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FERNANDA MORELIO
Subprocuradora-Geral de Justiça de Assuntos Cíveis e
Institucionais
RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO
RAZÕES DO RECORRENTE
I – A DEMANDA
Por maioria, a 27ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (e-
doc 000507) deu provimento ao recurso do Estado, forte no entendimento de que, apesar de
constatada a superlotação na unidade prisional, não competiria ao Poder Judiciário, diante de
um quadro de escassez orçamentária,impor demandas prioritárias ao Poder Executivo, tendo
em vista a existência de inúmeras necessidades fundamentais ainda por atender.
II - A DECISÃO RECORRIDA
III - RECURSO EXTRAORDINÁRIO PELA ALÍNEA “A” DO ARTIGO 102, III da CF.
reflexo.
Os artigos 1º, III, 2º e 5º, III, XLVII “e”, XLIX, todos da Constituição Federal, foram
diretamente violados pela decisão recorrida, ao respaldar o ente Estadual de manter a
superlotação na Casa de Custódia Dalton Crespo de Castro, sob a justificativa de que a
pretensão ministerial violaria o princípio da separação dos poderes.
Por estas razões, não trata o presente caso de uma mera afronta reflexa ao
texto constitucional.
III.a.5) Do Prequestionamento
Processo Civil1, é considerado parte integrante do acórdão para todos os fins legais, inclusive
de pré-questionamento.
1
Art. 941. Proferidos os votos, o presidente anunciará o resultado do julgamento, designando
para redigir o acórdão o relator ou, se vencido este, o autor do primeiro voto vencedor. (...)§
“Por seu turno a alínea “e” do inciso XLVII do art. 5º da CR dispõe que “não
haverá penas cruéis” e o inciso XLIX que “é assegurado aos presos o respeito à
integridade física e moral”.
O voto vencido também analisa a aplicação à causa dos direitos dos presos
previstos nos tratados internacionais que fundamentam o presente recurso:
III.B) DAS RAZÕES PARA O PROVIMENTO DO RECURSO PELA ALÍNEA A, DO ARTIGO 102, III, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
Da contrariedade aos artigos 2º, 1º, III, 5º, III, XLVII “e”, XLIX, todos da Constituição
Federal.
Ante tão grave situação, violadora de direitos fundamentais dos presos, não é
legítima a recusa do Poder Judiciário em prestar a imprescindível tutela jurisdicional.
A circunstância de não só a Casa de Custódia objeto da ação encontrar-se
superlotada, mas também outros estabelecimentos prisionais situados no Estado do Rio de
Goiás, não pode eximir o Poder Executivo do Estado de cumprir seu dever – como entendeu
o Acórdão recorrido. O caos no sistema penitenciário do Estado é consequência da reiterada e
permanente omissão estatal, e indicativo de que urge uma solução. O entendimento do
Tribunal de origem de que o Poder Judiciário nada poderia fazer ante tão grave problema é,
data venia, inaceitável.
Não é cabível invocar o princípio da separação dos poderes, o qual foi concebido
justamente para a proteção dos direitos fundamentais, para, em inversão abominável, se eximir
de respeitar e implementar os referidos direitos que se buscava proteger.
Especificamente quanto aos direitos dos presos, essa Suprema Corte já teve a
oportunidade de reconhecer, quando do julgamento da ADPF 347, a necessidade de
intervenção do Poder Judiciário no sistema penitenciário brasileiro ante o “estado de coisas
inconstitucional”, em razão da violação de direitos fundamentais dos encarcerados.
Naquele julgamento, foi deferido o pedido liminar, para “determinar aos juízes
e tribunais que, observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da
Convenção Interamericana de Direitos Humanos, realizem, em até noventa dias, audiências de
custódia, viabilizando o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no prazo
máximo de 24 horas, contados do momento da prisão” e “para determinar à União que libere
o saldo acumulado do Fundo Penitenciário Nacional para utilização com a finalidade para a
qual foi criado, abstendo-se de realizar novos contingenciamentos”, sendo deferida, ainda,
concessão de cautelar de ofício para que se determine à União e aos Estados, e
especificamente ao Estado de São Paulo, que encaminhem ao Supremo Tribunal Federal
informações sobre a situação prisional.
FERNANDA MORELIO
Subprocuradora-Geral de Justiça de Assuntos Cíveis e
Institucionais