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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CORDEIRO

EXMO. DOUTO JUÍZO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE CORDEIRO/RJ.

Processo nº 0197557-89.2020.8.19.0001
Réu: WELTON LOPES TIBERTO, vulgo “ELTON”

TJRJ COR VRUNI 202100109215032523 19/02/21 11:12:0507458 PROTELET


O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, pela
Promotora de Justiça que esta subscrev e , vem, no uso de suas
atribuições constitucionais e legais, com fulcro nos artigos 127 e 129, inciso I,
da Constituição da República oferecer:

ALEGAÇÕES FINAIS

Nos termos que a seguir aduz:

Cuida-se de ação penal pública deflagrada em face de


WELTON LOPES TIBERTO, vulgo “ELTON”, pela prática dos crimes capitulados
no artigo 33, caput, e §1º, II da Lei 11.343/06 c/c artigo 333 do Código Penal,
na forma do artigo 69 do Código Penal, ocorridos em 30 de setembro de
2020, nos termos da denúncia acostada ao doc. 000140.

Constam dos autos as seguintes peças:

• Denúncia – doc. 000140;


• Registro de ocorrências – fls. 06/08;
• Auto de apreensão – fls. 11;
• Laudos de entorpecente – fls. 23/24, 25/27 e 125/128;
• APF – fls. 28/31;
• Fotografias do material apreendido – fls. 40;
• AECD do réu – fls. 46/47 e 129/130;
• FAC do réu – fls. 50/58;
• Portal da Segurança do réu – fls. 59/61;
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• Informações acerca do processo 0161339-96.2019.8.19.0001 – fls. 62/64;


• Assentada da audiência de custódia, oportunidade onde foi convertida a
prisão em flagrante do réu em preventiva – fls. 83/86;
• Laudo de exame descritivo material audiográfico e videográfico – fls.
132/134;
• Certidão de juntada da denúncia e renumeração do feito – fls. 141;
• Cota Ministerial – fls. 144;
• Notificação pessoal do réu – fls. 163;
• Decisão mantendo a custódia cautelar do réu – fls. 180/183;
• Defesa prévia – fls. 214 e 217;
• Decisão recebendo a denúncia – fls. 221/222;
• Citação e intimação pessoal do réu – fls. 247/248;
• Assentada da audiência realizada em 30/11/2020, oportunidade onde
foram ouvidas quatro testemunhas e interrogado o réu – fls. 259/260.
• Certidão cartorária acerca de problemas no envio do processo ao
Ministério Público – fls. 265.

É o índice sumariado, em atendimento aos


ditames do artigo 43, inciso III da Lei n°
8.625/93 e do artigo 118, inciso III da LC
Estadual n° 106/2003.

I - DA SUFICIÊNCIA DE PROVAS PARA A CONDENAÇÃO:

Após o curso da instrução criminal, cotejando as provas colhidas


com as do procedimento policial, restaram amplamente comprovados os
fatos narrados na exordial acusatória e imputados ao réu.

A materialidade e a autoria dos delitos descritos na denúncia


restaram devidamente demonstradas através do APF de fls. 28/31, registro de
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ocorrência de fls. 06/08, laudo do entorpecente de fls. 23/24, 25/27 e


125/128, auto de apreensão de fls. 11, fotografias de fls. 40, laudo de exame
descritivo material audiográfico e videográfico de fls. 132/134, bem como
pelo depoimento das testemunhas, colhidos sob o crivo do contraditório e
da ampla defesa.

Os laudos periciais acostados aos autos expressamente afirmam


que se trata de 2,5g de cocaína, acondicionada em dois segmentos de
saco plástico transparente, cada qual fechado por nó feito a partir das
próprias bordas, bem como 14g de maconha, apresentada na forma de três
pequenos segmentos de tablete e três espécimes de vegetal fresco, similares
entre si, exibindo raízes, caules, folhas e discretas inflorescências,
identificadas como CANNABIS SATIVA L. (vegetal) – fls. 23/24, 25/27 e
125/128.

Assim, resta inequívoco que o réu trazia consigo e tinha em


depósito, sem autorização legal ou regulamentar, droga em quantidade
variada e dinheiro (R$ 60,00 (sessenta reais) em espécie).

Dessa forma, afasta-se a hipótese do crime tipificado no art. 28


da Lei 11.343/06.

Outrossim, também resta demonstrado que o réu com vontade


livre e consciente, ofereceu vantagem indevida ao Policial Militar EDER
LACERDA DIAS, responsável pela ocorrência, a saber, um terreno de sua
propriedade, no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) adquirido a título de
herança, objetivando fazer cessar o ato de prisão em flagrante, conforme
laudo de exame descritivo em material audiográfico e videográfico de fls.
132/134.

Além disso, as declarações prestadas pelos policiais militares que


participaram da prisão em flagrante do réu são verossímeis e convergem
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quanto aos fatos narrados, emprestando a tranquilidade necessária à


prolação da condenação. Senão vejamos:

A testemunha EDER LACERDA DIAS (PMERJ) declarou que se


recorda dos fatos; que estavam recebendo denúncias de que WELTON tinha
saído há pouco tempo do sistema prisional e iniciou novamente a prática de
venda de entorpecente; que no local, próximo à residência de WELTON,
existem dois bares; que desde a prisão anterior, recebiam denúncias de que
o réu abastecia as pessoas que frequentavam o bar próximo de sua
residência; que após sua primeira prisão, em virtude da prática do tráfico,
WELTON passou a ser mais cauteloso; que WELTON estava usando algumas
pessoas para pegar e servir a droga; que já estavam observando a
movimentação na porta da casa de WELTON; que existe uma casa antes da
de WELTON; que a casa de WELTON fica como se fosse na parte de trás
dessa primeira casa; que é como se houvesse uma servidão para acessar a
casa de WELTON – que há um beco com uma servidão; que no dia dos
fatos, receberam uma denúncia de que LUIZ GUILHERME havia deixado a
casa de WELTON; que LUIZ GUILHERME era uma das pessoas que estava
fazendo a entrega da droga para WELTON para que ele não ficasse exposto;
que quando abordaram LUIZ GUILHERME, o mesmo confessou que havia
estado na casa de WELTON para combinar um pagamento de dinheiro
emprestado; que LUIZ GUILHERME também declarou que devia um dinheiro
de uma compra de maconha; que LUIZ GUILHERME comprou maconha ou
cocaína com WELTON; que LUIZ GUILHERME relatou que já havia pegado
droga com WELTON e levou para terceiros, bem como que estava
combinado de “ele voltar a tarde” para pegar mais droga com WELTON;
que, após tais declarações, LUIZ GUILHERME, acompanhou os policiais até a
casa de WELTON; que, como já falado, há uma casa anterior a casa de
WELTON; que questionou se a servidão daria acesso a casa de WELTON,
sendo informado que sim; que ao adentar na servidão, WELTON já estava no
local acordado com LUIZ GUILHERME; que ao avistar os policiais, WELTON se
desfez de dois sacolés de cocaína e começou a alegar que não estava co m
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a droga; que o declarante ressalta que viu o momento em que WELTON se


desfez da droga; que WELTON ficou muito nervoso e relatou que fazia o
tráfico para sustentar a ele e ao companheiro, que era doente; que W ELTON
confessou que não tinha mais cocaína, pois já tinha vendido tudo ; que
WELTON relatou que tinha maconha – que seria para fornecer a pessoas
próximas a ele; que WELTON relatou que a maconha veio de BOM JARDIM,
tendo WELTON pago uma “mula” para trazer; que segundo WELTON alguns
motoboys que faziam esse tráfego da droga; que apreenderam o
entorpecente; que WELTON relatou que pegou a cocaína com HIAGO, vulgo
“MENOR”; que WELTON relatou que devido ter sido preso em ocasião
anterior, HIAGO, não havia feito o fornecimento que devia a ele – que havia
ficado faltando e a cocaína era parte da dívida que HIAGO ficou com
WELTON quando de sua prisão anterior; que tudo foi relatado por WELTON;
que no quintal da casa de WELTON havia três pés de CANNABIS SATIVA; que
LUÍZ GUILHERME acompanhou a abordagem a WELTON; que durante a
abordagem, WELTON ofereceu ao declarante um terreno que ele tinha como
herança, em Bom Jardim, para que o declarante não o prendesse em
flagrante; que segundo WELTON, o terreno valia R$ R$ 100.000,00 (cem mil
reais); que tudo foi gravado; que WELTON já havia sido preso por tráfico e
saído recentemente do presídio; que WELTON confessou em vários momentos
a prática do tráfico e como conseguia a droga; que HIAGO “MENOR”
atualmente é um dos grandes fornecedores de Cordeiro e também em
Cantagalo; que na primeira denúncia que chegou a respeito do tráfico por
WELTON relataram que ele era homossexual, isso antes de sua primeira
prisão; que LUIZ GUILHERME foi advertido que poderia ser preso; que não foi
relatado nada acerca de um relacionamento entre WELTON e LUIZ
GUILHERME; que o declarante viu o acusado se desfazendo da droga; que
WELTON se desfez da droga na frente do declarante e disse que não o fez;
que foi feita a abordagem em LUIZ GUILHERME.

Na mesma esteira, a testemunha SERGIO RICARDO BRUM


ARAUJO (PMERJ) prestou seu depoimento auxiliando no deslinde dos fatos e
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ratificando as declarações prestadas pelo seu colega de profissão, tendo


afirmado: que receberam denúncias de moradores acerca da prática do
tráfico de drogas por WELTON; que LUIZ GUILHERME estaria fazendo a
movimentação de intermediário entre WELTON e terceiros; que com LUIZ
GUILHERME não foi encontrado nada de ilícito; que no dia dos fatos,
localizaram LUIZ GUILHERME e ele informou que havia ido mais cedo na casa
de WELTON para acertar uma dívida e naquele momento estaria indo
novamente ao local; que então procederam a casa de WELTON juntamente
com LUIZ GUILHERME; que no local há uma espécie de beco, que é a
entrada de várias casas; que ao avistar a guarnição WELTON se desfez do
entorpecente que trazia; que o policial LACERDA viu o momento em que
WELTON se desfez da droga e arrecadou o entorpecente – que era cocaína;
que foi dada voz de prisão e WELTON, primeiramente, negou ter mais drogas,
porém posteriormente, informou que havia mais droga em sua residência,
maconha; que acharam a maconha; que WELTON informou que estava com
dificuldades de arrumar emprego e as vezes fazia essa movimentação; que
WELTON falou que estava sem renda e a “forma que ele conseguiu foi desse
jeito”; que no quintal de WELTON também foram encontradas “as plantas”;
que LUIZ GUILHERME, no início, apenas confirmou que tinha ido ao local para
quitar uma dívida, porém “ele ficou meio sem graça na hora de falar”; que
se percebeu que havia um vínculo entre WELTON e LUIZ GUILHERME, porém
não foi possível fazer tal definição do que era; que LUIZ GUILHERME foi junto
com os policiais na casa de WELTON; que não sabia da condição de
homossexual do acusado e LUIZ GUILHERME não comentou nada com o
declarante; que várias pessoas ficam tímidas perante a autoridade policial;
que como os pés de maconha foram encontrados no quintal de WELTON, se
pressupõe que sejam deles; que a denúncia é que informava que LUIZ
GUILHERME estaria fazendo a movimentação para WELTON, porém isto não
foi dito pelo mesmo; que presenciou o momento do oferecimento de
vantagem; que após a prisão de WELTON, quando estava sendo conduzido
ao compartimento de presos da viatura, o mesmo ficou nervoso e começou
a oferecer um terreno, “numa posse, no valor de cem mil”, que era a “título
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de herança dele, de algum familiar”; que WELTON tentou subornar a


guarnição; que WELTON falou que passaria o terreno para o nome de alguém
da guarnição para que ele não fosse conduzido à Delegacia; que LACERDA
chegou a filmar WELTON oferecendo a posse do terreno; que o declarante é
novo em Cordeiro e não conhecia o acusado.

Frise-se que os depoimentos prestados pelos policiais militares são


coerente e traduzem a conduta criminosa desenvolvida pelo réu.

Outrossim, a testemunha LUIZ GUILHERME DA SILVA declarou que


estava indo para sua residência, quando foi abordado pelos policiais
militares e levado à casa de WELTON; que ficou do lado de fora e “eles que
foram ao encontro de WELTON”; que revistaram a casa de WELTON e o
declarante ficou do lado de fora; que acharam maconha e cocaína; que o
declarante estava com uma dívida com WELTON, de R$ 30,00; que tinha
pego “com ele antes”; que quando foi abordado pelos policiais, já tinha
pago a WELTON e estava indo embora; que a dívida era referente à compra
de maconha que o declarante fez com WELTON; que o declarante é usuário
de maconha; que confirma o teor do depoimento prestado na Delegacia;
que tinha amizade com WELTON e na conversa ficou sabendo e comprou
com ele; que não presenciou WELTON oferecendo o terreno aos policiais;
que não sabia que WELTON era homossexual; que não usou maconha junto
com WELTON; que sabia que WELTON usava drogas; que os policiais militares
não obrigaram o declarante a falar; que o declarante foi espontaneame nte;
que não foi colocado a frente para pegar drogas; que já conhecia WELTON
e foi na sua casa para entregar o dinheiro que devia e depois foi embora;
que os policiais abordaram WELTON; que chegou junto com os policiais; que
já tinha ido à residência de WELTON e estava indo embora; que os policiais
não pediram para o declarante comprar drogas com WELTON; que na casa
estavam WELTON e “um outro rapazinho que eu não conheço, que falou
que é companheiro dele...que WELTON falou na hora que a outra pessoa era
companheiro dele”; que foi falado que eu poderia ser preso se eu tivesse
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com alguma coisa; que o declarante já tinha comprado a droga antes com
WELTON; que no dia dos fatos foi pagar a droga comprada anteriormente;
que os policiais abordaram o declarante e falaram que tinham recebido
denúncia de que o declarante havia ido no WELTON para comprar drogas e
tinha contato com ele; que o declarante confirmou aos policiais que tinha
ido comprar drogas com WELTON e só falou “isso”.

MARCIO JOSÉ FARIAS FIGUEIRA, ouvido como informante, eis que


é companheiro do réu WELTON, declarou que faz tratamento de câncer;
que WELTON não estava vendendo drogas no dia dos fatos; que recebem
auxílio; que WELTON usa drogas; que os pés de maconha encontrados no
local eram do declarante; que o declarante era usuário de maconha e
achou três ou quatro sementes e quis fazer um teste, pois “eu queria fazer um
óleo para mim”; que “eu sei que é proibido”; que queria fazer o teste, pois
não consegue dormir as vezes; que não pode usar combustão, pois tem
câncer no pulmão; que os pés de maconha eram do declarante; que na
casa tinha a quantidade de drogas que WELTON usava; que conhece LUIZ
GUILHERME de vista, mas nunca tinha visto “ele lá”; que no dia dos fatos, foi
tudo muito rápido e quando viu LUIZ GUILHERME apareceu; que, pelo que o
declarante sabe, LUIZ GUILHERME não tinha comprado drogas com WELTON
em data anterior; que não sabe qual foi a conversa, pois foi tudo muito
rápido e “para mim doente é uma coisa meio estranha”; que não ouviu
WELTON oferecer terreno aos policiais; que WELTON falou que era para o
declarante procurar um advogado e que dava até o terreno para “tirar ele”;
que a maconha plantada era do declarante; que a droga encontrada era
de uso de WELTON; que WELTON já foi preso anteriormente; que na época
“ela estava errado sim, mas dessa vez não”; que WELTON não vendeu
drogas para LUIZ GUILHERME; que “eles iam usar droga e eu não sei o que
aconteceu, né”.

De se ressaltar que, ouvido como informante, MARCIO JOSÉ


FARIAS FIGUEIRA não presta o compromisso de dizer a verdade. Assim,
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apresentou a versão que considerava melhor para livrar o réu, seu


companheiro, das acusações a ele impostas na denúncia, chegando a
assumir a propriedade dos pés de CANNABIS SATIVA L. apreendidos.

Outrossim, ainda que se considere MARCIO JOSÉ FARIAS


FIGUEIRA como responsável pelos pés de cannabis sativa apreendidos, (o
que implicará na tomada das providencias cabíveis pelo Órgão Ministerial),
fato é que o policial LACERDA visualizou o momento em que o réu se desfez
da cocaína, bem como que na residência de WELTON foi apreendida erva
seca prensada (maconha), além dos mencionados pés de cannabis sativa.

Ressalta-se, também, que tal afirmação sequer foi ratificada


pelo réu durante o seu interrogatório, sendo certo que, em nenhum
momento, WELTON afirmou que os pés de cannabis sativa apreendidos
pertenciam ao seu companheiro, conforme se verá adiante.

Na mesma esteira, a testemunha LUIZ GUILHERME, afirmou que,


em ocasião anterior, teria comprado entorpecente (maconha) com o réu.

Por sua vez, o réu WELTON LOPES TIBERTO, vulgo “ELTON”, em seu
interrogatório, negou os fatos a ele atribuídos e afirmou que as vezes recebe
alguns amigos em sua casa para uso de drogas; que é usuário de drogas;
que no dia 28 recebeu o seu auxílio e emprestou para GUILHERME R$ 30,00
(trinta reais); que na quarta-feira, “eu combinei com ele de nós usarmos
drogas porque o MARCIO estaria indo para Teresópolis para uma
avaliação”, porém ocorreu um imprevisto e ele não foi; que o intuito era usar
cocaína, tomar uma cerveja, depois fumar uma maconha; que “o meu
intuito era fazer sexo com ele”, com o LUIZ GUILHERME; que no dia dos fatos,
LUIZ GUILHERME esteve na casa do declarante para pagar os R$ 30,00 que
ele devia e o declarante combinou de ele retornar depois do almoço “para
fazer um resenha, digamos assim, a gente usar drogas juntos” e para o
declarante fazer sexo “com ele”; que MARCIO estava em casa no dia, por
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causa do imprevisto; que no dia iria usar “um baseado com ele, conversar” e
iria marcar com LUIZ GUILHERME para retornar à casa do declarante quando
MARCIO estivesse em Teresópolis, para que pudessem cheirar a cocaína,
levada por um motoboy, tomar uma cerveja e fazermos sexo; que, no dia
dos fatos, LUIZ GUILHERME esteve na casa do declarante por volta de 09h30;
que estava marcado dele retornar 13h; que ele retornou com os policiais
12h45, perto do horário marcado; que, pelo celular, perguntou se LUIZ
GUILHERME iria e este afirmou que sim e questionou se o declarante não
tinha maconha para vender; que afirmou que não iria vender, mas “apertar
uma maconha pra gente”; que MARCIO estava em casa, mas iria fazer uso
na laje, pois MARCIO sabe que “eu uso”; que LUIZ GUILHERME foi coagido
pelo policial LACERDA, na frente do declarante, a falar; que o policial falou
que se LUIZ GUILHERME não falasse o que ele estava mandando, o colocaria
na associação para o tráfico, junto com o declarante; que LUIZ GUILHERME
não falou a verdade e declarou o que o policial mandou falar; que já
conhecia LUIZ GUILHERME e já havia feito uso de drogas com o mesmo; que
já foi preso pelo crime de tráfico, pois estava passando por necessidades;
que ficou preso por 36 (trinta e seis) dias; que estava assinando
comparecimento ao juízo; que não corrompeu os policiais; que apenas falou
que teria que vender o lote que a mãe deixou como herança para pagar o
advogado; que não quis corromper ou subornar os policiais; que MARCIO
não sabia da relação do declarante com LUIZ GUILHERME; que o declarante
já estava com a intenção de se relacionar com LUIZ GUILHERME há algum
tempo; que LUIZ GUILHERME sabia disso; que, assim que o declarante
acabou de pegar com o motoboy os “dois pós de cinquenta”, “eu acionei o
GUILHERME para ir lá em casa”, porque “eu estava a fim de fazer sexo, levei
aquilo e ele iria ficar todo entusiasmado”; que LUIZ GUILHERME veio com um
“papo” para o declarante vender maconha para ele; que nesse momento,
“ele estava tomando dura da polícia e eu não sabia”; que LUIZ GUILHERME já
chegou com a polícia.

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Em que pese a negativa do réu, verifica-se através dos


depoimentos das testemunhas e demais provas acostadas aos autos que o
mesmo praticou os delitos descritos na exordial.

De se ressaltar que, não foi juntada pela defesa qualquer


elemento de prova que corroborasse a versão apresentada por WELTON.
Assim, sua versão mostra-se isolada, ante as provas arregimentadas,
possuindo o único intuito de ludibriar o douto juízo.

Logo, resta configurada a prática dos delitos descritos na


exordial pelo réu (tráfico e corrupção ativa).

De outro giro, os policiais prestaram depoimentos firmes e


uníssonos, pelo que merecem credibilidade, até porque, em se tratando de
funcionários públicos, não se pode presumir que tenham a espúria intenção
de prejudicar gratuitamente um inocente, sendo ainda ilógico que o Estado
lhes credencie para o exercício de seu poder de polícia e, ao mesmo
tempo, negue fé a seus testemunhos.

E este é o entendimento do nosso Egrégio Tribunal de Justiça,


conforme pacificado através do verbete de súmula nº 70: “O fato de
restringir-se a prova oral a depoimentos de autoridades policiais e seus
agentes não desautoriza a condenação”.

E, também, nos termos de sua jurisprudência:

“TJRJ - 0054490-79.2015.8.19.0021 – APELAÇÃO. 1ª Ementa.


Des(a). MÁRCIA PERRINI BODART - Julgamento: 15/08/2017 - QUARTA
CÂMARA CRIMINAL. Artigos 33 e 35, da Lei nº 11.343/06. Apelante
condenado à pena total de 08 (oito) anos de reclusão, em regime
inicialmente fechado, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) dias-multa,
cada um no valor mínimo legal por infração aos artigos 33 e 35, da Lei nº
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11.343/06. A Defesa requer: 1) a absolvição do Apelante quanto ao crime do


art. 35, da Lei nº 11.343/06; e 2) a incidência da causa de redução do art. 33,
§ 4º, da Lei nº 11.343/06 quanto ao crime de tráfico. Malgrado não haja
inconformismo nesse sentido, destaco que o crime de tráfico restou
demonstrado. Materialidade comprovada pelo laudo técnico, que atesta
que as substâncias apreendidas são os entorpecentes popularmente
conhecidos como "cocaína" e "maconha". Autoria comprovada pela prova
oral. A tentativa defensiva de desqualificar o depoimento dos policiais
responsáveis pela prisão não merece atenção. Inteligência do verbete nº 70,
da Súmula do TJRJ. Crime do art. 35, da Lei nº 11.343/06 também
comprovado pela prova oral. A comunidade Vila Kennedy é dominada pela
associação criminosa "Comando Vermelho", e o grande volume e a
variedade de droga apreendida denota que o Apelante a integra. O animus
associativo se depreende da extrema organização necessária para se
transportar 5.045 gramas de "maconha" distribuídos em 05 (cinco) tabletes e
714 gramas de "cocaína" distribuídos em 420 sacolés. Inviável a incidência da
causa de redução de pena inserta no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06.
RECURSO DEFENSIVO CONHECIDO E DESPROVIDO”.

Outrossim, as circunstâncias da prisão em flagrante, a


quantidade e o modo de acondicionamento dos entorpecentes, bem como
as declarações dos policiais e da testemunha LUIZ GUILHERME comprovam a
prática do delito descrito na peça acusatória pelo réu.

Assim, resta inconteste que o acusado trazia consigo e tinha em


depósito, para fins de tráfico, a droga apreendida.

Também resta inconteste que, após ser flagrado na prática do


delito previsto no artigo 33 da Lei 11.343/06, o réu ofereceu vantagem
indevida a funcionário público para determiná-lo a omitir a prática de ato
de ofício, qual seja, a sua prisão em flagrante e respectiva apresentação à

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Autoridade Policial. A ação do réu demonstra o seu total desrespeito e sua


vontade livre e consciente em desafiar à Justiça.

E, em casos semelhantes como deste processo, o Egrégio


Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro já decidiu:

“0017629-81.2020.8.19.0001 – APELAÇÃO. 1ª Ementa. Des(a).


JOÃO ZIRALDO MAIA - Julgamento: 15/12/2020 - QUARTA CÂMARA
CRIMINAL. EMENTA. APELAÇÃO. CONDENAÇÃO POR INFRAÇÃO AO ART. 33
DA LEI 11.343/06, 329 e 333, ambos do CP. Recurso defensivo buscando a
absolvição. Impossibilidade. Materialidade positivada. Autoria incontroversa
consoante os depoimentos dos policiais colhidos na fase judicial sob o crivo
do contraditório e pelas próprias circunstâncias da prisão flagrancial, além
de corroborados pelo depoimento do Delegado de Polícia. Prova
testemunhal obtida pelos depoimentos dos agentes militares não se
desclassifica tão só pela condição profissional, desde que em total harmonia
com os demais elementos contidos nos autos. Inteligência da súmula 70
deste Tribunal. Tráfico ilícito restou evidenciado pelo material arrecadado na
sacola dispensada pelo réu, na qual havia 22,80g de cocaína e pelos atos
de traficância presenciados pelo policial Wagner. Delito de resistência
comprovado pela violência perpetrada pelo réu contra o policial Wagner,
opondo-se à execução de ato legal, culminando, inclusive na fratura de dois
dedos do referido policial. Crime de corrupção ativa consubstanciado no
oferecimento de certa quantia em dinheiro tanto para os policiais quanto
para o Delegado Lauro, em sede policial, quando ainda não havia sido
lavrado formalmente o flagrante. Absolvição que se refuta.
Prequestionamento que não se conhece. RECURSO DESPROVIDO”

“0030387-40.2014.8.19.0054 – APELAÇÃO. 1ª Ementa. Des(a).


ANTONIO JOSÉ FERREIRA CARVALHO - Julgamento: 04/09/2018 - SEGUNDA
CÂMARA CRIMINAL. EMENTA - CRIME DE CORRUPÇÃO ATIVA - APELO QUE
BUSCA UM DECRETO ABSOLUTÓRIO, ALEGANDO ATIPICIDADE DA CONDUTA -
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APELANTE QUE OFERECE VANTAGEM INDEVIDA, CONSISTENTE NA ENTREGA DE


R$ 480,00, A POLICIAIS MILITARES PARA QUE NÃO APREENDESSEM A
MOTOCICLETA QUE CONDUZIA E QUE SE ENCONTRAVA COM A
DOCUMENTAÇÃO IRREGULAR -MATERIALIDADE DELITIVA COMPROVADA -
AUTORIA DO ILÍCITO INCONTESTE - DEPOIMENTOS DOS AGENTES DA LEI
COERENTES E FIRMES SOBRE OS FATOS - VALIDADE - SÚMULA Nº 70 DO TJERJ -
NARRATIVA DO APELANTE ISOLADA E DISSOCIADA DOS DEMAIS ELEMENTOS
PROBATÓRIOS - JUÍZO CONDENATÓRIO ESCORREITO - APELO DESPROVIDO”.

“0000130-28.2012.8.19.0078 - APELACAO .1ª Ementa.DES.


FRANCISCO JOSE DE ASEVEDO - Julgamento: 09/09/2014 - QUARTA CAMARA
CRIMINAL.APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES (ART. 33, CAPUT,
DA LEI N.º 11.343/06). RECORRENTE QUE, DE FORMA LIVRE, CONSCIENTE E
VOLUNTÁRIA, TRAZIA CONSIGO E GUARDAVA, SEM AUTORIZAÇÃO E EM
DESACORDO COM DETERMINAÇÃO LEGAL OU REGULAMENTAR, 2,55
GRAMAS DE COCAÍNA, DEVIDAMENTE ACONDICIONADOS EM TRÊS
CÁPSULAS DE PLÁSTICO TRANSPARENTES. NA OCASIÃO, POLICIAIS MILITARES,
APÓS RECEBEREM NOTÍCIAS DE QUE UMA PESSOA QUE TRABALHAVA NA
EMPRESA "BÚZIOS ROTATIVO" ESTARIA COMERCIALIZANDO ENTORPECENTES
NO CENTRO DE BÚZIOS, ABORDARAM O DENUNCIADO, QUE ESTAVA COM A
DROGA NO BOLSO DO UNIFORME DA EMPRESA, ASSIM COMO COM A
QUANTIA DE R$204,25 EM ESPÉCIE, SENDO ENCONTRADOS, AINDA, EM SUA
RESIDÊNCIA, 23 FRASCOS CONTENDO A SUBSTÂNCIA VULGARMENTE
CONHECIDA COMO "CHEIRINHO DA LOLÓ". PRETENSÃO DEFENSIVA À
ABSOLVIÇÃO OU DESCLASSIFICAÇÃO PARA AS CONDUTAS PREVISTAS NO ART.
33, § 3.º, OU NO ART. 28 DA LEI N.º 11.343/06, QUE SE NEGA. PROVA SEGURA E
INQUESTIONÁVEL QUANTO À AUTORIA E AO CRIME DE TRÁFICO,
ESPECIALMENTE PELO LAUDO PRÉVIO (FL. 02), AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE
(FLS. 08/10), REGISTRO DE OCORRÊNCIA (FLS. 18/19), AUTOS DE APREENSÃO E
DE ENTREGA (FLS. 21, 22, 23 E 25) E LAUDOS DEFINITIVOS DE EXAME DE DROGAS
(FLS. 51 E 116), ALÉM DA EFICIENTE PROVA ORAL COLACIONADA. FIXAÇÃO DA
PENA BASE NO MÍNIMO LEGAL INVIÁVEL. DOSIMETRIA DA PENA, JUSTA E
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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CORDEIRO

CORRETAMENTE APLICADA PELO SENTENCI-ANTE QUE, AO FUNDAMENTAR A


MAJORAÇÃO DA REPRIMENDA BASE, DISTANCIANDO-A DO MÍNIMO, DEIXOU
CLARO QUE PESAVAM EM DESFAVOR DO APELANTE O FATO DE HAVER OUTRA
IMPUTAÇÃO DE TRÁFICO E AINDA PROCESSO PERANTE O JECRIM DE CABO
FRIO (FOLHA DE ANTECEDENTES CRIMINAIS - FLS. 59/63). CONFISSÃO, NA
VERDADE NÃO CONFIGURADA. O RECORRENTE NÃO ADMITIU A POSSE DA
DROGA PARA FINS DE TRÁFICO, QUANDO RESPONDE POR OUTRO PROCESSO
PELA MESMA IMPUTAÇÃO, NÃO ESTANDO ABRANGIDA PELO ART. 65, III, "D",
DO CÓDIGO PENAL A CONFISSÃO PARCIAL. RECONHECIMENTO DA CAUSA
DE DIMINUIÇÃO DE PENA PREVISTA NO § 4.º DO ART. 33 DA LEI N.º 11.343/06,
COM REDUÇÃO DE 2/3 DA REPRIMENDA, QUE NÃO SE CONCEDE, TENDO EM
VISTA OS MAUS ANTECEDENTES OSTENTADOS PELO APELANTE. REGIME
PRISIONAL ABERTO QUE NÃO SE CONCEDE, POR SER O FECHADO O ÚNICO
ADEQUADO À EFETIVAÇÃO DOS OBJETIVOS REPRESSIVO/PREVENTIVO DA
PENA, ALÉM DE TER SIDO FIXADO NOS TERMOS DO ART. 2.º, §1.º, DA N.º LEI
8.072/90, QUE GOZA DE PRESUNÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE.
SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR PENA RESTRITIVA DE DI-
REITOS IMPOSSIVEL, ANTE A QUANTIDADE DE PENA IMPOSTA E PORQUE
INSUFICENTE À REPROVAÇÃO DA CONDUTA (ART. 44, I E III, DO CÓDIGO
PENAL). DESPROVIMENTO DO RECURSO”.

Portanto, estando presentes os elementos do tipo penal, merece


o réu a justa resposta estatal, suficiente para prevenir condutas semelhantes,
bem como retribuir o mal causado.

II – DA FIXAÇÃO DA PENA:

Quanto à fixação da pena, deve ser observado o disposto no


Código Penal, em comunhão com os preceitos trazidos na Lei de Tóxicos.

O art. 59 do CP é claro ao estabelecer que para a fixação da


pena o juiz observará a culpabilidade, os antecedentes criminais dos
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acusados, a conduta social dos agentes, suas personalidades, os motivos,


bem como as circunstâncias e as consequências do crime.

Outrossim, o art. 42 da Lei 11.343/06 estabelece que “o juiz, na


fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art.
59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do
produto, a personalidade e a conduta social do agente”.

Conforme declarado pelos policiais, é de conhecimento que


WELTON exerce o tráfico de drogas em Cordeiro, eis que vinham recebendo
notícias de seu envolvimento com o ilícito, fato comprovado pela prisão em
flagrante em voga.

Na mesma esteira, a Lei 11.343/06, em seu artigo 33, assim


preconiza:

“Art. 33: (...) § 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste


artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a
conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário,
de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre
organização criminosa”.

Logo, verifica-se que, para a incidência da minorante especial


prevista no citado artigo, é necessário o preenchimento dos seguintes
requisitos legais: primariedade, bons antecedentes, ausência de dedicação
às atividades criminosas e não integração à organização criminosa.

No caso em tela, não há como aplicar a causa de diminuição


prevista no artigo 33, §4º da Lei de Drogas, tendo em vista a comprovada
dedicação às atividades criminosas.

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De se ressaltar, o fato notório de que o acusado se dedica à


prática de atividades criminosas, conforme demonstram a sua FAC. (fls.
50/58), Portal da Segurança (fls. 59/61) e as informações de fls. 62/64
referentes ao processo 0161339-96.2019.8.19.0001.

O réu WELTON, além do presente feito, responde ao processo


0161339-96.2019.8.19.0001 - também pela prática do delito descrito no artigo
33 da Lei de Drogas.

No mencionado feito, WELTON foi preso em flagrante em


04/07/2019, tendo sua soltura sido concedida em 07/08/2019, mediante
cumprimento de medidas cautelares impostas pelo douto juízo.

De se ressaltar que, menos de 01 (um) ano depois voltou a


delinquir - praticando nova conduta descrita na Lei de Drogas.

Verifica-se, assim, que os fatos deste processo não são isolados


na vida do acusado, demonstrando o mesmo ser um grande desafiador da
Justiça.

Na mesma esteira, impossível a concessão do benefício de


substituição da pena privativa de liberdade por penas subs titutivas, diante
do não preenchimento dos requisitos legais.

O artigo 44 do CP, assim estabelece:

“Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e


substituem as privativas de liberdade, quando: I -aplicada pena privativa de
liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com
violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena
aplicada, se o crime for culposo; (...) III - a culpabilidade, os antecedentes, a

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conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e


as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente”.

No que tange ao crime de tráfico, não sendo aplicada a causa


de diminuição de pena prevista no §4ª do art. 33 da Lei 11.343/06, a pena
definitiva será, no mínimo, de 05 (cinco) anos de reclusão e 500 (quinhentos)
dias-multa.

Outrossim, diante da condenação pela prática do delito


descrito no artigo 333 do Código Penal e do concurso material de crimes, a
reprimenda final, superará o patamar estabelecido no artigo 44, I do CP e
inviabilizando a concessão da substituição da pena privativa de liberdade
por restritiva de direito.

Assim, diante da regra trazida no artigo 44 do Código Penal,


IMPOSSÍVEL a substituição da pena privativa por penas substitutivas.
Igualmente, não se mostra socialmente recomendável a substituição da
reprimenda, que no presente caso não atenderá as finalidades preventiva e
repressiva da pena.

Insta salientar os termos da jurisprudência do Superior Tribunal de


Justiça:

STJ - HABEAS CORPUS HC 353208 MS 2016/0092030-1 (STJ). Data


de publicação: 29/04/2016. Ementa: DEDICAÇÃO ÀS ATIVIDADES
CRIMINOSAS. CONCLUSÃO DE QUE O PACIENTE DEDICAVA-SE ÀS ATIVIDADES
CRIMINOSAS E INTEGRAVA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. AFERIÇÃO.
REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. INVIABILIDADE. SUBSTITUIÇÃO DA PENA
PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS. IMPOSSIBILIDADE. PENA
SUPERIOR A 4 ANOS. REGIME INICIAL FECHADO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO. ILEGALIDADE. AUSÊNCIA. NÃO
CONHECIMENTO. (...) 2. Concluído pelas instâncias ordinárias, com arrimo
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nos fatos da causa, que o paciente se dedicava às atividades criminosas e


integrava organização criminosa, não incide a causa especial de
diminuição de pena, porquanto não preenchidos os requisitos previstos no
art. 33 , § 4º , da Lei n.º 11.343 /06. Para concluir em sentido diverso, há
necessidade de revolvimento do acervo fático-probatório, providência
incabível na via estreita do habeas corpus. 3. A substituição da pena
privativa de liberdade por restritivas de direitos submete-se à regência do art.
44 do Código Penal, segundo o qual só faz jus ao benefício legal o
condenado a pena inferior a 4 anos. Na espécie, tendo a reprimenda final
alcançado 6 anos, 9 meses e 20 dias de reclusão, não é possível a
pretendida substituição.

E, também, do nosso Egrégio Tribunal de Justiça:

001876-20.2019.8.19.0066 – APELAÇÃO. 1ª Ementa. Des(a).


ANTONIO CARLOS NASCIMENTO AMADO - Julgamento: 06/10/2020 -
TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL. APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE DROGAS.
SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DEFENSIVO COM PLEITO DE
ABSOLVIÇÃO, E PEDIDOS SUBSIDIÁRIOS DE DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA
PARA O CRIME DO ARTIGO 28 DA LEI 11.343/06 E DE APLICAÇÃO DA CAUSA
DE DIMINUIÇÃO DO ARTIGO 33, § 4º DA LEI 11.343/06. Tráfico de drogas.
Apelante que guardava e tinha em depósito, em sua residência, certa
quantidade de cocaína e de maconha, para fins de tráfico, e possuía
balança de precisão e material para endolação, sendo preso em flagrante
por policiais militares alertados por delação anônima. Absolvição.
Impossibilidade. Autoria e materialidade do crime de tráfico comprovadas.
Depoimentos dos policiais que efetuaram a prisão firmes, seguros e
coerentes e em consonância com os demais elementos de convicção.
Aplicação da causa de diminuição de pena prevista no artigo 33 §4º da Lei
11.343/2006. Descabimento. Apelante que tinha em seu celular mensagens e
fotos alusivas ao tráfico de drogas e a facção criminosa e responde a outro

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processo por tráfico de drogas. Dedicação às atividades criminosas


evidenciada. (...).

III – CONCLUSÃO:

Ante o exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO seja o pedido


inicial julgado procedente, com a condenação do acusado nas penas do
artigo 33, caput, e §1º, II da Lei 11.343/06 c/c artigo 333 do Código Penal, na
forma do artigo 69 do Código Penal, com a fixação da pena nos termos
requeridos.

Cordeiro, 19 de fevereiro de 2021.

DANIELLA Assinado de forma


digital por DANIELLA
FARIA DA SILVA FARIA DA SILVA
BARD:08464160 BARD:08464160771
Dados: 2021.02.19
771 08:52:28 -03'00'

Daniella Faria da Silva Bard


Promotora de Justiça - Mat. 4360

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