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Abstract
Recycled concrete aggregates generally have inferior properties than natural
aggregates, which means that their recycling possibilities are more limited.
However, several studies have demonstrated the use potential of recycled concrete
Daniel Gustavo Brusius Wilbert
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
aggregates in the manufacture of concrete by determining their mechanical and
São Leopoldo - RS - Brasil microstructural properties, and improving the form of aggregate mixture. This
study analyses the feasibility of using nanoindentation to evaluate the interface
Claudio de Souza Kazmierczak
that is formed between the paste and the recycled aggregate in concretes with this
Universidade do Vale do Rio dos Sinos type of aggregate. A new mortar layer was produced using different mix
São Leopoldo - RS - Brasil compositions. The admixture using RCA in dry state was used to improve the
transition zone due to the absorption of excess water from the cement paste and
Marlova Piva Kulakowski the particle binders by the empty pores of the recycled aggregate. The reference
Universidade do Vale do Rio dos Sinos samples were compared with samples where basalt fillers and rice husk ash had
São Leopoldo - RS - Brasil been added. The nanoindentation technique showed that the use of RCA in dry
state generates high quality transition zones and that the addition of rice husk ash
Recebido em 16/09/15 increases the hardness of the interface.
Aceito em 22/04/16 Keywords: Concrete mortar. Interface. Nanoindentation.
WILBERT, D. G. B.; KAZMIERCZAK, C. de S.; KULAKOWSKI, M. P. Análise da interface entre agregados reciclados de 253
concreto e argamassas de concretos com cinza de casca de arroz e fíler basáltico por nanoindentação. Ambiente
Construído, Porto Alegre, v. 17, n. 2, p. 253-268, abr./jun. 2017.
ISSN 1678-8621 Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído.
http://dx.doi.org/10.1590/s1678-86212017000200156
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 17, n. 2, p. 253-268, abr./jun. 2017.
Introdução
Na busca do desenvolvimento sustentável no setor característica de um ARC é a elevada absorção nos
da construção civil, tem-se como aliada a minutos iniciais, com estimativas de 90% nos
reciclagem de resíduos, que pode reduzir o primeiros 5 min (AGRELA et al., 2011;
consumo de matérias-primas não renováveis e BUTTLER, 2003; TEGGUER, 2012). A
energia, e minimizar a geração de poluição e o argamassa aderida ao ARC também resulta em
esgotamento de aterros (JOHN, 2000; VIEIRA, diminuição na massa específica ao se comparar
2003). A reciclagem de materiais no setor de com um agregado natural. Estudos, como os
construção civil ganhou destaque em estudos no realizados por Ângulo et al. (2010) e Lovato
Brasil, como Zordan (1997), Lima, (1999), Pinto (2007), afirmam que a massa específica é um
(1999), Ângulo (2000, 2005) e John (2000). parâmetro fundamental de qualidade de um
agregado reciclado em geral; um ARC
A reciclagem de resíduos da construção civil
normalmente possui maior massa específica que
(RCC) em geral é feita na forma de agregados
agregados oriundos de RCC.
reciclados, que apresentam como características
maior porosidade em relação aos agregados Por mais que as pesquisas demonstrem queda nas
naturais e, por consequência, menor resistência e propriedades de concretos com ARC, fazendo com
maior absorção de água. Essas propriedades que autores como Evangelista e Brito (2007) e
resultam geralmente em novos concretos com Topçu e Sengel (2004) recomendassem teores de
piores propriedades mecânicas e menor somente 20% a 30% de substituição, a necessidade
durabilidade comparativamente aos demanda que seja utilizada uma quantidade maior.
confeccionados com agregados naturais. Kou e Poon (2012) citam que a menor resistência e
a maior porosidade do ARC, somadas à quantidade
O presente trabalho tem por objetivo analisar a
utilizada, resultam em resistências inferiores aos
viabilidade de utilização da técnica de
concretos produzidos com esses agregados em
nanoindentação para a avaliação da interface que
comparação com o agregado natural. Além de
se forma entre a pasta e o agregado reciclado de
concreto (ARC) em concretos com esse agregado resistências inferiores, o concreto com ARC é mais
reciclado. Para isso foram utilizadas também uma permeável que o concreto com agregados naturais,
principalmente ao se utilizar agregado miúdo
adição inerte – fíler basáltico (FB) – e outra não
reciclado, fazendo com que a utilização de adições
inerte – cinza da casca de arroz (CCA) –, com o
minerais seja extremamente benéfica em concretos
objetivo de verificar se essas adições causam
alterações na região de interface e se podem ser com ARC (ZAHARIEVA et al., 2003).
identificadas pela técnica e também pela
metodologia de análise proposta, visto que não Zona de transição de concretos com
existe uma metodologia consagrada para a análise ARC
de produtos cimentícios por nanoindentação.
A zona de transição (ZT) possui uma estrutura
diferente da região distante à superfície do
Revisão teórica agregado, apresentando grande quantidade de
Os ARC apresentam algumas diferenças em portlandita (Ca(OH)2) e etringita, o que torna a
relação aos agregados naturais, principalmente região mais porosa. Esse efeito ocorre pela maior
quanto à existência de uma camada de argamassa quantidade de água aderida à superfície do
aderida ao agregado natural, tornando-o mais agregado, resultando em maior relação água-
poroso, com maior absorção, menor densidade e cimento (a/c) na região, o que influencia
resistência (KATZ, 2003; TAM; GAO; TAM, diretamente as propriedades de durabilidade e
2005; ETXEBERRIA et al., 2007; KOU; POON, mecânicas: exibe menor resistência e maior
2015). Para Padmini, Ramamurthy e Mathews capacidade de deformação que a matriz e o
(2009), a absorção é a principal propriedade que o agregado (PAULON; KIRCHHEIM, 2011;
difere de um agregado natural, influenciando as MEHTA; MONTEIRO, 2008; SICAT et al.,
propriedades de concretos no estado fresco e 2014).
endurecido. Werle, Kazmierczak e Kulakowski Bentz (2009) afirma que os principais fatores que
(2011) comprovaram que a absorção de um ARC influenciam a ZT são a relação a/c e o tipo de
está diretamente relacionada ao concreto que o agregado, em função de sua superfície, porosidade
originou. Os autores analisaram a absorção em e absorção. Nesse sentido, Ke et al. (2010)
ARC obtido de concretos de resistência de 18, 37 e afirmam que, quando o agregado possui baixa
50 MPa, resultando em absorção de capacidade de absorção, forma-se uma ZT mais
respectivamente 8,49%, 6,07% e 5,24%. Outra porosa que a matriz. O tamanho e a forma do
agregado também influenciam a formação da ZT, finos e materiais em pequenos volumes. Esses
pois maiores áreas superficiais resultam em maior testes dinâmicos são definidos como testes
quantidade de água, aumentando a porosidade, a instrumentados de dureza (hardness instrumental
formação de Ca(OH)2 e também a espessura da tests – HIT) (JONES; GRASLEY, 2011).
ZT. Já agregados mais rugosos proporcionam
A nanoindentação possui como princípio uma
maior aderência, enquanto em agregados com
técnica simples em que o penetrador, de geometria
superfícies mais lisas uma menor quantidade de e propriedades conhecidas, é pressionado em um
pasta acaba ficando aderida ao agregado material até que a carga ou profundidade
(ELSHARIEF; COHEN; OLEK, 2003; BASHER;
previamente definida seja alcançada. A partir desse
BASHER; LONG, 2005; NEVILLE; BROOKS,
momento, o indentador é removido da amostra.
2013).
Durante o processo o material se deforma,
Concretos com agregados reciclados apresentam refletindo as propriedades mecânicas
uma microestrutura mais complexa, pois o ARC (CONSTANTINIDES; ULM, 2004, 2007). O teste
possui duas zonas de transição, uma entre o ARC e inicia-se com o penetrador entrando em contato com
a nova pasta de cimento, chamada de zona de o material, no valor de carga mínimo, e a partir do
transição nova, e outra no próprio ARC, entre seu contato a carga vai sofrendo incrementos, dando
agregado natural e a pasta antiga aderida, início ao ciclo de carregamento. Esse ciclo é
normalmente menos densa que a pasta nova, finalizado com o alcance da carga máxima, que tem
chamada de zona de transição antiga. Essa zona de duração preestabelecida, período chamado de tempo
transição antiga e a argamassa aderida de retenção na carga máxima, iniciando-se então o
correspondem à parte mais fraca do agregado ciclo de descarregamento. No ciclo de
reciclado, com uma grande quantidade de poros e descarregamento o indentador sofre reduções de
fissuras (TAM; GAO; TAM, 2005; carga até alcançar o valor de carga mínima,
ETXEBERRIA; VÁZQUEZ; MARÍ, 2006, finalizando o teste com a retirada completa do
THOMAS et al., 2013). A zona de transição nova indentador da amostra (BLANDO, 2005).
pode ter sua porosidade diminuída. A porosidade e
A penetração do indentador dentro do material no
a densidade da ZT nova dependem do estado de
ciclo de carregamento provoca deformações
saturação do ARC no momento da mistura, porque elásticas e plásticas, estimando-se assim, pela
esse estado de umidade influenciará a profundidade de penetração e de acordo com o
movimentação de água entre as duas argamassas.
penetrador utilizado de propriedades conhecidas,
Utilizando agregados porosos e saturados, há um
seu valor de dureza. Na fase de descarga (remoção
enfraquecimento da ZT, pela maior quantidade de
do indentador) somente a porção elástica do
água na região. Já com um agregado poroso e no material é restabelecida, sendo dessa maneira
estado seco, pode ocorrer um fortalecimento da possível conhecer o módulo de elasticidade do
ZT, pela absorção de água da mistura, o que
material, uma vez que durante o ciclo de descarga
proporciona a migração dos produtos de hidratação
a deformação do material está diretamente ligada à
para dentro do ARC e consequentemente para a
recuperação elástica do material (BLANDO, 2005;
zona de transição (POON; SHUI; LAM, 2004).
ZHU et al., 2007).
O uso de adições também é benéfico para o
A técnica de nanoindentação, que foi
fortalecimento da zona de transição. Trabalhos
originalmente desenvolvida para materiais
como os realizados por Xiao et al. (2013) e Kong et
homogêneos, metálicos e cerâmicos, ao contrário
al. (2010) comprovaram as melhorias na ZT com o uso
do concreto, extremamente heterogêneo, vem nos
de adições, pela maior quantidade de C-S-H observada últimos anos sendo utilizada para a análise de
na região. materiais cimentícios, como o clínquer, compostos
do cimento hidratado, argamassas e concretos.
Nanoindentação Porém, em função da heterogeneidade de materiais
Blando (2005) afirma que a técnica de medida de à base de cimento, para uma análise estatística
dureza mais difundida e utilizada é a indentação, confiável, se fazem necessárias centenas de
que analisa o comportamento elastoplástico da indentações em uma única amostra, e uma
superfície de materiais, associando o controle complexa validação por análise estatística
computadorizado a sensores de deslocamento para (JENNINGS et al., 2007; ULM et al., 2010).
a obtenção de resultados instantâneos do material. Entre os trabalhos já realizados destacam-se
A técnica consiste na aplicação de uma carga por aqueles que vêm medindo as propriedades dos
uma agulha (indentador ou penetrador) e é compostos do cimento hidratado, como os de
utilizada na medida de propriedades mecânicas, Constantinides e Ulm (2004, 2007), Venkovic,
especialmente de materiais homogêneos, filmes Sorelli e Martirena (2014) e Silva, Nemecek e
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e fíler basáltico por nanoindentação
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Stemberk (2014), os quais demonstram por Erhart (2014), é oriunda de Alegrete, RS, e
principalmente a existência de dois compostos de obtida a partir da queima da casca em forno de
C-S-H, que se assemelham na composição, mas leito fluidizado. A CCA possui massa específica
que diferem estruturalmente entre si, sendo um de de 2,07 g/cm³ e classifica-se, conforme a NBR
alta densidade e outro de baixa densidade. Esses 12653 (ABNT, 2014), como uma pozolana de
trabalhos ainda demonstram que as propriedades classe E, com teor elevado de sílica, cuja soma dos
elásticas do C-S-H são intrínsecas ao composto. compostos de SiO2, Al2O3 e Fe2O3 representa um
Para Jennings et al. (2007), os valores de módulo total de 95,23%.
de elasticidade dos C-S-H de pasta de cimento de
A caracterização mineralógica das adições foi
baixa densidade ficaram na ordem de 18 GPa,
realizada por difração de raios X, visualizada na
enquanto o de alta densidade ficou na ordem de
Figura 1. O FB apresentou grande quantidade de
31 GPa. A Tabela 1 apresenta o resultado de picos cristalinos, especialmente de labradorites, e a
diferentes trabalhos que analisaram os produtos CCA, uma pequena quantidade de picos de
de hidratação por nanoindentação.
cristobalita e quartzo.
Análise da interface entre agregados reciclados de concreto e argamassas de concretos com cinza de casca de arroz 257
e fíler basáltico por nanoindentação
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 17, n. 2, p. 253-268, abr./jun. 2017.
As propriedades das argamassas avaliadas aos 28 dimensão 4x4x16 cm, para então ser aplicada a
dias foram: camada de argamassa no basalto. O traço dessa
argamassa foi mantido fixo em todas as amostras,
(a) massa específica: medida na condição
sendo utilizado o traço referência (sem adição).
saturada, antes da realização dos ensaios;
Após 21 dias de cura, esses corpos de prova
(b) módulo de elasticidade dinâmico: medido com tiveram parte de sua argamassa serrada, para
aparelho “Pundit” (Portable Ultrasonic Non- garantir uma espessura de argamassa no basalto de
destructive Digital IndicatorTester), PunditLab, da 5±1 mm. A Figura 4 demonstra a amostra antes e
empresa Proceq, e com base na NBR 8802 após a etapa de corte. Após o corte, os exemplares
(ABNT, 2013); tinham sua face limpa em água corrente e pincel de
(c) resistência à compressão axial: realizada com cerdas macias por um período de 2 min, para então
base na NBR 5739 (ABNT, 2005) e na NBR 7215 ser curados por mais 7 dias, totalizando 28 dias,
(ABNT, 1996), utilizando uma velocidade de até ter sua hidratação paralisada.
carregamento de 0,30 MPa/s, em prensa classe I, A paralisação da hidratação ocorria submergindo
da marca Controls, com capacidade de 2.000 kN; e os exemplares em álcool isopropílico por 30 min, e
(d) porosimetria por intrusão de mercúrio (PIM): posteriormente em estufa de 60 ºC por 24 h, pois
realizada em equipamento Quanta Chrome Pore um período ou temperatura maior em estufa
Master, com pressão de intrusão de mercúrio de 0 poderia resultar no desplacamento da camada de
a 0,34 MPa na baixa pressão e de 0,34 a 227,37 argamassa. Após o período de 24 h, os exemplares
MPa na alta pressão, com um ângulo de contato de eram levados para outra estufa, com temperatura
130º, na idade de 28 dias. de 40 ºC, onde permaneciam até a aplicação da
nova camada de argamassa. Para a aplicação da
Com exceção do ensaio de PIM, todos os demais nova camada de argamassa foram utilizados os
foram realizados em três corpos de prova, cinco traços produzidos nas propriedades
adotando-se a média como resultado. macroestruturais, conforme a Tabela 3. O uso das
adições e dos diferentes teores teve por objetivo
Metodologia de análise da interface verificar se pela técnica da nanoindentação e pelos
entre argamassas por métodos de análise propostos é possível identificar
nanoindentação alterações na região de interface entre duas
argamassas de concreto. A aplicação da nova
Para o estudo da interface entre a argamassa e o camada de argamassa ocorreu da mesma maneira
agregado reciclado, foram moldados corpos de que na produção do ARC, com esse disposto
prova simulando um concreto com ARC. Os lateralmente em fôrma prismática, porém no
métodos de produção dos corpos de prova se tamanho 4x8x16 cm, com o objetivo de se ter uma
basearam nos trabalhos realizados por Poon, Shui camada maior de argamassa nova em relação à
e Lam (2004), Kong et al. (2010) e Xiao et al. camada de argamassa velha, e mantendo-se a
(2013), que analisaram a zona de transição que altura em 2 cm. O método de cura também se
ocorre em concretos com ARC. O objetivo pelo manteve fixo, porém o período de cura adotado foi
qual foram adotados esses tipos de corpos de prova de 63 dias. Nesse período estima-se que a reação
foi a obtenção de uma interface padronizada que pozolânica já tenha ocorrido quase que em sua
fosse mais bem representada e facilmente totalidade, podendo-se, dessa maneira, analisar a
identificada em todas as amostras. real influência do uso da CCA. Após o período de
Inicialmente foram moldados corpos de prova para cura os exemplares tinham sua hidratação
representar um ARC. Nessa etapa se utilizou um paralisada da mesma maneira que os ARC. A
filete de basalto de dimensões 1x2x16 cm, que foi Figura 5 mostra o corpo de prova após a
disposto na lateral de uma fôrma prismática de desmoldagem.
Para a realização das medidas de nanoindentação, A identificação da região de interface foi feita com
a superfície a ser analisada precisa atender a alguns o auxílio de um microscópio óptico Carl Zeiss
requisitos básicos, principalmente quanto a sua Axiovision M2m, em ampliações de 25, 50 e 100
planicidade e polimento, minimizando, dessa vezes. Em função da quantidade de amostras foi
forma, a variabilidade nos resultados que ocorrem definido o número de 25 medidas de
pela rugosidade da superfície. O primeiro passo foi nanoindentação por amostra, viabilizando a
a obtenção da amostra, de dimensão de cerca de realização do ensaio em um número maior de
10x10x10 mm, por corte em serra de precisão com amostras. As medidas foram divididas em três
lâmina diamantada e álcool isopropílico como linhas perpendiculares à interface, com sete
refrigerante. Devido ao fato de a amostra ser medidas em cada, além de mais quatro medidas ao
extremamente sensível, a etapa de corte é realizada longo da interface, realizando-se, assim, uma
com extrema acuidade, evitando que ocorra o maior quantidade de pontos na interface. As
desplacamento entre as diferentes camadas. Após a distâncias entre os pontos mantiveram-se fixas,
obtenção da amostra, ela é enxaguada em variando-se apenas a distância entre as linhas.
recipiente com álcool isopropílico e levada à estufa Dessa maneira há a possibilidade de evitar que
de 40 ºC para secagem. Com a amostra seca, uma linha de medição ocorra sobre grande
ocorre o processo de embutimento com resina quantidade de agregados. A Figura 6 detalha a
epóxi EMBed 812, realizado a quente, e secagem disposição das medidas realizadas.
por 24 h em estufa de temperatura de 60 ºC. Após, As medidas de nanoindentação foram realizadas no
é feito o lixamento em politriz, utilizando-se lixas
Parque Científico e Tecnológico da PUCRS
de carbeto de silício nas granas de 320, 400, 600,
(TecnoPUCRS), no Centro de Física, no Grupo de
800 e 1.200. Após o lixamento a amostra é polida
Estudo de Propriedades de Superfícies e Interfaces
com pasta de alumina nas granas de 1 µm e 0,3
(Gepsi), em equipamento FischerScope
µm. O processo é constantemente conferido em H100VPXY. Para a execução do ensaio foram
microscópio óptico, para garantir uma superfície utilizadas as seguintes configurações: penetrador:
plana, lisa e sem riscos oriundos do lixamento.
Berkovich; carga: 50 mN; tempo: 40 s; e tempo de
retenção na carga máxima: 5 s.
Análise da interface entre agregados reciclados de concreto e argamassas de concretos com cinza de casca de arroz 259
e fíler basáltico por nanoindentação
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Através desse método estima-se identificar se o efeito pozolânico e de sua granulometria, mais fina
módulo de elasticidade da região de interface entre que a do cimento (Figura 2). As maiores
o agregado reciclado e a argamassa nova é menor, resistências encontradas para cada tipo de adição
o que caracteriza uma típica ZT, e se as adições ocorreram nos teores de adição de 10%, com o FB
foram capazes de melhorar essa região. proporcionando uma elevação em relação à
referência de 6%, e a CCA de 61%. O melhor
Método 3 desempenho da CCA contra o FB também ocorreu
na resistência à tração, em que os dois teores de
Conforme exposto na Tabela 1, a técnica da adição de FB proporcionaram elevação de 23%,
nanoindentação demonstra que há grande enquanto as argamassas com CCA aumentaram
heterogeneidade entre os compostos cimentícios, a sua resistência em 45% e 55%, em função do teor
partir da alta variabilidade dos resultados. Dessa de adição.
maneira, uma análise exclusivamente pela média
aritmética pode negligenciar a real situação na A quantidade de poros determinada pela
interface, pois a média entre um valor de módulo quantidade de mercúrio intrudido por porosimetria
de elasticidade alto, que pode representar Ca(OH)2, (Figura 8) demonstrou que a porosidade da
e um valor baixo, característico de poros e vazios, argamassa se manteve nas misturas com adição de
resulta em um valor de módulo de elasticidade 5% de FB e aumentando no teor de 10%.
intermediário, típico de C-S-H, não tendo relação Contrariamente, as argamassas com adição de
com os demais. Portanto, no método 3 se CCA diminuíram sua porosidade, notoriamente
utilizaram as mesmas extensões de leitura (75, para o teor de 10% em relação às argamassas de
100, 150 e 200 µm) utilizadas no método 2, porém referência. Esse comportamento é esperado, em
individualizando as seguintes faixas de valores: função dos novos produtos de hidratação
decorrentes da reação pozolânica.
(a) acima de 45 GPa, considerado como
agregados e cimento não hidratado; A porosimetria justifica em nível microestrutural
as propriedades macroestruturais das argamassas.
(b) entre 35 e 45 GPa, considerado como Entretanto, essa técnica não permite a avaliação
Ca(OH)2; das propriedades das regiões de interface pasta-
(c) entre 15 e 35 GPa, considerado como C-S-H; agregado. A utilização da nanoindentação buscou
e preencher essa lacuna a partir da avaliação dos
módulos de elasticidade nas regiões de interface e
(d) menor que 15 GPa, considerado como poros e
vizinhanças, apresentados na sequência.
vazios.
Para a análise foram levados em consideração Avaliação de módulo de elasticidade
somente os valores considerados como C-S-H ou
os considerados como poros e vazios.
por nanoindentação segundo o
método 1
Resultados e discussão Os valores médios de módulo de elasticidade
determinados por nanoindentação na região
Os resultados dos ensaios de caracterização correspondente à argamassa nova (Figura 9)
macroestrutural das argamassas produzidas estão aparentam um acréscimo de módulo em função da
apresentados na Figura 7. adição de 10% de FB e de qualquer teor de CCA.
A adição de fíler de basalto exerceu pouca Entretanto, a se excluírem os valores superiores a
influência nas propriedades mecânicas da 45GPa, o efeito da adição diminui
argamassa, enquanto a adição de CCA melhorou consideravelmente, o que, em conjunto com as
substancialmente tais propriedades. A adição de propriedades mecânicas, indica que o método não
CCA provoca densificação da argamassa, elevando explica adequadamente os fenômenos decorrentes
a massa específica, a resistência à compressão e a do uso das adições. A adição de CCA nos teores de
resistência à tração das argamassas, em função do 5% e 10% resultou em elevação no módulo de
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elasticidade em comparação com a referência de GPa, nas diferentes extensões de análise estão
respectivamente 42% e 51%. expostas na Figura 10.
Ao se analisarem os resultados em função do traço,
Avaliação de módulo de elasticidade por observa-se que, independentemente do tamanho da
nanoindentação segundo o método 2 região de análise, as argamassas com CCA
As médias aritméticas dos valores de módulo de resultaram em interfaces mais rígidas, ao contrário
elasticidade obtidos pelas indentações realizadas, das argamassas com FB, que apresentaram
considerando-se apenas os valores abaixo de 45 resultados similares aos encontrados na referência.
GPa
2200,0
27,0
2204,4
2180,0 26,0
27,7 27,9 27,8 28,2
2185,3 27,4
2160,0 25,0
Ref FB 5% FB 10% CCA CCA Ref FB 5% FB 10% CCA 5% CCA
5% 10% 10%
MPa
25,0 2,0
20,0 1,0
21,8 22,2 23,0 32,3 35,2 2,2 2,7 2,7 3,4
15,0 0,0 2,7
Ref FB 5% FB 10% CCA 5% CCA Ref FB 5% FB 10% CCA 5% CCA
10% 10%
Figura 8 - Porosidade das argamassas determinada por PIM
90
84
Porosidade total por PIM
80
77 74 76
(%)
70
69
60
Ref FB 5% FB 10% CCA 5% CCA
10%
80,0
71,4
Módulo de Elsticidade (GPa)
70,0
56,7
60,0
50,0
53,4
40,0
23,9
30,0
17,7
20,0
21,5 23,1 24,6
10,0 16,3
12,2
0,0
Ref 5% FB 10% FB 5% CCA 10% CCA
Todas as Medidas Excluindo Valores acima de 45 GPa
30,0
25,0
GPa
20,0
15,0
75 µm 100 µm 150 µm 200 µm
Avaliando-se cada traço individualmente, constata- procurou-se identificar faixas de valores típicas de
se que não há consideráveis alterações de módulo produtos cimentícios.
de elasticidade em função do aumento da região de Os valores situados entre 15 GPa e 35 GPa (típicos
análise, o que indica que a região de interface de
de C-S-H) estão expostos na Figura 11, onde estão
todas as argamassas não apresentou diferenças
plotadas as médias aritméticas (esquerda) e o
com relação à matriz. Como em concretos
percentual de medidas que se situaram nessa faixa
plásticos com agregados convencionais é usual se
(direita) em relação ao total de valores de módulo
identificar uma região de menor módulo de de elasticidade entre zero e 45 GPa.
elasticidade, típica de zona de transição, pode-se
deduzir que o processo de confecção dos Verifica-se que a adição de FB diminui a formação
exemplares analisados, em que os agregados de compostos de C-S-H na região da interface em
reciclados são inseridos na mistura no estado seco, comparação com a argamassa de referência. Esse
minimizou os efeitos de aumento da porosidade da comportamento é observado tanto na média do
zona de transição, praticamente igualando a dureza módulo de elasticidade desses compostos quanto
entre as argamassas e sua região de interface. no percentual, embora não corresponda ao
esperado em função dos resultados das análises
Avaliação de módulo de elasticidade por macroestruturais, em que o comportamento
nanoindentação segundo o método 3 mecânico foi similar. Para as argamassas com
adição de CCA, apenas o teor de 10% de adição
A análise pelo método 3 também ocorreu resultou em aumento na média do valor de módulo
comparando-se diversas extensões ao longo do de elasticidade. Entretanto, nos dois percentuais de
eixo que define a interface entre a argamassa nova adição de CCA o percentual de medidas com
e a antiga. Entretanto, em cada extensão analisada, valores entre 15 GPa e 35 GPa se elevou, o que
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e fíler basáltico por nanoindentação
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 17, n. 2, p. 253-268, abr./jun. 2017.
Figura 11 - Valores médios e incidência de módulo de elasticidade entre 15 GPa e 35 GPa – método 3
30,0
90,0
25,0 70,0
Gpa
20,0
%
50,0
15,0 30,0
75 µm 100 µm 150 µm 200 µm 75 µm 100 µm 150 µm 200 µm
Ref 5% FB 10% FB Ref 5% FB 10% FB
5% CCA 10% CCA 5% CCA 10% CCA
15,0 65,0
12,5 50,0
10,0 35,0
%
GPa
7,5 20,0
5,0 5,0
75 µm 100 µm 150 µm 200 µm 75 µm 100 µm 150 µm 200 µm
Ref 5% FB 10% FB Ref 5% FB 10% FB
5% CCA 10% CCA 5% CCA 10% CCA
Análise da interface entre agregados reciclados de concreto e argamassas de concretos com cinza de casca de arroz 265
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Análise da interface entre agregados reciclados de concreto e argamassas de concretos com cinza de casca de arroz 267
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