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Bolema,
p. 41
Rioa Claro
54 (SP), Ano 21, nº 31, 2008, p. 41 a 41
54
Resumo
Este artigo tem como objetivo desenvolver uma proposta de ensino de operações entre
frações cuja relevância está no respeito à maturidade cognitiva dos alunos, bem como
subsidiar a prática docente de professores não-especialistas do conhecimento
matemático, mas que ensinam Matemática nas séries iniciais. Para tanto, apoiados em
pressupostos da geometria grega, evocamos o princípio da contagem para a iniciação
dos aprendizes sobre as operações com frações, admitindo que este conceito se constitua
um dos conhecimentos prévios de excelência que deve estar presente na estrutura
cognitiva dos alunos das séries iniciais, comportando sua utilização para a aprendizagem
de número e das operações com frações.
Abstract
who are non-experts in Mathematics, but teach beginners. We base our efforts on Greek
geometry, evoking the concept of counting to initiate beginners in operations with
fractions. We consider the counting concept as primary knowledge in learners´ cognitive
structure as far as number learning and calculation with fractions are concerned.
Introdução
Fig. 1
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1
Podemos interpretar que um retângulo de lados iguais a 1 e , tem
3
1 1 1
área igual a 1 x = e isso nos permite observar que está contido 3
3 3 3
1
vezes na unidade e escrever 1 ÷ = 3 . Ainda de acordo com os nossos
3
1
pressupostos, se considerarmos a área como uma “nova unidade”,
3
⎛1⎞
podemos dizer que a nova medida da área do quadrado unitário é 3 ⎜ 3 ⎟ .
⎝ ⎠
Se dividirmos um dos lados de um quadrado unitário em 3 partes
iguais e o lado adjacente em 4 partes iguais, obteremos 12 retângulos de área
1
, como mostra a figura seguir:
12
Fig.2
2 3 ⎛ 1 ⎞ 2×3
permite depreender que 3 × 4 = (2 × 3)⎜ 12 ⎟ = 3 × 4 , pois o total 12 de
⎝ ⎠
1
unidades de é determinado pelos números 3 e 4 que dividiram os lados
12
adjacentes do quadrado unitário.
2 1
Agora, consideremos as frações e representadas a partir do
3 3
quadrado unitário como segue:
Fig.3
2 1
As duas primeiras colunas representam a fração = 2( ) e,
3 3
2 1
portanto, a divisão de ÷ = 2 que é o número de vezes que a unidade
3 3
1 2
está contida exatamente em .
3 3
2 1
Consideremos agora a divisão ÷ e tomemos as representações
4 3
dessas frações nos quadrados unitários a seguir:
1
3
2
4
Fig. 4a Fig. 4b
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1
Observamos nas figuras que a unidade não cabe exatamente um
3
2
número inteiro de vezes em , e, então se torna necessário dividir a unidade
4
em unidades menores de modo que estas caibam exatamente um número
2
inteiro de vezes em . Para isso, basta observarmos na figura que a unidade
4
1 1 1 ⎛1⎞⎛1⎞
contém exatamente 4 unidades de , ou seja, 12 = ⎜ 4 ⎟ ⎜ 3 ⎟ . Como
3 12 ⎝ ⎠⎝ ⎠
1 2 2
cabe exatamente 6 vezes em , a medida da área em relação à
12 4 4
1 ⎛ 1 ⎞⎛ 1⎞ 2
unidade de área é 6 ⎜ 4 ⎟ ⎜ 3 ⎟ , ou seja , contém exatamente 6 vezes a
3 ⎝ ⎠⎝ ⎠ 4
1 2 1 ⎛1⎞
quarta parte da unidade e podemos escrever que 4 ÷ 3 = 6⎜ 4 ⎟ .
3 ⎝ ⎠
Destacamos aqui a “nova unidade” que é comum e pode ser
considerada a partir da unidade referencial utilizada inicialmente nos levando
a buscar mais uma motivação na matemática grega que, embora não medisse
magnitudes, por não fixar uma unidade, as comparava. No livro X, teorema
5, Euclides explicita que se dois segmentos são comensuráveis, ou seja, têm
uma medida comum, a razão entre eles é igual à razão que guardam entre si
dois números. Aqui, similarmente, admitir ter uma medida comum para duas
áreas A e B, segundo Bergé e Sessa (2003, p. 168), é dizer que se nenhum
múltiplo inteiro de A cabe exatamente em B, é possível dividir a área A em n
partes iguais de modo tal que a área A/n caiba exatamente m vezes na área B
e, neste caso, a medida de B em relação a A é m(A/n), ou que B/A=m/n. Isso
evidencia a medida por meio de processo de contagem de unidades comuns
de retângulos que representam as frações.
Reivindicamos esse modo de comparar para medir por meio de uma
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a c
A multiplicação × geometricamente foi evidenciada nos exemplos
b d
a c
acima como a área de um retângulo, ou seja, o produto das frações e
b d
a c
é representado pela área do retângulo de dimensões e , e este conterá
b d
⎛ 1 ⎞
unidades de área ⎜ ⎟ resultantes da divisão dos lados adjacentes do
⎝ b×d ⎠
quadrado unitário em b e d partes iguais, respectivamente. Isso nos permite
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a c a×c
escrever o produto × = .
b d b×d
Como mostramos nos exemplos anteriores, representando as frações
por retângulos, podemos interpretar a divisão de frações como a medida de
um retângulo tomando o outro retângulo como unidade de referência, ou seja,
a c
o quociente da divisão entre as frações ÷ é tomado como a medida
b d
a c
da área por meio da unidade de área . Assim, do ponto de vista
b d
1
algorítmico, se as frações estão escritas em relação à unidade comum p , o
E para subtrair:
3 2 ⎛1⎞ ⎛1⎞ ⎛1⎞ 1
− = 9 ⎜ ⎟ − 8 ⎜ ⎟ = 1⎜ ⎟ =
4 3 ⎝ 12 ⎠ ⎝ 12 ⎠ ⎝ 12 ⎠ 12
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a c
um número inteiro m de vezes em e um número inteiro n de vezes em ,
b d
pois tomando os inteiros e , temos que:
⎛ 1 ⎞ ⎛ m ⎞ ⎛ a×d ⎞ a ⎛ 1 ⎞ ⎛ n ⎞ ⎛ c×b ⎞ c
m⎜ ⎟=⎜ ⎟=⎜ ⎟= e n⎜ ⎟=⎜ ⎟=⎜ ⎟=
⎝ b×d ⎠ ⎝ b×d ⎠ ⎝ b×d ⎠ b ⎝ b×d ⎠ ⎝ b×d ⎠ ⎝ d ×b ⎠ d
a c
as frações e , pois tomando os inteiros m’ = r x a e n’ = s x c, temos:
b d
a r×a ⎛ 1 ⎞ ,⎛ 1 ⎞ c ⎛ s×c ⎞ ⎛ 1 ⎞ ,⎛ 1 ⎞
= = r×a⎜ ⎟=m ⎜ ⎟ e =⎜ ⎟ = s×c⎜ ⎟=n ⎜ ⎟
b r ×b ⎝ r ×b ⎠ ⎝ p⎠ d ⎝ s×d ⎠ ⎝ s×d ⎠ ⎝ p⎠
E, portanto:
a c ⎛1⎞ ⎛1⎞ ⎛ 1 ⎞ m '± n '
± = m, ⎜ ⎟ ± n ' ⎜ ⎟ = (m '± n ' )⎜ ⎟ =
b d ⎝ p⎠ ⎝ p⎠ ⎝ p⎠ p
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Ou ainda:
a c m ' n ' m '± n '
± = ± =
b d p p p
Considerações finais
Referências
FANDIÑO PINILLA, M.I. Fractions: conceptual and didactic aspects. Acta Didactica
Universitatis Comenianae. Issue 7, p. 81-115, 2007.
LIMA, E.L. Medida e forma em geometria. Rio de Janeiro: SBN, 1991. (Coleção professor
de matemática).
NUNES, T.; BRYANT, P. Crianças fazendo matemática. Porto Alegre: Artmed, 1997.
NUNES T. Criança pode aprender frações. In: GROSSI, E.P. Por que ainda há quem não
aprende?: a teoria. Rio de Janeiro: Vozes, 2003. p.119-148.