Você está na página 1de 6

The Walking Dead São Paulo - Gênesis

Quinta-feira, 21 de Outubro de 2010.

“Paulo! Você viu aquele vídeo na internet? Um maluco que comeu a cara de alguém
em Miami!”

“Como assim cara? Era de zueira esse vídeo aí?”

“Não era não! Fui atrás e está em vários sites dos EUA! O cara tomou um tiro e não
parou de comer a cara do outro!” – continuou seu amigo animado com a notícia.

“Caraca mano! Mas como assim? O cara era tipo um zumbi?”

“hahahaha! Não né troxa! Em todos os sites tavam falando de ser uma nova droga aê.
Parece que é um produto pra tomar banho que se cheirar o cara pira!”

“Aff... que viagem cara! Nada a ver isso aew!”

“Te juro! Te mandei o link no face, quando chegar em casa cê vê!”

Os dois amigos foram interrompidos pelo professor de Física que entrava na sala de
aula. Mas a notícia ficou atormentando Paulo o dia inteiro, mesmo às vésperas da primeira
fase da FUVEST não permitiu que ele se concentrasse nas aulas. Almoçou com os colegas e foi
para casa. Durante a tarde teria um laboratório de redação, mas optou por ir embora mais
cedo. “Que inferno de cidade! São 3 horas da tarde e essa bosta já tá lotada!” – pensou Paulo
enquanto tentava embarcar no metrô lotado da Linha Vermelha, sentido Itaquera.
Desembarcou na estação Artur Alvim e pegou o ônibus para casa. Durante todo o trajeto ficou
pensando no que seu amigo falara e se dessa vez ele estaria realmente falando sério, nunca
confiava muito no que ele falava.

Chegou em casa e, apesar da fome, foi direto para o computador que deixara ligado
fazendo algum download. Abriu o Google e tentou palavras-chave em inglês “Face eater
Miami”. Imediatamente apareceram diversos links para vídeos e notícias, das mais variadas
fontes.

“Sal de banho causa alucinações”...


“Homem come face de vítima”...

“Câmera de segurança grava ataque canibal”...

Sexta-feira, 5 de novembro.

“Credo filha! Que programa é esse que você está vendo?” – Assustou-se a mãe que
passava pela sala.

“Não sei mãe, acabei de ligar a TV... Que horror! Parece de verdade!”

Mãe e filha olhavam horrorizadas para a tela que mostrava imagens de um velório. Os
convidados fugiam para todas as direções assustados com o que acontecia. “... vocês podem
ver nessa cena a reação dos familiares quando o morto começou a se mexer. A filha, que
estava chorando ao seu lado, só percebeu quando já era tarde. Parece cena de filme não é
William?” – “Sim Fátima, a polícia local chegou cinco minutos depois do início do ataque. O
rosto da menina foi completamente destruído. Parece que o suposto cadáver... “comeu” o
rosto da própria fi...”. A frase pareceu morrer junto com a voz do jornalista que não acreditava
no que lia no Teleprompter.

“Que absurdo...” – concluiu a mãe. Seu rosto paralisado e boquiaberto era como um
espelho refletindo as expressões dos dois jornalistas no televisor que ainda transmitia a
imagem do set. Demorou alguns segundos até que alguém se mexesse e, então, entraram os
comerciais.

“Mãe... como assim?” – disse a filha, ajudada a voltar à realidade por uma propaganda
toda colorida sobre cerveja.

“Não sei San... Deve ser algum tipo de vídeo besta de alguém no Youtube.” – disse a
mãe tentando tranquilizar a filha e a si mesmo.

“Nossa... Mas dessa vez exageraram não acha? Isso não foi uma brincadeira muito
legal não!” – Concordou a filha sem confiar muito nas próprias palavras.

“É... Estranho a reação do William e da Fátima!”

“Né? Cê viu que todo mundo ficou paralisado? até cortaram pros comerciais!” – disse a
filha ainda não conseguindo processar o que havia visto.
“Devem ter sido pegos de surpresa... Oia, fica quieta que voltaram!”- disse a mãe
enquanto sentava-se no sofá ao lado da filha “... pequeno problema técnico. O caso chocante
mostrado anteriormente aconteceu durante um velório na cidade de Orlando na Flórida. A
polícia afirmou que não há o que temer, que ambos já foram contidos e que explicaram que a
causa do atentado foi uma reação a uma nova droga. Um caso parecido fora identificado há
15 dias em Miami, que fica localizada à alguns quilômetros dali. Em meus 15 anos de Jornal
Nacional eu nunca vi nada igual Fátima.” – “Tem razão William, um caso que realmente foge
ao natural. Os policiais, porém, não conseguiram explicar se o indivíduo estava ou não estava
de fato, morto. Mas especialistas estão investigando o ocorrido e terão algum resultado na
próxima semana. Estamos todos curiosos...” – “Na Indonésia vulcão Merapi entra em
erupção...”

Primeiros minutos de sábado, 6 de novembro.

00:58 – “Paulinho, vc viu o jornal hj? Nao to conseguindo dormir”

“Vi” – 01:10

01:11 – “Nao consigo acreditar q eh uma droga q faz isso. O cara tava morto!”

“Tbm nao acredito” – 01:12

Quarta-feira, 10 de novembro.

toc toc. – “Entra mãe!” – Responde Paulo por cima dos livros do cursinho.

“Sua vó acabou de ligar convidando para irmos lá pra Tapiraí neste final de semana,
todos os primos estarão lá. O que acha de dar uma relaxada uns 15 dias antes da grande
prova?”

“Ah mãe, acho melhor não. Tem muita coisa aqui ainda que eu precisava rever antes
dessa prova.” – Mentiu Paulo.

“Você quem sabe... Eu vou, pois faz tempo que não encontro com a tia Maria e ela
prometeu que vai estar lá.”

“Tá bom mãe, pode ir!”


“Ok. Ah! Tenta combinar algo com seu pai no sábado, faz tempo que vocês não saem
juntos, ele já ta me ligando para saber se tá tudo bem.” – pediu sua mãe um pouco
incomodada.

“Ta bom, ta bom. Eu ligo pra ele na sexta e vejo se ele ta livre no sábado. Você vai na
sexta ou no sábado?”

“Vou na sexta logo de manhã, aproveitar a folga minha dessa semana. Saio junto com
você”

“Está bem mãe...” – disse Paulo. Esperou sua mãe fechar a porta para colocar os livros
de lado e ligar o monitor do computador e continuar sua pesquisa.

“Casos semelhantes à droga de Miami”

“... agente de necrotério é atacado em Nova Iorque...”

“Jovem ataca policial após suposta overdose...”

“...especialistas questionam relação com a droga.”

“Merd..”

Sábado, 13 de novembro.

10:00 – “San, vc viu? Ta muito estranho isso. To indo aew. Apê 42 né?”

“Isso. Vem. To assustada.” – 10:25

Tapiraí, 134km de São Paulo.

“Ahhhh que droga! Jornal no meio do desenho!!” – os gritos de protestos das crianças
que chegaram ali da sala paralisaram os adultos na cozinha que correram ao ouvir a música
marcante do Plantão de Notícias.

“Cenas horríveis abalaram a manhã no Rio de Janeiro. Acabamos de receber gravações


de nossos colaboradores. Essas imagens mostram como um senhor teve um ataque cardíaco
ao passar pelo detector de metais do aeroporto Tom Jobim. As imagens mostram os policiais
isolando o local onde o senhor teve seu ataque cardíaco supostamente fulminante...” – “Que
horror!!!” – Comentou tia Maria. Ao seu redor, estavam todos boquiabertos paralisados
olhando para a tela que mostrava as imagens gravadas enquanto a jornalista prosseguia com
sua notícia. – “Mas após alguns segundos de imagem o idoso aparentemente acorda e agarra
os pés de um dos policiais. Os outros tentam libertar o companheiro, mas só conseguem parar
o agressor com três disparos...”

O breve noticiário termina com a cena do idoso caído baleado no chão e o policial
sendo socorrido por seus colegas. O desenho animado volta a rodar, mas antes que qualquer
um conseguisse fazer qualquer comentário, a trilha sonora do plantão voltou a encher o ar
pesado da sala enquanto novas cenas surgem na tela e a mesma jornalista narra:

“Essas são cenas ao vivo de nossos repórteres direto de Guarulhos...” – “...vocês podem
ver ali atrás o carro que bateu na moto. O motorista ainda está ali desacordado com a
pancada. O piloto da moto estava ali... caído há mais de vinte metros da moto... vejam como
ele está andando em direção ao carro, ele ficou cerca de 20 minutos ali caído sem se mexer... é
uma loucura... ele se levantou... parecia que estava morto...” – o jovem repórter tentava narrar
o que tinha presenciado enquanto o seu assistente filmava o piloto da moto cambaleando em
direção ao carro. Sua roupa toda rasgada no asfalto, mostravam o caminho que seu corpo
percorrera depois da batida. Suas costas em carne viva, totalmente ensanguentadas, a mão
esquerda virada numa posição pouco natural. “ Meu Deus!... ele está agarrando o motorista
desmaiado! Puta merda! Ele ta mordendo o cara!” – gritos saíram de dentro carro. – “ Puta
qu... Tem gente dentro do carro!” – A câmera mostrava as costas ensanguentadas do piloto,
enquanto este atacava o motorista. Surge um novo homem na tela, correndo na direção do
carro. “Ae! Parece que alguém está tentando separar os dois. Ah não!...” O homem havia
chegado e tentado puxar o piloto da moto, os dois caíram no chão juntos. O piloto com sua
face ensanguentada tentava morder o homem caído quando a imagem foi cortada de volta
para o estúdio. “Desculpem... imagens chocantes... Voltaremos com mais notícias.”. O coyote
em cima de um foguete aparece na tela tentando perseguir o Papaléguas. Nenhum som é
ouvido na sala. Nem mesmo vindo das crianças. A primeira a se mexer é Carla, suas mãos já
haviam pego o celular e discado pra casa antes que tivesse conseguido pensar em algo. O som
da linha já soava em seus ouvidos.

“...Deixe seu recado após os sinal. *BIP*”

“...”
“Merda! O Paulinho não atende!”

Você também pode gostar