooperação entre instâncias do Estado – como (SHADBOLT et al., 2012).
governos e parlamentos, mas também ministérios
e secretarias – e pessoas, membros ou não de Transparência Digital
organizações e coletivos externos ao Estado,
dotadas de expertise no acesso e no tratamento A e-transparência (ou eTransparência) é
de dados públicos digitais. A condição de uma linha de pesquisa nova e promissora no
possibilidade desta cooperação foi dada pela âmbito dos estudos sobre publicidade pública e
mais recente onda de transparência pública, transparência (AMORIM, 2012; ALMADA 2017).
materializada no chamado open government, um Analogamente ao tema da eParticipação, cuja
conjunto integrado de marcos legais, projetos e pesquisa é naturalmente bem mais consolidada, o
iniciativas, altamente incentivado por governos prefixo “e-“ indica apenas que o substantivo que se
e organismos multilaterais, cujo fim é produzir segue limita-se ou circunscreve-se ao universo dos
instituições do Estado com a mais ampla escala dados e informações digitais (SAMPAIO, 2014).
de acessibilidade a dados e informações públicas A transparência digital, basicamente, é aquela
(HARRISON et al., 2012; LINDERS; WILSON, produzida que emprega recursos ou meios digitais
2011; LUNA-REYES, BERTOT; MELLOULI, (HEALD, 2006; MARGETTS, 2006; MEIJER, 2009).

4   Por trás da ideia de dados abertos está, antes de tudo, uma prescrição normativa, segundo a qual governos democráticos devem
abrir os seus dados, isto é, devem abrir acesso praticamente aos dados que o Estado reúne e estoca. Naturalmente, não se deve
pensar que todos os dados abertos sejam informações sobre o comportamento de agentes públicos e destinados a promover um
olhar heterônomo sobre quem toma decisões “em nome do povo”. Os Estados em geral têm o maior número de instrumentos
para produzir informações sobre praticamente tudo, de epidemias a taxas de juros, de inflação ao fluxo de transporte público, de
número de nascimentos e óbitos a estatísticas eleitorais. Nem tudo é, tecnicamente, utilizável para transparência pública, mas
tudo é dado público que pode servir aos cidadãos e às organizações para melhorar a vida de todos.
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Aparentemente, isso significa muito pouco, vez 2. Novos projetos e iniciativas que integram
que as práticas e comportamentos humanos são transparência e participação cidadã hoje
principalmente analógicos, mas, em um mundo se baseiam na internet. De orçamentos
em acelerada digitalização e hiperconectado, em participativos digitais a projetos em que
pouco tempo não fará mais sentido distinguir políticos, representantes eleitos e titulares

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entre transparência off-line e eTransparência. da administração pública são compelidos
a vir a público apresentar e discutir
De qualquer forma, o objeto precípuo da atenção razões de Projetos de Lei ou de políticas
aqui consiste em entender como facilidades públicas, antecipadamente ou a posteriori,

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e instrumentos de comunicação em meios as melhores novidades neste campo são
digitais, como projetos e iniciativas de natureza iniciativas digitais.
digital e como bancos de dados informatizados
podem contribuir para produzir mais e melhor 3. Novos instrumentos e recursos para a
transparência em governos, instituições e produção de transparência são apoiados
organizações. O que já se pode antecipar, de forma na mineração de dados (data mining)
sumária, sobre o estado da transparência digital? e nos aplicativos de monitoramento,
raspagem de dados (data scraping) etc.,
1. A mais recente tendência em termos que permitem que fontes heterônomas
de transparência tem como foco ações possam coletar e organizar informações
baseadas na internet. Os princípios da mesmo sem cooperação interna dos sistemas
Open Government Initiative, as mais monitorados. Estamos apenas no começo
recentes leis de acesso, diretrizes e normas de uma era de ouro do monitoramento de
de organismos multilaterais, novas leis agentes e agências públicas e de instituições
relacionadas à transparência fiscal de e corporações públicas e privadas, a partir
governos e órgãos da administração pública, dos rastros digitais que hoje todos nós,
todas se apoiam fortemente na ideia de que inadvertidamente, deixamos para trás, seja
a boa transparência deve implicar acesso para fins malignos (como a espionagem), seja
irrestrito, o que significa em divulgação para fins benignos, como a transparência
e disponibilidade de dados, relatórios, produzida de forma heterônoma.
aplicativos de interface etc. em sites web e
plataformas de comunicação digital. Neste Por outro lado
sentido, a Lei de Responsabilidade Fiscal
brasileira já responde à nova tendência de Se é evidente, como parece a todos, que o princípio
e-transparência. da publicidade e a sua materialização em regimes
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de transparência são definitivamente valores maneira adequada, isto é, com razões públicas.
importantes na produção de governos baseados Os envolvidos na prática secreta devem, em
nos governados e de governos responsivos aos algum momento, dar razões das práticas secretas,
cidadãos, também neste caso há o outro lado, que “respondendo às questões que desafiam tais
precisa ser considerado. razões e concordando em agir de acordo com

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os resultados dessas e de outras deliberações
Antes de tudo, o princípio da publicidade não é tão públicas” (GUTMANN; THOMPSON, 1996, p. 105).
simples de justificar, como parece à primeira vista,
vez que o segredo também pode se demonstrar Em segundo lugar, nem tudo são contentamentos

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um valor democrático – e pelas mesmas razões. no reino da transparência. Em princípio, a
Há razões utilitaristas (algumas práticas, que transparência deveria ter como resultado o
irão promover o maior bem ao maior número de incremento no nível de confiança dos que têm
pessoas, podem fracassar se não forem secretas), acesso às informações na instituição, organização
mas também há razões kantianas (privacidade, ou governo transparente. A transparência é, afinal,
reserva, confidencialidade, que dependem de um ato de coragem porque inicia de algum modo
segredo, estão a fundamento da liberdade)5. tornando vulnerável aquele que toma a decisão e
a decisão por ele tomada. O controle e, portanto,
A questão, porém, é que, se o segredo e, até o poder, passa, de algum modo, para o outro lado,
mesmo, a dissimulação podem se justificar em para o lado de quem olha em vez do lado de quem
certos casos e acerca de certos objetos: a) a age. Se o agente é transparente é porque assume
decisão secreta não pode ser uma falha moral a obrigação de ter que prestar contas e poder
e, sobretudo, não pode ser essa sua falha moral ser repreendido pelas decisões tomadas, logo, se
a razão pela qual ela precisa ser mantida em garante. Mas nada é simples como parece ser, e a
segredo para ser efetiva. Se a política tiver uma transparência pode se transformar numa crise de
falha moral, o segredo ajuda a escondê-la para confiança no objeto da transparência.
torná-la eficaz, mas a falha moral continua. O
segredo republicanamente justificado não pode A variável a se controlar aqui é o que
servir para isso; b) mesmo quando o segredo se a transparência nos permite capturar.
faz necessário, não desaparece a obrigação de que Naturalmente, falamos aqui da transparência
em algum momento e para alguém diferente dos a posteriori, da revisão pública da decisão
envolvidos a decisão tenha que ser justificada de ou ação já praticadas. Governo, instituições e

5   Em artigo em que defende a ocultação, o encobrimento (concealment) como “condição da civilização”, Thomas Nagel (NAGEL,
1988, p. 4), por exemplo, insiste que este “Concealment includes not only secrecy and deception, but also reticence and
nonacknowledgement.”
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organizações transparentes só continuarão a ser estudos mais aprofundados para entender a fase
consideradas confiáveis se o que a transparência de “crise de confiança” na passagem de regimes
revelar for uma contínua e tranquilizadora patrimonialistas e governos opacos para regimes
percepção de comportamentos impecáveis ou, responsivos e governos abertos. O Brasil é,
no mínimo, objeto de pequenas falhas. Se, ao certamente, um laboratório a céu aberto.

ID 1446
contrário, a transparência, principalmente quando
não é oferecida pelos agentes e instituições, Referências
mas arrancada à custa de investigação ou ALMADA, M. P. Avaliação da eTransparência em
vazamentos, trouxer-nos informações sobre Portais de Governos Nacionais: Uma Comparação
entre Brasil, Estados Unidos e Reino Unido. Tese

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condutas escandalosas e práticas chocantemente
(Doutorado em Comunicação Social) – Programa
inapropriadas, a confiança no governo, instituição
de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura
ou organização é substituída imediatamente por Contemporâneas, Universidade Federal da Bahia, 2017.
desconfiança, suspeita e rejeição.
AMORIM, P. K. Democracia e Internet: a
transparência de gestão nos portais eletrônicos das
Não é que as pessoas deixem de gostar da capitais brasileiras. Tese (Doutorado em Comunicação

transparência, o que não gostam é daquilo Social) – Programa de Pós-Graduação em Comunicação


e Cultura Contemporâneas, Universidade Federal da
que a transparência lhes permite divisar em
Bahia, Salvador, 2012.
certos casos. Neste caso, a instituição perderá a
BASTIDA, F.; BENITO, B. Central government budget
confiança e o apreço geral, sendo ela transparente
practices and transparency: An international
ou não. O que significa que a transparência não comparison. Public Administration, v. 85, n. 3, p.
protege governos, instituições e organizações da 667–716, 2007. DOI: 10.1111/j.1467-9299.2007.00664.x
desconfiança e do desapreço público; ao contrário, BENTHAM, J. Of Publicity. Chap 2 of Essay on
podem aumentar exponencialmente o risco de Political Tactics. In The Works of Jeremy Bentham.
ambos quando as decisões e os comportamentos Edinburgh: William Tait, 1839.

aí adotados forem considerados incompatíveis BOHMAN, J. Public Deliberation: Pluralism,


com o interesse público. Eis por que não há Complexity and Democracy. Cambridge: The MIT
Press, 1996.
vantagens na transparência para sistemas
políticos ou políticas organizacionais apoiadas em _______. Citizenship and Norms of Publicity:
Wide Public Reason in Cosmopolitan Societies.
patrimonialismo, clientelismo e fisiologismo. Por
Political Theory, v. 27, n. 2, p. 176–202, 1999.
outro lado, a crise de confiança nas instituições
doi:10.1177/0090591799027002002
transparentes pode se estender para uma crise de
BRASIL. Lei complementar nº 101, de 4 de maio de
confiança no governo ou na própria democracia,
2000. Brasília: Presidência da República. Disponível
o que pode levar governos a se fecharem ainda em: <http:///www.planalto.gov.br/ccivil/leis/LCP/
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| E-ISSN 1808-2599 |

New challenges for the Nuevos desafíos para la idea


idea of transparency de transparencia pública
Abstract Resumen
The research in transparency has been refreshed La investigación en transparencia ha sido
object of study in many different academic areas. revigorizado objeto de estudio de las más diversas

ID 1446
The public debate on transparency, although, áreas académicas. El debate público sobre
becomes complicated by a set of concepts and other transparencia se ve complicado por un conjunto
entries (such as publicity and accountability) that de otros conceptos y verdades (como publicidad
compete with it, overlap it, gain new connotations y accountability) que con él concurren, a él se
and emphases. This theoretical work aims: to order superponen, ganan nuevos énfasis. Este trabajo de
the plurality of terms and concepts through which cuño teórico tiene el objetivo de ordenar la pluralidad

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the public transparency is referred in the literature; de términos y conceptos mediante los cuales la
to define and detail public transparency and its transparencia pública es referida en la literatura
dynamics in the practices and conduct of governments especializada; definir y detallar la transparencia
and institutions; to suggest the place of resources and pública y sus dinámicas en las prácticas y conductas
environments of digital communication in the future of de gobiernos e instituciones; sugerir el lugar de los
the debate on public transparency. recursos y ambientes de la comunicación digital en el

Keywords futuro del debate sobre transparencia pública.

Democracy. Public Transparency. Publicity. Palabras-clave


Democracia. Transparencia. Publicidad.
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Expediente E-COMPÓS | www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599


Revista da Associação Nacional dos Programas
A revista E-Compós é a publicação científica em formato eletrônico
de Pós-Graduação em Comunicação.
da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Brasília, v.21, n.2, maio/ago. 2018.
Comunicação (Compós). Lançada em 2004, tem como principal A identificação das edições, a partir de 2008,
finalidade difundir a produção acadêmica de pesquisadores da área passa a ser volume anual com três números.
de Comunicação, inseridos em instituições do Brasil e do exterior. Indexada por Latindex | www.latindex.unam.mx

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CONSELHO EDITORIAL
Ada Cristina Machado Silveira, Universidade Federal de Santa Maria, Brasil Karla Covarrubias, Universidad de Colima, México
Alda Cristina Silva da Costa, Universidade Federal do Pará, Brasil Laura Loguercio Cánepa, Universidade Anhembi Morumbi, Brasil
Alfredo Luiz Paes de Oliveira Suppia, Universidade Estadual de Campinas, Brasil Leonel Azevedo de Aguiar, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil
Ana Regina Barros Rego Leal, Universidade Federal do Piauí, Brasil Letícia Cantarela Matheus, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Ana Carolina Rocha Pessôa Temer, Universidade Federal de Goiás, Brasil Ling Chen, Hong Kong Baptist University
André Luiz Martins Lemos, Universidade Federal da Bahia, Brasil Luciana Coutinho Souza, Universidade de Sorocaba, Brasil

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Angela Cristina Salgueiro Marques, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil Maria Ataide Malcher, Universidade Federal do Pará, Brasil
Ângela Freire Prysthon, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil Maria Elena Hernández Ramírez, Universidad de Guadalajara, México
Anna Cristina Pertierra, Western Sidney University - Australia Maria Elisabete Antonioli, Escola Superior de Propaganda e Marketing – SP, Brasil
Antonio Carlos Hohlfeldt, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil Maria das Graças Pinto Coelho, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil
Arthur Ituassu, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil Maria Teresa Quiroz, Universidad de Lima, Peru
Bruno Campanella, Universidade Federal Fluminense, Brasil Marialva Carlos Barbosa, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Bushra Rahman, University of the Punjab, Paquistão Marina Poggi, Universidad Nacional de Quilmes, Argentina
Cláudio Novaes Pinto Coelho, Faculdade Cásper Líbero, Brasil Marcel Vieira Barreto Silva, Universidade Federal da Paraíba, Brasil
Cárlida Emerim, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Marcia Tondato, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil
Carlos Del Valle Rojas, Universidad de La Frontera, Chile Marli Santos, Universidade Metodista de São Paulo, Brasil
Carlos Eduardo Franciscato, Universidade Federal de Sergipe, Brasil Márcio Souza Gonçalves, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Danilo Rothberg, Universidade Estadual Paulista, Brasil Mateus Yuri Passos, Universidade Metodista de São Paulo, Brasil
Denise Tavares da Silva, Universidade Federal Fluminense, Brasil Mauricio Mario Monteiro, Universidade Anhembi Morumbi, Brasil
Diógenes Lycarião, Universidade Federal do Ceará, Brasil Mayka Castellano, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Doris Martines Vizcarrondo, Universidad de Porto Rico, Porto Rico Mirna Varela, Universidad de Buenos Aires, Argentina
Eduardo Vicente, Universidade de São Paulo, Brasil Mozahir Salomão Bruck, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil
Eliza Bachega Casadei, Escola Superior de Propaganda e Marketing – SP, Brasil Neyla Pardo, Universidad Nacional de Colombia, Colombia
Elvira Gomes dos Reis, Universidade do Cabo Verde, Cabo Verde Nísia Martins Rosario, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Eneus Trindade, Universidade de São Paulo, Brasil Olga Guedes Bailey, Nottingham Trent University, Inglaterra
Erick Felinto de Oliveira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Paolo Demuru, Universidade Paulista, Brasil
Erick Torrico, Universidad Andina Simón Bolívar, Bolívia Paolo Peverini, L.O.U.I.S.S de Roma, Itália
Erly Vieira Júnior, Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil Paško Bilić, Institute for Development and International Relations, Croácia
Fabio La Rocca, Université Paul Valéry Montpellier III, França Paula Melani Rocha, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil
Fernando Firmino da Silva, Universidade Federal da Paraíba, Brasil Potiguara Mendes Silveira Jr, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil
Francisco de Assis, FIAM-FAAM Centro Universitário, Brasil Priscila Ferreira Perazzo, Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Brasil
Francisco Elinaldo Teixeira, Universidade Estadual de Campinas, Brasil Rafael Cardoso Sampaio, Universidade Federal do Paraná, Brasil
Francisco Gilson R. Pôrto Jr., Universidade Federal do Tocantins, Brasil Rafael Tassi Teixeira, Universidade Tuiuti do Paraná, Brasil
Francisco Sierra Caballero, Ciespal, Equador Regiane Lucas Garcês, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
Frederico de Mello Brandão Tavares, Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil Regiane Regina Ribeiro, Universidade Federal do Paraná, Brasil
Gabriela Reinaldo, Universidade Federal do Ceará, Brasil Renata Pitombo Cidreira, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Brasil
Gérman Rey, Pontifícia Universidad Javeriana, Colômbia Renato Essenfelder, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil
Gilson Vieira Monteiro, Universidade Federal do Amazonas, Brasil Roberto Elísio dos Santos, Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Brasil
Gustavo Daudt Fischer, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil Robson Borges Dias, Universidade Católica de Brasília (UCB), Brasil
Gustavo Hernández Díaz, Universidad Central de Venezuela, Venezuela Rodolfo Rorato Londero, Universidade Estadual de Londrina, Brasil
Heidi Figueroa Sarriera, Universidad de Puerto Rico, Porto Rico Rosario Sánchez Vilela, Universidad Católica del Uruguay, Uruguai
Ignacio Aguaded, Universidad Huelva, Espanha Roseli Figaro, Universidade de São Paulo, Brasil
Inesita Soares de Araújo, FIOCRUZ, Brasil Saima Saeed, Jamia Millia Islamia, India
Itania Maria Mota Gomes, Universidade Federal da Bahia, Brasil Sara Brandelero, Leyden University, Holanda
Jiani Adriana Bonin, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil Simone Maria Andrade Pereira de Sá, Universidade Federal Fluminense, Brasil
João Carlos Correia, Universidade de Beira Interior, Portugal Sônia Caldas Pessoa, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
Jonathan Cohen, da University of Haifa, Israel Sun Sun Lim, Singapore University of Technology and Design, Singapura
José Afonso da Silva Junior, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil Tatiana Oliveira Siciliano, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil
José Luiz Aidar Prado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil Thaïs de Mendonça Jorge, Universidade de Brasília, Brasil
Josette Maria Monzani, Universidade Federal de São Carlos, Brasil Valquiria Michela John, Universidade Federal do Paraná, Brasil
Juçara Gorski Brittes, Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil Vicki Mayer, Tulane University, Estados Unidos
Julián Durazo Herrmann, Université du Québec à Montréal Yamile Haber Guerra, Universidad de Oriente, Cuba
Juliana Freire Gutmann, Universidade Federal da Bahia, Brasil
www.e-compos.org.br
| E-ISSN 1808-2599 |

CONSELHO CIENTÍFICO
Cristiane Freitas Gutfreind, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil | Eduardo Antônio de Jesus, Universidade Federal de Minhas Gerais, Brasil
| Eduardo Morettin, Universidade de São Paulo, Brasil | Irene de Araújo Machado, Universidade de São Paulo, Brasil | Miriam de Souza Rossini, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Brasil

COMISSÃO EDITORIAL
Igor Pinto Sacramento, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil | Kelly Cristina de Souza Prudencio, Universidade Federal do Paraná, Brasil | Osmar
Gonçalves dos Reis Filho, Universidade Federal do Ceará, Brasil | Rafael Grohmann, Faculdade Cásper Líbero, Brasil | Thaiane Moreira de Oliveira, Universidade
Federal Fluminense, Brasil (editores associados)

ID 1446
CONSULTORES AD HOC
Alessandro Constantino Gamo, Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) | Amanda Mauricio Pereira Leite, Universidade Federal do Tocantins (UFT) | Amílcar
Almeida Bezerra, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) | Ana Carolina Damboriarena Escosteguy, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) | Ana
Luiza Coiro Moraes, Faculdade Cásper Líbero | Antonio Pacca Fatorelli, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) | Ariane Diniz Holzbach, Universidade
Federal Fluminense (UFF) | Benjamin Picado, Universidade Federal Fluminense (UFF) | César Augusto Baio dos Santos, Universidade Federal do Ceará (UFC) |
César Geraldo Guimarães, Universidade Federal de MInas Gerais (UFMG) | César Ricardo Siqueira Bolaño, Universidade de Brasília (UNB) | Ciro Marcondes
Filho, Universidade de São Paulo (USP) | Felipe Simão Pontes, Universidade Estadual de Ponta Grossa | Felipe Trotta, Universidade Federal Fluminense (UFF) |

Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.2, maio/ago. 2018.
Gislene da Silva, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) | Kati Caetano, Universidade Tuiuti do Paraná | Laan Mendes de Barros, Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho | Lucia Leão, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) | Jairo Getulio Ferreira, Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(UNISINOS) | Juliana Doretto, FIAM-FAAM | Juliano Maurício de Carvalho, Universidade Estadual Paulistaa Júlio de Mesquita Filho | Lilian Cristina Monteiro
França, Universidade Federal de Sergipe | Liziane Soares Guazina, Universidade de Brasília (UNB) | Luís Mauro Sá Martino, Faculdade Cásper Líbero | Luiz Peres
Neto, Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) | Herom Vargas, Universidade Metodista de São Paulo | Inês Silvia Vitorino Sampaio, Universidade Federal
do Ceará (UFC) | Maria Helena Weber, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) | Mariana Baltar, Universidade Federal Fluminense (UFF) | Maurício de
Bragança, Universidade Federal Fluminense (UFF) | Mauro de Souza Ventura- Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho | Muniz Sodre de Araujo
Cabral, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) | Nuno Manna, Universidade Federal da Bahia (UFBA) | Rosana de Lima Soares, Universidade de São Paulo
(USP) | Sandra Maria Lúcia Pereira Gonçalves, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) | Sérgio Luiz Gadini, Universidade Estadual de Ponta Grossa
| Talitha Gomes Ferraz, Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) | Victa de Carvalho Pereira da Silva, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

EQUIPE TÉCNICA
Assistentes editoriaL Melina Santos | Revisão de textos Fátima Áli | EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Roka Estúdio

COMPÓS | www.compos.org.br
Associação Nacional dos Programas
de Pós-Graduação em Comunicação

Presidente
Marco Roxo
Programa de Pós-Graduação em Comunicação – UFF
marcos-roxo@uol.com.br

Vice-Presidente
Isaltina Gomes
Programa de Pós-Graduação em Comunicação – UFPE
isaltina@gmail.com

Secretária-Geral
Gisela Castro
Programa de Pós-Graduação em Comunicação
e Práticas de Consumo – ESPM
castro.gisela@gmail.com

CONTATO | revistaecompos@gmail.com

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