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01/08/2019 Cinema e política - Jornal O Globo

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Cinema e política
Não há notícia de que a família brasileira tenha se sentido desrespeitada com 'Bruna Surfistinha'

20/07/2019 - 19:20 / Atualizado em 20/07/2019 - 20:44

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O presidente Jair Bolsonaro e os governos do PT têm algo em comum: o horror às leis de incentivo à cultura. Em Bolsonaro
e nas administrações petistas, esse horror se manifesta na inveja, a inveja de não poder determinar o que a indústria
cultural deve produzir. Foi na presidência de Lula que a Lei Rouanet começou a ser demonizada, na época em que o
ministro da Cultura era Juca Ferreira. Ele queria que a renúncia fiscal prevista pela Rouanet só fosse aplicada em projetos
que o governo escolhesse. Não emplacou. E, de lá para cá, a Rouanet foi se transformando no vilão da história, até ficar
desidratada numa canetada de Bolsonaro.

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https://oglobo.globo.com/cultura/artur-xexeo/cinema-politica-23822148 1/5
01/08/2019 Cinema e política - Jornal O Globo

Nenhuma legislação importante de incentivo à cultura nasceu no governo PT. A Condecine, taxa que incide sobre toda a
atividade cinematográfica, é cria do Governo Geisel!! A Lei Roaunet nasceu no Governo Collor. A Lei do Audiovisual, a
Ancine e o Conselho Superior de Cinema surgiram no Governo Fernando Henrique.

A Ancine, que agora o presidente Bolsonaro ameaça fechar (“Se não puder ter filtro, nós extinguiremos a Ancine”, diz ele),
não produz cinema. Ela fomenta a produção. É essa a grande diferença da atual política cinematográfica da dos tempos da
Embrafilme. A Embrafilme era uma produtora. Tinha um orçamento anual e decidia, entre os projetos que lhe eram
apresentados, o que deveria ser filmado ou não. A Ancine fiscaliza, multa, regulamenta e, ocasionalmente, financia a
produção. Produtores de cinema, geralmente, utilizam a Lei do Audiovisual, um mecanismo de renúncia fiscal, semelhante
à Lei Rouanet. Como acontece com as produções financiadas pela Rouanet, o conteúdo da produção cinematográfica não
interfere na avaliação dos projetos pela Ancine. Se eles estão de acordo com a lei, recebem o aval da agência. Sem filtros.

Em outras palavras, a função das leis de cinema tem mais a ver com economia do que com cultura.

É isso que o presidente Bolsonaro parece não saber. A política de estímulo à cultura no Brasil criou, na área
cinematográfica, ao longo de quase 20 anos, uma atividade econômica que hoje emprega regularmente cerca de 300 mil
pessoas, mantém uma produção exuberante, é premiada no exterior. E, o melhor de tudo, a nossa política cinematográfica
ganhou o que de mais importante uma cinematografia pode almejar: diversidade.

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Mas Bolsonaro não vê nada disso. “Não pode é dinheiro público ser usado para filme pornográfico”, diz o presidente. Ele
citou “Bruna Surfistinha”, um filme de 2011, depois transformado em série de TV, como exemplo de desrespeito à família.
“Bruna Surfistinha” não é um filme pornográfico. E não há notícia de que a família brasileira tenha se sentido desrespeitada
com sua exibição. Na verdade, o filme atraiu muitas famílias, conquistando dois milhões de espectadores na época de seu
lançamento.

O presidente reclama que o Brasil não filma seus heróis. Diz que, quando usar o “filtro” na Ancine, vai valorizar o herói
nacional. Mais uma vez, ele está desinformado. O Brasil filma seus heróis, sim. A diversidade faz com que o povo brasileiro,
o grande herói nacional, esteja sempre presente nas nossas telas.

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