Você está na página 1de 28

Enfermagem de Saúde mental

e Psiquiátrica
Tânia Correia
• Umas das questões importantes da área de especialidade da saúde mental é
determinar em que medida o surgimento ou agravamento de alterações
psicopatológicas se deve a uma causa médico-cirúrgica.
• É mais provável ser esse o caso:
• Se os sintomas psiquiátricos estiverem temporalmente relacionadas com um insulto físico
• Se tiverem características atípicas (ex. idade de inicio incomum, conjugação de sintomas
pouco habitual)
• Se existir evidencia prévia da associação entre os sintomas e a causa médica subjacente.
• Praticamente todas as patologias médicas podem causar sintomas psiquiátricos por
afetarem a função cerebral:
• Destacam-se as causas neurológicas, infeciosas, metabólicas e tóxicas;
• Delirium
• Demência
• Doença de Alzheimer
• Demência com corpos de Lewy
• Demência Vascular
• Demência Frontotemporal
• Doença de Parkinson
• …
• Corresponde a um estado de falência cerebral e se manifesta
por:
• Défice de atenção
• Pode ser leve ou grave (incapacidade total de dialogar
com o médico ou outros)
• Alteração do estado de consciência
• Défices cognitivos generalizados
• Défices na orientação auto e alo-psiquicamente,
memória, nas capacidades viauoespaciais, na
linguagem, no pensamento e função executiva
• Alterações da sensoperceção
• Até 50% dos doentes

• Ocorrem frequentemente ideias delirantes, habitualmente


de temática persecutória
• Idades • Isolamento • Queimaduras • Polimedicação • Perioperatório

Médicos
Ambientais

Farmacólogicos

Procedimentais
Inerentes ao doente

extremas social • VIH/SIDA • Dependencia/a • Tipo de cirurgia


• Défices • Ambiente • Insuficiência de bstinência de (ex.PTA)
cognitivos pré- desconhecido órgão drogas • Intervenção
existentes • Imobilidade • Infeção • Medicação emergente
• História prévia • Contenção • Hipóxia como: • Duração da
de delirium física anticolinérgicos cirurgia
• Fraturas
• Má nutrição • Stress , sedativos- • Ventilaçao
• Hipo/hiperglice hipnóticos, anti-
• Fatores • Défices mia invasiva
genéticos hipertensores,
sensoriais • Alterações • cateterização
corticoides,
(visuais ou metabólicas opioides,
auditivos)
• Desidratação quimioterapia…
• Hipoalbuminém
ia
• Dor
• Doença
primária no
SNC
• Perturbação de inicio agudo ou sub agudo (inicio rápido horas
a dias)
• Curso flutuante
• Potencialmente reversível
• O reconhecimento atempado tem implicações importantes na
morbimortalidade
• É reconhecido como um fator de mau prognóstico, aumento
do tempo de hospitalização, maior mortalidade, maior risco de
dependência funcional e deterioração cognitiva persistente.
• Muito comum em enfermarias médico-cirúrgicas
• Mais comum em populações geriátricas
Hiperativo Hipoativo Misto

• Inquietação, • Lentificação, • Características


agitação, apatia, de ambos os
hipervigilância, sonolência, subtipos
sintomas excessiva anteriores
psicóticos
Denominado por Perturbação cognitiva major no DSM – 5
• A - Evidências de declínio cognitivo importante a partir de nível anterior de desempenho em um ou
mais domínios cognitivos (atenção complexa, função executiva, aprendizagem e memória,
linguagem, perceptomotor ou cognição social), com base em:
• 1. Preocupação do indivíduo, de um informante com conhecimento ou do clínico de que há declínio
significativo na função cognitiva; e
• 2. Prejuízo substancial no desempenho cognitivo, de preferência documentado por teste neuropsicológico
padronizado ou, em sua falta, por outra investigação clínica quantificada.
• B. Os déficits cognitivos interferem na independência em atividades da vida diária (i.e., no mínimo,
necessita de assistência em atividades instrumentais complexas da vida diária, tais como pagamento
de contas ou controle medicamentoso).
• C. Os déficits cognitivos não ocorrem exclusivamente no contexto de delirium.
• D. Os déficits cognitivos não são mais bem explicados por outro transtorno mental (p. ex., transtorno
depressivo maior, esquizofrenia).
Não modificáveis Modificáveis
Diabetes
Idade (fator mais importante)
Hipertensão
Mais prevalente no sexo
Obesidade
feminino
Hipercolesterolémia
Fator genético
tabagismo
Doença de Demência com Demência
Alzheimer corpos de Lewy Vascular

Demência Doença de
Frontotemporal Parkinson
• Principal causa de demência
• A evolução da doença é inevitavelmente crónica

• A característica dominante e de maior impacto é o défice de memória


• Traduz-se na dificuldade em aprender, dificuldade em evocar nova informação, relativa
preservação da memória remota.
• Com a progressão da doença, o comprometimento da memória torna-se mais global (ex.
dificuldade em recordar o nome de familiares próximos)
• Comprometimento progressivo de funções cognitivas: linguagem, praxia
(capacidade de executar movimentos ou gestos dirigidos a um determinado objeto,
ex. usar copo para beber, escovar o cabelo), funções executivas, capacidades
visuaespaciais

• Alterações da linguagem
• Empobrecimento do vocabulário e dificuldade em encontrar palavras (primeiros sinais)
• Capacidade de leitura e compreensão pioram
Prejuízo da memória que Comprometimento Memória gravemente
pode não ser obvia para cognitivo mais notório comprometida
terceiros Períodos de (praticamente sem
Dificuldade em nomear desorientação espacial retenção de informação)
objetos e pessoas Dificuldade em atividades Deterioração global e
Perda de alguma do quotidiano incapacidade das funções

Grave
Ligeiro

Moderado
autonomia cognitivas
Manifestações
Isolamento social psicológicas e Incapacidade de
comportamentais mais reconhecer familiares
Alterações psiquiátricas
pouco evidentes comuns: apatia, Dependência quase total
depressão, alterações do na realização das
sono, desconfiança, atividades de vida diária e
agitação psicomotora, auto cuidados
ideias delirantes de Sintomas psiquiátricos
perseguição ou roubo são habituais: agitação,
agressividade, sintomas
psicóticos, inversão do
ciclo sono-vigilia,
alterações graves do
comportamento (fuga)
Segunda causa de demência degenerativa

Surge entre os 50 e os 83 anos

Ligeira predominância no género masculino

Características dominantes do quadro: alterações da atenção e das capacidades visuoconstrutivas


(construção de desenhos ou figuras tridimensionais)

A memória encontra-se preservada nas fases iniciais (comprometimento evidente com a progressão da
doença)
Flutuação dos • Variações da atenção vigilia e desempenho funcional em
períodos curtos (minutos ou horas) ou períodos mais longos
défices cognitivos (semanas ou meses)

Alucinações • complexas, recorrentes, constituídas por figuras de pessoas


ou animais que o doente descreve com pormenor
visuais • Surgem numa fase precoce
Parkinsonismo
• Rigidez, instabilidade postural, dificuldade na marcha, hipomimia
• Ao contrario da doença de Parkinson, o tremor é raro

Perturbação do sono REM

Sensibilidade severa aos neurolépticos


• Podem causar reações extrapiramidais catastróficas nestes doentes

Presença de quedas repetidas e história de sincope


O Diagnostico possível depende da
Confirma-se após identificação de
presença de demência associada a pelo
corpos de Lewy corticais através de
menos 1 característica essencial ou pelo
biopsia cerebral ou no post mortem
menos 1 característica sugestiva.
Evidencia de doença cerebrovascular: história clínica e neuroimagem (TC ou RM)

• O quadro resulta diretamente da doença vascular no SNC (hisquemia ou hemorragia) ou outros


distúrbios cardiovasculares ou circulatórios que afetem regiões cerebrais
• Acidente Vascylae Cerebral (AVC) sobretudo o isquémico, é a afeção neurológica mais comum

Presença de fatores de risco vascular

• HTA, Diabetes mellitus…

Alterações da marcha, incontinência urinária, labilidade emocional


Os sintomas podem ser muito heterogéneos dependendo da área afetada e dimensões das lesões

Défices cognitivos sequelares são frequentes

O défice de memória pode surgir mas não tão acentuado como na Doença de Alzheimer

Manifestações psiquiátricas como depressão, apatia, alterações da personalidade ou labilidade emocional são muito
comuns

É a mais prevalente entre as causa não degenerativas (segunda principal causa de demência a seguir à Doença de
Alzheimer)
É umas das causas mais frequentes de demência com inicio precoce – 50 a 60 anos

Alterações proeminentes da linguagem, comportamento e conduta social

Características dominantes:
• Alterações do comportamento
• Alterações da linguagem

Alterações de memória surgem numa fase mais tardia da doença


Demência variante
Afasia progressiva não fluente Demência semântica
comportamental
•Inicio insidioso •Inicio insidioso •Dificuldades na linguagem mas
•Alteração do comportamento •Alteração da linguagem é o com um discurso fluente
social precoce: apatia, sintoma dominante associadas a perde de
desinibição, impulsividade, •Discurso espontâneo não memória semântica (dificuldade
negligencia pessoal e ausência fluente e de débito reduzido, de nomeação e em
de insight, disfunção executiva dificuldade em encontrar compreender o significado das
•Negligencia nos auto-cuidados, palavras palavras)
impulsividade, rigidez, •Outras alterações como: apraxia, •Parafasias semânticas
inflexibilidade mental agrafia e mutismo (substituição de uma de contexto
•Discurso empobrecido, ecolalia, similar, ex. substituição de lobo
perseverança (repetição de por cão)
palavras ou frases para além do •Circunlóquios (ex. em fez de
necessário) e por vezes mutismo “faca” o doente diz “aquilo que
serve para cortar”)
•Dislexia e disgrafia
• Aparte as bem conhecidas alterações motoras (tremor de repouso, bradicinesia,
marcha de pequenos passos), condiciona habitualmente o surgimento de alterações
psiquiátricas.
• Apatia, lentificação, hipomimia, culpa, desesperança, ideação de morte, anedonia
• Perturbações de ansiedade (pânico, fobias e ansiedade generalizada)
• Perturbações sexuais e do sono
• Com o tempo a memória, a atenção e a linguagem são progressivamente afetadas
• Défices cognitivos são flutuantes
• O risco de demência associada a Doença de Parkinson é superior nos idosos, no inicio
tardio da doença, ou em doença de Parkinson de longa duração

• Há destruição da substancia negra, diminuição da neurotransmissão dopaminérgica


➢ Farmacoterapia
➢ Estratégias que promovam a adesão ao regime terapêutico
➢ Estratégias psicossociais centradas no doente e na família
➢ Psicoeducação ao familiar
➢ Estimulação cognitiva
• Utilizar relógios com números grandes que sejam fáceis de ler.
• Colocar grandes placas coloridas ou com imagens para ajudar na identificação dos quartos dos
utentes na enfermaria.
• Permitir ao utente ter consigo o máximo de bens pessoais possível
• Se possível, encorajar a família a participar nos cuidados de enfermagem para promover a
orientação e sentimento de segurança.
• Proporcionar ao utente atividades que habitualmente goste de realizar para distração como
assistir programas de TV, rádio…ajudam a dar um sentimento de familiaridade ao ambiente.
• Proporcionar um ambiente com estímulos adequados e não em excesso.
• Proporcionar ao utente ver álbuns de fotografias com familiares e amigos com recurso a
terapias de reminiscência.
• Modificar o ambiente de forma a facilitar a independência
Tânia Correia funcional
▪ Remover ameaças ambientais (p.ex., tapetes, peles escorregadios e pequenas peças de
mobiliário que podem ser movimentadas);
▪ Retirar objectos que, no ambiente, possam ser nocivos;
• Proporcionar, quando adequado, uma cama baixa;
• Individualizar a rotina diária;
• Proporcionar ao utente que os cuidados sejam prestados pelos mesmos profissionais para
garantir segurança a facilitar a relação de ajuda.
• Administrar medicação e avaliar resultados bem como efeitos secundários.

Tânia Correia
Cognição comprometida Intervenções
Orientar para estratégias de estimulação da
cognição
Instruir sobre técnicas auxiliares de
compensação da memória
Executar estimulação cognitiva
Executar terapia de orientação para a
realidade

Tânia Correia
Memória comprometida

Cognição comprometida

Interação social diminuída ou comprometida

Autocuidado comportamento sono repouso alterado

Comunicação comprometida

Emoção comprometida

Stress do prestador de cuidados presente


• American Psychiatry Association (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders - DSM-5
(5th.ed.). American Psychiatric Association.
• Chalifour, J. (2007). A Intervenção Terapêutica Os Fundamentos Existencial-Humanistas, Volume 2.
Lusodidacta.
• Chalifour, J. (2009). A Intervenção Terapêutica - Estratégias de Intervenção, Volume 1. Lusodidacta
• Santos, J., Cutcliffe, J. European Psychiatric/ Mental Health Nursing in the 21st Century A Person-Centred
Evidence-Based Approach. Springer. ISSN 2366-8768
• Saraiva, C., Cerejeira, J. (2014). Psiquiatria Fundamental. Lidel. ISBN 9789897520716
• Sequeira, C., Sampaio, F. (2020) Enfermagem em Saúde Mental: Diagnósticos e Intervenções. Lidel. ISBN
978-989-752-413-4
• Townsend, M. (2011). Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica: Conceitos de cuidados na prática
baseada na evidência (6 ed.). (S. C.Rodrigues, Trad.) Loures, Lusodidacta.
• WorldHealth Organization(2003). Investingin Mental Health. Geneve: WHO

Você também pode gostar