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Adubos e Adubação
2021
FERTILIDADE DO SOLO
Unidade I Introdução a Fertilidade do Solo
Autores
Dr. Marcos André Piedade Gama (Prof. Fertilidade do Solo, UFRA – ICA Belém)
Dr. Gilson Sergio Bastos de Matos (Prof. Fertilidade do Solo, UFRA – ICA Belém)
Organizadores
A baixa fertilidade dos solos brasileiros está quase sempre relacionada a acidez do solo e
toxidez por Al elevadas, além de alta capacidade de retenção de P, dependendo do tipo de solos
predominante e da sua localização na região tropical. A tabela 1, obtido a partir de Scheid e
Guilherme (2007) demonstra os diversos aspectos ligados à baixa fertilidade dos solos no mundo,
com destaque para acidez elevada, e as baixas reservas de K.
Tabela 1 - Áreas agrícolas (valores relativos) afetadas por adversidades em diferentes regiões
agroclimáticas do mundo.
Região agroclimática
Característica Trópico Trópico Subtrópico Subtrópico Temperad Temperado Borea Total
árido e subúmido árido e subúmido e o árido e subúmido e l
semiárido e úmido semiárido úmido semiárido úmido
%
Percentual da área total 14,4 23,5 9,4 13,8 20,1 18,0 0,8 100,0
Livre de adversidades 8,4 5,5 24,1 14,6 25,5 23,1 31,6 16,2
Drenagem pobre 7,9 13,1 5,6 14,7 13,1 24,3 33,9 14,0
Baixa CTC 11,8 8,9 3,2 0,2 0,1 0,6 0,0 4,2
Toxidez de Al 7,2 41,5 1,1 25,3 1,1 14,3 13,9 17,2
Acidez 29,6 25,5 13,6 25,2 9,6 39,5 38,4 24,6
Alta capacidade de fixação de P 1,2 13,0 0,0 14,3 0,0 0,3 0,0 5,2
Aspecto vértico 16,5 2,9 4,3 5,3 0,1 0,5 0,0 4,3
Baixa reserva de K 11,9 52,0 1,3 25,6 0,1 5,7 0,0 18,6
Alcalino 4,1 1,0 25,3 3,8 23,9 6,7 0,0 9,5
Salinidade 2,6 0,6 11,8 0,9 5,5 0,9 0,0 3,0
Aspecto nátrico 3,9 0,9 7,6 3,3 14,9 1,3 0,0 5,1
Raso ou pedregoso 13,3 7,1 15,6 14,3 9,8 5,1 9,2 10,0
Baixa capacidade de retenção de 20,8 12,8 13,9 4,5 5,0 13,4 13,4 11,3
umidade
Fonte: Adaptado de Scheid e Guilherme (2007)
A boa produtividade depende também boa fertilidade do solo, no entanto, algumas
condições desfavoráveis ocorrem no Brasil, sendo a acidez excessiva a mais comum (Raij, 1981).
Diante disso, medidas para a correção desse problema são postas em prática, como a calagem, que
tem a função de neutralizar a acidez do solo. Essa pratica é importante devido ao fato dos atributos
químicos do solo, estarem diretamente ligados à fertilidade do solo, consequentemente ao
desempenho produtivo das culturas, como pode ser observado no trabalho de calagem para plantio
de milho na Amazônia (Figura 6) obtido por Cravo et al. (2012).
5
Figura 1 - Produtividade (kg ha-1) de grãos de milho obtida em 2007 e 2008 em função de doses
de calcário, em um Latossolo Amarelo textura média de Tracuateua (PA).
Produtividade de grãos (kg ha-1) 5000
4000 2008
3000
2000
2007
1000
0
0 1 2 3 4
Calcário (Mg ha-1)
Fonte: Adaptado de Cravo, Smyth e Brasil, 2012.
No Brasil, as condições da fertilidade do solo nos estados brasileiros é geralmente baixa
(Figura 7), decorrente principalmente de excesso de acidez e alumínio trocável.
Figura 2 - Condições da Fertilidade dos solos brasileiros.
500
Aumento de produção (kg/ha)
400
+ 22
+ 31
300 + 47
+ 67
200 + 98
100
+147
0
0 10 20 30 40 50 60
Nitrogênio Aplicado (kg/ha)
Fonte: Adaptado de Silva (1971)
Lei da Interação – Derivação da lei do mínimo
Essa lei considera o aspecto qualitativo da lei do mínimo, pois ela diz que cada fator
de produção é mais eficaz quando os outros fatores estão mais perto do seu estado ótimo. Ou seja,
essa lei indica que é errôneo estudar fatores de produção de forma isolada, pois cada fator pode
influenciar positivamente ou negativamente nos resultados, pois eles se interagem.
Como exemplificação dessa lei, temos as interações entre os nutrientes, as quais
podem ser sinérgicas ou antagônicas.
Sinérgico: Um nutriente pode ser afetado positivamente pela disponibilidade de outro fator.
Exemplo: N x P; N x K; P x Ca; P x S; P; P x H2O do solo
Antagônico: Um nutriente pode ser afetado negativamente pela disponibilidade de outro
fator.
Exemplo: Al x P; Al x Ca; P x Zn; P x Fe; S x Mo; Ca x B
Lei do Máximo
Raij (2011) define a lei do máximo como “curva de resposta”, onde se percebe um
forte aumento de produção com o incremento de um nutriente em um solo com deficiência, que
atinge o máximo de produção com a quantidade suficiente, e tem-se a redução de produção com
doses excessivas do nutriente.
André Voisin (1973) enunciou a lei do máximo, da seguinte forma:
- O excesso de um nutriente no solo reduz a eficácia de outros e, por conseguinte, pode
diminuir o rendimento das colheitas.
8
Figura 5 - Representação gráfica da lei do máximo, onde o decréscimo de produção ocorre com o
excesso de nutrientes.
Tabela 2 - Principais formas dos elementos absorvidos pelas plantas e presente nos fertilizantes.
Elemento Forma absorvida pela planta Principais formas presentes nos fertilizantes
N NO-3 / NH+4 N / NO-3 / NH+4
P H2PO-4 / HPO-4 P2O5
K K+ K2O
Ca Ca2+ Ca / CaO
Mg Mg2+ Mg / MgO
S SO42- S
B H3BO3 / (B(OH)4-) B
Cl Cl- Cl
Fe Fe2+ / Fe3+ / Fe-quelato Fe
Fonte: Dechen e Nachtigall, 2007.
3. INTRODUÇÃO
Ao longo do tempo vários trabalhos têm demonstrado que esses fatores contribuem
ou limitam a produção e produtividade das culturas. Meurer (2007), a, relacionou os principais
deles (Tabela 3).
Tabela 3 - Fatores que influenciam o crescimento e desenvolvimento das plantas e seu potencial
produtivo.
4. FATORES DO SOLO
44
42
40
0 20 40 60 80 100
Lâmina de Irrigação (%ECA)
Fonte: Alves, et al. (2000)
Figura 7 - Efeito dos tratamentos de lâmina de irrigação sobre o diâmetro da copa do
cafeeiro (Coffea arabica L.) Acaiá MG-1474.
190
Diâmetro da Copa (mm)
180
170
160
150
0 20 40 60 80 100
Lâmina de Irrigação (%ECA)
Fonte: Alves, et al. (2000)
fixação de N2 atmosférico (Rufini et al. 2014). Ou ainda com fungos micorrízicos que podem
contribuir na solubilidade de fontes fosfatadas pouco solúveis.
Abaixo vemos a resposta de batata ao uso de microrganismos promotores de crescimento
de plantas (MPCPs) (Figura 13), como fator importante que aliado, por exemplo, a “remineralização
do solo”, pode favorecer a produtividade dos vegetais.
Figura 8 - Representação da qualidade da batata e crescimento do sistema radicular
em planta controle - sem inoculação de (MPCPs) e com diferentes tipos de bactérias
(MPCP).
5. INTRODUÇÃO
O solo como organismo vivo é parte ou meio de incontáveis reações e interações, que
ocorrem em minúsculas partículas, os chamados coloides do solo, que podem ser inorgânicos
(minerais de argila) e orgânicos (húmus). Nessas partículas ocorrem as reações químicas, físico-
químicas e microbiológicas importantes aos estudos de solos e que conferem maior área superficial
reativa (Brady e Weil, 2009).
Composição do Solo:
Um solo em condições físicas ótimas pode dividida em três fases: 50 % de espaço
poroso, ocupados por partes iguais de ar e de água, 45-48 % de sólidos minerais e 2-5 % de matéria
orgânica (Novais e Mello, 2007), conforme Figura 14.
14
misturado a outra fase contínua, denominado meio de dispersão. A fase mais fina é composta por
coloides, que são partículas minerais (argila) ou orgânica (húmus) representando a fase dispersa, e a
solução do solo, é meio de dispersão.
Para ser considerado um coloide, o material (mineral ou orgânico) deve possuir as
seguintes características:
a) Grande superfície específica. A superfície específica refere-se à área pela unidade
de peso do material considerado (solo como um todo, fração argila apenas, matéria
orgânica, etc.) e é expressa em m2 g-1. Partículas coloidais devem possuir
dimensões entre 1 a 1000 nanômetros (1 nm = 10 -9 m), que unidas são capazes de
formar uma grande superfície específica (figura 16). Existem variações entre solos
quanto às suas superfícies específicas, devido alguns fatores responsáveis como
textura, tipos de minerais de argila e teor de matéria orgânica.
b) Cargas elétricas. As partículas coloidais do solo são eletronegativas em maior
expressão, embora possam também conter cargas positivas. Essas cargas elétricas
proporcionam a atração de íons de cargas opostas, retendo-os no solo. Isso
contribui na manutenção da disponibilidade de nutrientes nos solos, evitando
maiores perdas. Em geral quanto maior a superfície específica maior é a densidade
de cargas do material.
c) Cinética. Como as partículas estão em um meio dispersante, ou seja, em meio
líquido geralmente, as mesmas apresentam movimentos. Esse movimento é
denominado de movimento browniano, e possui características de movimento
brusco, irregular e em ziguezague, isso ocorre devido à energia cinética presente
nas partículas (Novais e Mello, 2007).
Figura 11 - Segmentação do cubo aumentando a área superficial.
6.1. ARGILAS
7. CARGAS DO SOLO
b) Substituição Isomórfica
Na formação das argilas do tipo 2:1, algumas substituições podem acontecer. Como é
o caso da substituição do Si dos tetraedros por Al, bem como o Al dos octaedros por Mg ou por
outros cátions de valência menor que a do Al3+ (figura 19). A substituição do Si4+, que se
encontrava, inicialmente, neutralizando quatro cargas negativas, pelo Al+3, irá condicionar a sobra
de uma carga negativa. Da mesma forma ocorre com o octaedro, pois, com a substituição do
Al3+ por um cátion divalente, como o Mg2+, proporcionará sobra de uma carga negativa. (Novais e
Mello, 2007)
Figura 14 - Representação esquemática da substituição isomórfica.
Em decorrência das cargas que são geradas nos coloides do solo (argila, húmus,
óxidos e hidróxidos), positivas e negativas, ocorre a atração de íons de cargas contrárias àqueles
presentes na sua superfície, ocasionando assim a retenção dos mesmos (figura 22).
Esses íons retidos nos coloides podem ser trocados por outros íons de mesma carga
da solução do solo. Essa reação no solo de troca de íons de mesma carga é chamada de troca iônica
(figura 23), que pode ser troca de íons aniônicos e troca de íons catiônicos.
21
Os cátions trocáveis, representados pela soma de bases (SB), são determinados a partir de
uma solução não tamponada, como por exemplo com KCl 1 mol L -1.
Na qual: SB = Ca + Mg + K + Na
(Al3+ + Ho) = acidez potencial
As bases trocáveis que dão origem a SB são determinadas conforme citado para CTCefetiva ;
E a acidez potencial é determinada em laboratório com uso de solução tamponada a pH 7,0,
geralmente utilizando o acetado de Ca, como método padrão.
A representação gráfica dos componentes da CTC está na figura 24, na qual é possível se
observar que o solo, de maneira geral, é um reservatório de cátions que em condição natural (pH
atual), possui uma pequena quantidade de sítios de trocas (CTC efetiva), principalmente em solos
ácidos e intemperizados. Com o aumento do pH hidrogênios que estavam ocupando os sítios,
começam a se dissociar e a oferta de cargas negativas aumenta, tendo uma elevação máxima com
pH = 7,0, tendo como resposta a CTC potencial, que varia de acordo com o mineral predominante
(tabela 7).
23
Solos com valor de V% superior ou igual a 50% são considerados solos eutróficos, e
quando inferiores a 50 % são considerados solos distróficos.
c) Acidez trocável (Al3+)
Representa o Al3+ trocável no solo, e outros cátions de hidrolise ácida, Mn2+, Fe2+ e Fe3+
mais o H+ que faz parte da CTC efetiva com menor participação. É considerado como acidez
trocável, pois, em solução, por hidrólise, geram acidez, como mostra a equação simplificada a
seguir:
𝐴𝑙 3+ + 3𝐻2 𝑂 ↔ 𝐴𝑙[𝑂𝐻]3 + 3𝐻 +
d) Acidez potencial
Essa acidez inclui H + Al (H+ trocável, H de ligações covalentes, Al3+ trocável e outras
formas de Al).
25
A dupla camada difusa é a forma pela distribuição dos íons na solução do solo, em
relação a uma superfície coloidal (argila e MO) eletrostaticamente carregada. Devido as
características dos íons presentes na solução, esses podem ser mais facilmente atraídos pela
superfície coloidal carregada (figura 25). Três fatores condicionam a maior ou menor atração aos
coloides, valência e raio iônico hidratado dos cátions, além das concentrações desses íons. Em
geral, maior valência e menor o raio iônico hidratado possibilitam maior atração do íon pela
superfície coloidal.
Figura 20 - Distribuição de íons a partir da superfície de coloide eletronegativo.
Figura 21 - Representação da PCZ de um Latossolo Roxo ácrico em dois horizontes (Ap e B2).
A CTC do solo é influenciada, como já observado anteriormente, pela valência dos íons,
pelo raio iônico hidratado e pela concentração desses íons na solução do solo. Além disso, outros
fatores podem afetar a CTC, como:
Matéria orgânica
Como já enfatizado, a matéria orgânica influencia no desenvolvimento de cargas negativas
do solo, portanto, afeta diretamente a CTC do solo. Em função disso, o manejo da matéria orgânica,
principalmente em solos tropicas, onde há predomínio de óxidos e hidróxidos de Fe e Al, é prática
importante na capacidade do solo em reter nutrientes importantes às plantas.
Sistema de plantio
O sistema de plantio influencia a CTC porque tem relação com o conteúdo de matéria
orgânica (MO) do solo. No Brasil são dois os principais sistemas: plantio direto e plantio
convencional. No plantio direto não há revolvimento de camadas do solo, há preservação da
palhada sobre o solo e há a rotação de culturas, proporcionando conservação ou aumento da MO.
No plantio convencional predomina o revolvimento e exposição do solo. O trabalho de Rheinheimer
et al. (1998) mostra a superioridade de carbono orgânico no sistema plantio direto quando
comparado com plantio convencional (tabela 9).
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Referências
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