Você está na página 1de 20

Edema agudo de pulmão

É o acúmulo de fluidos nos espaços alveolares e intersticiais dos pulmões. O edema


pulmonar está quase sempre associado a insuficiência cardíaca aguda ou crônica (ICC).
O diagnóstico do EAP é clínico e suas manifestações são dependentes do grau de
líquidos acumulados nos pulmões.

CAUSAS:

Nos pulmões , as trocas gasosas do sangue , ocorrem entre os capilares pulmonares


( pequenos vasos ) e os alvéolos . No edema agudo de pulmão , ocorre um acúmulo
anormal de líquido nos pulmões ( congestão pulmonar ) , por um aumento da pressão
sanguínea nesses capilares ( hipertensão venocapilar pulmonar ) , acarretando um
deslocamento de líquido do sangue , para o interstício e , depois , para os alvéolos
pulmonares .

No edema agudo de pulmão , o paciente literalmente " afoga-se com o seu próprio
sangue ” . O sangue oxigenado nos pulmões , chega ao coração através do átrio
esquerdo , passa pela válvula mitral , atingindo em seguida , o ventrículo esquerdo
( câmara cardíaca que bombeia o sangue para fora do coração , em direção ao cérebro e
o restante do nosso organismo ) .

Um estreitamento da válvula mitral ( estenose mitral ) , pode levar a uma congestão


pulmonar e ao edema agudo de pulmão . No entanto , a causa mais comum do edema
agudo de pulmão é a disfunção do ventrículo esquerdo ( insuficiência ventricular
esquerda ) , ou seja , uma incapacidade desta câmara em bombear o sangue para fora do
coração .

Essa disfunção ventricular pode ser causada pela doença arterial coronariana ( presença
de placas de gordura na parede das artérias do coração ) , em sua forma crônica
( cardiopatia isquêmica crônica ) ou aguda ( angina instável e infarto do miocárdio ). A
disfunção ventricular esquerda ainda pode ter outras causas como : hipertensão arterial (
cardiopatia hipertensiva ), doenças da válvulas cardíacas ( além da estenose mitral , a
estenose aórtica , a insuficiência aórtica e a insuficiência mitral de graus severos ,
podem cursar com edema agudo de pulmão ), doenças do músculo cardíaco
( miocardiopatias : dilatada , restritiva e hipertrófica ) , arritmias cardíacas e distúrbios
da condução elétrica do coração ( situações que aceleram ou lentificam demasiadamente
o batimento cardíaco ) , entre outras doenças cardíacas.

Em algumas situações , a infusão excessiva de líquidos , por exemplo , através de soro


endovenoso , pode acarretar um quadro de edema agudo de pulmão.

Fonte:
http://portaldocoracao.uol.com.br/doencas-cardivasculares.php?id=591

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico se baseia fundamentalmente na exploração física do enfermo e a


radiografia de tórax. É muito característica a auscultação pulmonar no qual se ouvem os
chamados crepitantes húmidos, em ambas bases pulmonares, devidos à transudação do
conteúdo do capilar sanguíneo para o alvéolo. A radiografia de tórax é o estudo mais
útil para o diagnóstico do edema agudo de pulmão e nos mostra a presença de líquido no
espaço pulmonar, em ocasiões também se observa um aumento do tamanho do coração
(cardiomegalia). Para completar o diagnóstico se realizará um electrocardiograma, que
ajudará a identificar se existe uma cardiopatia de base que tenha desencadeado o
quadro, e uma analise de sangue e urina.

Fonte:
Prof. Doutor Carlo Bourbon Parma
http://cuidedeseucoracao.wordpress.com/2007/11/30/edema-agudo-do-pulmao/

QUADRO CLÍNICO:

. Taquipnéia;

. Taquicardia;

. Palidez

. Sudorese

. Cianose

. Ortopnéia

. Tosse com expectoração branca ou rósea espumosa;

. Respiração superficial e ruidosa;

. Dispnéia;

. Paciente apresenta fáceis de angustia;

. Hipertensão

TRATAMENTO:

Objetivo: Reduzir o fluxo sangüíneo para o coração e aumentar a função ventilatória.

MEDICAMENTOS:

- Diuréticos – Furosemida (Lasix), Reduzir o volume intravascular;

- Digital – Lanosídeo (cedilanide);

- Morfina – Meperidina, abranda a ansiedade e diminui a taquipnéia, Reduz o retorno


venoso;
- Aminofilina – Reduzir o broncoespasmo;

CUIDADOS DE ENFERMAGEM

Dieta: Restrição de sal e restrição de hídrica;

Elevação do débito com os membros inferiores pendentes;

Administração de oxigênio úmido, manter a permeabilidade das vias aéreas;

Auxiliar na intubação orotraqueal, caso seja necessário e aspiração;

Viabilizar acesso venoso;

Administrar medicamentos conforme prescrição médica;

Verificar SSVV;

Manter carro de urgência próximo ao leito do paciente;

Realizar controle hídrico;

Observar diurese e oferecer material para drenagem urinária (papagaio, comadre) após
administração do diurético;

Apoio psicológico.

O edema é resultado do aumento da quantidade de líquido nos meio


extracelular, sendo externo aos meio intravascular.

Normalmente, 50% da quantidade de líquido corpóreo se localizam na célula, 40%


estão no interstício, 5%, nos vasos e os outros 5% compõem os ossos. Essa
distribuição dos líquidos intersticial e vascular é mantida às custas da existência de
uma hidrodinâmica entre esses dois meios, que mantêm uma troca equilibrada desses
líquidos. O movimento do líquido do sistema intravascular para o interstício ocorre, em
grande parte, devido à ação da pressão hidrostática do sangue. Essa saída do líquido
do vaso se localiza na extremidade arterial da rede vascular. O seu retorno do
interstício para o vaso se dá, principalmente, às custas da pressão oncótica sanguínea,
aumentada na porção venosa. Durante essa dinâmica, fica uma certa quantidade de
líquido residual nos interstícios. Esse líquido é drenado pelos vasos linfáticos,
retornando depois para o sistema vascular.
O desequilíbrio entre os fatores que regem essa hidrodinâmica entre interstício e meio
intravascular é que origina o edema. Esses fatores compreendem a pressão
hidrostática sanguínea e intersticial, a pressão oncótica vascular e intersticial e os
vasos linfáticos:

1) Pressão hidrostática sanguínea: quando essa pressão aumenta, ocorre saída


excessiva de líquido do vaso, situação comum em estados de hipertensão e drenagem
venosa defeituosa (por exemplo, em casos de varizes, insuficiência cardíaca etc).

2) Pressão hidrostática intersticial: se diminuída essa força, o líquido não retorna para
o meio intravascular, acumulando-se intersticialmente.

3) Pressão oncótica sanguínea: a redução da pressão oncótica provoca o não


deslocamento do líquido do meio intersticial para o interior do vaso. Essa variação da
pressão oncótica é determinada pela diminuição da quantidade de protéinas
plasmáticas presentes no sangue.

4) Pressão oncótica intersticial: um aumento da quantidade de proteínas no interstício


provoca o aumento de sua pressão oncótica, o que favorece a retenção de líquido
nesse local. Além disso, o aumento dessa força contribui para a dificuldade de
drenagem linfática na região.

5) Vasos linfáticos: se a função destes de drenagem dos líquidos estiver


comprometida, pode surgir o edema. Esse quadro é observado, por exemplo, em casos
de obstrução das vias linfáticas (ex.elefantíase).

6) Acúmulo de sódio no interstício: ocorre quando há ingestão de sódio maior do que


sua excreção pelo rim; o sódio em altas concentrações aumenta a pressão osmótica do
interstício, provocando maior saída de água do vaso.

Fonte: http://www.fo.usp.br/lido/patoartegeral/patoartecir1.htm

Postado por ticiane às 12:26

TRABALHO COMPLETO

Edema agudo dos pulmões

Autor(es): Marcelo Park, Luiz Francisco Cardoso

INTRODUÇÃO
O edema agudo dos pulmões representa uma das principais causas de insuficiência e/ou
desconforto respiratório que motivam a procura de unidades de emergência ou terapia
intensiva. Nos Estados Unidos, é a causa mais freqüente, seguida das doenças
brônquicas primárias e das encefalopatias agudas decorrentes de acidentes vasculares
cerebrais e traumatismos cranioencefálicos( 1).

O edema pulmonar ocorre pelo desequilíbrio das forças de Starling, podendo ocorrer
aumento da pressão hidrostática capilar e/ou aumento da permeabilidade dos capilares
pulmonares(2, 3). Neste texto, daremos destaque às condições que cursam com aumento
da pressão hidrostática pulmonar de origem cardiogênica.

FISIOPATOLOGIA

O interstício dos septos interalveolares tem pressão hidrostática negativa, porém menos
negativa que os espaços peribrônquicos, decorrente da drenagem linfática ativa destes
últimos e pela ultra-estrutura do esqueleto pulmonar. As forças de tração que resultam
da expansão pulmonar e da ventilação são aplicadas diretamente nos espaços
peribrônquicos, e, a partir destes, distribuídas para os outros componentes da estrutura
pulmonar. A resultante dessas forças leva ao fluxo unidirecional dos fluidos no
interstício pulmonar dos septos interalveolares, onde é coletado o líquido ultrafiltrado
dos capilares para os espaços peribrônquicos. É nos espaços peribrônqicos que esse
líquido é captado pelo sistema linfático e devolvido para a circulação venosa sistêmica.
O sistema linfático tem propriedades como o sistema valvar, que permite apenas o fluxo
unidirecional. As paredes dos capilares são fixadas por meio de fibras colágenas nos
septos interalveolares; assim, durante a inspiração, as paredes capilares são tracionadas
em direções centrífugas, originando pressão negativa em seu interior. Por outro lado,
durante a expiração, com o relaxamento das paredes capilares, a pressão em seu interior
torna-se positiva por causa da retração elástica das paredes capilares e da contração dos
periscitos capilares. Esse jogo de variação de pressões durante o ciclo respiratório
aplicado a um sistema canalicular linfático valvado gera um fluxo em direção ao
sistema venoso(2, 3). Com esse mecanismo básico de drenagem de líquidos do terceiro
espaço pulmonar, fica lógico que, quanto maior a freqüência respiratória e/ou a
amplitude das inspirações, maior será a drenagem linfática. Além disso, no interstício
pulmonar existem terminações nervosas com sensibilidade química (quimiorreceptores)
e mecânica (mecanorreceptores e proprioceptores). Os mecanorreceptores (entre eles os
receptores J ou justa-alveolares) são capazes de perceber o aumento da pressão
hidrostática e/ou aumento do fluxo de líquidos. Esse estímulo é conduzido pelas suas
eferências, que provocam aumento da descarga periódica do centro respiratório; isso
resulta no aumento da freqüência respiratória, provocando drenagem linfática maior
pelo mecanismo já descrito. Dessa maneira, forma-se o principal mecanismo de defesa
pulmonar contra o aumento de ultrafiltração capilar pulmonar. Esse mecanismo permite
o aumento do ultrafiltrado de 20 ml até 200 ml de água do interstício por hora sem
acúmulo, ou seja, sem edema, às custas apenas da elevação da freqüência respiratória ou
da amplitude desta. Nessa situação, o pulmão tolera aumento de pressão hidrostática
capilar pulmonar de até 35 mmHg, sem existir congestão severa( 2, 3). Portanto, a
taquipnéia pode ser a tradução da elevação da pressão hidrostática pulmonar associada
ou não à sensação subjetiva de dispnéia, ainda sem alterações ao exame físico do
paciente.
Quando a ultrafiltração excede a drenagem de líquidos, os capilares linfáticos tornam-se
completamente ingurgitados. O ultrafiltrado excedente, inicialmente, acumula-se no
interstício do pulmão nas regiões peribrônquicas (estágio I); a seguir, ocorre acúmulo
nos septos interalveolares (estágio II); e, por último, parcialmente (estágio IIIa) ou
totalmente (estágio IIIb), na luz alveolar (Fig. 1).

Quando esse processo se torna crônico ou a instalação do


edema é gradual, existe a adaptação dos mecanorreceptores,
podendo ocorrer edema pulmonar sem taquipnéia ou queixa de
dispnéia marcante(2).

O aumento da pressão hidrostática em capilares da parede


brônquica também causa edema dessa parede, reduzindo sua
luz. A mínima redução da luz dos brônquios leva ao aumento
da resistência das vias aéreas proporcional à quarta potência da
diminuição da luz, segundo a lei de Poiseulle(2):

onde: F = fluxo através do tubo, s P = gradiente de pressão


entre as extremidades do tubo, R = raio do tubo, 8 = constante
numérica igual a 8, h = viscosidade do conteúdo do tubo, P =
3,1415...

A expressão clínica do edema agudo de pulmão se dá, portanto,


por um desconforto respiratório com ou sem insuficiência
resultante da soma de uma série de fatores:
— Inundação alveolar, com conseqüente redução da
complacência pulmonar. (2, 3)
— O edema da parede dos brônquios, causado pelo aumento da
pressão hidrostática vascular nestes, reduz a luz do órgão,
Figura 1. Estágios do aumentando sua resistência ao fluxo de ar. O edema de vias
edema pulmonar. aéreas aumenta a reatividade da musculatura brônquica,
podendo agravar a obstrução mecânica(4).
— A hipoxemia é causada pelo “shunt“ pulmonar ocasionado pelo líquido acumulado
no interstício, com conseqüente aumento da barreira alveolocapilar, levando à maior
dificuldade para a hematose. As áreas de colapso alveolar são regiões de “shunt”
verdadeiro, onde existe passagem de sangue sem contato com a barreira alveolocapilar
funcionante. A pressão parcial de oxigênio arterial baixa é capaz de estimular
quimiorreceptores localizados na aorta e carótidas, aumentando a sensação de dispnéia e
o tônus simpático(2-4).
— A intensa atividade muscular respiratória pode elevar o fluxo sanguíneo nessa
musculatura, passando do nível normal de 4% a 5% para até 50% do débito cardíaco,
desviando o oxigênio destinado para outros tecidos, como o do sistema nervoso central,
podendo provocar variações no nível de consciência(3).

A fadiga muscular, por causa de sua intensa atividade, leva, progressivamente, à


hipoventilação com hipoxemia, à retenção de dióxido de carbono e à acidose
respiratória, culminando com piora da função cardíaca e da congestão. Fechase, assim,
um círculo vicioso, que, perpetuado, leva à morte(5).

ETIOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO

Segundo a lei de Starling, o extravasamento de líquido para o terceiro espaço pulmonar


pode ocorrer por vários fatores:
— aumento da pressão hidrostática de origem cardiogênica;
— aumento da pressão hidrostática de origem não-cardiogênica, como, por exemplo, a
doença venoclusiva pulmonar;
— aumento da permeabilidade da membrana capilar, decorrente de processos locais,
como pneumonias, ou processos sistêmicos, como pancretites, queimaduras, sepse ou
síndrome de reação inflamatória sistêmica;
— redução da pressão hidrostática intersticial, como nos rápidos e maciços
esvaziamentos de derrames pleurais;
— redução da pressão oncótica sanguínea, que, por si só, não é causa de edema
pulmonar, mas pode ser um importante fator colaborador;
— redução da drenagem linfática, como ocorre na linfangiite carcinomatosa, silicose e
doença pulmonar obstrutiva crônica, que, por sua vez, também não é causa primária de
edema pulmonar, mas, sim, um fator colaborador.

O edema pulmonar, em geral, é classificado, temporalmente, em agudo ou crônico, ou


cardiogênico e não-cardiogênico, de acordo com o mecanismo que o produziu(1, 2, 6-
8).

O edema agudo de pulmão tem várias etiologias. As causas mais comuns de disfunção
cardiogênica aguda são a isquemia coronariana e a emergência hipertensiva; outras mais
raras são a insuficiência mitral aguda por rotura de cordoalha tendínea (como ocorre na
degeneração mixomatosa, na endocardite e na degeneração senil) ou disfunção de
musculatura papilar e insuficiência aórtica aguda, que pode ocorrer no trauma fechado
ou na dissecção aguda de aorta. As cardiopatias crônicas que cursam com disfunção
ventricular sistólica e diastólica e valvopatias podem causar edema pulmonar agudo
quando associadas a um fator desencadeante, em geral arritmias, infecções, isquemia,
emergência hipertensiva e uso incorreto de dieta e medicamentos(1,6-9).

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de desconforto respiratório por edema agudo de pulmão deve ser clínico e
imediato para o pronto início da terapêutica. O paciente queixa-se de dispnéia de início
ou piora súbita, tendo, ao exame físico, sinais representativos do esforço da musculatura
inspiratória, como uso dos músculos escalenos e esternocleidomastóides, tiragem de
fúrcula, intercostal e batimento de asa nasal. Associam-se, ainda, taquipnéia e expiração
forçada, com a glote semifechada, com a intenção de conseguir pressão expiratória
positiva; isso resulta no uso da musculatura abdominal, em especial os músculos retos
abdominais, gerando, por vezes, balancins toracoabdominais. Ruídos compatíveis com
cornagem podem aparecer quando há expiração forçada. A ausculta pulmonar é
variável, podendo-se encontrar, mais comumente, estertores crepitantes, que resultam
do colapso de alvéolos e bronquíolos terminais; porém, pode ser encontrado, apenas,
murmúrio vesicular mais rude, em decorrência de edema intersticial e espessamento dos
septos interalveolares. Roncos esparsos e sibilos são resultantes da transudação
brônquica e do edema da mucosa brônquica e da hiper-reatividade da musculatura lisa,
respectivamente. A ausculta também pode ser normal, pois, numa primeira fase do
edema agudo de pulmão, a drenagem linfática compensa a transudação vascular,
existindo apenas a taquipnéia. A tosse pode ser manifestação de congestão pulmonar.

Associados à dispnéia aparecem sinais de liberação adrenérgica, como taquicardia,


hipertensão, sudorese fria, palidez cutânea e ansiedade.

Outros achados podem ajudar a esclarecer a etiologia e/ou o diagnóstico diferencial de


edema pulmonar, como presença de dor torácica compatível com insuficiência
coronariana, galope cardíaco (B3 e/ou B4), sopros cardíacos e posição do “ictus cordis”,
cuja lateralização representa aumento da área cardíaca.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Os diagnósticos diferenciais do edema agudo de pulmão são determinados por duas de


suas características: início súbito da dispnéia e presença de congestão pulmonar clínica
e radiológica.

A dispnéia súbita pode ter outras causas, como tromboembolismo pulmonar,


broncoespasmo, broncoaspiração, e inalação de gases tóxicos e irritantes. Quanto ao
acúmulo de água, no terceiro espaço pulmonar existem outras causas, em que não há
hipertensão venocapilar, como no edema pulmonar das grandes alturas, edema
neurogênico, linfangiites pulmonares, “overdose” de narcóticos e síndrome do
desconforto respiratório agudo do adulto, com suas mais diversas etiologias.

TRATAMENTO

O tratamento do edema agudo de pulmão consiste de três etapas sobrepostas. Na


primeira etapa, o objetivo é manter as funções respiratórias dentro de limites que
permitam a manutenção da vida. Na segunda etapa, o objetivo é a redução da pressão
hidrostática capilar pulmonar e a conseqüente redução do ultrafiltrado para o interstício
pulmonar, de forma farmacológica ou não. Por último, na terceira etapa, o objetivo é
tratar a causa ou eliminar o fator de descompensação da cardiopatia de base(3).

O tratamento de suporte consiste, basicamente, em melhorar a oxigenação sanguínea e


reduzir o trabalho respiratório do paciente. A oxigenação adequada do sangue tem por
objetivo o transporte necessário de O2 aos tecidos, com conseqüente metabolismo
aeróbico e produção eficaz de energia. Evita-se, dessa forma, a produção final de lactato
pela via glicolítica anaeróbica. A oxigenação pode ser implementada pelo aumento da
fração de inspiração de oxigênio por meio de cateteres de oxigênio (fração inspiratória
de oxigênio ou FiO2 máxima = 40%), máscaras faciais (FiO2 máxima = 60%),
máscaras de Venturi (FiO2 máxima = 50% ), máscaras de alto fluxo com reservatório e
válvula unidirecional para o fluxo (FiO2 máxima = 98% a 100%) e, por último, máscara
com suporte não-invasivo de ventilação, seja com pressão positiva contínua em vias
aéreas (CPAP) ou com dois níveis de pressão, ambos com FiO máxima = 100%(3).

2 A redução do trabalho respiratório é uma medida que evita a fadiga da musculatura da


caixa torácica e a retenção de CO2 (e, conseqüentemente, a acidose respiratória), e
reduz a ativi dade metabólica anaeróbia da musculatura. Esta última resulta da grande
solicitação muscular somada a hipoxia hipoxêmica, causada pelo aumento do gradiente
alvéolo-arterial proporcionado pelo edema pulmonar. A redução do trabalho inspiratório
é feita com o auxílio pressórico inspiratório aplicado por ventilador mecânico, tendo
como interface com o paciente intubação orotraqueal e máscara facial ou nasal(1, 3, 6,
10, 11).

A redução de líquido do terceiro espaço pulmonar diminui o gradiente alvéolo-arterial,


com conseqüente melhora da oxigenação. Provoca aumento da complacência pulmonar
ao reduzir o número de alvéolos colabados, com desejável redução do trabalho
respiratório. Esse objetivo é atingido reduzindo-se a pressão hidrostática de capilar
pulmonar com posicionamento correto do paciente e uso de diuréticos, vasodilatadores
ou inotrópicos(3, 12, 13).

O paciente deve ser posicionado sentado e, sempre que possível, com os membros
inferiores pendentes, reduzindo, assim, o retorno venoso e a pressão hidrostática capilar
pulmonar. Monitorização contínua dos batimentos cardíacos, pressão não-invasiva
automática, oximetria de pulso e obtenção de acesso venoso são medidas úteis e,
portanto, recomendadas. Oxigênio deve ser oferecido com frações inspiratórias maiores
que 60%, com o objetivo de manter a saturação periférica de oxigênio acima de
90%(12, 13).

Existem vários esquemas terapêuticos no tratamento do edema pulmonar. Em nossos


serviços, usamos as diretrizes preconizadas pelo “Advanced Cardiac Life Support” da
American Heart Association(12). Assim, a primeira linha de drogas usadas no
tratamento do edema agudo de pulmão é constituída por diuréticos, nitratos e morfina.

O nitrato usado mais freqüentemente é o dinitrato de isossorbida, na dose de 5 mg,


administrado por via sublingual a cada 5 minutos, desde que a pressão arterial sistólica
se mantenha acima de 90 mmHg(12, 13).

A furosemida é usada na dose de 0,5 mg/ kg até 1 mg/kg de peso por via intravenosa.
Em casos de insuficiência renal oligoanúrica, é utilizada dose de 100 mg a 200 mg, com
aplicação lenta. A resposta inicial esperada é a melhora do desconforto respiratório,
decorrente de venodilatação; após 20 a 30 minutos ocorrerá a diurese propriamente dita.
Assim, se dentro de 20 minutos da aplicação do diurético não obtivermos resposta
diurética ou do desconforto respiratório, o dobro da dose inicial é aplicada.

A morfina é um fármaco de grande auxílio na terapêutica do edema pulmonar, pois:


promove venodilatação, reduzindo o retorno venoso para o coração em até 40%;
diminui as eferências dos mecanorreceptores intersticiais pulmonares, estimulados pelo
aumento do fluxo e da pressão hidrostática; e reduz a descarga adrenérgica do paciente,
pelos dois motivos previamente descritos, reduzindo, assim, a pós-carga do coração. A
dose usada é de 1 mg a 3 mg a cada 5 minutos, monitorizando nível de consciência,
freqüência respiratória, pressão arterial, náuseas e freqüência cardíaca. A meperidina
não deve ser usada, pois tem mais efeitos colaterais, causados pelos seus metabólitos
aliados ao menor efeito hemodinâmico.

Caso o paciente permaneça desconfortável apesar dessas medidas (pressão arterial


sistólica > de 100 mmHg), são administrados vasodilatadores venosos com infusão
contínua. O nitroprussiato de sódio, na dose de 0,1 µg/kg até 5 µg/kg por minuto, é
utilizado caso o paciente não tenha antecedente de
coronariopatia, dor torácica ou alteração isquêmica ao
eletrocardiograma. Em caso de coronariopatia, a
medicação de escolha é a nitroglicerina endovenosa, na
dose de 5 µg a 10 µg até 200 µg a 500 µg por minuto.

Drogas inotrópicas, como a dobutamina na dose de 2


µg/kg a 20 µg/kg por minuto, são utilizadas quando há
disfunção ventricular esquerda associada a quadro clínico
A
refratário, má perfusão periférica ou hipotensão.

A hipoxemia refratária, a acidemia por acidose


respiratória progressiva, o rebaixamento do nível de
consciência, bem como o aparecimento de sinais clínicos
de fadiga da musculatura respiratória indicam a intubação
orotraqueal com ventilação mecânica. Nos doentes com
infarto agudo do miocárdio e desconforto respiratório
moderado/importante, a intubação deve ser mais precoce,
no sentido de reduzir o consumo de oxigênio do coração e
permitir intervenção hemodinâmica de forma mais segura.

A ventilação mecânica aplicada com intubação traqueal B


aumenta a sobrevida de pacientes com insuficiência e/ou
desconforto respiratório grave. Por outro lado, pode
causar complicações, como infecção pulmonar e
barotrauma, além do aumento da permanência e da
elevação dos custos hospitalares. O tratamento da
insuficiência respiratória moderada e grave por meio da
ventilação mecânica não-invasiva e da pressão positiva
contínua em vias aéreas vem ganhando espaço
recentemente. Descrita por Barach e Poulton, em 1935 e
1936, respectivamente( 1, 6, 11, 14), a pressão positiva
contínua em vias aéreas reduz a necessidade de intubação
traqueal em 30% a 35% dos casos(1). Proporciona
melhora funcional respiratória precoce em resposta à
medicação habitual(9); entretanto, não existe C
comprovação da redução de mortalidade com seu uso. Figura 2. A) Variação
Apesar de suas vantagens, como a fácil aplicabilidade, a temporal da freqüência
redução do custo e as poucas complicações, as formas repiratória. B) Variação
não-invasivas de aplicação de pressão em vias aéreas não temporal da pressão arterial.
isolam a via aérea, sendo, por isso, consideradas formas C) Necessidade de intubação
secundárias de suporte. traqueal. Bi-nível = VNI,
ventilação não-invasiva em
A pressão positiva contínua em vias aéreas e a ventilação dois níveis de pressão;
não-invasiva podem ser aplicadas por meio de máscara CPAP, pressão positiva
nasal ou de máscara facial(1, 6-8, 11). contínua em vias aéreas;
IOT, intubação orotraqueal;
A pressão positiva intratorácica reduz o retorno venoso, O2, oxigenoterapia. C
reduzindo a pré-carga, e a pressão transmural em parede
de ventrículo esquerdo, reduzindo a pós-carga . O apoio
pressórico inspiratório reduz o consumo de oxigênio da musculatura respiratória, que,
em condições basais, é de 5%, e passa a até 40% a 50% do débito cardíaco em
condições de estresse, reduzindo, assim, o trabalho cardíaco( 5).

Em nossos serviços, temos empregado, nos últimos anos, ventilação não-invasiva no


edema agudo pulmonar, com resultados promissores. De 1999 a 2000, 49 pacientes com
edema agudo de pulmão moderado/importante foram randomizados para tratamento em
três grupos: 1) oxigenoterapia habitual com FiO2 de 50%; 2) pressão positiva contínua
em vias aéreas de 10 cmH2O e FiO2 de 50%; e 3) ventilação não-invasiva em dois
níveis de pressão, com pressão expiratória de 10 cmH2O e inspiratória de 15 cmH2O,
também com FiO2 de 50%. Observamos que os casos que utilizaram pressão positiva ao
final da expiração apresentaram redução do trabalho respiratório e cardíaco mais
precoce, além da reTRABALHO COMPLETO

Edema agudo dos pulmões

Autor(es): Marcelo Park, Luiz Francisco Cardoso

INTRODUÇÃO

O edema agudo dos pulmões representa uma das principais causas de insuficiência e/ou
desconforto respiratório que motivam a procura de unidades de emergência ou terapia
intensiva. Nos Estados Unidos, é a causa mais freqüente, seguida das doenças
brônquicas primárias e das encefalopatias agudas decorrentes de acidentes vasculares
cerebrais e traumatismos cranioencefálicos( 1).

O edema pulmonar ocorre pelo desequilíbrio das forças de Starling, podendo ocorrer
aumento da pressão hidrostática capilar e/ou aumento da permeabilidade dos capilares
pulmonares(2, 3). Neste texto, daremos destaque às condições que cursam com aumento
da pressão hidrostática pulmonar de origem cardiogênica.

FISIOPATOLOGIA
O interstício dos septos interalveolares
tem pressão hidrostática negativa, porém menos negativa que os espaços
peribrônquicos, decorrente da drenagem linfática ativa destes últimos e pela ultra-
estrutura do esqueleto pulmonar. As forças de tração que resultam da expansão
pulmonar e da ventilação são aplicadas diretamente nos espaços peribrônquicos, e, a
partir destes, distribuídas para os outros componentes da estrutura pulmonar. A
resultante dessas forças leva ao fluxo unidirecional dos fluidos no interstício pulmonar
dos septos interalveolares, onde é coletado o líquido ultrafiltrado dos capilares para os
espaços peribrônquicos. É nos espaços peribrônqicos que esse líquido é captado pelo
sistema linfático e devolvido para a circulação venosa sistêmica. O sistema linfático tem
propriedades como o sistema valvar, que permite apenas o fluxo unidirecional. As
paredes dos capilares são fixadas por meio de fibras colágenas nos septos
interalveolares; assim, durante a inspiração, as paredes capilares são tracionadas em
direções centrífugas, originando pressão negativa em seu interior. Por outro lado,
durante a expiração, com o relaxamento das paredes capilares, a pressão em seu interior
torna-se positiva por causa da retração elástica das paredes capilares e da contração dos
periscitos capilares. Esse jogo de variação de pressões durante o ciclo respiratório
aplicado a um sistema canalicular linfático valvado gera um fluxo em direção ao
sistema venoso(2, 3). Com esse mecanismo básico de drenagem de líquidos do terceiro
espaço pulmonar, fica lógico que, quanto maior a freqüência respiratória e/ou a
amplitude das inspirações, maior será a drenagem linfática. Além disso, no interstício
pulmonar existem terminações nervosas com sensibilidade química (quimiorreceptores)
e mecânica (mecanorreceptores e proprioceptores). Os mecanorreceptores (entre eles os
receptores J ou justa-alveolares) são capazes de perceber o aumento da pressão
hidrostática e/ou aumento do fluxo de líquidos. Esse estímulo é conduzido pelas suas
eferências, que provocam aumento da descarga periódica do centro respiratório; isso
resulta no aumento da freqüência respiratória, provocando drenagem linfática maior
pelo mecanismo já descrito. Dessa maneira, forma-se o principal mecanismo de defesa
pulmonar contra o aumento de ultrafiltração capilar pulmonar. Esse mecanismo permite
o aumento do ultrafiltrado de 20 ml até 200 ml de água do interstício por hora sem
acúmulo, ou seja, sem edema, às custas apenas da elevação da freqüência respiratória ou
da amplitude desta. Nessa situação, o pulmão tolera aumento de pressão hidrostática
capilar pulmonar de até 35 mmHg, sem existir congestão severa( 2, 3). Portanto, a
taquipnéia pode ser a tradução da elevação da pressão hidrostática pulmonar associada
ou não à sensação subjetiva de dispnéia, ainda sem alterações ao exame físico do
paciente.

Quando a ultrafiltração excede a drenagem de líquidos, os capilares linfáticos tornam-se


completamente ingurgitados. O ultrafiltrado excedente, inicialmente, acumula-se no
interstício do pulmão nas regiões peribrônquicas (estágio I); a seguir, ocorre acúmulo
nos septos interalveolares (estágio II); e, por último, parcialmente (estágio IIIa) ou
totalmente (estágio IIIb), na luz alveolar (Fig. 1).

Quando esse processo se torna crônico ou a instalação do


edema é gradual, existe a adaptação dos mecanorreceptores,
podendo ocorrer edema pulmonar sem taquipnéia ou queixa de
dispnéia marcante(2).

O aumento da pressão hidrostática em capilares da parede


brônquica também causa edema dessa parede, reduzindo sua
luz. A mínima redução da luz dos brônquios leva ao aumento
da resistência das vias aéreas proporcional à quarta potência da
diminuição da luz, segundo a lei de Poiseulle(2):

onde: F = fluxo através do tubo, s P = gradiente de pressão


entre as extremidades do tubo, R = raio do tubo, 8 = constante
numérica igual a 8, h = viscosidade do conteúdo do tubo, P =
3,1415...

A expressão clínica do edema agudo de pulmão se dá, portanto,


por um desconforto respiratório com ou sem insuficiência
resultante da soma de uma série de fatores:
— Inundação alveolar, com conseqüente redução da
complacência pulmonar. (2, 3)
— O edema da parede dos brônquios, causado pelo aumento da
pressão hidrostática vascular nestes, reduz a luz do órgão,
Figura 1. Estágios do aumentando sua resistência ao fluxo de ar. O edema de vias
edema pulmonar. aéreas aumenta a reatividade da musculatura brônquica,
podendo agravar a obstrução mecânica(4).
— A hipoxemia é causada pelo “shunt“ pulmonar ocasionado pelo líquido acumulado
no interstício, com conseqüente aumento da barreira alveolocapilar, levando à maior
dificuldade para a hematose. As áreas de colapso alveolar são regiões de “shunt”
verdadeiro, onde existe passagem de sangue sem contato com a barreira alveolocapilar
funcionante. A pressão parcial de oxigênio arterial baixa é capaz de estimular
quimiorreceptores localizados na aorta e carótidas, aumentando a sensação de dispnéia e
o tônus simpático(2-4).
— A intensa atividade muscular respiratória pode elevar o fluxo sanguíneo nessa
musculatura, passando do nível normal de 4% a 5% para até 50% do débito cardíaco,
desviando o oxigênio destinado para outros tecidos, como o do sistema nervoso central,
podendo provocar variações no nível de consciência(3).

A fadiga muscular, por causa de sua intensa atividade, leva, progressivamente, à


hipoventilação com hipoxemia, à retenção de dióxido de carbono e à acidose
respiratória, culminando com piora da função cardíaca e da congestão. Fechase, assim,
um círculo vicioso, que, perpetuado, leva à morte(5).

ETIOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO

Segundo a lei de Starling, o extravasamento de líquido para o terceiro espaço pulmonar


pode ocorrer por vários fatores:
— aumento da pressão hidrostática de origem cardiogênica;
— aumento da pressão hidrostática de origem não-cardiogênica, como, por exemplo, a
doença venoclusiva pulmonar;
— aumento da permeabilidade da membrana capilar, decorrente de processos locais,
como pneumonias, ou processos sistêmicos, como pancretites, queimaduras, sepse ou
síndrome de reação inflamatória sistêmica;
— redução da pressão hidrostática intersticial, como nos rápidos e maciços
esvaziamentos de derrames pleurais;
— redução da pressão oncótica sanguínea, que, por si só, não é causa de edema
pulmonar, mas pode ser um importante fator colaborador;
— redução da drenagem linfática, como ocorre na linfangiite carcinomatosa, silicose e
doença pulmonar obstrutiva crônica, que, por sua vez, também não é causa primária de
edema pulmonar, mas, sim, um fator colaborador.

O edema pulmonar, em geral, é classificado, temporalmente, em agudo ou crônico, ou


cardiogênico e não-cardiogênico, de acordo com o mecanismo que o produziu(1, 2, 6-
8).

O edema agudo de pulmão tem várias etiologias. As causas mais comuns de disfunção
cardiogênica aguda são a isquemia coronariana e a emergência hipertensiva; outras mais
raras são a insuficiência mitral aguda por rotura de cordoalha tendínea (como ocorre na
degeneração mixomatosa, na endocardite e na degeneração senil) ou disfunção de
musculatura papilar e insuficiência aórtica aguda, que pode ocorrer no trauma fechado
ou na dissecção aguda de aorta. As cardiopatias crônicas que cursam com disfunção
ventricular sistólica e diastólica e valvopatias podem causar edema pulmonar agudo
quando associadas a um fator desencadeante, em geral arritmias, infecções, isquemia,
emergência hipertensiva e uso incorreto de dieta e medicamentos(1,6-9).

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de desconforto respiratório por edema agudo de pulmão deve ser clínico e
imediato para o pronto início da terapêutica. O paciente queixa-se de dispnéia de início
ou piora súbita, tendo, ao exame físico, sinais representativos do esforço da musculatura
inspiratória, como uso dos músculos escalenos e esternocleidomastóides, tiragem de
fúrcula, intercostal e batimento de asa nasal. Associam-se, ainda, taquipnéia e expiração
forçada, com a glote semifechada, com a intenção de conseguir pressão expiratória
positiva; isso resulta no uso da musculatura abdominal, em especial os músculos retos
abdominais, gerando, por vezes, balancins toracoabdominais. Ruídos compatíveis com
cornagem podem aparecer quando há expiração forçada. A ausculta pulmonar é
variável, podendo-se encontrar, mais comumente, estertores crepitantes, que resultam
do colapso de alvéolos e bronquíolos terminais; porém, pode ser encontrado, apenas,
murmúrio vesicular mais rude, em decorrência de edema intersticial e espessamento dos
septos interalveolares. Roncos esparsos e sibilos são resultantes da transudação
brônquica e do edema da mucosa brônquica e da hiper-reatividade da musculatura lisa,
respectivamente. A ausculta também pode ser normal, pois, numa primeira fase do
edema agudo de pulmão, a drenagem linfática compensa a transudação vascular,
existindo apenas a taquipnéia. A tosse pode ser manifestação de congestão pulmonar.

Associados à dispnéia aparecem sinais de liberação adrenérgica, como taquicardia,


hipertensão, sudorese fria, palidez cutânea e ansiedade.

Outros achados podem ajudar a esclarecer a etiologia e/ou o diagnóstico diferencial de


edema pulmonar, como presença de dor torácica compatível com insuficiência
coronariana, galope cardíaco (B3 e/ou B4), sopros cardíacos e posição do “ictus cordis”,
cuja lateralização representa aumento da área cardíaca.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Os diagnósticos diferenciais do edema agudo de pulmão são determinados por duas de


suas características: início súbito da dispnéia e presença de congestão pulmonar clínica
e radiológica.

A dispnéia súbita pode ter outras causas, como tromboembolismo pulmonar,


broncoespasmo, broncoaspiração, e inalação de gases tóxicos e irritantes. Quanto ao
acúmulo de água, no terceiro espaço pulmonar existem outras causas, em que não há
hipertensão venocapilar, como no edema pulmonar das grandes alturas, edema
neurogênico, linfangiites pulmonares, “overdose” de narcóticos e síndrome do
desconforto respiratório agudo do adulto, com suas mais diversas etiologias.

TRATAMENTO

O tratamento do edema agudo de pulmão consiste de três etapas sobrepostas. Na


primeira etapa, o objetivo é manter as funções respiratórias dentro de limites que
permitam a manutenção da vida. Na segunda etapa, o objetivo é a redução da pressão
hidrostática capilar pulmonar e a conseqüente redução do ultrafiltrado para o interstício
pulmonar, de forma farmacológica ou não. Por último, na terceira etapa, o objetivo é
tratar a causa ou eliminar o fator de descompensação da cardiopatia de base(3).

O tratamento de suporte consiste, basicamente, em melhorar a oxigenação sanguínea e


reduzir o trabalho respiratório do paciente. A oxigenação adequada do sangue tem por
objetivo o transporte necessário de O2 aos tecidos, com conseqüente metabolismo
aeróbico e produção eficaz de energia. Evita-se, dessa forma, a produção final de lactato
pela via glicolítica anaeróbica. A oxigenação pode ser implementada pelo aumento da
fração de inspiração de oxigênio por meio de cateteres de oxigênio (fração inspiratória
de oxigênio ou FiO2 máxima = 40%), máscaras faciais (FiO2 máxima = 60%),
máscaras de Venturi (FiO2 máxima = 50% ), máscaras de alto fluxo com reservatório e
válvula unidirecional para o fluxo (FiO2 máxima = 98% a 100%) e, por último, máscara
com suporte não-invasivo de ventilação, seja com pressão positiva contínua em vias
aéreas (CPAP) ou com dois níveis de pressão, ambos com FiO máxima = 100%(3).

2 A redução do trabalho respiratório é uma medida que evita a fadiga da musculatura da


caixa torácica e a retenção de CO2 (e, conseqüentemente, a acidose respiratória), e
reduz a ativi dade metabólica anaeróbia da musculatura. Esta última resulta da grande
solicitação muscular somada a hipoxia hipoxêmica, causada pelo aumento do gradiente
alvéolo-arterial proporcionado pelo edema pulmonar. A redução do trabalho inspiratório
é feita com o auxílio pressórico inspiratório aplicado por ventilador mecânico, tendo
como interface com o paciente intubação orotraqueal e máscara facial ou nasal(1, 3, 6,
10, 11).

A redução de líquido do terceiro espaço pulmonar diminui o gradiente alvéolo-arterial,


com conseqüente melhora da oxigenação. Provoca aumento da complacência pulmonar
ao reduzir o número de alvéolos colabados, com desejável redução do trabalho
respiratório. Esse objetivo é atingido reduzindo-se a pressão hidrostática de capilar
pulmonar com posicionamento correto do paciente e uso de diuréticos, vasodilatadores
ou inotrópicos(3, 12, 13).

O paciente deve ser posicionado sentado e, sempre que possível, com os membros
inferiores pendentes, reduzindo, assim, o retorno venoso e a pressão hidrostática capilar
pulmonar. Monitorização contínua dos batimentos cardíacos, pressão não-invasiva
automática, oximetria de pulso e obtenção de acesso venoso são medidas úteis e,
portanto, recomendadas. Oxigênio deve ser oferecido com frações inspiratórias maiores
que 60%, com o objetivo de manter a saturação periférica de oxigênio acima de
90%(12, 13).

Existem vários esquemas terapêuticos no tratamento do edema pulmonar. Em nossos


serviços, usamos as diretrizes preconizadas pelo “Advanced Cardiac Life Support” da
American Heart Association(12). Assim, a primeira linha de drogas usadas no
tratamento do edema agudo de pulmão é constituída por diuréticos, nitratos e morfina.

O nitrato usado mais freqüentemente é o dinitrato de isossorbida, na dose de 5 mg,


administrado por via sublingual a cada 5 minutos, desde que a pressão arterial sistólica
se mantenha acima de 90 mmHg(12, 13).

A furosemida é usada na dose de 0,5 mg/ kg até 1 mg/kg de peso por via intravenosa.
Em casos de insuficiência renal oligoanúrica, é utilizada dose de 100 mg a 200 mg, com
aplicação lenta. A resposta inicial esperada é a melhora do desconforto respiratório,
decorrente de venodilatação; após 20 a 30 minutos ocorrerá a diurese propriamente dita.
Assim, se dentro de 20 minutos da aplicação do diurético não obtivermos resposta
diurética ou do desconforto respiratório, o dobro da dose inicial é aplicada.

A morfina é um fármaco de grande auxílio na terapêutica do edema pulmonar, pois:


promove venodilatação, reduzindo o retorno venoso para o coração em até 40%;
diminui as eferências dos mecanorreceptores intersticiais pulmonares, estimulados pelo
aumento do fluxo e da pressão hidrostática; e reduz a descarga adrenérgica do paciente,
pelos dois motivos previamente descritos, reduzindo, assim, a pós-carga do coração. A
dose usada é de 1 mg a 3 mg a cada 5 minutos, monitorizando nível de consciência,
freqüência respiratória, pressão arterial, náuseas e freqüência cardíaca. A meperidina
não deve ser usada, pois tem mais efeitos colaterais, causados pelos seus metabólitos
aliados ao menor efeito hemodinâmico.

Caso o paciente permaneça desconfortável apesar dessas


medidas (pressão arterial sistólica > de 100 mmHg), são
administrados vasodilatadores venosos com infusão
contínua. O nitroprussiato de sódio, na dose de 0,1 µg/kg
até 5 µg/kg por minuto, é utilizado caso o paciente não
tenha antecedente de coronariopatia, dor torácica ou
alteração isquêmica ao eletrocardiograma. Em caso de
coronariopatia, a medicação de escolha é a nitroglicerina
endovenosa, na dose de 5 µg a 10 µg até 200 µg a 500 µg A
por minuto.

Drogas inotrópicas, como a dobutamina na dose de 2


µg/kg a 20 µg/kg por minuto, são utilizadas quando há
disfunção ventricular esquerda associada a quadro clínico
refratário, má perfusão periférica ou hipotensão.

A hipoxemia refratária, a acidemia por acidose


respiratória progressiva, o rebaixamento do nível de
consciência, bem como o aparecimento de sinais clínicos
de fadiga da musculatura respiratória indicam a intubação
orotraqueal com ventilação mecânica. Nos doentes com B
infarto agudo do miocárdio e desconforto respiratório
moderado/importante, a intubação deve ser mais precoce,
no sentido de reduzir o consumo de oxigênio do coração e
permitir intervenção hemodinâmica de forma mais segura.

A ventilação mecânica aplicada com intubação traqueal


aumenta a sobrevida de pacientes com insuficiência e/ou
desconforto respiratório grave. Por outro lado, pode
causar complicações, como infecção pulmonar e
barotrauma, além do aumento da permanência e da
elevação dos custos hospitalares. O tratamento da
insuficiência respiratória moderada e grave por meio da
ventilação mecânica não-invasiva e da pressão positiva
contínua em vias aéreas vem ganhando espaço
recentemente. Descrita por Barach e Poulton, em 1935 e C
1936, respectivamente( 1, 6, 11, 14), a pressão positiva Figura 2. A) Variação
contínua em vias aéreas reduz a necessidade de intubação temporal da freqüência
traqueal em 30% a 35% dos casos(1). Proporciona repiratória. B) Variação
melhora funcional respiratória precoce em resposta à temporal da pressão arterial.
medicação habitual(9); entretanto, não existe C) Necessidade de intubação
comprovação da redução de mortalidade com seu uso. traqueal. Bi-nível = VNI,
ventilação não-invasiva em
dois níveis de pressão;
CPAP, pressão positiva
contínua em vias aéreas;
IOT, intubação orotraqueal;
O2, oxigenoterapia. C
Apesar de suas vantagens, como a fácil aplicabilidade, a redução do custo e as poucas
complicações, as formas não-invasivas de aplicação de pressão em vias aéreas não
isolam a via aérea, sendo, por isso, consideradas formas secundárias de suporte.

A pressão positiva contínua em vias aéreas e a ventilação não-invasiva podem ser


aplicadas por meio de máscara nasal ou de máscara facial(1, 6-8, 11).

A pressão positiva intratorácica reduz o retorno venoso, reduzindo a pré-carga, e a


pressão transmural em parede de ventrículo esquerdo, reduzindo a pós-carga . O apoio
pressórico inspiratório reduz o consumo de oxigênio da musculatura respiratória, que,
em condições basais, é de 5%, e passa a até 40% a 50% do débito cardíaco em
condições de estresse, reduzindo, assim, o trabalho cardíaco( 5).

Em nossos serviços, temos empregado, nos últimos anos, ventilação não-invasiva no


edema agudo pulmonar, com resultados promissores. De 1999 a 2000, 49 pacientes com
edema agudo de pulmão moderado/importante foram randomizados para tratamento em
três grupos: 1) oxigenoterapia habitual com FiO2 de 50%; 2) pressão positiva contínua
em vias aéreas de 10 cmH2O e FiO2 de 50%; e 3) ventilação não-invasiva em dois
níveis de pressão, com pressão expiratória de 10 cmH2O e inspiratória de 15 cmH2O,
também com FiO2 de 50%. Observamos que os casos que utilizaram pressão positiva ao
final da expiração apresentaram redução do trabalho respiratório e cardíaco mais
precoce, além da redução da necessidade de ventilação mecânica (Fig. 2)(15).

dução da necessidade de ventilação mecânica (Fig. 2)(15).

Conceitos

O edema pulmonar é um quadro hemodinâmico grave que pode ser causado por
diversas patologias cardíacas ou não, porém, sua fisiopatologia e semelhante, e sua
sintomatologia básica é a falta de ar intensa (dispnéia), a tosse seca e eliminação de
líquido roseo de boca e nariz. O paciente sente como se estivesse afogando, ficando
sentado e respirando rápidamente. É um quadro emergencial que pode causar o óbito se
não for feito um tratamento rápido e enérgico no sentido de reverter o quadro
hemodinâmico.

Os principais mecanismos que levam ao edema pulmonar são: a) elevação da pressão


hidrostática intravascular e b) aumento da permeabilidade capilar.
A figura histológica do pulmão mostra os espaços alveolares preenchidos pelo plasma
que extravasa dos capilares para o seu interior, impedindo a troca de oxigênio. Esta
quadro se instala subitamente.

Fisiopatogênese

Segundo a equação dos movimentos dos fluidos de Frank Starling, normalmente, a


diferença entre as pressões hidrostáticas do intravascular e do interstício é maior que a
diferença entre as pressões oncóticas dos mesmos, existindo um fluxo preferencial de
fluidos para o interstício. Este fluxo é mantido sem acúmulo por vários fatores, sendo os
mais importantes a drenagem do sistema linfático e a integridade da barreira endotelial.

Quando ocorre nos pacientes com insuficiência cardíaca crônica, onde a barreira
endotelial encontra-se integra, um aumento súbito da pressão hidrostática intravascular,
por desequilíbrio hemodinâmico (Infarto agudo do miocárdio, hipertensão arterial
grave, estenose mitral), leva a um estravasamento de plasma dos capilares alveolares
para a luz do saco alveolar (setas da figura), resultando no edema agudo de pulmão.

Dois outros mecanismos que podem potencializar o quadro congestivo são a drenagem
linfática insuficiente ou a pressão oncótica do plasma baixa (anemia ou
hipoproteinemia).

Tratamento

O tratamento consiste na reversão do quadro hemodinâmico, melhorando a bomba


cardíaca (geralmente com o uso de cardiotônicos injetável), diminuíndo a sobrecarga
hídrica com diuréticos (furasemida) endovenosos, ou o retorno venoso ao coração
deficiente (sangria branca = uso de torniquetes nas pernas e um dos braços, com
compressão suficiente para seqüestrar o sangue nas veias, deixando o pulso arterial nos
locais) e a máscara de oxigênio. Em casos extremos pode-se indicar a chamada “sangria
vermelha” que é retirada rápida de sangue do paciente através de uma secção de uma
artéria radial.
 

Você também pode gostar