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A lenda de Tanabata Matsuri

Morava próximo à Via-Láctea a filha de um poderoso Deus do reino celestial, chamada Orihime, a


Princesa Tecelã. Certo dia, diante de seu tear, viu passar um jovem e belo rapaz, Kengyu, que
conduzia um boi. Instantaneamente, ela se apaixonou por ele.

Seu pai, o Senhor Celestial, consentiu com o casamento dos dois jovens. Porém, casados e
totalmente dominados pela paixão, ambos se descuidaram de seus afazeres e obrigações.

Foi então que o pai, indignado com tamanha irresponsabilidade, ordenou que eles vivessem
separados, um de cada lado da Via Láctea. A separação trouxe muito sofrimento e tristeza
para Orihime.
Com pena de sua filha, o Senhor Celestial resolveu permitir que o casal se reencontrasse
somente uma vez ao ano, no sétimo dia do sétimo mês (=Tanabata), contanto que cumprissem a
ordem do pai de realizar os pedidos vindos da Terra.

A princesa, então, encarnou em diversas regiões da Terra e em muitas épocas diferentes,


procurando atender todos os pedidos.

A lenda de Tanabata, a princesa tecelã


 
Adaptação livre de Claudio Seto (Texto e desenhos: Claudio Seto)
Era uma vez, uma única vez na história, no tempo da formação do Universo. O soberano Celestial,
(Tem no Ô) ainda estava atarefado em confeccionar estrelas e dependurá-las no firmamento, para
brilhar durante a noite. Também as nuvens ainda estavam sendo tecidas e, esta tarefa cabia a bela
filha do Soberano Celestial, a princesa Tanabata Tsume. Ela sabia como ninguém, fazer as mais
tênues tramas de tecido e justamente por isso, era conhecida como Orihime, a Princesa Tecelã.
Dia após dia, ela trabalhava sem parar em seu tear. Dele saiam tecidos tão leves e diáfanos, tão
finos, macios e maleáveis, que seu pai os pendurava no céu entre as estrelas, por vezes deixando-
os cair em pregas até quase tocarem a Terra. Hoje damos a estes tecidos o nome de nuvem,
névoa e cortina de nevoeiro, conforme a densidade.
Inteiramente absorvido pela tarefa de formar o céu, o Soberano Celestial orgulhava-se muito da
habilidade da filha e a ajuda de Orihime era muito valiosa. Porém um dia, ele percebeu que a
Princesa Tecelã estava pálida. E disse:
- Filha, tens trabalhado tanto que bem mereces um pouco de descanso. Hoje está dispensada de
tecer, e pode folgar o dia inteiro. Aproveite para visitar o Amanogawa. Mas não se esqueça de
voltar ao trabalho amanhã, pois ainda necessito de delicadas cortinas de nevoeiro para as manhãs
de primavera, e porções de nuvens brancas para o verão.
Orihime sentiu-se muito feliz. Há muito tempo desejava caminhar descalça em Amanogawa – o rio
Celeste, conhecido no sul da margem oposta (Brasil) como Via Láctea, e divertiu sem preocupar.
Até então não sobrava tempo para tamanha descontração.
A Princesa Tecelã, vestiu seu mais belo kimono e correu dançando por entre as estrelas do Rio
Celeste. No meio da Via Láctea avistou, no meio da correnteza estelar, um belo jovem com chapéu
de caipira, banhando um boi.
-Quem é você ó bela donzela? Perguntou o jovem vaqueiro.
-Sou a estrela Shokujosei no Tanabata Tsume, filha de Ten no Ô, o Soberano Celestial, mas me
chamam de Orihime, a Princesa Tecelã, respondeu ela. Também sou conhecida no Hemisfério Sul
da Via Láctea com o nome de estrela Vegas.
-Meu nome estrelar é Altair, o vaqueiro, mas no Extremo Oriente da Via Láctea me chamam de
Kengyu no Hikoboshi – se apresentou o pastor de gado.
Daquele encontro casual começou a brotar um sentimento de felicidade, nunca antes sentido por
Orihime. Os jovens se divertiram muito, brincando de pega-pega, rindo e correndo no rio Celeste.
Depois a convite do Vaqueiro, Orihime concordou em visitar a casa dele.
Hirokoboshi ajudou a princesa montar no boi, e conduziu-a através da Via Láctea em direção ao
Hemisfério Sul, seu lar. Lá chegando, se divertiram muito dançando juntos no prato celeste.
Tamanha era a felicidade da princesa que esqueceu completamente as recomendações do pai, e
os dias se passaram.
Preocupado com a demora da filha, o Soberano Celestial ficou desesperado. Chamou uma garça e
mandou fazer uma busca, encarregando-a de dizer a princesa que voltasse o mais depressa
possível ao Palácio Celeste. A garça avistou a princesa dançando na margem oposta da Via
Láctea, e deu-lhe o recado. Porém, Orihime, estava tão feliz e divertindo-se como nunca que não
deu ouvidos ao pássaro mensageiro.
Cansado de esperar e muito zangado com a desobediência da filha, o Soberano Celeste foi buscá-
la pessoalmente:
- Não destes ouvidos a minhas palavras! – disse o deus do Espaço Celeste – olha o céu! Ainda
falta muito trabalho a ser feito, e ficas aí com namoricos, quando precisamos de nuvens, névoa e
cortinas de nevoeiro. Portanto não poderei mais dispensá-la do trabalho. Tens que voltar ao
palácio e continuar a tecer.
E o Soberano Celestial despejou grande volume de água estelar no Rio Celeste. Então a Via
Láctea que era largo porém raso que se podia atravessar a pé, foi transformado em rio caudaloso,
tantas eram as águas de estrelas que a divindade celeste havia despejado.
Como a princesa Tanabata (Orihime) e o vaqueiro Altair moravam em margens opostas do Rio
Celeste, ou seja, em hemisférios opostos da Via Láctea, não havia meio de se encontrarem
mesmo as escondidas. Portanto a princesa voltou melancolicamente junto ao tear no Palácio
Celeste.
Porém sentia-se tão solitária, e com tanta saudade de Altair, que não conseguia mais tecer. Ficava
apenas sentada e chorando incessantemente. Ela havia descoberto que era mais feliz no pobre
casebre rural do caipira vaqueiro do que no suntuoso palácio de seu divino pai.
No Hemisfério Sul, a estrela do vaqueiro Altair, também morria de saudades e passava o dia todo
tocando sua sanfona e cantando:
Olé, mulher rendeira.
Olé, mulher rendá.
Tu me ensina a fazer renda
Que eu te ensino a namorar.
O vento levava a canção até o Palácio Celeste, que aumentava a saudade da princesa. De tanto
chorar as nuvens que restavam no céu, desmancharam em forma de lágrimas e despencaram na
Terra em forma de chuva.
O Soberano Celeste ficou desesperado porque com o volume de chuva caindo a Terra, iniciaram-
se as inundações na Terra enquanto que no céu as nuvens foram desaparecendo. Então ele
procurou a filha e disse:
-Por favor, minha princesinha, pare de chorar. Necessitamos tanto de nuvens, névoas e cortinas de
nevoeiro para manter o equilíbrio da natureza. Por outro lado, se você continuar chorando, vai
causado um dilúvio universal, que não restará um só vivente na Terra para contar a história.
Vamos fazer um acordo e acabar com essa greve. Você volta a tecer com diligência e eu te
concedo um dia livre por ano para ver o vaqueiro celeste.
Tais palavras devolveram a alegria à princesa, e ela retornou com entusiasmo o trabalho. E desde
então nunca mais parou de tecer.
Mesmo sabendo que no futuro a princesa poderia requerer mais dias de folga, o Soberano Celeste
cumpriu fielmente sua promessa. Uma vez por ano, na semana dos imigrantes japoneses, ele
envia mil garças (senba tsuru) para o Rio Celeste, que com suas asas, eles formam uma ponte
sobre as águas estelares profundas.
Trajando um lindo kimono, Orihime atravessa a ponte das Mil Garças e corre alegremente para a
margem oposta ao encontro do seu amor. Altair, o fiel pastor de gado, que a aguarda
ansiosamente.
Ambos se sentem radiantes por poderem ficar juntos durante um dia e uma noite. Dizem que um
dia estelar equivale a uma eternidade terrestre. Por isso o amor dos dois é infinito.
 

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