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Acórdãos TJMG Antecipação de Provas

Número do processo: 1.0024.08.043413-7/001(1) Númeração Única:


0434137-53.2008.8.13.0024 Acórdão Indexado!
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Relator: Des.(a) HELOISA COMBAT
Relator do Acórdão: Des.(a) HELOISA COMBAT
Data do Julgamento: 02/09/2008
Data da Publicação: 10/10/2008
Inteiro Teor:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO CAUTELAR DE PRODUÇÃO ANTECIPADA DE


PROVAS - MEDIDA CAUTELAR. A finalidade da medida de produção antecipada de prova é
somente a segurança da prova, sem qualquer intuito de antecipar o julgamento da
pretensão de direito substancial. É medida completa, isto é, que não se destina a
converter-se em outra medida definitiva após o provimento final de mérito. Apenas há
documentação judicial de fatos. As ações cautelares de antecipação de provas têm
cabimento em qualquer que seja a natureza da futura demanda (contenciosa ou
voluntária) e tanto podem ser manejadas por quem pretende agir, bem como por quem
pretende se defender. Presentes os requisitos, deve-se deferir a medida cautelar.
Recurso desprovido.

AGRAVO N° 1.0024.08.043413-7/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - AGRAVANTE(S):


ESTADO MINAS GERAIS - AGRAVADO(A)(S): IMÓVEIS AP LTDA - RELATORA: EXMª. SRª.
DESª. HELOISA COMBAT

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 7ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de


Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos
julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM REJEITAR
PRELIMINARES E NEGAR PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 02 de setembro de 2008.

DESª. HELOISA COMBAT - Relatora

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

Proferiu sustentação oral, pelo Agravado, o Dr. Roberto Venesia.

A SRª. DESª. HELOISA COMBAT:

Sr. Presidente.

Ouvi, com atenção, a sustentação oral produzida em favor do Agravado.

Registro, também, o recebimento de memorial pela empresa agravada e lhe dei


a devida atenção.

VOTO

Conheço do recurso, estando presentes os seus pressupostos subjetivos e objetivos de


admissibilidade.

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto pelo Estado de Minas Gerais contra a r.


decisão da M.M. Juíza da 1ª Vara da Fazenda Pública e Autarquias da Comarca de Belo
Horizonte, que, nos autos da Ação Cautelar de Produção Antecipada de Prova, deferiu o
pedido liminar.

Alega o agravante que a liminar deferida esgota o objeto da ação.


Sustenta que se aguardar o momento processual para interpor apelação, a prova já
estará concluída e homologada e o objeto do recurso de instrumento é exatamente o de
impedir a realização de prova pericial para ser usada pela agravada numa hipotética
ação de desapropriação a ser proposta pelo agravante.

Ao final, requer seja dado provimento ao recurso, para cassar a medida liminar, bem
como para extinguir o processo sem resolução do mérito, uma vez que inexiste os
pressupostos processuais e condições da ação.

Contra-razões, à f. 63/72, pugnando pelo desprovimento do recurso.

Passo a decidir.

PRELIMINAR DE INÉPCIA DA INICIAL.

O Estado afirma que a inicial é inepta, tendo em vista o não cumprimento do disposto no
inciso III, do art. 801, do CPC, que preceitua:

"Art. 801. O requerente pleiteará a medida cautelar em petição escrita, que indicará:

(...)

III - a lide e seu fundamento;"

No caso em comento, a parte agravada pretende com a produção antecipada de provas


obter o atual e real valor dos lotes, uma vez que quando da imissão na posse,
possivelmente, todos os investimentos iniciais, bem como as obras e benfeitorias
realizadas pela sociedade autora no local (objeto de desapropriação) poderão ter sido
desfeitas.

Assim, tenho que indicados estão a lide e o fundamento que deu base ao pleito cautelar.

Por outro lado, vale ressaltar que é suficiente que a parte indique quais os objetivos que
pretende alcançar com a medida cautelar, sem dizer expressamente a ação que almeja
interpor.

"EMENTA - AÇÃO CAUTELAR PREPARATÓRIA - REQUISITOS - ARTIGO 801, III, DO CÓDIGO


DE PROCESSO CIVIL. A medida cautelar preparatória, devido à sua dependência da ação
principal, deve ser interposta com a observância do artigo 801, inciso III, do CPC.

Não é necessário que se explicite qual será a ação proposta, mas sim, o resultado prático
que, com ela, se pretende obter." (TJMG - Número do processo: 2.0000.00.391830-5/000 -
Relator: ALVIMAR DE ÁVILA - Data da Publicação: 08/02/2003)

Destarte, entendo que não assiste razão ao agravante.

Rejeita-se a preliminar.

PRELIMINAR DE NÃO CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS DO ART. 804.

O agravante alega que inexistiram os pressupostos do art. 804, para a concessão da


medida.

O art. 804, do CPC, dispõe, in verbis:

"Art. 804. É lícito ao juiz conceder liminarmente ou após justificação prévia a medida
cautelar, sem ouvir o réu, quando verificar que este, sendo citado, poderá torná-la
ineficaz; caso em que poderá determinar que o requerente preste caução real ou
fidejussória de ressarcir os danos que o requerido possa vir a sofrer. (Redação dada pela
Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)"

Contudo, como se pode se depreender da r. decisão agravada o MM. Juíza a quo, houve a
determinação da prévia citação da parte ré (ora agravante), para que possa acompanhar
a diligência, inclusive facultando a apresentação de quesitos e indicação de assistente
técnico.

Por outro lado, o recorrente alega ainda que não foi prestada a caução idônea.

Entretanto, tenho que a determinação da prestação de caução não é uma obrigação para
o deferimento da liminar, mas sim uma faculdade do Magistrado, que, diante do pedido
cautelar, deve verificar se a concessão da medida trará qualquer prejuízo à parte
requerida.

No caso dos autos, o pedido é somente relacionado à produção de prova pericial, não
resultando em qualquer risco de dano à parte agravante, sendo, portanto, desnecessária
a caução.

Sobre o tema, este Tribunal:

"AGRAVO DE INSTRUMENTO. CAUÇÃO. DISCRICIONARIEDADE DO JUIZ. PROVAS. LIVRE


CONVENCIMENTO. LIMINAR. FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA. A prestação de
caução, prevista no artigo 804, do CPC, trata de ato discricionário do juiz, devendo o
magistrado analisar a existência de risco de dano que possa vir a sofrer o requerido.
Ainda que a parte entenda ser suficiente as provas trazidas aos autos, é o magistrado
que as apreciará segundo as regras de livre convencimento, atendendo aos fatos e
circunstâncias constantes dos autos, nos termos do art. 131 do Código de Processo Civil.
Para a concessão de medida liminar imprescindível a confluência dos requisitos do fumus
boni iuris e do periculum in mora, sendo certo que a ausência de um deles pressupõe o
indeferimento da medida." (TJMG - Número do processo: 1.0111.06.005090-8/001 -
Relator: IRMAR FERREIRA CAMPOS - Data da Publicação: 04/05/2006)

"AGRAVO DE INSTRUMENTO - LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS - PRESENÇA DOS


REQUISITOS - FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA - CONCESSÃO - CAUÇÃO -
ARTIGO 835, DO CPC - ARTIGO 804, DO CPC - FACULDADE DO MAGISTRADO. A medida
liminar inaudita altera pars pode ser deferida, desde que se vislumbre que o réu, sendo
citado, poderia torná-la ineficaz, em observância ao disposto no artigo 804, do CPC.
Verificada a existência do fumus boni iuris e do periculum in mora, é cabível a concessão
de medida liminar para determinar a vistoria e busca e apreensão de cópias fraudulentas
de programas de computação utilizados sem a devida licença. A determinação de
prestação de caução, prevista no artigo 804, do CPC, trata de ato discricionário do juiz,
devendo o julgador sopesar a existência de risco de dano que possa vir a sofrer o
requerido." (Número do processo: 2.0000.00.383698-2/000 - Relator: ARMANDO FREIRE -
Data da Publicação: 27/11/2002)

Assim, não assiste razão ao agravante, razão pela qual REJEITO A PRELIMINAR.

MÉRITO

A MM. Juíza deferiu o pedido liminar, para a realização de perícia técnica na área objeto
da ação.

O doutrinador Humberto Theodoro Junior, em seu livro "Processo Cautelar", leciona que
as ações cautelares de antecipação de provas têm cabimento em qualquer que seja a
natureza da futura demanda (contenciosa ou voluntária) e tanto podem ser manejadas
por quem pretende agir, bem como por quem pretende se defender, como é o caso dos
autos.

Essas ações sujeitam-se aos pressupostos das medidas cautelares em geral.

Assim, a concessão de liminar em sede de medida cautelar de produção de antecipada


de provas tem como requisitos a relevância dos fundamentos invocados pela parte
interessada, bem como o perigo de dano grave ou de difícil reparação.

No caso em comento, a parte agravante almeja a segurança da prova, sem qualquer


intuito de antecipar o julgamento da pretensão de direito substancial.
A medida tem caráter acautelatório visando a preservação da prova diante da
possibilidade de ameaça ou prejuízo com sua produção futura.

O interesse da parte pode justificar a produção de prova antecipada, ante a


impossibilidade de se aguardar o momento processual próprio de produção probatória.

Lado outro, a produção de provas que demonstrem a realidade dos fatos, serve mais ao
processo do que ao interesse ou direito subjetivo de qualquer das partes (verdade
interessante ao processo).

O renomado doutrinador Humberto Theodoro Junior, na sua supracitada obra, ensina


ainda que:

"A sentença que o juiz profere nas ações de antecipação de prova é apenas
homologatória, isto é, refere-se apenas ao reconhecimento da eficácia dos elementos
coligidos, para produzir efeitos inerentes à condição de prova judicial.

Não há qualquer declaração sobre sua veracidade e suas conseqüências sobre a lide. Não
são ações declaratórias e não fazem coisa julgada material. Apenas há documentação
judicial de fatos. E nesse sentido merece acolhida a lição de PONTES DE MIRANDA que
considera essa espécie de ação como constitutiva por pré-constituir prova judicial para os
interessados. (...)

A antecipação de prova não é medida restritiva de direito nem constritiva de bens. É,


outrossim, medida completa, isto é, que não se destina a converter em outra medida
definitiva após o provimento final de mérito.

Não se lhe aplica, portanto, o prazo de eficácia do art. 806, de maneira que mesmo que a
ação principal seja proposta além de 30 dias da realização da medida preparatória, ainda
assim a vistoria, ou a inquirição, continuará útil e eficaz para servir ao processo de
mérito. (até mesmo porque, no caso, o requerente pretende se defender)"

Nesse sentido, o voto do Relator ALVIMAR DE ÁVILA, deste TJMG, na apelação nº.
2.0000.00.391830-5/00, in verbis:

"A respeito do tema, elucida Galeno Lacerdo: '(...)

Nada disso se verifica nas cautelas antecedentes voluntárias ou administrativas, como a


mera produção de provas, as comunicações preventivas de vontade e outros processos
de igual natureza já assinalados. Nestes, não existe subordinação jurisdicional de eficácia
que torna as ações cautelares 'sempre dependentes' do processo principal. Na liberdade
da chamada jurisdição inter volentes não há vínculos dessa ordem' (Comentários ao
Código de Processo Civil, v. VIII, Tomo I, 7ª ed. 1998, p. 35).

As medidas cautelares voluntárias, ao contrário das jurisdicionais, não pressupõem,


necessariamente, a existência de lide, e, se existente, não reclamam do juiz prolação de
sentença. Não são dependentes de uma ação principal. É o que acontece, por exemplo,
na produção antecipada de provas, na justificação, nos protestos, etc.

Já nas medidas cautelares jurisdicionais, existe litígio a ser dirimido na ação principal. E,
assim, ligam-se a esta, mas com ela não se confundem, porque se referem a um aspecto
peculiar da lide e apresentam objeto diverso. Como exemplos, pode-se citar: arresto,
seqüestro, caução, busca e apreensão, exibição, alimentos provisionais, atentado e, em
regra, as cautelas inominadas."

Como a MM. Juíza explanou em sua bem fundamentada decisão, a empresa requerente
pretende a realização de perícia técnica, com o objetivo de impedir que suposta
desvalorização dos imóveis cause prejuízos no valor da indenização a ser paga, quando
da imissão na posse. A medida não causará qualquer interferência na esfera jurídica do
réu/agravante.

Ademais, no exame dos autos, tenho que presente está o risco dano inverso à empresa
recorrida, uma vez que ela alega na inicial da ação cautelar que o Estado de Minas Gerais
decretou a desapropriação dos imóveis situados no local denominado "Serra Verde",
onde estão localizados os seus imóveis e que se não houver avaliação pretendida, não
será possível a apuração exata para se arbitrar a justa e devida indenização.

Diante do exposto, vislumbro a presença dos requisitos necessários à concessão da


medida, quais sejam, relevância dos fundamentos invocados pela parte interessada, bem
como o perigo de dano grave ou de difícil reparação, inexistindo qualquer perigo de dano
inverso.

Portanto, tenho que se deve manter inalterada a r. decisão guerreada,.

À luz de tais considerações, REJEITO AS PRELIMINARES E NEGO PROVIMENTO AO


RECURSO, confirmando a r. decisão agravada, por seus próprios fundamentos.

Custas, ex lege.

O SR. DES. ALVIM SOARES:

VOTO

De acordo com a Relatora.

O SR. DES. EDIVALDO GEORGE DOS SANTOS:

VOTO

De acordo com a Relatora.

SÚMULA : REJEITARAM PRELIMINARES E NEGARAM PROVIMENTO.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

AGRAVO Nº 1.0024.08.043413-7/001

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