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All content following this page was uploaded by Íris M. Oliveira on 12 August 2017.
1. INTRODUÇÃO
1Notas sobre as autoras: Íris Oliveira, Mestre em Psicologia Educacional, é atualmente aluna de
Doutoramento em Psicologia Aplicada na Universidade do Minho, encontrando-se a conduzir um
projeto sobre trajetórias de desenvolvimento vocacional na infância, sob orientação da Professora
Maria do Céu Taveira, financiado pela Fundação Portuguesa para a Ciência e Tecnologia
(SFRH/BD/84162/2012) e acolhido pelo Centro de Investigação em Psicologia. O projeto doutoral em
questão enquadra o trabalho apresentado neste capítulo.
Maria do Céu Taveira, Doutorada em Psicologia Educacional, é atualmente Professora Auxiliar na
Escola de Psicologia da Universidade do Minho e membro do Centro de Investigação em Psicologia,
onde coordena uma linha de investigação sobre Desenvolvimento Vocacional e Aconselhamento,
sendo também membro fundador da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento da Carreira.
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Dinâmicas e trajetórias
A investigação sobre as dinâmicas e trajetórias de desenvolvimento vocacional
na infância reforça a natureza multidimensional deste processo (Schultheiss et al.,
2005). Aponta também para o progresso das crianças desde uma perspetiva
fantasiosa até uma perspetiva mais realista sobre si e o mundo de trabalho (Watson
& McMahon, 2005). Verifica-se ainda que as crianças em desenvolvimento
vocacional avançam desde a exploração aleatória e diversificada até à exploração
específica e sistemática, a qual é sobretudo guiada por gostos e favorece atividades
dirigidas quer instrumentalmente, quer afetivamente (Hartung et al., 2005).
Apesar da maioria dos estudos apresentar um design transversal, alguns
estudos longitudinais sugerem um crescimento favorável da exploração vocacional e
da perspetiva temporal, ao longo do tempo (Peetsma & van der Veen, 2011; Shelvin
& Millar, 2006). Constata-se ainda que o crescimento na prontidão para a decisão
vocacional, isto é, no desenvolvimento de competências necessárias à tomada de
decisão, é acompanhado pelo incremento temporal da informação, do locus de
controlo e das expectativas de autoeficácia (Hirschi, 2011).
Consequentes
As evidências sobre os consequentes do desenvolvimento vocacional na
infância sugerem que determinadas dimensões do processo facilitam o
desenvolvimento de outras dimensões nesse mesmo período de vida. A exploração
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Fundamentação
Os apelos à criação de um modelo organizador do desenvolvimento vocacional
na infância vão de encontro à necessidade de gradualmente integrar contributos
teóricos, de modo a sustentar uma perspetiva mais compreensiva sobre o
desenvolvimento vocacional (Chen, 1998). Esta ideia está imbuída na literatura
vocacional, já que a proposta de novas teorias resulta da apreciação de contributos
teóricos prévios (por exemplo, o modelo interativo e teoria sociocognitiva de
carreira). Importa também valorizar evidências empíricas na criação de teorias
(Hartung et al., 2008). Perante estes cuidados, o modelo interativo-motivacional
fundamenta-se na teoria e investigação do desenvolvimento vocacional na infância.
Ao adotar uma perspetiva processual, interativa e construtivista do
desenvolvimento vocacional na infância, o modelo interativo-motivacional rege-se
pelos seguintes pressupostos: (a) o desenvolvimento vocacional na infância
apresenta uma natureza multidimensional, podendo ser descrito através de
dimensões inter-relacionadas e das suas mudanças ao longo do tempo; (b) o
desenvolvimento vocacional na infância é um processo de aprendizagem interativa,
resultante de interações entre a criança e os seus contextos de vida e que potencia
idiossincrasias nas trajetórias de carreira; e (c) o desenvolvimento vocacional na
infância é um processo no qual as crianças assumem um papel ativo na construção
da sua carreira, na modelação de influências pessoais e contextuais e no coping
com desafios psicossociais normativos e não-normativos, podendo ser descrito
mediante dimensões construtivistas de natureza desenvolvimentista-contextualista.
Os pressupostos subjacentes ao modelo interativo-motivacional de
desenvolvimento vocacional na infância baseiam-se nas perspetivas interativa
(Super, 1994), sociocognitiva de carreira (Lent et al., 2004) e desenvolvimentista-
contextualista (Vondracek et al., 1986), bem como na investigação relacionada.
Descrição e relações
O modelo interativo-motivacional pode ser descrito através de 13 relações
entre as suas dimensões, baseadas na literatura (Figura 1).
Medidas
Childhood Career Development Scale (CCDS; Schultheiss & Stead, 2004; adapt.
Taveira, Oliveira, Araújo, & Pinto, 2012)
A CCDS é uma medida de autorrelato baseada no modelo interativo de Super
(1994) que avalia dimensões do desenvolvimento vocacional na infância. A versão
Portuguesa da CCDS inclui 55 itens respondidos numa escala Likert de cinco
pontos, 5 “Concordo Fortemente” e 1 “Discordo Fortemente”. A CCDS fornece
pontuações em oito subescalas: planeamento (e.g., “É importante planear o futuro”,
11 itens, α = .87); autoconceito (e.g., “Sei como sou”, sete itens, α = .89); locus de
controlo (e.g., “Controlo a qualidade do meu trabalho escolar”, sete itens, α = .80);
perspetiva temporal (e.g., “Penso acerca do emprego que poderei ter quando
terminar a escola”, cinco itens, α = .65); exploração (e.g., “Gosto de fazer perguntas
aos meus pais sobre a sua profissão”, 12 itens, α = .79); informação (e.g.,
“Questiono-me sobre diferentes profissões”, seis itens, α = .75); e interesses (e.g.,
“Sei quais são as matérias de que gosto na escola”, sete itens, α = .68).
2Em Portugal, o ensino básico é composto por três ciclos de ensino. O primeiro ciclo corresponde aos
primeiros quatro anos de escolaridade. O segundo ciclo corresponde ao 5.º e 6.º anos de
escolaridade. O terceiro ciclo corresponde ao 7.º, 8.º e 9.º anos de escolaridade. A partir do ano letivo
2013/14, o ensino básico Português incluirá também o ensino secundário (do 10.º ao 12.º ano).
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“Muito Fácil” a 1 “Nada Fácil”. Como esta medida tem vindo a ser utilizada a partir do
9.º ano de escolaridade, um estudo preliminar com uma amostra de 313 crianças
Portuguesas o 2.º ciclo (Midade = 10.80, DP = .86) mostrou que os itens se agregam
num fator, designado autoeficácia em atividades de estudo e tempos livres (α = .94).
Procedimentos
Após a autorização da Direção Geral de Educação (DGE) Portuguesa para
aplicação de inquéritos/realização de estudos em contexto escolar, contactaram-se
as escolas e obtiveram-se os consentimentos das Direções, dos Psicólogos
Educacionais e dos Professores para a condução de um projeto sobre mudanças no
desenvolvimento vocacional na infância. As turmas a participar no projeto e os
tempos letivos destinados para o efeito foram previamente definidos em colaboração
com os intervenientes das escolas. Obtiveram-se por escrito os consentimentos
informados dos Encarregados de Educação dos alunos.
Ao longo de três semanas entre Fevereiro e Março de 2013, as medidas foram
coletivamente administradas em contexto de sala de aula, durante 45/50 minutos. A
recolha de dados foi conduzida por uma técnica superior de Psicologia com base
num protocolo de administração com instruções e reformulações alternativas de
cada item para assegurar a estandardização da administração e do esclarecimento
de dúvidas apresentadas pelos alunos. Assegurou-se a confidencialidade nos
procedimentos de recolha e análise de dados. No final, forneceu-se um relatório às
Direções das escolas, de modo a apresentar um breve enquadramento do projeto,
os procedimentos, os resultados da amostra global e de cada uma das escolas em
causa quanto às dimensões avaliadas, bem como algumas sugestões práticas.
Análise de dados
Os dados foram analisados com recurso ao Statistical Package for the Social
Sciences (IBM SPSS) e com o Analysis of Moment Structures (AMOS), versão 20
para Windows. Através do cálculo dos mínimos, máximos, médias e desvios-padrão
obtiveram-se os resultados descritivos da amostra. Seguidamente, efetuou-se a
validação do modelo interativo-motivacional através da path analysis.
Os missings nos itens da CCDS e da EMAP oscilaram entre 0 e 4 e nos itens
do QER variaram entre 0 e 1. Devido ao número de missings nas três medidas ser
inferior a 5% e não existir mais de um missing por dimensão para um mesmo
participante, optou-se pelo método de estimativa pro-rating (i.e., substituir o missing
pela média do participante na escala/subescala em causa) (Downey & King, 1998).
Os pressupostos subjacentes à path analysis foram previamente examinados,
nomeadamente a normalidade da distribuição, a ausência de multicolinearidade e a
inexistência de outliers (Tabachnick & Fidell, 2013). Tendo em conta a não
normalidade da distribuição, recorreu-se ao método de estimativa Maximum
Likelihood, uma vez que, em amostras de média dimensão, fornece resultados
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Resultados descritivos
A amostra revela resultados positivos em todas as dimensões do modelo
interativo-motivacional de desenvolvimento vocacional na infância (ver Tabela 1).
Destaca-se que as médias da amostra se apresentam mais elevadas nas dimensões
de expectativas de autoeficácia, expectativas de resultado e planeamento. Por outro
lado, as médias da amostra mostram-se menos elevadas nas dimensões de
perspetiva temporal, informação e locus de controlo.
Tabela 1.
Resultados descritivos da amostra nas dimensões avaliadas
Dimensões Min.-Max. Média (DP) Pontos possíveis Ponto médio
Exploração 23-60 45.23 (7.42) 12-60 42
Expectativas de
32-140 103.91 (18.46) 28-140 98
Autoeficácia
Expectativas de
32-75 64.03 (7.74) 15-75 52.5
Resultado
Informação 8-30 25.02 (3.74) 6-30 21
Interesses 21-35 32.19 (2.85) 7-35 24.5
Perspetiva
5-25 21.54 (3.00) 5-25 17.5
temporal
Planeamento 15-55 49.19 (5.46) 11-55 38.5
Locus de Controlo 17-35 29.81 (3.68) 7-35 24.5
Autoconceito 8-35 32.07 (3.59) 7-35 24.5
4. DISCUSSÃO E IMPLICAÇÕES
preparação para a transição escola-trabalho (Hirschi, 2011; Lent et al., 1999; Super
et al., 1996; Seligman, 1994). Assim, será pertinente replicar o estudo de validação
do modelo interativo-motivacional junto de crianças mais novas e mais velhas, de
modo a compreender a relevância das crenças cognitivo-motivacionais e a
aprofundar a adequação do modelo proposto e do modelo originalmente definido por
Super (1994) aos dados de crianças de diferentes anos escolares e idades.
Importará também conduzir estudos longitudinais (Watson & McMahon, 2005) que
permitam identificar mudanças nas dimensões do modelo interativo-motivacional e
suas inter-relações, ao longo do tempo.
Atendendo a que o estudo reportado foi desenvolvido com uma amostra de
crianças Portuguesas, será pertinente testar o modelo interativo-motivacional junto
de outras amostras internacionais. De facto, o sistema educativo Português não
dispõe, até ao momento, de uma estratégia programática estruturada de promoção
do desenvolvimento vocacional das crianças, ao contrário do que acontece noutros
países. A existência ou não de uma estratégia programática para o efeito poderá
influenciar os resultados nas dimensões de desenvolvimento vocacional avaliadas,
bem como a adequação do modelo interativo-motivacional e dos modelos
alternativos testados. Por este motivo, o teste do modelo interativo-motivacional com
outras amostras poderá estimular a colaboração internacional no estudo do
desenvolvimento vocacional na infância (Schultheiss, 2008) e a contextualização de
modelos teóricos de acordo com os contextos de vida dos indivíduos (Vondracek et
al., 1986). Para além disso, como apenas se testou o modelo estrutural do modelo
interativo-motivacional, não se analisou a influência de condições pessoais e
contextuais. Estudos posteriores que contemplem tal influência poderão favorecer a
melhoria e sensibilidade contextual do modelo interativo-motivacional.
Por fim, os resultados da path analysis parecem melhorar quando se
acrescentam relações mútuas entre dimensões. Tal mostra que é necessário
clarificar em que medida a investigação tem abrangido todas as relações possíveis
entre as dimensões ou se é necessário estudá-las separadamente, de modo à sua
definição ser melhorada no modelo interativo-motivacional, com base em evidências
empíricas, tal como Hartung e colaboradores (2008) sugerem.
5. REFERÊNCIAS
Anyadike-Danes, M., & McVicar, D. (2005). You’ll never walk alone: Childhood
influences and male career path clusters. Labour Economics, 12(4) 511– 530. doi:
10.1016/j.labeco.2005.05.008
Araújo, A. (2009). Antecedentes, dinâmica e consequentes do desenvolvimento
vocacional na infância. Tese de Doutoramento não publicada. Braga:
Universidade do Minho. Disponível em
http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/10047
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