Você está na página 1de 7

Endometriose no Trabalho: estratégias e direitos

Uma em cada 10 mulheres sofre de endometriose e no entanto é uma condição


da qual muitas pessoas ainda não ouviram falar.
Se a empresa onde trabalhares tem mulheres (e deve com certeza ter!) então
tenta calcular quantas pessoas na tua empresa sofrem tal como tu de
endometriose e nem sequer sabes (e secalhar nem elas, pois sabemos o quão
tardio pode vir um diagnóstico).

Embora os estudos sejam limitados, estima-se que as mulheres com


endometriose perdem cinco a dez horas por semana devido ao presenteísmo
no trabalho e pelo menos uma hora por semana devido ao absenteísmo no
trabalho. O presenteísmo no emprego ocorre quando um indivíduo está a
trabalhar, mas a sua produtividade diminui. O absenteísmo no emprego ocorre
quando um indivíduo perde todo o trabalho. Essas estimativas tendem a
aumentar com o aumento da gravidade dos sintomas relacionados com a
endometriose. Apesar da pesquisa sobre a perda de tempo de trabalho como
resultado da endometriose ser limitada, alguns estudos estimam que o número
de dias de trabalho perdidos completamente devido a sintomas, tratamentos ou
recuperação relacionados com a endometriose pode chegar a 20 dias por ano. 
Isso pode impactar negativamente as promoções e o atingir de metas e bónus,
às vezes resultando em desistência ou demissão por falta de desempenho. 

Que estratégias podem então ser tomadas no que respeita a área


profissional?

Comunicação:
O primeiro passo para lidares da melhor maneira com a endometriose no
trabalho seria falares sobre a doença ao teu empregador e ou colegas.
No entanto, falar sobre endometriose com colegas de trabalho ou chefias pode
ser difícil, especialmente porque é uma condição do sistema reprodutor
feminino e tem sintomas que incluem dor pélvica crónica e períodos
dolorosos. Não precisas partilhar informações sobre a tua condição se não
quiseres, e o que quer que decidas partilhar depende de ti. No entanto, abrir
linhas de comunicação com um colega de trabalho de confiança pode ser útil
para teres alguém que te irá entender e apoiar quando precisares fazer uma
pausa ou estiveres a ter um dia difícil. Também pode ajudar às pessoas à tua
volta a apoiar-te melhor ou ajudar a entender por que podes não estar no teu
melhor em alguns dias.

Pode ser mais difícil falar com um supervisor sobre a tua condição do que com
uma colega de trabalho, no entanto, às vezes pode ser necessário falares com
o teu supervisor, pois ele pode ser o único que pode decretar mudanças que te
ajudem e tentarem delinear juntos um plano de acção. O ideal será conseguir-
se equilibrar nesse plano a tua saúde física, saúde psicológica, e a situação
financeira. No entanto nesse plano não podes descurar que continues a
trabalhar de uma maneira que não te prejudique, continuar a fazer o teu
trabalho, e que esse plano seja também justo perante os outros trabalhadores.

Abrir estas linhas de comunicação irão facilitar o entendimento porque por


vezes terás de adiar reuniões, ou avisar que não consegues sair da cama
durante um surto de dor.

Escala de tarefas:

Anota os teus níveis de energia e quaisquer mudanças regulares de sintomas


ao longo do dia e planeia as tuas tarefas à sua volta. Por exemplo, se notares
que nas primeiras duas horas do dia tens mais energia e começares a
desenvolver mais dor na hora do almoço, tenta lidar com as tarefas mais
dificeis pela manhã e guarda as mais fáceis para o final do dia. Estares atenta
ao teu corpo e relacioná-lo com as tarefas que tens em mãos pode ajudar-te a
criar uma lista de tarefas que seja viável e alcançável.

Estar preparada

Está pronta para o caso de teres ou outros sintomas quando estiveres no


trabalho. Podes ter uma almofada térmica no escritório para pores no abdómen
quando começares a ter cólicas, ou ter pequenas coisas que te deixam feliz e
melhoram o teu humor para te ajudar a enfrentar um dia difícil como um lanche,
poema, vídeo ou fotografia favorita que podes ter guardado até precisares,
para te dar o impulso de que precisas para continuar. Outros extras que podes
ter são umas calças e roupa interior, pois nunca se sabe quando podes ter uma
menstruação mais abundante.

Faz pausas

A necessidade de fazer uma pausa, ou várias pausas, durante o dia de


trabalho é completamente normal. Poucas pessoas, se houver, podem
permanecer completamente focados e produtivos a trabalhar numa tarefa por
horas a fio. Permitires-te pausas mentais quando necessário pode ajudar-te a
espaçar as tuas tarefas e dar-te a reorientação necessária para
continuares. Algumas dessas pausas podem incluir uma caminhada, a
participação numa actividade ou saíres do local de trabalho para almoçar.

Ainda que estejas no trabalho não podes descurar o teu bem-estar, e isso inclui
a tua alimentação. Trata-se de alimentar um corpo que está constantemente a
usar energia para combater a inflamação. Alimenta-te com fibras, frutas,
vegetais e gorduras saudáveis. Bebe água e toma vitaminas, diminui o
consumo de cafeína e álcool.
Ter "direitos imaginários" ou "obrigações imaginárias" cria muito ressentimento
no ambiente de trabalho, por isso vale a pena falar sobre o que existe na lei
sobre este assunto.

Doenças crónicas: o que são?

O despacho do Conjunto dos Ministérios da Saúde, da Segurança Social e do


Trabalho, n.º 861/99, de 10 de Setembro, considera: doença crónica é a
doença de longa duração, com aspectos multidimensionais, com evolução
gradual dos sintomas e potencialmente incapacitante, que implica gravidade
pelas limitações nas possibilidades de tratamento médico e aceitação pelo
doente cuja situação clínica tem de ser considerada no contexto da vida
familiar, escolar e laboral, que se manifeste particularmente afectado.

Assim e de acordo com a Organização Mundial de Saúde, as doenças


crónicas são aquelas que possuem as seguintes características:

 são permanentes;
 causam incapacidade ou deficiências residuais;
 têm origem em alterações patológicas irreversíveis e/ou exigem uma
formação especial do doente para a reabilitação;
 requerem longos períodos de supervisão, observação ou cuidados.

Doenças crónicas em Portugal


Dentro das normas da OMS, o Serviço Nacional de Saúde em Portugal
considera como doenças crónicas as seguintes patologias:

 asma;
 diabetes;
 cancro;
 doenças cardiovasculares;
 doença pulmonar obstrutiva crónica;
 doenças reumáticas; 
 visão;
 obesidade.

Na listagem de doenças crónicas ainda constam outras como a Infecção pelo


Vírus da Imunodeficiência Humana, Doenças Degenerativas do Sistema
Nervoso como Alzheimer e outras demências. 

A lista completa podes ver aqui

Apesar de estar em cima da mesa a elaboração de um estatuto do doente


crónico, a verdade é que este ainda não se encontra concluído. O que existe,
atualmente, é uma série de benefícios previstos para estes tipos de doentes e
que variam de doença para doença. Ou seja, não existe uma uniformização
dos direitos, uma patologia tem benefícios que outra pode não possuir. 

Mas não é a endometriose uma doença crónica? Sim, é.


A endometriose é uma doença crónica, inflamatória (Amaral et al., 2009) e
debilitante que afeta sobretudo mulheres em idade reprodutiva (Beck et al.,
2006).

Porque não se encontra na lista acima? Parece que infelizmente há ainda


muitas doenças crónicas que não estão consideradas nesta lista.

E podemos ou não usufruir então deste estatuto? Por não se encontrar listada,
e por ser uma doença da qual ainda há tanta desinformação, infelizmente
deverá ser difícil usufruir do mesmo. Não tenho conhecimento. Onde
poderemos ter melhor sorte será com um atestado multiusos do qual falarei a
seguir.

Ainda assim e a título de esclarecimento fica a seguinte informação abaixo


sobre o Código do Trabalho no que afecta a área profissional, caso por
alguma razão consigam este estatuto.

- O artigo 85.º refere que o “trabalhador com deficiência ou doença crónica é


titular dos mesmos direitos e está adstrito aos mesmos deveres dos demais
trabalhadores no acesso ao emprego, à formação, promoção ou carreira
profissionais e às condições de trabalho, sem prejuízo das especificidades
inerentes à sua situação.”
Portanto, este trabalhador não pode ser discriminado negativamente, de forma
alguma, por ser doente crónico ou mesmo por sofrer de algum tipo de
deficiência. Isto aplica-se não só no acesso a oportunidades de emprego como
à própria evolução da carreira. 

- Relativamente a direitos especiais, estes são aqueles que se encontram


previstos no Código do Trabalho:

 Dispensa de prestação de trabalho se esta prejudicar a sua saúde ou


segurança no trabalho em horário organizado de acordo com o regime
de adaptabilidade, de banco de horas ou horário concentrado, ou em
horário noturno (entre as 20h00 e as 7h00);
 Possibilidade de não realizar trabalho suplementar; 
 Preferência na admissão para trabalho parcial;
 Proteção especial em casos de inadaptação ao posto de trabalho. 

Para todos os pais com filhos doentes crónicos existem alguns


apoios que servem como suporte para que estes consigam acompanhar de
forma mais plena o dia a dia dos filhos. Falamos não só de subsídios como
também de algumas concessões ao nível do trabalho. 
Em termos financeiros, existe um Subsídio para assistência a filho com
deficiência, doença crónica ou doença oncológica , atribuído ao pai ou à mãe
que peçam licença no trabalho para prestar assistência ao filho.
No sector profissional, o pai ou a mãe (apenas se aplica a um dos pais) de um
filho com doença crónica ou deficiência têm direito a 30 dias por ano de faltas
justificadas para assistir o filho. Ou se se tratar de hospitalização, o
trabalhador pode ausentar-se do trabalho durante todo o período em que o
filho permanecer internado. 

Outros apoios
Quando a doença crónica evolui para uma situação de incapacidade que
impeça a pessoa de desempenhar a sua atividade profissional, entramos
numa situação de invalidez. Aqui poderá haver direito à Proteção Especial na
Invalidez.
Este apoio tem como objetivo proteger o cidadão numa situação de
incapacidade permanente para o trabalho com prognóstico de perda de
autonomia. Tal inclui:

 Pensão de invalidez especial;


 Pensão social de invalidez especial;
 Complemento por dependência

Todas as condições, termos e montantes estão descritos no site da Segurança


Social:
http://www.seg-social.pt/subsidio-para-assistencia-a-filho-com-deficiencia-ou-
doenca-cronica
http://www.seg-social.pt/protecao-especial-na-invalidez

Atestado Multiusos
Milhares de portugueses sofrem acidentes ou têm doenças graves e não
sabem que podem pedir um Atestado de Incapacidade Multiuso. Se ficares
com alguma incapacidade tem muitas vantagens e benefícios, mesmo que já
estejas reformada ou dependente de terceiros.

Há muitas crianças, adultos ou idosos que têm incapacidades (deficiências ou


dores que afetam o dia-a-dia) e que não conhecem a Atestado Multiuso ou não
sabem para que serve.

Que doenças estão abrangidas?


Todas. O que conta não é a doença, mas sim o grau de incapacidade que ela
te dá. 
Há uma lista enorme de incapacidades na lei, e cada uma dá direito a uma
percentagem específica. 

Benefícios:
- menor retenção na fonte no salário
- direito a quotas de emprego na Administração Pública
- vagas nas Universidades
- apoios do IEFP no emprego
- prioridade no atendimento em todo o lado.

No caso de doença grave ou dificuldades físicas basta pedir este papel no


Centro de Saúde. Tens para isso de levar um relatório médico muito detalhado
com todas as dificuldades que tens e todos os exames. Com esses relatórios
na mão, pedes para marcar uma Junta Médica para que te atribuam uma
percentagem à tua incapacidade. A lei prevê 60 dias para a resposta e o
pedido custa 12,50€.

É na Tabela Nacional de Incapacidades que está a avaliação médico-legal do


dano corporal, isto é, das alterações na integridade psico-física do doente.

CAPÍTULO XII
Órgãos de Reprodução
A) Aparelho genital feminino Introdução –
Neste capítulo são apenas abrangidos: vulva, vagina, útero, trompas-de-falópio
e ovários.
Na atribuição de um coeficiente de desvalorização tem de se ter em linha de
conta a contribuição do órgão para a função reprodutora e ou sexual,
ponderando o passado obstétrico e ginecológico da mulher na idade fértil,
quando as lesões ou as disfunções impedirem a reprodução ou a satisfação
sexual, as incapacidades encontradas serão multiplicadas pelo factor 1,5.
1- Vulva e vagina: Na vagina são de considerar as lacerações que causem
alterações de sensibilidade com prejuízo ou dificuldade no coito e as
estenoses que impeçam o coito ou o parto por via vaginal. Deformidade
da vulva e vagina, sem alterações do clítoris e que não requerem
tratamento continuado, com relações sexuais possíveis e com
possibilidade de parto vaginal
2- Útero: No útero há duas partes a valorizar: o colo e o corpo
a. No colo há que considerar as lesões que originam:
i. Estenoses que prejudiquem ou impeçam a drenagem do
fluxo menstrual;
ii. Incompetências cérvico-ístmicas que necessitam de
correcção cirúrgica para viabilizar uma gravidez;
iii. Perdas parciais ou totais do colo;
b. O corpo do útero é fundamental para a reprodução. Como tal, há
que atender que a sua perda origina esterilidade e que as
cicatrizes do mesmo podem comprometer o futuro obstétrico da
mulher.
i. As sinéquias uterinas resultantes de curetagem também
são objecto de desvalorização, caso não exista
possibilidade de tratamento.
3- Trompas-de-falópio: Nestas há que considerar as obstruções uni ou
bilaterais e as salpingectomias uni ou bilaterais que tenham resultado de
traumatismo.
4- Ovários: A ooforectomia bilateral origina, além da esterilidade, a
menopausa precoce, que prejudica a curto e a longo prazo a vida da
mulher. A disfunção ovária, pode ter graves consequências: o
hiperestrogenismo, resultante da anovulação, e aumento da incidência
da patologia do endométrio.
5- Mamas: As lesões mamárias que originam deformidade ou alteração da
superfície prejudicam estética e psiquicamente a mulher. No coeficiente
de desvalorização há ainda a considerar o factor do aleitamento, se a
mulher se encontrar em idade fértil.

Legislação:
https://dre.pt/web/guest/legislacao-
consolidada/-/lc/108165886/201803021649/diplomaExpandido

Tabela Nacional de Incapacidades:


http://www.seg-
social.pt/documents/10152/156161/Tabela_nacional_incapacidades/1c4c8d4d-
610c-42dc-917b-714f21065e56

- Artigo 85.º: Princípios gerais quanto ao emprego de trabalhador com


deficiência ou doença crónica

- Artigo 86.º: Medidas de acção positiva em favor de trabalhador com


deficiência ou doença crónica

-Artigo 87.º: Dispensa de algumas formas de organização do tempo de trabalho


de trabalhador com deficiência ou doença crónica

-Artigo 88.º: Trabalho suplementar de trabalhador com deficiência ou doença


crónica

-Artigo 248.º: Noção de falta

-Artigo 249.º: Tipos de falta

-Artigo 252.º: Falta para assistência a membro do agregado familiar

-Artigo 253.º: Comunicação de ausência

-Artigo 254.º: Prova de motivo justificativo de falta

-Artigo 255.º: Efeitos de falta justificada

-Artigo 256.º: Efeitos de falta injustificada

-Artigo 257.º: Substituição da perda de retribuição por motivo de falta

Você também pode gostar