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1.0 - INTRODUÇÃO
Durante vários e vários séculos, os seres humanos olharam para o céu na tentativa de se localizar no
universo e compreender cada personagem da paisagem que se exibe diariamente no horizonte celeste. Seja a
paisagem, diurna ou noturna, o céu sempre foi uma fonte de grande inspiração para poetas, objeto de estudo para
cientistas e contemplação para admiradores. A variação periódica do movimento celeste, tomou a atenção de
vários observadores ao longo da história, que a partir da evolução dos métodos de observação desencadeou uma
grande discussão sobre os fenômenos celestes, seguidas por várias descobertas. Por vezes intrigante, equivoca,
controversa, outrora emocionante e surpreendente, assim se desenvolveu a astronomia dividindo opiniões ao
longo de sua trajetória no decorrer das gerações. O que desencadeou o nascimento das ciências naturais que
elevou a relação da humanidade com a natureza para além da simples interação cotidiana de transformação do
ambiente ao seu redor.
De tanto olhar para os céus, a espécie humana em algum momento de sua história, empenhou-se em
compreender o seu lugar entre os corpos observáveis no céu. O primeiro passo pode ter sido imaginar uma possível
forma para a superfície sobre a qual estão presente os corpos terrestres. Nesta busca por compreender a forma
da Terra, as explicações convergiam para figuras conhecidas e que de alguma forma possibilitasse entender como
a Terra se relacionava com o movimento dos corpos celestes juntamente com a ideia de universo. Nas civilizações
mais antigas, a explicação para a origem do universo, a organização do sistema solar e a forma da Terra foi
elaborado com base em mitos que por sua vez deram origem ao que hoje é conhecido como cosmologia. No início,
tudo era apenas mito, explicações com base na imaginação, passadas de geração em geração. O universo era
composto apenas pelos corpos observáveis a olho nu e tudo estava a serviço da Terra, o centro do universo.
Algumas civilizações antigas tais como: os egípcios, mesopotâmicos, nórdicos, israelitas e hebreus tinham
como perspectiva uma Terra plana, cercada pelo oceano. Tal forma tinha como base a origem de tudo segunda
sua mitologia e as observações possíveis naquele período. Não existia telescópio, as navegações ainda eram
limitadas, não havia grandes barcos. O universo terrestre conhecido em cada uma das civilizações era muito
restrito, e as vezes adicionado às histórias de alguns andarilhos. Abaixo, na figura da esquerda têm-se a
representação da arvore da vida da mitologia nórdica, observa-se ao centro uma porção de terra com o oceano no
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entorno. A figura da direita apresenta uma representação de Flammarion de um viajante que percorre toda a
terra plana chegando até o firmamento. O firmamento é entendido como o limite dos céus, em que estão
localizados os astros. Ele possui uma forma esférica que engloba o plano terrestre.
Na Grécia antiga filósofos e poetas também se manifestavam a favor de uma geometria plana para a Terra
com o oceano em seu entorno. Na Índia tinha-se duas crenças, uma que considerava a Terra plana e circular que
pode ter sido influenciada pela chegada do conquistador grego Alexandre o Grande, e uma antiga crença Hindu
que dizia que a Terra tinha forma esférica. Já na China acreditava-se em uma Terra plana e quadrada. Independente
da civilização as explicações sempre tiveram atreladas ao misticismo, a crença estimulada pela imaginação eram
as portas para explicações que tivessem coerência com as observações cotidianas.
A partir deste período (Século VI a.C.) a ideia de uma Terra esférica tornou-se cada vez mais aceita. Neste
período o matemático grego Pitágoras de Samos ( c. 570 – c. 495 a.C.) foi um dos primeiros gregos a adotar a
possibilidade de um Terra esférica. E sua influência fez com que seus sucessores também levassem essa hipótese
adiante. Abaixo têm-se algumas das hipóteses e observações apresentadas pelos gregos:
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# O fato de os navios desaparecerem no horizonte era uma observação que na visão dos gregos era um
evidencia compatível com uma superfície curvada.
# Outra observação era sobre os eclipses lunares. Na ocorrência de um eclipse lunar a sombra da Terra é
projetada na superfície da Lua, logo é possível visualizar formas circulares projetas na superfície.
# Uma outra hipótese era baseada na lógica de que boa se a Lua e o Sol são esferas, logo a Terra também
seria, pois, a esfera seria a forma natural das coisas.
# O viajante Heródoto contava histórias de pessoas no extremo norte que dormiam cerca de metade do
ano, que a luz solar aparecia apenas no período de seis meses. O que indicava que o sol não iluminava toda a Terra
de maneira igual e para isto a superfície não deveria ser plana.
Os gregos também elaboraram uma explicação interessante para apresentar o motivo de a Terra ser
esférica. Apesar de não muito bem definido o conceito de gravidade a ideia proposta pelos gregos vem de encontro
com a ideia que iria se popularizar no futuro com outros importantes nomes da ciência. Pense na seguinte
pergunta: Se a Terra é esférica, o que impede de os corpos que se encontram no hemisfério sul de se desprenderem
da superfície e “caírem” para o espaço?
As explicações dos gregos seguiam algumas afirmações que fundamentavam seus pensamentos a
principal delas era que a Terra é o centro do universo, sendo ela estática e tudo é atraído para o seu centro.
Aristóteles apresentou uma explicação com base no pressuposto anterior. Para ele o universo era dividido em duas
regiões distintas e cada uma delas tinham elementos formadores da matéria diferentes. Uma dessas regiões foi
chamada de sublunar, que corresponde a região abaixo da lua, formada por quatro elementos fundamentais: Água,
Terra, fogo e ar. O movimento dos corpos estava relacionado com o elemento do qual era formado e o lugar natural
de cada um. Elementos pesados tinha como lugar natural o solo, por isto quando abandonados de uma certa altura
iam em direção ao solo. De maneira similar ocorria o mesmo fato com outros corpos formados pelos outros
elementos. Cada um tinha seu lugar natural. A outra região é chamada de supralunar, que tinha como elemento o
Éter, uma substância “perfeita” segundo Aristóteles. A região sublunar era denominada corruptível, ou seja,
passível de transformações, já a supralunar era incorruptível.
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Eratóstenes e o início das medições astronômicas
Alguns anos mais tarde surge o primeiro estudo científico que apresenta uma explicação para a forma da
Terra baseado em um dado experimental. Eratóstenes de Cirene (276 a.C. – 194 a. C.) foi o primeiro a calcular e
estimar a circunferência da Terra. E para isto, bastou-lhe: uma observação, uma hipótese e um pouquinho de
matemática. Talvez não nesta ordem, mas, Eratóstenes estabelece o primeiro método científico de uma maneira
totalmente espontânea. Ele observou que em um determinado dia do ano, na cidade de Siena (atual Assião, no
Egito) ao meio dia o Sol estava posicionado no zênite (centro do céu) e era possível visualizar a imagem do sol no
fundo de um poço. No entanto neste mesmo dia do ano, no mesmo horário, na cidade de Alexandria não era
possível ver a mesma imagem, parte do poço estava com uma sombra. Tomando como hipótese a Terra esférica,
Eratóstenes conseguiu calcular o raio da Terra. A imagem abaixo apresenta o modelo matemático utilizado por
Eratóstenes e um esquema que apresenta a observação e a hipótese feito por ele.
No esquema acima, têm se uma representação do que Eratóstenes observou e como sua observação se
encaixa no modelo matemático. Diante de Tal observação, ele solicitou há alguns empregados que medissem a
distância entre as duas cidades e também mediu a inclinação da sombra. Com estes dados ele mediu o tamanho
da circunferência da Terra. O que mais impressiona é a precisão com a qual Eratóstenes conseguiu a medição da
circunferência da Terra com equipamentos e métodos de medição tão rudimentares.
39.250 km 2% de imprecisão.
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Eratóstenes realizou suas medidas com base em uma unidade de medida chamada estádios. Que era o
equivalente ao comprimento de um estádio olímpico. O estádio olímpico grego difere de tamanho do estádio
egípcio. Com isto há uma diferença no erro da medida de Eratóstenes. Com base no estádio grego o erro é de 15%,
no estádio egípcio, o erro é de 2% comparados com o valor atual.
A medição do tamanho da Terra foi um passo importantíssimo para o que viria a seguir. O próximo astro
a ser estudo por Eratóstenes foi a Lua. E com o valor do tamanho da Terra juntamente com um eclipse lunar ele
obteve o Tamanho aproximado da Lua.
Em um eclipse lunar a lua passa pela sombra projetada pela Terra. Eratóstenes notou que a Lua demorava,
50 minutos para ficar coberta pela sombra da Terra e 200 min para “percorrer” toda a extensão da sombra da
Terra. Ou seja, 4 vezes o Tempo para a lua “percorrer” o próprio tamanho. Logo, ele estimou que a Lua é 4 vezes
menor que a Terra. Com este resultado, seus conhecimentos de matemática e a ponta de seu polegar Ele conseguiu
medir a distância da Terra até a Lua.
Eratóstenes posicionou seu polegar a uma distância de seu corpo cuja posição tornava o tamanho de seu
polegar equivalente ao tamanho da Lua naquele ponto. Assim bastou-lhe imaginar dois triângulos semelhantes e
fazer uma simples comparação. A distância da Lua até a Terra dividido pela distância de seus olhos até seu dedo é
igual a divisão do tamanho da Lua pelo tamanho de seu dedo. O resultado encontrado foi que a distância da Terra
até a Lua é igual a 100 vezes o tamanho da Lua. Hoje se sabe que esse valor gira em torno de 110 vezes.
A partir de Eratóstenes a porta para as medições astronômicas foi aberta. Pouco tempo depois Aristarco
de Samos também seguiu tais ideias, utilizando os resultados de Eratóstenes e uma suposição muito importante
proposta por Anaxágoras teve a ideia de medir a Distância da Terra até o Sol e o tamanho do Sol. Anaxágoras supôs
que a Lua não emitia luz própria, mas sim refletia a luz emitida pelo sol. Tal explicação vem com a hipótese de que
o Sol, a lua e as estrelas são pedras, em que algumas como o Sol são pedras quentes e emitem luz, e a Lua uma
pedra fria que apenas reflete a luz. O modelo experimental de Aristarco era excelente, mas, seus resultados não
foram tão consistentes por se tratar de medidas em que o mínimo erro produz resultados muito inconsistentes
além de contar com resultados errados de Eratóstenes.
Para medir a distância da Terra ao Sol Aristarco analisou as condições da meia Lua (Fase em que se enxerga
apenas a metade da Lua iluminada) e supôs que a Lua, Terra e Sol estavam em posições que representam um
triângulo retângulo. E assim medindo um dos ângulos adjacentes era possível medir a distância da Terra ao Sol.
Como mostra a Figura 07, Aristarco mediu o ângulo indicado e encontrou o valor de 87°. O valor mais
preciso é 89,85. E com isto chegou à conclusão de que o Sol estava a uma distância de 20 vezes a distância da Terra
à Lua. Hoje sabe-se que na verdade este valor é aproximadamente 400 vezes. O próximo passo de Aristarco foi
medir o tamanho do Sol. E para isto, bastou-lhe um eclipse solar.
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Aristarco fez a mesma suposição que Eratóstenes para medir o Tamanho da Lua, mas evidentemente que
com o polegar não daria tão certo. Então foi preciso utilizar a Lua. E com a mesma análise de Eratóstenes e os
dados que já haviam obtido foi possível medir o tamanho do Sol. Evidente que utilizando vários valores muito
imprecisos Aristarco fracassaria em seus resultados. Mas será que todo este estudo foi um grande desperdício? É
possível afirmar com todo certeza que não foi nenhum desperdício, muito pelo contrário. Mesmos os resultados
não tendo um grande acerto, os modelos experimentais, as observações e as hipóteses são perfeitamente
adequadas. Mais que isto, tais modelos envolvem uma simplicidade revolucionária. Mesmo errando nos resultados
Eratóstenes e Aristarco acertaram brilhantemente em suas ideias e para a época isto é um feito fantástico.
O desenvolvimento e a credibilidade dos estudos dos gregos fizeram a o misticismo da terra plana
praticamente desaparecer. Exceto as pessoas mais apegadas a mitologia, qualquer outra pessoa que se auto
denominasse astrônomo ou intelectual a partir de então tinha prelas convicções de uma Terra de formato esférico.
Mesmo não tendo acerto os estudos de Aristarco e Eratóstenes contribuíram para que este mistério fosse
praticamente resolvido.
Reflexões
02- Segundo o texto, qual a principal diferença entre as ideias de Anaximandro de Mileto e Xenófanes de Colofon
para as explicações já existentes?
03- Segundo o Texto quais foram os argumentos dos gregos para defenderem a hipótese de um formato esférico
para a Terra? Algum deles é convincente para você? Comente.
04- Segundo os gregos, se a Terra era esférica, por que os corpos que se encontram na parte inferior da Terra
(hemisfério sul) não “caem” para o espaço?
05- Quais foram os três recursos apontados no texto, para que Eratóstenes conseguir medir o tamanho da
circunferência da Terra?
06- Quais foram as grandezas que Eratóstenes e Aristarco conseguiram medir segundo o texto?
07- Faça uma análise do porquê Eratóstenes e Aristarco tiveram grande imprecisão em seus resultados.
08- Por mais que os resultados de Eratóstenes e Aristarco tivessem uma grande imprecisão, por quê seus estudos
são relevantes?
09- Segundo o texto, qual foi a contribuição de Anaxágoras para que Aristarco de Samos pudesse elaborar um
modelo para a medição da Terra ao Sol?
10- Para medir o tamanho da Lua Eratóstenes observou um eclipse lunar. De maneira semelhante, Aristarco
utilizou um eclipse solar como referência para medir o tamanho do sol. Qual a diferença entre eclipse lunar e solar.
Em sua explicação faça um desenho para apresentar cada um deles.
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