A pesquisa na qual o filme se insere tem o objetivo de analisar a construção de um

terreiro de candomblé enquanto casa e moradia de humanos, orix[as e esp[iritos, tendo em vista
os debates sobre a materialidade e formas de habitac;ao. A formação do candomblé no Brasil tem
a ver com a reconfiguração territorial de uma série de ritos e cultos étnicos africanos. Logo, os
terreiros podem ser entendidos como efeito do processo de reterritorialização da diáspora
africana no Brasil, em que a “religião africana tendeu a reconstituir um novo habitat” (Bastide,
1960:32). Desse modo, a disposição espacial e o projeto arquitetônico dessas casas têm a ver
com tal refundação. Esse espaço particular também tenta recriar, continuamente, a completude
mítica entre o orun (céu) e o ayiê (terra) que, de acordo com os mitos de criação do mundo,
passou por uma desconexão quando os humanos desceram à terra – dando origem aos
infortúnios. É nesse sentido que propomos pensar a casa de candomblé como lugar da
reconstrução da vida.
Por sua vez, a etnografia como um trabalho em andamento precisa ser permeável a outras
formas de observação, participação e registro para além dos contidos na escrita formal. A
utilização de instrumentos audiovisuais como recurso metodológico derivou da crescente
demanda dos membros por auto apresentação e legitimidade pública. Assim, mais que um
registro, o vídeo [e “um medium na instauração do diálogo com as pessoas filmadas,
ultrapassando assim sua única função de gravação” (Opipari,2009: 22). A compreensão
simbólica de si e do espaço, as produções de identidades autoencenadas, assim como a geração
de produtos culturais e científicos para grandes públicos serão alvo de escrutínio ao longo da
pesquisa. Portanto, a intenção é utilizar a observa;’ao fílmica como um recurso para a análise das
múltiplas presenças no terreiro e a constante construção da casa de santo e sua apresentação
multissensorial.

The research to which the film is based on has the goal to analyze the construction of a candomblé terreiro as both
house and home of humans, orixás ans spirits, having in mind the debates on materiality and housing forms. The
formation of candomblé in Brazil has to do with the territorial reconfiguration of a series of rites and ethnical African
cults. So, the terreiros can be understood as an effect of the process of reterritorializing of the African diaspora in
Brazil, where the “African religion has stablished a new habitat” (Bastide, 1960:32). This way, the special disposition
and the architectural project of these houses has to do with this refoundation. This particular space also tries to
recreate, continuously, the mythical fulfillment between the orun (sky) and aiyê (earth) that, according to the myths of
the world’s origins, passed through a disconnection when human descended upon the Earth, giving birth to all
misfortunes. It’s in this sense that we propose to think the candomblé house as a place of a reconstruction of life.
Ethnography as a work in proress needs to be permeable to other forms of observation, participation and registry
beyond contricted formal wirting. Utilizing audiovisual instruments as a methodological resource derived from the
crescent demand of the member of candomblé for self-representation and public legitimacy. More than a registry, the
video [and “a medium on the instauration of dialoguewith who is filmed, surpassing as so its sole function of
recording” (Opipari, 2009:22)]. The symbolic comprehension of themselves and their space, the productions of self-
staged identities, as with the generation of cultural and scientific products to greater audiences will be target to
scrutiny throughout the research. Therefore, the intention is to use the filmed observation as a tool to analyze the
multiple presences at the terreiro and the constant construction of the house-of-saint and its multisensorial
presentation