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O SHOW DE TRUMAN
Rio de Janeiro - RJ
2020
O exercício do controle sobre as pessoas e a ausência da liberdade é um tema que fascina
a humanidade, tornando-se tema de filmes e livros sobre as histórias de pessoas que foram
cerceadas em seu desenvolvimento ou tiveram a sua liberdade individual arrebatada. Posso citar
como exemplo os filmes “A Pele que Habito”, “Dogville” ou “Old Boy”, até clássicos da
literatura, tais como “1984” de George Orwell ou “O Processo” de Franz Kafka.
É dentro desse cenário que trago a minha reflexão sobre o filme “O Show de Truman”,
utilizando os conceitos de mediação simbólica, interação social e interiorização existentes na
abordagem sociointeracionista de Lev Vygotsky. Neste filme, temos um homem que viveu até
a idade adulta, em uma cidade situada dentro um grande estúdio, sem saber que a sua vida na
realidade era um programa de televisão.
Durante a exibição fica claro que o diretor do reality show busca criar um produto de
entretenimento e para isso utiliza-se de uma mediação simbólica superior, de forma a
influenciar e educar Truman na direção que considerava mais conveniente aos patrocinadores.
Nesse caminho, não mede esforços para criar situações de choque psicológico, mitigar sonhos
que pudessem prejudicar o andamento do programa, além de extirpar desejos – inclusive
impedindo um relacionamento amoroso ansiado pelo protagonista – que não fossem
condizentes com a trama planejada.
No entanto, por Truman ser humano, mesmo sendo suscetível aos estímulos da
sociedade criada ao seu redor, também possuía a capacidade de internalizar os conceitos
culturais e sociais aprendidos, interpretando-os e transformando-os. A internalização pressupõe
uma certa carga de liberdade: as pessoas podem reagir de formas diferentes aos mesmos
estímulos. Livros, filmes, interações interpessoais, traumas, tristezas e alegrias geram
aprendizados que podem fugir ao script pré-determinado. O sujeito é ativo em seu processo de
desenvolvimento, por mais controlado que seja o ambiente no qual ele está inserido.
Se o homem somente se torna humano através da interação social, Truman toma posse
do seu processo ao decidir desvincular-se do mediador todo poderoso do show, ao qual estava
preso, e buscar uma vida que não estivesse milimetricamente planejada para o anunciante da
vez. Sua transição final se dá ao abandonar de forma consciente o show, transformando de
forma irremediável a interação com a sociedade criada ao seu redor.
Com essa ação ele não apenas modifica o seu ambiente, ele o destrói.
Bibliografia:
BOCK, Ana M. B.; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes T. Psicologias: Uma
introdução ao estudo de Psicologia. 15. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2020.