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IAGO M.

ALMEIDA – MEDICINA – UFBA – TURMA 255 1

Emergências psiquiátricas
As urgências e emergências em psiquiatria podem ser
definidas como “qualquer alteração de natureza psiquiátrica
em que ocorram alterações do estado mental, as quais
resultam em risco atual e significativo de morte ou injúria
grave, para o paciente ou para terceiros, necessitando de
intervenção terapêutica imediata". São momentos de crise e
sua abordagem adequada impacta no manejo posterior dos
quadros apresentados.

O principal objetivo de um atendimento de emergência ou


urgência em psiquiatria é a estabilização do quadro para
facilitar a continuidade da investigação diagnóstica e/ou da
intervenção terapêutica.

Na emergência, a avaliação terá o objetivo de diferenciar as


situações que requerem abordagem imediata daquelas que
podem ser abordadas a longo prazo no ambulatório ou
outros setores.

ABORDAGEM SISTEMATIZADA

→Triagem: Avaliar os casos que supostamente requerem


atendimento imediato.

→Anamnese: Com enfoque nos motivos que levaram a


busca pelo socorro.

→Exame físico: Para detectar ou excluir causas orgânicas


como consequência, causa ou comorbidades ao transtorno Atualmente os Serviços de Emergência psiquiátricas
mental. relacionam-se com todos os serviços que compõem a rede
de saúde mental, exerce um importante de papel de
→Exame neurológico: Além do diagnóstico diferencial de
organização do fluxo de pacientes dentro desta rede.
doenças orgânicas, para avaliar os efeitos colaterais das
Servem como termômetro do funcionamento adequado da
medicações psicotrópicas.
atenção primária e secundária (tecnicamente, se essas duas
→Exame psíquico: Para avaliação do estado mental atual do funcionam bem, não tem porque tem muitos pacientes
paciente crônicos agudizando), além de servir como um sistema
tampão provisório para suprir as demandas excedentes
→Avaliação complementar: Não só para diagnóstico associadas às deficiências dos serviços extra hospitalares. É
diferencial, mas para documentar a gravidade do estado do uma das principais portas de entrada para a rede de saúde
paciente e auxiliar na tomada da decisão. mental, especialmente no caso dos pacientes em primeiro
episódio psicótico.
→Hipótese diagnóstica: Seja da patologia, seja da situação
emergencial; como, por exemplo, síndrome de abstinência,
TIPOS DE ATENDIMENTO PSIQUI ÁTRICO
agitação
Verde
→Planejamento terapêutico: Quais medidas serão tomadas
para a estabilização do quadro. • Ansiedade
• Depressão leve
→Encaminhamento após a alta: Após estabilização do
• Informações sobre medicações e receitas
quadro (encaminhamento para acompanhamento
longitudinal), ou não reconhecimento da emergência ou #Intervenção pode ser postergada
ainda da indicação da internação.
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Amarelo FATORES DE RISCO

• Quadros de ansiedade agudas, • Doença física


• Síndromes conversivas e dissociativas ➢ especialmente doenças com maior
gravidade e menor probabilidade de cura
#Intervenção em dias ou semanas • Transtornos mentais
Vermelho • Sintomas psiquiátricos específicos
➢ ansiedade,
• Agitação psicomotora ➢ desesperança,
➢ impulsividade
#intervenção o quanto antes ➢ agressividade
• História psiquiátrica prévia
EPIDEMIOLOGIA ➢ Abuso físico ou sexual na infância,
➢ estressores psicossociais,
• Comportamento suicida (15 – 20%);
➢ história familiar de suicídio
• Abuso de substâncias (28,5%);
• Depressão
• Delirium (5 – 40%)
➢ O risco de suicídio em pacientes
• Transtornos psicóticos (15 – 20%)
depressivos é ainda maior no início do
• Transtornos de ansiedade (14%)
tratamento com antidepressivos, pois os
• Transtornos de humor (20 – 30%)
efeitos terapêuticos sobre o
• Agitação psicomotora e agressividade (10 – 30%);
funcionamento global do indivíduo
precedem os efeitos sobre os sintomas
EMERGÊNCIAS PSIQUIATRICAS E ALTERAÇÕES
depressivos e pensamentos suicidas.
CLÍNICAS NÃO PSIQUIATRICAS Assim, o paciente pode estar fisicamente
Muitas alterações clínicas podem cursar com alterações do mais ativo para cometer o suicídio;
comportamento, e essa via é de mão dupla, uma vez que • Tentativas prévias de suicídio
vários quadros psiquiátricos podem cursar com doenças ➢ O risco da pessoa cometer o suicídio
clínicas associados. Ex.: TAB ou esquizofrenia, que tem um agrava de acordo com o número de
risco aumento de síndrome pluri-metabólica e eventos tentativas e também está atrelado ao
cardiovasculares. interstício de tempo mínimo entre essas
tentativas.
SUICÍDIO
O PACIENTE SUICIDA
O comportamento suicida pode ser observado ao longo de
um continuum, ou seja, com condições que antecedem o ato O médico deve sempre indagar sobre ideias suicidas como
do suicídio, em que a pessoa tem inicialmente pensamentos parte de cada exame do estado mental, especialmente se
de autodestruição, depois passa por ameaças, gestos, que este paciente estiver deprimido. Fazer o paciente falar sobre
levam à tentativas de suicídio (WHO, 2014). sua ideação ou tentativa de suicídio alivia-o e permite ao
médico estabelecer a conduta a tomar. A noção de que falar
ALGUNS CONCEITOS sobre o suicídio com o paciente irá dar-lhe “uma ideia” para
se matar é completamente equivocada.
→Letalidade do comportamento suicida: ameaça objetiva à
vida associada ao método de suicídio. A entrevista do paciente suicida deve ser realizada com a
maior privacidade possível.
→Danos autoprovocados e deliberados: realização
proposital de atos dolorosos, destrutivos ou lesivos a si Os pacientes que tentam suicídio nem sempre querem
mesmo, sem intenção de morrer. morrer. A entrevista deve ser conduzida de modo que ao
final o médico possa responder as seguintes perguntas:
→Risco de suicídio: probabilidade de que a ideação suicida
leve ao ato suicida e tenha como desfecho a morte
autoinduzida.
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Mesmo as tentativas sem uma clara intenção letal ou com


propósito manipulativo devem ser levadas a sério. uma
tentativa de suicídio que não resulta em morte é um
importante fator de risco para novas tentativas com
métodos mais letais. Oito em dez pessoas que se matam dão PREVENÇÃO DO SUICÍDIO
avisos sobre suas intenções. Se o paciente admite um plano
de ação, este é um sinal particularmente perigoso. • Identificar e reduzir a disponibilidade e o acesso aos
meios para se cometer suicídio (ex. armas de fogo,
É importante também mobilizar recursos de apoio e substâncias tóxicas);
proteção (família, amigos, crenças etc.) e a equipe. Sendo • Melhorar os serviços de atenção à saúde, reforçar o
essencial também estabelecer uma boa relação terapêutica, apoio social e promover a reabilitação de pessoas
evitando os sentimentos de culpa, vergonha; questionar a com comportamento suicida;
pessoa sobre suas percepções sobre as consequências do • Melhorar os procedimentos diagnósticos e
suicídio, trabalhar a ambivalência entre o desejo de viver e subsequente tratamento dos transtornos mentais;
morrer. Além disso, deve-se solicitar que o paciente • Aumentar a atenção dirigida a profissionais de
verbalize os próprios motivos e as razões para manter-se saúde em relação a suas atitudes e tabus em
vivo. relação à prevenção do suicídio e às doenças
mentais;
• Aumentar o conhecimento, por meio da educação
pública sobre doença mental e seu reconhecimento
precoce; Auxiliar a mídia a noticiar
apropriadamente suicídios e tentativas de suicídio;
• Incentivar a pesquisa na área de prevenção do
suicídio, encorajar a coleta de dados das causas de
suicídio e evitar a duplicação dos registros
estatísticos;
• Prover treinamento para indivíduos e profissionais
que se encontram na linha de frente e que entram
primeiro em contato com indivíduos sob risco de
suicídio

É preciso ter sempre em mente estes quatro indicadores:


depressão, desesperança, desamparo e desespero. Quando
presentes podem elevar o risco de suicídio.

ESTIMAR RISCO DE SUICÍDIO (AVA)

1. Inexistente;
2. Leve: ideação limitada, não há plano ou
preparação; sem tentativas;
3. Moderado: planos e preparação definidos ou mais
de um fator de risco; motivação para melhorar o
estado emocional e psicológico atual;
4. Severo: planos e preparação claramente definidos;
dois ou mais fatores de risco; inflexibilidade
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cognitiva e desesperança; sem apoio social os pacientes com condições psiquiátricas que não estejam
disponível; tentativas anteriores; respondendo ao tratamento ambulatorial.
5. Extremo: múltiplas tentativas; fatores de risco
significativos. AGRESSIVIDADE E AGITAÇÃO PSICOMOTORA

ABORDAGEM FARMACOLÓICA O tratamento da agressividade e do comportamento


violento decorrentes de transtornos mentais constitui
#Para controle da ansiedade: clonazepam SL ou Midazolan um dos desafios da prática psiquiátrica.
IM (ver esquema para os quadros ansiosos)
O comportamento agressivo está presente na apresentação
CONDUTA clínica em diversos quadros psiquiátricos e também em
condições causadas por alterações orgânicas.

#Agressão é um ato intencional, e é importante diferenciá-


la da agitação psicomotora que é caracterizada pela
atividade motora e cognitiva excessiva, em grande parte
improdutiva e decorrente de tensões internas. Ao contrário
do que pensa o senso comum, a maioria dos usuários dos
serviços de saúde mental não são violentos.

#A agitação também ocorre em doenças neurológicas como


acidente vascular cerebral, traumatismo cranioencefálico,
crise epiléptica, Parkinson, Alzheimer e outras demências.
Intoxicação ou abstinência de substâncias psicoativas
causam com frequência comportamento agressivo e avaliar
a ectoscopia do paciente pode mostrar achados de uso de
drogas injetáveis ou hálito etílico. Quadros de hipóxia,
dispneia e dor intensa também deixam os pacientes
agitados.

O cuidado a pacientes com comportamento de auto ou


heteroagressão é frequentemente acompanhado por
conflitos éticos entre a autonomia, a integridade física e
mental dos clientes e a necessidade de evitar danos,
portanto, as medidas empregadas devem ser proporcionais
ao risco apresentado.

FATORES DE RISCO PARA COMPORTAMENTO


HOSPITALIZAÇÃO VIOLENTO

A hospitalização sempre deve ser considerada uma


intervenção possível quando a segurança do paciente estiver
em questão, mas não deve ser tida como absoluta em
qualquer situação de risco de suicídio. É importante lembrar
que a hospitalização, por si só, não é um tratamento, mas
um regime que pode facilitar a avaliação e o tratamento do
indivíduo com comportamento suicida. A decisão de
internação deve considerar alguns aspectos importantes:
como séria ameaça de danos a si mesmo, gravidade dos
sintomas, intensidade necessária de atendimento e suporte
social, incluindo recursos de saúde da comunidade e
continência familiar.

O tratamento intensivo (hospitalar, CAPS, consultas diárias)


é necessário sempre que houver uma apresentação nova e
aguda que não faça parte de um padrão repetitivo ou para
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• Evitar confronto direto (ou disputas) com o


paciente
• Estimular expressão verbal de sentimentos
• Focalizar o assunto, resumir ideias, repetir as
últimas ideias do cliente
• Auxiliar o paciente a reconhecer a realidade (sem
confronto)
• Assegurar ao paciente que você pretende ajuda-lo
a controlar os próprios impulsos,
• Evitar ceder a testes, desafios e manipulações, bem
como evitar promessas, ameaças, opiniões
pessoais, manipulação ou faltar com a verdade.
• Explicar as condutas terapêuticas
CONDUTAS
CONTENÇÃO
• Ter um ambiente seguro. O local do atendimento
A contenção consiste na utilização de meios físicos ou
deve oferecer privacidade, mas ser de fácil acesso
farmacológicos para impedir comportamentos destrutivos.
para equipe de saúde e de segurança.
• Equipe deve ser preparada para receber pessoas No Brasil, as contenções físicas e químicas devem ser
com risco de comportamento agressivo, o controle prescritas por médicos. A contenção física deve ser
da agressividade e a prevenção de danos. Com o empregada apenas o manejo atitudinal e verbal não
estabelecimento de protocolos e rotinas que tiverem efeito.
facilitem uma abordagem coesa e organizada.
• A gestão do ambiente para a redução ou prevenção
CONTENÇÃO QUÍMICA OU FARMACOLÓGICA
do comportamento agressivo envolve o conforto
do cliente, controle de ruídos, temperatura, Para a contenção química comumente são empregados
iluminação e odores. Devem ser evitados benzodiazepínicos, antipsicóticos típicos e atípicos ou
estímulos e movimento excessivos e superlotação. combinações desses fármacos.
• A intervenção deve ser rápida para impedir a
A via oral é preferível para a aplicação da contenção química,
progressão da violência, manter o máximo de
sempre que possível e que o paciente esteja colaborativo.
segurança para todos os envolvidos, com as
Risperidona ou haloperidol.
intervenções menos invasivas e coercivas possíveis.
Em caso de paciente não cooperativo, o medicamento pode
MANEJO ATITUDINAL ser administrado por via intramuscular. Haloperidol, A dose
máxima diária deve ser de 30 mg. Iniciar com 5 ou 10 mg e
• Manter-se em postura vigilante e em prontidão
observar a tranquilização. Outras doses adicionais podem
para a ação
ser feitas a cada trinta minutos. A dose do fármaco aplicada
• Evitar movimentos bruscos
deve produzir tranquilização sem sedação.
• Respeitar o espaço físico do paciente (evitar toque)
• Evitar confronto direto
• Estar atento à linguagem não verbal (ex.: evitar CONTENÇÃO FÍSICA
olhar desafiador ou submisso) Envolve técnicas desenvolvidas para restringir movimentos
• Reduzir os estímulos corporais e evitar comportamentos destrutivos.
• Afastar fatores avaliados como estressores ou
desestabilizadores Intervenção coerciva é permitida somente quando
justificada pelo risco apresentado e após a falha de outros
MANEJO VERBAL métodos não coercitivos acima descritos.

• Utilizar linguagem simples, clara e concreta (evitar COMO FAZER


linguagem abstrata ou metáforas)
É preciso um mínimo de cinco membros da equipe, sendo
• Evitar elevar o tom de voz
que um membro assume o papel de líder que define detalhes
• Estabelecer limites e contratos de maneira e papéis com os membros da equipe e, no momento da
respeitosa intervenção, esse profissional toma a decisão de iniciar a
contenção e coordena a equipe.
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A contenção deve ser mantida o mínimo de tempo possível RISCOS


e que o indivíduo seja acompanhado e avaliado
Podem ter efeitos físicos e psicológicos deletérios sobre os
continuamente durante a contenção ou monitorado a cada
pacientes e equipe
15 minutos enquanto estiver contido.
Riscos para o paciente:

• Redução da perfusão tecidual em extremidades


(necrose, trombose e amputação),
• Embolia pulmonar,
• Aspiração e asfixia,
• Lesão de plexo braquial,
• Fraturas, etc.

CONDUTAS

TRANSTORNOS SOMATOFORMES (DOENÇAS


CLÍNICAS CURSANDO COM ALTERAÇÕES
PSIQUICAS)

As alterações do comportamento podem ser manifestações


de uma série de condições além de transtornos
psiquiátricos. Algumas delas estão associadas a risco de
morte, e se deve distinguir rapidamente a verdadeira
emergência.

Condições com risco de morte que devem ser excluídas:


hipóxia, hipoglicemia, encefalopatia hipertensiva,
encefalopatia de Wernicke, infecções do sistema nervoso
central, epilepsia, acidente vascular cerebral, lesões
intracranianas, overdose, intoxicação ou abstinências por
substâncias psicoativas e sepse.
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AVALIANDO FUNÇÕES MENTAIS • Demais pessoas: identificar parentes, amigos


próximos, equipe de atendimento.

CONSCIÊNCIA
MEMÓRIA
#Alterações: obnubilação, confusão, estupor e coma
#Alterações: amnésia imediata, recente, lacunar, retrógrada
Avaliação: observar as reações frente a estímulos verbais ou e anterógrada. Hipermnésia. Confabulação.
táteis. Escala de coma de Glasgow.
• imediata: nomear três objetos e pedir que
memorize. (poste, azul, bola, por exemplo). solicitar
que repita.
• recente: solicitar a repetição dos mesmos nomes,
após aproximadamente cinco minutos. Enquanto
aguarda o tempo, continuar a avaliação de outra
função.
• remota: solicitar que informe dados pessoais, de
parentes eventos passados.

INTELIGÊNCIA E ABSTRAÇÃO
# Alterações: avaliar clinicamente de está na média, é
inferior ou superior a ela.
ATENÇÃO
Avaliar: escolaridade, reprovações e motivos, habilidade em
#Alterações: hipovigilância e hipervigilância. Hipo ou cálculos, em lidar com dinheiro, locomover-se sozinho pela
hipertenacidade. cidade, assistir televisão e compreender o que se passa.
Interpretação de provérbios e semelhança e diferenças.
• Solicitar a repetição de serie de dígitos
pronunciados pausadamente e em voz alte. PSICOSE
Normalmente consegue repetir de 6 a sete dígitos.
começar com serie de dois e ir aumentando. Ao nos referirmos à psicose, é preciso estabelecer uma
• Contar de 20 de trás para frente. Considerar comparação entre os quadros de psicose de origem orgânica
alteração se ocorrer mais de um erro. exemplo: 2- e os das psicoses funcionais (p.ex. esquizofrenia, TAB com
7/ 4-2-7/ 7-9-2-3-4/ 3-1-7-8-3-4. sintomas psicóticos):
• Repetir os meses de trás para frente. Considerar
alteração se ocorrer mais de um erro.

SENSOPERCEPÇÃO
#Alterações: hipo e hiperestesia, ilusão, alucinação e
pseudoalucinação.

• Questionar sobre alucinações e observar conduta


alucinatória.

ORIENTAÇÃO
#Alterações: desorientação no tempo, espaço, quanto a si e
ao ambiente e pessoas.

• Tempo: questionar a hora aproximada, ano,


O quadro de delirium é o característico da psicose orgânica.
estação, festas.
Representa um declínio súbito e significativo de um nível de
• Espaço: questionar sobre local onde se encontra,
funcionamento anterior que não é melhor explicado por
endereço aproximado, cidade, estado, país.
uma demência já instalada ou em início.
• À própria pessoa: questionar sobre dador pessoais
como idade, profissão, nome, data de nascimento.
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ABORDAGEM FARMACOLÓGICA USO E ABSTINÊNCIA DE SUBSTÂNCIAS


PSICOATIVAS
• Nos quadros orgânicos, como em todos os
transtornos psíquicos, a medicação é sintomática. O uso de substâncias psicoativas é uma comorbidade
• As doses devem ser baixas e a progressão lenta, frequente com os transtornos mentais. Nem sempre é
mas, sempre é preciso progredir. possível estabelecer com exatidão a relação temporal ente
• Evitar a politerapia e observar atentamente aos padrão de uso da substância psicoativa e
efeitos adversos e interações medicamentosas. início/evolução/remissão dos sintomas psiquiátricos, sem o
• A medicação deve ser usada na dose e no tempo auxílio de exames de triagem. A confusão de pensamentos
adequado para obtenção do resultado proposto e do indivíduo em episódio psicótico agudo pode influenciar
avaliar cuidadosamente a necessidade de na qualidade das informações relatadas.
manutenção por tempo prolongado.
• Evitar o uso de benzodiazepínicos ou utilizá-los com AVALIAÇÃO
parcimônia.
• histórico detalhado do uso de substâncias e dos
• Cuidado com sedativos que podem dificultar a
efeitos da substância no funcionamento cognitivo,
avaliação da consciência.
psicológico e fisiológico do paciente no presente e
➢ Dentre os neurolépticos, preferir os de
no passado do paciente;
primeira geração: o haloperidol.
• história médica geral e psiquiátrica e exame físico
➢ A risperidona pode ser utilizada, sempre
geral;
em baixas doses em caso de alterações de
• história dos tratamentos psiquiátricos e a resposta
sensopercepção.
terapêutica obtidos previamente;
CONDUTA • história familiar e social;
• triagem da substância utilizada através do sangue,
da respiração ou urina;
• outros testes laboratoriais para ajudar a confirmar
a presença ou ausência de condições que
frequentemente co-ocorrem com o uso da
substância, como, por exemplo, eletrólitos,
hemograma, eletrocardiograma (ECG) etc.;
• COM A PERMISSÃO DO PACIENTE, deve-se entrar
em contato com pessoa que possa oferecer
informações adicionais.

INTOXICAÇÃO AGUDA

A intoxicação caracteriza-se pelo desenvolvimento de


síndromes específicas devidas à ingestão recente (ou
exposição) à substância. O tratamento da intoxicação aguda
visa à retirada ou à recuperação dos efeitos agudos das
substâncias.

INTOXICAÇÃO SEM DOENÇA PSIQUIÁTRICA,


INCLUÍDA A DEPENDÊNCIA QUÍMICA
• Abordagem da intoxicação e orientações gerais.

INTOXICAÇÃO COM SUSPEITA DE DIAGNÓSTICO DE


DEPENDÊNCIA QUÍMICA, SEM OUTRA DOENÇA
PSIQUIÁTRICA.
• Abordagem da intoxicação,
• avaliação diagnóstica de transtorno por uso de
substâncias,
• sensibilização do paciente e familiares,
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• encaminhamento para tratamento.

INTOXICAÇÃO COM COMORBIDADE PSIQUIÁTRICA E


DEPENDÊNCIA QUÍMICA.
• Abordagem da intoxicação,
• avaliação diagnóstica do transtorno por uso de
substâncias e outros transtornos psiquiátricos,
• sensibilização do paciente e familiares,
• encaminhamento para tratamento.

OBJETIVOS DO MANEJO

• promover, para pacientes intensamente


intoxicados: diminuição da exposição a estímulos
externos, confiança, reorientação e teste de
realidade em um ambiente seguro e monitorado;
• averiguar quais substâncias foram usadas, a rota de
QUADROS DE ANSIEDADE AGUDA
administração, a dose, o tempo desde a última dose
e se o nível de intoxicação está aumentando ou ATAQUES DE PÂNICO
diminuindo;
• remover as substâncias do corpo (i.e., por lavagem Os sintomas do ataque de pânico incluem sentimentos de
gástrica - se a substância tiver sido ingerida catástrofe iminente, medo de enlouquecer ou perder o
recentemente - ou por aumento da taxa de controle, desrealização, despersonalização e sintomas
excreção); físicos como dispneia, sudorese, taquicardia, dor ou
• reverter os efeitos da substância pela desconforto torácico, desconforto abdominal, tontura,
administração de antagonistas (p. ex., naloxone sensação de sufocamento, formigamento e rubor ou palidez
para superdosagem de heroína), visando deslocar a facial. Tem início é súbito e duração limitada. A ansiedade se
substância dos receptores; eleva rapidamente atingindo o pico em 10 minutos e
• usar abordagens que estabilizem os efeitos físicos geralmente se resolvem em até 30 minutos.
da substância objeto da superdosagem (i.e.,
entubar para diminuir o risco de aspiração e usar CUIDADOS PRESTADOS
medicamentos para manter a pressão sanguínea
• Reduzir estímulos ambientais
em níveis satisfatórios).
• Promover conforto do paciente
• Manter abordagem clara, direta, calma, segura, de
DESINTOXICAÇÃO
apoio e não ameaçadora.
No processo de liberação do paciente, é preciso certificar-se • Permanecer com o paciente
de que a substância foi eliminada de forma que o ele possa • Evitar a exposição do paciente a outras pessoas
assumir o seu controle novamente. • Utilizar técnicas de relaxamento, caso sejam aceitas
pelo paciente (ex.: exercícios de respiração lenta e
A desintoxicação é uma forma de cuidado paliativo (que profunda e relaxamento progressivo) - Avaliar se os
reduz a intensidade de um transtorno) e, para alguns sintomas podem ser causados por alterações
pacientes, é apenas o primeiro contato com o tratamento e
orgânicas ou abuso de substâncias psicoativas (de
o primeiro passo para a recuperação. A decisão sobre o local
acordo com sintomas)
mais adequado para a continuidade do tratamento envolve
• Informar o paciente a transitoriedade do ataque 10
controvérsias; entretanto, existem considerações que
- 30min
podem ser úteis para nortear esta tomada de decisão
• Instruir ao paciente para que ele respire pelo nariz
e não pela boca (não hiperventilar)
• Em crises mais intensas ou prolongadas podem ser
prescritos e administrados benzodiazepínicos de
ação curta
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DSM-V → ESPECIFICADOR: ATAQUE DE P ÂNICO

SUBSTÂNCIAS CAPAZES DE INDUZIR SINTOMAS DE


ANSIEDADE

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DOS SINTOMAS DE


PÂNICO

REAÇÃO AO ESTRESSE AGUDO

São reações vivenciais anormais desencadeadas por um


estresse agudo. Englobam um conjunto de reações com
duração de dois dias a quatro semanas. Incluem:

• Revivência (sensação de reviver um evento


traumático)
• Esquiva (evitar tudo o que possa relembrar o
evento traumático)
• Excitabilidade aumentada
• Sintomas dissociativos (sentimento subjetivo de
anestesia, distanciamento, ausência de resposta
emocional, redução da consciência quanto a coisas
que o rodeiam, desrealização, despersonalização,
amnesia dissociativa)
• A perturbação causa sofrimento significativo ou
prejuízo no funcionamento social ou ocupacional.

MANEJO DO ESTRESSE AGUDO


• A equipe de saúde deve empregar intervenções
específicas que favorecem o enfrentamento
adaptativo do estressor pelo paciente:
• Estabelecimento de relação terapêutica
• Promoção de ambiente seguro
• Atenção a aspectos emocionais relacionados ao
trauma
• Abordar sentimentos de culpa e vulnerabilidade
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• Explorar e reforçar aspectos favoráveis à


recuperação
• Prevenir a instalação de comportamentos de
"evitação" (de objetos ou situações que não
representam risco, mas fazem o indivíduo lembrar
do evento traumático).
• Retorno às atividades cotidianas o mais breve
possível
• Acionamento de rede de apoio
• Retirada de estressores adicionais.
• Facilitar a habilidade do indivíduo para
compartilhar dificuldades emocionais e materiais
com familiares e amigos
• Instruir familiares a evitar críticas ao paciente e
permitir que ele fale do trauma quando sentir
necessidade.

ABORDAGEM FARMACOLÓGICA

#Benzodiazepínico: clonazepam sub-lingual 0,25 mg MANEJO DA PESSOA COM PENSAMENTO


podendo ser elevada a dose de 15 em 15 minutos até a DESORGANIZADO
tranquilização. Máxima dose diária: 2,5 mg por esta via.
• Uso de linguagem simples, clara e concreta e o
#Na falha do sub-lingual, usar o midazolan por via estabelecimento de limites.
intramuscular na dose de 15 mg. • É relevante deixar transparecer o interesse pelo
problema e informa-lo sobre todas as condutas
QUADROS PSICÓTICOS A GUDOS terapêuticas esclarecendo que as intervenções
realizadas tem a finalidade de ajudá-lo.
Os quadros psicóticos agudos podem se apresentar de • No manejo de delírios e alucinações são
formas as mais variadas. empregadas a orientação para a realidade,
evitando o confronto direto e o reforço dos
Definir uma pessoa como psicótica implica reconhecer nesta
sintomas psicóticos.
um prejuízo grosseiro no contato com a realidade,
• Quando necessárias, as medidas de segurança
manifestado em uma percepção inadequada e persistente
devem ser tomadas de forma menos restritiva
do mundo externo (alucinações, delírios), com a ausência de
possível.
juízo crítico ou com uma conduta intensamente
desorganizada.
ABORDAGEM FARMACOLÓGICA
Os quadros psicóticos se caracterizam por alterações no
juízo de realidade. Em geral os sintomas que acompanham AVA
esta alteração são delírios e alucinações.
• Na falha das abordagens verbais e ambientais.
Na avaliação desse tipo de paciente, é de fundamental • por via oral: risperidona até 9 mg. ou haloperidol
importância a diferenciação entre os dois grandes grupos de até 40 mg.
síndromes com sintomatologia psicótica denominados • em caso de falha da via oral, pode ser utilizado por
psicoses orgânicas e psicoses funcionais via IM o mesmo esquema proposto para
abordagem do paciente agressivo.

EMERGÊNCIAS PSIQUIATRICAS – JOÃO QUEVEDO,


2ED.
O tratamento dos sintomas psicóticos deve ser iniciado o
mais breve possível, uma vez que quanto maior o tempo de
psicose não-tratada, menor é a resposta a antipsicóticos.
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De maneira geral, deve-se escolher um antipsicótico de antipsicóticos ditos atípicos ou de nova geração ocorre nos
acordo com a sua potência e o perfil de efeitos colaterais. sintomas negativos e cognitivos da esquizofrenia, ainda
assim com resultados limitados. A escolha do antipsicótico
Se o paciente nunca usou um antipsicótico antes, é prudente mais apropriado para cada paciente ou situação deve levar
iniciar com doses menores, aumentando gradualmente até em conta seus efeitos colaterais, riscos, posologia e custo
o alcance da dose terapêutica. Se o paciente apresentar
desconforto ou efeitos colaterais iniciais proeminentes (de 2
a 3 dias), deve-se trocar o antipsicótico.

Mesmo em pacientes esquizofrênicos, o tratamento inicial


não deve passar de 5 a 10 mg/dia de haloperidol.

Os antipsicóticos apresentam uma latência de pelo menos 7


a 10 dias para o início do efeito terapêutico sobre a psicose
(apesar de a sedação e a redução da agitação e da ansiedade
poderem ocorrer logo no início do tratamento), e seus
efeitos plenos podem ser observados em geral entre 3 e 12
semanas, com pouco benefício adicional depois desse
período, exceto no caso da clozapina. Se o paciente
permanecer agitado ou inquieto, o aumento precipitado da
dose pode inclusive aumentar a acatisia e a disforia. No caso ACOLHIMENTO A FAMILIAS E PESSOAS
de persistência de agitação e/ou inquietação, pode ser PRÓXIMAS AO PACIENTE
adequado associar um benzodiazepínico de longa duração,
O acolhimento é muito importante no atendimento às
como clonazepam ou diazepam.
emergências psiquiátricas. Além do já abordado em outros
capítulos, observe as seguintes "dicas":

• Identifique o afeto predominante do paciente


o Sentimentos como raiva, medo e vergonha
e motivar o paciente para falar sobre eles.
• Observe a identificação com os sentimentos do
paciente
o Pacientes irritados ou assustados
facilmente transferem estes sentimentos
ao avaliador, assim como posturas de
vitimização ou de fragilidade. É preciso
estar atento aos sentimentos provocados
pelos pacientes (medo, raiva, pena) para
não agir como resposta a eles.
• Estar atento à crítica sobre o motivo e à
voluntariedade (ou não) do atendimento
o A involuntariedade ou o juízo critico
prejudicado comprometem a avaliação.
Ouça o paciente, procure conectar-se com
o seu pensamento e termos utilizados.
evite o uso de lógica para convencer o
paciente de que ele está errado, por mais
que pareça ilógico seu relato ou
argumento.
• Mostre-se interessado e escute atentamente o
relato e o contexto do paciente
IMPORTANTE: todos os antipsicóticos, com exceção da o Os pacientes costumam estar mais
clozapina, apresentam eficácia comparável quanto ao interessados com os acontecimentos que
controle dos sintomas psicóticos, com diferenças de os trouxeram até o estado atual do que
tamanho de efeito mínimas. O diferencial terapêutico dos com o conjunto dos seus sintomas.
IAGO M. ALMEIDA – MEDICINA – UFBA – TURMA 255 13

Referências

AVA – MEDB54 → PSIQUIATRIA

Emergências psiquiátricas [recurso eletrônico] / João Quevedo,


Ricardo Schmitt, Flávio Kapczinski (orgs.). – Dados eletrônicos. –
Porto Alegre : Artmed, 2008.

Emergências psiquiátricas / Leonardo Baldaçara ... [et al.]. - 2. ed. -


Rio de Janeiro : Elsevier, 2018.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais [recurso


eletrônico] : DSM-5 / [American Psychiatric Association ; tradução:
Maria Inês Corrêa Nascimento ... et al.] ; revisão técnica: Aristides
Volpato Cordioli ... [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto
Alegre : Artmed, 2014.

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