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O nascimento da exigéncia racional — 11

importa, assim, que Tales tenha assimilado essa physis, esse


elemento fundamental, ågua, talvez ap6s refletir söbre as
enchentes do Nilo. O essencial é que tenha enunciado, pela
primeira vez, a exigéncia de uma realidade natural objetiva —
isto é, existente independentemente do homem e tenha
aberto, assim, caminho a töda investigagäo cientffica. Em
CAPfTULO 11 Anaximandro, autor de um tratado Da natureza, do qual res-
ta um fragmento, intervém uma realidade originåria, indeter-
minada e ilimitada, o apeiron, de que proviria o mundo por
O NASCIMENTO DA EXIGÉNCIA RACIONAL meio de uma ruptura, seguida de diferenciagöes progressivas.
Teve o pressentimento de uma evolugäo das espécies vivas, a
partir do limo do mar; e também a idua 'i —
caberia ver nela a
expressäo filos6fica das crencas 6rficas? —
de uma espécie de
1. Os
primeiros jönicos pecado ligado ruptura da unidade original. Quanto a
Heråclito e o devir
2. Anaximenes, seu discfpulo, cré que o elemento essencial é
3. Parménides e o Ser im6vel o ar, entendido provävelmente em sentido que engloba tanto
4. Alcmeäo de Crotona
5. os ventos, os vapöres e as nuvens, quanto o espaco e o ar
Os quatro elementos de Empédocles
6. O Nous de Anåxagoras respiråvel. Cronolögicamente, sua teoria é a primeira de to-
7. Di6genes de Apolönia das aquelas, singularmente florescentes na Antigüidade, que
atribuem papel privilegiado a ésse elemento indispensåvel ä
Vida. Dela se originarå a nogäo de pneuma, söpro criador da
. Os primeiros i6nicos
Vida e animador dos organismos.
Essas primeiras filosofias säo de admirar pelo cuidado
No momento em que na Grécia a corrente mfs-
florescia novo de uma visäo racional da realidade, pela reivindicagäo
tica de que nasceriam os mistérios, uma primeira forma de audaciosa de uma verdadeira explicagäo desligada dos mit0*
pensamento racional aparecia na Jönia, por obra de homens Por esta razäo, e provåvelmente sem que isto fösse deliberado;
cuja originalidade e poder espiritual cativam de növo o inte- transformaram completamente a nogäo homérica da alma que,
résse dos fi16sofos, de Nietzsche a Heidegger. Em vez de de simples duplo do corpo visfvel, apenas capaz de contemplar
partir do problema da alma individual, cuja individualidade é as vicissitudes da existéncia, se vé elevada dignidade de prin-
misteriosamente postulada no mito 6rfico, de sua origem e de cfpio cosm016gico, fonte e motor do movimento e da Vida.
seu destino, os jönicos indagam söbre o mundo como natura- Tal promogäo implicava o abandono de sua individuali-
listas. Nesse periodo originårio da filosofia, o problema da si- dade ap6s a morte, embora esta conseqüéncia, a julgar por
tuagäo do homem no universo näo é abordado explicitamente, certos textos, tenha, provåvelmente, escapado aos pensadores
como irå acontecer quando o pensamento humano (jå com os jönicos. Pois, se a alma individual näo é mais do que parcela
sofistas) tomar consciéncia, por uma diståncia interior, da da alma universal aplicada a um corpo particular e de idénti-
complexidade do ato de conhecer. Nessa época, tudo se passa ca natureza, seu destino s6 pode ser o de a éle retornar ap6s
como se o espfrito do investigador, sobretudo impressionado a morte, como a vaga retorna ao mar.
pelos aspectos variados do universo, o tomasse por objeto,
néle englobando o ser humano.
2. Heråclito e o devir
Parece dever-se a Tales, o primeiro désses grandes ho-
mens da Jönia, a nogäo de physis, no sentido de um principio A filosofia jönica atinge o ponto culminante com o pen-
de unidade que, sob o movimento e a transformacäo das qua- samento de Heråclito. Déle (morto talvez por volta de
Iidades diversas do real, produz e faz evolver as coisas. Pouco
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480 a.C.) possufmos certo nümero de sentengas lapidates, al-
gumas das quais tém sua autenticidade posta em dfivida(l). cas por Enesidemo; näo se sabe, contudo, até que ponto éste
Esse pensador genial, hoje considerado o pai do método dia- Ultimo acrescentou de si pr6prio. Atribui a Heråclito a idéia
lético, teve uma das coisas que déle faz quase um
intuigäo de que "o que nos rodeia é dotado de consciéncia". Seme-
moderno, tanto que nossa civilizagäo, mutatis mu-
é verdade Ihante opiniäo parece confirmada por outros fragmentos do
tandis, se inscreve sob o signo dessa mobilidade universal a pr6prio Heråclito, que designa o fogo universal como o Lo-
que seu nome permanece ligado. A
visäo heraclitica do mun- gos. Registra, também, Enesidemo que a razäo humana, se-
do, e a de Parménides, seu contemporåneo, constituem os gundo Heråclito, se deve ao fato de que "aspiramos a razäo
dois p610s entre os quais o pensamento ocidental oscilarå cons- divina pela respiragäo". Se nos esquecemos durante o sono,
tantemente. Pode-se dizer que suas doutrinas antagönicas se para nos tornarmos de novo conscientes ao despertar, é porque
nos apresentam, na perspectiva hist6rica em que nos achamos, "durante o sono, quando se fecham as aberturas dos sentidos,
como as colunas de Hércules de t6da a nossa tradicäo. o espfrito que estå em n6s perde o contato com o que nos
circunda, e apenas conservamos nossa relacäo com o meio
Para Heråclito, a mobilidade, inscrita no pr6prio cora-
através da respiragäo, como uma espécie de raiz". Ao desper-
gäo do universo, engendra incessantemente a multiplicidade de
suas formas. A
energia fundamental, animadora e ordenadora tar, ésse espfrito "01ha pelas aberturas dos sentidos como por
desse eterno devir, tem sede num elemento quente e seco, janelas, e retoma, reunindo-se ao espfrito que o circunda, a
concebfvel ünicamente em térmos de movimento, a que se re- faculdade da razäo". Finda o fragmento por uma afirmagäo
ferem todos os processos orgånicos e naturais, e que Heråclito que testemunha a indissolfivel solidariedade postulada por He-
råclito, entre a alma universal e a alma humana:
chama de fogo. Chama de "caminho para o alto" e "caminho
para baixo" o que seriam as leis das transformagöes constantes
"Assim como o carväo que muda e se torna ardente quando o
do real. Supöe-se que por isso deve entender-se um processo
aproximamos do fogo, e se extingue quando déle o afastamos, a parte
de contragäo e de dilatacäo, a condensacäo extrema do fogo do espfrito circunjacente que reside em nosso corpo perde a razäo
a produzir a terra, que ela pr6pria se dissolve em ågua, en- quando déle é desligada, e de igual maneira recupera uma natureza se-
quanto as exalagöes desta filtima produzem o ar, donde nova- melhante do Todo, quando o contato se estabelece pelo maior nüme-
ro de aberturas."
mente nascerå o fogo. Continuamente, as mudancas da tem-
peratura acarretam mudangas de estado dos corpos organicos
e fazem passar os s61idos ao estado lfquido ou gasoso. Parece,
Como a existéncia da alma humana é atribufda a uma
igualmente, que Heråclito, teria tido a idéia do Eterno Re- parte da realidade universal, parece realmente que os proble-
törno, presente nos est6icos e em Nietzsche ("O fogo, pro- mas a ela relacionados säo, para Heråclito, os mesmos que
se propöem relativamente a töda a realidade. Se o homem é
gredindo, tudo julgarå e arrastarå"). Seus discfpulos, pelo me-
nos, lhe atribufram a crenga de que o mundo, em datas regula- capaz de respirar, de sentir e de raciocinar, é porque existe
res e fixadas pelo destino, é inteiramente absorvido pelo fogo no universo do ar, das qualidades e da razäo. "O homem é
de que emana, para voltar a renascer, e isso eternamente. naturalmente privado de razäo"; "O homem näo possui razäo.
É
muito diffcil fazer idéia do que poderia ser a "psicolo- Apenas o ambiente é provido dela". E como as qualidades
gia" de Heråclito, täo poeta quanto fi16sofo. É bem verda- estäo em oposigäo constante, deve-se deduzir que a oposiqäo
de que existe, a ésse respeito, significativo texto de Sexto é requerida pela pr6pria sensagäo, ligada a certo tipo de rela-
Empfrico(2), consagrado a uma exposigäo das idéias heraclfti- qäo estabelecida entre contrårios. Quanto passagem da sen-
sagäo ao raciocfnio, assinala-se, para éle, por uma distincäo
entre a opiniäo e o conhecimento. ("A multidäo näo medita
(1) A interpretacäo dos pré-socråticos suscita inümeros problemas fi1016gicos
delicados e, muitas vézes, controvertidos. Encontra-se a traducäo integral dos frag- söbre nada do que lhe acontece; e ainda, uma vez instrufda,
mentos originais e doxografias referentes a HERKCLETO (e também a PARMÉNIDES e
a EMPEDOCLES), no volume de Yves BATI'ISTINI, Trois contemporains, col. "Les näo o compreende; apenas imagina.")
Essais",
(2)
Gallimard, 1955.
Adv. math. (contra os que ensinam as ciéncias), VII. O homem, esse microcosmo, combina em si os elementos
que lutam no universo e, como éles, estå sujeito ao "caminho
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para o alto" e ao "caminho para baixo". As comparaqöes he-


raclfticas entre a Vida e o rio säo por demais conhecidas para
Nem por isso é menos evidente que a excessiva predomi-
nåncia do fogo acarreta, igualmente, a morte. Os fragmentos
que seja necessårio insistir söbre elas:
relativos a ésse fim da alma säo dos mais sibilinos e mal per-

"Näo podes descer duas vézes nos mesmos rios; pois novas åguas mitem conhecer-lhe os caracteres especfficos:
correm sempre sÖbre ti. Descemos e näo descemos nos mesmos rios;
somos e näo somos." "Deuses e homens honram os que tombam na batalha. Os maiores
mortos ganham as maiores porcöes."
Ser e näo ser, eis o incessante devir; e, nesse fluxo uni-
versal, séres e coisas mudam de lugar eternamente: Do fato de a alma humana ser identificada com a förga
animadora do universo, veio a idéia de inferir que seu destino
'E säo em n6s a mesma coisa o que é vivo e o que é morto, o é voltar ao principio ordenador do universo e que o ser hu-
que estå desperto e o que dorme, o que é jovem e o que é velho; aque- mano nada mais é quando o fogo, sabedoria do mundo que
les mudam de lugar e se tornam nestes, e éstes, por sua vez, mudam
lhe confere a razäo, o deixou:
de lugar e se tornam naqueles."

"Mais vale jogar cadåveres que estérco."


O corolårio desta absoluta mobilidade é a relatividade
universal :

Certos fragmentos, contudo, parecem infirmar essa cone


"As coisas frias se tornam quentes e o que é quente se resfria, o seqüéncia:
que é imido vem a secar, o que secou se faz fimido. A ågua do mar é
a mais pura e a mais impura. Os peixes podem bebé-la, para éles é sau- "Os mortos tém sensagöes no Hades. Ap6s a morte, coisas esperam
dåvel; näo pode ser bebida e é funesta para os homens." o homem, que éles näo esperam, nem mesmo imaginam.$'

E como os contrårios coexistem em töda parte, transfor- Se a consciéncia da complexidade dos problemas envol-
mando-se uns nos outros, o pr6prio homem é teatro de con- vidos pelo que os modernos chamaräo "teoria do conhecimen-
tradigöes permanentes: to" estå forgosamente ausente em Heråclito, näo se
poderia
atribuir-lhe, sem risco de érro, uma visäo do mundo
obnubi-
"Näo é bom para os homens obter tudo quanto desejam. doenga lada por materialismo ingénuo, pois, se, para éle, tudo é ma-
é que torna agradåvel a saide; mat, bem; fome, saciedade; fadiga, téria embora fösse necessårio saber exatamente o que en-
repouso."
tende Heråclito por Logos(l) —
trata-se de matéria em movi-

O fogo e a ågua näo podem equilibrar-se por muito tem- mento, a tal ponto que näo dissocia os dois térmos. E seu
po numa alma e, quando um dos dois elementos af adquire sentimento profundo, e até trågico, do mundo como sistema
demasiada predominåncia, a morte sobrevém: eterno de relagöes onde nada estå em repouso levou-o, certamen-
te, a pensar que o que chamamos sensibilidade e razäo, como
"Para as almas é morte tornar-se ågua, e morte para a ågua é tor- produto de uma relacäo, näo pertence exclusivamente mais ao
nar-se terra. Mas a {gua provém da terra e a alma, da ågua." sujeito do que ao objeto —
para dizer as coisas em linguagem
moderna. Näo poderfamos, porém, estender-nos em conjeturas
A morte pela ågua espreita as almas que se deixam do- sem forgar as coisas. Por outro lado, é licito observar que a esco-
minar pelo prazer:
Iha do fogo como elemento primordial assinala progresso re-
"É prazer para as almas tornarem-se imidas", lativamente äs especulacöes anteriores, pois, a {gua e o ar näo
entram em tödas as mudanqas da natureza.
enquanto o fogo. manifestado pela tensäo interior, lhes confere
valor moral singular.
(1) "S6 existe uma sabedoria: conhecer o Pensamento que dirige tddas as
coisas por meio de t6das as coisas."
"A alma séca é a mais såbia e a melhor." ' 'As fronteiras da alma näo poderås atingi-las, por mais longe que, por todos
os caminhos, te conduzam teus passos: täo profunda é a Palavra que a habita."
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Conhece-se a importåncia que a filosofia hegeliana e o mais pode desaparecer completamente; e o pr6prio cadåver
materialismo dialético voltaram a dar visäo heraclitica do
experimenta o frio, o siléncio e a obscuridade. Parmenides
parece haver atribuido a diversidade das sensagöes a eflüvios
mundo, com sua preocupagäo comum de ultrapassar o quadro,
considerado por demais estreito, das evidéncias fundadas numa que trazem aos poros as imagens dos objetos, e parece ter
rfgida aplicagäo do principio de identidade. ( * )
admitido que o sujeito também é, de certo modo, ativo, consi-
derando que o ölho, por exemplo, emite raios que entram em
contato com os objetos exteriores. O que parece certo é que
3 . Parmenides e o Ser im6veI a alma, enquanto principio motor, foi despojada, por Parmé-
nides, de töda consisténcia ont016gica, em proveito da alma
Enquanto Heråclito fundara sua concepgäo do mundo entendida como sujeito de conhecimento. Pois sua dignidade
na das mudangas qualitativas que nos oferece a
verificagäo
percepgäo sensfvel, dissolvendo tödas as formas do real no
näo estå na Vida —
que é movimento e näo-ser e sim no —
pensamento, que coincide com a existéncia absoluta.
eterno devir, Parménides é o autor de uma doutrina que cons-
titui a primeira reivindicacäo intransigente do pensamento ra-
cional, com a exigéncia da identidade como ünico fundamento e 4. Alcmeäo de Crotona
critério da Verdade. Segundo éle, uma coisa é, ou näo é. Para
salvaguardar a permanéncia, requerida pelo exercfcio do pen- O motivo de inspiragäo em Pitågoras revestia duplo aspec-
samento através das variagöes dos dados sensoriais, féz do de- to: mfstico e cientffico. Um homem eminente, Alcmeäo,
vir pura aparéncia, sem consisténcia possfvel nessa realidade desenvolveu de tal maneira o ültimo déles, que pode ser sau-
una e idéntica a si mesma, tomada pela sua razäo como evi- dado como fundador da psicofisiologia experimental. Ligado a
déncia 16gica irrecusåvel. Pois um objeto, a fim de mover-se, escola médica de Crotona —
anterior, talvez, confraria pi-
deve, ao mesmo tempo, estar e näo estar em dado lugar. É
impensåvel, porque é contradit6rio; e, uma vez que é contra-
tag6rica nessa cidade —
e discfpulo de Pitågoras, era ainda,
a crer em Arist6te1es, apenas um jovem bem jovem quando o
dit6rio, é falso. Como o pensamento exige isto: o que é (to mestre atingia idade avangada. Anatomista e fisiologista, dedi-
eon), é absolutamente, mister se faz afirmar que näo hå senäo cou-se disseccäo de inümeros cadåveres de animais. Permi-
uma realidade, incriada e indestrutfvel, cuja unidade, plena e tiram-lhe essas experiéncias descrever duas espécies de vasos
indivisfvel, exclui todo movimento real, isto é, t6da mudanga no corpo humano: as veias (phlebes), que conduzem o sangue,
real. Fora dessa verdade absoluta, näo pode haver senäo apa- e as artérias, que encontrou vazias de sangue. Essa distinqäo
réncias, opiniöes sujeitas ilusäo e ao érro. Por isso, näo se se perdeu depois, e por muito tempo se confundiram todos os
pode admitir nem geragäo, nem destruiqäo, nem devir. vasos. Alcmeäo se entregou, igualmente, a pesquisas söbre o
A
escassez das fontes e seu caråter duvidoso näo permitem funcionamento dos 6rgäos sensoriais. Neste campo, parece
saber que destino essa doutrina töda 16gica reservava ao do- ter-se dedicado a investigaqöes sistemåticas, indagando, princi-
minio da psicologia, necessäriamente colocada do lado da ilu- palmente, a prop6sito da visäo, qual o papel desempenhado
säo pr6pria äquela opiniäo que Parmenides subordina ver- pelo pr6prio 61ho e pela imagem néle refletida; e, a prop6sito
dade. Pensa éle que o homem saiu do limo da terra e que a
do ouvido, que papel se poderia atribuir ao ar. Levaram-no
alma, enquanto principio de Vida, é um composto de calor e
seus trabalhos a descobrir certos canais ou "passagens" (os
de frio em equilibrio. A
proporgäo désses elementos num in-
nervos ainda näo se consideravam como tais) que unem os
dividuo Ihe determina o caråter do pensamento, e a velhice
diferentes 6rgäos ao cérebro, e a reconhecer no cérebro uma
decorre de uma perda de calor. A
sensaqäo, enquanto é, ja-
fungäo de primeira importåncia, descobrindo que, por meio de
lesöes de certas "passagens", poderia impedir-se que certas
(i) V., a respeito da influéncia de HERKCLITO: Félicien CHALLAYE* Pequena näo se
hist6ria das grandes filosofias, trad. port. de Luiz Damasco Penna e J. B. Damasco
sensagöes lhe chegassem. Parece ter feito distingäo
Penna, vol. 86 destas "Atualidadcs Pedag6gicas", Säo Paulo, 1966, pågs. 19-20.
sabe, porém, como —
entre as sensagöes e o pensamento. De
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qualquer modo, teve o mérito de ver que o cérebro desempe- pureza e ascetismo. Empédocles acredita lembrar-se de suas
nhava papel privilegiado, uma vez que, antes déle, se admitia existéncias anteriores: "Jå fui, outrora, menino e menina, moi-
que o sensorium commune era o coragäo. Hip6crates e Platäo ta e ave, mudo peixe do mar". (Frag. 117.) Estende a metem-
lhe conservaräo a importante descoberta, mas Empédocles, psicose também
äs plantas, primeiras criaturas vivas surgidas cå
Arist6teles, e os est6icos retornaräo ä idéia antiga. embaixo, e invoca a lei da transmigragäo das almas para con-
Alcmeäo, que realizou também pesquisas embri016gicas, denar o sacriffcio dos animais, quer para oferenda aos deuses,
investigou a natureza do sono e as condigöes que presidem quer para alimentacäo. Esta concepgäo mfstica da alma, con-
safide. Alguns de seus pontos de vista parecem integrar as vocada a täo alto destino, vem acompanhada de visäo muito
doutrinas hipocråticas. Pois considerava que a Dike, a justiga, naturalista do mundo, mistura de quatro elementos: o fogo, o
representa o estado normal do mundo, que a saüde se deve ao ar, a terra e a ågua. Ésses elementos, "rafzes" de tödas as coi-

equilfbrio das poténcias (isonomia) e äs justas proporgöes das sas, ao mesmo tempo materiais e dotados de consciéncia, se

qualidades (crase) imido, séco, frio, quente, doce, salgado...


:
agregam e se desagregam incessantemente, sob a dupla agäo do
Quando algumas dessas qualidades predominam injustamente, Amor e do Ödio, e condicionam as qualidades fundamentais dos
instala-se o estado anormal, que acarreta a doenga. humores: quente, frio, séco, ümido. Hå, pois, na origem, plu-
A
importåncia de Alcmeäo, pelo primado que estabelece ralidade de princfpios imutåveis e especfficos. Para conciliå-la
da experimentagäo söbre a teoria, da antropologia s6bre a com a unidade, Empédocles faz intervir sua teoria da mistura,
cosmogonia, näo poderia ser superestimada; é provåvel que sua atribuindo a ésses elementos fundamentais invariåveis em
influéncia tenha Sido consideråvel(l). quantidade e em qualidade —
o caråter de grupar-se em virtude
de duas leis: a atragäo dos semelhantes pelos semelhantes e a
repulsäo dos contrårios. Essas leis säo por éle invocadas em
5 . Os quatro elementos de Empédocles favor de uma forma de evolucionismo, a qual näo vemos como
conciliar com seus pontos de vista mfsticos söbre a alma: pois
Extraordinåria figura é a de Empédocles, fi16sofo, poeta, relaciona com os quatro elementos a Vida e a forma dos corpos,
médico e mago inspirado, Em sua obra Ifrica escrita em — e ao limo elevado a certa temperatura, a capacidade de produ-
verso, a exemplo de Parmenides se reencontra a maior zir animais. No infcio, a Terra era povoada de monstros:
parte dos elementos presentes nas doutrinas de seus predeces-
"S6bre a Terra nasceram infimeras cabegas sem pescogo, e bragos
sores: a ågua, de Tales, o ar, de Anaximenes, o fogo e o
vagavam nus e sem espåduas. Olhos vagueavam, desprovidos de fron-
devir, de Heråclito, o Ser Absoluto de Parménides, num tes." (Frag. 57.)
contexto de inspiragäo, por outro lado, estreitamente aparenta-
da da corrente orfeo-pitag6rica. Pois, sua concepgäo de al- Ao acaso dos encontros, ésses corpos incompletos tendiam a
ma, onde reaparece a intuicäo 6rfica da Vida, diverge da unic. se em virtude da lei da afinidade, e muitas criaturas
concepgäo, inteiramente cosm016gica, dos jönicos. VC na alma
nasceram com rostos e peitos voltados em direcöes diferen-
uma realidade decafda de uma Idade de Ouro, e cuja esséncia, tes; algumas geradas de touros com face de homem; outras, ao contrå-
origem e destino säo sobrenaturais. As almas, "demönios imor- rio, geradas por homens com cabegas de touro, e criaturas nas quais
tais", foram expulsas da morada dos felizes em conseqüéncia a natureza dos homens e das mulheres se misturavam, e providas de
de um érro nascido do Ödio. Precipitadas söbre a terra, en- partes estéreis." (Frag. 61.)
tram no turbilhäo dos elementos, obrigadas a transmigrar de um
corpo a outro, até a libertagäo final. Para renascer ao lado dos Entre ésses primeiros séres, houve os que foram, casual-
mente, capazes de conservar a Vida e reproduzir-se. Inicialmen-
deuses, liberado da roda dos nascimentos, é preciso viver em
te haste s61ida e unida, a coluna vertebral, fragmentou-se em
vértebras por desarranjos acidentais e fraturas, enquanto, atra-
(1) Quanto as informaqöes doxogråficas e bibliogråficas, cf. John BURNET, vés do corpo, no decorrer de sua génese, correntes de {gua
L'aurore de ia philosophie grecque, edicäo francesa de Aug. Reymond, Paris, Payot,
1919, pågs. 225027. criavam as cavidades abdominais, os intestinos, o sistema uro-
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genital, e uma corrente de ar centrifuga formava as narinas. Os coisa percebida vem unir-se mesma subståncia contida no

6rgäos da respiragäo e da nutrigäo foram os primeiros em sur-


sujeito percipiente. Em outros térmos, o conhecimento é atri-

gir nas primeiras formas animais; vieram depois os 6rgäos


buido por Empédocles (cujos fragmentos revelam um senso
patético das "correspondéncias" entre tudo que existe) a uma
sexuais, diferenciados segundo a quantidade de calor. O
papel
acäo do semelhante söbre o semeihante:
déste ültimo é essencial Vida; sua diminuigäo acarreta o sono;
seu esgotamento, a morte. Devem-se a Empédocles, que se
"Pela terra, pela ågua, pelo ar em n6s, conhecemos a terra, a {gua
dedicou dissecgäo, as primeiras nogöes positivas de embrio-
e o éter divino, e pelo fogo, o fogo devorador, e o amor, pelo amor, o
logia. Descobriu que o embriäo se nutre pela placenta e, näo, 6dio, pelo 6dio maldito." (Frag. 109.)
como cria Alcmeäo, pelo corpo todo. Na matriz, o embriäo
estå envolvido numa membrana que contém também as åguas, É o produto de uma relacäo de simpatia entre as emana-
o amnio (o nome foi conservado). A
alma se forma com o qöes e os 6rgäos receptivos. O
que é aparentado as partes
embriäo e é inseparåvel do sangue: constitutivas do individuo produz néle, ao mesmo tempo que o
conhecimento, um sentimento de prazer. O
que lhe é oposto,
"Nutrido de altas vagas do sangue estridente, o coragäo traz aos
origina a aversäo. Essas afinidades explicam, segundo éle, tö-
homens o pensamento nas espirais de seu fluxo. O sangue que banha
o coragäo é pensamento." (Frag. 105.) das as percepgöes. No que respeita visäo, existe no universo
uma luz aderente a todo objeto sensfvel, cujos raios atingem o
Como tödas as particulas infimas das coisas, ela se move ölho. Tais emanagöes luminosas, formadas de particulas infi-
pelos canais denominados poros (poroi). Admitindo ser o co- mas, tém afinidade com a luz interna do ölho. Quando um
ragäo a sede das sensagöes, Empédocles representa um recuo raio toca o ölho, as particulas do fogo interno déste saem ao
em relacäo a Alcmeäo; o coracäo é também, para éle, por näo encontro das particulas do raio e se produz a imagem. De sua
distinguir entre sentir e pensar, a sede da Vida mental. for-A atribuigäo de particulas luz, jå inferia Empédocles ser neces-
magäo dos müsculos resulta de uma mistura igual dos quatro sårio um certo tempo para que dum
ponto a
ela se desloque
elementos. Uma superabundåncia de fogo e de terra produz os outro. No referente ao som, é captado pelo labirinto do
éle
ligamentos (neura), e uma superabundåncia de ågua e de terra, ouvido e depende dos poros ao longo dos quais se move. Em-
os ossos. Quanto äs unhas, säo neura que receberam ar. pédocles descreve a cartilagem do caracol, a qual julga ser, no
ouvido interno, o pr6prio 6rgäo da audigäo.
Existe um texto muito significativo de Empédocles (Frag.
100) a respeito do ar no fen6meno da respiragäo. Viu muito Como jå observei, a dificuldade é conciliar, nesse pen-
bem que esta interessa a todo o organismo, por intermédio dos sador genial, a concepgäo mistica da alma e seus pontos de vista
poros disseminados na superficie da pele, e näo apenas aos naturalistas. Pois näo se pode duvidar de que o Amor e o Ödio,

6rgäos afetos a essa fungäo. Para explicar que o ar penetra säo, para éle, täo corp6reos quanto os demais componentes do
pelos poros ao retirar-se o sangue para o interior do corpo, e universo: o fogo, o ar, a terra e a ågua. O
indivfduo é gerado
é expulso quando o sangue retorna periferia, recorre Empé* pela uniäo transit6ria de tais elementos, daf resultando que a
docles analogia com uma clepsidra mergulhada em ågua. dosagem déles explica suas qualidades particulares. Vé-se as-
Esta, quando o tubo superior estå fechado, näo pode entrar pe- sim como que o rudimento de uma caracterologia: a idéia de que
los pequenos oriffcios de baixo, mercé da presenga do ar; mas, o corpo, sua estrutura e seu funcionamento influenciam a Vida
assim que o dedo obstrutor do tubo se ergue, a ågua penetra psfquica e mental.
medida que o ar escapa. Desempenham os poros importante A teoria de Empédocles, sob seu aspecto hilozofsta e al-
papel na concepgäo de Empédocles. Pois, é por éles que se
quimista, exerceu, por certo, grande influéncia. No
plano mé-
transmitem as partfculas que se destacam dos objetos para sus-
dico, voltamos a encontrå-la na escola hipocråtica, sob a dupla
citar a percepgäo. Os 6rgäos sensoriais correspondem a Csses
objetos, em virtude da afinidade que une seus elementos co-
forma do principio homeopåtico: similia similibus curantur, e da
muns. Pelos eflüvios emanados e captados, uma porgäo da t;oria dos quatro temperamentos.
22 — Histöria da Psicologia
O nascimento da exigéncia racional 23

dos elementos constitutivos dos organismos. Porque, diz-nos


6 . O Nous de Anaxågoras
Anaxågoras, se éle permanece separado das subståncias que
a éle se misturam sem cessar no universo,
Ä idéia dos jönicos de que a matéria contém em si mesma
a förga que a anima, opöe Anaxågoras(l) uma concepgäo que "Tödas as outras coisas participam em certa medida de cada coisa,
preludia o idealismo platönico: a de um princfpio ordenador enquanto o Nous é infinito e autönomo, e a nada se mistura, mas é
do universo, independente dos elementos que o compöem e do s6, e s6 por si." (Frag. 12.)

que éle contém. Este principio é o Nous, isto é, a Inteligéncia


ou o Espfrito, embora convenha, sem düvida, näo atribuir a éle nem por isso deixa de estar ligado a ésses organismos, e
éste térmo o sentido absolutamente imaterial que reveste desde varia em fungäo dos elementos que a éle se misturam. Assim,
Platäo. Pois se Anaxågoras pretende realmente significar com néle, como em Empédocles, aparece certa nogäo da influén-
éle uma espécie de razäo ou de inteligéncia universal, um cia da Vida organica söbre o psiquismo. A
sensagäo decorreria
principio de organizagäo c6smica, é sob a forma de um fluido de modificagöes sobrevindas no organismo por contatos ou por
impressöes com elementos diferentes. Pois Anaxågoras, em
universal.
oposigäo concepqäo emped6clia da percepgäo do semelhante
Identifica ésse Nous divindade, e sua cosmogonia atri- pelo semelhante, introduz a idéia de uma percepgäo do contrå-
bui-lhe a formacäo de mundos inumeråveis. É esse fluido, em rio pelo contrårio. Do principio de que "em cada coisa hå uma
agäo por töda parte, que confere ä matéria um movimento gi- porcäo de cada coisa" (Frag. 11), deduz que qualquer orga-
rat6rio do centro para a periferia e anima tudo quanto vive: nismo contém tödas as diferengas possfveis de qualidade e, por
plantas, animais e homens. Entre essas diferentes formas de conseguinte, elementos opostos aos de todo objeto possfvel de
Vida, näo vé Anaxågoras senäo diferenga de grau. Parece ad- percepgäo. Assim, a visäo, por exemplo, é produto de uma
mitir que as pr6prias plantas säo providas de consciéncia, ex- imagem projetada söbre a parte da pupila de cör oposta ä do
perimentam prazer quando crescem e sofrem quando as fölhas objeto percebido. Conhecemos o frio pelo quente, o fresco pelo
salgado, o doce pelo amargo, em virtude de contraste entre os
tombam Vale dizer que näo distingue, aparentemente, a
elementos coexistentes, em grau diverso, no sujeito e no objeto.
consciéncia das fungöes vitais e que a generalizagäo deve en-
Anaxågoras observa, a esse prop6sito, que a percepgäo se tor-h'\
tender-se ao nivel do movimento e dessa atividade que hoje
na dolorosa quando sua fonte é muito intensa, para deduzir
chamamos bi016gica. Parece näo se ter proposto o problema dai que "töda sensagäo implica sofrimento", atenuado pelo
de uma consciéncia pr6pria ao ser humano como tal, origem
håbito(l)•
de sua acäo especffica. Por isso, é dificil compreender como
éste principio ordenador —
a um tempo espfrito, söpro, alma,
conhecimento pode, simultåneamente, manter-se separado do 7. Di6genes de Ap016nia
mundo e explicar o movimento e a Vida. Os séres vivos, origi-
nårios do limo da terra, estäo plenos do espfrito que toma cons- Segundo D6genes de Ap016nia(2), procedente da escola
ciéncia dos fen6menos mediante os 6rgäos imperfeitos dos sen- de Anaximenes, o ar é o principio universal do cosmos, cuja
tidos. Parece que o desenvolvimento maior ou menor do Nous coesäo assegura; é, ainda, o sapro vital presente no individuo
em suas manifestagöes particulares deve ser atribuido mistura como a fonte unificadora de suas fungöes fisi016gicas e psfquicas.

(1) Nascido em Clazömena, talvez por volta de 460 a. C. ANAXKGORAS foi


, (1) Quanto doxografia s6bre a percepcäo segundo ANAXKGORAS, cf. John
o primeiro fi16sofo que se fixou em Atenas. Dai veio a ser expulso mais tarde, BURNET, op. cit., pågs. 314-16.
por impiedade, por obra da instigaqäo dos adversårios de PÉRICLES, de quem era
(2) Nascido por volta de 469 a. C., contemporaneo de ANAXKGORAS, D16GENES
mestre e amigo (PLATÄO, Phödre, 2699. Médico, dedicou-se a pesquisas sObre os de ApolÖnia, que ensinou em Atenas, é autor de um tratado Da natureza, que
animais c as piantas, muito provåvelmente a dissecgöes. comporta, provavelmente, uma meteorologia e uma antropologia, e do qual restaram
(2) Die Fragmente der Vorsokratiker, de Hermann DIELS, 2.a ed., fragmentos alguns fragmentos.
46 a 117, Berlim, 1906. •
24 — Histöria da Psicologia
O nascimento da exigéncia racional 25

sensoriais. Di6genes ofereceu, dos vasos sanguineos, sobretu-


Täo médico, quäo na experiéncia imediata que
fi16sofo, é
do das artérias, uma descrigäo que constitui importante do-
Di6genes encontra as "grandes provas" dessa supremacia do ar: cumento dos conhecimentos anat6micos da época(l). Julgava
que o exame da Ifngua, situada no entroncamento dos vasos,
Os homens e os outros séres animados vivem do ar, respi-
rando-o, e ali estäo sua alma e sua inteligéncia porque se I-ho reti- pode fornecer preciosas indicagöes söbre a maneira por que o
ramos, morrem, e sua inteligéncia se extingue." (Frag. 4.) ar e o sangue se misturam no organismo. Uma mistura harmo-
niosa se lhe afigurava a condigäo do bem-estar e da safide, e o
Eternamente m6vel, o principio primeiro estå na origem excesso de sangue, fonte de perturbagöes pat016gicas.
de todo movimento. Por um processo de rarefagäo e de con- E provåvel que a nogäo de pneuma, no sentido de fluido
densagäo, produz a diversidade das coisas e dos mundos, em vital idéntico ao ar, jå presente na escola hipocråtica de C6s,

nümero infinito. Suas mültiplas transformagöes bastam para deva muito obra de Di6genes, ela pr6pria uma retomada,
explicar os fenömenos variados do universo. Di6genes teve mais elaborada, da teoria de Anaximenes. E provåvel tam-
claramente essa idéia, que Leibniz desenvolverå: hå sempre bém que as idéias de Di6genes de Apolönia (por intermédio
entre as coisas um elemento diferencial, por menor que seja, e de Diocles de Caristo, contemporaneo de Zeno de Citio) iräo
sua semelhanga jamais constitui identidade perfeita: influenciar o fundador do estoicismo, para quem a doutrina do
pneuma adquire importåncia essencial.
näo é possfvel ås coisas ... serem exatamente iguais umas ås
.

outras até o ponto de se tornarem, uma vez mais, a mesma coi-


sa." (Frag. 5.)

A
alma dos viventes é composta de um ar mais quente que
o da atmosfera ambiente, mas muito mais frio do que o que
envolve o sol,

ésse calor näo é o mesmo em quaisquer duas espécies de


criaturas vivas, nem, por conseguinte, em dois homens quaisquer; näo
difere muito, porém, na medida apenas em que isso seja compativel com
sua semelhanga." (Frag. 5.)

Sob a provåvel influéncia de Anaxågoras, Di6genes de


Apolönia atribui a ésse "ar" todos os caracteres do Nous. É
"algo que considera como um deus" (Frag. 5), ao mesmo tem-
po "grande e poderoso, e eterno e imortal e de grande saber"
(Frag. 8).
Parece que Di6genes terå reduzido todos os fenömenos
fisi016gicos e psfquicosa condigöes do ar circulante com o san-
gue no organismo. Se encontra obståculos, se é comprimido
no peito, o pensamento se torna mais diffcil. As percepgöes
säo tanto mais claras quanto mais seja o ar seco e puro, en-
quanto saa umidade, que preside embriaguez, ao sono, äs
pletoras, é prejudicial também ao exercfcio do pensamento.
Particularmente importante é o papel do ar que envolve o cé-
rebro e o coragäo, pois ésses 6rgäos säo sede de sua uniäo com
(1) ARISTOTELES, Hist. An., I, 2, 511 b 30.
o sangue no sistema vascular, e essa uniäo preside äs fungöes

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