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Boyer

“Boyer e Merzbach destilaram milhares de anos de matemática nesta crônica fascinante. Dos
gregos a Gödel, a matemática é brilhante; o elenco de personagens é notável; o vaivém das
ideias é evidente em toda parte... Sem dúvida, esta é – e continuará sendo por muito tempo
– uma história clássica em um volume da matemática e dos matemáticos que a criaram.”
William Dunham, autor de Journey Through Genius: The Great Theorems of Mathematics

“Ao mesmo tempo de leitura fácil e erudito... uma excelente introdução ao assunto.”
J. David Bolter, autor de Turing’s Man

“Quando lemos um livro como História da Matemática, temos a figura de uma estrutura
crescente, sempre mais alta e mais larga e mais bela e magnífica e com uma base que é
tão imaculada e tão funcional agora como era quando Tales elaborou os primeiros teoremas
geométricos, há quase vinte e seis séculos.”
Isaac Asimov (do prefácio)

Carl B. Boyer
Por mais de vinte anos, História da Matemática tem sido texto de referência para aqueles
que querem aprender sobre a fascinante história da relação da humanidade com números,
formas e padrões. Esta edição revisada apresenta uma cobertura atualizada de tópicos como
o último teorema de Fermat e a conjectura de Poincaré, além de avanços recentes em áreas
como teoria dos grupos finitos e demonstrações com o auxílio do computador.

Quer você esteja interessado na idade de Platão e Aristóteles ou de Poincaré e Hilbert, quer você
queira saber mais sobre o teorema de Pitágoras ou sobre a razão áurea, História da Matemática é
uma referência essencial que o ajudará a explorar a incrível história da
Uta C. Merzbach
matemática e dos homens e mulheres que a criaram.

Uta C. Merzbach é Curadora Emérita de Matemática no Smithsonian


Institution e diretora do LHM Institute.
TRADUÇÃO DE
O falecido Carl B. Boyer foi professor de matemática no Brooklyn HELENA CASTRO
College e autor de diversas obras clássicas sobre história da
matemática.
PREFÁCIO DE

www.blucher.com.br
ISAAC ASIMOV
IS B N 97 8-8 5- 212-0641- 5

9 788521 206415

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História da Matemática
Tradução da 3ª edição americana
Carl B. Boyer e Uta C. Merzbach

Lançamento 2012
Páginas: 508
ISBN: 9788521206415
Formato: 20,5 x 25,5 cm
Boyer
“Boyer e Merzbach destilaram milhares de anos de matemática nesta crônica fascinante. Dos
gregos a Gödel, a matemática é brilhante; o elenco de personagens é notável; o vaivém das
ideias é evidente em toda parte... Sem dúvida, esta é – e continuará sendo por muito tempo
– uma história clássica em um volume da matemática e dos matemáticos que a criaram.”
William Dunham, autor de Journey Through Genius: The Great Theorems of Mathematics

“Ao mesmo tempo de leitura fácil e erudito... uma excelente introdução ao assunto.”
J. David Bolter, autor de Turing’s Man

“Quando lemos um livro como História da Matemática, temos a figura de uma estrutura
crescente, sempre mais alta e mais larga e mais bela e magnífica e com uma base que é
tão imaculada e tão funcional agora como era quando Tales elaborou os primeiros teoremas
geométricos, há quase vinte e seis séculos.”
Isaac Asimov (do prefácio)

Carl B. Boyer
Por mais de vinte anos, História da Matemática tem sido texto de referência para aqueles
que querem aprender sobre a fascinante história da relação da humanidade com números,
formas e padrões. Esta edição revisada apresenta uma cobertura atualizada de tópicos como
o último teorema de Fermat e a conjectura de Poincaré, além de avanços recentes em áreas
como teoria dos grupos finitos e demonstrações com o auxílio do computador.

Quer você esteja interessado na idade de Platão e Aristóteles ou de Poincaré e Hilbert, quer você
queira saber mais sobre o teorema de Pitágoras ou sobre a razão áurea, História da Matemática é
uma referência essencial que o ajudará a explorar a incrível história da
Uta C. Merzbach
matemática e dos homens e mulheres que a criaram.

Uta C. Merzbach é Curadora Emérita de Matemática no Smithsonian


Institution e diretora do LHM Institute.
TRADUÇÃO DE
O falecido Carl B. Boyer foi professor de matemática no Brooklyn HELENA CASTRO
College e autor de diversas obras clássicas sobre história da
matemática.
PREFÁCIO DE

www.blucher.com.br
ISAAC ASIMOV
IS B N 97 8-8 5- 212-0641- 5

9 788521 206415

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Conteúdo 3

Carl B. Boyer
Uta C. Merzbach

HISTÓRIA
DA
MATEMÁTICA

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Conteúdo 19

CONTEÚDO

1 Vestígios, 23 Raciocínio dedutivo, 73


Conceitos e relações, 23 Demócrito de Abdera, 75
Primeiras bases numéricas, 25 Matemática e as Artes liberais, 76
Linguagem numérica e contagem, 25 A Academia, 76
Relações espaciais, 26 Aristóteles, 85

2 Egito antigo, 29 5 Euclides de Alexandria, 87


A era e as fontes, 29 Alexandria, 87
Número e frações, 30 Obras perdidas, 87
Operações aritméticas, 31 Outras preservadas, 88
Problemas de “pilhas”, 32 Os elementos, 89
Problemas geométricos, 33
Problemas de inclinação, 36 6 Arquimedes de Siracusa, 99
Pragmatismo aritmético, 36 O cerco de Siracusa, 99
Sobre os equilíbrios dos planos, 99
3 Mesopotâmia, 39 Sobre corpos flutuantes, 100
A era e as fontes, 39 O contador de areia, 101
Escritura cuneiforme, 40 Medida do círculo, 101
Números e frações: sexagesimais, 40 Sobre espirais, 102
Numeração posicional, 41 Quadratura da parábola, 103
Frações sexagesimais, 41 Sobre conoides e esferoides, 104
Aproximações, 42 Sobre a esfera e o cilindro, 105
Tabelas, 42 O livro de lemas, 106
Equações, 43 Sólidos semirregulares e trigonometria, 107
Medições: ternas Pitagóricas, 46 O método, 107
Áreas poligonais, 48
A geometria como aritmética aplicada, 49 7 Apolônio de Perga, 111
Trabalhos e tradição, 111
4 Tradicões Helênicas, 53 Obras perdidas, 112
A era e as fontes, 53 Ciclos e epiciclos, 113
Tales e Pitágoras, 54 As cônicas, 113
Numeração, 61
Aritmética e logística, 63 8 Correntes secundárias, 121
Atenas do quinto século, 64 Mudança de direção, 121
Três problemas clássicos, 64 Eratótenes, 122
Quadratura de lunas, 65 Ângulos e cordas, 122
Hípias de Elis, 67 O Almagesto de Ptolomeu, 126
Filolau e Arquitas de Tarento, 68 Heron de Alexandria, 130
Incomensurabilidade, 70 Declínio da matemática grega, 132
Paradoxos de Zeno, 71 Nicômaco de Gerasa, 132

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20 História da Matemática

Diofante de Alexandria, 133 Abacistas e algoristas, 180


Papus de Alexandria, 135 Fibonacci, 181
O fim do domínio de Alexandria, 140 Jordanus Nemorarius, 183
Proclo de Alexandria, 140 Campanus de Novara, 184
Boécio, 140 O saber no Século XIII, 185
Fragmentos atenienses, 141 O restabelecimento de Arquimedes, 185
Matemáticos bizantinos, 141 Cinemática Medieval, 185
Thomas Bradwardine, 186
9 China antiga e medieval, 143 Nicole Oresme, 187
Os mais antigos documentos, 143 A latitude das formas, 187
Os nove capítulos, 144 Séries infinitas, 189
Numerais em barras, 144 Levi ben Gerson, 189
O ábaco e as frações decimais, 145 Nicholas de Cusa, 190
Valores de pi, 146 Declínio do saber medieval, 190
A matemática do Século Treze, 148
13 O renascimento Europeu, 193
10 Índia antiga e medieval, 151 Panorama geral, 193
O início da matemática na Índia, 151 Regiomontanus, 194
Os Sulbasutras, 152 O Triparty de Nicolas Chuquet, 196
Os Siddhantas, 152 A Summa de Lucca Pacioli, 197
Aryabhata, 153 Álgebras e aritméticas alemãs, 198
Numerais, 154 A Ars magna de Cardano, 200
Trigonometria, 156 Rafael Bombelli, 203
Multiplicação, 156 Robert Recorde, 204
Divisão, 157 Trigonometria, 205
Brahmagupta, 158 Geometria, 206
Equações indeterminadas, 160 Tendências do Ranascimento, 210
Bhaskara, 160 François Viète, 211
Madhava e a Escola keralesa, 161
14 Primeiros matemáticos modernos
11 A hegemonia Islâmica, 163 dedicados à resolução
Conquistas árabes, 163 de problemas, 219
A Casa da Sabedoria, 164 Acessibilidade de cálculos, 219
Al-Khwarizmi, 165 Frações decimais, 219
‘Abd Al-Hamid Ibn-Turk, 169 Notações, 221
Thabit Ibn-Qurra, 169 Logaritmos, 221
Numerais, 170 Instrumentos matemáticos, 224
Trigonometria, 171 Métodos infinitesimais: Stevin, 228
Destaques dos séculos onze e doze, 171 Johannes Kepler, 228
Omar Khayyam, 173
O postulado das paralelas, 174 15 Análise, síntese, o infinito e
Nasir al-Din al-Tusi, 174 números, 231
Al-Kashi, 175 As duas novas ciências de Galileu, 231
Boaventura Cavalieri, 233
12 O ocidente latino, 177 Evangelista Torricelli, 235
Introdução, 177 Os interlocutores de Mersenne, 236
Compêndio da Idade das Trevas, 177 René Descartes, 237
Gerbert, 178 Lugares geométricos de Fermat, 244
O século da tradução, 179 Gregório de St. Vincent, 248

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Conteúdo 21

Teoria dos números, 249 18 A França de pré a


Gilles Persone de Roberval, 250 pós-revolucionária, 315
Girard Desargues e a geometria projetiva, 251 Homens e instituições, 315
Blaise Pascal, 253 O comitê de Pesos e Medidas, 316
Philippe de Lahire, 256 D’Alembert, 316
George Mohr, 257 Bézout, 318
Pietro Mengoli, 257 Condorcet, 319
Frans van Schooten, 257 Lagrange, 320
Jan De Witt, 258 Monge, 322
Johann Hudde, 258 Carnot, 325
René François de Sluse, 259 Laplace, 328
Christiaan Huygens, 260 Legendre, 330
Aspectos da abstração, 332
16 Técnicas britânicas e métodos Paris da década de 1820, 332
continentais, 265 Fourier, 333
John Walis, 265 Cauchy, 334
James Gregory, 268 Difusão, 340
Nicolaus Mercator e William Brouncker, 269
Método de Barrow das tangentes, 270 19 Gauss, 343
Newton, 271 Panorama do século dezenove, 343
Abraham De Moivre, 280 Primeiras obras de Gauss, 343
Roger Cotes, 282 Teoria dos números, 344
James Stirling, 283 Recepção das disquisitiones arithmeticae, 346
Colin Maclaurin, 283 Contribuições de Gauss à astronomia, 347
Livros didáticos, 285 A meia-idade de Gauss, 347
Rigor e progresso, 286 O início da geometria diferencial, 348
Leibniz, 286 Últimos trabalhos de Gauss, 349
A família Bernoulli, 291 Influência de Gauss, 350
Transformações de Tschirnhaus, 297
Geometria analítica do espaço, 298 20 Geometria, 357
Michel Rolle e Pierre Varignon, 298 A escola de Monge, 357
Os Clairaut, 299 A geometria projetiva: Poncelet e Chasles, 358
Matemática na Itália, 300 Geometria sintética métrica: Steiner, 360
O postulado das paralelas, 301 Geometrica sintética não métrica:
Séries divergentes, 301 von Staudt, 361
Geometria analítica, 361
17 Euler, 303 Geometria não euclidiana, 364
Vida de Euler, 303 Geometria riemanniana, 366
Notação, 304 Espaços de dimensão superior, 367
Fundamentos da análise, 305 Felix Klein, 368
Logaritmos e identidades de Euler, 307 A geometria algébrica pós-riemanniana, 370
Equações diferenciais, 308
Probabilidade, 309 21 Álgebra, 371
Teoria dos números, 310 Introdução, 371
Livros didáticos, 311 A álgebra na Inglaterra e o cálculo operacional
Geometria analítica, 311 de funções, 371
Postulado das paralelas: Lambert, 312 Boole e a álgebra da lógica, 372
De Morgan, 375
William Rowan Hamilton, 375

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22 História da Matemática

Grassmann e Ausdehnungslehre, 377 Álgebra, 419


Cayley e Sylvester, 378 Geometria diferencial e análise tensorial, 420
Álgebras lineares associativas, 381 Probabilidade, 421
Geometria algébrica, 382 Limitantes e aproximações, 422
Inteiros algébricos e aritméticos, 382 A década de 1930 e a Segunda Guerra
Axiomas da aritmética, 383 Mundial, 423
Nicolas Bourabki, 424
22 Análise, 387 Álgebra homológica e teoria das categorias,
Berlim e Göttingen em meados do século, 387 426
Riemann Göttingen, 388 Geometria algébrica, 426
Física-matemática na Alemanha, 388 Lógica e computação, 427
Física-matemática nos países de língua As medalhas Fields, 429
inglesa, 389
Weierstrass e estudantes, 390 24 Tendências recentes, 431
A aritmetização da análise, 392 Panorama geral, 431
Dedekind, 394 A conjectura das quatro cores, 431
Cantor e Kronecker, 395 Classificação de grupos simples finitos, 435
Análise na França, 399 O último teorema de Fermat, 437
A questão de Poincaré, 438
23 Legados do Século Vinte, 403 Perspectivas futuras, 441
Panorama geral, 403
Poincaré, 404 Referências, 443
Hilbert, 408 Bibliografia, 469
Integração e medida, 415 Índice remissivo, 479
Análise funcional e topologia geral, 417

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1 – Vestígios 23

1 VESTÍGIOS
Trouxeste-me um homem que não sabe contar seus dedos?
Do Livro dos Mortos Egípcio

Conceitos e relações uma destas conexões tenha sido estabelecida, a


porta se abre para estudos históricos mais especí-
Os matemáticos contemporâneos formulam ficos, como os que tratam da transmissão, tradição
afirmações sobre conceitos abstratos que podem e mudança conceitual.
ser verificadas por meio de demonstrações. Por Em geral, os vestígios matemáticos são en-
séculos, a matemática foi considerada a ciência contrados no domínio das culturas primitivas,
dos números, grandeza e forma. Por esta razão, o que torna a avaliação de seu significado ainda
aqueles que procuram os primeiros exemplos de mais complexa. Regras de operação podem existir
atividade matemática apontarão para resquícios como parte de uma tradição oral, muitas vezes na
arqueológicos que refletem a consciência humana forma musical ou de versos, ou eles podem estar
das operações numéricas, contagem ou padrões e encobertos na linguagem da mágica ou em rituais.
formas “geométricos”. Mesmo quando estes vestí- Algumas vezes, eles são encontrados em obser-
gios refletem atividade matemática, eles raramen- vações do comportamento animal, removendo-os
te evidenciam muito significado histórico. Eles para ainda mais longe do domínio do historiador.
podem ser interessantes quando mostram que Enquanto os estudos da aritmética canina ou da
pessoas em diferentes partes do mundo realizavam geometria das aves pertencem aos zoologistas, os
certas ações que envolviam conceitos que têm sido do impacto das lesões cerebrais na consciência
considerados matemáticos. Para que uma destas numéricam pertencem aos neurologistas, e os de
ações assuma significado histórico, entretanto, encantamentos numéricos que curam, aos antro-
procuramos por relações que indiquem que esta pologistas, todos estes estudos podem se mostrar
ação era conhecida por outro indivíduo ou grupo úteis aos historiadores da matemática sem ser
engajado em uma ação relacionada. Uma vez que uma parte clara desta história.

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1 – Vestígios 25

Primeiras bases Um exemplo interessante de sistema vigesinal


é o usado pelos Maias de Yucatan e da América
numéricas Central. Este foi decifrado algum tempo antes que
o resto das línguas maias pudesse ser traduzido.
Historicamente, contar com os dedos, ou a prá-
Em sua representação de intervalos de tempo
tica de contar por grupos de cinco e dez, parece
entre datas em seu calendário, os maias usavam
ter surgido mais tarde que a contagem por grupos
uma numeração com valor na posição, geralmen-
de dois e três; entretanto, os sistemas quinário e
te com 20 como base primária e 5 como auxiliar.
decimal quase invariavelmente substituíram o bi-
(Veja a ilustração ao lado.) Unidades eram repre-
nário e o ternário. Um estudo de várias centenas
sentadas por pontos e cincos por barras horizon-
de tribos de índios americanos, por exemplo, mos-
tais, de modo que o número 17, por exemplo, teria
trou que quase um terço usava a base decimal e
a aparência (ou seja, 3(5) + 2). Era usado um
aproximadamente outro terço usava um sistema
arranjo vertical de posição, com as unidades de
quinário ou quinário-decimal; menos de um terço
tempo maior acima; Portanto, a notação denota-
tinha um esquema binário, e os que usavam um
va 352 (ou seja, 17(20) + 12). Como o sistema era
sistema ternário formavam menos de um por cen-
principalmente para a contagem de dias em um
to do grupo. O sistema vigesimal, com base 20,
calendário que tinha 360 dias em um ano, a ter-
ocorria em cerca de 10 por cento das tribos.
ceira posição em geral não representava múltiplos
de (20)(20), como em um sistema vigesimal puro,
mas (18)(20). Entretanto, além deste ponto, pre-
valecia novamente a base 20. Nesta notação posi-
cional, os maias indicavam as posições ausentes
pelo uso de um símbolo, que aparece em várias
fontes, e lembra um pouco um olho semiaberto.
Assim, no esquema deles, a notação denotava
17(20 · 18 · 20) + 0(18 · 20) + 13(20) + 0.

Linguagem Numérica e
Contagem
Acredita-se, em geral, que o desenvolvimen-
to da linguagem foi essencial para que surgisse o
pensamento matemático abstrato; no entanto, pa-
lavras que exprimem ideias numéricas apareceram
lentamente. Sinais para números provavelmente
precederam as palavras para números, pois é mais
fácil fazer incisões em um bastão do que estabele-
cer uma frase bem modulada para identificar um
número. Se o problema da linguagem não fosse tão
difícil, talvez sistemas rivais do decimal tivessem
feito maiores progressos. A base 5, por exemplo,
Do Códex de Dresden, dos maias, exibindo números. A se- foi uma das que deixaram a mais antiga evidência
gunda coluna da esquerda, de cima para baixo, contém os escrita palpável; mas quando a linguagem se tornou
números 9, 9, 16, 0, 0, que indicam 9 × 144.000 + 9 × 7.200
formalizada, a base dez já predominava. As línguas
+ 16 × 360 + 0 + 0 = 1.366.560. Na terceira coluna estão os
números 9, 9, 9, 16, 0 representando 1.364.360. O original é modernas são construídas quase sem exceção em
nas cores preta e vermelha. (Tirado de Morley, 1915, p. 266). torno da base 10, de modo que o número treze,

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2 – Egito antigo 29

2 EGITO ANTIGO
Sesóstris… repartiu o solo do Egito entre seus habitantes… Se o rio levava
qualquer parte do lote de um homem ... o rei mandava pessoas para examinar
e determinar por medida a extensão exata da perda… Por esse costume, eu
creio, é que a geometria veio a ser conhecida no Egito, de onde passou para a
Grécia.
Heródoto

A era e as fontes sofos) continua até nossos tempos. Como iremos


ver, história da matemática mostra uma constante
Em cerca de 450 a.C., Heródoto, o inveterado influência mútua entre estes dois tipos de contri-
viajante grego e historiador narrativo, visitou o buição.
Egito. Ele viu os monumentos antigos, entrevistou
sacerdotes e observou a majestade do Nilo e as Ao tentar desvendar história da matemática no
conquistas dos que trabalhavam ao longo de suas Egito antigo, os pesquisadores até o século deze-
margens. O relato resultante se tornou uma das nove encontraram duas grandes dificuldades. A
pedras fundamentais da narrativa da história anti- primeira era a inabilidade de ler os materiais-fonte
ga do Egito. Ao tratar de matemática, ele manteve que existiam. A segunda era a escassez destes ma-
que a geometria tinha-se originado no Egito, pois teriais. Por mais de trinta e cinco séculos, as ins-
acreditava que o assunto tinha aparecido lá a par- crições usaram escrita hieroglífica, com variações
tir da necessidade prática de redemarcar terras de puramente ideográficas para a hierática mais
depois da enchente anual das margens do vale do suave e eventualmente para as formas demóticas,
rio. Um século mais tarde, o filósofo Aristóteles es- ainda mais fluentes. Após o terceiro século d.C.,
peculou sobre o mesmo assunto e atribuiu a busca quando os hieróglifos foram substituídos pelo cóp-
da geometria pelos egípcios à existência de uma tico e eventualmente suplantados pelo árabe, o co-
classe de sacerdotes com tempo para o lazer. O nhecimento sobre eles desapareceu. O desenvolvi-
debate, que se estende bem além das fronteiras do mento que permitiu aos pesquisadores modernos
Egito, sobre creditar o progresso em matemática decifrarem os textos antigos ocorreu no início do
aos homens práticos (os demarcadores de terras século dezenove, quando o pesquisador francês
ou “esticadores de corda”) ou aos elementos con- Jean-François Champollion, trabalhando em es-
templativos da sociedade (os sacerdotes e o filó- tudos em várias línguas, foi capaz de lentamente

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36 História da Matemática

te de um ângulo. Na tecnologia moderna, é usual


medir o grau de inclinação de uma reta por uma
razão entre segmentos verticais e horizontais que
é recíproca da usada costumeiramente no Egito.
A palavra egípcia seqt significava o afastamento
horizontal de uma reta oblíqua em relação ao eixo
vertical para cada variação de unidade na altura.
O seqt correspondia assim, exceto quanto a uni-
dades de medida, ao termo usado hoje pelos ar-
quitetos para indicar a inclinação de uma parede.
A unidade de comprimento vertical era o cúbito;
mas para medir a distância horizontal a unidade
Figura 2.2 usada era a “mão”, das quais havia sete em um
cúbito. Portanto, o seqt da face de uma pirâmide
era o quociente do afastamento horizontal pelo
O Problema 10 no Papiro de Moscou apresen-
vertical, o primeiro medido em mãos, o segundo,
ta uma questão mais difícil de interpretar que a
em cúbitos.
do Problema 14. Aqui, o escriba pede a área da
superfície do que parece ser um cesto com um di- No Problema 56 do Papiro de Ahme, pede-se
âmetro 4 1/2. Ele procede como se usasse o equi- o seqt de uma pirâmide que tem 250 cúbitos (ou
valente da fórmula S = (1 – 1/9)2 (2x) · x onde x é ells) de altura e uma base quadrada com lado de
4 1/2, obtendo como resposta 32 unidades. Como 360 cúbitos. O escriba começa dividindo 360 por
(1 – 1/9)2 é a aproximação egípcia para π/4, a res- 2, depois divide o resultado por 250, obtendo 1/2
posta 32 corresponderia à superfície de um hemis- + 1/5 + 1/50. Multiplicando o resultado por 7, deu
fério de diâmetro 4 1/2; e essa foi a interpretação o resultado de 5 1/25 em mãos por cúbitos. Em
dada ao problema em 1930 . Tal resultado, prece- outros problemas sobre pirâmides no Papiro de
dendo de cerca de 1.500 anos o mais antigo cálcu- Ahmes, o seqt dá 5 1/4, o que está um pouco mais
lo conhecido de uma superfície hemisférica, seria de acordo com o da grande Pirâmide de Quéops,
assombroso, e de fato, parece que seria bom de- com lado de base 440 cúbitos e altura 280, o seqt
mais para ser verdadeiro. Análise posterior indica sendo 5 1/2 mãos por cúbito.
que a “cesta” pode ter sido um teto — algo como
o de um hangar em forma de meio cilindro de diâ-
metro 4 1/2 e comprimento 4 1/2. O cálculo, nesse Pragmatismo aritmético
caso, não exige mais que o conhecimento do com- O conhecimento revelado nos papiros egíp-
primento de um semicírculo, e a obscuridade do cios existentes é quase todo de natureza prática
texto permite oferecer interpretações ainda mais e o elemento principal nas questões eram cálcu-
primitivas, inclusive a possibilidade de ser o cálcu- los. Quando parecem entrar elementos teóricos,
lo apenas uma avaliação grosseira da área de um o objetivo pode ter sido o de facilitar a técnica.
teto de celeiro em forma de cúpula. De qualquer Mesmo a geometria egípcia, outrora louvada, na
forma, parece que temos aqui uma das primeiras verdade parece ter sido principalmente um ramo
estimativas da área de uma superfície curva. da aritmética aplicada. Onde entram relações
de congruência elementares, o motivo aparente-
Problemas de inclinação mente é o de fornecer artifícios de mensuração.
As regras de cálculo dizem respeito apenas a ca-
Na construção de pirâmides era essencial man- sos concretos específicos. Os papiros de Ahmes e
ter uma inclinação constante das faces e pode ter Moscou, nossas duas principais fontes de informa-
sido essa preocupação que levou os egípcios a in- ção, podem ter sido apenas manuais destinados a
troduzir um conceito equivalente ao de cotangen- estudantes, mas mesmo assim indicam a direção e

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9 – China Antiga e Medieval 143

9 CHINA ANTIGA E MEDIEVAL


Ninguém tem o método bom…
Neste mundo, não há maneiras naturalmente corretas, e entre os métodos,
técnicas que sejam exclusivamente boas.
Ji Kang

Os mais antigos Suanjing (Chou Pei Suang Ching), geralmente


considerado o mais antigo dos clássicos matemá-
documentos ticos, diferem por quase mil anos. Alguns conside-
ram o Zhoubi como uma boa exposição da mate-
As civilizações das margens dos rios Iang-tse
mática chinesa de cerca de 1200 a.C., mas outros
e Amarelo são de época comparável à do Nilo ou
colocam a obra no primeiro século antes de nossa
de entre os rios Tigre e Eufrates; mas registros
era. Na verdade, pode representar a obra de perío-
cronológicos da história da matemática na China
dos diferentes. Uma data de depois de 300 a.C.
são menos confiáveis do que os relativos ao Egito
parece razoável, o que colocaria a obra perto do
e Babilônia. Como no caso de outras civilizações
ou no período da dinastia de Han (202 a.C.). A
antigas, há vestígios das primeiras atividades ma-
palavra “Zhoubi” parece referir-se ao uso do gno-
temáticas na forma de contagem, medições e pe-
mo no estudo das trajetórias circulares no céu, e o
sagem de objetos. O conhecimento do teorema de
livro com esse título trata de cálculos astronômi-
Pitágoras parece ser anterior aos primeiros textos
cos, embora contenha uma introdução relativa às
matemáticos conhecidos. Entretanto, datar os do-
propriedades do triângulo retângulo, o teorema de
cumentos matemáticos da China não é nada fácil.
Pitágoras e alguma coisa sobre o uso de frações. A
Não se conhece nenhuma versão dos primeiros
obra tem a forma de um diálogo entre um príncipe
clássicos que tenha se preservado. Um conjunto
e seu ministro sobre o calendário; o ministro diz
de textos em faixas de bambu, descoberto no iní-
ao governante que a arte dos números deriva do
cio da década de 1980, projeta alguma luz sobre
círculo e do quadrado, o quadrado pertencendo à
a idade de alguns clássicos relacionados, pois fo-
terra e o círculo aos céus.
ram encontrados selados em tumbas que datam
do século dois a.C. Estimativas quanto ao Zhoubi

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9 – China Antiga e Medieval 149

1299, foi o Suanxue qimeng (Suan-hsueh ch’i-


-meng) (Introdução aos estudos matemáticos),
obra relativamente elementar que influenciou for-
temente a Coreia e o Japão, embora na China se
perdesse até reaparecer no século dezenove. De
maior interesse histórico e mate­mático é o Siyuan
yujian (Ssu-yuan yu-chien) (Precioso espelho
dos quatros elementos) de 1303. No século de-
zoito, esse também desapareceu na China, sendo
redescoberto somente no século seguinte. Os qua-
tro elementos, chamados céu, terra, homem e ma-
téria, são as representações de quatro incógnitas
na mesma equação. O livro representa o ápice do
desenvolvimento da álgebra chinesa, pois trata de
equações simultâneas e de equações de grau até
quatorze. Nele, o autor descreve um método de
transformação que chama fan fa, cujos elementos
parecem ter surgido muito antes disso na China,
mas que tem geralmente o nome de Horner, que
viveu meio milênio depois. Para resolver a equa-
ção x2 + 252x – 5.292 = 0, por exemplo, Zhu Shijie
primeiro obteve x = 19 como aproximação (uma
raiz cai entre x = 19 e x = 20), depois usou o fan
fa, nesse caso a transformação y = x – 19, para
obter a equação y2 + 290y – 143 = 0 (com uma raiz
entre y = 0 e y = 1). Deu então a raiz dessa como
(aproximadamente) y = 143/(1 + 290); portanto,
o valor correspondente de x é 19 143/291. Para a
equação x3 – 574 = 0 ele usou y = x – 8 para obter O triângulo de “Pascal”, como mostrado em 1303 na capa
do Espelho precioso, de Zhu Shijie. É intitulado “O diagra-
y3 + 24y2 + 192y – 62 = 0, e deu a raiz como sendo
ma do velho método dos sete quadrados multiplicativos” e
x = 8 + 62/(1 + 24 +192) ou x = 8 2/7. Em alguns coloca em uma tabela os coeficientes binomiais até a oitava
casos, ele encontrou aproximações decimais. potência. (Reproduzido de J. Needham, 1959, v. 3, p. 135.)
Algumas das muitas somas de séries encontra-
das no Espelho são as seguintes:
finitas, elementos do qual parecem remontar na
2 2 2 2 ( 2n + 1) China ao século sete; mas logo depois de sua obra
1 + 2 + 3 +  + n = n( n + 1)
3! o método desapareceu por muitos séculos.
( n + 2)
1 + 8 + 30 + 80 +  + n2( n + 1) O Espelho precioso começa com um diagrama
3! do triângulo aritmético impropriamente conheci-
( 4 n + 1) do no Ocidente como “triângulo de Pascal” (veja a
= n( n + 1)( n + 2)( n + 3) ×
5! ilustração acima). No arranjo de Zhu, temos os co-
eficientes das expansões binomiais até a oitava po-
No entanto, não são dadas demonstrações, nem tência, claramente dadas em numerais em barra e
o tópico parece ter continuado na China outra vez um símbolo redondo para o zero. Zhu não reivindi-
se­não no século dezenove. Zhu Shijie parece ter cava crédito pelo triângulo, referindo-se a ele como
tratado suas somas pelo método de diferenças um “diagrama do velho método para achar potên-

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10 – Índia Antiga e Medieval 151

10 ÍNDIA ANTIGA E MEDIEVAL


Uma mistura de conchas de pérolas e tâmaras amargas…
ou de valioso cristal e pedregulho comum.
Índia, de Al-Biruni

O início da matemática Sanskrit, a língua em questão, nos apresenta a


primeira informação concreta sobre os conceitos
na Índia matemáticos indianos primitivos.
Escavações arqueológicas em Mohenjo Daro e O Vedas, grupo de textos antigos essencialmen-
Harappa fornecem evidências de uma civilização te religiosos, inclui referências a números grandes
antiga e de alta cultura no vale do Indo durante a e a sistemas decimais. De especial interesse são
era das construções das pirâmides egípcias (cerca as dimensões, formas e proporções dadas para os
de 2650 a.C.), mas não temos documentos mate- tijolos usados na construção de altares de fogo ri-
máticos indianos dessa época. Existem evidências tuais. A Índia, como o Egito, tinha seus “estirado-
de um sistema estruturado de pesos e medidas e res de corda”, e as primitivas noções geométricas
foram encontradas amostras de numeração com adquiridas em conexão com o traçado de templos
base decimal. Entretanto, durante este período e e medida e construção de altares tomaram a forma
nos séculos seguintes, ocorreram grandes movi- de um corpo de conhecimentos conhecido como
mentos e conquistas de povos no subcontinente os Sulbasutras ou “regras de corda”, Sulba (ou
indiano. Muitas das línguas e dialetos que apare- sulva) refere-se às cordas usadas para medidas,
ceram como resultado ainda não foram decifradas. e sutra significa um livro de regras ou aforismos
É, portanto, difícil traçar um mapa do espaço- relativos a um ritual ou a uma ciência. O estirar de
-tempo das atividades matemáticas nesta vasta cordas é notavelmente reminiscente da origem da
região. O desafio liguístico é aumentado pelo fato geometria egípcia, e sua associação com funções
de que as amostras mais antigas da língua indiana nos templos nos faz lembrar a possível origem ri-
conhecidas eram parte de uma tradição oral, em tual da matemática. Mas tão importante quanto
vez de uma tradição escrita. Apesar disso, Vedic a dificuldade em datar as regras são as dúvidas

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158 História da Matemática

Brahmagupta
Os últimos parágrafos anteriores podem ter
dado a impressão injustificada de que havia uni-
formidade na matemática hindu, pois frequen-
temente localizamos desenvolvimentos simples-
mente como sendo de “origem indiana”, sem
especificar o período. A dificuldade é que há
um alto grau de incerteza na cronologia hindu.
O material no importante manuscrito Bakshali,
contendo uma aritmética anôni­ma, data, ao que
alguns supõem, do terceiro ou quarto século, mas
outros creem que é do oitavo ou nono século ou
ainda de mais tarde; e há uma sugestão de que
pode não ser sequer de origem hindu. Colocamos
a obra de Aryabhata em 500 d.C. aproximada-
mente, mas houve dois matemáticos chamados
Aryabhata e não podemos com certeza atribuir
resultados ao nosso Aryabhata, o mais antigo. A
matemática hindu apresenta mais problemas his-
tóricos do que a grega, pois os matemáticos india-
Divisão em galeão, século seis. De um manuscrito não nos raramente se referiam a seus predecessores
publicado de um monge veneziano. O título do trabalho é e exibiam surpreendente independência em seu
“Opus Arithmetica D. Honorati veneti monarch coenobij S. trabalho matemático. Assim é que Brahmagupta
Lauretig“. Da biblioteca do Mr. Plimpton.
(viveu em 628 d.C.), que viveu na Índia Central
um pouco mais de cem anos depois de Aryabha-
suas afirmações. É possível que influências babi- ta, tem pouco em comum com seu predecessor,
lônicas e chinesas desempenhassem um papel no que tinha vivido no leste da Índia. Brahmagupta
problema da evolução ou extração de raiz. Diz-se menciona dois valores de p — o “valor prático” 3
frequentemente que a “prova por noves fora” é e o “valor bom”  10 — mas não o valor mais pre-
invenção hindu, mas parece que os gregos conhe- ciso de Aryabhata; na trigonometria de sua obra
ciam já antes essa propriedade, sem usá-la muito, mais conhecida, o Brahmasphuta Siddhanta,
e o método se tornou de uso comum somente com ele usou um raio de 3.270, em vez de 3.438 como
os árabes do século onze. Aryabhata. Em um aspecto ele se assemelha a
seu predecessor — na justaposição de resultados
bons e ruins. Achou a área “bruta” de um triângulo
2 isósceles multiplicando a metade da base por um
2 3 dos lados iguais; para o triângulo escaleno com
3 9 8 base quatorze e lados treze e quinze, ele achou a
área “bruta” multiplicando a metade da base pela
1 6 7 5 3
média aritmética dos outros lados. Ao achar a
382 4 4 9 7 7 117
área “exata”, ele utilizou a fórmula arquimediana-
3 8 2 2 4 -heroniana. Para o raio do círculo circunscrito a
3 8 7 um triângulo, ele deu o equivalente do resultado
2 6 trigonométrico correto 2R = a/sen A = b/sen B =
c/sen C, mas isto, é claro, é apenas uma reformu-
Figura 10.5 lação de um resultado que Ptolomeu já conhecia

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11 – A Hegemonia Islâmica 163

11 A HEGEMONIA ISLÂMICA
Ah, mas meus Cálculos, dizem as Pessoas, trouxeram o Ano à Medida humana?
Então, foi por cortar do Calendário o Amanhã que ainda não nasceu e o morto
Ontem.
Omar Khayyam (Rubayat, na tradução de FitzGerald)

Conquistas árabes da era maometana — era que exerceria forte in-


fluência sobre o desenvolvimento da matemática.
Um dos desenvolvimentos mais transforma- Maomé agora tinha se tornado um líder militar,
dores a afetar a matemática na Idade Média foi a além de religioso. Dez anos depois, estabeleceu
notável expansão do Islam. Dentro de um século um estado maometano, com centro em Meca, no
a partir de 622 d.C., o ano do Hégira do profeta qual os judeus e cristãos, sendo também monote-
Maomé, o Islam tinha expandido da Arábia até a ístas, recebiam proteção e liberdade de culto. Em
Pérsia, o norte da África e a Espanha. 632, enquanto planejava atacar o Império Bizan-
Pela época em que Brahmaguta escrevia, o tino, Maomé morreu em Medina. Sua morte sú-
Império Sabeano da Arábia Félix tinha caído e a bita não impediu de modo algum a expansão do
península passava por uma crise séria. Era ha- domínio islâmico, pois seus seguidores invadiram
bitada principalmente por nômades do deserto, territórios vizinhos com espantosa rapidez. Den-
chamados beduínos, que não sabiam ler nem es- tro de poucos anos, Damasco e Jerusalém e gran-
crever. Entre eles estava o profeta Maomé, nasci- de parte do vale mesopotâmico caíram perante
do em Meca, cerca de 570. Durante suas viagens, os conquistadores; em 641, Alexandria, que por
Maomé entrou em contato com judeus e cristãos, muitos anos fora o centro matemático do mun-
e o amálgama dos sentimentos religiosos que do, foi capturada. Como acontece tão frequente-
surgiram em sua mente levou-o a considerar-se mente nestas conquistas, os livros na biblioteca
como apóstolo de Deus, enviado para conduzir foram queimados. A extensão do estrago feito
seu povo. Durante uns dez anos pregou em Meca, nesta ocasião não é clara; tem sido suposto que
mas em 622, perante uma conspiração para ma- após as depredações de fanáticos militares e reli-
tá-lo, aceitou um convite para ir a Medina. Essa giosos anteriores, e longos períodos de completo
“fuga”, conhecida como Hégira, marcou o início abandono, pode ter havido relativamente poucos

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208 História da Matemática

máticos e artísticos se encontra em Albrecht Dürer,


um contemporâneo de Leonardo e conterrâneo de
Werner em Nüremberg. Na obra de Dürer vemos
também a influência de Pacioli, especialmente na
célebre gravura de 1514, intitulada Melancholia.
Aqui, o quadrado mágico tem presença proeminen­
te. Esse é considerado frequentemente o primeiro
uso do quadrado mágico no Ocidente, mas Pacio­
li tinha deixado um manuscrito não publicado, De
viribus quantitatis, em que mostra interesse por
tais quadrados.

16 3 2 13

5 10 11 8

9 6 7 12

4 15 14 1

O interesse de Dürer pela matemática, no en­ Melancholia, de Albrecht Dürer (Museu Britânico).
tanto, era muito mais geométrico do que aritmé­ Observe o quadrado mágico de ordem quatro no canto
tico, como indica o título de seu livro mais impor­ superior direito.
tante: “Investigação sobre a medida com círculos
e retas de figuras planas e sólidas”. Essa obra, que sas, mas evidentemente inexatas. A construção de
apareceu em várias edições alemãs e latinas entre Dürer de um nonágono, aproximadamente regu­
1525 e 1538, contém várias novidades dignas de lar, é a seguinte: seja O o centro de um círculo
nota, sendo suas novas curvas as mais importan­ ABC, em que A, B, C são os vértices do triângulo
tes. Essa é uma direção em que o Renascimento
poderia facilmente ter aperfeiçoado a obra dos
antigos, que só haviam estudado um punhado de A
tipos de curvas. Dürer tomou um ponto fixo sobre
um círculo e depois deixou que o círculo rolasse D
ao longo da circunferência de um outro círculo,
E
gerando uma epicicloide; mas, não tendo os ins­ F G
trumentos algébricos necessários, não a estudou
analiticamente. O mesmo se deu com outras cur­
O
vas planas que ele obteve projetando curvas re­
versas helicoidais sobre um plano para formar
espirais. Na obra de Dürer, encontramos a cons­ C B
trução de Ptolomeu do pentágono regular, que é
exata, bem como outra construção original que é
apenas uma aproximação. Para o heptágono e o
eneágono, ele também deu construções engenho­ Figura 13.3

Boyer13.indd 208 20/12/11 21:25


14 – Primeiros matemáticos modernos dedicados à resolução de problemas 219

14
PRIMEIROS MATEMÁTICOS
MODERNOS DEDICADOS À
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Na matemática, não posso achar deficiência, a não ser que os homens
não compreendem suficientemente o uso excelente da matemática pura.
Francis Bacon

Acessibilidade de bst Bürgi (1552-1632) era suíço e Johannes Ke-


pler (1571-1630), alemão. Bürgi construía relógios
cálculos e instrumentos, Galileu era um cientista físico, e
Stevin, engenheiro. Já vimos que o trabalho de
Durante o fim do século dezesseis e início do
Viète resultou de dois fatores em particular: (1) a
século dezessete, um número crescente de comer-
redescoberta dos clássicos gregos antigos; e (2) os
ciantes, proprietários, cientistas e praticantes de
desenvolvimentos relativamente novos na álgebra
matemática sentiram a necessidade de meios que
medieval e do início da era moderna. Durante todo
simplificassem cálculos aritméticos e medidas geo-
o século dezesseis e início do século dezessete, os
métricas e que permitissem que uma população em
matemáticos teóricos, tanto profissionais quanto
grande parte analfabeta e com dificuldades numé-
amadores, mostraram preocupação com as téc-
ricas participassem das transações comerciais da
nicas práticas da computação, o que contrastava
época.
fortemente com a dicotomia enfatizada por Platão
Entre os que procuravam ferramentas mais efe- dois milênios antes.
tivas na resolução de problemas matemáticos, esta-
vam numerosos indivíduos bem conhecidos. Con-
sideraremos agora alguns dos mais importantes
Frações decimais
deles, espalhados pela Europa ocidental. Galileu Viète, em 1579, tinha recomendado insistente-
Galilei (1564-1642) veio da Itália; vários outros, mente o uso de frações decimais em vez de sexa-
como Henry Briggs (1561-1639), Edmund Gun- gesimais. Em 1585, uma recomendação ainda mais
ter (1581-1626) e William Oughtred (1574-1660) forte em favor da escala decimal para frações, bem
eram ingleses; Simon Stevin (1548-1620) era fla- como para inteiros, foi feita pelo principal mate-
mengo; John Napier (1550-1617) era escocês; Jo- mático dos Países Baixos, Simon Stevin, de Bru-

Boyer14.indd 219 20/12/11 21:28


16 – Técnicas britânicas e métodos continentais 287

ou análise. Em 1676, Leibniz visitou novamente


Londres, trazendo consigo sua máquina de calcu-
lar; foi durante esses anos entre suas duas visitas
a Londres que o cálculo diferencial tomou forma.

Séries infinitas
Como no caso de Newton, as séries infinitas
desempenharam papel importante nos primeiros
trabalhos de Leibniz. Huygens tinha-lhe proposto
o problema de achar a soma dos recíprocos dos
números triangulares, isto é, 2/n(n + 1). Leibniz,
astuciosamente, escreveu cada termo como soma
de duas frações, usando
2 1 1
=2 –
n(n + 1) n n +1
de onde fica evidente, escrevendo alguns termos,
que a soma dos primeiros n termos é
1 1
2 – ,
1 n +1
portanto, que a soma da série infinita é 2. Desse su-
Gottfried Wilhelm Leibniz cesso, ele ingenuamente concluiu que seria capaz
de achar a soma de quase todas as séries infinitas.
berg. Entrou, então, no serviço diplomático, pri- A soma de séries surgiu novamente no triân-
meiro para o eleitor de Mainz, depois para a família gulo harmônico, cujas analogias com o triângulo
de Brunswick, e finalmente para os hanoverianos, aritmético (de Pascal) fascinaram Leibniz.
a quem serviu durante quarenta anos. Entre os Triângulo aritmético
eleitores de Hanover a quem Leibniz serviu estava
1 1 1 1 1 1 1 
o futuro (1714) Rei George I da Inglaterra. Como
um influente representante de governo, Leibniz 1 2 3 4 5 6 
viajou muito. 1 3 6 10 15 
Em 1672, foi a Paris, onde encontrou Huygens, 1 4 10 20 
que sugeriu que se ele desejava tornar-se um ma- 1 5 15 
temático, deveria ler os tratados de Pascal de 1 6 
1658­-1659. 1 
Em 1673, uma missão política levou-o a Lon- Triângulo harmônico
dres, onde comprou um exemplar das Lectiones 1 1 1 1 1 1 
1 2 3 4 5 6
geometricae de Barrow, encontrou Oldenburg e 1 1 1 1 1 
Collins, e tornou-se membro da Royal Society. É 2 6 12 20 30

em grande parte em torno dessa visita que gira 1


3
1
12
1
30
1
60 
a querela posterior sobre prioridade, pois Leibniz 1 1 1
poderia ter visto a De analysi, de Newton, em ma- 4 20 60 
nuscrito. Entretanto, é duvidoso que nessa altura 1 1 
5 30
ele pudesse tirar grande proveito disso, pois Leib-
1 
niz não estava ainda bem preparado em geometria 6

Boyer16.indd 287 20/12/11 21:45


22 – Análise 387

22 ANÁLISE
É com a hipótese mais simples que se precisa ter cuidado; pois é ela que
tem mais chance de passar despercebida.
Poincaré

Berlim e Göttingen em teoria dos números foi outra. Pelo fim do século, a
corrente mais forte era a da aritmetização; afetava
meados do século a álgebra, a geometria e a análise.
Newton e Leibniz tinham entendido que a aná- Em 1855, Dirichlet sucedeu a Gauss em Gö-
lise, o estudo de processos infinitos, tratava de ttingen. Deixou estabelecida, em Berlim, uma tra-
grandezas contínuas, tais como comprimentos, áre- dição de conferências sobre aplicações da análise
as, velocidades e acelerações, ao passo que a teo- a problemas de física e a teoria dos números. Tam-
ria dos números tem como seu domínio o conjunto bém deixou um pequeno grupo de amigos e estu-
discreto dos números naturais. No entanto, vimos dantes, seus e de Jacobi, que continuaram a in-
que Bolzano tentou dar demonstrações puramen- fluenciar a matemática na Academia, no Journal
te aritméticas de proposições, tais como o teorema für die reine und angewandte Mathematik, e na
da localização na álgebra elementar, que pareciam universidade. Em Göttingen, conferências de ma-
depender de propriedades de funções contínuas; e temática eram menos solidamente estabelecidas.
Plücker tinha aritmetizado completamente a geo- Como já observamos, o ensino limitado de Gauss
metria analítica. A teoria dos grupos originalmente usualmente dava ênfase a temas como o método
tratara de conjuntos discretos de elementos, mas dos mínimos quadrados, que seriam úteis a seus
Klein tinha em mente uma unificação dos aspectos assistentes no observatório. A maior parte da ma-
discreto e contínuo da matemática sob o conceito temática propriamente dita era ensinada por um
de grupo. O século dezenove foi, de fato, um período único professor, Moritz Stern (1807-1894). Diri-
de correlação na matemática. A interpretação geo- chlet tentou enfatizar o “verdadeiro” legado de
métrica da análise e da álgebra foi um aspecto des- Gauss com conferências sobre teoria dos números
ta tendência; a introdução de técnicas analíticas na e teoria do potencial.

Boyer22.indd 387 21/12/11 07:59


24 – Tendências recentes 431

24 TENDÊNCIAS RECENTES
O pragmatista sabe que a dúvida é uma arte que deve ser adquirida com
dificuldade.
C. S. Pierce

Panorama geral monstração aceitável. Prêmios envolvendo a ou-


torga de quantias monetárias nunca vistas antes
Quando olhamos para trás, para as últimas três ajudaram a trazer a público os desafios matemá-
décadas, o período revela diversas características ticos, em meios de comunicação que, ao que se
emergentes. Centros significativos de atividade sabe, nunca haviam tratado de tópicos matemáti-
matemática se espalharam pela Ásia, e a comuni- cos no passado.
cação matemática se tornou mais rápida e mun-
Concluímos este texto considerando aspectos
dial, em grande parte com o auxílio da Internet. O
de quatro problemas famosos resolvidos durante
domínio da álgebra puramente abstrata deu lugar
este período, que ilustram diversas destas carac-
a tópicos que se valem de técnicas mais integradas
terísticas.
de álgebra e geometria, estudos de estruturas topo-
lógicas complexas, sistemas geométricos diferen-
ciais, questões de estabilidade e outros. Diversos A conjectura das quatro
problemas, inclusive questões importantes sem
solução há muito tempo, foram resolvidas com
cores
computadores; a teoria da complexidade e outros A conjectura das quatro cores foi enuncia-
desenvolvimentos matemáticos serviram para au- da pela primeira vez por Francis Guthrie (1831-
mentar o poder computacional dirigido à resolu- 1899), um ex-aluno de Augustus De Morgan na
ção de problemas matemáticos. O comprimento e University College, que se formou em direito, mas
a natureza composta de algumas das demonstra- eventualmente voltou para a matemática e obte-
ções mais conhecidas levaram ao questionamento ve um cargo de professor na África do Sul, onde
de sua validade, e a comunidade matemática se se distinguiu também como botânico. Em 1852,
dividiu quanto à questão do que constitui uma de- enquanto ainda estudava direito, Francis Guthrie

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