Alessandro ao professor Carloman Bonfim para obtenção de crédito na disciplina Expressão corporal II.
Resenha do texto Invenção como composição: Presença e treinamento, de Renato
Ferracini.
No texto “Invenção como composição: Presença e treinamento”, o ator e
pesquisador Renato Ferracini descreve a experiência/trajetória dos modos de pesquisa do Grupo LUME (Unicamp) com ênfase na mímese criativa que o grupo herdou das experiências que, em 8 anos, Luís Otávio Burnier trocou com Etiene Ducroux nos anos 90. O LUME integra um arranjo de pesquisa composto num Sistema de Centros e Núcleos independentes que nasceram para promover a interdisciplinaridade, a autonomia e a investigação. Nesta seara, localiza-se a pesquisa em torno do corpo e a linguagem imagética / simbólica posta pela dramaturgia pós-moderna que, por princípio, abandonou as técnicas codificadas de expressão. Foi justamente o destronamento das técnicas normatizadas, que Luís Otávio Burnier experimentou no aprendizado com Etiene Ducroux, na atuação de quem enxergou um “leão” por força de sua presença significante e não por conta de codificações prévias a respeito de como ruge um leão. Burnier queria invertigar esta “força”, esta “presença”, essa concretude abstrata que passou a ser intensamente testada e vivenciada nos exercícios do grupo e a definir uma imaterialidade do trabalho do ator. O que até agora estamos chamando de força é definida como algo que se percebe na ação entre dois ou mais corpos (relacional) e só é possível ser constatada e medida no efeito que provoca nestes mesmos corpos. O teatro é um território de composição entre atores que comungam o mesmo espaço e tempo, na concepção de Renato Ferracini. Assim, a pesquisa neste processo descarta o individualismo do ator pois realiza-se apenas na relação. Observam-se os efeitos dos corpos sobre os corpos e as muitas, caleidoscópicas, possibilidades destes corpos se relacionarem em busca, sempre, de resultados mais qualitativos. Uma importante definição no glossário do teatro do Lume é a Presença do ator. A presença diz respeito a algo íntimo, uma pulsação que transpassa e percorre toda a ação cênica. Estar presente não é um ato egóico, uma chamada de atenção para si mesmo e, sim, ser capaz de lidar com as forças imateriais e concretas envolvidas na cena e a capacidade de se relacionar com os elementos desta cena para potencializar a composição. Relacionamento e potência de agir, eis os eixos definidores da presença. Na Ética de Spinoza, o filósofo relaciona o conceito de alegria a esta intensificação de potência (Ação ampliada na relação). A potência do EU promove um corpo narcísico, a potência de todas as partes envolvidas no ato espetacular (atores, tempo, espaço, público, figurino, cenário, luz, etc) além de criar códigos expressivos, promove encontro e relação. O ensaio implica uma questão: o treino. No artigo, ora analisado, o ator/pesquisador estuda a questão etimológica da palavra treinar para além da noção de adestramento, já que na área das artes corporais presenciais o que se deseja é justamente a fuga dos corpos adestrados. Treinar tem como origem adestrar a ave para a caça e seria derivado do latim traginare e do substantivo treina que era o animal dado ao falcão para o treinarem na caça. Treinar, etimologicamente, seria ensinar. Um falcão não necessita que alguém o torne falcão. No treinamento, o que se pretende é ampliar suas capacidades de caça para além daquela que ele já possui. Assim, temos a imagem necessária para que o ator compreenda que o exercício constante do corpo não é, em si, uma forma de gerar habilidades, mas ampliar, potencializar as habilidades que existem, como uma intensificação de si mesmo.