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UNIDADE 4

Sistema financeiro
internacional

Objetivos de aprendizagem
ƒƒ Entender o sistema financeiro internacional.
ƒƒ Compreender as funções do sistema finan-
ceiro e os principais agentes e mercados.

Seções de estudo

n Seção 1 Quais as funções do sistema financeiro


internacional?
n Seção 2 Breve histórico do sistema financeiro
internacional
n Seção 3 Quais são os diferentes tipos de mercados?
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo

Com esta unidade, você vai aprender sobre o sistema financeiro


internacional. Este sistema se refere ao conjunto de acordos,
instituições e regras sob os quais operam os mercados
internacionais. No século XX, o sistema financeiro internacional
passou por três etapas distintas: o padrão-ouro, o sistema de
Bretton Woods e o sistema de taxas de câmbio flutuantes.

Carvalho (1998) ensina que sistema financeiro é o conjunto de


instituições e mercados operantes em um dado espaço dedicado
à transferência entre os agentes econômicos de instrumentos
representativos de poder de comando sobre a riqueza existente ou
futura.

Nas próximas seções você aprofundará seus conhecimentos sobre


questões referente ao sistema financeiro internacional.

Seção 1 - Quais as funções do sistema financeiro


internacional?
Conforme Roberts (2000), o sistema financeiro internacional
desempenha basicamente três funções:

„„ realizar os pagamentos correspondentes às transações


efetuadas;
„„ prover unidade estável de valor; e,
„„ estabelecer normas para pagamentos diferidos.

No que diz respeito ao sistema financeiro internacional, os


pagamentos são internacionais, o que envolve transações em
moedas diferentes. As transações em moedas diferentes ocorrem
nos mercados de câmbio que são fundamentais para este sistema.

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Finanças internacionais

O comércio internacional e as movimentações de capital geram


transações cambiais, já que os pagamentos são feitos nas moedas
nacionais ou domésticas. O preço através do qual as moedas
nacionais são transacionadas chama-se taxa de câmbio.

Seção 2 - Breve histórico do sistema financeiro


internacional

A partir de agora, você conhecerá sucintamente, um esboço da


história do Sistema Financeiro Internacional, que passou por três
etapas:

a) Padrão-ouro
O padrão-ouro foi um sistema de câmbio fixo, sendo o ouro a
mercadoria padrão. Os países participantes do sistema fixavam
certa quantidade de ouro pela qual sua moeda podia ser
livremente convertida. O Banco Central é o responsável por
trocar por ouro as cédulas emitidas pelo país.

Os valores eram determinados de acordo com seus respectivos


valores em termos de ouro. Assim, podemos dizer que a
quantidade de moeda em circulação em um país era
estritamente proporcional à quantidade de ouro disponível em
suas reservas - o que ajudava a controlar a inflação e adquirir
confiança.

Inglaterra adotou o padrão-ouro oficialmente em 1816 com a


paridade definida em 123,7 grãos de ouro por libra esterlina
(£). A Inglaterra teve papel de destaque no sistema financeiro
internacional até o começo da Primeira Guerra Mundial.

O comércio internacional utilizava basicamente a libra como


moeda. Esta era a principal moeda de reserva e o componente
mais importante do mercado de capitais mundial. Isso ocorria
devido ao prestígio do Estado inglês e à competência do Banco
Central inglês.

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A libra esterlina era tão valiosa quanto o ouro?

No fim do século XIX, diversos países adotaram o padrão-ouro,


como os Estados Unidos. Com a Primeira Guerra Mundial, a
Inglaterra e outros países europeus abandonaram o padrão-ouro e
o dólar (US$) tornou-se referência do sistema.

Após a guerra, a Inglaterra e países como a Alemanha retornaram


ao padrão-ouro. O principal problema do padrão-ouro era que
o comércio mundial estava à mercê de descobertas de novas
reservas de ouro.

Mas em 1929, uma grave crise abateu-se sobre a economia


mundial. Esta crise é conhecida como a Grande Depressão de
1929. Com o mundo vivendo uma séria restrição econômica, a
década de 30 viu o colapso do comércio mundial e dos fluxos
financeiros internacionais à medida que aumentavam as barreiras
protecionistas e as restrições à mobilidade de capital. O início da
Segunda Guerra Mundial foi o estopim do colapso da economia
internacional.

b) O sistema de Bretton Woods

O sistema de Bretton Woods foi assim batizado devido ao fato


de que no hotel de mesmo nome, na cidade de New Hampshire
(EUA), em julho de 1944, foi realizada uma conferência com
a participação de 45 países na qual foi desenhada uma nova
configuração para o sistema financeiro internacional. O Brasil foi
um dos países que participou desta conferência.

O principal objetivo deste encontro era construir um novo


padrão financeiro internacional com o intuito de evitar uma nova
depressão como a dos anos 30 e permitir o aumento do fluxo
de comércio internacional. Na verdade, desejava-se criar um
ambiente de estabilidade cambial.

Como a Segunda Guerra Mundial estava perto do fim e os EUA


já eram o país mais saudável economicamente, o dólar americano
se tornou a moeda pivô neste novo sistema.

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Finanças internacionais

Nesta época, os EUA detinham 70% das reservas de ouro do


planeta. Assim, o dólar foi ancorado ao ouro e as autoridades
americanas eram responsáveis por manter a conversibilidade do
dólar em ouro. Para você conhecer esta medida, saiba que:

1 onça de ouro = US$ 35

Já que o dólar tinha esse valor, você deve ter percebido que o
sistema de Bretton Woods era um sistema de taxas de câmbio
fixas. Mas é importante notar que havia mecanismos e ajustes de
forma que se atribuiu às demais moedas uma paridade central em
relação ao dólar em torno da qual poderiam flutuar em média 1%.

Em casos extremos, que houvesse sérios riscos, os países podiam


valorizar ou desvalorizar suas moedas em relação ao dólar. Essa
flexibilidade permitia aos países corrigir problemas significativos
no Balanço de Pagamentos.

De fato, o sistema de Bretton Woods entrou em vigor em 1947,


mas apenas parcialmente, pois as moedas européias permaneciam
inconversíveis devido à falta de reservas.

Lembre-se que ao fim da Guerra, os EUA estavam se


expandindo economicamente, enquanto a Europa
estava devastada e necessitava recursos para sua
reconstrução. Estes recursos foram concedidos através
do Plano Marshall.

O Plano Marshall foi um pacote de crédito e doações, entre os


anos de 1948 e 1952, que forneceu aos europeus US$ 14 bilhões
para financiar a importação de capital e matérias-primas norte-
americanos necessários à reconstrução.

Mas o sistema de Bretton Woods, assim como o padrão-ouro,


também teve seu fim. Uma das razões foi o envolvimento dos
EUA na Guerra do Vietnã. O excesso de gastos do governo
americano implicou que o governo tinha que tomar empréstimos,
o que elevou as taxas de inflação e, por conseqüência, as taxas de
juros. Já que todas as moedas tinham sua paridade ancorada no
dólar, logo elas sofreram os efeitos da desvalorização da moeda
americana.

Outra razão para o colapso do sistema reside no fato de que nesta

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época houve significativa exportação de capital dos EUA para


expansão de suas multinacionais.

c) Sistema de taxas de câmbio flutuantes

Assim, a partir de 1973 o sistema financeiro internacional passou


a conviver com o regime de taxas de câmbio flutuantes. Mas
afinal, o que é câmbio?

O câmbio é um dos preços mais importantes no


sistema econômico, pois é responsável por definir as
relações de troca entre os países.

Há dois tipos de taxas de câmbio:

„„ câmbio fixo: é aquele cujo valor é definido pelas


autoridades monetárias (Banco Central). Mas lembre-se
que o câmbio fixo pode variar, mas só quando houver
necessidade estipulada pelo Banco Central.
„„ câmbio flutuante ou variável: aqui, o valor da moeda
estrangeira é determinado pelo mercado, através de livre
interação entre demanda e oferta.

Neste caso, há duas formas do Banco Central (BC) operar dentro


deste regime:

„„ flutuação suja: o BC atua de forma a estabelecer uma


banda ou faixa de variação informal. Ou seja, sem que
seja uma informação pública, o BC determina valores
mínimos e máximos para a moeda estrangeira e atua
como demandante (comprador) ou ofertante (vendedor)
de divisas.
„„ câmbio livre: o BC atua no mercado apenas visando
impedir oscilações bruscas e elevada volatilidade.
Uma moeda é considerada “apreciada” quando uma unidade
desta moeda passa a comprar mais unidades de uma determinada
moeda estrangeira.

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Finanças internacionais

Por exemplo: em uma determinada data zero, a taxa


de câmbio real para dólar seja igual a: 1 US$ = 2,90
R$ (inversamente, 1 R$ = 0,344 US$). Numa data
posterior, verificamos novamente a taxa e notamos
que agora 1 US$ = 2,60 R$ (inversamente, 1 R$ = 0,384
US$). Atente para o fato de que neste caso, o Real
se apreciou frente ao dólar (ou o dólar depreciou-
se), pois precisamos de menos reais para comprar
uma unidade de dólar. Em outras palavras, podemos
comprar mais dólares com uma unidade de Real.

Por outro lado, a moeda de um país é depreciada quando uma


unidade desta moeda compra menos unidades de uma moeda
estrangeira.

Por exemplo, vamos supor que em uma determinada


data zero, a taxa de câmbio real para dólar seja igual
a: 1 US$ = 2,90 R$ (inversamente, 1 R$ = 0,344 US$).
Numa data posterior, verificamos novamente a taxa
e notamos que agora 1 US$ = 3,10 R$ (inversamente,
1 R$ = 0,322 US$). Atente para o fato de que neste
caso, o Real foi depreciado frente ao dólar (ou o dólar
foi apreciado), pois precisamos de mais reais para
comprar uma unidade de dólar. Em outras palavras,
podemos comprar menos dólares com uma unidade
de Real

Quais os problemas no sistema de taxas de câmbio


flutuantes?

Dois problemas mundiais afetaram o sistema de taxas de câmbio


flutuantes: a crise do petróleo e a crise da dívida. Confira a seguir,
detalhes de cada um desses problemas. Acompanhe a seguir
como estas crises aconteceram.

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1. A crise do petróleo
A desvalorização do dólar ocorrida no início da década de 70
implicou significativas perdas aos detentores de dólares e aos
produtores de Commodities comercializadas em dólar. Nesta
Commodities: No comércio época, a principal commodity era o petróleo.
internacional, o termo
refere-se a mercadorias no seu No fim de 1973, a Organização dos Países Produtores de
estado bruto ou com pouco Petróleo (OPEP), insatisfeita com as perdas, retaliou com a
valor agregado. Também redução da oferta de petróleo e com o aumento do seu preço.
se diz que commodities
são produtos com preços
Outra justificativa para o aumento nos preços do petróleo deve-
internacionais expressos se à guerra árabe-israelense, como mostra Roberts (2000).
em dólar. São commodities:
produtos agrícolas, minerais, Em pouco tempo, o petróleo quadruplicou de preço. Este
aço e petróleo. O Japão, por fantástico aumento teve um impacto expressivo na economia
exemplo, que dependia das
internacional, pois provocou superávits comerciais nos balanços
importações de petróleo viu
seu superávit comercial de US$ de pagamentos dos países exportadores de petróleo e déficit no
100 milhões se transformar em balanço dos países importadores.
um déficit de US$ 4,5 bilhões
em apenas um ano. Este aumento no preço de petróleo ficou conhecido como I
Choque do Petróleo. Este choque desencadeou um expressivo
processo de inflação nos países mais avançados. Isto porque
aumentaram os custos de energia (lembre-se que, nestes países,
boa parte da energia elétrica vem de usinas termelétricas a
óleo).

Além do mais, como o nível de atividade econômica diminuíra,


muitos países europeus reduziram suas taxas de juros no
sentido de tentar dinamizar a economia. Esta redução também
contribuiu para o aumento da inflação.

É importante você lembrar que países em desenvolvimento


como o Brasil não aderiram de imediato ao sistema de taxas
de câmbio flutuantes.

Esta época, conhecida no Brasil como a época do “milagre


econômico”, a taxa de câmbio era uma poderosa ferramenta à
disposição das autoridades governamentais para dinamizar a
economia, aumentar as exportações e equilibrar eventuais
problemas no Balanço de Pagamentos.

Assim, controles sobre a taxa de câmbio foram constantes no


Brasil. Na realidade, o sistema de taxas de câmbio flutuantes só
foi utilizado no Brasil a partir de 1999.

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2. A crise da dívida
Os choques do petróleo tiveram significativas conseqüências
sobre as economias em desenvolvimento, especialmente as da
América Latina.

Em lugar de investir em projetos produtivos, os governos


utilizaram os recursos de forma a angariar mais popularidade
na manutenção de empresas estatais ou, como afirma Roberts
(2000), desapareceram nas mãos de políticos e burocratas.

Em 1982, muitos países em desenvolvimento se viram


impossibilitados de pagar os juros de suas dívidas. A crise
começou quando o México anunciou a moratória dos
pagamentos de sua dívida. A moratória mexicana foi um
choque para os principais bancos credores.

Estes, especialmente os grandes bancos americanos, estavam


expostos às dívidas dos países em desenvolvimento. Veja no
quadro a seguir a dívida externa de alguns países da América
Latina em 1982.

País Dívida Externa (US$ bi)


Argentina 43,6
Brasil 92,8
México 86,0
Venezuela 32,1
Fonte: World Bank.

Assim, como a exposição dos bancos estrangeiros nos países


em desenvolvimento colocava em risco o sistema financeiro
internacional, os governos dos países desenvolvidos e as
instituições financeiras internacionais passaram a se envolver na
administração da crise. A principal conseqüência para os países
em desenvolvimento foi a redução do acesso a crédito, ou seja,
na redução dos fluxos de capital para estes países, especialmente
os da América Latina.

Muitos estudiosos creditam à crise da dívida a grave recessão


econômica que reduziu os gastos per capita em um quinto,
comparando com a década de 70, na região na década de 80,
que é conhecida como “A década Perdida“

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Seção 3 - Quais são os diferentes tipos de mercados?

A seguir, nas demais seções, você conhecerá mais detalhes dos


diferentes tipos de mercados financeiros internacionais, que são:

a) Mercado de câmbio;

b) Mercado monetário internacional;

c) Mercado internacional de bônus;

d) Mercado internacional de ações;

e) Mercado de derivativos.

a) Mercado de Câmbio

O mercado cambial internacional pode ser definido como o


local onde acontecem as negociações bilaterais de moedas de
diferentes países.

Neste mercado, também é que acontece a compensação


financeira dos compromissos entre países derivados do comércio
(importações e exportações) e dos fluxos internacionais de
capital. E, também acontece um grande volume de transações
especulativas, onde os especuladores procuram lucrar prevendo
corretamente as flutuações cambiais resultantes de diferentes
fatores, desde as taxas de juros às taxas de desemprego e
crescimento da economia.

Segundo Roberts (2000) o mercado cambial opera sem que haja


uma estrutura institucionalizada do tipo bolsa de valores. As
negociações entre compradores e vendedores ocorrem de forma
bilateral, via telefones e computadores. Um dos instrumentos da
rede de comunicação para transações internacionais é a Society
for Worldwide Interbank Financial Telecommunications (SWIFT),
uma cooperativa belga.

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Finanças internacionais

O que é especulação? Segundo o dicionário de


Economia, de Paulo Sandroni (1989), especulação
é a compra e venda sistemática de um ativo com o
objetivo de obter lucro rápido e elevado, aproveitando
a flutuação de preços. Na verdade, a especulação
depende de se ter certas informações sobre os rumos
do mercado. O seu sucesso é muito limitado, pois é
prática comum numa economia de mercado.

Existem várias agências internacionais que auxiliam na tomada


de decisão quanto à aplicação na bolsa.

Os principais agentes neste mercado são os Bancos centrais,


bancos comerciais, bancos de investimentos, importadores e
exportadores, entre outros.

O principal objetivo de se atuar neste mercado é buscar alguns


mecanismos de hedge contra variações cambiais. Quem atua
neste mercado também visa especular e fazer investimentos. Os
principais participantes incluem importadores e exportadores,
administradores de carteira, corretores e Bancos Centrais.

O mercado de câmbio é o maior mercado financeiro do mundo.


A maior parte das transações envolve poucas moedas: o dólar
americano (US$), o Euro (€), a libra esterlina (£ ), o franco suíço
(SF), o iene japonês (¥). Diz-se que estas moedas são as ‘moedas
conversíveis’, por serem amplamente aceitas para trocas no
mercado financeiro internacional.

Imagine uma empresa no Brasil que tenha comprado,


em dez prestações, uma máquina importada.
Suponha também que cada prestação desta máquina
seja de U$ 10.000,00 e que as prestações tenham
vencimento no dia 30 de cada mês. Mas, devido
à flutuação da taxa de câmbio é praticamente
impossível saber o valor da moeda norte-americana
no dia 30. Assim, a empresa procura fazer o que se
chama de hedge cambial.

Unidade 4 79
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Qual a natureza do mercado cambial?

Há três formas tradicionais de transações no mercado de câmbio:

„„ transações à vista (mercado spot);


„„ transações a termo (entrega futura); e
„„ Swaps de câmbio.
No mercado spot, a entrega é imediata e o preço é a cotação
da moeda no momento da transação. Já no mercado a termo,
conforme tratado na disciplina de mercado de capitais, a entrega
ocorrerá em um dado momento no futuro. O mercado de swaps
cambiais é o mercado onde há transações de compra e venda de
divisas (moedas) simultaneamente.

O mercado cambial tem estreita ligação com o mercado


monetário de cada país. Esta ligação deriva, principalmente, das
diferenças de taxas de juros entre os países.

Quando, por exemplo, as taxas de juros no Brasil estão mais altas


do que na Europa, os fundos cotados em euro se deslocam para
o Brasil em busca de rendimentos mais elevados, configurando
transações cambiais à vista.

A diferença entre as taxas de juros permite a Arbitragem.


Podemos definir arbitragem como sendo o lucro decorrente da
diferença entre os preços dos ativos em diferentes mercados.

Qual é a lei do preço único e a Paridade do Poder de


Compra?

Como afirmam Ross, Westerfeld e Jaffe (1995), a Lei do


Preço Único (LPU) diz que uma mercadoria custará o mesmo
independentemente do país em que foi adquirida.

A idéia parece ser um pouco irrealista. Mas a proposta é entender


as diferenças nos custos de produção nos países e a diferença
nos desempenhos das economias nacionais. Para que a LPU seja
válida, três hipóteses devem ser satisfeitas:

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Finanças internacionais

1. não deve haver custos de transação (frete, seguros,


etc.);

2. não deve haver barreiras ao comércio internacional;

3. os produtos devem ser exatamente iguais.

Essas condições dificilmente são satisfeitas. Mas, como os


consumidores ao redor do mundo adquirem muitos bens
distintos, os economistas se referem à paridade do poder de
compra (PPC), isto é, a idéia de que a taxa de câmbio se ajusta
de modo a fazer com que uma determinada cesta de mercadorias
custe o mesmo, independente do país em que seja produzida.

Em outras palavras:

a idéia central é que, caso exista livre comércio entre


os países, as taxas de câmbio automaticamente
tendem a se ajustar de modo que um mesmo produto
tenha o mesmo preço, seja ele medido em dólares,
euros, reais, ienes, etc, exceto devido às diferenças de
frete, seguros, entre outros elementos.

Esta simples afirmação é a base da teoria da “determinação da


taxa de câmbio de longo prazo”.

Suponha que o aço brasileiro e o aço alemão sejam


exatamente iguais e que as duas nações produzam
aço para vendê-lo no mercado mundial. Dado que
o aço brasileiro custa R$ 210/ tonelada e o alemão
custa € 300/tonelada, qual deve ser a taxa de câmbio
entre o Real e o Euro? Se R$ 210 e € 300 compram uma
tonelada de aço, então, basta fazer uma regra de três
simples para se descobrir que 1€ = 0,70 R$.

De acordo com a teoria da PPC, diferenças nas taxas de inflação


domésticas são responsáveis pela maior parte dos ajustes que
ocorrem nas taxas de câmbio. Afinal, se um país tem inflação
maior do que outro, então, sua moeda deve se desvalorizar.

b) Mercado monetário internacional


O método de escrituração dos fatos contábeis universalmente
reconhecido e aplicado pela Contabilidade foi divulgado pelo

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frade franciscano Lucca Pacioli, no Século XV e foi por ele


denominado de método das partidas dobradas.

O mercado monetário internacional é o mercado atacadista de


moedas, normalmente, para obrigações de curto prazo (tempo
inferior a um ano). Este mercado inclui:

„„ operações bancárias tradicionais: referem-se a


operações onde se utilizam recursos de um banco
doméstico para fazer empréstimo ao exterior. Tais
empréstimos e captações estão sujeitos à regulação dos
Regulação é a interferência bancos centrais domésticos.
dos governos na atividade
econômica, no sentido de „„ operações com euromoedas: referem-se às operações
preservar ou aumentar com moedas diferentes daquela do país de origem dos
o bem-estar social. Uma operadores. Em outras palavras, os euromercados são os
das idéias centrais é mercados monetários e de capitais internacionais cujas
evitar que as empresas
transações se dão em moedas diferentes daquela do país
tomem atitudes que
possam prejudicar os de origem dos operadores. Por exemplo, os eurodólares
consumidores. são depósitos em dólares realizados em bancos que
operam fora dos Estados Unidos e usados para fazer
empréstimos em dólar fora dos Estados Unidos.

Você sabia...
O prefixo ‘euro’ não tem nenhuma relação com o
Euro, a nova moeda européia?
Usa-se este prefixo, pois foi na Europa que, na
década de 1950, pela primeira vez aconteceu um
depósito em moeda estrangeira. Nesta época,
o dólar era a única moeda transacionada no
exterior, o que permitia que houvesse depósitos
em dólares em outros países, que não os Estados
Unidos. Além do mais na guerra fria, os países
comunistas, com temor de alguma reação dos
EUA, depositavam seus dólares em Londres.
Paul Krugman, no seu livro economia
internacional: teoria e política, traz um exemplo de
como pode surgir um depósito em eurodólares:
Suponha que a empresa alemã Daimler-Benz
venda um carro para um norte-americano por US$
40.000,00. O norte-americano pagará com cheque
do Citibank, de modo que a Daimler-Benz passa a
ter um cheque de US$

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Finanças internacionais

40.000,00. O norte-americano pagará com cheque


do Citibank, de modo que a Daimler-Benz passa a
ter um cheque de US$ 40.000,00 e tem que tomar a
decisão de onde colocar o dinheiro. Imaginemos que a
empresa precisará do dinheiro em um mês para pagar
um fornecedor nos EUA.
Para que o dinheiro renda juros, a empresa pode
aplicar em títulos do tesouro americano ou comprar
certificados de depósitos emitidos por bancos norte-
americanos. Outra opção é comprar um depósito
em eurodólares, depositando o cheque do norte-
americano em um banco inglês, o Barclays, em
Londres, por exemplo.
A empresa vai analisar a opção que lhe renda a
maior remuneração pelo seu dinheiro (juros). Se o
Barclays está pagando mais juros que as aplicações
nos EUA, a Daimler optará pelo depósito no banco
inglês. Quando o depósito no Barclays é efetuado, um
depósito em eurodólares está surgindo.

c) Mercado internacional de bônus


Bônus são títulos de longo prazo que pagam juros e são emitidos
por governos, empresas e organizações internacionais. Há dois
componentes do mercado internacional de bônus:

„„ bônus estrangeiros: são títulos de longo prazo emitidos


em um único mercado nacional em nome de um tomador
de empréstimos estrangeiro. São denominados na moeda
do país onde é feita a emissão.
„„ Eurobônus: são os títulos denominados em uma
moeda diferente daquela do país ou mercado em que
são emitidos, ou seja, seguem o mesmo princípio dos
euromercados.

O Brasil também possui um bônus de capitalização conhecido


como C – Bond, que significa Capitalization Bond, principal
título da dívida brasileira.

Os C-Bonds começaram a ser emitidos em 15 abril de 1994,


durante o programa de reestruturação da dívida externa brasileira
após a moratória de 1987. Antes disso, o Brasil não tinha acesso a
linhas de crédito no mercado financeiro internacional.

Unidade 4 83
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É o papel da dívida brasileira mais negociado no exterior e o mais


líquido entre os papéis de dívida dos países em desenvolvimento.
Os papéis vencem em abril de 2014. Os pagamentos de juros
são feitos a cada seis meses (sempre nos dias 15 de abril e 15 de
outubro).

Apesar de ser um título com alta liquidez no mercado, o C-Bond


paga um spread (taxa de risco adicional cobrada no mercado
financeiro internacional) maior que outros títulos da dívida
brasileira. Isso porque, o C-Bond é um título que foi criado para
reestruturar uma dívida anterior, que o governo não tinha como
pagar.

O spread pago pelo C-Bond, que vence em 2014, varia


em torno dos 430 pontos básicos, valor maior que o
Global 30, que vence em 2030, que paga 420 pontos
básicos. O spread do Global 2010, por exemplo, é de
300 pontos básicos,100 pontos básicos equivalem a
um por cento.

Outros títulos do Brasil que também são negociados no exterior


são os Globais (com vencimentos até 2040), Eurobônus, bônus
Samurais (emitidos na moeda japonesa, o iene), o Par e o
Discount. Os dois últimos, como o C-Bond, foram lançados
para o programa de reestruturação da dívida externa, no final da
década de 80.

No total, o Brasil tem US$ 67,4 bilhões em títulos emitidos


no exterior. A maior emissão é em Globais - US$ 32,9 bilhões,
seguida pelo Eurobônus, que soma US$ 7,7 bilhões.

d) Mercado Internacional de Ações


As negociações de Ações no âmbito de um país são feitas pelas
bolsas de valores domésticas.

Por outro lado, é recente o fato de empresas ofertarem suas ações


em mercados estrangeiros. A negociação de ações internacionais
(Ações emitidas em outras bolsas de valores) é uma nova
dimensão do capitalismo global.

Com Ações cotadas em bolsas estrangeiras, as empresas


internacionais têm a oportunidade de levantar fundos em

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Finanças internacionais

diferentes mercados de capitais. Nos EUA e em alguns países


da Europa, a emissão de Ações de empresas estrangeiras é feita
mediante os recibos de depósitos de Ações.

O que impede a integração total entre os mercados de Ações


domésticos é a diferença entre as legislações contábeis de cada
país. Assim, note que emitir Ações em bolsas estrangeiras
representa um custo elevado para as empresas, pois ele deve
emitir balanços e formulários de acordo com a legislação local.

Ao emitir uma ação nos EUA, uma empresa esta


emitindo um Recibo de Depósito Americano (ADR).
Um ADR é um título emitido nos EUA, em dólares
americanos, representando ações de uma empresa
estrangeira, permitindo que estas ações sejam
negociadas nos EUA.

No Brasil, a primeira empresa a emitir ações fora do país foi


a Aracruz Celulose, do Espírito Santo, em 1996, na Bolsa de
Valores de Nova Iorque (NYSE). Seu desempenho é excelente já
que o Brasil é um dos maiores produtores de celulose do mundo.

Depois da Aracruz Celulose, foi a vez da Brahma (antes da fusão


com a Antarctica dando origem a Ambev) e o Bradesco, que
também seguiram o mesmo caminho.

Atualmente, 37 empresas brasileiras negociam ações em Nova


Iorque, com destaque para a Gol Transportes Aéreos e a
Embraer.

e) Mercado de Derivativos
O mais novo mercado, e o que mais cresce, é o de derivativos
financeiros. Você já aprendeu o que são derivativos na disciplina
de mercado de capitais.

Derivativos são ativos que derivam de vários produtos,


ou seja, é o nome que se aplica a um conjunto de
instrumentos genéricos derivados de outros produtos.
Normalmente, os derivativos são utilizados para
fazer hedge de riscos financeiros ou para apostar em
variações de preços, de moedas, de taxas de juros, etc.
Normalmente, os detentores de derivativos não têm
a intenção de tomar posse dos valores, moedas ou
mercadorias. Apenas, querem lucrar com as diferenças
de valores de compra e venda.

Unidade 4 85
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O mercado internacional de derivativos teve início em 1972, na


Chicago Mercantile Exchange (CME), bolsa de mercadorias
futuras, que lançou um contrato futuro de moedas.

Com o fim do sistema de Bretton Woods, ocorreu um expressivo


aumento da volatilidade das moedas, que provocou a demanda
por um instrumento que permitisse aos agentes econômicos
fazerem um “seguro” contra o risco das variações na taxa de
câmbio.

Na verdade, o termo derivativo representa um conjunto de


instrumentos financeiros (futuros, opções e swaps) que se
originam de outros instrumentos financeiros:

a) futuros: os futuros financeiros são contratos


que comprometem duas partes a transacionar um
instrumento financeiro em uma data futura a um preço
pré-estabelecido. Normalmente, os contrats futuros são
utilizados para fazer hedge, ou seja, reduzir o risco de
variações no preço do produto transacionado;

b) opções: as opções financeiras são contratos que dão


ao seu proprietário o direito de comprar ou vender um
determinado produto a um preço pré-estabelecido em
um período estabelecido. Não é obrigatório executar
a transação. A vantagem é que quando da data de
vencimento, o detentor da opção pode escolher entre
exercê-la ou não, daí o nome ‘opção’. As opções são
utilizadas, principalmente, para venda e compra de
produtos agrícolas, mas atualmente são utilizadas em
mercados de petróleo, gás natural, energia elétrica, e
outras commodities. Além, é claro, de produtos financeiros
como câmbio, taxas de juros, crédito, etc. Uma opção de
compra dá a seu portador o direito de comprar, ao preço
pré-estabelecido. São utilizadas para reduzir o risco de
que o preço de um dado ativo tenha subido na data que
for exercida a opção. Já uma opção de venda dá a seu
portador o direito de vender um certo ativo em uma
estabelecida a preço previamente determinado;

c) swaps: a tradução literal de swap é troca, logo swaps


são transações financeiras em que dois agentes trocam
fluxos de pagamentos. Usualmente, são empregados para

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Finanças internacionais

converter uma exposição de mercado existente relativa a


um empréstimo, um título, uma moeda ou uma taxa de
juros em outra diferente. Os investidores internacionais
utilizam swaps para alcançar seu principal objetivo
que é maximizar o rendimento de sua carteira. Os
Bancos Centrais recorrem aos swaps para obter moeda
estrangeira para intervir em seus respectivos mercados
cambiais mediantes acordos recíprocos de crédito de
curto prazo.

Os principais produtos transacionados nestes mercados são as


taxas de juros, taxas de câmbio, índice de mercado de ações,
commodities e crédito.

Em direção à conclusão desta unidade, podemos destacar uma


observação de Roberts (2000), segundo o autor, os mercados
financeiros não são apenas grandes como ficam cada vez maiores.

Para praticar os novos conhecimentos realize as atividades a


seguir.

Unidade 4 87
Universidade do Sul de Santa Catarina

Síntese
Com esta unidade você aprendeu sobre a essência das finanças
internacionais: o sistema financeiro internacional. Trata-se do
conjunto de instituições e mercados dedicado às transferências
entre os agentes econômicos de instrumentos representativos de
poder de comando sobre a riqueza existente ou futura.

Aprendeu também sobre a taxa de câmbio que é o preço da


transação das moedas nacionais. Por isso, na próxima unidade
você vai estudar sobre as Instituições Financeiras Internacionais.
Até lá!

Atividades de auto-avaliação
Efetue as atividades de auto-avaliação e, em seguida, acompanhe as
respostas e comentários a respeito. Para melhor aproveitamento do seu
estudo, realize a conferência de suas respostas somente depois de fazer
as atividades.
Leia com atenção aos enunciados e realize a seguir as atividades
propostas.
1. Quais os principais tipos de mercados do sistema financeiro
internacional?

88
Finanças internacionais

2. Quais as funções do sistema financeiro internacional?

3. Na sua opinião, por que a globalização financeira aumentou a


vulnerabilidade dos países em desenvolvimento?

Saiba mais
Se você ficou interessado em conhecer mais detalhes sobre o Sistema
Financeiro Internacional, vale a pena você ler:
CARVALHO, Fernando C. Sistema Financeiro Internacional: tendências e
perspectivas. In: OLIVEIRA, A.; PINTO JR., H. (orgs.) Financiamento do
setor elétrico brasileiro. Rio de Janeiro: Garamond, 1998.
ROBERTS, Richard. Por dentro das finanças internacionais: guia prático
dos mercados e instituições financeiras. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
Mais detalhes sobre investimentos internacionais você pode encontrar no
livro:
ROSS, S.; WESTERFIELD, R.; JAFFE, J. Administração financeira. São Paulo:
Atlas, 1995.

Unidade 4 89
Universidade do Sul de Santa Catarina

A seguir, realize a leitura dos artigos: o primeiro publicado no Editorial da


Folha de São Paulo em 26 de fevereiro de 2005 e, o segundo, baseado em
Carvalho e Silva (2000). Mas antes, uma curiosidade:

ÍNDICE BIG MAC


Uma curiosidade sobre a teoria da Paridade do poder de compra
A partir de 1986, a revista inglesa The Economist passou a utilizar uma
commodity internacionalmente conhecida, o sanduíche Big Mac da rede
MacDonald’s, para avaliar a validade da teoria da paridade do poder de
compra. Na verdade, a intenção da revista era fazer uma brincadeira com
a teoria, pois o sanduíche não pode ter preços semelhantes ao redor do
mundo, já que há diferenças de custos (salários, matérias-primas) entre as
nações que vão ter conseqüências no preço do sanduíche. Funciona assim:
Em fevereiro de 2005, um Big Mac custava no Brasil, em média, R$ 6,85.
Nos EUA, o seu preço era US$ 2,65. Para que o sanduíche custasse a mesma
coisa nos dois países, um dólar deveria valer, no Brasil, R$ 6,85/US$ 2,65 =
R$2,58. Nesta época, a taxa de câmbio era aproximadamente 1 US$ = R$
2,62. Note que os valores estão bem próximos um do outro. A diferença é
de apenas R$ 1,3%.
O mais irônico é que a idéia começou como uma brincadeira e hoje
o Índice Big Mac é levado a sério por analistas do mundo inteiro para
entenderem as variações nas taxas de câmbio. Você pode consultar o
índice em www.economist.com.

INSTABILIDADES GLOBAIS
(Editorial da Folha de São Paulo em 26 de fevereiro de 2005)

Os mercados financeiros globais vêm revelando seu potencial de


instabilidade não apenas nos países emergentes, mas também no centro
do sistema econômico mundial. Diante do elevado e renitente déficit
da balança comercial norte-americana – que atingiu US$ 617,7 bilhões,
equivalentes a 5,2% do PIB – e da política de “negligência benigna” em
relação à desvalorização do dólar, adotada pelo Tesouro americano, os
investidores públicos e privados ameaçam promover reajustes de seus
portfólios.
O estoque de ativos norte-americanos – títulos do Tesouro, ações e bônus
das corporações – detidos por investidores estrangeiros chegava a US$ 4,5
trilhões em outubro de 2004. Apenas os japoneses, sob liderança do Banco
Central do Japão, detinham US$ 711,8 bilhões em títulos do Tesouro dos
EUA; a China, US$ 193,8 bilhões e a Coréia do Sul US$ 69 bilhões.
Como o dólar se enfraquece, esse gigantesco estoque de riqueza vai
perdendo o valor. No entanto, ele é fundamental para preservar as
relações entre os EUA, como forte importador de mercadorias e capital, e
os países asiáticos, que desempenham o papel de exportadores.
Nesse contexto, gerou alguma turbulência o anúncio de alguns bancos
centrais – como o da Rússia, o da Coréia do Sul e os dos países produtores

90
Finanças internacionais

de petróleo – estariam movimentando-se para diversificar, na margem,


suas reservas internacionais mediante aplicações em outras moedas ou
ativos mais rentáveis.

Paralelamente, os investidores privados ampliaram suas posições vendidas


de dólar nos mercados futuros de câmbio, apostando na continuidade
do processo de desvalorização da moeda norte-americana no mercado
internacional.

O perigo reside no fato de que um possível colapso do valor do dólar


poderia forçar o Fed (banco central norte-americano) a promover
um aumento das taxas de juros de curto prazo para atrair recursos,
desencadeando uma série de efeitos, além da conseqüente desaceleração
da economia global. A elevação dos juros revalorizaria o dólar, causando
prejuízos monumentais aos fundos de investimentos com posições
contrárias à moeda americana.

Diante dessas possíveis turbulências financeiras e cambiais, o mais sensato


– e o esperado – é que os bancos centrais não façam movimentos bruscos,
mantendo-se cautelosos em relação à gestão de suas reservas. Quanto
aos movimentos de capitais privados, é previsível o vai-e-vem sobre o
Atlântico e o Pacífico.

Se há ameaça de desvalorização do dólar, eles fluem para a Europa e o


Japão. Todavia, como o crescimento dessas regiões é menor que o norte-
americano, o potencial de valorização dos ativos é mais limitado, o que
acaba estimulando os capitais a refluir para Wall Street.

Nesse quadro, persiste um elevado grau de instabilidade financeira


global, que oferece riscos, mas não parece prenunciar, ao menos por ora,
nenhuma catástrofe.

O PERIGO DOS DERIVATIVOS


Por Carvalho e Silva (2000)
Contratos futuros são acordos entre duas partes para comprar ou vender
um determinado ativo, seja ele real ou financeiro. A grande vantagem do
mercado futuro é reduzir a volatilidade do preço de uma mercadoria e
reduzir o risco dos agentes envolvidos na transação.

Derivativos são operações derivadas das operações de mercado futuro. Os


derivativos foram criados para reduzir o risco das operações financeiras,
via incremento da diversificação e ampliação do mercado. No entanto, na
última década, passaram a representar elevado risco, pois com um volume
mínimo de capital é possível alavancar muito dinheiro e aumentar o risco
da atividade econômica.

Vamos ver um exemplo:

Uma empresa americana fechou um contrato de exportação para a União


Européia no valor de US$ 1 milhão, que será pago em euro (€) dentro de

Unidade 4 91
Universidade do Sul de Santa Catarina

seis meses. Suponha que, no momento do fechamento do contrato, a taxa


de câmbio seja € 1,5/1 US$. Logo, a empresa teria a receber € 1,5 milhão.

Como a empresa é americana, ela está interessada na receita em dólar. No


entanto, entre o momento do fechamento do contrato e o pagamento,
podem acontecer mudanças na taxa de câmbio, que podem representar
ganhos ou perdas para a empresa. Ela vai ganhar se o euro se apreciar e
vai perder caso o euro se deprecie. Você já percebeu que quanto maior a
desvalorização, maior será o prejuízo da empresa.

Para se proteger e garantir o recebimento de US$ 1 milhão, a empresa


pode comprar dólares no mercado futuro. Se, até o vencimento, o euro se
valorizar, o ganho na operação de exportação anula a perda no mercado
futuro. Caso contrário, o ganho no mercado futuro compensa a perda na
exportação. Assim, a empresa minimiza o risco cambial.

O perigo dos derivativos está no fato de que, neste mercado, os


especuladores podem mobilizar muito dinheiro dispondo de muito pouco.
Imaginemos que a taxa de câmbio euro / dólar seja € 1,5/1 US$ e que o
especulador contrate um derivativo apostando que a moeda européia terá
uma desvalorização de 5%. Ou seja, ele está apostando que a cotação cairá
para € 1,575/ 1 US$. Caso sua previsão se confirme, ganhará 0,075 € por
dólar apostado. Do contrário, terá que pagar esta quantia.

O dinheiro que o especulador precisa para bancar sua aposta é a diferença


entre o preço contratado e a cotação efetiva da moeda no vencimento
do contrato, além dos custos de transação (taxas de administração
das corretoras/bancos). Como esse dinheiro pode ser financiado, os
especuladores podem causar significativos prejuízos a economia de um
país.

Assim, quando os indicadores de um determinado país levam a prever


desvalorização de sua moeda, as empresas tendem a se proteger e
os especuladores aproveitam para lucrar. A isto chamamos de ataque
especulativo.

Um ataque especulativo ocorre quando todos os agentes econômicos


querem vender uma determinada moeda e, no limite, o Banco Central do
país passa a ser o único comprador. Caso o Banco Central, tenha reservas
suficientes, ele será capaz de defender sua moeda. Caso contrário, não
há como evitar a desvalorização. Há vários casos recentes de ataque
especulativo: A Grã-Bretanha, em 1992; México em 1994; Tailândia, Malásia
e outros países da Ásia em 1997; A Rússia em 1998; o Brasil em 1999; e a
Argentina em 2001.

92
5
UNIDADE 5

Instituições financeiras
internacionais


Objetivos de aprendizagem
ƒƒ Conceituar instituição financeira internacional.
ƒƒ Identificar qual o contexto de atuação de uma
instituição financeira internacional.
ƒƒ Conhecer como os países e suas instituições podem se
disponibilizar das organizações multilaterais de crédito que
exercem suas atividades no sistema financeiro internacional.

Seções de estudo

n Seção 1 O que é uma instituição financeira?


n Seção 2 Como se desenvolveram as instituições
financeiras internacionais?
n Seção 3 Quais são as formas das instituições
financeiras internacionais?
n Seção 4 Qual o contexto atual do mercado
financeiro internacional?
n Seção 5 Quais são as organizações multilaterais
de crédito?
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo

Como você pôde notar na unidade anterior, o sistema financeiro


internacional tornou-se mais complexo nas últimas décadas.

A chamada globalização financeira provocou um aumento


no número de transações entre agentes financeiros nos mais
diferentes países, desenvolvendo negócios com várias moedas.

A nova arquitetura financeira internacional gerou mudanças


na atuação das instituições financeiras. E são as instituições
financeiras que constituem o objeto de estudo desta unidade.
Aqui você conhecerá quais são as principais instituições
financeiras internacionais e como atuam no mercado financeiro
atual.

Seção 1 - O que é uma instituição financeira?

No atual arranjo do sistema financeiro nacional e internacional,


as principais instituições estão constituídas sob a forma de banco
múltiplo (banco universal), que oferece ampla gama de serviços
bancários.

Mas ainda encontra-se instituições que apresentam um grau de


especialização, conforme exemplos a seguir:

„„ bancos comerciais - comerciais captam principalmente


depósitos à vista e depósitos de poupança e são
tradicionais fornecedores de crédito para as pessoas
físicas e jurídicas (especialmente capital de giro no caso
das empresas);
„„ bancos de investimento - captam depósitos a prazo e
são especializados em operações financeiras de médio e
longo prazo;
„„ caixas econômicas - no Brasil temos as Caixas
Econômicas. Elas captam depósitos à vista e depósitos
de poupança e atuam mais fortemente no crédito
habitacional;

94
Finanças internacionais

„„ bancos cooperativos e cooperativas de crédito: essas


instituições são voltadas para a concessão de crédito e
prestação de serviços bancários aos cooperados;
„„ sociedades de crédito imobiliário e associações de
poupança e empréstimo: também são voltadas para o
crédito habitacional;
„„ sociedades de crédito e financiamento: são direcionadas
para o crédito ao consumidor;
„„ empresas corretoras e distribuidoras: possuem atuação
centrada nos mercados de câmbio, títulos públicos e
privados, valores mobiliários, mercadorias e futuros.

O que é banco múltiplo?

No Brasil, de acordo com a resolução nº 2.099/94 do Conselho


Monetário Nacional, considera-se que banco múltiplo são as
instituições financeiras privadas ou públicas que realizam as
operações ativas, passivas e acessórias das diversas instituições
financeiras.

Os bancos múltiplos atuam por intermédio das seguintes


carteiras: comercial, de investimento e/ou de desenvolvimento,
de crédito imobiliário, de arrendamento mercantil e de crédito,
financiamento e investimento.

Essas operações estão sujeitas às mesmas normas legais


e regulamentares aplicáveis às instituições singulares
correspondentes às suas carteiras. A carteira de desenvolvimento
somente poderá ser operada por banco público.

O banco múltiplo deve ser constituído com, no mínimo, duas


carteiras, sendo uma delas, obrigatoriamente, comercial ou
de investimento, e ser organizado sob a forma de sociedade
anônima. As instituições com carteira comercial podem captar
depósitos à vista. Na sua denominação social deve constar a
expressão “Banco”:

Unidade 5 95
Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ os bancos comerciais são instituições financeiras


privadas ou públicas que têm como objetivo principal
proporcionar suprimento de recursos necessários para
financiar, a curto e a médio prazos, o comércio, a
indústria, as empresas prestadoras de serviços, as pessoas
físicas e terceiros em geral. A captação de depósitos à
vista, livremente movimentáveis, é atividade típica do
banco comercial, o qual pode também captar depósitos a
prazo;
„„ os bancos de investimento são instituições financeiras
privadas especializadas em operações de participação
societária de caráter temporário, de financiamento da
atividade produtiva para suprimento de capital fixo e de
giro e de administração de recursos de terceiros. Devem
ser constituídos sob a forma de sociedade anônima e
adotar, obrigatoriamente, em sua denominação social,
a expressão “Banco de Investimento”. Não possuem
contas correntes e captam recursos via depósitos a prazo,
repasses de recursos externos, internos e venda de cotas
de fundos de investimento por eles administrados.
As principais operações ativas são financiamento de
capital de giro e capital fixo, subscrição ou aquisição de
títulos e valores mobiliários, depósitos interfinanceiros e
repasses de empréstimos externos (resolução nº 2.624 do
Conselho Monetário Nacional de 1999).

No cenário internacional, as atividades desenvolvidas pelos


bancos variam de país para país de acordo com a legislação
e/ou práticas mercadológicas. Nos EUA e no Reino Unido
geralmente os bancos comerciais são separados dos bancos de
investimento. Na Alemanha e na Suíça é comum a existência de
bancos múltiplos.

Quais são os tipos de atuação dos bancos?

96
Finanças internacionais

Os bancos, de forma geral, podem operar em dois ramos:


atacadista e varejista.

„„ Atacadista: negócios com outros bancos, com governos,


com instituições não-governamentais, bancos centrais.
Operam principalmente no mercado interbancário, onde
os bancos fazem negócio entre si.
„„ Varejo: atendimento ao público em geral, inclusive
empresas.

Agora que você já sabe o que é uma instituição financeira e


seus tipos e áreas de atuação, conheça a seguir, as intituições
financeiras internacionais.

Seção 2 - Como se desenvolveram as instituições


financeiras internacionais?

Já é senso comum que os mercados financeiros sofreram um forte


processo de internacionalização das suas operações nos últimos
anos.

A tecnologia agora permite a disponibilização da informação


em todos os mercados, assim como a transferência de enormes
quantias de recursos financeiros em questão de segundos.

Mas o que determinou a rápida expansão da atividade


bancária internacional?

Em resposta a essa pergunda, Krugman (1999) indica que houve


um crescimento acentuado do comércio internacional e a
expansão das atividades multinacionais das empresas.

Como as empresas precisam de serviços financeiros


internacionais, os bancos passaram a expandir seus negócios em
áreas estrangeiras.

Unidade 5 97
Universidade do Sul de Santa Catarina

Esse processo intensificou-se a partir dos anos 60 com o


surgimento dos euromercados, conforme você estudou na
unidade anterior. Tornou-se possível que um importador inglês
de produtos norte-americanos, mantenha um depósito em
dólares (mercado de euromoedas).

O aumento do preço do petróleo nos anos 70 criou nos


países exportadores de petróleo grandes excedentes de dólares
em suas balanças comerciais. Grande parte desses dólares
foram depositados fora dos EUA, o que também estimulou o
crescimento do mercado com moedas estrangeiras.

Quais são os outros fatores que pressionam para o


crescimento do mercado financeiro internacional?

Como as transações bancárias internacionais cresceram muito


mais que o próprio comércio internacional, acredita-se que
houve um desejo dos bancos de escapar das regulamentações
governamentais internas sobre a atividade financeira e, com
isso, deslocar algumas das suas operações para fora do seu país de
origem e também os depositantes desejaram manter moedas fora
da jurisdição dos países que as emitem. E depositar fora do país
de origem pode significar escapar de taxas de juros baixas, por
exemplo.

Somente em 1982, quando houve o início da crise internacional


da dívida (dificuldade dos países devedores pagarem seus
Securitização é a conversão empréstimos externos) é que houve uma redução do ritmo
de empréstimos bancários
e outros ativos em títulos
de crescimento dos ativos em moeda estrangeira dos bancos
(securities) para a venda a internacionais.
investidores que passam a
ser os novos credores desta Na década de 90, o que marcou a evolução da atividade bancária
dívida. internacional foi o aumento do uso de títulos, a conhecida
securitização, ao invés do financiamento bancário.

Como ocorreu com as operações bancárias em euromoedas, o


desenvolvimento dos mercados de eurobônus se deu em reação
às restrições e aos custos de transação na emissão de bônus na
moeda dos mercados internos.

Em 1960 apenas oito bancos norte-americanos tinham filiais


em países estrangeiros, agora centenas têm filiais internacionais;

98
Finanças internacionais

assim como o número de escritórios de bancos estrangeiros nos


EUA tem aumentando significativamente.

Os números relativos à economia brasileira também registram o


mesmo processo, como você verificará a seguir.

Segundo Roberts (2000), a atividade bancária internacional


tem duas dimensões: os serviços bancários internacionais e os
bancos multinacionais.

Os serviços bancários internacionais consistem no atendimento


das necessidades internacionais de diversos clientes como:
importadores, exportadores ou viajantes, no país e no exterior.

Com o aumento das transações internacionais, os bancos


passaram a desenvolver relações com outros bancos, em outros
países, de modo a funcionar como agentes locais uns dos
outros. Atuam nas atividades conhecidas como “Cross-border
operations” ou “external operations” que consistem em transações
entre residentes de diferentes países. Como agentes locais, esses
bancos recebem e mantém depósitos, informam a classificação de
crédito dos clientes.

Com o desenvolvimento da atividade bancária internacional, os


bancos passaram a ter presença própria no mercado internacional,
o que fez surgir os bancos multinacionais.

As várias formas de atuação das instituições financeiras no


mercado internacional podem ser identificadas no quadro a
seguir:

Unidade 5 99
Universidade do Sul de Santa Catarina

Atuação Descrição
É uma entidade legal distinta do banco matriz.
Um banco subsidiário no estrangeiro difere de
um banco local porque o banco estrangeiro
Subsidiária detém o controle. Uma subsidiária de banco
estrangeiro no Brasil é uma empresa brasileira,
com sede e administração no Brasil.
É o escritório de um banco em outro país,
submetido a legislação local e, geralmente da
de seu país de origem. Um sistema de filiais
Filial no exterior permite aos bancos atender as necessidades das
empresas multinacionais e trabalhar com todos
os fusos horários.
Funcionam com pontos de contato entre
Escritório de representação bancos e clientes locais, mas não podem captar
depósitos nem realizar empréstimos.
Agência As agências assemelham-se a uma filial,
mas não podem captar depósitos locais. São
instituídas quando os governos hospedeiros
não permitem aos bancos estrangeiros a
abertura de filiais. Podem realizar empréstimos
e transferências.
Banco consorciado É um banco cuja propriedade está distribuída
entre vários bancos e empreende atividades
bancárias diferentes daquelas desenvolvidas
pelos bancos acionistas.

Quadro 5.1 – Campos de atuação das instituições financeiras


Fonte: Adaptado de Roberts (2000)

Você aprendeu nesta seção sobre as instituições financeiras


internacionais e, a descrição de sua trajetória histórica. Na
próxima, conheça as formas de atuação bem como, a atuação dos
bancos internacionais.

Seção 3 - Quais são as formas das instituições


financeiras internacionais?

O BIS (Bank for International Settlements), considerado o


banco central dos bancos centrais, utiliza os seguintes conceitos
relativos à atividade internacional de instituições financeiras:

„„ Banco Doméstico ou Domestic Bank - banco que possui


a sede dentro do país em que está localizado.

100
Finanças internacionais

„„ Banco Estrangeiro ou Foreign Bank - banco cuja sede


está fora do país em que está localizado. Constitui uma
filial;
„„ Negócios Bancários Internacionais ou International
Banking Business - nesse contexto, o termo internacional
refere-se aos bancos com transações em qualquer moeda
com não-residentes (external or cross-border business), além
das transações com moedas estrangeiras (não-locais)
com residentes. Um depósito off-shore é um depósito
bancário denominado em uma moeda que não a do país
de origem de um banco – por exemplo, depósitos em
ienes em um banco de Londres. Os depósitos off-shore
em moeda são considerados euromoedas. Os depósitos
em dólares efetuados fora dos EUA são denominados
eurodólares. Os bancos que aceitam depósitos em
euromoedas (incluindo os eurodólares) são conhecidos
como eurobancos;
„„ Instrumentos Bancários Internacionais ou
International Banking Facility (IBF) - é uma unidade
bancária dos EUA conduzindo negócios além das
fronteiras norte-americanas, sem restrições impostas
por regulamentos aplicados a outros bancos que operam
com residentes. Instituições similares existem no Japão.
IBFs e outras instituições similares são consideradas
instituições residentes do país em que estão localizadas.
Os IBFs surgiram para possibilitar que bancos norte-
americanos concorressem por depósitos internacionais
e operassem na realização de empréstimos em dólares.
Foi uma forma encontrada pela legislação dos EUA para
permitir que seus bancos participassem do mercado de
euromoedas;
„„ Mercado Internacional Interbancário ou International
Interbank Market - consiste em um mercado monetário
internacional em que os bancos emprestam uns aos
outros, seja interfronteiras dos países ou localmente em
moeda estrangeira, uma quantidade grande de dinheiro,
geralmente no curto prazo, de overnight a seis meses;

Unidade 5 101
Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ Negócios Entre Escritórios ou Inter-office Business -


são negócios entre diferentes escritórios de um mesmo
banco. Na estatística do BIS geralmente considera-se
somente as operações cross-border ou locais em moeda
estrangeira;
„„ Centros Off-shore ou Off-shore Centers - essa expressão
é usada para descrever o país cujo setor bancário trabalha
principalmente com não-residentes e/ou com moeda
estrangeiras em uma escala desproporcional ao tamanho
da economia doméstica.

Consulte o livro Bank for International Settlements:


Guide to the international banking statistics. BIS
Papers, n. 16. Switzerland: Monetary and Economic
Department, april, 2003. Este guia você também
encontrará na internet.

No Brasil, o Banco Central utiliza as seguintes expressões:

„„ instituição financeira nacional com participação


estrangeira - as instituições que possuem participação
direta e/ou indireta relevante, ou seja, entre 10% e 50%
do capital votante;
„„ instituição financeira nacional com controle
estrangeiro - as instituições que possuem participação
direta e/ou indireta da maioria do capital votante;
„„ instituição financeira estrangeira - as instituições
constituídas e sediadas no exterior com dependência ou
filial no país.

Como ocorre a atuação dos bancos internacionais?

No que se refere aos bancos comerciais internacionais,


essencialmente, sua atuação é com:

„„ financiamento comercial - financiamento de


importações e de exportações na forma tradicional de
letras de câmbio ou por outros meios;

102
Finanças internacionais

„„ negociação com moedas - operações com câmbio;


„„ empréstimo ao exterior - empréstimo a clientes no
exterior.
Foi a partir dos anos 60 e 70, com o desenvolvimento dos
euromercados que os bancos comerciais passaram a negociar com:

„„ euromoedas (corretagem com euromoedas);


„„ empréstimos consorciados (participação de grupos de
bancos na concessão de empréstimos em euromoedas);
„„ eurobônus (subscrição de emissões em nome de
empresas e governos e negociação de eurobônus).
Nos anos 80 e 90 surgiram:

„„ derivativos e formas de financiamento inovadoras


(instrumento de emissão de títulos e futuros, opções,
swaps financeiros);
„„ operações no mercado monetário global (negociações
no mercado monetário com instrumentos como o títulos
do tesouro norte-americano);
„„ custódia global (liquidação de títulos e serviços de
gestão para administradores de fundos e outros grandes
investidores);
„„ negócios bancários privados globais (oferta de serviços
bancários e financeiros dirigidos para pessoas ricas).

E a atuação dos bancos de investimento internacional?

Quanto a atuação dos bancos de investimento internacionais,


desenvolvem as seguintes atividades principais:

„„ levantamento de capital - subscrição, estruturação e


venda de ações e títulos de dívida para pessoas jurídicas,
governos e instituições;
„„ negociação - Determinação de preços de compra e venda
de títulos de investidores e operações de tesouraria do
próprio banco;

Unidade 5 103
Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ gestão financeira institucional - consultoria para


empresas e governos sobre ampla gama de negócios;
„„ gestão de ativos - administração profissional de fundos
de investidores institucionais, fundos mútuos próprios e
demais fundos de investimento por cotas.
Outras atividades importantes são transações cambiais, como
commodities e derivativos, gestão de aquisições de controle
acionário e de capital de risco, gestão monetária e atividades
bancárias específicas.

Seção 4 - Qual o contexto atual do mercado


financeiro internacional?

Nos últimos anos o mercado bancário internacional sofreu o


impacto da maior liberalização dos mercados internacionais, o
que gerou maior concorrência entre os bancos assim como entre
bancos e não-bancos.

Observa-se, por exemplo, que empresas especializadas em


cartões de crédito concorrem com a concessão de empréstimos.
Juntamente com a liberalização houve a globalização, que
gerou um incremento e a intensificação da atividade bancária
multinacional. Houve também maior desintermediação das
operações e com isso cresceu a securitização.

No campo tecnológico, percebe-se que a tecnologia está


alterando consideravelmente as atividades bancárias. O banco
por telefone e o banco pela internet, vem se firmando como
alternativas aos serviços prestados pelas agências bancárias,
gerando mudanças nos processos internos e na estrutura
organizacional das corporações.

Em termos de estratégia, identificou-se a formação de


conglomerações ao longo das últimas décadas. Grandes
conglomerados surgiram nos últimos anos. Os bancos estão
adquirindo companhias de seguro e empresas de administração
de fundos que possibilitem vender seguros e produtos para
aplicações em suas agências.

104
Finanças internacionais

Todas essas pressões resultam em estratégias de fusões e


aquisições no mercado bancário internacional. As fusões geram
cortes de custo e obtenção de economias de escala e escopo, além
de impor barreiras à atuação de concorrentes.

O 74o Relatório Anual do BIS (de 1º de abril de 2003 a 31 de


março de 2004) corrobora essas tendências. O relatório destaca
que a partir dos anos 90 os bancos alcançaram a racionalização
da sua estrutura de custos internos e aumentaram a eficiência
nas suas operações, enquanto procuraram ampliar a estabilidade
dos seus ganhos por meio da diversificação de receitas.

A redução de custos tem sido obtida por redução nos níveis


hierárquicos. O aumento dos recursos de tecnologia da
informação e a terceirização tem permitido aos bancos tirar
vantagem de economias de escala e enfocar as operações nas
funções essenciais (core functions) de intermediação e distribuição
de produtos financeiros.

Os bancos norte-americanos iniciaram esse processo no início


dos anos 90 e têm avançado rapidamente. As instituições
européias têm tomado essas iniciativas mais recentemente. Os
bancos japoneses, depois de um início vagaroso, têm acelerado a
implementação de planos de racionalização.

Ao contrário das tendências em relação aos custos, o quadro não


é claro em relação aos estabelecimentos bancários. Enquanto as
novas tecnologias implicariam em um movimento para canais de
distribuição mais eficientes em termos de custos, em comparação
com os bancos tradicionais, o sucesso de várias formas de bancos
remotos tem sido melhor combinados com as operações
tradicionais.

Além disso, um enfoque mais intensivo no mercado bancário


varejista tem transformado as redes de estabelecimentos
bancários em importantes pontos de venda para uma variedade
crescente de serviços financeiros.

A concentração permanece como uma opção estratégica para os


banqueiros, apesar de que houve um considerável arrefecimento
nas fusões em comparação com o final dos anos 90.

Unidade 5 105
Universidade do Sul de Santa Catarina

Mas ainda no início deste século, dois grandes acordos nos EUA
criaram a segunda e a terceira maiores organizações bancárias
norte-americanas. Além disso, complementa o relatório do
BIS, a concentração em nível local e regional toma o lugar de
estruturas institucionais que estão se desmantelando e que
historicamente suportaram a fragmentação do sistema bancário
norte-americano.

Na Europa, uma concentração doméstica também continua.


Desapontamentos com as persistentes dificuldades na formação
de um mercado bancário Pan-Europeu fez com que alguns bancos
europeus buscassem fortalecer suas posições financeiras domésticas.

O quadro a seguir mostra a concentração que ocorreu no setor


bancário em vários países, assim como a evolução do número de
estabelecimentos e empregos gerados.

Concentração2 Número de Emprego (em milhares)


estabelecimentos (em
milhares)
1990 1997 20033 1990 1997 20033 1990 1997 20033
Estados Unidos 13 21 24 72.8 77.3 84.8 696 751 732
Japão 42 39 42 24.7 25.4 22.7 593 561 447
Alemanha 174 17 22 43.3 47.1 38.2 696 751 732
França 52 38 45 25.7 25.5 26.2 399 386 384
Reino Unido 49 47 41 19 14.3 12.9 423 360 360
Itália 24 25 27 17.7 25.6 29.9 324 343 341
Canadá 83 87 87 8.7 9.4 10.4 211 264 279
Espanha 38 47 55 35.2 37.6 39.4 252 242 239
Austrália 65 69 77 6.9 6.1 4.9 357 308 344
Holanda 74 79 84 8 7 3.7 123 120 140
Bélgica 48 57 83 8.3 7.4 5.6 79 77 75
Suécia 70 90 90 3.3 2.5 2 45 43 42
Áustria 35 44 44 4.5 4.7 4.4 75 75 75
Suíca 54 73 80 4.2 3.3 2.7 120 107 100
Quadro 5.2 - Reestruturação do Setor Bancário Internacional1
Fonte: 74o Relatório Anual do BIS (1 abril 2003 - 31 Março 2004)

Notas:
1
Instiuições que aceitam depósitos como bancos comerciais e outros tipos de bancos
mútuos e cooperativos.
2
Ativos dos cinco maiores bancos como um percentual dos ativos dos demais bancos.
3
Para Bélgica, França, Alemanha, Itália, Japão, Suíça e Reino Unido, considerar 2002.
4
1995.

106
Finanças internacionais

Seção 5 - Quais são as organizações multilaterais de crédito?


Nas décadas de 40 e 50, importantes instituições financeiras
foram criadas no mercado internacional. Com isso, passaram a
configurar um novo sistema financeiro internacional.

Nesta seção, você poderá conhecer as principais características


dessas instituições e seus instrumentos de atuação: FMI, Banco
Mundial e o BID.

A) Fundo Monetário Internacional


Em 1944, representantes de 44 nações reuniram-se para
estabelecer o sistema monetário que vigoraria após a Segunda
Guerra Mundial. O FMI foi concebido em uma conferência das
Nações Unidas em Bretton Woods, New Hampshire, EUA.

O objetivo da criação de um Fundo Monetário Internacional


era construir uma estrutura de cooperação entre as economias
do mundo para evitar a repetição das políticas econômicas que
contribuíram para A Grande Depressão dos anos Trinta.

Foi a partir dessas negociações entre as nações que foi constituído


o FMI – Fundo Monetário Internacional, que começou a operar
em março de 1947. O Brasil ingressou no FMI em janeiro de
1946. Hoje o Fundo conta com 184 países membros e tem sua
sede em Washington, EUA. Atuam no Fundo aproximadamente
2.700 pessoas de 141 países. O total de cotas (em ago/2004) era
de $311 bilhões ou SDR $213 bilhões.

O Fundo Monetário internacional foi criado com o objetivo


de promover a cooperação monetária internacional garantindo
a estabilidade do sistema monetário e provendo assistência
financeira temporária aos países que necessitam de auxílio no
processo de ajuste do balanço de pagamentos.

Quais os principais objetivos do FMI?

Unidade 5 107
Universidade do Sul de Santa Catarina

Os principais objetivos do FMI consistem em:

„„ promover a cooperação monetária internacional


através de uma instituição permanente que proporcione
consulta e colaboração para resolução de problemas
monetários internacionais;
„„ faciliar a expansão e o crescimento balanceado do
comércio internacional, e contribuir para a promoção e
manutenção de altos níveis de emprego e do produto real,
além do desenvolvimento de recursos produtivos para
todos os membros integrantes do Fundo;
„„ promover a estabilidade no sistema de trocas
internacionais, prevendo crises econômicas e
encorajando os países a adotar determinadas políticas
econômicas;
„„ assistir no estabelecimento de um sistema multilateral
de pagamentos e na eliminação de restrições às trocas
internacionais;
„„ tornar os recursos do Fundo temporariamente
disponíveis aos seus membros (com salvaguardas) e
provendo-os com a oportunidade de corrigir desajustes
na balança de pagamentos.

Quais os serviços prestados pelo FMI?

O Fundo desenvolve um trabalho de acompanhamento


econômico de cada membro. Geralmente, uma vez por ano, o
Fundo faz uma análise da situação econômica do país e discute
com as autoridades as políticas consideradas mais adequadas para
o seu crescimento econômico.

O FMI combina as informações individuais para elaborar uma


avaliação do desenvolvimento global e do desenvolvimento
regional e faz projeções. O resultado desses trabalhos são
publicados nos relatórios conhecidos como “World Economic
Outlook” e no “Global Financial Stability Report”.

Outro serviço prestado pelo Fundo é a oferta de assistência


técnica. Tem como objetivo auxiliar os países membros a

108
Finanças internacionais

desenhar e implementar suas políticas econômicas em áreas


como política fiscal, monetária, taxas de câmbio, supervisão e
regulamentação bancária e criação de sistemas estatísticos.

E o serviço prestado pelo Fundo mais conhecido consiste na


oferta de assistência financeira para correção de desequilíbrios na
balança de pagamentos. Um programa é desenvolvido pelo FMI
em conjunto com as autoridades do país e o suporte financeiro
é mantido de acordo com a efetiva implementação do programa
idealizado.

Como ocorrem os financiamentos do FMI?

A maioria dos financiamentos do FMI provem de três tipos


diferentes de políticas.

„„ Stand-By arrangements: é a princiapl política do FMI.


Foi usada pela primeira vez em 1952 e é utilizada
quando ocorrem problemas de curto prazo na balança de
pagamentos.
„„ Extended fund facility: empréstimos de médio prazo para
países que possuem problemas estruturais na balança de
pagamentos e que podem levar mais tempo para serem
corrigidos. Políticas estruturais associadas a esse tipo de
empréstimo incluem, por exemplo, reformas tributárias,
reformas do setor financeiro, privatizações, maior
flexibilidade no mercado de trabalho.
„„ Poverty reduction and growth facility (PRGF): é uma
linha voltada para países pobres e veio substituir o
enhanced structural adjustment facility (ESAF) em 1999.
Seu objetivo é que a redução da pobreza e o crescimento
econômico se tornem os propósitos centrais dos
programas políticos.

Quais as principais características dos empréstimos do


FMI?

Unidade 5 109
Universidade do Sul de Santa Catarina

Algumas características dos empréstimos do FMI são:

a) os recursos são depositados junto ao banco central


do país tomador, na conta de reservas internacionais;

b) todos os empréstimos são condicionais. Isso é, o


país tomador tem que adotar determinadas políticas para
correção dos problemas da balança de pagamentos;

c) os empréstimos são temporários. Os pagamentos


vão de três anos e meio a cinco anos para os empréstimos
de curto prazo (os Stand-By Arrangements) e de quatro
anos e meio a dez anos para os de médio prazo (extended
arrangements). Para o PRGE o período é de dez anos sendo
que o principal começa a ser pago em cinco anos e meio.

O Brasil tem empréstimos do tipo Standy-by com o FMI. As


últimas vezes que o país recorreu ao FMI foram em dezembro de
1998, como forma de atenuar a fuga de capitais pela qual estava
passando, como reflexo das crises Asiáticas e da Rússia.

Mesmo recorrendo ao Fundo, o país teve que desvalorizar a


moeda (Real) em janeiro de 1999. Com a instabilidade eleitoral,
fruto das expectativas em relação às eleições presidenciais, o
Brasil solicitou novos empréstimos em 2001 e 2002.

O prazo do último acordo expira em março de 2005, sendo que o


Brasil ainda pagará em torno de US$ 6 bilhões por ano ao FMI
até 2007, referentes ao principal mais juros dos empréstimos
anteriormente contraídos.

Qual a origem dos recursos do FMI?

Os recursos do Fundo são proporcionados pelos países membros


através do pagamento de cotas que devem refletir o tamanho da
economia de cada país. A cota de um membro determina o seu
poder de voto e o seu acesso ao financiamento do fundo.

As cotas são denominadas Special Drawing Reights (SDRs) ou


Direitos Especiais de Saque. O maior membro do FMI é os
EUA com uma quota de SDR 37.1 bilhões (aproximadamente
$54.2 bilhões) e o menor país é Palau com uma quota de SDR
3.1 milhões (aproximadamente $4.5 milhões). A cota brasileira é
de aproximadamente SDR 3 bilhões.

110
Finanças internacionais

As quotas determinam o montante máximo de recursos


financeiros que o membro é obrigado a pagar ao FMI. Mais
de 25% da quota deve ser paga em SDRs ou em moedas de
aceitação ampla como o dólar norte-americano, o euro, o
iene). O restante é pago na moeda do próprio país. A quota
também é uma referência para o acesso aos recursos do fundo.
Nos empréstimos tipo stand-by ou extended, por exemplo, um
membro pode pegar emprestado 100% da sua quota anualmente
e 300% cumulativamente, podendo o valor ser maior em casos
excepcionais.

DES – Direitos Especiais de Saque


O ano de 1971 marcou o fim do sistema de Bretton Woods. Houve um
crescimento acentuado do déficit do balanço de pagamentos dos EUA,
o que fez crescer a liquidez internacional. Na medida em que os EUA
compram do resto do mundo, geram uma abundância de dólares junto
aos bancos centrais dos países que possuem comércio com os EUA.
Isso fez com que o montante de dólares no mercado internacional
fosse superior ao lastro-ouro dos EUA. Com o crescimento econômico
do período, outras moedas também ganharam trânsito internacional
como unidade de reserva, apesar da menor escala em relação ao dólar.
Isso aconteceu com o marco-alemão, o iene japonês, a libra esterlina e
o franco francês. Gerou-se portanto um movimento especulativo com
moedas no mercado internacional. O preço oficial de 35 dólares por
onça passou a valer somente nas transações entre os bancos centrais.
As demais transações passaram a ter preços livres de mercado.
Houve, portanto, a ruptura da conversibilidade de dólar em ouro
a um preço fixo. Foi nesse contexto que em 1967 os países cotistas
do FMI reuniram-se no Rio de Janeiro e criaram uma nova moeda
internacional, o Direito Especial de Saque (DES).
O DES é emitido pelo FMI e alocado entre os países membros do
Fundo na proporção das suas cotas. O DES pode ser usado nas
transações entre os países membros do Fundo e nas operações com
o próprio FMI. O DES é também, a unidade de conta do FMI. O valor
do DES é determinado diariamente usando as cotações de uma cesta
de moedas. São consideradas as quatro principais moedas: o euro, o
iene, a libra esterlina e o dólar norte-americano. Em 1 de julho de 2004,
a cotação era DES 1 = US$1,48. A composição da cesta de moedas é
revisada a cada cinco anos.

Dentre os países que mais recorreram ao FMI no período de


1947 a 2000 estão, por ordem de montante de empréstimos, o
México, Coréia do Sul, Rússia, Brasil, Argentina, Reino Unido
e Índia.

Unidade 5 111
Universidade do Sul de Santa Catarina

Quais os desafios atuais do FMI?

Os anos 90 foram de muitos desafios para o Fundo Monetário


Internacional.

Esses desafios estão associados à globalização – aumento da


integração internacional dos mercados e das economias. Aqui se
inclui:

„„ a turbulência nos mercados financeiros emergentes, como


Ásia e América Latina;
„„ o auxílio para que vários países realizem uma transição
satisfatória de um sistema central planejado para um
sistema orientado para o mercado e entrem na economia
do mercado global;
„„ promover o crescimento econômico;
„„ redução da pobreza nos países mais pobres e que correm
o risco de serem deixados de lado pela globalização.
A globalização, na medida em que aumentou o volume e a
velocidade do fluxos de capitais internacionais também aumentou
o risco de uma crise financeira.

A crise financeira que ocorreu nos mercados emergentes nos


anos 90 deixou claro que os investidores podem deixar o país
rapidamente e, ao mesmo tempo, percebem instabilidades
na economia. Além disso, a crise em um país ou região pode
rapidamente “contaminar” outras economias.

Essa realidade faz com que reformas sejam necessárias


como forma de fortalecer o sistema financeiro e
monetário internacional.

O trabalho do FMI nesse sentido tem buscado estimular que


os países desenvolvam mecanismos para fortalecer o setor
financeiro – uma possível origem de vulnerabilidade econômica
de um país é a fragilidade do seu sistema financeiro, no qual
as instituições possuem riscos de insolvência e não se tornam

112
Finanças internacionais

confiáveis. Requer-se, para tanto, que as autoridades desenvolvam


mecanismos de supervisão e regulação.

O Brasil avançou nessa área por meio da criação do novo sistema


de pagamentos brasileiro. O FMI tem objetivado também
estimular que os países publiquem dados confiáveis sobre a
economia do país, suas políticas financeiras, práticas, decisões,
como forma de auxiliar os investidores a tomarem decisões
eficientes e de forma suave, evitando crises abruptas. O FMI,
em 1997, desenvolveu um sistema de disseminação de dados
que serve como um guia para que os países sigam (General Data
Dissemination System – GDDS).

Outra iniciativa do Fundo tem sido ampliar a discussão sobre as


suas próprias políticas e envolver o setor privado na prevenção e
na resolução das crises financeiras.

O Fundo tem buscado aproximar-se do mercado de capitais


internacional para a análise econômica dos países durante os
processos de renegociação de dívidas que geralmente envolvem as
duas partes.

Atualmente, a fonte mais provável de instabilidade provem dos


déficits gêmeos dos EUA, o déficit fiscal e o déficit comercial.

O déficit da balança comercial americana tem baixado o valor do


dólar no mercado internacional, gerando o temor de uma queda
nas importações desse país.

Como forma de contornar o problema, os norte-americanos


podem aumentar as taxas de juros. A conseqüência seria um
maior fluxo de capitais para os EUA, isso é, uma saída de capitais
de outros países.

Se os demais países possuem problemas com a balança de


pagamentos (baixas reservas internacionais, por exemplo), podem
ter que adotar medidas não desejáveis como uma desvalorização
monetária. No caso do Brasil isso seria indesejável na medida que
inibiria as importações e estimularia o retorno de um processo
inflacionário difícil de ser controlado.

Unidade 5 113
Universidade do Sul de Santa Catarina

B) Banco Mundial

O Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento


(BIRD) foi criado em 1945, no mesmo período em que ocorreu
a criação do Fundo Monetário Internacional. Foi concebido
durante a Segunda Guerra Mundial, em Bretton Woods e,
inicialmente, ajudou a reconstruir a Europa após a guerra.
Atualmente possui 183 países membros, inclusive o Brasil.

É o principal organismo multilateral internacional de


financiamento do desenvolvimento social e econômico. Seu
principal objetivo é a promoção do progresso econômico e social
dos países membros, mediante o financiamento de projetos com
vistas à melhoria da produtividade e das condições de vida desses
países.

O BIRD utiliza recursos obtidos principalmente no mercado


internacional de capitais mas também possui recursos próprios.
Somente aqueles países membros FMI podem fazer parte do
BIRD.

Quais instituições fazem parte do BIRD?

O BIRD, juntamente com a AID (Associação Internacional de


Desenvolvimento) formam o Banco Mundial. A AID concentra
sua atuação na assistência aos países mais pobres, proporcionando
empréstimos sem juros e outros serviços. A AID depende das
contribuições dos seus países membros mais ricos - inclusive
alguns países em desenvolvimento - para levantar a maior parte
dos seus recursos financeiros.

Outras instituições unem-se ao Banco Mundial formando o


Grupo Banco Mundial. São elas:

„„ IFC (Corporação Financeira Internacional): o


objetivo do IFC é promover o crescimento no mundo
em desenvolvimento mediante o financiamento
de investimentos ao setor privado e a prestação de
assistência técnica e de assessoramento aos governos

114
Finanças internacionais

e empresas. Em parceria com investidores privados, a


IFC proporciona tanto empréstimos quanto participação
acionária em negócios nos países em desenvolvimento;
„„ AMGI (Agência Multilateral de Garantia de
Investimentos): o objetivo dessa agência é estimular
os investimentos estrangeiros nos países em
desenvolvimento por meio de garantias a investidores
estrangeiros contra prejuízos causados por riscos não
comerciais. A AMGI também proporciona assistência
técnica para ajudar os países a divulgarem informações
sobre oportunidades de investimento;
„„ CIADI (Centro Internacional para Arbitragem de
Disputas sobre Investimentos): o CIADI proporciona
instalações para a resolução mediante conciliação ou
arbitragem de disputas referentes a investimentos entre
investidores estrangeiros e os seus países anfitriões.

O Grupo Banco Mundial é constituído por essas cinco


instituições estreitamente relacionadas que contam
com uma única presidência.

O Governador do Brasil no BIRD é o Ministro da Fazenda.

O país possui 1,67% do capital do Banco. A diretoria executiva


da constituency integrada pelo Brasil (juntamente com Colômbia,
Equador, Filipinas, Haiti, República Dominicana, Suriname,
Trinidad e Tobago) correspondem 3,17% dos votos do
organismo.

A partir de 1997, o Banco Mundial passou a descentralizar suas


operações para países membros. Com isso consegue uma maior
aproximação da realidade desses países e de melhorar e agilizar a
implementação dos projetos financiados pela instituição.

No Brasil, o BIRD possui três escritórios: em Brasília, onde


situação o escritório principal, e dois outros no Nordeste,
em Fortaleza e Recife, nos quais se destacam os trabalhos
direcionados ao desenvolvimento rural e à pobreza.

A IFC tem escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro, e neste


último, se coordenam as atividades para a América Latina.

Unidade 5 115
Universidade do Sul de Santa Catarina

O Banco Mundial apóia o Brasil desde 1949 por meio de


empréstimos, doações e atividades de análise e consultoria.

Nas cinco últimas décadas, esse apoio tem se deslocado


gradualmente do enfoque inicial nos projetos de infra-estrutura
para um paradigma mais abrangente de desenvolvimento. O
primeiro empréstimo para o Brasil foi de US$ 75 milhões para o
Projeto de Energia e Telefones.

O banco dispõe atualmente de uma carteira de investimentos


ativa, composta de US$5,4 bilhões em empréstimos para o Brasil.
Existem mais de 50 projetos em andamento. Cada projeto tem
duração média de quatro anos.

São exemplos de projetos financiados pelo BIRD no


Brasil:
• financiamento parcial do Gasoduto Brasil-Bolívia;
• programa de Reforma do Setor de Saúde
– Reforsus;
• programa de reestruturação e privatização da
malha ferroviária federal;
• programas de redução da pobreza e melhorias
ambientais.

Atua também, desde 1988, na oferta de financiamentos para


o programa de combate à transmissão do HIV/AIDS, com
um total de US$ 325 milhões em empréstimos para projetos
relacionados à AIDS.

Na área de gestão e infra-estrutura municipal destaca-se o


projeto do Estado da Bahia (Programa de Administração
Municipal e Desenvolvimento de Infra-estrutura Urbana
- PRODUR). O Banco Mundial financia 50% do projeto e
fornece assistência técnica, treinamento, estudos e equipamento
de tecnologia da informação – para apoiar a modernização
e as reformas administrativas dos governos municipais e de
determinadas agências estaduais na Bahia.

Em 1998, o Brasil lançou o Programa de Desenvolvimento


Sustentável do Semi-Árido Brasileiro (PROÁGUA), o primeiro
programa nacional de gestão sustentável dos recursos hídricos.

116
Finanças internacionais

Com compromissos da ordem de US$1 bilhão do Banco


Mundial, o PROÁGUA destina-se a: promover o uso sustentável
e racional, bem como a gestão participativa dos recursos hídricos
em todo o Brasil como um todo, e no Nordeste em particular. Na
área educacional o Banco Mundial já investiu mais de US$2,1
bilhões.

C) BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento


O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) é uma
instituição financeira regional criada em 1959. O BID é a maior
e mais antiga instituição de desenvolvimento regional do mundo.
Sua sede é em Washington D.C. e tem como objetivo contribuir
para o progresso econômico e social da América Latina e do
Caribe. O BID conta hoje com 46 membros, entre países
regionais e extra-regionais.

Os recursos de que dispõe o BID são do seu capital próprio, de


recursos obtidos no mercado financeiro e de outros fundos sob
sua administração.

O banco financia o desenvolvimento nos países membros de


forma a complementar os investimentos privados e prover
assistência técnica para preparação, financiamento e execução de
projetos e programas de desenvolvimento.

A maioria dos empréstimos do BID é concedida a taxas de juros


vinculadas ao custo da captação de recursos em mercados de
capital.

As operações do BID enfatizam os setores de produção agrícola


e manufatureira; de infra-estrutura física, como energia e
transportes; e os setores sociais, incluindo saúde, educação,
desenvolvimento urbano e ambiental.

Atualmente, o Banco tem priorizado projetos para a redução


da pobreza e a promoção da eqüidade social, modernização do
Estado, integração regional e meio ambiente.

Em 1995, o BID instituiu uma “janela” que permite a concessão


de empréstimos diretamente ao setor privado, sem garantias
governamentais.

Unidade 5 117
Universidade do Sul de Santa Catarina

O BID realiza empréstimos:

„„ de investimento;
„„ de política (para reformas institucionais e de políticas em
nível setorial ou subsetorial);
„„ de programas de cooperação técnica;
„„ ao setor privado (garantias, instrumentos flexíveis de
empréstimo);
„„ de programa de empreendedorismo social;
„„ de empréstimos de emergência; e,
„„ de mecanismos de preparação de projeto.
O BID financia uma porcentagem dos custos totais de um
projeto que é inversa à magnitude da economia dos países. O
resto do custo é financiado pelo mutuário.

A porcentagem do banco nos custos totais dos projetos para


o Brasil são de 60%. O financiamento do banco pode ser
complementado com mais 10% quando pelo menos 50% dos
benefícios líquidos do projeto forem canalizados para grupos de
baixa renda. O financiamento não poderá exceder 90% do custo
total do projeto.

O Brasil é membro do BID desde sua criação e possui 11,07%


do capital ordinário e do poder de voto do organismo. É um dos
maiores tomadores de recursos do BID e os projetos financiados
pelo banco concentram-se atualmente nos setores de reforma
e modernização do Estado e redução da pobreza (como o:
Programa de Administração Fiscal dos Estados; Projeto de
Reforma do Setor de Saúde - Reforsus; Programa de Melhorias
nas Favelas de São Paulo; Programa Comunidade Solidária). O
BID mantém um escritório permanente em Brasília.

PAÍSES MEMBROS
Argentina* ^ El Salvador* ^ Noruega
Alemanha * Eslovênia Países Baixos *^
Áustria * ^ Espanha * ^ Panamá * ^
Bahamas * ^ Estados Unidos * ^ Paraguai * ^
Barbados* ^ Finlândia Peru * ^
Bélgica França * Portugal ^
Belize * ^ Guatemala* ^ Suécia *

118
Finanças internacionais

Bolívia* ^ Guiana* ^ Suíça *


Brasil* ^ Haiti* Suriname*
Canadá^ Honduras* ^ Trinidad e Tobago * ^
Chile* ^ Israel* Reino Unido*
Colômbia* ^ Itália * ^ República Dominicana * ^
Costa Rica* ^ Jamaica* ^ Uruguai* ^
Croácia Japão * ^ Venezuela* ^
Dinamarca* México* ^
Equador* ^ Nicarágua* ^
* Membro da Corporação Interamericana de Investimentos
^ Membro do Fundo Multilateral de Investimentos
Quadro 5.3 – Países membros do BID
Fonte: BID

Ao longo das décadas seguintes, o banco ampliou o número


de membros, inicialmente somente no Hemisfério Ocidental.
Os países membros não-regionais ou de fora do Hemisfério
Ocidental constituem 16 estados europeus mais Israel e Japão.
Belize passou a membro em 1992 e a Croácia e Eslovênia
aderiram como estados sucessores da Iugoslávia em 1993.

Os demais estados sucessores da Iugoslávia decidiram não


permanecer como sucessores no banco, à exceção de Sérvia-
Montenegro, que ainda tem a opção de admissão como membro
do BID. Cuba assinou mas não ratificou os Artigos do Convênio
Constitutivo, a carta da instituição, não sendo portanto ainda
membro.

O poder de voto de cada país membro é determinado por sua


subscrição de recursos ao capital ordinário da instituição. Para
tornar-se membro regional, o país primeiro tem que ser membro
da Organização dos Estados Americanos.

Para ser membro não-regional, o país deve ser também membro


do Fundo Monetário Internacional. Uma segunda exigência em
ambos os casos é a subscrição de Ações do Capital Ordinário e
uma contribuição ao Fundo para Operações Especiais.

Unidade 5 119
Universidade do Sul de Santa Catarina

D) BIS – Bank for International Settlements

O BIS tem como objetivo:

„„ promover a estabilidade monetária e financeira dos


países;
„„ agir como fórum de discussão e cooperação entre bancos
centrais e a comunidade financeira;
„„ agir como banco para os bancos centrais e organizações
internacionais.
Criado em 1930, o BIS consiste em uma organização
internacional criada inicialmente para administração e
distribuição dos pagamentos realizados para a reconstrução da
Alemanha depois da Primeira Guerra Mundial. Atualmente, as
atividades do banco enfocam duas áreas principais:

„„ oferece assistência aos bancos centrais e outras


autoridades financeiras no seus esforços para promover
estabilidade monetária e financeira. Serve como um
local de encontro entre dirigentes dos bancos centrais do
mundo. O departamento Econômico conduz pesquisas
e análises estatísticas (como o Annual Report e o BIS
Quarterly Review sobre o desenvolvimento do mercado
financeiro internacional) e o Instituto de Estabilidade
Fnanceira, dissemina as melhores práticas e os padrões
na área de supervisão. As reuniões no BIS com os
dirigentes dos bancos centrais são bimestrais. O BIS
abriga também, uma série de comitês que procuram
promover a cooperação através da troca de informações
em questões específicas. Um exemplo é o Comitê da
Basiléia em supervisão bancária, que também desenvolve
e propõe padrões internacionais comuns que são
implementados pelas legislações nacionais.
„„ age como um banco, quase que exclusivamente para
bancos centrais, proporcionando serviços relativos a suas
operações financeiras. O BIS busca oferecer retorno
atrativo para os fundos depositados pelos bancos centrais
através de instrumentos financeiros especialmente
desenhados para as operações dos BCs. Dos serviços
financeirso proporcionados pelo BIS estão a admintração
de ativos e a garantia de crédito de curto prazo para os
bancos centrais. Desde abril de 2003 a unidade de conta
do BIS é o SDR ou DES (Direitos Especiais de Saque).
120
Finanças internacionais

Síntese
A partir dos anos 40 o sistema financeiro internacional sofreu
mudanças fundamentais na sua configuração.

O crescimento acentuado do comércio internacional e a expansão


das atividades multinacionais das empresas são alguns dos
motivos que levaram os bancos a expandir seus negócios em
áreas estrangeiras. Além da atividade bancária ter se tornado
internacional, surgiram as instituições multilaterais de crédito
que passaram a fornecer crédito para países e instituições
públicas e privadas ao redor do globo. As principais instituições
multilaterais de crédito são o Fundo Monetário Internacional, o
Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e
o Bank for International Settlements (BIS).

Atividades de auto-avaliação
Efetue as atividades de auto-avaliação e, em seguida, acompanhe as
respostas e comentários a respeito. Para melhor aproveitamento do seu
estudo, realize a conferência de suas respostas somente depois de fazer
as atividades propostas.
Leia com atenção aos enunciados e realize a seguir as atividades.
1. Indique como uma instituição financeira pode ser considerada uma
instituição financeira internacional.

Unidade 5 121
2. Descreva por que o FMI foi criado e qual a sua principal finalidade como
instituição internacional.

3. O que é um Direito Especial de Saque?

Saiba mais
Se você ficou interessado em conhecer mais detalhes sobre as instituições
financeiras internacionais, vale a pena ler:
BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS. Guide to the international
banking statistics. BIS Papers, n. 16. Switzerland: Monetary and Economic
Department, April, 2003.
HUGON, P. História das Doutrinas Econômicas. São Paulo: Atlas, 1992.
KRUGMAN, P; Obsfeld, M. Economia Internacional: teoria e política. São
Paulo: Makron Books, 1999.
ROBERTS, R. Por dentro das finanças internacionais. Rio de Janeiro:
Zahar, 2000.

122
Finanças internacionais

Realize a seguir a leitura do artigo de Paul Hugon sobre “Os primórdios da


atividade bancária”.

Os primórdios da atividade bancária

Nos primórdios do século XVIII (em 1716), no período metalista, a


economia européia conhece a forma fiduciária de moeda, o que teve
impacto significativo no papel dos bancos na economia. John Law,
teórico e banqueiro escocês, percebeu que a moeda-ouro e a moeda-
prata sofriam variações de valor que dificultavam o seu emprego como
padrão monetário. O papel-moeda ainda apresentaria as vantagens
de ser mais barato que o metal, poderia ser produzido à vontade e de
acordo com as necessidades econômicas do país. Law passou então, a
emitir notas de bancos sem a garantia de lastro metálico. A diferença
entre o valor das notas emitidas e a cobertura metálica representava
o lucro da operação. O banqueiro partia da concepção que jamais os
clientes de um banco, enquanto houver confiança, exigirão a conversão
das notas em espécies metálicas. Mas a experiência de Law fracassou.
Fez emissões em excesso e criou-se um clima de desconfiança entre
os depositantes que perceberam o caráter artificial e inflacionista das
emissões.
O erro de Law foi não ter levado em conta a procura efetiva da moeda
em função do desenvolvimento da riqueza. As noções de crédito e
moeda, volume monetário e circulação de moeda, ainda não estavam
claras, o que fez a moeda criada por Law perder uma das funções de
uma moeda: a reserva de valor.
Mas a experiência de John Law mostrou a conveniência de substituir a
moeda metálica por papel-moeda e também a necessidade de criação
da concentração do estoque de metais preciosos em um banco central.

Fonte: Hugon, Paul. História das Doutrinas Econômicas. São Paulo:Atlas, 1992.

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