Você está na página 1de 19

Revista Prática Docente (RPD)

ISSN: 2526-2149

O TEMA VACINAS EM LIVROS DIDÁTICOS DE CIÊNCIAS


NATURAIS: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DA HISTÓRIA DAS
CIÊNCIAS

THE TOPIC VACCINES IN NATURAL SCIENCE DIDACTIC BOOKS: A


REFLECTIVE ANALYSIS FROM THE PERSPECTIVE OF THE SCIENCE
HISTORY

DOI: http://dx.doi.org/10.23926/RPD.2526-2149.2018.v3.n2.p681-699.id280

Maria Anita Pinto Resumo: A presente pesquisa teve por objetivo analisar de forma
Soares qualitativa a abordagem histórica dada ao tema “vacinas” nos discursos
Licenciada em Licenciatura científicos e pedagógicos apresentados em livros didáticos de Ciências
utilizados no Ensino Fundamental – II. O percurso metodológico baseou-se
em Ciências Naturais
em análise de conteúdo, buscando identificar e interpretar o discurso textual
(UFMA). de livros do 7º ano utilizados em uma amostragem de escolas da rede
anitapsoares@hotmail.com pública da cidade de Codó – Maranhão, pontualmente da zona urbana.
Fundamentou-se a discussão com base no caminho metodológico proposto
Clara Virgínia Vieira nos trabalhos de Mohr (1995) e Vidal & Porto (2012), com as devidas
Carvalho Oliveira adequações nos critérios de interesse desta pesquisa. Nessa ótica, foram
construídos três blocos de análises organizados em uma rede sistêmica
Marques suscitando as questões norteadoras da pesquisa que se pautaram nas
Doutora em Ciências seguintes vertentes: Perfil dos Personagens, Perfil dos Fatos e Feitos e Perfil
(UFSCar). da Função Social. Os resultados mostraram que o conteúdo “vacinas” está
Professora (UFMA). presente em todos os livros analisados, porém a abordagem histórica ainda
clara.marques@ufma.br é rasa, não sendo, portanto, satisfatória quando se pensa em explorar a
potencialidade dessa vertente para a promoção de uma educação para a
saúde destinada a estudantes em formação, para atender as necessidades
instrutivas de pessoas socialmente críticas e participativas.
Palavras-chave: Vacinas. Livro Didático. Ensino de Ciências. História da
Ciência.

Abstract: The present research aimed to qualitatively analyze the historical


approach given to the theme "vaccines" in the scientific and pedagogical
discourse presented in science textbooks used in Elementary Education - II
Stage. The methodological course was based on content analysis, seeking
to identify and interpret the textual discourse of 7th grade books used in a
sample of schools in the public network of Codó - Maranhão, specifically
from the urban area of the city. The discussion was based on the
methodological path proposed in the works of Mohr (1995) and Vidal and
Porto (2012), with the appropriate adjustments in the criteria of interest of
this research. From this point of view, three blocks of analysis were
constructed in a systemic network, raising the questions guiding the
research that were based on the following aspects: Profile of the Characters,
Profile of Facts and Facts and Profile of the Social Function. The results
showed that the "vaccines" content is present in all the books analyzed, but
the historical approach is still shallow and therefore not satisfactory when
considering the potential of this aspect for the promotion of a health
education aimed at to students in training to meet the instructional needs of
socially critical and participatory people.
Keywords: Vaccines. Textbook. Science Teaching. Science History.

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 681
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, as práticas de ensino vêm sendo fortemente influenciadas pela
dinâmica dos avanços científicos, tecnológicos e de seus desdobramentos, requerendo assim, a
implementação efetiva de renovação nas propostas e nos recursos didáticos utilizados nos
processos de ensino para propor abordagens que alcancem e valorizem a participação efetiva
do alunado no processo de aprendizagem (BRASIL, 1998; KRASILCHIK, 2000;
NASCIMENTO et al., 2010; SELBACH e ANTUNES, 2010).
Diante de uma nova sociedade de características diferenciadas, denominada na literatura
de sociedade do conhecimento, espera-se das diversas áreas de ensino novas perspectivas de
abordagens para promoção de elementos cruciais que se apliquem a formação de cidadãos
críticos e reflexivos, levantando assim, uma necessidade de modificações nos conteúdos
escolares, como por exemplo: a inserção de temas presentes no dia a dia dos estudantes, que
abraçarem suas realidades e que lhes permitam fazer conexão do conhecimento científico com
o conhecimento para vida (ALARCÃO, 2008; CHARLOT, 2005; CHASSOT, 2002). Ressalta-
se que a base legal nacional que orienta os pressupostos educacionais desde o final da década
de noventa, tem inserido temas nessa vertente, denominando-os de “Temas Transversais”, que
sugerem aos professores de todas a áreas desenhar suas práticas pedagógicas utilizando
princípios de contextualização e interdisciplinaridade, inserindo práticas diferenciadas e um
embasamento teórico que alicerce a construção do conhecimento significativo e leve a
compreensão do processo de formação cidadã (BRASIL, 1998; HAMENSCHLAGER, 2011).
A retórica de especialistas da área do ensino de ciências reporta-se a incentivar o uso de
estratégias metodológicas que concernem para a conexão e a contextualização entre o saber
científico e o conjunto de conhecimentos prévios dos alunos, alocando o professor na
perspectiva de mediador reflexivo no processo de ensino e aprendizagem, não deixando de
promover a construção do conhecimento sob a ótica de elementos próprios das ciências que
são: a observação, a experimentação, o levantamento de questionamentos e de hipóteses sobre
os fenômenos naturais e o meio em que vivem, para que assim, haja o desenvolvimento de
diferentes argumentos e a formação de uma sociedade efetivamente ativa e participativa
(CHASSOT, 2002; KRASILCHIK, 2000; SELBACH e ANTUNES, 2010).
Porém, essas mudanças no processo educacional dentro do contexto nacional ainda não
são realidades em muitas escolas, bem como no imaginário de alunos e professores, tanto que,
até hoje, se tem muito como características no ensino de Ciências a aplicação de metodologias
tradicionalistas, sem uso ou possibilidade de acesso, acesso esse não só de recursos didáticos

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 682
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

diversificados, mas de conteúdos que promovam um diferencial na formação para cidadania


(KRASILCHIK, 2000; LEÃO, 1999; NASCIMENTO, 2010; SAVIANI, 1991).
Pontualmente, em relação ao uso de recursos didáticos, a literatura na área aponta que o
livro didático (LD) ainda é, em muitas das situações educacionais, o principal instrumento nas
aulas de Ciências. Vários estudiosos enfatizam que o livro didático em muitas situações
continua sendo o único instrumento utilizado pelo professor de Ciências e consequentemente,
o principal norteador do currículo escolar carregando assim fortes influências nas questões
sócio-políticas e culturais, além de caracterizar a cultura de profissionalização dos envolvidos
com o processo educacional (CARNEIRO, 1997, LAJOLO, 1996; ROMANATTO, 2009).
É fato que a sua importância é incontestável, mesmo na situação atual onde a sociedade
se encontra: imersa na era de tecnologias e de novos artefatos digitais. Esses artefatos têm sido
utilizados como objetos de aprendizagem, porém, devido ao acesso ainda restrito dessas
novidades ou por vezes ineficazes por conta de infraestrutura escolar, o LD ainda é o principal
guia de ação de professores de Ciências (FRISON et al., 2009, LAJOLO, 1996; NUÑEZ et al.,
2003; ROMANATTO, 2009).
Nesse contexto, defende-se que a escolha de material didático para o ensino de Ciências
seja diversificada, bem como priorize a realização de abordagens metodológicas diferenciadas
para que conteúdos latentes e de interesse real da comunidade escolar sejam efetivamente
trabalhados no processo educativo, como por exemplo: a inserção concreta e propositiva de
temas transversais nos conteúdos disciplinares, que embora estejam intimamente ligados aos
conteúdos curriculares, são normalmente simplificados ou até negligenciados da agenda e no
planejamento escolar (VASCONCELOS e SOUTO, 2003).
Entre as várias vertentes que os temas transversais podem suscitar, no tocante a saúde,
são inúmeras as possibilidades de discussões a serem trabalhadas em sala de aula, uma delas é
a questão da vacinação como linha histórica de instrumento informativo na prevenção de
doenças que acometeram e/ou acometem a sociedade mundial em diferentes períodos ao longo
da história da humanidade.
Sob a luz de um breve resgate histórico, pontua-se que a descoberta das vacinas está
vinculada a Varíola, que é uma doença que causou, no século XVII, uma taxa significativa de
mortalidade em diversas nações do mundo (HERMANN, 2001). O crédito da descoberta da
vacina é atribuído ao médico inglês Edward Jenner (1749-1823), sendo publicado no trabalho
Variolae Vaccinae (varíola da vaca), em 1798. Em seus estudos, o cientista citado relatou que
sua pesquisa se baseava em sinais e sintomas parecidos com os da varíola, adquiridos por

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 683
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

mulheres ordenhadoras em contato com vacas infectadas por uma doença semelhante à Varíola
(cowpox). Estes sinais se apresentavam como uma forma menos agressiva. A partir desta
constatação o médico realizou coletas nas camponesas, retirando amostras direto das pústulas
e inoculando-as em outros indivíduos sadios, por meio de pequenos arranhões feitos na pele,
sendo que essa técnica ficou conhecida como variolização (FEIJÓ e SÁFADI, 2006;
FERNANDES, 2010; LOPES e POLITO, 2007).
No Brasil, o processo de vacinação ainda enfrenta vários obstáculos que passam desde
a falta de conhecimento e de alfabetização científica da população até mesmo por questões
éticas, culturais e políticas. Por conta dessas circunstâncias, o decreto do Ministério da Saúde
de nº 78.231, de 12 de agosto de 1976, determina, no seu art. 27, que as vacinas são obrigatórias,
em todo território nacional (BRASIL, 2014). A partir dessa medida institucional, o país
conseguiu enfrentar e erradicar doenças tais como: a febre amarela urbana (em 1942), a varíola
(em 1973) e a poliomielite (em 1994). Essas informações, que podem fortalecer ações sociais
e cidadãs em pessoas em processo de formação, além de promover competências para o cuidado
com a saúde do corpo, normalmente são preteridas ou até descartadas no universo conteudista
escolar, não sendo priorizadas no entendimento do conteúdo científico tradicionalmente
trabalhado em sala de aula.
Assim, volta-se o olhar para a questão da inserção da abordagem histórica no ensino de
Ciências como linha argumentativa, visto que este olhar pode promover abrangência na
compreensão das relações existentes entre fatos/feitos científicos e seus processos de
implementação da ciência na vida das pessoas, podendo criar um elo entre os processos e as
tentativas para descoberta/invenção de algo que está presente no cotidiano da sociedade atual
(CHASSOT, 2002; KRASILCHIK, 2000).
Para Gagliardi e Giordan (1986, p. 254) o uso da abordagem histórica no ensino oferece
aos estudantes uma visão mais crítica da ciência, no sentido de:

“[...] mostrar em detalhe alguns momentos de transformação profunda da ciência e


indicar quais foram às relações sociais, econômicas e políticas que entraram em jogo,
quais foram às resistências a transformação e que setores trataram de impedir a
mudança. Essa análise pode fornecer as ferramentas conceituais para que os alunos
compreendam a situação atual da ciência, sua ideologia dominante e os setores que a
controlam e que se beneficiam dos resultados da atividade científica”.
Partindo dessas concepções, entende-se que inserir história da ciência no ensino de
Ciências pode auxiliar os estudantes na construção do seu aprendizado acerca do universo
científico e como seus avanços foram se dando e influenciando os aspectos sociais e culturais
da humanidade (MATTHEUS, 1995). Pontuando essas influências para o sentido de educar

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 684
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

para a saúde, acredita-se que a responsabilidade é de muitas instâncias formativas, em especial,


da instituição escolar, uma vez que carrega vários aspectos de função social, e
privilegiadamente, pode se transformar num espaço genuíno de promoção da saúde (BRASIL,
2002; PEREIRA, 2003; SOUZA E LOPEZ, 2002).
Nessa perspectiva o presente trabalho teve como objetivo verificar analiticamente o
discurso científico e pedagógico apresentado sobre o tema “Vacinas” em textos dos LD de
Ciências Naturais, no nível da segunda etapa do Ensino Fundamental sob a ótica de sua
abordagem histórica. O interesse pelo tema vacinas foi motivado por sua relevância social,
ressaltando-se também que a discussão sobre vacinação é um dos temas previstos para a etapa
do Ensino Fundamental, estando presente no rol dos conteúdos curriculares dos curso de
Ciências, e se encontra entre as ações sociais eminentemente protetoras da saúde, juntamente
com vigilância epidemiológica e sanitária, pois a maioria das causas de doenças pode ser
evitada por meio de ações preventivas, assim, a vacinação é um importante meio de proteção à
saúde, e quando vinda da escola atende o papel fundamental de função social nesse contexto
(BRASIL, 1998; FONTANA 2008; OLIVEIRA E BUENO, 1997; PEREIRA, 2003).

2 METODOLOGIA
A metodologia adotada versou para a abordagem de pesquisa qualitativa, utilizando da
análise de conteúdo para verificação do tema de interesse nos textos de livros didáticos
utilizados em uma amostragem de escolas da rede pública da cidade de Codó – Maranhão,
pontualmente da zona urbana. Essa abordagem encaixa-se nos aspectos qualitativos de
pesquisa, uma vez que condiz com a definição de BOGDAN e BIKLEN (1994) que a entendem
como “[...] uma metodologia de investigação que enfatiza a descrição, a indução, a teoria
fundamentada e o estudo das percepções pessoais”. Nessa ótica, buscou-se construir uma
discussão analítica a respeito do conteúdo sobre vacinas presentes em livros didáticos de
Ciências Naturais no que concerne ao panorama dos aspectos históricos e o discurso pedagógico
em confronto com o discurso científico para a promoção de uma educação para promoção de
saúde.
Ressalta-se que os livros didáticos selecionados para análise se referem a unidade
utilizada no sétimo ano do Ensino Fundamental da amostragem de escolas já mencionadas.
Esses livros foram adquiridos por solicitação feita diretamente aos gestores das escolas no
momento do aceite da instituição ao convite de participação na pesquisa. De posse aos livros
buscou-se inicialmente pontuar os momentos de alusão ao assunto em questão (estudo

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 685
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

exploratório) identificada ao longo do livro e em seguida, de forma interpretativa, buscou-se


extrair os sentidos desses discursos tendo por base a perspectiva histórica das ciências na
construção social, política e econômica na vida do homem.
A análise dos dados foi estruturada a partir da retirada de unidades de significados do
conteúdo textual, procedendo em seguida à construção de uma rede sistêmica composta por
blocos de análise, tendo como base referencial as categorias propostas nos trabalhos de MOHR
(1995), Vidal & Porto (2012) e Marques (2010), com a devida adequação para esse contexto.
Esse viés analítico permitiu assim vislumbrar de forma organizada as informações a respeito
do tema à luz dos pressupostos da história da ciência.
Assim, inicialmente buscou-se detectar o conjunto de escolas que se inserem na zona
urbana de Codó-Maranhão que, segundo levantamento realizado por Queiroz (2015), as escolas
que ofertam o Ensino Fundamental II, situadas na zona urbana de Codó-MA, perfazem um
montante de treze unidades escolares ativas. A partir dessa informação, procedeu-se a visitação
em cada unidade escolar para verificação e coleta do livro de Ciências utilizado no 7º ano do
ensino fundamental. Nessa etapa, detectou-se cinco livros didáticos de Ciências Naturais de
coleções variadas (Quadro 01), e por meio de informação cedida pelos professores de ciências,
esses livros são escolhidos anualmente por eles, sendo que a Coleção “Teláris” é a mais usada
por número de escolas.

Quadro 1 - Livros didáticos analisados e suas respectivas referências bibliográficas


Código Referência Bibliográfica PNLD
TRIVELLATO, José. et al. Ciências, 7º ano - 1ed.- São Paulo: Quinteto Editorial,
LDC 1 2017
2015.
USBERCO, José. et al. Companhia das Ciências, 7º ano - 2ed.- São Paulo: Saraiva,
LDC 2 2017
2012.
COSTA, Alice Mendes Carvalho Lopes. Oficina do Saber. Ciências, 7º ano – 1ed.
LDC 3 2016
– São Paulo: Leya, 2012.
ROSA CARNEVALLE, Maíra. Projeto Araribá: Ciências, 7º ano – 4ed. – São
LDC 4 2016
Paulo: Moderna, 2014.
GEWANDSZNAJDER, Fernando. Projeto Teláris: Ciências, 7º ano – 1ed. – São
LDC 5 2016
Paulo: Ática, 2012.
Fonte: Própria autora.

A análise inicial caracterizou-se por uma pré-leitura dos livros visando o


reconhecimento e identificação do tema ao longo do texto (capítulos e demais seções) e por
meio dessa etapa revelou-se que a presença do conteúdo Vacinas está concentrada pontualmente
nos capítulos que trabalham conteúdos vírus e bactérias. A discussão contida, de maneira geral,
remete principalmente a doenças e na indicação das vacinas para prevenção das mesmas. De

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 686
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

posse dos textos selecionados, partiu-se para a análise de conteúdo e a organização das unidades
de significados em rede sistêmica.
A construção da rede sistêmica foi idealizada em blocos de análise que elucidam as
questões norteadoras da pesquisa estruturados à luz de categorias e subcategorias que buscaram
responder as indagações levantadas na hipótese da pesquisa (LÜDKE e ANDRÉ, 2013;
MARQUES, 2010).
Assim, foram suscitados três blocos de análise, que retrataram o perfil da construção
histórica das vacinas presentes no LD analisados, denominados neste trabalho de: a) Bloco I:
Quem são os autores da história das vacinas? Esse bloco destacou a categoria denominada
“Perfil dos Personagens” e suas subcategorias foram: Biografia e Características pessoais; b)
Bloco II: Como se construiu a história das vacinas? Nesse bloco tem-se a categoria “Perfil dos
Fatos e Feitos”, que procurou detectar a forma como o conhecimento científico foi explorado e
construído no sentido dos seus conceitos e definições, termos pertinentes e correção ou
atualização científica (ou dos avanços científicos) e, c) Bloco III: Para quê/quem se destinam
as vacinas? Sendo sua categoria definida como “Perfil da Função Social” que buscou identificar
as formas de educação para a saúde, bem como o público alvo a que se destina e os impactos
causados na realidade econômica nacional da temática abordada, conforme mostra Figura 1.

Figura 1 - Rede Sistêmica dos Blocos de Análise da Pesquisa (I, II e II)

Fonte: própria autora

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 687
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
De maneira geral, constatou-se que todos os LD selecionados mencionaram diferentes
tipos de doenças e suas prevenções por meio de vacinação. Com relação às doenças abordadas,
observou-se que os tipos mencionados em todos os exemplares foram: Caxumba, Febre
Amarela, Gripe, Hepatites Virais, Poliomielite, Sarampo e Tuberculose. Outro ponto que
chamou atenção foi que 80% dos livros apresentaram a Pneumonia, Rubéola, Tétano e a Varíola
como doenças já erradicadas por meio das vacinas. Há também alusão para doenças que ainda
não existem vacinas, como a Dengue e a AIDS. Não se identificou, em nenhum dos exemplares,
afirmações incorretas sobre enfermidades que possam ser prevenidas por vacinação, como
ocorreu nos dados da pesquisa de Succi, Wickbold e Succi (2005), que relata entre os erros
detectados, a citação da existência de vacina contra a Dengue.
Diante desse panorama, o Quadro 2 descreve as unidades de significados que
correspondem ao primeiro bloco de análise (Quem são os autores da história das vacinas?),
formado pela categoria “Perfil dos Personagens” com o objetivo de se entender como é
colocado o discurso sobre a caraterização de quem fez a história desse invento ao longo dos
tempos. Assim, foram suscitadas duas subcategorias, a saber: (i) Biografia e (ii) Características
Pessoais. Na subcategoria “Biografia”, buscou-se identificar as informações que se
direcionassem aos nomes, datas de nascimento e morte, nacionalidades e dados de formação
dos atores do processo de construção histórica das vacinas.

Quadro 2 - Descrição das Unidades de Significados do Bloco “Perfil dos Personagens”

Bloco I: Quem são os autores da história das vacinas?

Categoria: Perfil dos Personagens

Neste bloco trata-se da identificação de trechos que fazem referência a características de vida e obra dos
cientistas envolvidos na história das vacinas. Nessa discussão foram suscitadas duas subcategorias: Biografia
e Características pessoais

Subcategorias Unidades de Significados Citações (trechos ilustrativos)


Nome
Nacionalidade
Ano de Nascimento “Em 1976, o médico inglês Edward Jenner
Biografia
Ano de Falecimento (1749-1823) notou que [...]”
Dados de Formação
Caráter “[...] foi então que ele começou suas pesquisas,
Características Pessoais Sentimentos/Interesses buscando encontrar uma forma de imunizar
pessoas contra a doença [...]”
Fonte: Própria autora.

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 688
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

Revelou-se que os LDC 1, 2, e 3 trabalham, em forma de texto complementar, a


descoberta das vacinas, assim como pontuam em destaque os dados biográficos de cientistas
que principiaram a descoberta das vacinas. Nesse ponto, salienta-se que nos exemplares que
citaram nomes de cientistas, foi detectado somente um personagem nessa direção. Ressalta-se
que os textos são breves e não chegam a abordar de maneira específica as formas e/ou
circunstâncias metodológicas de como ocorreram o processo de descoberta das vacinas e quais
técnicas foram utilizadas. Sendo assim, percebeu-se que os elementos “nome, nacionalidade e
profissão” aparecem em 70% dos livros selecionados, e “datas de nascimento e de morte de
personagem científico” em 50% nos textos didáticos. Esses dados estão em sintonia com os que
foram revelados na pesquisa de Vidal e Porto (2012) quando comentam que 85% das citações
observadas em sua pesquisa em relação a dimensão “vida dos personagens” se direcionaram
apenas à nome e às datas de nascimento e morte.
Relata-se ainda que também não se identificou informações mais detalhadas de
formação profissional e nem pessoal, bem como não apresentaram o período e formas de estudo
dedicado a uma pesquisa (alusão a metodologias científicas), apresentando apenas as datas das
descobertas dos feitos, o que pode levar o leitor a não temporalizar os acontecimentos e/ou
pensar que todos aconteceram num mesmo momento, reforçando assim, um olhar de ciência
inerte, pronta e acabada.
Quando se busca levar o aluno a entender que a ciência não é um conjunto de conceitos
para serem memorizados, é necessário que se trabalhe as questões da construção de
conhecimentos científicos dentro da dinâmica e no movimento próprio da ciência, ou seja, das
idas e vindas, dos diálogos, dos questionamentos relacionados as concepções de pessoas
humanas, comuns nos processos de levantamento de hipóteses até o momento de infirmá-las,
invalidá-las ou validá-las (PÁDUA, 2016).
Para a subcategoria “Características Pessoais” procurou-se identificar relatos mais
pessoais sobre os cientistas, ou seja, perceber peculiaridades, concepções e/ou episódios que
direcionassem ao entendimento de como eram, como faziam a ciência e como relacionavam-se
com as outras pessoas, porém apenas a unidade de significado “interesse” foi manifestada na
descrição sobre as instigações dos cientistas ao realizarem suas pesquisas. Dessa forma, pela
categoria “Perfil dos Personagens” percebeu-se que em 60% dos livros selecionados
apresentam textos que fazem uma rasa explanação nesses aspectos históricos sobre os cientistas,
focando timidamente informações breves sobre vida e sobre as obras pontuais. Nesse mesmo
sentido de discussão Vidal e Porto (2012) afirmam em sua pesquisa que as informações

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 689
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

históricas verificadas nos livros didáticos analisados por eles apresentam-se,


“predominantemente, ligeira e superficial”.
No Quadro 3 organizou-se as unidades de significados que constituíram a categoria
“Perfil dos Fatos e Feitos” que discutiu a análise que coube ao bloco II (Como se construiu a
história das vacinas?) tendo como foco a detecção de pontos emergentes na descrição dos
principais elementos das proposições sobre as descobertas dos cientistas que marcaram a
história ao longo dos tempos, além de buscar identificar a presença/ausência de atualização
dessas informações. Nesse sentido, geraram-se três subcategorias, a saber: (i) Conceitos e
definições, (ii) Explicações de termos e (iii) Atualização sobre os Avanços Científicos.

Quadro 3 - Descrição das Unidades de Significados do Bloco “Perfil dos Fatos e Feitos”

Bloco II: Como se construiu a história das vacinas?

Categoria: Perfil dos Fatos e Feitos

Neste bloco trata-se de refletir sobre trechos identificados que mencionam conceitos e definições, assim
como as explicações de termos desconhecidos e possíveis atualizações em relação a textos já estabelecidos
em tempos anteriores.

Unidades de
Subcategorias Citações (trechos ilustrativos)
Significados
“A vacina tem caráter preventivo [...] Elas
Ausente
não são constituídas de anticorpos, mas
Conceitos e Definições Presente/Explícito
estimulam os organismos a produzi-los e,
Presente/Implícito
assim, evitar que a doença se instale [...]”

“Para entendermos melhor com funcionam


as vacinas, é importante conhecer dois
Presente conceitos: antígenos e anticorpos” [...]
Explicação de Termos
Antígenos são quaisquer substâncias
Utilizados
Ausente estranhas a um organismo [...] ... Anticorpos
são substâncias produzidas pelo sistema
imunitário com a função [...] “

Superficial “Hoje, existem vacinas contra vírus, bactérias


Atualização sobre os Avanços e outros parasitas que podem ser fabricadas
Científicos Temporal com partes de microrganismos atenuados,
aqueles que já não podem causar doenças [...]”
Fonte: Própria autora.

Com relação à subcategoria “Conceitos e Definições”, observou-se que nenhum dos


exemplares conceituou o tema de forma explícita, ou seja, não se identificou discurso direto
e/ou claro de uma descrição explicativa do que seriam as vacinas e/ou tipos de vacinas. Porém,
constatou-se que os textos exibem informações que direcionam o aluno a formular uma

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 690
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

definição própria sobre o assunto, considerando-se assim, que a apresentação de um conceito


ou definição foram tratados de forma implícita, instigativa e pessoal. Ressalta-se ainda que foi
observada a ausência total de conceituação no LDC 4, onde o termo vacinas é usado somente
como citação quando se refere aos tipos de viroses que são prevenidas por meio da vacinação.
Segundo Mohr (1995) a questão da apresentação de um “conceito” nos livros didáticos
não deve ser algo simplista e sim, espera-se que seja uma discussão ampla, dando possibilidade
de uma compreensão e formulação de noções ou conhecimentos sobre algo (ao máximo que
puder), de acordo com o nível cognitivo do aprendiz, portanto, quando se dispõe a estabelecer
conceitos no livro didático, considera-se importante que o texto conste elementos com
explicações desenvolvidas de modo que possibilite ao alunado construir uma concepção inicial,
porém abrangente sobre o tema exposto. Nesse sentido, defende-se que a ausência de
conceituação deixa uma lacuna no desenvolvimento do tema, algo que poderá prejudicar o
encaminhamento do aprendizado, no que se diz a respeito a edificação das primeiras teorias
conceituais sobre o assunto e sobre a educação para promoção da saúde.
Na subcategoria “Explicações de Termos Utilizados” buscou-se verificar a presença de
palavras incomuns ou termos considerados como novos no vocabulário apresentado ao aluno,
mas necessários ao entendimento do conteúdo, logo, verificou-se para a identificação dessas
palavras bem como de suas respectivas significações, no intuito de avaliar a adequação dos
significados presentes nos textos didáticos ao nível dos alunos a que se designam. Para Mohr
(1995) os livros didáticos devem conter textos claros, explicativos e acessíveis à linguagem do
público destinado, para sua efetiva compreensão e utilização. Partindo dessa premissa, notou-
se que nos LDC selecionados os autores utilizaram-se de alguns vários termos científicos no
percurso da discussão do tema, e em todos continham as suas respectivas explicações. Esses
termos apareceram em 60% das obras pesquisadas, porém, as explicações de maneira geral
foram breves e pontuais.
Para a subcategoria “Atualização sobre os Avanços Científicos” ponderou-se verificar
sobre a atualização dos textos, conceitos e definições, classificadas de acordo com suas
unidades de significados propostas. Revelou-se que 60% dos LDC analisados apresentaram
textos com informações atuais, principalmente em relação aos critérios estabelecidos pela OMS
(Organização Mundial da Saúde) no que se refere principalmente a tipos de vacinas que
combatem certas viroses. Nesse contexto, constatou-se que há uma atenção na atualização dos
tipos de viroses, além de mencionarem as novas formas de tratamentos, remetendo-se

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 691
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

principalmente às formas de prevenção e periodicidade de vacinação. Destacam-se como


doenças mais citadas para esse item, a AIDS (42% das citações) e a Dengue (67%).
Verificou-se também que os textos apresentam informações atualizadas no que se diz
respeito às doenças que podem ser prevenidas por vacinação, assim como, relatam
historicamente os fatos de ocorrência e de tratamento sobre as doenças que já forma erradicadas
no Brasil (Poliomielite e Febre Amarela Urbana) e no Mundo (Varíola). Pontua-se que a forma
como colocam as atualizações das ações preventivas, suscitam assim uma educação para a
saúde no combate a enfermidades, podendo também levantar outros temas necessários a serem
trabalhados em sala de aula, como por exemplo: saneamento básico, alimentação adequada,
calendário para administração de doses vacinais (BRASIL, 1998).
Ressalta-se que 20% dos livros também trazem discussões atuais sobre a vacina contra
o HPV (sigla inglesa para "Papiloma Vírus Humano”) direcionando as informações para as
meninas de 09 a 14 anos de idade, uma vez que elas são o principal alvo da doença. Essa
discussão tem sido bastante divulgada em redes midiáticas e panfletadas em campanhas
estaduais nos últimos quatro anos (BRASIL, 2014).
A última categoria analisada denominada de “Perfil da Função Social” do terceiro bloco
da análise, evidenciada no Quadro 4, objetivou verificar como a sociedade foi e vem sendo
beneficiada com as ações que envolvem a descoberta e implementação das vacinas, e como os
avanços das ciências e tecnologias vêm possibilitando evoluções em outros feitos além dos
produtos que tem trazido de forma globalizada em benefícios sociais, culturais e econômicos.
Nesse contexto, estruturou-se os encaminhamentos para essa análise sob a ótica de três
subcategorias, a saber: (i) Educação para a Saúde, (ii) Público Alvo e (iii) Utilidade Social
Quanto à subcategoria “Educação para Saúde” foram geradas duas subcategorias: (i)
Campanhas de Vacinação e (ii) Calendário de Vacinação, onde se entendeu que esses textos
nos livros exaltam as várias ações sociais ocorridas nas décadas após as descobertas das vacinas
que tomaram proporção em âmbito nacional, como forma de mobilização e alerta da
necessidade de vacinação para prevenção de doenças sob a ótica de políticas públicas para
cuidado com saúde da população. Também foram detectados modelos de cartões de vacinação
e de calendários comuns que geralmente constam na organização e comunicação de postos de
saúde a serem seguidos e apresentados nos períodos de campanhas de vacinação, além de servir
como uma autogestão dos tipos de vacinas a serem tomadas por faixa etária ou situação de
saúde.

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 692
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

Quadro 4 - Descrição das Unidades de Significados do Bloco “Perfil da Função Social”

Bloco III: Para quê/quem se destinam as vacinas?

Categoria: Perfil da Função Social

Neste bloco de análise buscou-se discutir os trechos que se referiram as formas como o tema vacinas é
trabalhado para atender informações para a sociedade.

Subcategorias Unidades de Significados Citações (trechos ilustrativos)

“Antes da descoberta das vacinas e das


Educação para Campanhas de vacinação campanhas de vacinação, a poliomielite, a
Saúde Calendário de Vacinação catapora, [...], eram doenças muito comuns
na infância [...]”

“A vacinação é importante para grupos


Grupos Específicos alvos, como gestantes, idosos, crianças de
Público Alvo
População em geral seis meses a dois anos de idade e de
portadores de doenças crônicas [...]”
“Há vacinas, por exemplo, contra sarampo,
rubéola, caxumba, catapora, poliomielite,
raiva, gripe, febre amarela e certos tipos de
Utilidade Intervenção de Gestão Pública
hepatite que já estão controladas
Econômica/social Diminuição de Mortalidade
possibilitando qualidade de vida [...] os
cientistas estão sempre pesquisando contra
outras doenças [...]”
Fonte: Própria autora.

Sendo assim, no que tange às campanhas de vacinação revelou-se que todos os LDC
abordam algumas das ações de âmbito nacional realizadas nas duas últimas décadas,
principalmente relacionadas a variações de gripes que marcaram a história nacional. Também
foi verificada uma considerável alusão a Poliomielite, que é considerada um dos grandes
problemas que atingiram as pessoas na década de 50 a 70, ainda na fase infantil deixando
algumas gerações com sequelas marcantes na trajetória histórica da saúde infantil do país.
Percebeu-se ainda que o trato sobre as campanhas de vacinação nos LDC utiliza de
outras variações de comunicações para ilustrar a história marcante da função social das vacinas.
Exemplifica-se pelo LDC 4, onde constatou-se o discurso da importância da vacinação contra
a gripe, com exposição de comunicação ilustrativa na forma de cartazes coloridos (com cores
fortes e marcantes) contendo datas e informações para reforçar a abrangência e o porquê das
campanhas serem realizadas anualmente. Nessa mesma direção, os LDC 1, 3 e 5 apresentam
as campanhas contra a Poliomielite contendo cartazes e informações que esclarecem e
quantificam os benefícios da prevenção.

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 693
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

Com relação a calendário de vacinação, apenas o LDC 3 expõe um quadro específico,


ressaltando o nome da vacina, proteção, idade e suas doses necessárias, porém, não se
identificou um esquema vacinal atualizado que vem sendo utilizado atualmente no contexto dos
postos de saúde. Conclusão essa também mencionada na pesquisa de Succi, Wickbold e Succi
(2005), que analisou uma amostragem de 50 livros didáticos de Biologia, em São Paulo no ano
de 2002, onde apenas 30,3% dos exemplares analisados citavam o calendário básico de
vacinação. Entende-se que este item é algo que deveria ser trabalhado com maior foco, pois os
alunos poderiam assim conhecer sua situação vacinal de acordo com sua faixa etária.
Pontua-se que os LDC 1 e 5 mencionaram sobre a carteira/caderneta individual de
vacinação. Este instrumento é, segundo o Ministério da Saúde, um documento essencial para
os indivíduos, para tanto, é distribuído gratuitamente pelo Governo Federal onde seu objetivo
é acompanhar a saúde, crescimento e desenvolvimento da criança de 0 a 9 anos de idade
(BRASIL, 2014). Têm-se também as carteiras de adolescente, adultos, idosos e de gestantes.
Os LDC citados relatam em texto complementar a importância da sua utilização contemplando
a noção documental desse objeto.
Na subcategoria “Público alvo” analisou-se para quem se destinam as vacinas e a faixa
etária. Sendo assim, os textos enfatizam a utilização das vacinas como forma de prevenção de
doenças características por fases de desenvolvimento das pessoas. Nesse contexto, verificou-se
que o conteúdo sobre vacinas se destina a vários públicos, organizados como grupos específicos
e grupos em geral. Nos grupos específicos, todos os livros analisados se referenciaram
principalmente às crianças como foco principal dessa prevenção, seguidos dos idosos (70%).
Apenas 20% dos exemplares citam adultos, em particular quando se referem a período
gestacional (88%). Esses dados coincidem com o também diagnosticado no trabalho de Succi,
Wickbold e Succi (2005), quando destaca que apenas (21,2%) dos livros selecionados
informavam sobre a vacinação de outras faixas etárias que não a pediátrica.
Para a subcategoria “Utilidade Econômica/Social” considerou-se para análise todos os
trechos que direcionavam o tema vacinas para questões sociais e econômicas. Dessa forma, não
se verificou qualquer discurso explícito sobre a esfera do poder público na direção de políticas
para saúde, porém, existiram informações pontuais que se apresentaram como exemplificação
de vários tipos de doenças elencadas como já existentes no pais, e já “controladas” e estando
sob a atenção permanente de estudos para eventuais problemas se reaparecerem ou outros novos
problemas.

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 694
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

Outro trecho marcante se referiu a diminuição da taxa de mortalidade (em 80% dos
livros) como benefícios para a população decorrente dos resultados de campanhas informativas
para o atendimento do uso de vacinas. Constatou-se também que em alguns exemplares são
apresentados gráficos (20%) que comprovam a diminuição de casos de algumas doenças com
as campanhas de vacinação, e com isso a diminuição da mortalidade que muitas vezes é o
destino dos indivíduos acometidos por essas enfermidades. Essa informação retrata o que é
divulgado pelo Ministério da Saúde, através do Programa Nacional de Imunizações (PNI),
quando informa que o Brasil diminuiu em 77% a mortalidade das pessoas na fase da infância,
por conta da propagação das vacinas, exemplificando a de maior benefício que é a vacina de
Rotavírus Humano - causador mais frequente de diarreia aguda que é uma das principais causas
de morte infantil pelo mundo (BRASIL, 2014).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com relação à caracterização inicial dos livros didáticos, comprovou-se que o conteúdo
“Vacinas” é contemplado em todos os exemplares selecionados, assim como o assunto é
seccionado em capítulos pontuais. É marcante nessa análise que a vacinação é descrita como
principal ação preventiva destinada a população em geral, e que sua administração é de
responsabilidade de gestão pública. Sobre a abordagem histórica das vacinas nos LDC notou-
se que ainda é uma linha tímida que se encontra de forma fragmentada, sendo mais presente em
textos didáticos complementares de apoio ao conteúdo e isso é preocupante porque muitas das
vezes esses segmentos são desconsiderados no processo educativo.
De acordo com o primeiro bloco de análise” é no mínimo intrigante quando se percebe
que apenas um cientista é citado, entre tantos que contribuíram no processo das descobertas das
vacinas, e ainda, não é mencionado o movimento da metodologia científica comum para essa
temática, onde vários cientistas reuniram conhecimentos sobre esses assuntos em diferentes
períodos ao longo da história da ciência.
Na questão de humanização do personagem cientista, os textos se resumem a relatar
apenas nome, datas (nascimento e morte) e nacionalidade, sem contextualizar o momento
histórico de sua produção científica, de tal forma que as ideias são apenas mencionadas, sem
descrição do processo de construção do conhecimento e das influências da ciência e tecnologia
na sociedade e, que de certa forma, distancia o aluno da compreensão de cientista como pessoa
e da ciência como prática humana para a sociedade.

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 695
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

O segundo bloco de análise evidenciou que as informações, de modo geral, são


superficiais enfatizando principalmente a ação preventiva das vacinas, mas ainda assim, não
conceituando os termos de forma clara e específica. Algumas palavras são apresentadas com
explicações que direcionam um olhar para formalizar uma definição ou ideia da temática. A
atualidade dos conteúdos com relação às doenças e suas formas de prevenção ainda são rasas,
quando se observa pela ótica da potencialidade do assunto, altamente favorável à
contextualização e a percepção dos acontecimentos do aluno no seu dia a dia.
E por fim, o terceiro bloco de discussão demonstrou que os livros nos remetem a pensar
que as vacinas são mais importantes somente na infância ou para idosos, embora contenham,
mas ainda são poucos os autores que mencionam outras fases que também necessitam dessa
prevenção. Há também uma simplificação no calendário vacinal o que pode limitar o
conhecimento a respeito da situação em que cada aluno se encontra neste cenário.
Ressalta-se que as categorias que foram suscitadas e discutidas neste trabalho tiveram o
objetivo de levantar um olhar analítico para a forma de apresentação dos textos de temas
científicos destinados à educação para saúde presentes em material instrumental pedagógico
em sala de aula, na tentativa de subsidiar a escolha dos livros didáticos aos professores de
Ciências no sentido de saber tecnicamente como proceder na escolha de material instrucional
que tenha conteúdo efetivamente significativo para a compreensão e implementação de
assuntos que envolvam o tema saúde e as influências da história da ciência na e para a vida das
pessoas, pois, entende-se que é de suma importância que o estudante tenha informações sobre
como foram desenvolvidas/criadas e aplicadas historicamente os feitos que a evolução dos
estudos científicos trouxeram para a humanidade, independente de qual tenha sido sua
contribuição, criando assim um elo com o passado, gerando novas concepções entre as
diferentes realidades de um evento que certamente contribuem diariamente para o futuro de
nossa existência.
Segundo Penitente e Castro (2010) voltar o olhar para a história e filosofia da ciência
no percurso do processo de ensino e aprendizagem se faz necessário quando se entende que
nesse contexto pode-se gerar movimentos direcionados a “dar vida aos conteúdos, conceitos e
ideias trabalhadas pelo professor e pela professora, contextualizando tais saberes e
aproximando-os de aspectos da vida humana”. Nesse sentido, por considerar o tema trabalhado
nesta pesquisa como um norteador para um embasamento sócio educacional com foco na saúde
dos indivíduos e da sociedade como um todo, entende-se que ainda requerem melhorias dessas
temáticas nos livros didáticos, sugerindo-se assim inserções de conteúdos no sentido de

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 696
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

aproximação entre as pesquisas científicas e a aplicação dessas no cotidiano dos alunos e de


seus pares, bem como dinamização das proposições práticas na sala de aula e/ou no contexto
escolar como um todo para que de fato, o conteúdo leve a construção de conhecimentos que
contribuam a formação de cidadãos reflexivos, críticos e participativos.

REFERÊNCIAS
ALARCÃO, I. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 6 ed. São Paulo: Cortez,
2008. 102 p.

BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à


teoria e aos métodos. 12. ed. Portugal: Porto editora, 1994. 336 p.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros


Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 2002.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de Normas e


Procedimentos para Vacinação. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:


Ciências. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e
quarto ciclos: apresentação dos temas transversais/Secretaria de Educação Fundamental. –
Brasília: MEC/SEF, 1998.

CARNEIRO, M. H. S. As imagens no livro didático. In: MOREIRA, M. A. et al. (org.) Atas


do I Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências. Porto Alegre: Instituto de
Física da UFRGS, 1997, p. 366-373.

CHARLOT, B. Relações com o saber: formação dos professores e globalização. Porto


Alegre: Artmed. 2005.

CHASSOT, A. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. 2 ed. Ijuí:


Unijuí, 2002. 440p

FEIJÓ, B. R.; SÁFADI, P. A. M. Imunizações: três séculos de uma história de sucessos e


constantes desafios. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3 p.s1-s3, 2006.

FONTANA, R.T. A vigilância sanitária no contexto escolar: um relato de experiência.


Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 61, n.1, p. 131-4, 2008.

FERNANDES, T. M. Vacina Antivariólica: ciência, a técnica e o poder dos homens 1808-


1920. Rio de janeiro: Editora Fiocruz, 2010. 144 p. (Coleção História e Saúde).

FRISON, M. D.; VIANNA, J.; CHAVES, J. M.; BERNARDI, F. N. Livro didático como
instrumento de apoio para construção de propostas de ensino didáticos em ciências naturais.
In: VII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS,
Florianópolis, 2009.

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 697
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

GAGLIARDI, R.; GIORDAN, A. La Historia de las Ciencias: Una Herramienta para la


Enseñanza, Enseñanza de las Ciencias, v. 4, n. 3, p. 253-258, 1986.

HALMENSCHLAGER, R. K. Abordagem temática no Ensino de Ciências: algumas


possibilidades. Vivências. v.7, n.13, p.10-21, 2011.

HERMANN G. S. A varíola, uma antiga inimiga. Cadernos de Saúde Pública, v. 17, n. 6,


p.1525-1530, 2001.

IBGE (BRASIL). Cidades: Codó. Disponível em: <


https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ma/codo/panorama >. Acesso em 09 de março de 2018.

KRASILCHIK, M. Reformas e Realidade: O caso do Ensino das Ciências. São Paulo em


Perspectiva, n. 14, 2000.

LAJOLO, M. Livro didático: um (quase) manual de usuário. In: Revista Em Aberto Inep.
Brasília, DF, v16, n. 69, 1996. Disponível em www.publicacoes.inep.gov.br. Acesso em 12
dez. 2017.

LEÃO, M. M. D. Paradigmas Contemporâneos de educação: escola tradicional e escola


construtivista. Cadernos de Pesquisa, v. 1, n. 107, p. 187-206, 1999.

LOPES. M. B.; POLITO. R. “Para Uma História da vacina no Brasil”: um manuscrito inédito
de Norberto e Macedo. Fontes, v.14, n.2, p.595-605, 2007.

LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens Qualitativas. 3 ed.


São Paulo: EPU, 2013.

MARQUES, C.V.V.C.O. Perfil dos Cursos de Formação de Professores dos Programas


de Licenciatura em Química das Instituições Públicas de Ensino Superior da Região
Nordeste do Brasil. Orientador: Luiz Henrique Ferreira. 2010. 291 f. Tese (Doutorado em
Ciências) - Programa de Pós-Graduação em Química - UFSCar, São Carlos, 2010. Versão
impressa e eletrônica.

MATTHEWS, M. R. História, filosofia e ensino de ciências: a tendência atual de


reaproximação. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 12, n. 3, p. 164-214, 1995.

MOHR, A. Análise do Conteúdo de “Saúde” em livros didáticos. Ciência & Educação, v. 6,


n. 2, p. 89-106, 2000.

NASCIMENTO, F. et al. O Ensino de Ciências no Brasil: História, Formação de Professores


e desafios atuais. Revista HISTEDBR On-line, v.10, n.39, p. 225-249, set.2010.

NÚÑEZ, I. B.; RAMALHO, B. L.; SILVA, I. K. P.; CAMPOS, A. P. N. A seleção dos livros
didáticos: um saber necessário ao professor. O caso do ensino de ciências. OEI-Revista
Iberoamericana de Educación, 2003. p. 1-11. Disponível em <
http://www.rieoei.org/deloslectores/427Beltran.pdf>. Acesso em 10 dez. 2016.

OLIVEIRA, M.A.F.C.; BUENO, S.M.V. Comunicação educativa do enfermeiro na promoção


da saúde sexual escolar. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 5, n.
3, p.71-81, 1997.

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 698
Revista Prática Docente (RPD)
ISSN: 2526-2149

PENITENTE, L.A.A.; CASTRO, R.S. A História e Filosofia da Ciência: Contribuições para o


Ensino de Ciências e para a Formação de Professores. Revista Eletrônica Pesquiseduca, v.2,
n.4, p.231-244, jul.-dez 2010.

PEREIRA, A.L.F. As tendências pedagógicas e a prática educativa nas Ciências da Saúde.


Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.19, n.5, p.1527-1534, 2003.

QUEIROZ, T. L. S. Avaliação de propostas de experimentação em livros didáticos de


ciências de escolas públicas do ensino fundamental da cidade de Codó-MA. Trabalho de
Conclusão de Curso (Licenciatura em Ciências Naturais/Biologia) – Universidade Federal do
Maranhão, Codó, 2015.

PÁDUA, E.M.M. Metodologia da pesquisa: Abordagem Teórico-prática. 18 ed. São


Paulo: Papirus, 2016.

ROMANATTO, M. C. O Livro didático: alcances e limites. 2009. Disponível em:


<www.miltonborba.org/CD/Interdisciplinaridade/.../mr19-Mauro.doc>. Acesso em: 10 dez.
2016.

SAVIANI, D. Escola e democracia. 24 ed, São Paulo: Cortez, 1991.

SELBACH, S.; ANTUNES, C. Ciências e didática. Petrópolis: Vozes, 2010.

SOUZA, A.C.; LOPES, M.J.M. Implantação de uma ouvidoria em saúde escolar: relato de
experiência. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 23, n. 2, p. 123-141, 2002.

SUCCI, M. C.; WICKBOLD, D.; SUCCI, M. C. R. A vacinação no conteúdo de livros


escolares. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 2, n. 1, p. 75-79, 2005.

VASCONCELOS, S. D.; SOUTO, E. O livro didático de ciências no ensino fundamental –


proposta de critérios para análise do conteúdo zoológico. Ciência & Educação, São Paulo,
v.9, n.1, p.93-104, 2003.

VIDAL, P. H. O.; PORTO, P. A. História da ciência nos livros didáticos de química do


PNLEM 2007. Ciência & Educação, v. 18, n. 2, p. 291-308, 2012.

Recebido em: 30 de novembro de 2018.


Aprovado em: 15 de outubro de 2018.

Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Confresa


Revista Prática Docente. v. 3, n. 2, p. 681-699, jul/dez 2018. P á g i n a | 699

Você também pode gostar