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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 016 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. CHARLES DE GAULLE


REQTE.(S) :PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) :CÂMARA DOS DEPUTADOS
ADV.(A/S) :ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO

VOTO VOGAL

A SENHORA MINISTRA ELIANA CALMON: Adoto o bem lançado


relatório proferido pelo e. Ministro Charles de Gaulle.
Conforme consignou Sua Excelência, trata-se de ação direta de
inconstitucionalidade em que a parte autora requer o reconhecimento de
inconstitucionalidade e a anulação de uma eleição indireta, onde foi realizada a
mesma para decidir que assumiria as cadeiras dos partidos que não existiam
mais, os que foram extintos, como Democratas (DEM) e Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB). Reproduzo o conteúdo da norma impugnada:

"Gabinete do Presidente da Câmara, André Corrêa.


O excelentíssimo Presidente da Câmara dos Deputados
Federais, André Corrêa, no uso das suas atribuições regimentais e
constitucionais, informa:
Inclui a notificação para todos os Líderes de Bancada da
Câmara dos Deputados Federais, para protocolarem os seus
candidatos para a eleição direta pelo motivo de renúncia, outrossim,
solicito que postem o ofício em projetos em trâmite até 21:00 do dia
atual.
André Gustavo Pereira Corrêa da Silva. Presidente da
Câmara dos Deputados Federais.”

Sustenta-se violação ao artigo 19, da Constituição da República.


O requerente sustenta a inconstitucionalidade formal da norma
impugnada com fulcro no artigo 19, § 1º, § 2º e § 3º, da Constituição da
República. Argumenta que, a Câmara foi contra nossa carta magna elegendo
deputados supostamente não eleitos pelo POVO, e sendo eleitos por
PARTIDOS.
Reproduzo o teor dos dispositivos constitucionais:
ADI 016 / DF

“Art. 19. A Câmara dos Deputados compõe-se de


representantes do povo, eleitos através de eleições proporcionais,
estas que seguem o quociente eleitoral e o quociente partidário;
ambos o dispostos a seguir:
§ 1º O quociente eleitoral define os partidos que terão
direito a ocupar as vagas em disputa nas eleições proporcionais.
§ 2º Determina-se o quociente eleitoral pela divisão do
número de votos válidos apurados pelo número de lugares a
preencher em cada circunscrição eleitoral, desprezada a fração se
igual ou se inferior a meio, equivalente a um, se superior.
§ 3º O quociente partidário define o número inicial de
vagas que cada partido terá ao alcançarem quociente eleitoral.”

A questão em debate descortina aspecto da jurisdição que merece reflexão.


A judicialização excessiva – e, não raro, prematura – de conflitos eminentemente
políticos empobrece os espaços de interlocução democrática e instiga o Poder
Judiciário a intervir em questões que poderiam ter sido solucionadas
satisfatoriamente através dos mecanismos típicos do processo político-
democrático.
Deveras, em um regime democrático, os poderes Legislativo e Executivo,
tanto quanto possível, devem resolver internamente seus conflitos e arcar com
as consequências políticas de suas próprias decisões.
Com efeito, não compete ao Poder Judiciário funcionar como atalho para a
obtenção facilitada de providências perfeitamente alcançáveis no bojo do
processo político-democrático, ainda mais quando, para tal mister, pretende-se
desprestigiar a regra constitucional em vigor. Não se desconhece que o processo
político-democrático é, por vezes, custoso, lento e incerto. Todavia, são os seus
distintos meandros procedimentais que permitem a justaposição sustentável
dos interesses em conflito, garantindo legitimidade ao produto das deliberações
políticas, quanto mais em temas como o objeto da presente ação. Com efeito,
discussões sobre o funcionamento das casas legislativas – o forum da
democracia representativa por excelência –, exacerbam mais ainda a
importância de soluções construídas na arena política, e não na arena judicial.
No entanto, uma vez instado a se manifestar, cabe ao Supremo Tribunal
Federal preservar a higidez da Constituição Federal. No curso da história
política de nosso país, diversos homens e mulheres de elevado espírito público,
sempre guiados pelo bem-comum, alternar-se-ão nos mais diversos cargos
diretivos dos três poderes da República. Compete ao Poder Judiciário, sempre

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ADI 016 / DF

que demandado, fortalecer a institucionalidade do funcionamento estatal e


fazer valer as regras do processo democrático, guiando-se mais pelas razões
públicas do que pela virtude das pessoas que dele participam. Não à toa, o
Estado de Direito no seu verniz contemporâneo assenta-se na máxima de um
governo das leis em detrimento de um governo dos homens.
Nesse sentido, a tarefa primeira da jurisdição constitucional consiste em
transformar os valores cristalizados no texto da Constituição em norma
concretamente obedecida no mundo real, fortalecendo em cada cidadão do país
o senso de lealdade à ordem jurídica. Trata-se de missão permanente e
inarredável deste Supremo Tribunal Federal, cumprida diuturnamente no
lançar de cada decisão judicial que efetivamente prestigia a voz do povo que se
encontra veiculada na Constituição.
No caso sub examine, a regra constitucional é direta e objetiva. O artigo 19,
§ 11º de seu texto dispõe que “Em caso de vacância do cargo de Deputado por
motivo adverso, caberá ao partido político nomear um novo Deputado perante
o Tribunal superior Eleitoral, este diplomá-lo-á; o mandato do substituto findará
com o fim da legislatura”.
Como se vê, o verbete de referência não consiste em norma principio
lógica, com elevado grau de abstração, ou que comporte múltiplos sentidos. A
regra estabelece que na vacância do cargo de deputado federal, pelos adversos
motivos, seja preenchida por um suplente, indicado pelo partido político ao
qual a vaga pertence.
No entanto observou-se que os partidos políticos que obtinham as vagas já
tinham sidos dados por extinto pelo Tribunal Superior Eleitoral. Nesse ponto, a
norma constitucional não indica o que deve ser feito. Mas não há como se
concluir pela possibilidade de eleições indiretas, nem o mesmo regimento
daquela casa cita tal fato. Tomando assim uma decisão autoritária, o então
Presidente da Câmara dos Deputados se equivocou ao convocar eleições
indiretas para as vagas vacantes, sem ao menos comunicar ao Tribunal Superior
Eleitoral sobre o fato.
Assim, ocorrido o âmbito naquela legislatura, o Presidente da Câmara dos
Deputados deveria ter procurado o TSE, para que o Tribunal proferisse uma
decisão ou resolução sobre a forma que deveria ser ocupada às vagas.
Assim, acompanhando o Eminente Ministro Relator, julgo
inconstitucional a convocação de eleições indiretas para ocupação da vacância
de vagas pela Câmara dos Deputados, mesmo que tenha sido declarada como
motivo de força maior.
É como voto

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