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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

INSTITUTO DE CIÊNCIA, ENGENHARIAS E TECNOLOGIA


CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

ELEMENTOS DA TEORIA DA RELATIVIDADE ESPECIAL

Marvin Oliveira

Teófilo Otoni

2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI
INSTITUTO DE CIÊNCIA, ENGENHARIAS E TECNOLOGIA

ELEMENTOS DA TEORIA DA RELATIVIDADE ESPECIAL

Marvin Oliveira

Orientador(a):

Prof. Dr. Deborah Faragó Jardim

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia,
como parte dos requisitos exigidos para a con-
clusão do curso.

Teófilo Otoni

2019
Oliveira, Marvin.
Elementos da Teoria da Relatividade Especial / Marvin Oliveira - 2019.
50.p

1. Relatividade Especial; 2. Física, I. Título.


CDU xxx.xx

ii
ELEMENTOS DA TEORIA DA RELATIVIDADE ESPECIAL

Marvin Oliveira

Orientador(a):
Prof. Dr. Deborah Faragó Jardim

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia,
como parte dos requisitos exigidos para a con-
clusão do curso.

APROVADO em / / .

Prof. Dr. Alexandre Faissal Brito – Instituto de Ciência, Engenharia e Tecnologia

Prof. Dr. Márcio Macedo Santos – Instituto de Ciência, Engenharia e Tecnologia

Prof. Dr. Deborah Faragó Jardim – Instituto de Ciência, Engenharia e Tecnologia

iii
Dedico todo o esforço que depositei neste tra-
balho à Maria Carvalho Coman, (in memorian),
minha eterna companheira.

iv
“Se vc não quiser engordar basta permane-
cer em repouso”.

v
RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo desenvolver matematicamente os conceito da Te-


oria da Relatividade Especial de modo que o acesso a tais equações possa ser mais democrático
e palatável a entusiastas e estudantes do tema. Pretende-se demonstrar o surgimento de toda a
premissa da relatividade, em geral, partindo dos estudos de Galileu até os estudos de Einstein
e como se deu o desenvolvimento das principais equações envolvidas na construção dessa nova
área da física, bem como apresentar as suas interpretações. Além de discutir os principais pon-
tos controversos acerca da Teoria da Relatividade Especial pretende-se, ainda, disponibilizar ao
leitor as ferramentas matemáticas e conceituais para o entendimento do assunto, recorrendo à
parte histórica.

Palavras-chave: Relatividade, Éter, Mecânica Relativística, Espaço, Tempo, Massa de Re-


pouso, Massa Relativística.

vi
ABSTRACT

This work aims to mathematically develop the concept of Special Relativity Theory so
that access to these equations can be more democratic and palatable for enthusiasts and students
of the theme. It is intended to demonstrate the emergence of all premise of relativity in general
from Galileo studies to Einstein studies and how did the development of the main equations
lead to the construction of this new area of physics, as well as presenting their interpretations.
In addition to discussing the main controversial points about the theory of special relativity,
mathematical and conceptual tools for understanding the subject and historical facts are also
provided.

Keywords: Relativity, Ether, Relativistic Mechanics, Space, Time, Resting Mass, Relativistic
Mass.

vii
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
2 MECÂNICA CLÁSSICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.1 Teoria da Relatividade de Galileu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.2 Eletromagnetismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.3 Em busca do Éter . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.4 Transformações de Lorentz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.5 Transformações de Lorentz - Associação de velocidades . . . . . . . . . . . . . . . 15
3 MECÂNICA RELATIVÍSTICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.1 Postulados da relatividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.2 Relatividade da simultaneidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.3 Massa de Repouso, Relativística e Momento Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.4 Limite cósmico da velocidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.5 Energia Cinética relativística e Energia de Repouso . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.6 Equação Quadrática da Energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.7 Efeito Compton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4 ELUCIDÇÕES SOBRE A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA . . . . . . 33
4.1 Espaço, Tempo e seus efeitos relativísticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.2 Viagem no tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.3 Energias de repouso e relativística e suas notações . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
4.4 Sobre o Efeito Cherenkov . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
APÊNDICE A – DEDUÇÃO DA EQUAÇÃO DE ONDA DA LUZ . . . . . . . . . . 42
APÊNDICE B – DEMONSTRAÇAO DA PROPRIEDADE ROTACIONAL DO RO-
TACIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
APÊNDICE C – ENCONTRANDO COEFICIENTES OBTIDOS NA SEÇÃO 2.4 . 47
APÊNDICE D – SOLUÇÃO DA INTEGRAL DA ENERGIA CINÉTICA . . . . . . 49

viii
1 INTRODUÇÃO

A Teoria da Relatividade Especial é um dos pricipais temas da física moderna. Talvez o


principal trabalho de Einstein tenha permitido que os físicos tivessem outro modo para observar
a natureza, atribuindo conceitos novos de espaço e tempo através de um dos maiores postulados
da física, a constância da velocidade da luz. Com isso, foi possível ampliar o conhecimento
acerca da natureza construído até então e descrever um novo universo, antes desconhecido, para
os físicos e a população do século XIX.

Após as ideias de Einstein o mundo da física passou por quebras de paradigmas exigindo
uma grande abstração dos cientistas da época. Os dois postulados da Teoria da Relatividade
Especial dão origem a conceitos de espaço e tempo relativos, que na época causou bastante
estranheza em toda a comunidade científica, principalmente por ir de encontro às premissas
que regiam a Mecânica Clássica de Newton e Galileu. No entanto, o trabalho de Einstein
em reestruturar essa área do conhecimento era extremamente organizado matematicamente,
permitindo assim a sua verificação com o passar do tempo. Com a adoção desse novo modo de
se observar a natureza, tornou-se possível grandes avanços tecnológicos e teóricos nas diversas
áreas do conhecimento humano, como a explicação dada por Arthur Holly Compton em 1922
a respeito do espalhamento de raios X, que só pode ser formulada através do uso das equações
provenientes da Teoria da Relatividade Especial.

Tantas mudanças provocadas pela Teoria da Relatividade Especial, e mais tarde pela Te-
oria da Relatividade Geral, fizeram de Einstein uma grande celebridade na época. Desta forma,
todo o seu trabalho se tornou popular entre o público geral, fazendo com que muitas pessoas
se interessassem e se apaixonassem pelo mundo da física em geral. Essa popularização dos
seus trabalhos às vezes provoca uma disseminação de informação que não é exatamente a que
Einstein queria passar. É comum pessoas reduzirem o seu trabalho em frases como ,"Tudo é re-
lativo!", ou, "Einstein provou que Newton estava errado!", entre outras. Esses tipos de enganos
são extremante comuns, principalmente em redes sociais, o que é perfeitamente compreensível,
visto que os conceitos da Teoria da Relatividade Especial não são tão fáceis de se entender. A
maioria da população que segue esse tipo de fala desconhece totalmente o grande, e complexo,
desenvolvimento matemático por trás da parte filosófica e das frases de efeito a que elas se
referem.

Sendo assim, este trabalho busca demonstrar esse desenvolvimento matemático de forma

1
clara e elucidar os principais equívocos em relação à interpretação da Teoria da Relatividade Es-
pecial, para que o leitor possa compreender a sua real magnitude. Para isso, partiu-se de uma
pesquisa bibliográfica onde buscou-se definir a estrutura dos capítulos de forma que seguisse
uma ordem cronológica de fácil entendimento. A utilização dos próprios estudos e livros de
Einstein e de outros acadêmicos, como Ronaldo Rogerio Mourão, Bernhard Lesche, Cynthia
Philips, Shana Priwer, foram de suma importância para a contextualização histórica e interpre-
tação física dos conceitos trabalhados matematicamente ao longo dos capítulos.

O presente trabalho estrutura-se em três principais capítulos. O Capítulo 2 discute como


seu deu o surgimento dos conceitos de relatividade, referencial inercial e velocidades relativas
através dos estudos de Galileu. Este capitulo também apresenta a teoria de Maxwell sobre o
eletromagnetismo e suas consequências para o mundo da física, a verificação da teoria do éter
executada por Michelson e Morley, além de apresentar o importantíssimo desenvolvimento ma-
temático feito por Hendrik Lorentz a respeito dos resultados negativos obtidos nos experimentos
na busca pelo éter.

No Capítulo 3 é abordado todo o estudo de Einstein, desde da apresentação dos postu-


lados da Teoria da Relatividade Especial passando por todas as consequências que eles trazem
para o campo da física. Apresenta-se ainda neste capítulo o desenvolvimento matemático de
conceitos como tempo e espaço relativos, relatividade da simultaneidade, massa de repouso e
massa relativística, momento relativístico e energias de repouso e relativística, além da aplica-
ção direta desses conceitos no Efeito Compton.

No Capítulo 4 é feita uma abordagem acerca dos principais equívocos que envolvem a
Teoria da Relatividade Especial, buscando esclarecê-los e demonstrar o real significado por trás
da parte mais filosófica dentre os conceitos desenvolvidos nesse texto.

2
2 MECÂNICA CLÁSSICA

2.1 Teoria da Relatividade de Galileu

Os estudos de Galileu foram muito importantes para todo o desenvolvimento da cine-


mática clássica. Umas das principais ideias estudadas por Galileu foram as percepções sobre o
movimento. Alguma destas podem ser consultadas em sua obra Discorsi e demostrazioni ma-
tematiche do ano de 1988, em que, através de experiências à respeito da queda de corpos, ele
pode desenvolver as ideias de movimento relativo e referenciais inerciais.

Um dos problemas analisados por Galileu na obra supracitada, foi o comportamento de


corpos em planos inclinados. O estudioso constatou, principalmente, que corpos de massas
diferentes caem com a mesma taxa de variação de velocidade quando não há a resistência do ar.
Tais estudos foram importantes para conceber, pela primeira vez na história, a ideia de inércia.

Nos planos inclinados descendentes está presente uma causa de aceleração, enquanto
nos planos ascendentes está presente uma causa de retardamento; segue-se disso ainda
que o movimento sobre um plano horizontal é eterno, visto que, se é uniforme, não
aumenta nem diminui, e muito menos se acaba (GALILEU, 1988 apud CINDRA,
2014).

Aliando as ideias de velocidade constante e movimento uniforme é possível descrever


o que hoje é chamado de referencial inercial, ou seja, um referencial que se desloca em mo-
vimento uniforme como se estivesse em um plano horizontal eterno. As propriedades acerca
dos referenciais inerciais foram constatadas por Galileu, uma vez que ao realizar determinadas
experiências, tanto em solo quanto em um barco no mar, sob movimento uniforme, os mesmos
resultados eram observados para ambos os casos. Dessa forma, considerando o planeta Terra
como um referencial inercial, assim como o barco, independente de onde a experiência fosse
realizada, sempre apresentaria as mesmas soluções. Tal conceito pode ser expresso da seguinte
forma:
Se K for um sistema de coordenadas galileano, todo outro sistema de coordenadas
K’ que executa em relação a K um movimento de translação uniforme também é um
sistema de coordenadas galileano. Em relação a K’, as leis da mecânica de Galileu-
Newton são tão validas como em relação a K (EINSTEIN, 1952).

Portanto, para melhor análise dos efeitos desse princípio, será ultilizado uma composi-
ção de referenciais inerciais, o primeiro com relação à Terra, estará em repouso e será repre-
sentado pela notação S, o segundo em movimento uniforme com velocidade vx em relação à S
e será representado pela notação S0 .

3
A fim de facilitar os cálculos, será considerado que o referencial S’ somente se movi-
menta ao longo da coordenada x. Entretanto, o raciocínio desenvolvido se estende às demais
coordenadas y e z. Observa-se na figura 2.1 a seguinte relação entre os vetores R, r e r0 , como
sendo

r = r0 + R . (2.1)

Figura 2.1: Associação de referenciais inerciais

O referencial S’ se move com uma velocidade vx constante em relação ao referencial


S. Então, de acordo com os conceitos de referenciais inerciais apresentados anteriormente, é
possível dizer que R = vxt, no que resultará em

r = r0 + vxt .

Como o movimento só ocorre na direção do eixo x, são enunciadas as seguintes equações,


chamadas de transformações de Galileu:

x = x0 + vxt

y = y0

z = z0

t = t0 .

4
Seguindo com essa análise é possível encontrar outra relação proposta por Galileu: a associação
de velocidades. Para tanto, deriva-se a equação 2.1 com relação ao tempo, obtendo,

dr dr0 dR
= +
dt dt dt

ou seja,

v = vx + v0 . (2.2)

Esse estudo feito por Galileu possibilitou descrever matematicamente a relação entre
dois referencias inerciais e determinar a velocidade relativa entre eles. Essas ideias foram a
base para a construção de toda a mecânica que surgiu nas décadas seguintes, sendo considera-
das verdadeiras por séculos, até entrarem em conflito com as ideias advindas da unificação do
magnetismo e eletricidade no século XIX.

2.2 Eletromagnetismo

No inicio do século XIX, toda a mecânica era satisfatoriamente descrita pelas leis desen-
volvidas por Newton e Galileu, no entanto, um novo ramo da física passou a expandir-se após
a descoberta do elétron: o eletromagnetismo. Entretanto, naquela época o eletromagnetismo
ainda era entendido como duas ciências distintas, sendo eletricidade e magnetismo fenômenos
estudados separadamente. O estudo destas ciências levou a um grande avanço na parte teórica
da física, ao passo que também permitiu um grande desenvolvimento industrial.

Cientistas como Coulomb, Gauss, Ampere, Ohm, Orsted, dentre muitos outros se dedi-
caram ao estudo do eletromagnetismo. Com isso os fenômenos elétricos e magnéticos puderam
ser descritos por apenas quatro leis, sendo elas as Leis de Coulomb, Gauss, Ampère e Fara-
day. Entretanto, apesar de terem expressiva correlação ainda não se observava simetria entre as
mesmas.

No mesmo período, um cientista chamado James Clerk Maxwell(1831-1879) começou


a estudar essas quatro leis. Maxwell, intrigado com as equações da eletricidade e magnetismo,
percebeu que havia uma grande semelhança entre elas, mesmo explicando fenômenos diferen-
tes. Com isso, em um ato estritamente teórico, deduziu que deveria ter um termo que unisse tais
equações, dando assim outras soluções às mesmas.

5
As quatro equações de Maxwell, na sua forma diferencial, são

ρ
Lei de Gauss ∇ • E =
ε0
Lei de Gauss para o magnetismo ∇ • B = 0
∂B
Lei de indução de Faraday ∇ × E = −
∂t
∂E
Lei de Ampère ∇ × B = µ0 J + µ0 ε0 .
∂t

As variáveis E e B representam os campos elétrico e magnético enquanto µ0 , ε0 ,ρ e J são


permeabilidade no vácuo, permissividade no vácuo, carga elétrica e corrente de deslocamento,
respectivamente.

Uma das contribuições das equações de Maxwell foi a prova teórica da luz como efeito
eletromagnético ondulatório e de velocidade constante1 que obedece as mesmas leis do eletro-
magnetismo.

É importante notar que o valor teórico para a velocidade da luz encontrada por Maxwell
é semelhante aos valores encontrados por outros cientistas. Hippolyte Fizeau (1819-1896),
por exemplo, foi o primeiro a medir a velocidade da luz experimentalmente, através de uma
máquina constituída de espelhos, fonte de luz e uma roda dentada em movimento, como pode
ser visto na figura 2.2. Além disso, foi capaz de verificar os momentos onde a luz era bloqueada
pelos dentes da roda e, assim, calcular a velocidade da luz. Este experimento foi aperfeiçoado
por Jean Bernard Léon Foucault (1819-1868) anos mais tarde. Em 1888, Heinrich Rudolf Hertz
(1857-1894) conseguiu gerar as ondas eletromagnéticas de Maxwell em seu laboratório.

Figura 2.2: Experimento de Fizeau

Fonte: Física Lab


1 Consultar o Apêndice A

6
Entretanto, essas novas leis propostas por Maxwell não estavam de acordo com a mecâ-
nica clássica, mais precisamente com o princípio da relatividade, pois não eram invariantes entre
referenciais inerciais. Isso fez com que o mundo da física tornar-se polarizado entre cientistas
que apoiavam as ideias de Maxwell e outros que seguiam os ensinamentos de Galileu-Newton.

Para amenizar as questões dissonantes entre os estudos de Galileu-Newton e a consta-


tação de Maxwell, os físicos da época sugeriram que a luz deveria se propagar em um meio
que a favorecesse, sendo então chamado de éter. Entretanto, para consolidar tal suposição era
necessário provar a existência de tal meio.

2.3 Em busca do Éter

Como foi constatado por Maxwell, a luz é uma consequência direta dos efeitos de cam-
pos variáveis elétricos e magnéticos que se propaga como uma forma de onda que possui ve-
locidade bem definida. Como alternativa à adequação da proposta de Maxwell para o com-
portamento dissonante da luz com relação aos estudos de Galileu-Newton, físicos da época
propuseram a existência de um meio que permearia o universo e permitiria a propagação da luz
em forma de onda, denominado éter. Esse meio atuaria como um referencial onde as leis de
Maxwell seriam invariantes sob as transformações de Galileu, tornando, portanto, plausível a
medição da velocidade da luz como constante.

De acordo com Einstein (1907), partindo dessas afirmações, as equações de Maxwell


faziam sentido, porém isso implicaria na existência de um referencial privilegiado, o que é
dissonante ao princípio da relatividade enunciado por Galileu. As concepções em torno dos
mecanismos de funcionamento do éter foram teorizadas por cientistas, no intuito de permitir
o entendimento das Teorias do Eletromagnetismo de Maxwell e a Mecânica Clássica e suas
respectivas correlações. Muitos experimentos e estudos foram feitos, no entanto o mais fa-
moso e importante para o desenvolvimento da Teoria da Relatividade Restrita foi efetuado por
Michelson e Morley na tentativa de medir a velocidade da Terra em relação ao éter.

O princípio do argumento usado nos experimentos realizados por Michelson e Morley


foi o seguinte: sabe-se que a Terra está em constante movimento, por isso deve ter uma veloci-
dade relativa ao éter, se fosse possível medir essa velocidade, seria comprovada a existência do
mesmo.

No intuito de medir a velocidade da Terra em relação ao éter os cientistas construíram

7
um interferômetro, aparelho que consistia em braços de igual tamanho L, em forma de cruz
e espelhos planos(E1 e E2) e semitransparente (E3), e uma fonte emissora de luz, conforme
apresentado na figura 2.3. Os espelhos E1 e E2 são de reflexão total enquanto o espelho E3
reflete metade da luz e deixa passar a outra metade. Os caminhos realizados pelos feixes são
indicados na figura 2.3 pelos números A, B, C, D. Inicialmente, a luz parte da fonte e chega
ate o espelho 3 que permite que metade da intensidade atravesse o espelho e a outra metade
seja refletida. Como o espelho 3 está posicionado a 45o da trajetória do feixe incidente, os
feixes refletido e transmitido estariam perpendiculares entre si, como se desejaria. Como os
dois feixes precorrem os caminhos 1 e 4, mas somente metade percorre o caminho 2 e a outra
metade percorre o caminho 3, apenas esses dois últimos são relevantes nessa análise (LESCHE,
2005).

No funcionamento do interferômetro um feixe de luz era emitido pela fonte, se dividia


em E3 e era recuperado no detector. Como a ideia principal da época era a crença na existência
do éter, acreditava-se que haveria uma diferença no tempo de chegada dos feixes. Com isso,
um padrão de interferência destrutiva apareceria no detector permitindo concluir que um dos
feixes lançados pela fonte teria interagido com éter, retardando seu movimento e causando um
atraso no tempo de chegada, justificando assim o padrão de interferência destrutiva esperado.
É importante notar que não só a Terra está em movimento, mas também o interferômetro, que

Figura 2.3: Interferômetro de Michaelson e Morley

8
nesse caso, possui sua mesma velocidade V . Como os braços do interferômetro são perpendicu-
lares é razoável afirmar que algum deles deverá interagir com o éter quando se encontrarem no
alinhamento correto. Esse experimento foi realizado à exaustão, considerando a movimentação
do interferômetro em vários sentidos e direções. Portanto, será analisado como esses feixes de
luz se comportam no interferômetro, pois percorrem dois caminhos diferentes.

De acordo com Lesche (2005), o tempo que um dos feixes precisará para percorrer o
caminho 2, cujo braço é paralelo à velocidade do interferômetro, será
L L
tB = + ,
c+v c−v
ou ainda,
 
2L 1
tB =
c 1−β2
onde β 2 = v2 /c2 .

Usando a aproximação (1 + x)n ' 1 + nx desde que (xn), resultando na seguinte equa-
ção
 
2L 2
tB = 1+β . (2.3)
c

Por sua vez, o feixe que percorre o caminho 3, sendo perpendicular à velocidade do
interferômetro, terá sua trajetória descrita de acordo com o triângulo appresentado na figura
2.4. A linha vertical representa o braço do interferômetro e a horizontal representa a distancia
percorrida pelo interferômetro, equanto a diagonal representa a distância percorrida pela luz
durante sua ida do espelho 3 ao espelho 1. Portanto, o caminho percorrido pela luz será dobro
desse, bem como o tempo gasto no percursso total. Daí, usando o teorema de pitágoras para

Figura 2.4: Interferômetro de Michaelson e Morley

relacionar os lados do triângulo retângulo,

c2t 2 = L2 + v2t 2

9
é possivel obter o tempo t de ida da luz no caminho 3, ou seja,

L
t = r .
v2
c (1 − 2 )
c
o tempo total tC será, portanto, o dobro do anterior, isto é,

2L
tC = p , (2.4)
c (1 − β 2 )

onde novamente β 2 = v2 /c2 .

Recorrendo à mesma aproximação utilizada na equação 2.3, a expressão anterior fica

β2
 
2L
tC = 1+ . (2.5)
c 2

Realizando a diferença ∆t entre os dois tempos tC e tB , obtem-se

L 2
∆t = β . (2.6)
c

Como apontado por Maxwell a luz apresenta comportamento ondulatório. Nesse caso
pode ser interessante dividir toda a expressao 2.6 pelo periodo T da onda, tal que T = λ /c,
obtendo assim uma quantidade admensional, ou seja,

∆t L 2
= β .
T λ

Como os valores de β , L e λ são conhecidos, é possível estimar o valor da interferên-


cia. Se o valor da razão ∆t/T for um número inteiro, resultará numa interferência construtiva,
caso contrário o resultado será uma interferência destrutiva. Michelson esperava ter um padrão
de interferência destrutivo no detector, entretanto, o resultado obtido não foi o esperado. Ao
final, as duas ondas não apresentaram diferença entre suas fases. O experimento foi replicado
inúmeras vezes, em locais e horários diferentes, mas, ainda assim, o mesmo resultado inespe-
rado permanecia, de modo que era necessário desenvolver alguma teoria que explicasse tais
resultados.

2.4 Transformações de Lorentz

Após os resultados negativos e inesperados dos experimentos de Michelson e Morley,


surgiram vários argumentos para tentar contorná-los, tudo em favor da manutenção do éter. Um

10
desses argumentos foi proposto pelo físico George Francis Fitzgerald (1851-1901) que atribuiu
a justificativa dos resultados insatisfatórios de Michelson e Morley a uma contração de um dos
braços do interferômetro ao interagir com o éter. Hendrik Antoon Lorentz (1853-1928) foi
quem deu ouvidos a essa hipótese e resolveu, num esforço meramente matemático, desenvolver
fórmulas que pudessem descrever esse fenômeno.

Para encontrar essas transformações, estabeleceu-se um referencial estacionário em re-


lação a Terra, denotado de S, e um em movimento uniforme em relação ao referencial estático,
denominado S0 , conforme apresentado na figura 2.5.

Figura 2.5: Fontes Pontuais

Nesse ponto da história, com relação aos conhecimentos dos fenômenos da física, já era
conhecido através dos trabalhos de Maxwell, entre outros a constância da velocidade da luz no
vácuo. Considerando que exitem fontes pontuais em cada origem na figura 2.5, emitindo luz em
todas as direções, as frentes de onda nos referenciais S e S0 podem ser descritas, considerando
r = ct, pelas equações

c2t 2 = x2 + y2 + z2 (2.7)

c2t 02 = x02 + y02 + z02 (2.8)

Sendo r = r0 , isto é, c2t 2 = c2t 02 é necessário encontrar uma transformação entre os referenciais
que obedeça aos postulados da relatividade de Galileu e que mantenha essa equivalência. De
acordo com Einstein (1952), é possivel obter essas transformações lineares através da sua forma
matricial.

11
Desta maneira, tem-se
   
x0 x
   
 0  
y  y 
  = M 
 0  
z  z 
   
t 0 t

sendo M uma matriz transformação 4x4, pode-se escrever a expressão matricial da seguinte
forma
    
x 0 a a12 a13 a14 x
   11  
 0   
y  a a22 a23 a24   y 
  =  21  
 0   
z  a31 a32 a33 a34   z 
    
t 0 a41 a42 a43 a44 t

multiplicando as matrizes à direita da igualdade, obtem-se as seguintes equações lineares, que


relacionam as coordenadas do referencial S0 com as do referencial S, ou seja,

x0 = a11 x + a12 y + a13 z + a14t

y0 = a21 x + a22 y + a23 z + a24t

z0 = a31 x + a32 y + a33 z + a34t

t 0 = a41 x + a42 y + a43 z + a44t

de modo a facilitar os cálculos, será considerado o movimento somente na coordenada x entre


os referenciais S e S0 , de tal modo que os eixos y e z de ambos os referenciais não dependerão
do tempo. Logo, o conjunto de equações acima se reduzirá a

x0 = a11 x + a14t

y0 = a22 y

z0 = a33 z

t 0 = a41 x + a44t

Como não existem efeitos relativísticos nos eixos de coordenadas y e z, uma vez que
não possuem velocidades, é imediato admitir que a22 = 1 e a33 = 1, implicando nas seguintes
igualdades: y0 = y e z0 = z. Além disso, considerando x0 = 0 obtem-se 0 = a11 x + a14t, ou ainda,
v = −a14 /a11 , onde v = x/t (EINSTEIN,1952).

12
Logo, as expressões gerais para a transformação procurada serão

x0 = a11 (x − vt) (2.9)

y0 = y (2.10)

z0 = z (2.11)

t 0 = a41 x + a44t (2.12)

Para determinar completamente as equações acima é preciso calcular os coeficientes a11 ,


a41 , a44 . Para isso ultiliza-se as transformações na equivalência mostrada nas equaçoes 2.7 e
2.8 no início da seção, isto é, x02 + y02 + z02 − c2t 02 = x2 + y2 + z2 − c2t 2 , juntamente com as
equaçoes 2.9 a 2.12. Desse modo,

a211 (x − vt)2 − c2 (a41 x + a44t)2 = x2 − c2t 2

resolvendo os quadrados dos termos entre parênteses e colocando x2 , t 2 e 2xt em evidência, se


apresenta a seguinte relação

x2 (a211 − c2 a241 − 1) + 2xt(−a211 v − a41 a44 c2 ) + t 2 (a211 v2 − c2 a244 + c2 ) = 0 .

A equaçao linear acima fica resolvida quando

a211 − c2 a241 − 1 = 0

−a211 v − a41 a44 c2 = 0

a211 v2 − c2 a244 + c2 = 0

de modo que a solução2 para o sistema dessas três equações será

v 1
a41 = − 2
q
c 2
1 − vc2
1
a44 = r
v2
1− 2
c
1
a11 = r .
v2
1− 2
c
2A resolução do sistema pode ser encontrada no Apêndice C

13
Substituindo os coeficientes apresentados acima nas equações 2.9 e 2.12, obtem-se

1
x0 = q (x − vt)
2
1 − vc2
y0 = y

z0 = z
v 1 1
t0 = − 2
q x+ q t.
c v2
1 − c2 v2
1 − c2

É convencionado quando se trata de relatividade restrita, usar a letra grega γ pra se dirigir
1
à expressão matemática q e β para v/c. A quantidade definida por γ pode ser chamada
2
1 − vc2
de fator de Lorentz ou fator de correção. Desse modo o conjunto de equações acima que, trata
das transformaçoes de Lorentz, pode ser reescrito como (EINSTEIN,1952)

x0 = γ x − vt

(2.13)

y0 = y (2.14)

z0 = z (2.15)
 
vx
t0 = γ t− 2 . (2.16)
c

Analogamente, as transformações de Lorentz inversas se apresentam da seguinte forma

x = γ x0 + vt


y = y0

z = z0
vx0
 
t = γ t+ 2 .
c

As transformações de Lorentz foram de extrema relevância para o desenvolvimento da


Teoria da Relatividade Restrita de Einstein. Entretanto, a interpretação dada por Lorentz e
Henri Poincaré (1854-1912) era distinta da que Einstein estabeleceria a partir de seus estudos.
A crença no éter, que na época já estava sendo creditado como um fluido perfeito e indetectável,
fazia com que essas transformações não pudessem descrever o universo em totalidade, pois
mantinha-se sempre em função de algum efeito do éter.

14
2.5 Transformações de Lorentz - Associação de velocidades

Como visto na sessão 2.1 pode-se retirar uma relação entre as velocidades de dois corpos
das transformações de Galileu. Segundo Einstein (1952), é possível fazer o mesmo com as
transformações de Lorentz. Tomando a diferenciação da equaçoes de 2.13 e 2.16 e realizando a
fraçao v0x = dx/0 dt 0 , que determina a velocidade para a componente x, obtem-se,

γ · (dx − v · dt)
v0x =   (2.17)
v · dx
γ dt − 2
c
ou seja,

vx − v
v0x = . (2.18)
1 − vcx2·v

Fazendo o mesmo paras as coordenadas y e z no sistema S0 , facilmente se obtem

1 vy
v0y = · (2.19)
γ 1 − v·V2x
c
1 vz
v0z = · . (2.20)
γ 1 − v·v
c2
x

Analogamente, existem também as transformações inversas para as velocidades

v0x + v
vx = v0x ·v
(2.21)
1− c2
1 v0y
vy = · v·V 0
(2.22)
γ 1 − c2x
1 v0z
vz = · v·V 0
. (2.23)
γ 1 − c2x

Para melhor entendimento do exposto, propõe-se a realização de um exercício demons-


trativo a fim de esclarecer as questões envolvendo a magnitude das equações e suas relações
diretas com a Teoria de Maxwell. Para isso, imagina-se uma fonte parada no referencial S0 que
se move com uma velocidade v = 0, 8c em relação a S. Essa mesma fonte emite elétrons com
uma velocidade v0f = 0, 9c. Qual seria a velocidade vx dos elétrons, vista pelo observador em
S? Conforme os estudos de Galilleu sobre as velocidades relativas dos corpos pode-se concluir
que a velocidade dos elétrons medida no referencial S será 1.7c, uma vez que vx = v + v0f . En-
tretanto esse resultado não concorda com os experimentos realizados com a luz tampouco com
as equações de Maxwell, já que implica em um valor de velocidade maior do que a própria

15
velocidade da luz. Por outro lado, utilizando a soma de velocidades de Lorentz, apresentada na
equação 2.22, tem-se

v0x + v (0, 9 + 0, 8) · c
vx = v0x ·v
=
1+ c2
1 + 0,9·c·0,8·c
c2

que fornece o seguinte resultado

vx = 0, 988 · c .

Esse resultado parece ser mais razoável por estar de acordo com as predições do ele-
tromagnetismo, porém representa necessidade de complementação da Mecânica Clássica como
era conhecida na época. Em complemento, imagina-se que ao invés de emitir elétrons a fonte
emitisse luz, ou seja v0f = c. O que aconteceria com a velocidade medida pelo observador em S?
Mais um vez, aplicando a relação de velocidades de Lorentz, chega-se facilmente ao seguinte
resultado

v0x + v c + 0, 8 · c
vx = v0x ·v
=
1+ c2
1 + c·0,8·c
c2

isto é

vx = c .

Esse último resultado evidencia exatamente o que as equações de Maxwell e os ex-


perimentos com luz apontavam na época. A velocidade da luz é constante para qualquer o
observador e independe da velocidade da fonte. Além disso, comprova o segundo postulado da
teoria da Relatividade Restrita, que será visto mais a frente. Isso explica também o porquê dos
resultados nulos das experiências feitas por Michelson e Morley em relação ao éter.

16
3 MECÂNICA RELATIVÍSTICA

3.1 Postulados da relatividade

O ano de 1905 foi marcado pela publicação de diversos trabalhos de Albert Einstein
(1879-1955) em diferentes áreas da física. Um deles foi um artigo de nome On the electrodyna-
mics of moving bodies, onde o autor projeta uma nova visão sobre os efeitos das leis de Maxwell
e do éter, causando alvoroço no mundo da física, implicando na reabertura das discussões de
questões que já admitiam-se como finalizadas.

Nesse documento é enunciado pela primeira vez os postulados da Teoria da Relatividade


Restrita que era tratada por Einstein como relatividade dos comprimentos e do tempo.

• As leis que regem sistemas físicos permanecem, imutáveis para quaisquer referenciais
inerciais.

• Qualquer raio de luz irá se mover com uma velocidade c, independente se o mesmo for
emitido por um referencial em movimento ou estacionário.

Neste trabalho Einstein começa a se desligar do senso comum da época a respeito de


várias definições de grandezas físicas, tais como a velocidade da luz, definindo-a como uma
velocidade constante, independente da fonte ou do observador, e abandonando completamente
a ideia de um éter.

Para discutir as consequências desses postulados será feita uma análise usando a Me-
cânica Clássica e os princípios propostos por Einstein, na seguinte situação: É colocado um
relógio de luz dentro de um vagão em movimento retilíneo uniforme com uma velocidade v em
relação a um outro referencial S estacionário em relação a Terra, como mostra a figura 3.1. O
relegio funciona como um fonte emitindo um raio de luz na direçao de um espelho que o reflete
de volta marcando assim um ciclo.

17
Figura 3.1: Relógio de luz

Levando em conta primeiramente os conceitos de espaço e tempo clássicos, pode-se


dizer que, a velocidade da luz medida pelo observador em S0 será c0 = 2h/t, enquanto para o
observador em S, o valor medido1 será

c2t 2 v2 · t 2
= + L2
4 4

ou seja
r
2 2 v2 · t 2
c = L + .
t 4

Essas equações mostram que a velocidade da luz é sempre constante para o observador
que está no referencial S0 , mas não para observador em S. Sendo esta uma função da velocidade
do vagão, a velocidade da luz poderia assumir um valor próximo ao infinito à medida em que o
vagão aumentasse sua velocidade. Essa constatação não faz sentido, uma vez que a velocidade
da luz deve ser constante, como visto anteriormente.

Utilizando o mesmo exemplo anterior, partindo do postulado de Einstein de que a velo-


cidade da luz é uma constante, a medida efeuada deverá ser do tempo de ida e volta do raio de
luz dentro do vagão para os observadores, e não da velocidade. Daí, para o observador em S0 o
tempo medido será ∆t 0 = 2L/c, e para o observador S,

c2 · ∆t 2 v2 · ∆t 2
= + L2
4 4
2L 1
∆t = q
c 1 − v2
c2
1A trajetória da luz pode ser descrita como um triângulo, assim como no interferômetro de Michaelson visto
no cap. 2.3.

18
que escrita em termos de ∆t 0 fica

∆t = ∆t 0 γ .

Conforme o mesmo modelo de análise anterior, admite-se como objeto de estudo o


comprimento de uma régua de um metro, situada no interior do vagão do trem. Supõe-se que a
régua esta situada na origem do referencial S0 . Então x00 = 0 e x0f = 1, onde x00 e x0f são o início
e o fim da régua medidos no referencial S0 , respectivamente. Logo, para medir o tamanho da
régua no referencial S basta encontrar seu início e seu fim num determinado tempo t. Embasado
na transformação de Lorentz x0 = γ · (x − vt) e fazendo t = 0, obtem-se
r
v2
x = x0 · 1 − 2
c
Sendo assim,
r
v2
x0 = x00 · 1− 2 = 0
r c r
v 2 v2
xf = x0f · 1 − 2 = 1− 2
c c

Portanto, a distância medida pelo referencial S, entre o fim e o início da régua localizada
q
2
no vagão, é de 1 − cv2 . Logo, é possível notar que houve uma contração do comprimento e
que o mesmo depende diretamente da velocidade do vagão. Sendo assim, é razoável dizer que,
quanto maior for a velocidade do vagão mais o comprimento tenderá a 0 (EINSTEIN, 1952).
De acordo com Newton
O espaço é absoluto, por sua própria natureza sem nenhuma relação com algo externo,
permanece sempre semelhante e imóvel; o relativo é certa medida ou dimensão
móvel deste espaço, a qual nossos sentidos definem por sua situação relativamente
aos corpos, e que a plebe emprega em vez do espaço imóvel, como é a dimensão do
espaço subterrâneo, aéreo ou celeste definida por sua situação relativamente a terra
(NEWTON 1983, apud PINHEIRO, 2008).

O tempo, verdadeiro e matemático flui sempre igual por si mesmo e por sua
natureza, sem relação com qualquer coisa externa, chamando-se como outro nome
duração; o tempo relativo, aparente e vulgar é certa medida sensível e externa de
duração por meio do movimento (seja exata, seja desigual), a qual vulgarmente se usa
em vez do tempo verdadeiro, como é a hora, o dia, o mês, o ano
(NEWTON 1983, apud PINHEIRO, 2008).

Fica evidente o contraposição entre as ideias da Mecanica Newtoniana e da Mecanica Relati-


vística, onde no primeiro caso acreditava-se que o tempo e o espaço seriam absolutos, enquanto
para Einstein os mesmos seriam relativos por natureza.

19
Analisando os termos das equações apresentadas nesse capítulo, é possível perceber que
os tempos medidos pelos relógios dos referencias, ligados pelo fator γ, são diferentes e só seriam
iguais se γ = 1, implicando β = 0, lembrando que γ somente assumirá valores menores ou iguais
a 1. Portanto, conclui-se que o tempo ∆t medido no referencial estacionário é dilatado ou que
seu relógio é atrasado em relação ao relógio do referencial em movimento. Analogamente, o
mesmo ocorreria para a medida da régua e, por isso, cabe dizer que o instrumento de medida
teve seu tamanho contraído para o mesmo referencial em movimento.

A partir da diferença evidente entre as marcações de tempos e medidas em diferentes


referenciais, cabe também novas definições de tempo e espaço. Em relação ao tempo é con-
vencionado dizer que o tempo próprio é quando a marcação do mesmo é feita pelo observador
que está no referencial fixo em relação a Terra. O tempo próprio é definido pela notação ∆t0 .
De forma análoga, o comprimento próprio, ∆l0 , refere-se à medida do comprimento quando
realizada no referencial onde o objeto medido está estacionário (MOURÃO, 2005).

3.2 Relatividade da simultaneidade

Os conceitos de tempo e espaço diferem em demasia dos conceitos clássicos, principal-


mente em relação ao tempo, pois este, para a física clássica, seria absoluto.

O tempo absoluto implica que o mesmo passa igual para todos os tipos de referenciais,
ou seja, todos concordam em suas marcações de tempo, gerando assim o conceito de simulta-
neidade. Com isso, se um evento A acontece em um determinado tempo, em algum referencial,
todos os outros referenciais concordariam com a marcação do tempo em que esse evento acon-
teceu. Logo, o evento A seria simultâneo entre os referenciais.

Entretanto, o conceito de tempo relativístico, tornam essa sentença falsa e, para realizar
a verificação, considera-se um exemplo clássico, proposto pelo próprio Einstein e que pode ser
visto na figura 3.2. Considere um observador A, situado no meio de um vagão de trem que se
movimenta com uma velocidade v, em relação à margem da estrada, e um observador B, situado
na própria margem, equidistante das pocições inicial e final do vagão. Ambos os observadores
estão com relógios sincronizados entre si. Nesse intante o trem é atingido por dois raios, cada
um numa extremidade do vagão.

20
Figura 3.2: Corpo de referência

O observador B assumiria que os raios caíram ao mesmo tempo nas extremidades do


vagão. Entretanto, quando o mesmo evento é analisado pelo observador A, a resposta é diver-
gente. Apesar de estar parado em relação ao trem, o mesmo assume sua velocidade, então, se
movimenta em direção ao raio que cairá na frente do vagão e se afasta do raio que cairá atrás.
Logo, quando esses raios atingirem o vagão, espera-se que o observador A diga que os raios
caíram em tempos diferentes. Portanto, sob a ótica do observador A o raio que atingiu a frente
do vagão caiu antes do raio que atingiu a parte de trás do vagão (PHILIPS, 2003; PRIWER,
2003; EINSTEIN, 1952).

Desse modo, cabe a conclusão de que, como os dois observadores não concordam em
suas marcações de tempo sobre o evento discorrido, então os eventos dos raios atingindo o trem
não são simultâneos entre os referenciais. O que foi simultâneo para B. não foi para A, e o
contrário também é válido, pois os eventos que são simultâneos no referencial A não são para o
referencial B.

Cada corpo de referência (sistema de coordenadas) possui seu tempo próprio. Uma
especificação temporal só tem sentido quando se indica o corpo de referência ao qual
esta indicação se refere (EINSTEIN, 1952).

É importante notar que isso não aconteceria se o observador A não tivesse assumido a
velocidade do trem, uma vez que se isso não acontecesse, o mesmo marcaria o tempo igual ao
do referencial B e só assim os eventos seriam simultâneos.

3.3 Massa de Repouso, Relativística e Momento Linear

Os postulados propostos por Einstein também tem efeitos diretos na dinâmica da física
clássica, não limitando-se à cinemática. Antes de revisitar os conceitos da mecânica, é preciso
determinar a relação entre massa relativística e massa de repouso, também chamada de massa
própria.

21
Apesar da necessidade de revisão dos conceitos da mecânica clássica, relações como a
conservação do momento linear são mantidas na Teoria da Relatividade Restrita. Não obstante,
é preciso rever os conceitos de massa, pois a mesma precisa ser invariante sob as transformações
de Lorentz. Com isso, a massa seria também uma função da velocidade, definida como m = γm0
(MOURÃO, 2005). É possível verificar essa relação a partir da seguinte análise de colisão,
apresentada nas figuras 3.3 a 3.6.

Figura 3.3: Antes da colisão em S’ Figura 3.4: Depois da colisão em S’

Figura 3.5: Antes da colisão em S Figura 3.6: Depois da colisão em S

O esquema acima mostra a colisão entre duas partículas no referencial S0 , que se move
com velocidade v em relação a Terra. As partículas se movem uma de encontro a outra com ve-
locidade w, em módulo. Quando essa colisão é analisada no referencial S, que está em repouso
em relação à Terra, é fácil notar que se as partículas estiverem paradas imediatamente após a
colisão para um observador situado em S0 , para um observador em S, em repouso em relação à
Terra, após a colisão as partículas irão assumir a velocidade v do referencial S0 .

22
Na Teoria da Relatividade Restrita, ainda são válidos os conceitos de conservação de
energia e de momento. Sendo assim, a lei de conservação do momento para o referencial S fica

m1 w1 + m2 w2 = (m1 + m2 )v (3.1)

para saber as velocidades w1 e w2 no referencial S será usada a Associação de Velocidade de


Lorentz (equação 2.24), observando que as velocidades w01 e w02 são iguais em módulo, ou seja,
|w01 | = |w02 | = |w| (MELLO, 2011). Daí,

w+v
w1 = wv (3.2)
1+ 2
c
−w + v
w2 = wv (3.3)
1− 2
c
desta forma, a equação 3.1 pode ser escrita utilizando as velocidades, isto é,
" # " #
w+v −w + v
m1 wv + m2 wv = (m1 + m2 )v
1+ 2 1− 2
c c
ou ainda
wv2 # wv2 #
w− w −
" "
c2 = m2 c2
m1 wv wv .
1+ 2 1− 2
c c
Logo, pode-se escrever uma relação entre as massas das partículas envolvidas na colisão, tal
que a razão fica
wv
m1 1+ 2
= c
m2 wv . (3.4)
1− 2
c

Uma vez estabelecida a relação entre as massas, pode ser definida também uma relação
entre as velocidades. Tomando a equação 3.2 , elevando ao quadrado, dividindo toda expressão
por c2 e em seguida somando uma unidade nos dois lados da igualdade, obtem-se
" #
w21 1 (w + v)2
+1 = 2 +1
c2 c (1 + wv )2
c2
ou ainda
" w v 2#
w21 ( + )
1− 2 = 1− c c
c wv
(1 + 2 )2
c

23
resolvendo o produto notável obtem-se a expressão final
" #" #
w2 v2
1− 2 1− 2
w21 c c
1− 2 = #2
c
"
wv
1+ 2
c

cujo análogo para a velocidade w2 terá a seguinte forma


" #" #
w2 v2
1− 2 1− 2
w22 c c
1− 2 = #2 .
c
"
wv
1− 2
c

Então, a razão entre as expressões para w2 e w1 fica


" #2
wv
w22 1+ 2
1− c
c2 = " #2 .
w21 wv
1− 1− 2
c2 c

Extraindo a raiz quadrada e reagrupando a equação, por fim, obtém-se a relação entre as velo-
cidade w2 e w1
r
wv w22
1+ 2 1−
c = r c2 . (3.5)
wv
1− 2 w2
c 1 − 21
c

Portanto, é possível notar que existe uma semelhança entre a relação das massas, dada
pela equação 3.4, e a relação das velocidades dada pela equação 3.5. Desse modo é possível
achar a relação geral entre as massas e as velocidades no processo de colisão observado no
referencial estacionário S (MELLO, 2011)
r
w22
m1 1− 2
= r c
m2 w2
1 − 21
c
ou ainda
s s
w21 w22
m1 1− = m2 1− .
c2 c2

24
Analisando o caso específico onde a m2 está parada, imediatamente antes da colisão,
portanto w2 = 0 no referencial S, a equação acima pode ser reduzida a
1
m1 = r m2 .
w21
1− 2
c
É possível generalizar essa equação fazendo w1 = v, e como a massa m2 está parada, nesse caso,
atribuímos a ela o nome de massa de repouso, mo , e à massa m1 atribuímos o nome de massa
1
relativística, m, pois a mesma está em movimento. Sendo γ = r
v2
1− 2
c
m = γm0 .

Como explicado no início da seção, e dada a comprovação obtida, a massa é uma fun-
ção da velocidade, sendo m0 a massa de repouso, isto é, a massa do corpo quando ele está
parado. Por sua vez m é a massa relativística, ou seja, a massa do corpo que se encontra a uma
determinada velocidade v.

Dado os cálculos desenvolvidos, pode-se reescrever uma nova equação para o momento,
usando justamente a equivalência das massas

P = γm0 v .

Esta equação, obtida através de uma análise relativística de uma colisão, obedece não
só ao princípio de conservação do momento, mas também a invariância sob as transformações
de Lorentz. Entretanto, ressalta-se que para baixas velocidades a nova equação do momento se
reduz a equação do momento clássico proposta por Newton, pois se γ = 1 a expressão se reduz
ao caso clássico P = mv. Isso mostra que as leis de Newton não estão erradas, apenas limitadas
ao mundo das baixas velocidades.

3.4 Limite cósmico da velocidade

Umas das consequências do conceito clássico do momento era a possibilidade de um


corpo assumir velocidades infinitas. Aplicando uma força constante em um corpo, durante um
tempo indeterminado, este assumirá velocidades gradualmente mais altas. Assim, admite-se que
a velocidade possa assumir valores maiores do que a da luz. Entretanto, isso acontece na visão
clássica do momento e, diante de todos os estudos sobre a velocidade da luz e os postulados da
Teoria da Relatividade Restrita, tal afirmação não pode ser sustentada.

25
Como visto no capítulo 3.1, a velocidade da luz é um limite de velocidade imposto pela
natureza. Assim, é possível verificar tal limite através do momento relativístico, onde aplicando
uma força constante sobre um corpo, por tempo indeterminado, sua velocidade não atingirá
valores maiores que a da luz e seu momento não crescerá kinearmente como pode ser visto na
figura 3.7.

Figura 3.7: Relação entre momento clássico e relativístico

Fonte: IFGW

Assim, P = γm0 v, quando elevada ao quadrado e escrita em termos de β fica

m20 v2
P2 = .
1−β2

Multiplicando toda a expressão por c2 /c2 e reorganizando para isolar β 2 obtem-se

P2
β2 =
P2 + m20 c2

Analisando a expressão acima, o denominador é sempre maior do que o numerador, isso


implica que β seja sempre menor do que 1, lembrando que β = v/c, então v sempre será menor
que c. Mesmo se o momento tender ao infinito, ainda assim β tenderá a 1. Portanto, conforme
Einstein (1952), a velocidade tem que permanecer sempre menor que c, por maiores que sejam
as energias empregadas para produzir a aceleração.

Toda essa análise, aliada aos trabalhos desenvolvidos anteriormente, comprovam a ve-
locidade da luz como um limite universal para a velocidade.

26
3.5 Energia Cinética relativística e Energia de Repouso

Uma das atribuições mais importantes da análise mecânica da relatividade restrita são as
considerações em relação à energia. Assim como o momento relativístico, é possível também
estabelecer uma relação da energia cinética relativística. O teorema Trabalho - Energia Cinética,
Rx
isto é Ek = 0 F dx, ainda é válido na Teoria de Einstein (MELLO, 2011). Logo, fazendo
F = d p/dt, onde P = γm0 v tem-se que
Z x
d(γm0 v)
Ek = dx
0 dt

ou ainda, sendo dx/dt = v,


Z v
Ek = d(γm0 v) dv
0

cuja a solução2 se apresenta da seguinte forma

Ek = m0 c2 (γ − 1) . (3.6)

É importante verificar que através dessas equações, assim como o momento relativístico se
reduz ao momento clássico em casos de velocidades muito baixas, a energia cinética relativística
também se reduz à clássica quando aplicadas nos mesmos casos.

A expressão da energia cinética pode ser apresentada matematicamente como a seguinte


série (EINSTEIN, 1952),
!
v2 3v4
Ek = m0 c2 1 + 2 + 4 ... − 1
2c 8c
v2 2 3v
4
= m0 c + m0 c 2 + m0 c 4 ... − m0 c2
2 2
2c 8c
v2 3v4
Ek = m0 c2 2 + m0 c2 4 ...
2c 8c

Nessa série, a relação entre v2 /c2 vai progressivamente ficando mais próxima de zero.
Sendo assim, os termos vão diminuindo em comparação com o seu anterior. Logo, para baixa
velocidades a contribuição para o valor total do segundo termo em diante se torna desprezível,
resultando somente em

m0 v2
Ek = .
2
2A resolução desta integral está desenvolvida no apêndice C

27
De acordo com a equação 3.6 a energia cinética pode ser escrita como

Ek = γm0 c2 − mc2

ou ainda

γm0 c2 = Ek + m0 c2 .

O termo à esquerda da equação representa a energia total. Sendo assim,

ET = Ek + m0 c2 ,

além disso, para no referencial o corpo está parado, ou seja, Ek = 0, ainda sobrará um termo de
energia na equação, referente à massa de repouso do corpo, isto é

E0 = m0 c2

onde a energia total, ET , se resume à chamada energia de repouso, E0 . Esta é uma das relações
mais famosas da física moderna. Conforme tal relação, entende-se que mesmo um corpo parado
ainda possui uma quantidade de energia intrínseca a ele. Também revela a relação entre massa
e energia, umas das mais importantes, pois assim é teoricamente possível reduzir toda a massa
de um objeto em energia pura.

Esse princípio foi utilizado em 1945, na construção das bombas atômicas que viriam a
atingiram Hiroshima e Nagasaki. Por meio de uma reação de fissão nuclear, é possível gerar
dois átomos instáveis a partir de bombardeamento de elétrons em um átomo primordial, até
que o mesmo ficasse instável. Como as massas somadas desses dois átomos não chegam à
massa total do átomo primordial, toda a diferença de massa é convertida em energia, seguindo
a relação E0 = m0 c2 . Em Hiroshima, por exemplo, foram utilizados aproximadamente 4 mil kg
de Urânio-235 equivalente a 16 mil kg de TNT (BARROSO, 2009; OKUNO, 2014).

3.6 Equação Quadrática da Energia

De acorodo com Mello (2011) em alguns casos é interessante escrever a energia relati-
vística, E = γm0 c2 , em termos do momento relativístico, P = γm0 v, onde a energia escrita de
forma quadrática fica,

m20 c4
E2 = . (3.7)
1−β2

28
Com o objetivo de escrever a energia em função do momento, será feita a soma e a subtração
da expressão m20 c2 v2 no numerador da equação 3.8, isto é

m20 c2 (v2 − v2 + c2 )
E2 = .
1−β2

Observe que o momento quadrático, ou seja, P2 = m20 v2 /1 − β 2 já aparece na expressão acima.


Logo a forma quadrática da energia fica,

m20 c4 − m20 c2 v2
E 2 = P2 c2 +
1−β2
m0 c (c2 − v2 )c2
2 2
E2 2 2
= P c +
(c2 − v2 )

ou seja

E 2 = P2 c2 + m20 c4 .

Essa forma de escrever a energia relativística é muito conveniente, pois a partir dela é
possível desenvolver outras relações através da suposição de alguns casos.

Caso 1: Supondo que o corpo analisado possui energia cinética igual a 0, ou seja, mo-
mento igual a 0, pode-se reescrever a relação acima como

E 2 = m20 c4

isto é

E0 = m0 c2

Desse modo, através da expressão quadrática da energia é possivel obter a energia de repouso
feita na seção 3.5 por meio do Teorema Trabalho-Energia.

Caso 2: Supondo, agora, que o corpo analisado possui massa igual a 0, ou seja, m0 = 0,
de modo que m20 c4 = 0, a energia será simplesmente

E = Pc

Portanto, para que seja respeitada a equivalência de momento e energia, com base no
estudo apresentado até aqui, tal corpo deveria estar obrigatoriamente na velocidade da luz e,
consequentemente, não apresentar massa alguma. Esse objeto foi teorizado por Max Karl Ernst

29
Ludwig Plank (1858-1947) em 1900, o qual ele chamou de quanta. Mais tarde foi descoberto
que esse objeto nada mais era do que o que se conhece hoje como fóton.

Nessa mesma época, iniciava-se uma nova discussão sobre a comportamento da luz,
dividindo a origem da mesma entre a descrição ondulatória da teoria eletromagnética e a cor-
puscular da propagação da luz pela teoria do quanta. As equações de Einstein que relacionavam
momento e energia foram usadas pelos pais da mecânica quântica em defesa da teoria corpus-
cular da luz, como será discutido na próxima seção, embora o próprio não fosse condescendente
com tais ideias.

3.7 Efeito Compton

O efeito Compton se deve a Arthur Holly Compton (1892-1962) que, ao estudar espa-
lhamento de raios Gamma e raios X pela matéria, contribuiu imensamente para a construção
da mecânica quântica, fornecendo evidências experimentais sobre o comportamento do quanta,
chegando a ganhar o prêmio Nobel pelos seus estudos na área.

O experimento feito por Compton consistia em observar o que se sucedia a uma colisão
entre um quanta de raio X em movimento e um elétron em repouso. É importante lembrar que
essas análises demoraram para serem realizadas, levando em conta os verdadeiros significados
físicos dos raios X e Gamma. Até mesmo Compton no começo dos estudos não admitia uma
análise que não fosse pela Mecânica Clássica. Somente em 1919 ele propôs um diagrama,
apresentado na figura 3.8, usando o princípio da conservação do momento e a Teoria da Re-
latividade Restrita, desenvolvendo suas equações para o fenômeno de espalhamento de raio X
(SILVA; OLIVAL, 2014).

Figura 3.8: Experimento de Compton

30
Na figura 3.8 observa-se um fóton colidindo com um elétron, inicialmente em repouso,
e no espalhamento, após a colisão, o elétron sofre um desvio dado por θ enquanto o fóton
se desvia por um angulo ϕ. A energia inicial do foton é dada por h f , onde f é a frequência,
enquanto a energia de repouso do elétron é mo c2 . Após a interação,o fóton tera energia h f 0 e o
elétron terá uma energia cinética Ee . Daí

h f + m0 c2 = h f 0 + Ee .

De acordo com Silva e Olival (2014), elevando a expressão ao quadrado e escrevendo em termos
da energia do elétron após a interação, obtem-se

Ee2 = h2 ( f − f 0 )2 + 2m0 c2 h( f − f 0 ) + m20 c4 . (3.8)

Em seguida, analisando o momento, verifica-se que existem duas expressões, ou seja,

hf hf0
= cos(φ ) + Pe cos(θ )
c c
hf0
0 = sen(φ ) + Pe sen(θ )
c

uma para a coordenada x e outra para a coordenada y, respectivaamente. É possivel resolver o


sistema, isolando Pe cos(θ ) em x e Pe sen(θ ) em y, em seguida elevar as equações ao quadrado e
somá-las. Daí

h2 f 2 2h2 f f 0 h2 f 02
Pe2 = − cos(φ ) + 2 ,
c2 c2 c

ou seja,

Pe2 c2 = h2 f 2 − 2h2 f f 0 cos(φ ) + h2 f 02 . (3.9)

Escrevendo a expressão relativística que relaciona momento e energia, Ee2 = Pe2 c2 + m20 c4 e
usando as equações 3.8 e 3.9, obtem-se

h2 ( f − f 0 )2 + 2m0 c2 h( f − f 0 ) + m20 c4 = h2 f 2 − 2h2 f f 0 cos(φ ) + h2 f 02 + m20 c4 .

Com um pouco de algebrismo a expressão acima se reduz a

c c h
0
− = (1 − cos(φ ))
f f m0 c

sendo λ = c/ f o comprimento de onda do fóton e λ 0 − λ = ∆λ obtem-se

h
∆λ = (1 − cos(φ )).
m0 c

31
Com esse estudo Compton provou sua hipótese sobre o espalhamento de raios X de-
monstrando a relação entre o ângulo de espalhamento e o comprimento de onda do fóton. Vale
ressaltar que o mesmo só foi possível através da interpretação relativística da energia e do mo-
mento.

32
4 ELUCIDÇÕES SOBRE A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

4.1 Espaço, Tempo e seus efeitos relativísticos

Os trabalhos publicados por Einstein em 1905 e 1915 de fato mudaram todo o campo
acadêmico da física, porém, por muito tempo, foram rebatidos pela Academia. Entretanto, por
serem bem fundamentados, tanto teórica quanto matematicamente, acabaram sendo aceitos e
tornaram Einstein, que tinha um carisma peculiar, em uma celebridade do século.

Com a popularidade de Einstein perdurando até os dias de hoje, houve também uma
popularização de suas obras. Por um lado, a democratização do acesso aos estudos do físico
é valiosa do ponto de vista de disseminação da ciência em geral. No entanto, os conceitos
neles desenvolvidos não são de fácil entendimento, requerendo um maior grau de abstração e
profundidade na análise e no estudo para sua total compreensão. Desta forma, é importante
esclarecer alguns pontos de desinformação no consciente daqueles que buscam o entendimento
acerca da temática.

O entendimento impróprio sobre os conceitos de tempo e espaço relativos são um dos


principais equívocos. Com o desconhecimento do que realmente significa tempo relativo é co-
mum algumas pessoas usarem este conceito para corroborar com suas sensações de passagem
de tempo. Entretanto, esta conclusão não tem nenhum tipo de ligação com a Teoria da Relativi-
dade Restrita.

Como foi discutido na seção 3.1, os efeitos de dilatação temporal e contração do espaço
estão intimamente ligados ao postulado da constância da velocidade da luz e são construídos
embasados numa matemática bem estabelecida. Os conceitos resultantes desses estudos são de
difícil entendimento por contrariarem o senso comum de tempo e espaço, que foi construído
sobre as ideias de Newton.

No entanto, os efeitos relativísticos são reais, mesmo que não sejam perceptíveis no
mundo clássico. Por exemplo, a prova de que a dilatação temporal é uma verdade foi possível de
ser executada em 1971 através de um experimento realizado com relógios atômicos colocados
a bordo de aviões que voaram ao redor do mundo. Esse experimento ficou conhecido como "O
experimento Hafele-Keating". O objetivo era de se comparar os tempos medidos nos relógios a
bordo das aeronaves com outros que permaneceram na Terra. Quando reotrnaram dos vôos, os
valores de tempo medidos pelos relógios em comparação com os que permaneceram na Terra

33
mostraram uma diferença compatível com os valores previsto pela Teoria da Relatividade. Com
isso, foi possivel observar que, de fato, o tempo passa mais lentamente para referenciais que se
movimentam em altas velocidades.

4.2 Viagem no tempo

Outro equívoco acerca da Teoria da Relatividade restrita diz respeito ao uso para corro-
borar teorias sobre viagens no tempo. Sendo a luz um limite cósmico para velocidade é possível
para um leigo presumir que, ao atingi-la ou ultrapassá-la, viabilizaria de alguma forma a viagem
no tempo. Esta conclusão é utilizada com frequência em filmes, séries e outros tipos de mídias
conceituadas na cultura popular. Entretanto, como foi visto na seção 3.4, isso é impossível, pois
foi verificado que para estar na velocidade da luz o corpo necessita apresentar massa nula, ou
seja, nenhuma nave espacial ou outro tipo de máquina poderia alcançar tal feito.

Por outro lado, existem argumentos de que a Teoria da Relatividade Restrita suportaria a
viagem no tempo, mas só para o futuro. O principal exemplo desse argumento é o paradoxo dos
gêmeos, que consiste em um dos gêmeos entrando numa nave espacial e fazendo um viagem
de ida e volta numa velocidade próxima à da luz e outro o esperando na Terra. Sendo assim, os
efeitos relativísticos de dilatação temporal agiriam sobe o gêmeo que está na nave.

Visto desta forma, é razoável dizer que o gêmeo na nave viajaria para o futuro uma vez
que ele aparentaria ser consideravelmente mais novo que o seu irmão. Entretanto, o paradoxo
dos gêmeos é analisado de forma simplória, na maioria das vezes. Para o gêmeo que permanece
na Terra quem se afasta com uma velocidade V é o seu irmão. Entretanto na percepção do irmão
que segue viagem, é o gêmeo que ficou na Terra que se afasta com uma velocidade -V. O efeito
relativístico realmente acontece, entretanto ambos os gêmeos concordam que o seu respectivo
irmao está envelhecendo mais devagar, até que seja possível que ambos se confrontem. Para
isso, a nave onde está um dos gêmeos teria que sofrer uma desaceleração e uma aceleração
para retornar à Terra, deixando, portanto, de ser um referencial inercial e passando a ser um
referencial acelerado, mesmo que num pequeno trecho da viagem.

Analisando efetivamente o paradoxo, existem dois intervalos de tempo onde a nave deixa
de ser um referencial inercial e passa a ser um referencial acelerado, quebrando a simetria que
existia, forçando a física a não ser mais a mesma para ambos os gêmeos. Logo, a Teoria da
Relatividade Restrita não suportaria tal argumento sobre viagens no tempo, visto que a mesma

34
só vale para referenciais em movimento uniforme.

Portanto, não se pode afirmar que a Teoria da Relatividade Restrita corrobora com vi-
agens no tempo para o futuro, pois referenciais acelerados são os mais comuns no universo
e estão totalmente fora da área de atuação da mesma. Contrariamente, a Teoria da Relativi-
dade Geral lida justamente com os efeitos da aceleração em referenciais, mais precisamente a
gravidade. Sendo assim, propor ideias sobre viagens no tempo com o respaudo da Teoria da
Relativiade Geral seria o mais indicado, apesar do seu nível elevado de complexidade.

4.3 Energias de repouso e relativística e suas notações

Não saber diferenciar massa inercial e massa relativística é outro engano acerca da Te-
oria da Relatividade Restrita. É comum que, para simplificações dos cálculos, alguns livros
utilizam m como massa inercial. Entretanto, isso causa uma grande incompreensão sobre o
assunto, principalmente para os que estão iniciando seus estudos nessa área.

A fórmula E = mc2 ficou impregnada no senso comum como a grande fórmula de Eins-
tein, que mostra a equivalência da massa e da energia. No entanto, como visto na seção 3.6,
existe uma grande diferença entre as massas relativísticas e não relativísticas e, se o estudante
não souber a origem das equações pode acabar se referindo à energia relativística como sendo
a energia de repouso.

Como visto anteriormente, a massa relativística é dada por m = γm0 e a energia rela-
tivística por E = γm0 c2 , desde que se perceba que a massa nessa equação expressa a própria
massa relativística, ou seja, que m represente de fato a massa de repouso m0 multiplicada pelo
fator de Lorentz γ.

Sendo assim, é mais prudente se referir à massa de repouso como m0 e à massa relati-
vística como m = γm0 . Em consequência disso, a distinção entre as energias se faz muito mais
clara de se trabalhar sem cometer erros conceituais.

4.4 Sobre o Efeito Cherenkov

Um dos equívocos cometidos por estudantes iniciantes é de que a velocidade da luz é


inalcançável. Na verdade isso se refere ao meios com índices de refração iguais a 1 ou pró-
ximo disso, como o ar e o vácuo. A relação entre a velocidade da luz e o meio onde ela se

35
propaga1 foi estudada por diversos cientistas e faz parte da chamada Mecânica Clássica. Con-
tudo, é importante ressaltar um efeito consideravelmente novo, chamado de efeito Cherenkov,
observado pela primeira vez em 1900 pelos cientistas Pierre Auger (1889-1993) e Marie Curie
(1867-1934) nos seus experimentos com o elemento rádio. Tal fenômeno foi replicado expe-
rimentalmente em 1934 pelo físico Pavel Tcherenkov (1904-1990) e a teoria foi desenvolvida
por Igor Tamm (1895-19710) e Ilya Frank (1908-1990).

O efeito Cherenkov acontece quando raios de altas energias, como os raios gamma,
interagem com núcleos atômicos do material no qual está se propagando. Essa energia pode ser
dividida em um par, sendo uma partícula e sua antipartícula, que no caso dos raios gamma seria
um elétron e um pósitron, respectivamente, fazendo-as atingir velocidades altíssimas (JELLEY,
1958; TAKEDA, 2018).

Sabe-se que um átomo é composto de cargas positivas e negativas, deixando-o estável


eletricamente, ou seja, neutro. Portanto, se um elétron passar por um átomo estável, o fenômeno
de polarização irá acontecer, já que o elétron possui carga negativa. Se isso acontecer dentro de
um material, como o vidro por exemplo, todos os átomos que interagiram com o elétron serão
polarizados.

Com isso, se o elétron passar numa velocidade muito baixa em comparação à da luz,
os átomos que compõem o vidro serão despolarizados, seguindo a posição do elétron, isto é,
à medida em que o campo elétrico do elétron interage com o campo elétrico dos átomos, eles
são polarizados e voltam ao seu estado inicial. Em contrapartida, à medida em que o elétron
se afasta e os seus campos não mais interagem, os átomos são despolarizados. Portanto, a
polarização acontece de forma simétrica em volta do elétron que passa pelo material, como
pode ser visto na figura 4.1. É importante notar que a interação entre os campos elétricos do
elétron e do átomo não produzem resultantes, portanto, não há emissão de radiação (JELLEY,
1958).
1 Não cabe a este trabalho deduzir tais relações, que podem ser encontradas em diversos livros didáticos de
física básica.

36
Figura 4.1: Polarização simétrica

Fonte: JELLEY, 1958

Não obstante, se o mesmo elétron atravessar os átomos do vidro em uma velocidade


muito alta, acima da velocidade da luz por exemplo, a interação entre os campos elétricos dos
átomos e do elétron acontece de uma forma diferente. A polarização dos átomos não ocorre
mais de forma simétrica em volta do elétron, pois o elétron passará tão rápido pelos átomos que
sua polarização acontecerá só depois do elétron já ter passado por eles, como pode ser visto
na figura 4.2. Com isso, as resultantes das interações dos campos elétricos não sera mais nula.
Após cada átomo que foi polarizado pelo elétron voltar ao seu estado estável emitirá uma onda
de radiação, onde sua fase será somada com as fases das outras ondas dos demais átomos que
voltam para seus estados estáveis. A somatória dessas fases resultará em uma onda no espectro
visível de cor azul. Esta onda é justamente a radiação de Cherenkov( JELLEY, 1958).

Figura 4.2: Polarização assimétrica

Fonte: JELLEY, 1958

37
O efeito Cherenkov tem muitas aplicações dentro da física, mas a aplicação em reatores
nucleares é a mais famosa. É possível detectar partículas de altas energias e verificar os níveis
de energia liberadas pelas reações de fissão nuclear, ajudando no monitoramento do reator para
mantê-lo dentro das condições seguras (TAKEDA, 2018).

38
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Produzir o presente trabalho de pesquisa foi de suma importância para ampliar os co-
nhecimentos do autor sobre tema tão presente na realidade profissional de sua área de estudo.
Discutir os conceitos relacionados a Teoria da Relatividade Especial, principalmente do ponto
de vista matemático, é muito relevante, uma vez que o aprofundamento em tais assuntos não é
feito com frequência alta em cursos da área.

A Teoria da Relatividade Especial é realmente um dos assuntos mais fascinantes e im-


portantes da física moderna, tomando o imaginário não só de acadêmicos, mas da população
em geral. Desta forma entender o reais significados dos seus conceitos e a origem da sua forma
matemática evita a propagação de erros em relação a interpretações e conclusões a seu respeito,
à medida que diminui o ruído na comunicação entre a academia e a população causando um
melhor entendimento de todos a respeito do mundo em que vivemos.

Partindo do objetivo de analisar matematicamente e historicamente os principais pontos


da Teoria da Relatividade Especial, foi possível desenvolver desde do início equações como a
famosa relação entre massa e energia e entender suas aplicações e consequências, bem como as
equações ligadas as ideias de dilatação temporal e contração espacial, momento e energia rela-
tivísticas, além de expressar em termos comuns a parte por trás destas equações, demonstrando,
porque e como as mesmas devem ser empregadas em problemas físicos.

Para finalizar, a partir dos conteúdos desenvolvidos para este trabalho, é possível notar
que a Teoria da Relatividade Especial é muito complexa na sua totalidade, entretanto é possível
uma abordagem mais clara a fim de tornar mais palatável todo o estudo feito por Einstein e ou-
tros no século XIX. Com isso é possível desenvolver mais pesquisas acerca da popularização da
teoria, de forma que o seu uso fique mais comum dentro das instituições de ensino de diferentes
níveis de atuação, concentrando em expor as reais ideias por trás dos conceitos sem deixar de
lado o apoio matemático que na física é de suma importância.

39
REFERÊNCIAS

BARROSO, Dalton Ellery. A física dos explosivos nucleares. 2. ed. São Paulo: Editora
livraria da Física, 2009.

CINDRA, José Lourenço. As Concepções Físico-Matemáticas de Galileu Apresentadas nos


Discorsi. Belo Horizonte: Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais, 2014.

EINSTEIN, Albert. A teoria da Relatividade Especial e Geral. 15. ed. Rio de Janeiro: Contra
Ponto editora, 1952.

EINSTEIN, Albert. Sobre o princípio da Relatividade e suas implicações. Revista Brasileira


de Ensino de Física, v. 27, n. 1, 1907.

FISICALAB. Experimento de Fizeau. Disponível em:


<https://www.fisicalab.com/ejercicio/1809.contenidos>. Acesso em: 7 dez. 2019.

IFGW. Instituto de Física Gleb Wataghin. Disponível em:


<https://www.ifi.unicamp.br/ fauth/2RelatividadeEspecial/3Dinamica/Dinamica.html>.
Acesso em: 7 dez. 2019.

JELLEY. J. V. Cerenkov Radiation and Its Applications. London: Pergamon Press, 1958.

LESCHE, Bernhard. Teoria da relatividade. 1. ed.: Editora livraria da física, 2005.

MELLO, Luiz Adolfo. Física e Relatividade. Sergipe: Universidade Federal de Sergipe, 2011.

MOURÃO, Ronaldo Rogério. Explicando a Teoria da Relatividade. 1. ed. São Paulo:


Ediouro, 2005.

OKUNO, Emico. As bombas atômicas podem dizimar a humanidade - Hiroshima e


Nagasaki, há 70 anos. Instituto de Física, Universidade de São Paulo. São Paulo/SP, Brasil, v.
29, n. 84, 2014.

PHILLIPS. C; PRIWE. S. O livro complto sobre Einstein. da matéria e energia ao espaço,


tudo que voçe precisa para entender o homem e suas teorias. 1. ed. São Paulo: Madras,
2004.

PINHEIRO, Guilherme. A Construção da Relatividade Especial e da Relatividade Geral e


suas validações experimentais. Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2008.

40
SILVA. I; OLIVAL. F. A descoberta do efeito Compton: De uma abordagem semiclássica a
uma abordagem quântica. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 36, n. 1, 2014.

TAKEDA, Carolina. Radiação de Cherenkov. São Paulo:Instituto de Física de São Carlos -


USP, 2018.

WOLFSON, Richard. Simplesmente Einstein. a relatividade desmistificada. 5. ed. São


Paulo: Editora Globo, 2005.

41
APÊNDICE A – DEDUÇÃO DA EQUAÇÃO DE ONDA DA LUZ

Como foi visto, as equações de Maxwell são enunciadas como


ρ
∇•E =
ε0
∇•B = 0
∂B
∇×E = −
∂t
∂E
∇ × B = µ0 J + µ0 ε0
∂t
para encontrar a forma da onda eletromagnética de Maxwell, será mais fácil usar as seguintes
Leis: Lei de Ampère e Maxwell
∂E
∇ × B = µ0 J + µ0 ε0
∂t
e a Lei de Faraday
∂B
∇×E = −
∂t

será considerado um caso onde a corrente de deslocamento e carga igual 0. Então, seguirá o
seguinte desenvolvimento
∂B
∇×E + = 0
∂t
∂E
∇ × B − µ0 ε0 = 0
∂t
aplicando o rotacional (∇×)na Lei de Faraday e a derivada parcial em relação ao tempo na Lei

de Ampère e Maxwell
∂t

∇×∇×E + ∇×B = 0
∂t
1 ∂ ∂ 2E
∇×B− 2 = 0
µ0 ε0 ∂t ∂t
logo, pode-se afirmar

∇ × B = −∇ × ∇ × E
∂t
∂ 1 ∂ 2E
∇×B =
∂t µ0 ε0 ∂t 2
o que permitirá o resto do desenvolvimento é o uso da seguinte propriedade1

∇ × ∇ × A = ∇(∇ • A) − ∇2 A .
1A demonstração da mesma foi executada no apêndice B

42
Dessa forma, é possível através das Leis de Amper-Maxwell e Faraday desenvolver a
equação de onda

∇ × B = −∇ × ∇ × E
∂t
∂ 1 ∂ 2E
∇×B =
∂t µ0 ε0 ∂t 2
∂ 2E
−∇ × ∇ × ∇E = µ0 ε0 2
∂t
como foi visto, ∇ × ∇ × A = ∇(∇ • A) − ∇2 A
∂ 2E
−∇(∇ • E) + ∇2 E = µ0 ε0
∂t 2
conforme visto anteriormente, a corrente de deslocamento e a carga são iguais a 0. Então
∇ • E = 0. Por fim, pode-se dizer que,
∂ 2E
∇2 E = µ0 ε0 .
∂t 2
É importante lembrar da forma geral da equação de onda
1 ∂ 2F
∇2 F =
V 2 ∂t 2

Assim sendo, é fácil ver a relação entre a equação encontrada por Maxwell com a já
conhecida forma geral de uma onda qualquer. Essa semelhança entre as equações é importante,
pois coloca a luz como uma onda de fato e, pela mesma semelhança, é possível deduzir a
velocidade da luz no vácuo
1 ∂ 2F
∇2 F =
V 2 ∂t 2
2 ∂ 2E
∇ E = µ0 ε0 2
∂t
então,
1
= µ0 ε0
V2
1
V = √ .
µ0 ε0

Nesse ponto da história da física, já eram conhecidos os valores das constantes de per-
missividade elétrica do vácuo e permeabilidade magnética do vácuo 2 . Portanto, Maxwell pro-
vou de forma teórica que a luz não só era uma onda, mas também que viajava numa velocidade

o - A constante de permissividade do vácuo mede a permissividade elétrica da substância.
µ0 -A permeabilidade magnética mensura o campo magnético no interior de um material.

43
constante, que hoje é chamada de c, nada mais sendo do que c = √1 . Por fim, obtém-se a
µ0 ε0
equação de onda para a luz

1 ∂ 2E
∇2 E = .
c2 ∂t 2

44
APÊNDICE B – DEMONSTRAÇAO DA PROPRIEDADE ROTACIONAL DO
ROTACIONAL

Para provar de forma mais simples a igualdade, o raciocínio será realizado em etapas,
desenvolvendo cada lado da igualdade separadamente. Sendo A um campo vetorial qualquer.
Desenvolvimento do lado esquerdo da igualdade ∇ × ∇ × A = ∇(∇ • A) − ∇2 A, obtem-se
  
∂i ∂ j ∂k
∇× + + × ax i + ay j + az k
∂x ∂y ∂z
"      
∂ az ∂ ay ∂ ax ∂ az ∂ ay ∂ ax
∇× − i+ − j+ − k
∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y
considerando o resultado do primeiro produto vetorial como um vetor V
"      
∂ az ∂ ay ∂ ax ∂ az ∂ ay ∂ ax
V = − i+ − j+ − k
∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y

então ∇ ×V
"    
∂ ∂ ay ∂ ax ∂ ∂ ax ∂ az
− − − i
∂y ∂x ∂y ∂z ∂z ∂x
"    
∂ ∂ az ∂ ay ∂ ∂ ay ∂ ax
− − − j
∂z ∂y ∂z ∂x ∂x ∂y
"    
∂ ∂ ax ∂ az ∂ ∂ az ∂ ay
− − − k.
∂x ∂z ∂x ∂y ∂y ∂z
Por fim, obtém-se
"
∂ 2 ax ∂ 2 ax

∂ ay ∂ az
− − 2 + i
∂ y∂ x ∂ y2 ∂z ∂ z∂ x
"
∂ 2 ay ∂ 2 ay

∂ az ∂ ax
− − + j
∂ z∂ y ∂ z2 ∂ x2 ∂ x∂ y
"
∂ 2 az ∂ 2 az

∂ ax ∂ ay
− − 2 + k.
∂ x∂ z ∂ x2 ∂y ∂ y∂ z

Desenvolvimento do lado direito da igualdade ∇(∇ • A) − ∇2 A, aplicando o operador


Nabla e efetuando o produto escalar
"
∂ 2 ax ∂ 2 ax ∂ 2 ax ∂ 2 ax

∂ ay ∂ az
+ + − − − 2 i
∂ x2 ∂ x∂ y ∂ x∂ z ∂ x2 ∂ y2 ∂z
"
∂ 2 ax ∂ 2 ay ∂ 2 az ∂ 2 ay ∂ 2 ay ∂ 2 ay

+ + − − − 2 j
∂ x∂ y ∂ y2 ∂ y∂ z ∂ x2 ∂ y2 ∂z
"
∂ 2 ax ∂ 2 az ∂ 2 az ∂ 2 az ∂ 2 az

∂ ay
+ + − 2 − 2 − 2 k
∂ x∂ z ∂ z∂ y ∂ z2 ∂x ∂y ∂z

45
por fim tem-se
"
∂ 2 ax ∂ 2 ax

∂ ay ∂ az
+ − − 2 i
∂ x∂ y ∂ x∂ z ∂ y2 ∂z
"
∂ 2 ax ∂ 2 az ∂ 2 ay ∂ 2 ay

+ − − 2 j
∂ x∂ y ∂ y∂ z ∂ x2 ∂z
"
∂ 2 ax ∂ 2 az ∂ 2 az

∂ ay
+ − − 2 k.
∂ x∂ z ∂ z∂ y ∂ x2 ∂y

Comparando os dois lados da igualdade ∇ × ∇ × A = ∇(∇ • A) − ∇2 A


" "
∂ 2 ax ∂ 2 ax ∂ 2 ax ∂ 2 ax
 
∂ ay ∂ az ∂ ay ∂ az
− − 2 + i = + − − 2 i
∂ y∂ x ∂ y2 ∂z ∂ z∂ x ∂ x∂ y ∂ x∂ z ∂ y2 ∂z
" # "
∂ 2 ay ∂ 2 ay ∂ 2 ay ∂ 2 ay

∂ az ∂ ax ∂ ax ∂ az
− − + j = + − − 2 j
∂ z∂ y ∂ z2 ∂ x2 ∂ x∂ y ∂ x∂ y ∂ y∂ z ∂ x2 ∂z
" "
∂ 2 az ∂ 2 az ∂ 2 az ∂ 2 az
 
∂ ax ∂ ay ∂ ax ∂ ay
− − 2 + k = + − − 2 k
∂ x∂ z ∂ x2 ∂y ∂ y∂ z ∂ x∂ z ∂ z∂ y ∂ x2 ∂y

logo, de fato a propriedade se faz verdadeira


"  " 
∂ ay ∂ az ∂ ay ∂ az
+ i = + i
∂ y∂ x ∂ z∂ x ∂ x∂ y ∂ x∂ z
" # " 
∂ az ∂ ax ∂ ax ∂ az
+ j = + j
∂ z∂ y ∂ x∂ y ∂ x∂ y ∂ y∂ z
"  " 
∂ ax ∂ ay ∂ ax ∂ ay
+ k = + k.
∂ x∂ z ∂ y∂ z ∂ x∂ z ∂ z∂ y

46
APÊNDICE C – ENCONTRANDO COEFICIENTES OBTIDOS NA SEÇÃO 2.4

Dado o seguinte sistema

a211 − c2 a241 − 1 = 0 (C.1)

−a211 v − a41 a44 c2 = 0 (C.2)

a211 v2 − c2 a244 + c2 = 0 (C.3)

as equações C.1 e C.3 acima podem ser reescritas como

c2 a241 = a211 − 1

c2 a244 = c2 + a211 v2

elevando a equação C.2 ao quadrado, tem-se que

a411 v2 = a241 a244 c4

multiplicando as equações C.1 e C.3

(c2 a241 )(c2 a244 ) = (a211 − 1)(c2 + a211 v2 )

c4 a241 a244 = (a211 − 1)(c2 + a211 v2 )

substituindo a equação resultante da multiplicação acima, na equação C.2, elevada ao quadrado

c4 a241 a244 = (a211 − 1)(c2 + a211 v2 )

c4 a241 a244 = a411 v2

o seguinte raciocínio pode ser desenvolvido

a411 v2 = (a211 − 1)(c2 + a211 v2 )

a211 c2 = c2 + a211 v2

Portanto
1
a11 = r .
v2
1− 2
c
Substituindo a11 na equação C.3

a211 v2 − c2 a44 + c2 = 0

c2 a244 = c2 + a211 v2
c2 v2
c2 a244 = c2 + 2
c − v2

47
ou ainda

1
a44 = r .
v2
1− 2
c

É possível perceber que, a11 = a44 . Para encontrar a41 substitui-se a44 na equação C.2

−a211 v − a41 a44 c2 = 0

a211 v = a41 a44 c2

sendo a11 = a44

−a211 v − a41 a44 c2 = 0

a211 v = −a41 a11 c2 .

Por fim tem-se

v
a41 = − a11 .
c2

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APÊNDICE D – SOLUÇÃO DA INTEGRAL DA ENERGIA CINÉTICA

Tomando a seguinte integral


Z v
Ek = d(γm0 v) dv
0

pode-se resolvê-la diante do raciocinio

dγ dv
d(γm0 v) = m0 v dv + m0 γ dv
dv dv

colocando o elemento m0 dv em evidência


!

d(γm0 v) = m0 dv v + γ
dv

para continuar esse cálculo, é preciso derivar γ em relação a v


 −1
v2 2

γ = 1− 2
c
" ! −3 # ! −3
2 2
dγ −2v −1 v2 v 2
= 1 − 1 − β
dv c2 2 c2 c2

voltando com o resultado da derivada na equação do diferencial


" ! −3 ! −1 #
2 2
v2
d(γm0 v) = m0 dv 2 1 − β 2 + 1−β2
c
! −3
2

colocando o elemento 1−β2 em evidência

! −3
2

d(γm0 v) = m0 dv 1 − β 2 (β 2 + 1 − β 2 )
! −3
2

d(γm0 v) = m0 dv 1 − β 2

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substituindo o diferencial na integral, o cálculo da mesma se torna bastante simples
Z v
Ek = d(γm0 v)v
0
Z v   −3
2
2
= vm0 dv 1 − β
0
Z v  −3
2
2
= m0 1−β vdv
0
m0 c2 u −3
Z
= − u 2 du
2 "0
#
m0 c2

−1
= − − 2u 2
2
"  −1 #
2
EK = m0 c2 1 − β 2 −1 .

Logo tem-se

Ek = γm0 c2 − m0 c2 .

Por fim tem-se

Ek = m0 c2 (γ − 1)

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