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Micas Ricardo

Violência no Contexto Escolar: Percepções dos Docentes da Escola Primário do


1o e 2o Graus de Mocodoene

Licenciatura em Ciências de Educação

Cambine

2021
Micas Ricardo

Violência no Contexto Escolar: Percepções dos Docentes da Escola Primário do


1o e 2o Graus de Mocodoene

Monografia Científica, apresentada ao Curso


de Ciências de Educação para obtenção do
Grau Académico de Licenciatura em Ciências
de Educação.

Supervisor: Me Dinis Armando Guidione

Cambine
2021
DECLARAÇÃO DE HONRA

Declaro, por minha honra, que o presente trabalho académico foi por mim
elaborado seguindo as orientações do meu supervisor. Não se recorreu a quaisquer
outras fontes, para além das indicadas, e todas as formulações e conceitos usados
se encontram adequadamente identificados e citados, com observância das
convenções em vigor.

Mais declaro que este trabalho não foi apresentado, para efeitos de avaliação, a
qualquer outra entidade ou instituição.

Cambine, Janeiro de 2021

___________________________________

(Micas Ricardo)
Dedicatória
Dedicamos este trabalho а Deus, por ser essencial em minha vida, por ter
me dado força, capacidade e determinação, sempre me guiando ao longo da
caminhada.

À nossa família, em especial a nossa mãe, que nunca nos deixa desistir
dos nossos objectivos mesmo nos piores momentos, e ela está ao nosso lado dado
seu apoio em tudo que necessitámos para a consecução dos nossos planos.

A nossa avô que nos ajuda nesta jornada dando poio e encorajamento,
mas sempre nos acreditou.

Ao nossos amigos que nos ajudam nesta jornada, dando apoio e


encorajamento nas nossas maiores dificuldades.

Acima de tudo decidimos este trabalho aos nossos filhos Naira, Trichula e
Renildo que com eles ao meu lado enfrentamos muitos obstáculos sempre pensando
no melhor para eles e a minha esposa Lina Amião pelo apoio moral, encorajamento
e por ter aceitado passar longas noites, sozinha enquanto nos dedicamos aos
estudos.
Agradecimentos
Agradecer a Deus, por nos ter capacitado e nos ter dado forças necessárias no
decorrer do curso.

Agradeço aos nossos familiares que ao longo destes anos nos incentivaram e por
várias vezes me acalmaram nos momentos de dificuldades.

Agradecemos aos funcionários e Docentes da Universidade Metodista Unida que nos


proporcionaram о conhecimento não apenas racional, mas а manifestação do
carácter е afectivo no processo da nossa formação profissional em Ciências de
Educação. А Palavra mestre, nunca fará justiça а docentes dedicados quais sem
nominar terão os nossos eternos agradecimentos. Em especial agradecemos ao meu
orientador Mestre Dinis Armando Guidione que com muita dedicação contribuiu
bastante na nossa formação profissional e pessoal, e aos colegas de curso pelo
companheirismo e amizade.
Resumo
Feita a apresentação do tema e anunciados os objectivos na parte introdutória,
procedemos com a reflexão teórico-normativo, onde procuramos problematizar o conceito
de violência no contexto escolar a partir da concepção dos diversos autores que abordam
sobre este conceito bem como a percepção que os docentes da Escola Primária do 1º e 2º
Graus de Mocodoene tem sobre o conceito de violência. A violência no contexto escolar é
um tema que levanta acesos debates e nunca há consenso sobre o significado deste
conceito. Contudo, comungam a ideia de que a violência escolar é a manifestação de
comportamentos negativos que ferem a dignidade humana e não respeitam os direitos do
Homem. Na parte da metodologia do trabalho, que constitui o nosso segundo capítulo,
fizemos uma análise de carácter analítica-descritiva, complementada pelas opiniões dos
intervenientes recolhidos. Para a recolha de dados usamos um inquérito por questionário e
análise documental porque achamos que nos permiti alcançar os objectivos desta
monografia. Os resultados a que chegamos evidenciam que os docentes da Escola Primária
do 1º e 2º Graus de Mocodoene percebem que a violência escolar é uso de comportamentos
indevidos para dar seguimento ao processo educativo, mas acreditam que seja um recurso
prático no contexto do ensino e aprendizagem e praticam-na na medida em que acham que
esta é uma metodologia ideal para colocar todos os alunos a trabalhar, desde a realização
dos trabalhos para casa bem como a sua participação activa na sala de aulas.

Palavras-chave: Práticas Docentes; Violência; Violência no Contexto Escolar


Abstract
After presenting the theme and announcing the objectives in the introductory part, we
proceed with the theoretical-normative reflection, where we try to problematize the
concept of violence in the school context from the conception of the various authors who
address this concept as well as the perception that teachers of the Primary School of the
1st and 2nd Degrees of Mocodoene has on the concept. Violence in the school context is a
topic that raises heated debates and there is never a consensus on the meaning of this
concept. However, they share the idea that school violence is the manifestation of
negative behaviors that harm human dignity and do not respect human rights. In the part
of the work methodology, which constitutes our second chapter, we carried out an
analytical-descriptive analysis, complemented by the opinions of the collected
stakeholders. For data collection we use a questionnaire survey and documentary analysis
because we think it has allowed us to achieve the objectives of this monograph. The
results we obtained show that the teachers of the Primary School of the 1st and 2nd
Degrees of Mocodoene perceive that school violence is the use of undue behaviors to
continue the educational process, but believe that it is a practical resource in the context
of teaching and learning and they practice it as much as they think this is an ideal
methodology to put all students to work, from doing homework as well as their active
participation in the classroom.

Keywords: Teaching Practices; Violence, Violence in the School Context


Listas de abreviaturas, siglas e acrónimos

PEA Processo de Ensino e Aprendizagem

OCDE Organização para a cooperação para o desenvolvimento económico

EP1/2 Escola Primaria do 1o e 2o Graus

T.C.L.E Termos de Consentimento Livre Esclarecido


Lista de tabelas e gráficos
Tabela 1: População e Amostra..............................................................24

Gráfico 1: Tipos de Violência................................................................26


Gráfico 2: Tipos de violência já sofridas no contexto escolar..........................27
Gráfico 3: Tipos de violência praticada no ambiente escolar..........................28
Gráfico 4: Tipos de violência sofridos na escola..........................................29
Índice
Dedicatória......................................................................................iv
Agradecimentos..................................................................................v
Resumo...........................................................................................vi
Abstract.........................................................................................vii
Lista de tabelas e gráficos....................................................................ix
Introdução......................................................................................11
Problematização...............................................................................12
Objectivos.......................................................................................12
Justificativa.....................................................................................13
Hipóteses........................................................................................14
CAPÍTULO I: REFERENCIAL TEÓRICO E NORMATIVO.......................................15
1.1. Reflexão sobre o conceito de violência escolar.....................................15
1.1.1. Abordagem Histórica da Violência...................................................15
1.1.2. Violência na escola....................................................................17
1.1.3. Violência entre alunos e professores: a mudança de comportamento de
alunos e professores na escola ao passar do tempo......................................19
CAPÍTULO II — METODOLOGIA DO TRABALHO..............................................21
2.1 Caracterização da pesquisa quanto à abordagem....................................21
2.2.2. Definição do universo e selecção da amostra.....................................23
2.2.3. Amostra.................................................................................23
2.2.4. Considerações Éticas..................................................................24
2.2.5. Procedimentos de apresentação e análise de dados.............................24
CAPÍTULO III — APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS..............25
Resultados e Discussões.......................................................................25
CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE PESQUISA: O HISTORIAL DA ESCOLA PRIMARIA DO 1º
e 2º Graus DE MOCODOENE...................................................................29
Conclusão.......................................................................................31
Referências Bibliográficas....................................................................33
Glossário.........................................................................................35
Anexos...........................................................................................36
13

Introdução
Actualmente, a abordagem sobre o tema da violência no processo de ensino
e aprendizagem levanta acesos debates entre os profissionais da educação, de um
modo geral, e, particularmente qualquer que seja a instituição de ensino é
significativo a presença do uso da violência.

A presente monografia é subordinada ao tema Violência no Contexto Escolar:


Percepção dos Docentes da Escola Primária do 1 o e 2o Graus de Mocodoene e visa
analisar a violência praticada no contexto escolar a partir da apreensão da
percepção dos docentes da Escola Primária de Mocodoene acerca da violência
escolar.

A violência escolar não é um fenómeno novo e, não obstante ele tem se


manifestado de diferentes maneiras, no entanto a sua percepção não é imediata
bem como a interpretação que os intervenientes do processo de ensino e
aprendizagem dão é diferente. Contudo, todos comungam a ideia de que este
fenómeno ultrapassa as fronteiras da escola, tornando-se um problema social que
afecta as relações familiares e comunitárias deixando-os sobre alerta constante.
Diversos autores como Morrone (2016) e Abramovay (2002) conceituam a violência
no contexto escolar como descriminação ou ameaça que torna o contexto escolar
mais hostil, ameaçador e desprazeroso para o decurso normal do Processo de
Ensino e Aprendizagem. Mais ainda todos percebem que essa manifestação como
um fenómeno complexo.

Ao longo da nossa experiência na carreira de docente temos ouvido


informalmente frequentes relatos de alunos com medo de frequentarem a escola
devido a violência causada pelos colegas e/ou pelos docentes. Assim como, alguns
docentes em especial os recém-formados referem ter medo de leccionar nas
turmas que tem alunos com maior idade devido a inúmeras violências que tem
acontecido no quotidiano escolar. Também constatamos que o ambiente escolar é
marcado por diversas atitudes de violência que vão desde agressões verbais,
degradações do património escolar até mesmo a agressões físicas.
14

Problematização
Partimos do pressuposto de que a escola é vista como um lugar mais
interessante, divertido, instigante, onde os alunos constroem a sua autonomia,
capacidades cognitivas e vivem em harmonia com todos. Contudo, como temos
vindo a referenciar, na nossa experiência como docentes temos vivenciados
algumas práticas tanto docentes como dos alunos que denunciam actos de violência
no ambiente escolar o que contribui negativamente na aprendizagem dos alunos e
na consecução dos objectivos que a comunidade espera da escola.

Para a reflexão, agora em causa, resultante inquietação já apresentada,


levantamos a seguinte pergunta de partida: Será que os docentes da Escola
Primária de Mocodoene percebem que ao longo do PEA alguns actos por eles
praticados constituem uma violência no ambiente escolar?

Objectivos
Para melhor alcançamos os fins que desejamos na consecução desta
monografia, traçamos os seguintes objectivos, nomeadamente:

Objectivo geral

 Compreender se os docentes percebem que alguns actos por eles cometidos


no decurso PEA constituem uma violência no contexto escolar.

Objectivos específicos

 Descrever os actos praticados pelos docentes que constituem violência no


contexto escolar;

 Identificar as melhores práticas docentes que contribuem para um PEA sem


violência;
 Propor estratégias que os docentes percebam que os actos por eles
cometidos no PEA constituem uma violência no contexto escolar.
15

Justificativa
A escolha do tema desta monografia é motivada pelo facto de
percebermos que actualmente existem inúmeros casos de violência no contexto
escolar e termos constatado a inexistência de estratégias que orientam na forma
localmente viável para que os actores escolares possam realizar o seu trabalho com
vista a minimizar a violência no âmbito escolar e consequentemente evitar que o
contexto escolar seja conhecido como um local que se desenvolvem atitudes que
perigam o desenvolvimento saudável dos jovens, tanto vítimas como agressores.

Outro suporte motivacional reside na preocupação em analisar a violência


escolar uma vez que a escola visa o desenvolvimento da personalidade tendo em
vista o seu contributo na comunidade.

A nível pessoal, a pesquisa permite-nos aprofundar os conhecimentos


basilares para compreender as estratégias que os docentes usam para perceber e
descobrir indícios ou manifestações da violência no Processo de Ensino e
Aprendizagem.

Socialmente esperamos que a mesma contribua para despertar a


sociedade de forma a perceber que a violência no geral e especialmente a que
ocorre no contexto escolar, prejudica no bom desenvolvimento cognitivo e
psicossocial dos indivíduos.

Pedagogicamente, esperamos que os resultados desta pesquisa


contribuem para a adopção de estratégias necessárias para que os docentes
ofereçam aos alunos boas condições de convivência no processo de ensino e
aprendizagem e criem ambientes saudáveis no relacionamento entre os autores
deste processo.

A nível académico abre novos horizontes para diversos debates tendentes


ao desenho de estratégias eficazes para a minimização da violência no contexto
escolar garantindo uma aprendizagem salutar e convivência harmoniosa de todos os
intervenientes no processo educativo e analisar a percepção da violência a partir
dos docentes no processo de Ensino Aprendizagem, bem como os saberes e
experiências sociais aceitáveis.
16

Hipóteses
H1 – Não, porque da informação colhida formal e informalmente percebemos
que os docentes desta instituição de ensino acham que ao castigar /punir os seus
alunos, seja corporal ou verbalmente, não estão a violentá-los, mas sim, essa
prática permite que o aluno sinta-se obrigado a participar activamente nas aulas,
realizando correctamente todas as actividades relacionadas com PEA, o que
segundo eles traz bons resultados pedagógicos no fim do ano lectivo.

 H2 – Sim, os docentes desta instituição de ensino percebem que as suas


vivências e práticas por eles realizados ao longo do PEA constituem violência, seja
ela corporal ou verbal, mas alegam que praticam-nas porque não ter outra
alternativa de correcção de comportamento que possa usar para que o aluno sinta-
se obrigado a participar activamente nas aulas, realizando correctamente todas as
actividades relacionadas com o PEA o que segundo eles traz bons resultados, não só
em termos comportamentais, mas também em no que refere ao aproveitamento
pedagógico no fim do ano lectivo.
17

CAPÍTULO I: REFERENCIAL TEÓRICO E NORMATIVO


Neste capítulo apresentamos a fundamentação teórica, bem como a
definição dos principais conceitos que fazem parte do nosso estudo,
nomeadamente: abordagem histórica da violência, violência na escola, violência
entre professores e alunos.

1.1. Reflexão sobre o conceito de violência escolar


1.1.1. Abordagem Histórica da Violência
Quando falamos em violência lembramos de actos de agressão e crueldade
contra outros seres humanos ou grupos de pessoas. Segundo Costa (1997):
A origem da violência humana tem sido estudada por muitos sociólogos e
historiadores, que vêem na escassez de bens e fonte maior de conflito entre
os homens. Para esses estudiosos, entre os quais estão Hobbes, Rousseau,
Marx e Engels, a origem dos conflitos e da violência remonta às organizações
humanas mais primitivas (p. 283).

Segundo Costa (1997) os actos de violência estão intimamente ligadas as


relações de poder entre as pessoas, mas vale lembrar que a violência humana
existe a vários anos, mas nos últimos anos é que ela passou a ser visualizada,
comentada, estudada e reflectida.

Através da revolução agrícola as relações dos homens entre si e com o meio


foi modificada.

O surgimento da agricultura de acordo com Soares & Silva (2006):


Fez com que o homem se sedentarizasse, abandonando a vida nómada que o
fazia viver [...] em diferentes lugares. Estabelecendo-se de forma definitiva
em determinado sítio, o homem passou a ter um novo comportamento em
relação à natureza: deixou de ser predador e tornou-se produtivo ( p. 2).

Segundo Santos (2011), na idade Média, temos como exemplo as Cruzadas,


batalha entre católicos e muçulmanos que durante dois séculos deixaram milhares
de mortos; a escravidão de negros e índios no mundo; o holocausto na Alemanha e
as duas grandes guerras mundiais são esses alguns exemplos de como a violência
está inserida na biografia da humanidade e de como essas acções violentas
modelaram o mundo contemporâneo (p.11).
18

Diaz-Aguado (1996) sugere que se diferenciem ainda dois subtipos de


violência ou agressão, a violência reactiva e a violência instrumental.

A violência reactiva é desencadeada pelas condições que antecedem, isto


é, surge como uma explosão emocional, um nível de tensão e crispação elevadas
que ultrapassam a capacidade de a pessoa enfrentar o evento social de outra
forma.

A violência instrumental é desencadeada pela perspectiva dos resultados


que o indivíduo espera obter, isto é, utiliza-se para se conseguir um determinado
resultado. Os indivíduos que utilizam este tipo de violência tendem a justificá-la
dando-lhe uma aparência legítima.

É ainda possível identificar indivíduos que utilizam mais a violência reactiva,


outros que recorrem mais a violência proactiva e ainda alguns em que as duas estão
presentes. Esta diferenciação pode conduzir-nos a formas diferenciadas de
intervenção segundo como essa violência ocorre.

Actores como Coie & Dodge (1998) e Diaz-Aguado (1996b), sugerem que se
diferencie ainda dois subtipos de violência ou agressão: a violência reactiva ou
expressiva e a violência instrumental ou proactiva. A violência reactiva é desencadeada
pelas condições que a antecedem, isto é, surge como uma explosão emocional, um nível
de tensão e crispação elevados que haja intenção de causar danos. Esta violência
ultrapassa a capacidade da pessoa para enfrentar o evento social de outra forma;
enquanto a violência instrumental ou proactiva é desencadeada pela perspectiva dos
resultados que o indivíduo espera obter, isto é, utiliza-se para se conseguir um
determinado resultado. Os indivíduos que utilizam este tipo de violência tendem a
justificá-la, dando-lhe uma aparência legítima. É ainda possível identificar indivíduos
que utilizam mais a violência reactiva, outros que recorrem mais à violência proactiva e
ainda alguns em que estão as duas presentes. Esta diferenciação pode conduzir-nos a
formas diferenciadas de intervenção, eventualmente mais eficaz segundo os casos. No
primeiro caso, seria ao nível do controle emocional, da auto-regulação dos impulsos que
pareceria mais adequado actuar, enquanto, no segundo caso, seria ao nível da
representação cognitiva sobre conflito interpessoal e da diferenciação e modificação de
estratégias para alcançar determinados objectivos.
19

Segundo Diaz-Aguado (2002), a ideia de que violência gera violência é


amplamente confirmada, na medida em que conviver com violência aumenta mais
o risco de vir a exercer ou de converter numa vítima, especialmente quando a
exposição se produz em momentos de especial vulnerabilidade como a infância e a
adolescência.

Cada sociedade, dentro de épocas específicas, apresenta formas


particulares. Por exemplo, há uma configuração peculiar da violência social,
económica, política e institucional no Mundo.

Da mesma forma, a violência social, política e económica da época colonial


não é a mesma que se vivencia hoje, num mundo que passa por grandes
transformações (Minayo, s.d, p.3).

1.1.2. Violência na escola


A escola é um local onde parte do desenvolvimento intelectual acontece. É
onde se desenvolvem habilidades, se aprende a conviver com outras pessoas,
formam-se amizades e desenvolvem-se lições que não se limitam as matérias
específicas, mas sim lições para a vida do indivíduo em formação.

Sendo um local tão importante para o desenvolvimento, é imperioso


lembrarmos que é um ambiente que enfrenta grandes desafios e um desses desafios
é prevenir a existência de focos de violência no seu meio. Pois que são pequenas
infracções que geralmente não são notadas, mas podem desencadear, muitas vezes
em uma acção violenta.

Odália (2004) defende a ideia de que muitas vezes “deixamos passar”


muitas atitudes que não consideramos actos de violência e assim temos a impressão
que faz parte da rotina. Para esta autora encaramos todas as manifestações que
ocorrem no contexto escolar como algo “natural” e deixamos “para lá”. Por seu
turno Carina citado por (Furlong & Morisson, 2000), afirma que as diversas
manifestações que se tem notado nos passeios promovidos pelas instituições que
levam os estudantes juntos a diversos locais com a ocorrência de quaisquer tipos de
descumprimento às regras, são caracterizadas também como violência escolar.
20

A violência escolar tanto pode ocorrer dentro da escola como no caminho


casa–escola ou escola–casa. Existem também a possibilidade dela ocorrer no local
onde reside o estudante quando origina-se de factos ou melhor conflitos mal
resolvidos em situação escolar. Como se não bastasse, é possível também que a
violência se dê por meio electrónico como por exemplo: palavras ofensivas por
mensagens de texto em aplicativos de celular das redes sociais.

A plena convicção de que a escola é palco de acções preventivas contra a


violência não é apenas escolar, mas também social de uma nação visto que nela
estão inseridas as pessoas que irão compor o futuro. Daqui que a comunidade
escolar deve receber todo o apoio, visto que através da educação temos o poder de
mudar uma nação, esta mesma nação deve acreditar e apoiar a educação de seus
jovens e crianças, transformando o futuro com as nossas atitudes presentes.

De acordo com Costa (2011) “nas escolas a violência é manifestada das mais
diversas formas, tornando-se objecto da atenção de toda a sociedade,
principalmente de estudiosos e pesquisadores” (p. 15).

Na mesma a linha de abordagem Sousa (2008) refere que,


[…] Observa-se, dentro das escolas, crianças e adolescentes cometendo
infracções que se caracterizam por agressões verbais, físicas, pichações,
bullings e furtos, sem nenhuma causa aparente que justifique tais acções ou
comportamentos (p. 119).

Esse facto tem se tornado um dos maiores problemas na sociedade. De


referir que a violência escolar nem sempre é um acto intencional, um acidente,
morte ou trauma psicológico, pois que podemos encontrar indícios de violência sem
um propósito de agressão.

Miriam Abramovay (2002), afirma que a sociedade, vem-se deparando com


um aumento de violência nas escolas, sendo diversos os episódios envolvendo
agressões verbais, físicas e simbólicas aos autores da comunidade escolar.

Um passo fundamental para acabar com a violência é iniciar uma melhoria


da segurança pública. Com criação de programas de consciencialização popular, a
sociedade civil organizada actuante é capaz de reduzir a criminalidade, minimizar
hostilidades, exaltar valores e transformar a sociedade.
21

Remetendo-se aos profissionais da educação, salienta-se que, ao actuarem


em ambiente de insegurança, se tornam menos capazes de desenvolver o seu
potencial, gerando danos para a saúde física e emocional tanto deles próprios como
dos alunos, prejudicando a transmissão e a assimilação dos conteúdos

1.1.3. Violência entre alunos e professores: a mudança de comportamento de


alunos e professores na escola ao passar do tempo
Quando se trata de violência no ambiente escolar, geralmente é generalizada a
violência entre os alunos, mas, não podemos esquecer que os professores ao passar
do tempo também se tornaram tantas vítimas como agressores. Num passado
recente, havia muito respeito entre alunos e professores, os pais faziam parte da
escola e eram encarregados de ensinar respeito aos seus filhos. No tempo actual, a
profissão de professor decaiu drasticamente, sendo assim um cargo desvalorizado e
muito cobrado pela sociedade. Por conseguinte, os alunos não têm mais respeito
pelos professores e muito menos entre colegas de escola.

Actualmente a relação professor-aluno é preocupante, ao pensarmos que a


educação estruturada é indispensável para o indivíduo. Pois, a ocorrência de
confrontos entre educador e estudante acaba abalando essa estrutura, assim,
resultando em professores insatisfeitos e alunos com precários conhecimentos
sobre todas as áreas do conhecimento.

As escolas são tratadas pelos pais como um depósito de crianças e


adolescentes sem educação, no qual os gestores da escola têm a obrigação de
ensinar valores e respeitos que deveriam ser aprendidos dentro de casa.

Segundo um inquérito realizado pela Organização para a Cooperação e


Desenvolvimento Económico (OCDE), 12,5% dos professores entrevistados disseram
ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez
por semana.

Essa pesquisa também demonstrou que apenas um entre cada dez


professores, “acreditam que a profissão seja valorizada na sociedade, porém, isso
coloca o Moçambique entre os últimos na lista desse quesito” (Fernandes, 2014).
22

Os professores se desdobram para atender às expectativas da sociedade,


porém em alguns casos, desanimam ao notar a falta de reconhecimento do seu
papel. A partir daí, começa-se a criar uma intolerância quanto às acções de alguns
alunos, onde, nasce então a “faísca” causadora de conflitos entre as partes, assim,
resultando em professores insatisfeitos e alunos com precários conhecimentos
sobre todas as áreas do conhecimento.
23

CAPÍTULO II — METODOLOGIA DO TRABALHO


A metodologia é o caminho ou via para a realização de algo. Nesta
monografia partimos de princípio que existem diversas metodologias para
realização de um pesquisa e que tem sido tarefa difícil escolher uma delas mas
asseguramos que sempre existe uma que é mais predominante.

Para a concretização da investigação que nos propusemos empreender


recorremos a metodologia analítica descritiva por acharmos que permite-nos
responder os objectivos traçados, pois o investigador parte de fenómeno que
manifesta num determinado lugar e faz a sua descrição.

Não obstantes, apoiamo-nos também no método de pesquisa bibliográfica,


que segundo Gil (1999), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir do material
já elaborado, constituído principalmente de livros, artigos científicos e outros
documentos escritos. De referir que a análise documental e bibliográfica consiste
no levantamento e compilação da bibliografia que versa sobre o tema, contribuindo
para a formulação do quadro teórico deste estudo (p.10).

Para o aprofundamento do tema, recorremos a pesquisa de campo realizada


através de um inquérito por indivíduo da amostra aqui estabelecida modo a colher
a percepção que eles têm sobre violência no contexto escolar.

2.1 Caracterização da pesquisa quanto à abordagem


A pesquisa, de acordo com Gil (2007), é o:
(…) Procedimento racional e sistemático que tem como objectivo
proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A pesquisa
desenvolve-se por um processo constituído de várias fases, desde a
formulação do problema até a apresentação e discussão dos resultados ( p.
17).

Uma pesquisa ordenada é fundamental para o sucesso de qualquer trabalho


académico. Isto quer dizer, objectivos, problema  de pesquisa e metodologia bem
definidos.

E a abordagem é fundamental, tendo em vista que já abordamos o estudo de


caso com base numa pesquisa qualitativa, pretendemos aprofundar o entendimento
sobre a pesquisa quantitativa.
24

Corroborando com este entendimento, Teixeira enfatiza que a pesquisa


quantitativa utiliza a descrição matemática como uma linguagem, ou seja, a
linguagem matemática é utilizada para descrever as causas de um fenómeno, as
relações entre as variáveis, etc. Ressalta-se que nesta abordagem a estatística
nesta tem de estabelecer a relação entre a teoria e os dados a serem analisados na
realidade. Todavia, a abordagem qualitativa ressalta o contexto social do
pesquisador e de sua pesquisa na sociedade e para tanto," o objectivo do
pesquisador não reside em quantificar os factos, mas sim, estudar os diferentes
fenómenos e seus sentidos” (Teixeira, 2005, p. 136; Roesch, 1999, p.123).

Conforme Denzzin (2006) enfatiza que a pesquisa qualitativa ressalta a


intrínseca relação do pesquisador e seu objecto de estudo, permeada pelos
obstáculos que influenciam sua pesquisa (p. 23).

A pesquisa qualitativa tem como premissa aproximar a teoria dos dados da


pesquisa, utilizando para tanto a análise dos fenómenos através do modo como
estes são descritos ou interpretados (Teixeira, 2005, p. 137).

No entanto, há um enfoque que privilegia a utilização das duas abordagens,


denominada abordagem qualitativa-quantitativa. A junção destas duas abordagens
possibilita ao pesquisador confrontar as conclusões de sua pesquisa, contribuindo
com a confiabilidade, de forma que os resultados obtidos sejam questionáveis face
às determinadas particularidades do seu desenvolvimento. “Este método de
abordagem não se limita apenas a um instrumento de colecta de dados, mas
instrumentos diversos além de variadas fontes de dados” (Goldenberg, 2004, pp.
61-2).

Em síntese, a pesquisa qualitativa tende a salientar os aspectos dinâmicos,


holísticos e individuais da experiência humana, para apreender a totalidade no
contexto daqueles que estão vivenciando o fenómeno porque é compostos por
números, dados, tabelas e gráficos, que vão mostrar os resultados de forma
quantitativa, sem se prender à análises subjectivas para explicar as motivações por
trás das informações levantadas.
25

2.2.2. Definição do universo e selecção da amostra


Universo ou população é o conjunto de elementos que possuem as
características que serão objecto do estudo. A amostra ou população amostra é
uma parte do universo escolhido seleccionada a partir de um critério de
representatividade (Vergara, 2010).

Para Marconi & Lakatos (2003), universo ou população é o conjunto de


seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica em
comum. Para esta monografia optamos por um universo da pesquisa é composto por
vinte (20) indivíduos da Escola 1º e 2º Graus de Mocodoene.

2.2.3. Amostra
Segundo Gil (2008, p.90), “ Amostra é o subconjunto do universo ou da
população por meio do qual se estabelecem ou se estipulam as características
desse universo ou população”. Na mesma linha de abordagem, Vergara (2010),
define amostra ou população amostral, como sendo uma parte do universo
escolhida segundo algum critério de representatividade. Assim, a amostra objectiva
extrai um subconjunto da população que é representativo nas principais áreas de
interesse da pesquisa (Roesch, 1999). Por sua vez Gresseler (1979), define
amostragem como um processo de utilização de uma parte da população como base
para uma estimativa do todo maior (p.50).

Para a materialização da presente monografia é determinada uma amostra,


tendo em conta a dimensão do universo em estudo. Richardson (2008) propõe uma
amostra de 10% como sendo representativa, mas neste estudo optamos por uma
amostra de 30% (p.129)

Para esta monografia optamos por uma amostra composta por seis (6)
membros da escola primária 1o e 2o Graus de Mocodoene, sedo assim os seguintes:
um membro da Direcção (DAE) e cinco professores sendo quatro homens uma
mulher. Porque, pode-se considerar que a selecção destes elementos funciona
como um representativo da população-alvo.
26

Nesta pesquisa, a amostra foi seleccionada de forma aleatória, na


população que constitui o nosso objecto de estudo. Desta forma, fazem parte da
amostra 6 funcionário sendo 4 Homens e 2 Mulheres.

Tabela 1: População e Amostra

Designação População Amostra Técnica de


% Idades recolha de
dados
H M T H M T
Membros de 1 1 2 30 – 40
Direcção da escola
Professores 9 8 17 4 2 6 20 – 50 Questionário
Agentes de Serviço 1 1 25 – 45
Total 10 10 20 4 2 6
Fonte: Autor, 2020
2.2.4. Considerações Éticas
De acordo com o relatório de Belmont (The Belmont Roprt, 2000), os
princípios básicos da ética perante investigações que envolvem Seres Humanos
assentam em três pilares básicos, o respeito pelas pessoas, a beneficência e a
justiça. O respeito pelas pessoas garante que os indivíduos devem ser tratado como
agentes autónomos (por autónomo entende-se um indivíduo capaz de deliberar
acerca de objectivos pessoais e actuar sobre tal deliberação) e ainda que pessoas
com qualquer tipo de deliberação ou diminuição de autonomia devem ser
automaticamente protegidas. Relativamente à beneficência, qualquer pessoa
envolvida numa investigação deve ser tratada de uma forma ética não só
respeitando as suas decisões e protegendo-as de perigo, bem como garantindo o
seu bem-estar de modo ser secretos os dados visto que não se colocou os nomes
pois a informação colectada e de carácter académico.

2.2.5. Procedimentos de apresentação e análise de dados


Para a apresentação e análise de dados, vamos recorrer a construção de um
modelo de análise que permite examinar os dados e informações de uma forma
quantitativa e qualitativa, que resultará na elaboração de uma matriz onde serão
introduzidos os dados para serem posteriormente analisados em texto escrito.

A análise de dados será feita em categorias tendo em conta as perguntas


formuladas no questionário e no guião de entrevista.
27

CAPÍTULO III — APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS


Este capítulo destinado à análise e interpretação dos dados colhidos no
campo do estudo. Para a realização da pesquisa com os professores, foi necessário
um processo de recolha em uma sala separada depois do horário das aulas. A
pesquisa foi realizada com 6 (seis) professores com a faixa de idade entre 20
(vinte) a 50 (cinquenta) anos de ambos os sexos. Os professores tiveram
aproximadamente 0,5 (meia) hora para responder o questionário com 15 questões.

Resultados e Discussões
Através deste trabalho podemos notar as mais variadas formas de violência
praticada e efectuada no ambiente contexto entre alunos e professores. Nos
gráficos abaixo mostramos os resultados das pesquisas que foram realizadas na
instituição de ensino primário de período integral.

O estudo mostrou que a violência mais cometida entre os alunos é a


violência verbal com a percentagem de 39% que é caracterizada por injúrias, sendo
que podem machucar quanto uma agressão física. Este é o tipo de violência que
mais se expressa na escola.

Alves, Campos & Sebastião (2003) relatam que muitos alunos usam agressões
físicas e verbais para expressarem seus descontentamentos escolares,
especificamente os autores salientam que: “As acções violentas resultam da
frustração dos alunos e traduzem-se em actos violentos por estes não serem
capazes de lidar com o insucesso e sentirem-se agredidos durante o seu percurso
escolar” (p.46).

Em segundo, temos agressão física com 31%, que é uma violência bastante
praticada na instituição, contemplando ofensas à integridade física, moral,
humilhação, difusão de boatos, exposição ao ridículo, agressões físicas e
psicológicas que levam a vítima a manter o sofrimento em silêncio.

Dessa forma, as desavenças entre alunos se manifestam, inicialmente,


ataques verbais proferidos pelos mesmos que quase sempre culminam com brigas,
sendo elas a situação limite entre os bate-bocas e discussões.
28

Gráfico 1: Tipos de Violência

TIPOS DE VIOLÊNCIA
50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Agessão Fisica Agressão Verbal Agressã Moral33%

Fonte: Autor, 2020

No segundo gráfico constatamos que a violência mais praticada no ambiente


escolar e a violência verbal com 43%, no qual o aluno manifesta sua raiva pelo
indivíduo que lhe causa algo prejudicial, sendo assim tomando a violência como
única maneira de resolver o problema. Alguns autores como (Coie & Dodge, 1998,
Diaz-Aguado, 1996b apud Martins, 2005) sugerem a diferença de dois subtipos de
violência ou agressão: a violência reactiva ou expressiva e a violência instrumental
ou proactiva.

A violência reactiva é desencadeada pelas condições que a antecedem, isto


é, surge como uma explosão emocional, um nível de tensão e crispação elevados
que ultrapassam a capacidade da pessoa para a enfrentar.

A violência instrumental ou proactiva é desencadeada pela perspectiva dos


resultados que o indivíduo espera obter, isto é, utiliza-se para se conseguir um
determinado resultado. Os indivíduos que utilizam este tipo de violência tendem a
justificá-la, dando lhe uma aparência legítima.
29

Gráfico 2: Tipos de violência já sofridas no contexto escolar

Tipos de Violências sofrida


30%

25%

20%

15%

10%

5%

0%

Fonte: Autor, 2020

No gráfico 3 mostramos os resultados de pesquisa realizado com os


professores. A violência Física com 26 % é a mais comum entre alunos.

Souza (2008) rebate os resultados obtidos em um estudo realizado com o


universo de 47 (quarenta e sete) professores de escolas (públicas e particulares)
revelaram que a violência de professor para aluno foi comentada por uma minoria
deles, apenas 20,7% dos professores da escola pública e 11,1% dos professores da
escola particular.

Outra pesquisa descreveu que os professores relacionam, primeiramente, os


episódios de violência envolvendo os alunos, sejam como vítimas ou agressores,
enquanto os professores e outras autoridades escolares, dificilmente, são
identificadas como agentes da violência. As acções repressivas e comentários
reprovadores estão relacionados à violência de professor para aluno, entretanto os
educadores não percebem essas acções como violência, isto é, não se vêem como
protagonistas e, alegam fazer uso dessas práticas como medidas educativas e
disciplinadoras contra a violência.
30

Os docentes também não se incluem no exercício da violência simbólica. Em


segundo temos a violência moral, que dificulta o relacionamento entre aluno e
professor, sendo assim dificultando a aprendizagem, e em terceiro a violência
psicológica que é a conduta que lhe cause danos emocional e diminuição da auto-
estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise
degradar ou controlar suas acções. Nota-se que o nível de alunos com baixa auto-
estima é grande, e esse facto ocorre tanto na escola entre aluno e professores,
como também no ambiente familiar.

Gráfico 3: Tipos de violência praticada no ambiente escolar

35%

25%

18%

12%
10%

Violencia Moral Violencia Verbal Violencia Actos Violencia Simbolica


Psicologica Preconceitoso

Fonte: Autor, 2020

Observa-se que no quarto gráfico que mais uma vez a violência moral é a
que mais ocorre no ambiente escolar com 35% gerando conflito no ambiente de
ensino. Em seguida temos agressão que representa 18%, sendo assim mostra-se
alguns dos motivos que fazem os educadores perderem a compostura perante o
aluno e também gerando problemas de saúde fazendo com que sejam afastados do
cargo ou até mesmo desistindo da profissão.

Estudos realizados por Reinhold (1984) afirmam que,


“Quando o professor sente-se desautorizado, desrespeitado ou impotente diante
da indisciplina ou da atitude rebelde do aluno, sua reacção transforma-se nos
31

ACTOS de Violência Psicológica, detectados nos dados deste estudo,


possibilitando respostas verbais e/ou corporais de ambas as partes; a pessoa do
professor(a) fragilizada, impotente, fica impedida de exercer sua função
profissional de educar. É como se a pessoa possibilitasse uma auto-violência-
psicológica contra a sua identidade de professor(a), expressa nos sentimentos
de desqualificação, “estresse”, desilusão, baixo auto-estima” ( p. 79).

Esses foram os sentimentos descritos durante os estudos realizados. Com


base desse estudo observa-se os sentimentos que são gerados nos professores que
sofrem com a violência verbal no dia-a-dia no contexto escolar.

Gráfico 4: Tipos de violência sofridos na escola


35%

30%

25%

20%

15%

10%

5%

0%
ica al al a o ial
fis or rb gic os on
aM Ve l o ie tu m
cia ci cia ico c tri
l ên len en Ps con P a
Vi
o
Vi
o ol cia re cia
Vi en P
en
ol to
s l
Vi Ac Vi
o

Fonte: Autor, 2020

Portanto, com base nos estudos e análise de pesquisa realizada dos dados
obtidos através da observação e do questionário, constatamos que os alunos e
professores da instituição de ensino, têm plena e total consciência das violências
enfrentadas diariamente no ambiente escolar.

CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE PESQUISA: O HISTORIAL DA ESCOLA PRIMARIA


DO 1º e 2º Graus DE MOCODOENE
A actual Escola Primaria 1ᵒe 2 ᵒ de Mocodoene, outrora Escola Primária de
Mocodoene localiza-se na localidade de Mocodoene, posto administrativo de
32

Mocodoene, no distrito de Morrumbene, na Província de Inhambane em


Moçambique.

Na localidade em que a escola se insere, a principal actividade de renda é a


agricultura e criação de gado. A escola foi construída e inaugurada no ano de 1957
pela Igreja Católica. Em 1989 graças ao memorando entre a Igreja Católica e o
Governo de Moçambique, passa a para gestão do Estado Moçambicano. Na escola
são matriculadas aproximadamente 250 (duzentos e cinquenta) alunos, nos 2 ciclos
que constituem a Escola, sendo 5 classes do I ciclo e 2 classes do II ciclo. A
instituição possui o quadro de 20 (vinte) funcionários. A escola funciona de
segunda-feira a sexta-feira em dois períodos, de manhã das 7:00 às 12:10 horas, a
tarde das 12:15 às 17:05 horas e, tem como objectivo oferecer uma educação de
qualidade e garantir melhores condições de ensino para a formação de crianças. A
mesma possui 03 (três) pavimento constituídos por 9 (nove) salas de aulas com
capacidade de albergar 40 (quarenta) alunos de cada. Para além das salas de aula a
escola possui 1 (uma) sala de professores, 1 (uma) secretaria, 1 (uma) sala de
director, 1 (uma) sala do Director Adjunto da Escola, 1 (um) campo de futebol 11, 3
(três) urinóis, sendo um feminino, um masculino e um para docentes.

O corpo docente constituído por 18 (dezoito) professores habilitados e


qualificados. Existe 1 (uma) Directora, 1 (um) Director Adjunto, 2 (dois)
Coordenadores Ciclos, a escola atende alunos a partir dos 6 (seis) anos de idade. O
nível socioeconómico dos alunos é relativamente variado.

O nível socioeconómico dos alunos é relativamente variado desde dos mais


necessitados até um pouco estáveis. A estrutura da escola é muito boa, as salas de
aulas são bastante amplas e confortáveis, com boa iluminação e ventilação. Possui
ainda mobiliário, mesas e cadeiras, para professores, carteiras de tamanho
apropriado para os alunos.
33

Conclusão
Nesta parte conclusiva, retomamos o conceito de violência no contexto
escolar que constitui um tema que levanta acesos debates entre os diversos actores
educacionais na actualidade, a violência no contexto escolar é a manifestação de
comportamentos que ferem a dignidade humana, isto é, que não respeitam a
integridade do homem durante o processe de ensino e aprendizagem. Ela
manifesta-se através de agressões físicas, agressão verbal, intimidação psicológica
bem como envolvimentos de bens como garantia de sucesso escolar.

Para a componente metodológica, baseamo-nos num estudo analítico


descritivo com enfoque na pesquisa qualitativa porque achamos que o recurso a
este tipo de investigação assegurou-nos a consecução dos objectivos previamente
traçados. Mais ainda, no âmbito da realização desta monografia, recorremos a
utilização de instrumentos, nomeadamente, pesquisa documental, entrevista e
inquéritos por questionário que nos permitiram a recolha de dados que nos
conduzem a veracidade do trabalho. O tratamento dos dados recolhidos pelos
inquéritos por questionário é apresentado em forma de gráfico e recorremos a
estatística descritiva com o intuito de analisar e descrever a informação
qualitativa. Os resultados dos inquéritos por questionários são muito importantes
porque nos permiti dar resposta a nossa questão de partida, uma vez que os remete
a referir que os docentes da Escola Primaria do 1ᵒ e 2ᵒ Graus de Mocodoene
percebem que as suas vivências e as práticas ao longo do PEA constituem violência,
seja ela corporal ou verbal. Contudo, defendem que as suas práticas constituem
uma alternativa correctiva a certas atitudes dos seus alunos. Ou por outras,
segundo os docentes em referência, para que os alunos sintam-se com a
obrigatoriedade de realizar correctamente os trabalhos para casa, sejam assíduos e
pontuais em todas actividades do PEA e participem activamente ao longo da
mediação das aulas é necessário que os docentes dê algumas medidas correctivas,
pois, só assim é que irão colher resultados positivos não só em termos do
aproveitamento pedagógico e escolar, mas também têm trazido uma mudança
significativa em termos comportamentais.
34

Percebemos que assuntos como violência podem ser melhor abordados


quando há uma noção ou percepção do que ela realmente representa e como se
processa, isto é, identificar as suas múltiplas formas de processamento no sentido
de ser preciso que se esclareça que tanto o professor como o aluno são peças-chave
do Processo de Ensino e Aprendizagem e que a sua relação permite definir um bom
ou mau aproveitamento, no sentido de rumar a sua relação nos moldes mais
pacíficos possíveis. Como estratégias e possíveis vias de minimizar a problemática
da violência no contextos escolar e dar continuidade à diversas abordagens, tendo
sempre em mente o que defendemos no inicio, um diálogo permanente e saudável
entre os actores do PEA, propomos o seguinte:

 Promover o diálogo com os professores de modo que estes sintam-se


responsabilizados na prevenção e combate a violência.
 Aprofundar o envolvimento dos professores na promoção de palestras, pois
só assim é que todos os profissionais envolvidos poderão perceber melhor a
importância do combate da violência na carreira docente.
 Convidar o professor á participar na capacitação sobre os direitos humanos
de modo a prevenção dos actos que podem desaguar em violência.
 Colaborar com as autoridades de modo ao combate e prevenção da violência
de acordo com a realidade local onde a instituição esta inserida.
35

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LÊNCIA NAS ESCOLAS - CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS. PDF>. Acesso em:
01 nov. 2017.
37

Glossário
Delinquência - Acto que consiste na oposição e/ou resistência aos regulamentos,
às normas, às leis (morais); delito.

Furto -Roubo praticado às escondidas e sem violência; aquilo que foi roubado;
roubo

Homofobia - Preconceito contra a homossexualidade ou os homossexuais.

Fenomenologia - Análise comparativa ou estudo descritivo dos fenómenos

Corroborando - comprovando, confirmando, fortalecendo, reforçando, atestando


Anexos
Universidade Metodista Unida de Moçambique
Curso de licenciatura em Ciências de Educação com especificação em
Desenvolvimento Curricular
Questionário de pesquisa de campo
Violência no Contexto Escolar: Percepções dos Docentes da Escola Primário do
1o e 2o Graus de Mocodoene

Apêndice: questionário aos professores.

Esta entrevista, é elaborada como um instrumento de recolha de dados a


ser respondido pelo professor. As perguntas por responder, fazem parte de
uma pesquisa em realização para a obtenção do grau de licenciatura em
ciências de educação. As respostas serão analisadas e interpretadas para a
construção de uma Monografia intitulado “Violência no Contexto Escolar:
Percepções dos Docentes da Escola Primário do 1o e 2o Graus de Mocodoene .”

Nome Completo _________________________

Sexo: [ ] Feminino [ ] Masculino

Idade: 20-40 [ ] 40-60 [ ]

Tempo de profissionalização:________________________

Formação Profissional:______________________________

Quais os tipos de violência que você praticou no ambiente escolar no qual


trabalha? Assinale com “x” [ ] Sim [ ] Não:

1. Já praticou violência psicológica com algum aluno? [ ] Sim [ ] Não


2. Já praticou violência verbal com algum aluno? [ ] Sim [ ] Não
3. Já praticou algum tipo de preconceito com algum aluno? [ ] Sim [ ] Não
4. Já praticou violência moral com algum aluno? [ ] Sim [ ] Não
5. Como você se sentiu ao praticar alguma violência no âmbito escolar
com um aluno?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_________________________________________________________________

Quais tipos de violência você já sofreu no âmbito escolar? Assinale com


“X” sim ou não:
1. Já teve objecto pessoal furtado na escola? [ ] Sim [ ] Não
2. Já foi agredido fisicamente por algum aluno? [ ] Sim [ ] Não
3. Já foi agredido verbalmente por algum aluno? [ ] Sim [ ] Não
4. Já foi agredido psicologicamente algum aluno? [ ] Sim [ ] Não
5. Já foi alvo de preconceito por algum aluno? [ ] Sim [ ] Não
6. Já foi agredido moralmente por algum aluno? [ ] Sim [ ] Não
7. Como você se sentiu ao sofrer essa violência?
8. Comunicou seus pais ou responsáveis do aluno pela violência sofrida? O
que a escola fez a respeito disso?
9. Você acha que as frequências de violências nas escolas aumentaram ou
diminuíram?
10.Na sua opinião como educador, o que você acha que deveria ser feito
para prevenir essas violências que são cada vez mais frequentes no
ambiente escolar?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________.

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