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Revisão

FERTILIDADE DO SOLO E CTC

Adubos e Adubação
2021

FERTILIDADE DO SOLO
Unidade I Introdução a Fertilidade do Solo

Unidade II Fatores que Afetam o Desenvolvimento das Plantas

Unidade III A Fração Coloidal do Solo

Autores

Dr. Marcos André Piedade Gama (Prof. Fertilidade do Solo, UFRA – ICA Belém)

Dr. Gilson Sergio Bastos de Matos (Prof. Fertilidade do Solo, UFRA – ICA Belém)

Organizadores

Gabriel Pinheiro Silva (UFRA - Belém)

Antônio Anízio Leal Macedo Neto (Eng. Agrônomo, Mestre em Agronomia)


Sumário
1.1. FERTILIDADE DO SOLO, PRODUTIVIDADE, EFICIÊNCIA DE CALAGEM E
ADUBAÇÃO ................................................................................................................ 4
2. LEIS OU PRINCÍPIOS GERAIS DA ADUBAÇÃO ................................... 5
2.1. FORMAS DOS ELEMENTOS NO SOLO ...................................................... 8
3. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 8
4. FATORES DO SOLO ................................................................................... 9
4.1. NATUREZA FÍSICA ...................................................................................... 9
4.2. NATUREZA QUÍMICA ............................................................................... 11
4.3. NATUREZA BIOLÓGICA: .......................................................................... 12
5. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 13
6. SUBSTÂNCIAS TROCADORAS DE ÍONS .............................................. 16
6.1. ARGILAS ..................................................................................................... 16
6.2. ÓXIDOS E HIDRÓXIDOS DE FE E AL ...................................................... 17
6.3. MATÉRIA ORGÂNICA ............................................................................... 17
7. CARGAS DO SOLO ................................................................................... 18
7.1. CARGAS NEGATIVAS ............................................................................... 18
7.2. CARGAS POSITIVAS.................................................................................. 20
7.3. RETENÇÃO E TROCA IÔNICA.................................................................. 20
7.4. CAPACIDADE DE TROCA CATIÔNICA (CTC) ........................................ 21
7.5. COMPONENTES DA CTC DO SOLO ......................................................... 24
7.6. DUPLA CAMADA DIFUSA ........................................................................ 25
7.7. PONTO DE CARGA ZERO ......................................................................... 25
7.8. FATORES QUE AFETAM A CTC DO SOLO ............................................. 26
4

1.1. FERTILIDADE DO SOLO, PRODUTIVIDADE, EFICIÊNCIA DE CALAGEM E


ADUBAÇÃO

A baixa fertilidade dos solos brasileiros está quase sempre relacionada a acidez do solo e
toxidez por Al elevadas, além de alta capacidade de retenção de P, dependendo do tipo de solos
predominante e da sua localização na região tropical. A tabela 1, obtido a partir de Scheid e
Guilherme (2007) demonstra os diversos aspectos ligados à baixa fertilidade dos solos no mundo,
com destaque para acidez elevada, e as baixas reservas de K.
Tabela 1 - Áreas agrícolas (valores relativos) afetadas por adversidades em diferentes regiões
agroclimáticas do mundo.
Região agroclimática
Característica Trópico Trópico Subtrópico Subtrópico Temperad Temperado Borea Total
árido e subúmido árido e subúmido e o árido e subúmido e l
semiárido e úmido semiárido úmido semiárido úmido
%
Percentual da área total 14,4 23,5 9,4 13,8 20,1 18,0 0,8 100,0
Livre de adversidades 8,4 5,5 24,1 14,6 25,5 23,1 31,6 16,2
Drenagem pobre 7,9 13,1 5,6 14,7 13,1 24,3 33,9 14,0
Baixa CTC 11,8 8,9 3,2 0,2 0,1 0,6 0,0 4,2
Toxidez de Al 7,2 41,5 1,1 25,3 1,1 14,3 13,9 17,2
Acidez 29,6 25,5 13,6 25,2 9,6 39,5 38,4 24,6
Alta capacidade de fixação de P 1,2 13,0 0,0 14,3 0,0 0,3 0,0 5,2
Aspecto vértico 16,5 2,9 4,3 5,3 0,1 0,5 0,0 4,3
Baixa reserva de K 11,9 52,0 1,3 25,6 0,1 5,7 0,0 18,6
Alcalino 4,1 1,0 25,3 3,8 23,9 6,7 0,0 9,5
Salinidade 2,6 0,6 11,8 0,9 5,5 0,9 0,0 3,0
Aspecto nátrico 3,9 0,9 7,6 3,3 14,9 1,3 0,0 5,1
Raso ou pedregoso 13,3 7,1 15,6 14,3 9,8 5,1 9,2 10,0
Baixa capacidade de retenção de 20,8 12,8 13,9 4,5 5,0 13,4 13,4 11,3
umidade
Fonte: Adaptado de Scheid e Guilherme (2007)
A boa produtividade depende também boa fertilidade do solo, no entanto, algumas
condições desfavoráveis ocorrem no Brasil, sendo a acidez excessiva a mais comum (Raij, 1981).
Diante disso, medidas para a correção desse problema são postas em prática, como a calagem, que
tem a função de neutralizar a acidez do solo. Essa pratica é importante devido ao fato dos atributos
químicos do solo, estarem diretamente ligados à fertilidade do solo, consequentemente ao
desempenho produtivo das culturas, como pode ser observado no trabalho de calagem para plantio
de milho na Amazônia (Figura 6) obtido por Cravo et al. (2012).
5

Figura 1 - Produtividade (kg ha-1) de grãos de milho obtida em 2007 e 2008 em função de doses
de calcário, em um Latossolo Amarelo textura média de Tracuateua (PA).
Produtividade de grãos (kg ha-1) 5000

4000 2008

3000

2000
2007
1000

0
0 1 2 3 4
Calcário (Mg ha-1)
Fonte: Adaptado de Cravo, Smyth e Brasil, 2012.
No Brasil, as condições da fertilidade do solo nos estados brasileiros é geralmente baixa
(Figura 7), decorrente principalmente de excesso de acidez e alumínio trocável.
Figura 2 - Condições da Fertilidade dos solos brasileiros.

Fonte: Embrapa, 1980.

2. LEIS OU PRINCÍPIOS GERAIS DA ADUBAÇÃO

A adubação tem como objetivo fornecer ou melhorar os teores de nutrientes do solo,


para que estes sejam disponíveis e adequados ao desenvolvimento vegetal.
6

As práticas de adubação são decorrentes ou seguem algumas leis ou princípios


fundamentais, que na verdade servem mais como norteadoras de ações, como: lei da restituição, lei
do mínimo, lei dos incrementos decrescentes, curva de resposta, porcentagem relativa.
Lei da Restituição
Pela lei da restituição, enunciada por Voisin (1993), todos os nutrientes exportados pela
exploração vegetal que não retornam ao solo e aqueles perdidos no solo devem ser repostos pela
prática da adubação.
Do ponto de vista prático significa que a não reposição dos nutrientes proporciona a
exaustão do solo com consequente diminuição dos rendimentos dos plantios. Na região Amazônica,
por exemplo, vários produtores não praticam a reposição dos nutrientes exportados, o que diminui a
fertilidade do solo ao longo do tempo.
Lei do Mínimo
A lei do mínimo ou lei de Liebig foi enunciada em 1843 por Justus von Liebig, e
considera que todo crescimento vegetal será afetado pelo nutriente que ocorre em menores
proporções. Essa lei, no entanto, tem aplicação limitada quantos vários nutrientes estão deficientes
(figura 8).
Figura 3 - Representação esquemática da lei do mínimo (Liebig).

Fonte: Adaptado de Gilmar R. Nachtigall (2014)

Lei dos Incrementos Decrescentes – derivação da lei do mínimo


O aumento crescente de doses de nutrientes no solo pobre em nutrição faz com que a
produtividade aumente rapidamente no início, e com o posterior aumento dessas doses os ganhos de
produtividades são reduzidos (figura 9). Chegando à um limite de aumento da produtividade. Essa
lei é importante pelas questões econômicas da prática de adubação.
7

Figura 4 - Curva de resposta de algodão a nitrogênio.

500
Aumento de produção (kg/ha)

400
+ 22
+ 31
300 + 47
+ 67
200 + 98

100
+147

0
0 10 20 30 40 50 60
Nitrogênio Aplicado (kg/ha)
Fonte: Adaptado de Silva (1971)
Lei da Interação – Derivação da lei do mínimo
Essa lei considera o aspecto qualitativo da lei do mínimo, pois ela diz que cada fator
de produção é mais eficaz quando os outros fatores estão mais perto do seu estado ótimo. Ou seja,
essa lei indica que é errôneo estudar fatores de produção de forma isolada, pois cada fator pode
influenciar positivamente ou negativamente nos resultados, pois eles se interagem.
Como exemplificação dessa lei, temos as interações entre os nutrientes, as quais
podem ser sinérgicas ou antagônicas.
Sinérgico: Um nutriente pode ser afetado positivamente pela disponibilidade de outro fator.
Exemplo: N x P; N x K; P x Ca; P x S; P; P x H2O do solo
Antagônico: Um nutriente pode ser afetado negativamente pela disponibilidade de outro
fator.
Exemplo: Al x P; Al x Ca; P x Zn; P x Fe; S x Mo; Ca x B
Lei do Máximo
Raij (2011) define a lei do máximo como “curva de resposta”, onde se percebe um
forte aumento de produção com o incremento de um nutriente em um solo com deficiência, que
atinge o máximo de produção com a quantidade suficiente, e tem-se a redução de produção com
doses excessivas do nutriente.
André Voisin (1973) enunciou a lei do máximo, da seguinte forma:
- O excesso de um nutriente no solo reduz a eficácia de outros e, por conseguinte, pode
diminuir o rendimento das colheitas.
8

Figura 5 - Representação gráfica da lei do máximo, onde o decréscimo de produção ocorre com o
excesso de nutrientes.

Fonte: Raij (1981)


2.1. FORMAS DOS ELEMENTOS NO SOLO

Reconhecer as formas em que os nutrientes ocorrem no solo, que são absorvidas e


que estão presentes nos fertilizantes é importante principalmente nas práticas de interpretação dos
resultados da análise de solo, recomendação de adubação e aquisição dos fertilizantes. Para isso, na
tabela 2 estão apresentadas as principais formas em que nutrientes são absorvidos pelas plantas e
que estão presentes nos fertilizantes.

Tabela 2 - Principais formas dos elementos absorvidos pelas plantas e presente nos fertilizantes.
Elemento Forma absorvida pela planta Principais formas presentes nos fertilizantes
N NO-3 / NH+4 N / NO-3 / NH+4
P H2PO-4 / HPO-4 P2O5
K K+ K2O
Ca Ca2+ Ca / CaO
Mg Mg2+ Mg / MgO
S SO42- S
B H3BO3 / (B(OH)4-) B
Cl Cl- Cl
Fe Fe2+ / Fe3+ / Fe-quelato Fe
Fonte: Dechen e Nachtigall, 2007.

Unidade II – Fatores que afetam o desenvolvimento de plantas

3. INTRODUÇÃO

Além da fertilidade, são diversos os fatores relacionados ao solo, planta, manejo e


clima que afetam positivamente ou negativamente o desempenho vegetal. Alguns desses podem ser
controlados, como é o caso dos fatores de manejo, porém, outros são incontroláveis, como é o caso
dos climáticos (Meurer, 2007).
9

Ao longo do tempo vários trabalhos têm demonstrado que esses fatores contribuem
ou limitam a produção e produtividade das culturas. Meurer (2007), a, relacionou os principais
deles (Tabela 3).
Tabela 3 - Fatores que influenciam o crescimento e desenvolvimento das plantas e seu potencial
produtivo.

Fatores climáticos Fatores de Solo Fatores de planta

Precipitação pluvial Material de origem Espécies, cultivares


- quantidade Estutura Fatores genéticos
- distribuição Textura Qualidade da semente
Temperatura do ar Profundidade Nutrição
Umidade Relativa Declividade e topografia Eficiência da absorção
Luz Temperatura Disponibilidade de água
- quantidade Reação (pH) Evapotranspiração
- intensidade Matéria orgânica Moléstias
- duração Atividade de microrganismos - insetos
Altitude/latitude Capacidade de troca de cátions - bactérias
Ventos Saturação por bases - fungos
- velocidade Sistemas de plantio - vírus
- distribuição Sistemas de manejo Plantas invasoras
Fonte: Adaptado de Tisdale et al (1993) In: Meurer (2007)
Para quem trabalha com avaliação da fertilidade do solo, além de recomendações de
corretivos e fertilizantes, é sempre importante considerar a diversidade de fatores que envolvem o
desempenho das plantas, o que evita erros de interpretações e análises. Alguns desses fatores serão
abordados a seguir, com foco principal nos relacionados ao solo.

4. FATORES DO SOLO

Os fatores de solo que influenciam no desempenho vegetal são classificados quanto à


sua natureza em físicos, químicos e biológicos (Meurer, 2007).

4.1. NATUREZA FÍSICA

Estrutura e textura do solo se destacam como atributos físicos, e possuem estreita


relação com atributos como densidade, espaço poroso, umidade, taxa de infiltração de água e
erodibilidade, que podem inibir ou favorecer o crescimento vegetal, principalmente no que diz
respeito ao crescimento radicular em solos mais compactados (Tabela 4).
Tabela 4 - Comparação entre o comprimento de raízes de seis espécies de plantas crescendo em
vasos com Latossolo, submetidos a quatro níveis de compactação.
10

Nível de compactação Comprimento das raízes na camada compactada


Cevada Colza Tremoço Trigo Soja
kg cm-2 m
0 308,7 a 439,4 a 78,2 a 228,0 a 84,6 a
6 215,4 a 332,8 b 56,5 b 218,6 a 73,7 ab
11 134,0 c 136,5 c 45,4 b 91,8 b 41,6 bc
18 50,7 d 75,9 d 25,0 c 43,6 b 8,8 c
Fonte: Adaptado de Cintra (1980) In: Meurer. (2007)
OBSERVAÇÃO
Na tabela acima vemos que quanto maior a compactação do solo, que pode ser
ocasionada pelo excesso de tráfego de máquinas, menor é o crescimento das raízes das
plantas (nível de compressão 18 kg cm-2).
Outro ponto importante é em relação à umidade do solo, pois esta relacionada
diretamente com práticas de manejo da irrigação e das previsões pluviométricas, e que, portanto,
definem a seleção das culturas mais adaptadas à cada região (Figura 11 e 12).
11

Figura 6 - Efeito dos tratamentos de lâmina de irrigação sobre o diâmetro do caule do


cafeeiro (Coffea arabica L.) Acaiá MG-1474
46
Diâmetro do Caule (mm)

44

42

40
0 20 40 60 80 100
Lâmina de Irrigação (%ECA)
Fonte: Alves, et al. (2000)
Figura 7 - Efeito dos tratamentos de lâmina de irrigação sobre o diâmetro da copa do
cafeeiro (Coffea arabica L.) Acaiá MG-1474.
190
Diâmetro da Copa (mm)

180

170

160

150
0 20 40 60 80 100
Lâmina de Irrigação (%ECA)
Fonte: Alves, et al. (2000)

4.2. NATUREZA QUÍMICA

Os fatores de natureza química são a composição mineralógica, disponibilidade de


nutrientes, presença de elementos tóxicos e metais pesados, teor de matéria orgânica, reações de
sorção, precipitação, redução e oxidação, e salinidade (Meurer, 2007).
12

A composição mineralógica está intimamente relacionada com o material de origem


dos solos, que contribuem na definição dos tipos de solos, minerais predominantes e elementos
disponíveis às plantas, ou seja, influenciam a alta/baixa fertilidade natural. Outro importante
aspecto advindo da composição mineralógica é a ocorrência de cargas positivas e negativas do solo,
que a partir dos argilominerais predominantes, conferem ao solo uma maior capacidade de atração
de cátions e ânions para sua superfície, promovendo assim maior ou menor disponibilidade de
nutrientes às plantas.
Os solos brasileiros de um modo geral são ricos em óxidos de Fe e Al, associados aos
minerais de argila, o que prejudica a disponibilidade de nutrientes no solo, pois, esses óxidos
também produzem cargas e acabam complexando os nutrientes, atrapalhando assim a absorção
pelas plantas.
A matéria orgânica do solo, tem fundamental importância na influência sobre o
desempenho das plantas, pois confere diversas funções benéficas ao solo, além de ser fonte de
nutrientes como nitrogênio, enxofre e boro (Raij, 2011), bem como contribuindo no aumento da
capacidade de troca de cátions (CTC) do solo (Tabela 5), o que é importante em solos da região
tropical.
Tabela 5 - Capacidade de troca de cátions (CTC) total da matéria orgânica e fração da CTC devida à
matéria orgânica de amostras superficiais de alguns Argissolos e Latossolos do estado de São
Paulo.
Solo Teor no solo CTC
Argila MO Total MO Devido a MO
g kg-1 cmolc kg-1 %
Argissolo 50 7,8 3,2 2,2 69
Argissolo 60 6 3,3 2,1 64
Argissolo 120 25,2 10 8,2 82
Argissolo 190 24 7,4 6 81
Argissolo 130 14 3,7 2,7 73
Latossolo 640 45,1 24,4 15 61
Latossolo 560 44,6 35,8 32,2 90
Latossolo 590 45,1 28,9 16,1 56
Latossolo 240 12,1 3,9 2,9 74
Fonte: Adaptado de Raij (1969) In: Novais et al. (2007)

4.3. NATUREZA BIOLÓGICA:

Os fatores de natureza biológica sobre o crescimento vegetal, está intimamente relacionado


com a atividade dos microrganismos do solo (Meurer, 2007) e com os compostos orgânicos
presentes no solo.
A interação entre microrganismos e plantas, por exemplo, são benéficas em casos como
das bactérias do gênero Bradyrhizobium em simbiose com as plantas leguminosas, facilitando a
13

fixação de N2 atmosférico (Rufini et al. 2014). Ou ainda com fungos micorrízicos que podem
contribuir na solubilidade de fontes fosfatadas pouco solúveis.
Abaixo vemos a resposta de batata ao uso de microrganismos promotores de crescimento
de plantas (MPCPs) (Figura 13), como fator importante que aliado, por exemplo, a “remineralização
do solo”, pode favorecer a produtividade dos vegetais.
Figura 8 - Representação da qualidade da batata e crescimento do sistema radicular
em planta controle - sem inoculação de (MPCPs) e com diferentes tipos de bactérias
(MPCP).

Fonte: NAQQASH, et al. (2016)


Unidade III – Fração coloidal do solo

5. INTRODUÇÃO

O solo como organismo vivo é parte ou meio de incontáveis reações e interações, que
ocorrem em minúsculas partículas, os chamados coloides do solo, que podem ser inorgânicos
(minerais de argila) e orgânicos (húmus). Nessas partículas ocorrem as reações químicas, físico-
químicas e microbiológicas importantes aos estudos de solos e que conferem maior área superficial
reativa (Brady e Weil, 2009).
Composição do Solo:
Um solo em condições físicas ótimas pode dividida em três fases: 50 % de espaço
poroso, ocupados por partes iguais de ar e de água, 45-48 % de sólidos minerais e 2-5 % de matéria
orgânica (Novais e Mello, 2007), conforme Figura 14.
14

Figura 9 - Composição volumétrica média de um solo com boa estrutura.

Fonte: Adaptado de Novais e Mello, 2007

Fase Sólida e Sistema Coloidal


A fase sólida do solo é constituída por agregados, que são formados de partículas
unitárias, cimentadas entre si por matéria orgânica MO, óxidos de Fe e Al, sílica etc. As partículas
são classificadas em diferentes frações granulométricas, conforme figura 15 abaixo.

Figura 10 - Frações granulométricas importantes da fase sólida do solo.

Fonte: Lepsch (2010)


Em termos práticos conhecer as frações predominantes da fase sólida do solo é
importante na definição da textura do solo. E com isso é possível determinar se um solo é argiloso,
arenoso, ou mesmo de textura média, que por consequência afetam, entre outras coisas, a
disponibilidade de nutrientes, as reações que ocorrem no solo, a época e forma de aplicação de
fertilizantes.
Um sistema coloidal é uma associação heterogênea com no mínimo duas fases
diferentes, constituída por uma fase com material finamente subdividido, denominado fase dispersa,
15

misturado a outra fase contínua, denominado meio de dispersão. A fase mais fina é composta por
coloides, que são partículas minerais (argila) ou orgânica (húmus) representando a fase dispersa, e a
solução do solo, é meio de dispersão.
Para ser considerado um coloide, o material (mineral ou orgânico) deve possuir as
seguintes características:
a) Grande superfície específica. A superfície específica refere-se à área pela unidade
de peso do material considerado (solo como um todo, fração argila apenas, matéria
orgânica, etc.) e é expressa em m2 g-1. Partículas coloidais devem possuir
dimensões entre 1 a 1000 nanômetros (1 nm = 10 -9 m), que unidas são capazes de
formar uma grande superfície específica (figura 16). Existem variações entre solos
quanto às suas superfícies específicas, devido alguns fatores responsáveis como
textura, tipos de minerais de argila e teor de matéria orgânica.
b) Cargas elétricas. As partículas coloidais do solo são eletronegativas em maior
expressão, embora possam também conter cargas positivas. Essas cargas elétricas
proporcionam a atração de íons de cargas opostas, retendo-os no solo. Isso
contribui na manutenção da disponibilidade de nutrientes nos solos, evitando
maiores perdas. Em geral quanto maior a superfície específica maior é a densidade
de cargas do material.
c) Cinética. Como as partículas estão em um meio dispersante, ou seja, em meio
líquido geralmente, as mesmas apresentam movimentos. Esse movimento é
denominado de movimento browniano, e possui características de movimento
brusco, irregular e em ziguezague, isso ocorre devido à energia cinética presente
nas partículas (Novais e Mello, 2007).
Figura 11 - Segmentação do cubo aumentando a área superficial.

Fonte: Adaptado de Brady e Weil (2009)


16

6. SUBSTÂNCIAS TROCADORAS DE ÍONS

6.1. ARGILAS

Dentre os coloides, as argilas são as mais representativas, conferindo ao solo


características determinantes, tanto de natureza física como química. A fração argila atinge tamanho
máximo de 0,002 mm, e são classificadas como silicatadas e não silicatadas (amorfas), de acordo
com a composição e arranjo das unidades cristalográficas (Figura 17):
a) Argilas do tipo 1:1 - formadas a partir de uma unidade cristalográfica composta por
uma camada de tetraedro de sílica e uma de octaedro de alumina. As unidades
cristalográficas nessas argilas são ligadas com rigidez por pontes de hidrogênio, o
que não permite expansão ou contração.
Um mineral importante desse tipo argila é a caulinita, que ocorre em grande parte dos solos
da região amazônica e cerrado brasileiro. São minerais com área de superfície específica baixa e
que conferem aos solos uma baixa capacidade de retenção de cátion.
b) Argilas do tipo 2:1 - formadas a partir de uma unidade cristalográfica composta por
duas camadas de tetraedro de sílica e uma de octaedro de alumina. As unidades
cristalográficas nessas argilas são ligadas com H2O + íons (ex.: K+), o que permite
expansão ou contração. São minerais com alta superfície específica.
Minerais importantes desse tipo argila são a montmorilonita, ilita e vermiculita, que
ocorrem em grande parte dos solos de regiões temperadas.
Nos solos de regiões temperadas, as argilas silicatadas 2:1 são mais comuns, pois
esses, geralmente, ainda não foram sujeitos a estádios avançados de intemperismo (Novais e Mello,
2007).
Figura 12 - Representação esquemática de argilominerias do tipo 1:1 e 2:1, respectivamente.

Fonte: Adaptado de Novais e Mello (2007)


O mineral de argila mais comum do tipo 1:1 é a caulinita, principalmente em solos
tropicais, mais intemperizados. Caracteriza-se por um arranjo com uma camada de tetraedro e uma
17

de octaedro unidas rigidamente entre si pelos átomos de oxigênio. Condicionam pequenas


superfícies específicas, se comparada às partículas de argilas silicatadas do tipo 2:1.
Os minerais do tipo 2:1 como a montmorilonita é caracterizado por duas camadas de
tetraedro e uma camada de octaedro, o que proporciona uma maior superfície específica. O fato das
unidades serem frouxamente ligadas entre si por moléculas d’água e cátions na solução, permite que
a distância entre elas seja variável. Com isso, cátions e moléculas podem se mover entre essas
unidades, o que proporciona uma maior superfície total (interna + externa). Além disso, outra
característica de algumas argilas do tipo 2:1 é que essas possuem a capacidade de se expandir e
contrair com a hidratação delas (Novais e Mello, 2007).

6.2. ÓXIDOS E HIDRÓXIDOS DE Fe e Al

Esse material coloidal, também constituinte da fração argila, é predominante em


solos de regiões tropicais altamente intemperizados, como é o caso da Amazônia e também do
cerrado. A este grupo (argilas amorfas) pertencem os minerais como a hematita (Fe 2O3), goethita
(Fe2O3.H2O) e a gibbsita (Al3O3.3H2O). Esses materiais possuem baixa capacidade de adsorção de
cátions e elevada capacidade de adsorção de ânions, o que prejudica a disponibilidade de fosfato
para as plantas.

6.3. MATÉRIA ORGÂNICA

Além dos coloides inorgânicos, existem também os orgânicos, os quais exercem


papel fundamental nas características físicas e químicas do solo. A formação da matéria orgânica
ocorre através da decomposição química e biológica dos materiais orgânicos adicionados ao solo, e
com essa decomposição tem-se o produto final, o húmus, que apresenta coloração escura e uma alta
quantidade de cargas negativas devido a sua composição de grupos fenólicos e carboxílicos. Vale
lembrar que a matéria orgânica possui superfície especifica maior que a maioria das argilas
silicatadas, como mostra a tabela 6.
18

Tabela 6 - Superfície específica de constituintes coloidais do solo.

Constituinte da fração argila Superfície específica m2 g-1


Gibbsita 1-2,5
Anatásio 10
Caulinita 10-30
Goethita 30
Mica hidratada 100-200
Clorita 100-175
Óxidos de ferro 100-400
Sílica amorfa 100-600
Sílica-alumina amorfa 200-500
Vermiculita 300-500
Alofana 400-700
Montmorilonita 700-800
Matéria orgânica ± 700
Fonte: Adaptado de Novais et al, 2007

Fatos Importantes quanto a superfície específica (SE) da fração argila e matéria


orgânica do solo
 Textura ou granulometria – (argila, silte, areia) – quanto mais argila, maior a SE;
 Tipos de minerais de argila – (argila 1:1 ou 2:1) - quanto mais argila 2:1, maior a
SE;
 Em geral, solos de regiões temperadas (predomínio de argila 2:1 e outras
silicatadas) têm maior SE que solos da região tropical (predomínio dos óxido-
hidróxidos de Fe e Al;
 Matéria orgânica (MO) – (agente cimentante) - quanto mais MO, maior a SE.

7. CARGAS DO SOLO

7.1. CARGAS NEGATIVAS

A predominância de cargas negativas sobre cargas positivas ocorre geralmente em


solos onde há maior concentração de argilas silicatadas, ou seja, em solos pouco intemperizados das
regiões temperadas. Nos solos de regiões tropicais, mais intemperizados, a quantidade de cargas
negativas tende a ser mais baixa, com casos até de predomínio de cargas positivas. Por isso, nessas
condições, a matéria orgânica atua como principal “fornecedora” de cargas negativas nos solos
tropicais.
19

As cargas eletronegativas do solo possuem diferentes origens:


a) Dissociação de grupos OH nas arestas das argilas silicatadas
A fragmentação das unidades cristalográficas das argilas silicatadas, pode dissociar
os grupos OH das terminações tetraedrais ou octaedrais, gerando uma carga negativa (figura 18).

Figura 13 - Formação de carga negativa, com a dissociação do grupo OH das


argilas silicatadas.

Fonte: Adaptado de Novais et al, 2007

b) Substituição Isomórfica
Na formação das argilas do tipo 2:1, algumas substituições podem acontecer. Como é
o caso da substituição do Si dos tetraedros por Al, bem como o Al dos octaedros por Mg ou por
outros cátions de valência menor que a do Al3+ (figura 19). A substituição do Si4+, que se
encontrava, inicialmente, neutralizando quatro cargas negativas, pelo Al+3, irá condicionar a sobra
de uma carga negativa. Da mesma forma ocorre com o octaedro, pois, com a substituição do
Al3+ por um cátion divalente, como o Mg2+, proporcionará sobra de uma carga negativa. (Novais e
Mello, 2007)
Figura 14 - Representação esquemática da substituição isomórfica.

Fonte: Adaptado de Raij (2011)


c) Matéria orgânica
Neste caso, as cargas negativas são originadas a partir da dissociação dos grupos
carboxílicos e fenólicos, como mostra as equações químicas (figura 20). Entretanto, essas cargas
negativas são mais abundantes quanto maior for o pH do meio, denominada cargas dependentes do
pH do solo. Os grupos carboxílicos contribuem com maior proporção de cargas negativas
20

Figura 15 - Equação química demonstrando a dissociação dos grupos carboxílicos e


fenólicos

Fonte: Adaptado de Novais et al, 2007

7.2. CARGAS POSITIVAS

As cargas eletropositivas do solo possuem origem nos óxidos e hidróxidos de Fe e


Al, preferencialmente. Em condições de maior acidez maior a proporção dessas cargas positivas,
dificultando, por exemplo, a capacidade do solo em reter nutrientes catiônicos. Daí a importância de
práticas corretivas de acidez do solo. A formação das cargas do solo é demonstrada na figura 21
abaixo:
Figura 16 - Formação de cargas positivas e negativas em hidróxido de Al com a
redução e aumento do pH, respectivamente.

Fonte: Adaptado de Novais et al, 2007

7.3. RETENÇÃO E TROCA IÔNICA

Em decorrência das cargas que são geradas nos coloides do solo (argila, húmus,
óxidos e hidróxidos), positivas e negativas, ocorre a atração de íons de cargas contrárias àqueles
presentes na sua superfície, ocasionando assim a retenção dos mesmos (figura 22).
Esses íons retidos nos coloides podem ser trocados por outros íons de mesma carga
da solução do solo. Essa reação no solo de troca de íons de mesma carga é chamada de troca iônica
(figura 23), que pode ser troca de íons aniônicos e troca de íons catiônicos.
21

Os íons envolvidos neste processo de retenção, ligam-se por eletrovalência às


partículas coloidais do solo. Os cátions mais envolvidos quantitativamente nesse processo são: Ca 2+,
Mg2+, Al3+, H+, K+, Na+ e 𝑁𝐻4+ . O Ca2+ comumente é muito abundante em alguns solos, enquanto
que em solos tropicais o Al3+ é o mais abundante (Novais e Mello, 2007).
Figura 17- Superfície solida carregadas eletronegativamente e os cátions nelas
adsorvidos.

Fonte: Raij, 2011

Figura 18 - Processo de troca catiônica (a) e aniônica (b).

Fonte: Novais et al. 2007

7.4. CAPACIDADE DE TROCA CATIÔNICA (CTC)

A CTC é a capacidade que o solo possui para realizar a retenção e liberação de


cátions para a solução do solo, que, portanto, também pode regular a disponibilidade de nutrientes
às plantas.
22

Existem dois tipos de CTC, a diferenciação é determinada pelas cargas quantificadas


no meio de troca ou meio “sortivo”. São a CTC efetiva e a CTC total ou a pH 7,0 (Novais e Mello,
2007; Raij, 2011).
a) CTC efetiva ou real.
É determinada no pH que se encontra o solo, no qual são obtidas as cargas permanentes +
as cargas dependentes que não estão bloqueadas por H+. Pode ser obtida indiretamente pela soma a
seguir:
CTCefetiva = Ca + Mg + K + Na + Al (Na - quando houver)
Ou
CTCefetiva = SB + Al

Os cátions trocáveis, representados pela soma de bases (SB), são determinados a partir de
uma solução não tamponada, como por exemplo com KCl 1 mol L -1.

b) CTC a pH 7 ou CTC potencial.

É determinada a partir do uso de uma solução tamponada a pH 7, permitindo a


neutralização total dos íons H ligados covalentemente às cargas dependentes, quantificando,
portanto, a CTC permanente + CTC dependente de pH. Pode ser obtida indiretamente através da
soma:
CTCpH7 = SB + (Al3+ + Ho)

Na qual: SB = Ca + Mg + K + Na
(Al3+ + Ho) = acidez potencial

As bases trocáveis que dão origem a SB são determinadas conforme citado para CTCefetiva ;
E a acidez potencial é determinada em laboratório com uso de solução tamponada a pH 7,0,
geralmente utilizando o acetado de Ca, como método padrão.
A representação gráfica dos componentes da CTC está na figura 24, na qual é possível se
observar que o solo, de maneira geral, é um reservatório de cátions que em condição natural (pH
atual), possui uma pequena quantidade de sítios de trocas (CTC efetiva), principalmente em solos
ácidos e intemperizados. Com o aumento do pH hidrogênios que estavam ocupando os sítios,
começam a se dissociar e a oferta de cargas negativas aumenta, tendo uma elevação máxima com
pH = 7,0, tendo como resposta a CTC potencial, que varia de acordo com o mineral predominante
(tabela 7).
23

Figura 19 - Representação esquemática dos componentes da CTC do solo

Fonte: Raij, 1981

A unidade da CTC é o cmolc dm-3, que significa a quantidade de matéria medida em


mol por unidade de volume de solo.
Alguns princípios básicos que caracterizam a CTC (Novais e Mello (2007).
a) O fenômeno de troca é reversível. Os cátions adsorvidos podem ser deslocados por
outros, e, assim, sucessivamente;
b) O fenômeno de troca é uma reação estequiométrica. Portanto um molc de um cátion
é trocado (substituído) por um molc de outro cátion;
c) É um processo rápido. Na determinação da CTC o tempo de agitação do solo e
solução varia de 5 a 15 min.

Tabela 7 - Capacidade de troca catiônica, a pH 7,0, de alguns constituintes do solo.


Material CTC
cmolc kg-1
Matéria orgânica 150-400
Vermiculita 100-150
Montmorilonita 80-120
Ilita 20-50
Clorita 14-40
Halosita.4H2O 40-50
Halosita.2H2O 50-10
Caulinita 3-15
Óxidos de Fe e Al 4-10
Fonte: Adaptado de Wutke e Camargo (1975). Fassbender (1978) In: Novais et al, 2007.
24

7.5. COMPONENTES DA CTC DO SOLO

A partir da determinação da CTC do solo, é possível identificar diversos parâmetros


que auxiliam na interpretação de análise de solo e recomendação de corretivos e fertilizantes, como
a saturação por bases (V) e a saturação por alumínio (m) do solo essas características variam de
acordo com solos, região, mineralogia do solo. Um exemplo trabalho que classifica esses
parâmetros pode ser observado no trabalho de Alvarez et al. (1999) para o Estado de Minas Gerais,
no Brasil (tabela 8).
Tabela 8 - Características relacionadas a CTC do solo do estado de Minas Gerais.
Características Classe
Muito Baixa Baixa Média Alta Muito
alta
SB cmolc dm-3 ≤ 0,60 0,61 - 1,80 1,81 - 3,60 3,61 - 6,00 > 6,00
3+
Al cmolc dm -3
≤ 0,20 0,21 - 0,50 0,51 - 1,00 1,01 - 2,00 > 2,00
CTCefetiva cmolc dm-3 ≤ 0,80 0,81 - 2,30 2,31 - 4,60 4,61 - 8,00 > 8,00
H + Al cmolc dm -3
≤ 1,0 1,01 - 2,50 2,51 - 5,00 5,01 - 9,00 > 9,00
CTCpH7 cmolc dm-3 ≤ 1,60 1,61 - 4,30 4,31 - 8,60 8,61 - 15,0 > 15,0
V% ≤ 20,0 20,1 - 40,0 40,1 - 60,0 60,1 - 80,0 > 80,0
m% ≤ 15,0 15,1 - 30,0 30,1 - 50,0 50,1 -75,0 > 75,0
Fonte: Adaptado de Alvarez et al, 1999
a) Soma de Bases (SB)
É a soma de Ca2+, Mg2+, K+ e quando disponíveis Na+ e NH4+
b) Saturação por bases (V %)
É a participação das bases em termos de % dentro da CTC total do solo. Para cálculo dessa
característica utiliza-se a fórmula:
𝑆𝐵 𝑥 100
𝑉 = 𝐶𝑇𝐶 𝑝𝐻 7,0

Solos com valor de V% superior ou igual a 50% são considerados solos eutróficos, e
quando inferiores a 50 % são considerados solos distróficos.
c) Acidez trocável (Al3+)
Representa o Al3+ trocável no solo, e outros cátions de hidrolise ácida, Mn2+, Fe2+ e Fe3+
mais o H+ que faz parte da CTC efetiva com menor participação. É considerado como acidez
trocável, pois, em solução, por hidrólise, geram acidez, como mostra a equação simplificada a
seguir:
𝐴𝑙 3+ + 3𝐻2 𝑂 ↔ 𝐴𝑙[𝑂𝐻]3 + 3𝐻 +

d) Acidez potencial
Essa acidez inclui H + Al (H+ trocável, H de ligações covalentes, Al3+ trocável e outras
formas de Al).
25

e) Saturação por alumínio (m %)


É a percentagem de Al trocável (Al3+) na CTC efetiva do solo. É calculado através da
expressão:
𝐴𝑙3+
𝑚= 𝑥 100
𝐶𝑇𝐶𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎

7.6. DUPLA CAMADA DIFUSA

A dupla camada difusa é a forma pela distribuição dos íons na solução do solo, em
relação a uma superfície coloidal (argila e MO) eletrostaticamente carregada. Devido as
características dos íons presentes na solução, esses podem ser mais facilmente atraídos pela
superfície coloidal carregada (figura 25). Três fatores condicionam a maior ou menor atração aos
coloides, valência e raio iônico hidratado dos cátions, além das concentrações desses íons. Em
geral, maior valência e menor o raio iônico hidratado possibilitam maior atração do íon pela
superfície coloidal.
Figura 20 - Distribuição de íons a partir da superfície de coloide eletronegativo.

Fonte: Mitchell (1976) In: Novais et al, 2007

7.7. PONTO DE CARGA ZERO

Ponto de carga zero (PCZ) é o valor de pH do meio em que as quantidades de cargas


positivas e negativas são iguais. Quando o pH do solo está abaixo do pH onde ocorre o PCZ a
predominância de cargas no coloide é positiva; quando o pH do solo está acima do pH onde ocorre
o PCZ a predominância de cargas é negativa. Como os solos em geral apresentam heterogeneidade
nos tipos de coloides, o PCZ dos solos pode variar muito, até mesmo no mesmo solo, a PCZ pode
ser diferente em função das profundidades (figura 26), o que implica na escolha de práticas, como a
calagem e gessagem. Entre os fatores que influenciam o PCZ estão mineralogia e matéria orgânica.
26

Figura 21 - Representação da PCZ de um Latossolo Roxo ácrico em dois horizontes (Ap e B2).

Fonte: Raij (2011)


7.8. FATORES QUE AFETAM A CTC DO SOLO

A CTC do solo é influenciada, como já observado anteriormente, pela valência dos íons,
pelo raio iônico hidratado e pela concentração desses íons na solução do solo. Além disso, outros
fatores podem afetar a CTC, como:
Matéria orgânica
Como já enfatizado, a matéria orgânica influencia no desenvolvimento de cargas negativas
do solo, portanto, afeta diretamente a CTC do solo. Em função disso, o manejo da matéria orgânica,
principalmente em solos tropicas, onde há predomínio de óxidos e hidróxidos de Fe e Al, é prática
importante na capacidade do solo em reter nutrientes importantes às plantas.
Sistema de plantio
O sistema de plantio influencia a CTC porque tem relação com o conteúdo de matéria
orgânica (MO) do solo. No Brasil são dois os principais sistemas: plantio direto e plantio
convencional. No plantio direto não há revolvimento de camadas do solo, há preservação da
palhada sobre o solo e há a rotação de culturas, proporcionando conservação ou aumento da MO.
No plantio convencional predomina o revolvimento e exposição do solo. O trabalho de Rheinheimer
et al. (1998) mostra a superioridade de carbono orgânico no sistema plantio direto quando
comparado com plantio convencional (tabela 9).
27

Tabela 9 - Carbono orgânico do solo, em quatro profundidades comparado em


campo nativo (CN), sistema plantio direto (SPD) e sistema de cultivo
convencional (SCC).
Manejo/uso Carbono orgânico
Total Fúlvicos Húmicos Huminas
-1
g kg
0-5 cm
CN 9,81 a 3,52 aA 1,16 aA 5,13 aA
SPD 8,95 b 2,83 bA 0,99 aA 5,13 aA
SCC 7,17 c 1,91 cA 0,36 bB 4,90 aA
5-10 cm
CN 7,98 a 1,88 aB 1,00 aA 5,10 aA
SPD 7,71 ab 1,82 aB 0,99 aA 4,90 aA
SCC 7,21 b 1,85 aA 0,56 bB 4,80 aA
10-20 cm
CN 6,19 a 1,29 aC 1,05 aA 3,85 aB
SPD 4,70 b 0,78 bC 0,92 abA 3,00 bB
SCC 6,10 a 1,35 aB 0,75 bAB 4,00 aB
20-40 cm
CN 5,52 a 1,08 aC 0,88 aA 3,56 aC
SPD 3,84 b 0,28 bD 0,96 aA 2,60 bC
SCC 5,07 a 0,78 aC 0,94 aA 3,35 aC
Fonte: adaptado de Rheinheimer et al., 1998

Classe e textura do solo


A classe de solo influencia diretamente na CTC do solo em função do tipo de minerais
predominantes. Solos com predominância de minerais do tipo 2:1 possuem maior CTC. Solos com
predominância de minerais 1:1 e óxidos de Fe e Al apresentam CTC reduzida.
28

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