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Fé (1956-1962) *
Universidade do Litoral era mais antiga. Ele havia estudado anteriormente no Instituto
Social e dirigido, em 1947, o primeiro grupo de teatro amador da Universidade.
O diretor propunha-se “utilizar el cine al servicio de la Universidad y la
Universidad al servicio de la educación popular, de una toma de conciencia cada vez
más responsable” (Avellar, 1995, p.47). Esta parceria era inédita na América Latina e
resultou no Instituto de Cinematografia de Santa Fé.
A institucionalização da escola ocorreu em paralelo às discussões sobre a
necessidade de centros de formação universitária na área cinematográfica. À época,
discutia-se a possibilidade da fundação de uma escola nacional de cinema, mas
Fernando Birri achou melhor construir um instituto a partir de uma alternativa mais
pragmática e realista que fugisse da eterna burocracia latino-americana.
Propôs, então, começar com um seminário de cinematografia, complementado
com aulas práticas. Entre os seminaristas estavam jovens escritores, escultores e
músicos da cidade, sócios dos cineclubes, integrantes dos teatros independentes e,
principalmente, estudantes universitários e secundaristas, assistentes sociais e
professores. O primeiro seminário durou quatro dias e foi realizado na Faculdade de
Direito da Universidade, com a participação de 130 alunos. Segundo Birri:
Los cursos se dictaron en las aulas de la Facultad de Derecho; por la tarde, los
teóricos, según el programa desarrollado por Luigi Chiarini en el Centro
Experimentale di Cinematografía de Roma (por dos razones: trataba, de este
modo, de transmitir lo que a mi vez había aprendido cuando alumno de aquel
Centro; la otra razón consistía en que los nuevos alumnos podían contar, para
fijar y rumiar los conceptos vertidos durante el cursillo, com el libro “Il Film Nei
Problemi Dell’Arte”, del mismo Chiarini ... (Birri, 1964, p.18)
Pero más que compartirlo como espectador pasivo queremos que quien lo lea
encuentre en esta experiencia futura... la lucha por la cultura de los pueblos, que
es también la lucha contra las poderosas fuerzas que quieren negar el desarrollo,
la elevación y la dignidad del hombre sobre la tierra. (ibidem, p. 5)
de masa y muy poco de extensión universitaria” (ibidem, p.24). A idéia, então, era
comunicar-se com o povo a partir de um projeto didático:
Nos apoyamos declaradamente en principios hoy todavía tan válidos como los
enunciados, por ejemplo, por Grierson y Zavattini, cada uno a su tiempo.
Grierson – fundamentador teórico del concepto documentalístico, conductor
práctico de las filmaciones del rigoroso Group 3 en Inglaterra – ya en el año 30
define así al cinematógrafo documental: elaboración creativa de la realidad,
sosteniendo su vigencia autónoma porque: 1) Creemos que de la capacidad que
el cinematógrafo tiene de mirar alrededor suyo, de observar y seleccionar los
acontecimientos de la vida verdadera, se puede obtener una nueva y vital forma
de arte. 2) Creemos que el actor natural (o auténtico) y el escenario natural (o
auténtico), constituyen la guía mejor para interpretar cinematográficamente el
mundo moderno. 3) Creemos que el material y los temas encontrados en el lugar
son más bellos (más reales en sentido filosófico) que todo lo que nace de la
representación. El documental puede profundizar la realidad y obtener de ella
resultados que ni la maquinosidad de los sets ni la exquisita declamación de los
actores prefabricados se sueña. (ibidem, p.22)
A escola concebida por Birri estava buscando um estilo. Mas o conteúdo viria
primeiro: ser útil para a sociedade, ou seja, a técnica acompanhada de sentido. Ela
questionava a forma de produção tradicional, o sentido “romântico do artista” e
propunha que seus trabalhos fossem realizados por pessoas comuns e coletivamente.
... um dia tocam a campainha do Instituto dois brasileiros que vinham com suas
malinhas. Eles me perguntam: – ‘É aqui que se ensina a fazer cinema?’ – ‘Sim,
aqui se ensina a fazer cinema, mais ou menos, mas se ensina.’ – ‘Bom porque
nós lemos sobre esta escola e queríamos ver se é possível ficar um pouco aqui,
compartilhar’. Imagina para nós era maravilhoso que de repente dois
companheiros brasileiros viessem a esta escola, não imaginávamos que a escola
já pudesse ser conhecida no Brasil. Vieram para ficar uma semana e ficaram
vários meses. (Almeida & Muniz, 1997, p. 9)
Depois disso vem o momento terrível: 1963, em que nos damos conta que já não
há mais espaço para nós, e que talvez a única maneira de preservar o Instituto de
Cinematografia seja irmos embora. As circunstâncias políticas eram como o
primeiro vendaval da ditadura que iria vir depois, para praticamente acabar com
pessoas, filmes, livros, com a esperança de tantas gerações na Argentina. Neste
momento decidimos sair da Argentina, junto a Edgardo Pallero, que foi o
elemento determinante da Escola, sua companheira Dolly Pussi, Manoel Horacio
Giménez, que depois ficou no Brasil como diretor, e com Carmen, que era
minha companheira nesse momento. (Almeida & Muniz, 1997, p.15)
Supe por gente que vivía cerca de la escuela que, con la última dictadura militar,
viu llegar uma noche dos camiones del ejército y se llevaron todo lo que
nosotros, como hormiguitas, habíamos juntado: moviola, câmaras de cine,
nuestros sueños ... Fue cuando se decidió que se acababa todo. (Guarini, 1995,
p.15)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALMEIDA, Miguel de & MUNIZ, Sérgio. Fernando Birri, cinema aberto: entrevista a
Miguel de Almeida e Sérgio Muniz. São Paulo: Fundação Memorial da América Latina,
1997.
AVELLAR, José Carlos. A Ponte Clandestina: Birri, Glauber, Solanas, Getino, García
Espinosa, Sanjinés, Aléa – Teorias de Cinema na América Latina. Rio de Janeiro/São
Paulo: Edusp, 1995.
BIRRI, Fernando. La Escuela Documental de Santa Fe. Santa Fe: Editorial Documento
del Instituto de cinematografia de la U.N.L., 1964.
DA-RIN, Silvio. Espelho Partido: tradição e transformação do documentário. Rio de
Janeiro: Azougue Editorial, 2004.
CAETANO, Maria do Rosário. Cineastas Latino-Americanos: entrevistas e filmes. São
Paulo: Estação Liberdade, 1997.
GUARINI, Carmen. Entrevista a Fernando Birri. Film, Buenos Aires, n.14, p.12-7,
jun./jul, 1995.
PUSSI, Dolly. Breve Historia del Documental en la Argentina. Cine Cubano, Havana,
n.84/85, p.32-3, 1978.
REIS, Mário Oliveira Reis. Gláuber Rocha e o pensamento americano (de Leopoldo
Zea). Tese (Doutorado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,
Universidade de São Paulo, 1996.
SCHUMANN, Peter B. Historia del cine latinoamericano. Buenos Aires: Cine
Libre/Lalgasa, 1987.
LIMA, Mônica Cristina Araújo. Cinema and social transformation: Santa Fé’s
cinematographic institute. História, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 162-178, 2006.
NOTAS
*
Este artigo foi elaborado a partir do segundo capítulo de nossa tese, Fernando Birri: criação e
resistência do cinema novo na América Latina, defendida, em março de 2005, no PROLAM/USP, sob
orientação do prof. Dr. Afrânio Mendes Catani a quem agradecemos a cuidadosa orientação.
Estendemos, ainda, nossos agradecimentos à Capes que, ao nos conceder bolsa pesquisa, viabilizou
nosso projeto.
**
Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (Prolam), da Universidade
de São Paulo- USP. 05508-060, São Paulo, SP, Brasil.
1
A Universidade Nacional do Litoral foi fundada pela reforma universitária de 1918. O Instituto Social,
criado em 1928, foi decisivo para a fundação do Instituto de Cinematografia.
2
A partir deste filme a produtora de Grierson, New Era Films, foi contratada pela estatal inglesa Empire
Marketing Board (EMB) para realizar documentários para o governo inglês. Foram membros da
produtora: Basil Wright, Evely Spiece, Arthur Elton, Edgar Anstey, Stuart Legg, Paul Rotha, Donald
Taylor, Harry Watt, Marion Grierson, Robert Flaherty, o brasileiro Alberto Cavalcanti etc.
3
A colaboração entre Drew e Leacock teve início em 1954. A Drew Associates formou-se em 1959 e
dissolveu-se em 1963, quando Leacock abandonou a sociedade. Donn Pennebaker e Albert Maysles
participaram do grupo por um período mais curto. A Drew Associates era financiada pelo grupo Time-
Life e produziu mais de trinta filmes, entre eles: Primary (1960), Yankee No (1960), On the Pole
(1961), Kenya (1961), Crisis (1962) e The Chair (1962) (Da-Rin, 2004, p.136).
4
A partir de fotodocumentários foram surgindo os primeiros filmes do grupo e os manifestos conforme
relação que se segue: Fotodocumentários de 1956: Tire dié, El conventillo, Edad Feliz, Nunzia, Mercado
de Abasto, El Triángulo, Alto Verde, Un boliche, A la cola. Documentários de 1958: Tire dié, de
Fernando Birri (1a versão, 59”). De 1959: La primera fundación de Buenos Aires, de Fernando Birri, La
Inundación de Santa Fe, de Elena de Azcuénaga (10”); Retabillo de Perico, de César Cáprio (11”); 5o
dedo varo, de Enrique Arteaga (15”); El palenquero, de Hugo Abad (10”); López Claro, su pintura mural
americana, de Juan F. Oliva (10”). De 1960: Luxación congénita de cadera, de Enrique Urteaga (18”);
Opera El profesor Clarence Crafford, de Enrique Urteaga (5”); 50 años de la Escuela Industrial, de
Carlos Gramaglia (15”); Buenos días, Buenos Aires, de Fernando Birri (20”); Tire dié (versão definitiva),
de Fernando Birri (33”). De 1961: Los Ojos que oyen, de José Ayala (10”); Feria Franca, de Hercilia
Marino (10”); Tierra para niños, de Hugo Abad (10”); Brucelosis, de César Caprio (10”); Los inundados,
de Fernando Birri (primeiro longa-metragem de ficção). De 1962: La Pampa Gringa, de Fernando Birri
(10”); El puente de papel, de Nelly Borroni (10”); Club de barrio, de Edgard van Isseidyk (10”); Los 40
cuartos, de Juan F. Oliva (20”); La cancha, de Juan F. Oliva (não consta o tempo).
5
Um dos realizadores do Festival de Cine Internacional Documental y Experimental del SODRE
(Servicio Oficial de Difusión Radioeléctrica), desde 1954, em Montevidéu.
6
Assinavam as resoluções: “Fernando Birri, Diretor del Instituto de Cinematografía de la U.N.L.;
Adelqui Camusso, Coordinador Docente de Instituto de Cinematografía de la U.N.L., Aldo Persano,
Director del Departamento de Cinematografía de la Universidad Nacional de Buenos Aires; José Tapia,
Jefe de la Sección Cine de la Dirección General de Cultura de la Nación; Jaime Potenze, crítico
cinematográfico de la revista “Critério”; Víctor Iturralde, realizador de cortometraje; José Bullaude,
Coordinador en la Mesa Redonda y profesor de Medios Audiovisuales del Instituto de Cinematografía de
la U.N.L; Salvador Sammaritano, profesor de Historia del Cine del Instituto de Cinematografía de la
U.N.L y miembro de la C. D. de la Federación Argentina de Cineclubes; José Agustín Mahieu, profesor
de Crítiica Cinematográfica del Instituto de Cinematografía de la U.N.L. y miembro de la Asociación de
Realizadores de Corto Metraje. Y adherían, sin excepción, todos dos representantes de los intereses
culturales de la ciudad” (Birri, 1964, p.184-5).
7
Em 1960 foi realizado o Ciclo Documento y Realismo Social, organizado por Manuel Horacio Giménez,
com filmes de Alain Resnais, emprestados pela Embaixada da França: Van Gogh, Guernica, Gauguin,
Toda la memoria del mundo e Noche y Niebla. Também foram exibidos longa-metragens inéditos cedidos
pela Embaixada da Hungria, Dulce Ana, El casamiento de Ecser, El profesor Aníbal, todos de Zoltan
Fabri. Entre os dias 19 e 26 de outubro de 1960, realizou-se a Segunda Semana Universitaria de Cine
Documental Internacional, dedicada à Escola Documental Inglesa. Nestes dias foram exibidos 27
documentários produzidos, na Inglaterra e no Canadá, entre 1929 e 1959, por Grierson, Wrigth,
Cavalcanti, Watt, Riley, Annakin, Dickson, Jennings, Anderson, Brenton, Keene, Clarke, Stanley,
Jackson, Colin, Low, Wolf, Koening. Os documentários produzidos pelo Instituto foram exibidos nas
cidades de Buenos Aires, Santa Fé, Rosário, Coronda, Paraná, Río Cuarto, Conceição do Uruguai, La
Plata, Chivilcoy, Rafaela, San Cristóbal, Gobernador Crespo, San Justo e Mar del Plata.
8
Muestra del Libro Santafesino, com exposição do escritor Julio A. Caminos e exposições dos artistas
Richard Patausso, Jorge Planas Viader, Armando Godoy e Raúl Pecker.
9
Vladimir Herzog (1937-1975), autor do documentário Os Marimbás, de 1962, foi jornalista e diretor de
redação da TV Cultura. Em 1973, foi preso e assassinado pela ditadura militar. Maurice Capovilla
(1936), diretor de Bebel, Garota-Propaganda (1967), O Profeta da Fome (1970), O jogo da Vida (1976).
Foi integrante do grupo de cineastas “Boca do Lixo” nos anos 70 e diretor do Instituto Dragão do Mar de
Arte e Indústria Audiovisual do estado do Ceará (1996 a 1999).
10
Los 40 cuartos foi a segunda pesquisa social filmada pelo grupo de Santa Fé, dirigida pelo aluno Juan
F. Oliva, como tese de fim de curso. Depois de sua exibição, em 1962, na Mostra Anual de Curta-
Metragem, organizada pela Direção Nacional de Cultura, o filme foi cassado pelo presidente Fernando
Guido, em 30 de janeiro de 1963 (com base no decreto n. 4965/59).
11
Existiam várias escolas de cinema espalhadas pela Argentina, mas nenhuma de caráter “nacional”.
Entre elas, o Instituto Cine-fotográfico e o Centro de Investigaciones de Medios Audiovisuales, da
Universidade de Tucuman; o Instituto Cinematográfico, da Universidade de Buenos Aires; o Instituto de
Cinematografia, da Universidade de La Plata; o Taller de Cine e a Asociación de Cine Experimental, de
Buenos Aires; e o Instituto de Cinematografia, da Universidade Nacional do Litoral, de Santa Fé (Birri,
1964, p.134).