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História e Literatura da Introdução ao Novo Testamento: uma breve síntese dos seus

primórdios (parte 1)

Brian Gordon Lutalo Drumond Kibuuka - http://www.abiblia.org/artigosview.asp?id=81  

O objetivo neste texto é dar uma perspectiva histórica para o leitor da pesquisa do Novo
Testamento. As principais escolas são abordadas, tendo início na igreja dos primórdios até a
história da literatura (Die Literaturgeschichte): são 6 os grupos de abordagens introdutórias
ao Novo Testamento.

Tanto a igreja dos primórdios como a da Idade Média apenas esporadicamente


demonstraram interesse nas circunstâncias da composição dos livros do NT relacionadas com
o problema do cânon (prólogo às epístolas paulinas e aos evangelhos, cânon de Muratori,
Orígenes, Dionísio de Alexandria). Os Introductores scripturae divinae (Ticômio, Agostinho,
Adriano, que cerca de 450 escreveu uma Introdução aos Escritos Divinos, Euquério, Junílio
Africano), reunidos por Cassiodoro, são mais expositores que propriamente introdutores.
Logo, a pesquisa científica têm início no período da Reforma Protestante.

Reforma:

No período da Reforma surgiram, entre católicos e protestantes, estudos sobre a origem dos
livros canônicos do Novo Testamento.

Surge nesta época a Crítica Textual com Richard Simon, oratoriano, nas suas três obras
sobre Histoire critique do Nouveau Testament (1689-1693). Estas obras abriram o caminho
para uma introdução do Novo Testamento de caráter científico.

Simon tratou da tradição manuscrita e da origem de cada escrito em particular. Este viés da
pesquisa fez surgir o interesse na análise do Novo Testamento sob o viés histórico.

Análise sob o ponto de vista histórico:

O primeiro autor a tratar o texto neotestamentário sob uma incipiente crítica histórica foi J.
D. MICHAELIS, na obra Einleitung in die göttlichen Schriften des Neuen Bundes (1750, 4a ed.
1788). percebe-se nesta obra claramente a influência de Simon.

Após as pesquisas de Michaelis, J. S. SEMLER publicou Abhandlung von freier Untersuchung


des Canon (1771-1775) – nesta obra, Semler trata da origem histórica do cânon do Novo
Testamento.

A pesquisa alcançou maior desenvolvimento com J. G. EICHHORN na obra Einleitung in das


Neuen Testament (5 volumes, publicados entre 1804 e 1827). Esta obra consiste na primeira
pesquisa livre das opiniões preconcebidas a respeito da origem do cânon e do texto do Novo
Testamento.
Junto a Michaelis, Semler e Eichhorn estão ainda: de Wette, Schleiermacher, Credner, Reuss,
Hug e outros.

F. C. Baur e a Escola de Tübingen

Faziam parte desta escola F. C. Baur, A. Zeller, A. Hingenfeld e A. Ritschl (nos seus inícios).

Baur definiu a introdução como sendo a crítica do cânon, ou ciência cuja tarefa é investigar a
proveniência e a originalidade dos escritos canônicos.

A origem dos escritos canônicos deve ser entendida dentro do contexto maior dos conflitos
espirituais das eras apostólicas e pós-apostólicas. Esta é interpretada pela lógica hegeliana
(tese – antítese – síntese).

Baur entende que o cristianismo apostólico foi marcado pela oposição entre o cristianismo
judaizante dos primeiros apóstolos, e o evangelho universalizante e liberto da Lei, de Paulo.
Ainda compreende que o cristianismo pós-apostólico foi marcado pela atenuação desta
oposição mediante concessões e compromissos, alcançando uma posição intermediária para
fazer frente à oposição gnóstica e montanista do século II.

A Escola de Tübingen adotou o “criticismo tendencioso” (Tendenzkritik), indicando que cada


escrito do Novo Testamento foi elaborado independentemente de qualquer tendência
definida. Para esta Escola, Gálatas, I Coríntios, II Conríntios e Romanos são testemunhos do
evangelho paulino. O Apocalipse seria um documento ebionista. Fora estes, todos os outros
documentos são inautênticos e de tendência unionista – a começar pelos evangelhos
sinóticos e Atos, escritos do tempo de ajustamento e solução das dúvidas da oposição; até
chegar em João, onde a síntese e conclusão pacificadora é feita (In: BAUR, F.C.,
Kirchengeschichte der 3 erste Johannes, 1853, 3a ed. 1863).

As teorias de Baur foram modificadas pelos membros da escola, e o “radicalismo critico” da


Escola de Tübingen, principalmente no questionamento da origem paulina das principais
epístolas tradicionais, acabou por sucumbir (ver: JÜLICHER, A., Einleitung is das Neuen
Testament, 7a ed. 1931, pp. 22s).

A principal contribuição desta escola:

- a percepção de que a história da literatura cristã primitiva só pode ser investigada em


relação estreita com a história interna e externa do cristianismo primitivo.

O Desenvolvimento da Ciência Protestante - período de transição.

A importância deste período está no desenvolvimento e universalização dos métodos de


pesquisa na isagoge e teologia neotestamentária. Apenas citamos os principais autores do
período, sem exposição pormenorizada dos seus resultados devido a importância minoritária
destas escolas.
Obras críticas:
HOLTZMANN, H.J.; JÜLICHER, A.; HARNACK, A.; WEISS, B. e ZAHN, Th.
Estudos de caráter popular:
SCHLATTER, A.; VON SODEN, H.; DIBELIUS, M; KOCH, K., BORNKAMM, G.

Obras inglesas e americanas

GRANT, R.M., A Historical Introduction to the New Testament, 1964.

Bibliografia católica
SCHREINER, J.; DAUTZENBERG, G., Gestalt und Auspruch des Neuen Testament, 1969.

Análise Histórico-literária

Até o século XIX, o pensamento crítico-literário com suas indagações sobre as fontes e
interdependências dos escritos do Novo Testamento prevaleceu.

No século XX surgiu, por influência do pensamento de Herder e das pesquisas


veterotestamentárias, um interesse concentrado nos gêneros literários e nas categorias
estilísticas do Novo testamento.

O texto não é visto mais no tocante à sua produção por um autor individualmente tomado,
mas é analisado a partir da pré-história da forma do material que lhes veio ter às mãos.

A origem pré-literária da tradição cristã-primitiva é observada segundo a analogia do


desenvolvimento da tradição popular de maneira geral (Sitz im Leben) com o substrato das
formas tradicionais da literatura cristã primitiva. Isto pode ser demonstrado pelo seguinte
esquema:

Desenvolvimento da tradição popular (Sitz im Leben) ==> Substrato das formas tradicionais
da literatura cristã primitiva + conteúdo da tradição ==>Tradição Cristã Pré-literária ==>
Tradição cristã literária

As influências para esta leitura são: o estudioso do Antigo Testamento, Hermann Günkel; o
teólogo Henrici e A. Deissmann; e estudiosos da antigüidade, como E. Norden.

A principal contribuição deste método é o reconhecimento da literatura cristã primitiva como


expressão da vida da cristandade primeva e da compreensão das suas motivações religiosas.

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