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N° da Lista: Professor (a): Disciplina:

000 Romário Física

Data: Tema: Aluno (a): Série:

/ /2020 Evolução das ideias 8° Ano: (a)(b)(c)


sobre a forma da Terra.

1.0 - INTRODUÇÃO

Durante vários e vários séculos, os seres humanos olharam para o céu na tentativa de se localizar no
universo e compreender cada personagem da paisagem que se exibe diariamente no horizonte celeste. Seja a
paisagem, diurna ou noturna, o céu sempre foi uma fonte de grande inspiração para poetas, objeto de estudo para
cientistas e contemplação para admiradores. A variação periódica do movimento celeste, tomou a atenção de
vários observadores ao longo da história, que a partir da evolução dos métodos de observação desencadeou uma
grande discussão sobre os fenômenos celestes, seguidas por várias descobertas. Por vezes intrigante, equivoca,
controversa, outrora emocionante e surpreendente, assim se desenvolveu a astronomia dividindo opiniões ao
longo de sua trajetória no decorrer das gerações. O que desencadeou o nascimento das ciências naturais que
elevou a relação da humanidade com a natureza para além da simples interação cotidiana de transformação do
ambiente ao seu redor.

Em algum momento na história da humanidade alguém começou a questionar a sua localização no


universo visível. E talvez isto deu início a uma busca que permanece até hoje, que saber o lugar da humanidade no
universo. No início a forma de interpretar a origem e a ordenação da natureza foi encarregada de deuses e estórias
alegóricas que passava de geração em geração, em cada civilização existente. As civilizações mais antigas tinham
pouco contato entre si, e isto fez com que cada uma desenvolvesse uma mitologia própria que explicasse o
universo existente. Independente da civilização, cada mito pode ter originado da simples e mesma pergunta: Onde
nós estamos?

2.0 Evolução das ideias sobre a forma da Terra.

“A ciência deve começar com os mitos, e com a crítica dos mitos. ”


Karl Popper

De tanto olhar para os céus, a espécie humana em algum momento de sua história, empenhou-se em
compreender o seu lugar entre os corpos observáveis no céu. O primeiro passo pode ter sido imaginar uma possível
forma para a superfície sobre a qual estão presente os corpos terrestres. Nesta busca por compreender a forma
da Terra, as explicações convergiam para figuras conhecidas e que de alguma forma possibilitasse entender como
a Terra se relacionava com o movimento dos corpos celestes juntamente com a ideia de universo. Nas civilizações
mais antigas, a explicação para a origem do universo, a organização do sistema solar e a forma da Terra foi
elaborado com base em mitos que por sua vez deram origem ao que hoje é conhecido como cosmologia. No início,
tudo era apenas mito, explicações com base na imaginação, passadas de geração em geração. O universo era
composto apenas pelos corpos observáveis a olho nu e tudo estava a serviço da Terra, o centro do universo.

Algumas civilizações antigas tais como: os egípcios, mesopotâmicos, nórdicos, israelitas e hebreus tinham
como perspectiva uma Terra plana, cercada pelo oceano. Tal forma tinha como base a origem de tudo segunda
sua mitologia e as observações possíveis naquele período. Não existia telescópio, as navegações ainda eram
limitadas, não havia grandes barcos. O universo terrestre conhecido em cada uma das civilizações era muito
restrito, e as vezes adicionado às histórias de alguns andarilhos. Abaixo, na figura da esquerda têm-se a
representação da arvore da vida da mitologia nórdica, observa-se ao centro uma porção de terra com o oceano no

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entorno. A figura da direita apresenta uma representação de Flammarion de um viajante que percorre toda a
terra plana chegando até o firmamento. O firmamento é entendido como o limite dos céus, em que estão
localizados os astros. Ele possui uma forma esférica que engloba o plano terrestre.

Figura01. Yggdrasil em gravura de Friedrich Wilhelm Heine (1886).


Figura 02.A gravura Flammarion (1888), representando um viajante
que chegou ao limite de uma Terra plana e espreita através
do firmamento

Na Grécia antiga filósofos e poetas também se manifestavam a favor de uma geometria plana para a Terra
com o oceano em seu entorno. Na Índia tinha-se duas crenças, uma que considerava a Terra plana e circular que
pode ter sido influenciada pela chegada do conquistador grego Alexandre o Grande, e uma antiga crença Hindu
que dizia que a Terra tinha forma esférica. Já na China acreditava-se em uma Terra plana e quadrada. Independente
da civilização as explicações sempre tiveram atreladas ao misticismo, a crença estimulada pela imaginação eram
as portas para explicações que tivessem coerência com as observações cotidianas.

No século VI a. C. na Grécia, iniciou um período de tolerância as manifestações intelectuais. Isto é,


começaram a permitir outras explicações que não estivessem ligadas a figuras de deuses, o que impulsionou a
apresentações de ideias por parte de pensadores e estudiosos. Anaximandro de Mileto e Xenófanes de Colofon
apresentaram algumas ideias para explicar o sol, a lua e as estrelas sem a necessidade de atribuir a eles algum
mito. Anaximandro dizia que o Sol era um anel de fogo que circundava a Terra, a lua e as estrelas eram buracos
com fogo fixos no firmamento. Xenófanes explicava o dia e a noite na seguinte visão, para ele o sol era formado
através de gases que evaporavam da Terra durante a noite e quando entrava em combustão dava início ao dia. Ao
final do dia este combustível acabava e iniciava-se a noite. Por mais que suas explicações fossem de um ponto de
vista moderno equivocadas, ou mesmo absurdas, são revolucionárias pela época por se tratarem de uma nova
forma de explicar a natureza, sem atribuir a figura de deuses. A crítica aos mitos existentes fez com que iniciasse
uma discussão sobre os corpos celestes e assim direcionou os olhares dos gregos para o céu.

A partir deste período (Século VI a.C.) a ideia de uma Terra esférica tornou-se cada vez mais aceita. Neste
período o matemático grego Pitágoras de Samos ( c. 570 – c. 495 a.C.) foi um dos primeiros gregos a adotar a
possibilidade de um Terra esférica. E sua influência fez com que seus sucessores também levassem essa hipótese
adiante. Abaixo têm-se algumas das hipóteses e observações apresentadas pelos gregos:

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# O fato de os navios desaparecerem no horizonte era uma observação que na visão dos gregos era um
evidencia compatível com uma superfície curvada.

Figura 03. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-41496435 Acesso em: 01/05/2021

# Outra observação era sobre os eclipses lunares. Na ocorrência de um eclipse lunar a sombra da Terra é
projetada na superfície da Lua, logo é possível visualizar formas circulares projetas na superfície.

# Uma outra hipótese era baseada na lógica de que boa se a Lua e o Sol são esferas, logo a Terra também
seria, pois, a esfera seria a forma natural das coisas.

# O viajante Heródoto contava histórias de pessoas no extremo norte que dormiam cerca de metade do
ano, que a luz solar aparecia apenas no período de seis meses. O que indicava que o sol não iluminava toda a Terra
de maneira igual e para isto a superfície não deveria ser plana.

Os gregos também elaboraram uma explicação interessante para apresentar o motivo de a Terra ser
esférica. Apesar de não muito bem definido o conceito de gravidade a ideia proposta pelos gregos vem de encontro
com a ideia que iria se popularizar no futuro com outros importantes nomes da ciência. Pense na seguinte
pergunta: Se a Terra é esférica, o que impede de os corpos que se encontram no hemisfério sul de se desprenderem
da superfície e “caírem” para o espaço?

As explicações dos gregos seguiam algumas afirmações que fundamentavam seus pensamentos a
principal delas era que a Terra é o centro do universo, sendo ela estática e tudo é atraído para o seu centro.
Aristóteles apresentou uma explicação com base no pressuposto anterior. Para ele o universo era dividido em duas
regiões distintas e cada uma delas tinham elementos formadores da matéria diferentes. Uma dessas regiões foi
chamada de sublunar, que corresponde a região abaixo da lua, formada por quatro elementos fundamentais: Água,
Terra, fogo e ar. O movimento dos corpos estava relacionado com o elemento do qual era formado e o lugar natural
de cada um. Elementos pesados tinha como lugar natural o solo, por isto quando abandonados de uma certa altura
iam em direção ao solo. De maneira similar ocorria o mesmo fato com outros corpos formados pelos outros
elementos. Cada um tinha seu lugar natural. A outra região é chamada de supralunar, que tinha como elemento o
Éter, uma substância “perfeita” segundo Aristóteles. A região sublunar era denominada corruptível, ou seja,
passível de transformações, já a supralunar era incorruptível.

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Eratóstenes e o início das medições astronômicas

Alguns anos mais tarde surge o primeiro estudo científico que apresenta uma explicação para a forma da
Terra baseado em um dado experimental. Eratóstenes de Cirene (276 a.C. – 194 a. C.) foi o primeiro a calcular e
estimar a circunferência da Terra. E para isto, bastou-lhe: uma observação, uma hipótese e um pouquinho de
matemática. Talvez não nesta ordem, mas, Eratóstenes estabelece o primeiro método científico de uma maneira
totalmente espontânea. Ele observou que em um determinado dia do ano, na cidade de Siena (atual Assião, no
Egito) ao meio dia o Sol estava posicionado no zênite (centro do céu) e era possível visualizar a imagem do sol no
fundo de um poço. No entanto neste mesmo dia do ano, no mesmo horário, na cidade de Alexandria não era
possível ver a mesma imagem, parte do poço estava com uma sombra. Tomando como hipótese a Terra esférica,
Eratóstenes conseguiu calcular o raio da Terra. A imagem abaixo apresenta o modelo matemático utilizado por
Eratóstenes e um esquema que apresenta a observação e a hipótese feito por ele.

Figura 04. Disponível em: https://cienciahoje.org.br/artigo/a-terra-e-redonda/ Acesso em:27/04/2021

No esquema acima, têm se uma representação do que Eratóstenes observou e como sua observação se
encaixa no modelo matemático. Diante de Tal observação, ele solicitou há alguns empregados que medissem a
distância entre as duas cidades e também mediu a inclinação da sombra. Com estes dados ele mediu o tamanho
da circunferência da Terra. O que mais impressiona é a precisão com a qual Eratóstenes conseguiu a medição da
circunferência da Terra com equipamentos e métodos de medição tão rudimentares.

Resultados obtidos por Eratóstenes:

Distância entre as duas cidades: 5.000 estádios

A circunferência da Terra: 250. 000 estádios

1 estádio = 185 metros

46.250 km 15% maior que o valor atual: 40.100km

1 estádio egípcio = 157 metros

39.250 km 2% de imprecisão.

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Eratóstenes realizou suas medidas com base em uma unidade de medida chamada estádios. Que era o
equivalente ao comprimento de um estádio olímpico. O estádio olímpico grego difere de tamanho do estádio
egípcio. Com isto há uma diferença no erro da medida de Eratóstenes. Com base no estádio grego o erro é de 15%,
no estádio egípcio, o erro é de 2% comparados com o valor atual.

A medição do tamanho da Terra foi um passo importantíssimo para o que viria a seguir. O próximo astro
a ser estudo por Eratóstenes foi a Lua. E com o valor do tamanho da Terra juntamente com um eclipse lunar ele
obteve o Tamanho aproximado da Lua.

Figura 05. Eclipse lunar.

Em um eclipse lunar a lua passa pela sombra projetada pela Terra. Eratóstenes notou que a Lua demorava,
50 minutos para ficar coberta pela sombra da Terra e 200 min para “percorrer” toda a extensão da sombra da
Terra. Ou seja, 4 vezes o Tempo para a lua “percorrer” o próprio tamanho. Logo, ele estimou que a Lua é 4 vezes
menor que a Terra. Com este resultado, seus conhecimentos de matemática e a ponta de seu polegar Ele conseguiu
medir a distância da Terra até a Lua.

Figura 06. Modelo de Eratóstenes para medir a distância Terra-Lua


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Eratóstenes posicionou seu polegar a uma distância de seu corpo cuja posição tornava o tamanho de seu
polegar equivalente ao tamanho da Lua naquele ponto. Assim bastou-lhe imaginar dois triângulos semelhantes e
fazer uma simples comparação. A distância da Lua até a Terra dividido pela distância de seus olhos até seu dedo é
igual a divisão do tamanho da Lua pelo tamanho de seu dedo. O resultado encontrado foi que a distância da Terra
até a Lua é igual a 100 vezes o tamanho da Lua. Hoje se sabe que esse valor gira em torno de 110 vezes.

A partir de Eratóstenes a porta para as medições astronômicas foi aberta. Pouco tempo depois Aristarco
de Samos também seguiu tais ideias, utilizando os resultados de Eratóstenes e uma suposição muito importante
proposta por Anaxágoras teve a ideia de medir a Distância da Terra até o Sol e o tamanho do Sol. Anaxágoras supôs
que a Lua não emitia luz própria, mas sim refletia a luz emitida pelo sol. Tal explicação vem com a hipótese de que
o Sol, a lua e as estrelas são pedras, em que algumas como o Sol são pedras quentes e emitem luz, e a Lua uma
pedra fria que apenas reflete a luz. O modelo experimental de Aristarco era excelente, mas, seus resultados não
foram tão consistentes por se tratar de medidas em que o mínimo erro produz resultados muito inconsistentes
além de contar com resultados errados de Eratóstenes.

Para medir a distância da Terra ao Sol Aristarco analisou as condições da meia Lua (Fase em que se enxerga
apenas a metade da Lua iluminada) e supôs que a Lua, Terra e Sol estavam em posições que representam um
triângulo retângulo. E assim medindo um dos ângulos adjacentes era possível medir a distância da Terra ao Sol.

Figura 07. Modelo de Aristarco para medir a Distância da Terra ao Sol.

Como mostra a Figura 07, Aristarco mediu o ângulo indicado e encontrou o valor de 87°. O valor mais
preciso é 89,85. E com isto chegou à conclusão de que o Sol estava a uma distância de 20 vezes a distância da Terra
à Lua. Hoje sabe-se que na verdade este valor é aproximadamente 400 vezes. O próximo passo de Aristarco foi
medir o tamanho do Sol. E para isto, bastou-lhe um eclipse solar.

Figura 08. Modelo experimental de Aristarco para medir o tamanho do Sol

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Aristarco fez a mesma suposição que Eratóstenes para medir o Tamanho da Lua, mas evidentemente que
com o polegar não daria tão certo. Então foi preciso utilizar a Lua. E com a mesma análise de Eratóstenes e os
dados que já haviam obtido foi possível medir o tamanho do Sol. Evidente que utilizando vários valores muito
imprecisos Aristarco fracassaria em seus resultados. Mas será que todo este estudo foi um grande desperdício? É
possível afirmar com todo certeza que não foi nenhum desperdício, muito pelo contrário. Mesmos os resultados
não tendo um grande acerto, os modelos experimentais, as observações e as hipóteses são perfeitamente
adequadas. Mais que isto, tais modelos envolvem uma simplicidade revolucionária. Mesmo errando nos resultados
Eratóstenes e Aristarco acertaram brilhantemente em suas ideias e para a época isto é um feito fantástico.

O desenvolvimento e a credibilidade dos estudos dos gregos fizeram a o misticismo da terra plana
praticamente desaparecer. Exceto as pessoas mais apegadas a mitologia, qualquer outra pessoa que se auto
denominasse astrônomo ou intelectual a partir de então tinha prelas convicções de uma Terra de formato esférico.
Mesmo não tendo acerto os estudos de Aristarco e Eratóstenes contribuíram para que este mistério fosse
praticamente resolvido.

Reflexões

01- O que é mito?

02- Segundo o texto, qual a principal diferença entre as ideias de Anaximandro de Mileto e Xenófanes de Colofon
para as explicações já existentes?

03- Segundo o Texto quais foram os argumentos dos gregos para defenderem a hipótese de um formato esférico
para a Terra? Algum deles é convincente para você? Comente.

04- Segundo os gregos, se a Terra era esférica, por que os corpos que se encontram na parte inferior da Terra
(hemisfério sul) não “caem” para o espaço?

05- Quais foram os três recursos apontados no texto, para que Eratóstenes conseguir medir o tamanho da
circunferência da Terra?

06- Quais foram as grandezas que Eratóstenes e Aristarco conseguiram medir segundo o texto?

07- Faça uma análise do porquê Eratóstenes e Aristarco tiveram grande imprecisão em seus resultados.

08- Por mais que os resultados de Eratóstenes e Aristarco tivessem uma grande imprecisão, por quê seus estudos
são relevantes?

09- Segundo o texto, qual foi a contribuição de Anaxágoras para que Aristarco de Samos pudesse elaborar um
modelo para a medição da Terra ao Sol?

10- Para medir o tamanho da Lua Eratóstenes observou um eclipse lunar. De maneira semelhante, Aristarco
utilizou um eclipse solar como referência para medir o tamanho do sol. Qual a diferença entre eclipse lunar e solar.
Em sua explicação faça um desenho para apresentar cada um deles.

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