Basile defende que a vinda da Corte para o Brasil foi um dos elementos que
motivaram o processo de independência. Caracteriza o governo joanino como
um absolutismo ilustrado com aspirações imperialistas na América do Sul. A
Revolução Vintista também é vista como um elemento que contribui para o
processo de independência. O Brasil é apresentado como um território de
diversos embates, principalmente das províncias do Norte e Nordeste. É
presente a ideia de uma falta de sentimento de identidade nacional no país. O
primeiro reinado é palco de diversos embates de grupos políticos e de uma crise
financeira intensa. Houve uma crescente insatisfação em relação a Dom Pedro,
essa insatisfação se fortalecia por um antilusitaníssimo que era corrente na
população brasileira. O sete de abril foi encarado como um momento de
ruptura. As reformas liberais e o incremento do aparelho repressivo do Estado
deram-se paralelamente. O movimento Farroupilha tem caráter elitista.
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Ainda em agosto Pedro vai a São Paulo a fim de impedir o avanço de uma
revolta na vila de Santos, pois o governo dessa se opôs as ordens da junta do
governo. Tratava-se de uma briga interna entre as forças políticas da província,
referente ao aumento do poder dos Andradas na região, não tendo nada a ver
com o processo de independência, a presença o príncipe tinha conotação de
apaziguamento dos ânimos, obtendo sucesso.
Durante sua permanência em São Paulo chegaram notícias a respeito das
decisões das cortes portuguesas tomadas em julho, eram tão graves as notícias
que imediatamente as enviaram para D. Pedro, junto foram também cartas
escrita por Dona Leopoldina, do ministro, de José de Bonifácio, exigindo uma
posição definitiva em relação á independência. Oque levou D. Pedro em 7 de
setembro de 1822 a dar o tão famoso grito do Ipiranga; independência ou morte.
Porém, a data em si, não se cobriu de significado especial imediatamente, no
início como o próprio D. Pedro diz em proclamação aos portugueses, dia 12 de
outubro foi o real dia da independência. (somente a partir de 5 de setembro de
1823, passou a considerar o dia 7 como sendo o dia da independência)
OS SINAIS DA CRISE
A oposição cada vez mais acirrada a dom Pedro mesclava se, assim, ao forte
sentimento antilusitanismo, em especial entre as camadas mais populares,
assumindo diferentes matizes. Em termos políticos, os portugueses eram
associados ao colonialismo e ao absolutismo, representando um frequente
ameaça a independência brasileira, a identidade nacional e a liberdade dos
brasileiros, conquistada a duras penas. Do ponto de visto econômico, estava
associado a alta no custo de vida, sendo lhes atribuída a exploração, e o controle
dos aluguéis de moradias e de comércios e a retalho, e aparecendo ainda, como
agiotas, atravessadores de produtos de primeira necessidade. já no âmbito
social, eram vistos como arruaceiros e invejosos, empenhados em afrontar os
brasileiros, e ainda eram concorrentes no mercado de trabalho, chegando
mesmo a exercerem o monopólio em ceras atividades. No desenrolar das noites
das garrafadas alguns deputados e um senador cobraram rigor na apuração e
punição aos agressores portugueses. Alegando; nenhum povo tolera, sem
resistir, que o estrangeiro venha lhe impor-lhe no seu próprio país um jugo
criminoso, indicando urgência em se adotar medidas que venham ao encontro
de prestar justiça aos brasileiros. O imperador procurou providenciar uma
saída, e no dia 20 determinou a formação de um ministério composto somente
por brasileiros, e determinou uma devassa para apurar as desordens e ordenou
que fossem soltos os brasileiros naquela ocasião.
O autor ressalta que; mais do que um produto de um simples arranjo das elites,
a abdicação de dom Pedro, foi resultado não só das tramas políticas
arquitetadas no parlamento, nas sociedades secretas, nos quarteis, na imprensa,
mas contou também com a massiva participação popular, não só na corte, mas
também nas províncias. E preciso ressaltar que, a despeito de todo caráter
autoritário, o governo de dom Pedro I no Brasil não deve, a rigor, ser
caracterizado como propriamente absolutista. Pois afinal de contas, pautava se
por um sistema constitucional, representativo e com divisão de poderes,
aspectos não caraterísticos do regime absolutista de governo, e sim, de regimes
liberais, mas que nunca foram tradicionalmente encontrados nas monarquias
absolutistas europeias. Desta maneira rotular o primeiro reinado desta forma,
significa apenas reproduzir o discurso dos opositores ao governo, que, aliás, não
diferenciava regime absolutismo no sentido que é hoje atribuído pelos
historiadores, de qualquer despotismo político. Trata-se, portanto, de um
governo liberal, levando-se em conta não só as características básicas
apontadas, mas ainda considerando-se que o autoritarismo e o
conservadorismo, tal qual o primeiro reinado, foram as marcas de grande parte
dos governos liberais europeus do século XIX.
A formação desse novo governo, deixava claro seu alinhamento com os liberais
moderados, e excluindo quase que totalmente os liberais exaltados. Esses a
princípio, até manifestaram, em nome da união, seu apoio aos regentes. Porém
a exclusivamente moderada do governo, tornava se cada vez mais visível, com a
eleição pela assembleia geral, em 17 de junho, do mesmo Lima e Silva e dos
deputados João Bráulio Muniz e Jose da Costa Carvalho para compor a regente
trina permanente, e com a nomeação do padre deputado Diogo Antônio Feijó
para ministro da justiça em 6 de julho.
AS REFORMAS LIBERAIS
As reformas do início da regência não poderiam deixar de recair sobre um dos pontos
mais explosivos das disputas políticas do primeiro reinado: a relação de forças entre o
executivo e o legislativo. Neste sentido, a lei de regência de, 14 de junho de 1831,
inverteu essa relação, fortalecendo o poder do parlamente em detrimento dos regentes.
Esses não podiam dissolver a câmara dos deputados, conceder anistias, outorgar títulos
honoríficos, suspender as liberdades individuais, decretar estado do sítio, declarar
guerra, ratificar tratados e nomear conselheiros, para tudo isso dependia do parlamento.
(página 227)
A cabanagem foi o mais notável movimento ocorrido durante o império. E o único cuja
camadas mais baixas em termos condição social (índios, caboclos e negros)
conseguiram ocupar o governo de toda uma província durante um período relativamente
extenso (9 meses), porém, os cabanos não possuíam qualquer programa de governo
definisse seus objetivos, e nem apresentaram um conjunto sistemático de exigências.
Em suas proclamações, transparecia apenas um profundo ódio aos portugueses,
estrangeiros e maçons, e a defesa pela liberdade, da religião católica, do Pará e de dom
Pedro II. Constitui se, assim, um movimento motivado pela insatisfação com a
interferência do governo central, pela lusofobia exacerbada, e pelo rancor aos poderosos
em geral, e impulsionada pela agitação sociopolítica da época e pelas liberdades que
passaram a desfrutar as províncias.
A segunda grande revolta do período foi um tanto quanto distinta, a guerra dos farrapos
ou revolução farroupilha, o mais duradouro movimento rebelde do Império. Zona de
fronteiras, vizinha a turbulenta região platina, tradicional foco de conflitos desde os
tempos das coloniais, o Rio Grande do Sul comportava uma sociedade militarizada,
formada por grupos de caudilhos que se mantinham distanciados do restante do país.
Tanto social quanto cultural e economicamente, o Rio Grande do sul estava mais
vinculado a região platina- sobretudo ao Uruguai e as regiões argentinas de Entre Rios e
Corrientes- do que ao império. A economia local provinha da pecuária e a produção do
charque, formavam grupos de poderosos charqueadores e estanceiros. Um dos
principais fatores desencadeadores da revolta consistiu no descontentamento desses
grupos com política tributária do Governo imperial, reivindicavam a redução de
impostos sobre o sal, e do imposto sobre a circulação de produtos nas províncias, e a
elevação na taxa de importação paga pelo charque platino, cuja produção (realizada por
mão-de-obra-assalariada) concorria em vantagem com a produção rio-grandense (cuja
mão-de -obra era escrava). Mas com o império em crise, o governo regencial não se
senti disposto a mudar a sua política tributária. Além disso, os farroupilhas opuseram
-se a uma sociedade militar caramuru instalada em 1833 na região e entraram em
choque aberto com presidente da província nomeado pela regência, Antônio Rodriguez
Fernandes Braga, para governar a província. Diferente da cabanagem a revolução
farroupilha foi um típico movimento de elite. Embora tenha contado com a participação
popular. (pag. 232 a 233)
A terceira grande revolta dessa fase foi a sabinada, na Bahia. O clima de agitação na
província, e em especial na capital, não havia apaziguado desde os distúrbios
federalistas de 1832-1833 e o levante malé. Diversos jornais e panfletos exaltados
atacavam duramente a regência, protestavam contra o envio de obrigatório de rendas da
província para a corte e de tropas locais para reprimir o movimento sulista,
manifestavam apoio aos cabanos e farroupilhas, e, por fim incitaram a população á
revolta. (pag. 223-224). A sabinada foi uma revolta aos moldes semelhantes aos
levantamentos urbanos do povo e tropa do período regencial, só que escala maior, com
uma base social mais ampla (contando com a participação de muitos comerciantes) e
com certas demandas ou novas e mais sedimentadas, como federalismo. Os sabinos
combatiam fortemente a regência e a centralização que esta impunha as províncias, não
acreditando que o ato adicional tivesse alterado esta situação; para eles oque imperava
era o colonialismo da corte. Opunham se também aos que chamavam de aristocratas,
associados aos senhores de engenho do recôncavo, pretendendo uma reforma social que
expurgasse, sem, contudo, precisarem em que esta consistia. (pag. 234)
A última revolta desta série de grandes revoltas regências foi a balaiada, no Maranhão.
A província passava por seria crise econômica, com a queda da produção e nos preços
de seu principal produto d exportação, o algodão, que perdendo progressivamente o
mercado pela concorrência da produção do sul, dos Estados Unidos, sofreu uma queda
de cerca de 20% na década de 1820. (página 234-235). Como a Cabanagem, a Balaiada
foi uma revolta não só de ampla participação popular (vaqueiros, cesteiros, pequenos
proprietários, agregados, libertos e escravos), mas também cujos principais líderes
desses mesmos extratos sociais. Resta ressaltar que essas revoltas, que as propostas e
medidas de secessão e de adoção da república, longe de integrarem as ideias que
realmente almejavam os grupos revoltosos, constituíam se sempre uma situação limite
frente a demandas regionais que o governo central insistia em não atender. Prova disto,
é que a independência ou a república foram proclamadas sempre em caráter provisório,
ou acompanhadas de manifestações pró-monarquias ou pró-unionistas (páginas 235-
236)
O regresso, porém, estava longe de ser um movimento consensual entre a elite política
imperial. A ele se opuseram outros segmentos políticos da sociedade, que se reuniram
inicialmente pelo partido progressista, núcleo do logo seria o partido liberal. Como
apontou José Murilo de Carvalho, diferindo-os dos regressista e conservadores, eram,
basicamente profissionais liberais de extração urbana, e numerosos proprietários de
terras de áreas menos tradicionais, como Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.
a estes se juntaram antigos liberais exaltados e, ainda poucos restauradores. Por
princípios, defendiam a descentralização e a prevalência do poder legislativo.