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11/09/2019 A Educação Comunista

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A Educação Comunista
(Discursos e Artigos Escolhidos)

M. I. Kalínin
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág:
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.

Os Princípios Comunistas tomados em seu aspecto mais simples, são os


princípios de um homem altamente intruído, honrado e de vanguarda; e
esses princípio são: o amor à Pátria Socialista, a amizade, a
camaradagem, o sentimento humano, a honradez, o carinho pelo
trabalho socialista e uma série de outras elevadas qualidades fáceis de
compreender para qualquer pessoa. A educação, o cultivo destas
virtudes, destas elevadas qualidades, é a parte mais importante da
Educação Comunista.
M. I. Kalínin

Índice

Discurso no VII Congresso da União das


Juventudes Comunistas-Leninistas da URSS
O Estudo e a Vida
Sede Homens de Ampla Cultura
Do Artigo "A Senda Gloriosa do Komsomol"
Discurso na Conferência de Professores
Destacados das Escolas Urbanas e Rurais
Convocada pela Redação da Utchítelskaia
Gazeta (Jornal do Professor)
Discurso na Solenidade em Honra dos
Professores Rurais Condecorados
Discurso na Conferência de Alunos da Oitava, Nona e Décima
Classes das Escolas Intermediárias Completas do Distrito Bauman
de Moscou
Discurso na Reunião do Comitê Central da União das Juventudes
Comunistas da URSS com os Secretários dos Comitês Regionais do
Komsomol Encarregados do Trabalho entre os Escolares e os
Pioneiros
Sobre a Educação Comunista
Discurso na Reunião de Alunos da Oitava, Nona e Décima Classes
das Escolas Intermediárias do Distrito Lênin de Moscou
Tudo para Derrotrar o Inimigo
Discurso na Conferência dos Secretários das Organizações Rurais

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do Komsomol da Região de Moscou


Algumas Questões do Trabalho de Massas do Partido
Algumas Questões Relacionadas com a Agitação e a Propaganda
Tarefas Combativas do Komsomol nos Kolkhozes
Entrevista com os Dirigentes das Reservas de Mão de Obra do
Estado e das Organizações do Komsomol das Escolas Profissionais,
Ferroviárias e de Aprendizagem Industrial
Discurso na Reunião Comemorativa do XXV Aniversário da Grande
Revolução Socialista de Outubro Celebrada pelos Alunos e pelo
Pessoal das Escolas Profissionais, Ferroviárias e de Aprendizagem
Industrial da Cidade de Moscou
Prefácio ao Livro "O Komsomol na Luta em Defesa da Pátria"
A Palavra do Agitador na Frente
Uma Unida Família Combativa
Combatente Auxiliar do Partido Bolchevique
Algumas Palavras Sobre a Propaganda e a Agitação
Do Artigo "O Poderio do Estado Soviético"
Algumas Observações sobre a Educação do Soldado Komsomol
A Fisionomia Moral do Nosso Povo
Discurso no Ato de Entrega de Condecorações aos Jornais
"Komsomolskaia Pravda" e "Pionérskaia Pravda"
Cumpre Basear o Trabalho do Komsomol na Organização e na
Cultura
Filhas Gloriosas do Povo Soviético
O Ensino dos Fundamentos do Marxismo-Leninismo nas Escolas
Superiores
Discurso na Reunião Solene da XIV Sessão Plenária do Comitê
Central do Komsomol da URSS

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Inclusão 11/10/2012
Última atualização 02/07/2013

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Discurso no VII Congresso da


União das Juventudes
Comunistas-Leninistas da URSS
(Komsomol)

M. I. Kalinin

11 de Março de 1926

Primeira Edição: Atas taquigráficas do VII Congresso do Komsomol, págs. 15/18, ed. 1926.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 9-15.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Tereis observado que tanto o C.C. do Partido como o


nosso Poder Soviético prestam ao Congresso do Komsomol
uma atenção maior que a qualquer dos outros congressos. A
que se deve isto? A causa principal, está claro, é que nas
fileiras do Komsomol se desenvolve a riqueza principal de
nosso país. O Komsomol nos proporcionará os destacamentos
que mais tarde hão de substituir os velhos lutadores pelo
socialismo. O Komsomol é o destacamento de vanguarda da
juventude proletária e camponesa, é sua flor e nata.

Em consonância com isso, parece-me que no Komsomol devem crescer e


desenvolver-se em grande escala as aspirações e os ideais que mais caracterizam
a juventude.

O que é mais próprio da mocidade, da juventude? O que é que distingue o


Komsomol do homem culto comum e corrente, de mim, digamos por exemplo?
Naturalmente, no aspecto externo eu me diferencio de vós por possuir uma barba
encanecida. Mas isto é só uma diferença externa. Se existissem somente
diferenças externas, não haveria necessidade de uma organização juvenil especial.
O Komsomol se distingue, além disso, por suas peculiares qualidades espirituais.

A primeira qualidade, que distingue particularmente o Komsomol, é sua


especial e excepcional impressionabilidade. Vós, komsomóis, não vos dais conta
disso, de modo cabal, mas nós, os adultos, quando recordamos o passado,
sabemos que as recordações de nossa época juvenil são muito mais vivas que as

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demais. Para o homem adulto, os acontecimentos que se desenrolam na idade


madura se esfumam da memória com mais rapidez do que os que o
impressionaram nos anos da juventude. Que significa isto? Significa que a idade
juvenil é a mais impressionável.

Por isso, deve ser diferente nossa tática em relação ao Komsomol. Tomemos,
por exemplo, o problema da agitação comunista. A dose admissível para um adulto
resulta perigosa para um jovem, pela razão de que uma mesma dose produz uma
impressão distinta, provoca diferentes reações interiores no homem adulto e no
Komsomol. Partindo desta premissa, pode-se tirar toda uma série de conclusões
práticas no que se refere à propaganda e à agitação entre a juventude comunista.

A particularidade da idade juvenil está no veemente anelo pelas emoções


ideais, que abriga em seu íntimo. A juventude sempre aspira ao sacrifício pessoal:
o jovem sempre sonha percorrer o mundo todo a pé, tornar-se marujo, ser
capitão, descobrir novas terras e outras coisas desse estilo. E isto é natural,
camaradas. Eu não sei o que teria ocorrido aos demais, mas no que a mim se
refere, essas fantasias ferviam em minha mente mais ou menos até os 18 anos.
Não creio que a juventude atual seja diferente neste aspecto. Não creio que esse
afã do maravilhoso, que essas aspirações a converter-se em herói legendário, a
realizar grandes façanhas em benefício do povo, tanto no terreno da ciência como
em outros terrenos, não creio que todas essas qualidades não sejam também
próprias da juventude atual.

Há mais. A juventude em sua maior parte é extraordinariamente sincera e


franca. Por muito sincero e franco que seja o homem em sua idade madura, a
experiência da vida e as sacudidas práticas que desta recebeu vão desalojando
consideravelmente essas impetuosas aspirações juvenis à verdade e à franqueza.

Assinalei somente alguns dos traços que distinguem os jovens dos adultos.
Parece-me que são os fundamentais e não vou deter-me em outros. Mas, por si
mesmos, têm esses traços algum valor para o homem? Sem dúvida alguma. Se
essas qualidades não tivessem por si mesmas um valor especial e extraordinário
para o homem, não duvido de que uma grande parte da beleza espiritual da
juventude talvez perdesse a sua louçania.

E por isso nós, e particularmente os dirigentes das organizações do Komsomol,


e o Partido, que é quem traça a linha do trabalho do Komsomol e o orienta,
pensamos que não se deve afogar essas qualidades especiais da juventude. Pelo
contrário, é preciso mantê-las, fomentá-las, e na base dessas qualidades educar
um homem novo e mais perfeito. Claro que é muito fácil dizer “educar”, mas,
naturalmente, na prática, toma-se muito difícil chegar a formar um homem.

... Muitos têm a ideia errônea de que quando os jovens estão ocupados com
suas obrigações de Komsomol, isso já constitui o desenvolvimento, a formação da
pessoa. E essas obrigações de Komsomol consistem principalmente no estudo
político, no estudo do marxismo, numa palavra, no estudo dos problemas sociais.

Parece-me falso um conceito tão estreito dos problemas do desenvolvimento e


da formação do homem. Recordo como, antigamente, nos desenvolvíamos como
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marxistas: estudávamos não só à base dos livros especificamente marxistas — a


propósito, é preciso dizer que estes eram então muito mais escassos: hoje em dia,
somente o curso político de Bérdnikov e Svetlov já é um livro de bom tamanho —,
ao passo que naquele tempo só existiam o Programa de Erfurt e o “Manifesto
Comunista”. Assim, pois — refiro-me aos círculos clandestinos de estudo — ao
mesmo tempo que aprendíamos os fundamentos do marxismo, seguíamos um
curso de cultura geral, começando pelos clássicos da literatura, da história e da
crítica russa; numa palavra, estudávamos todo o conjunto da sabedoria encerrada
nos livros. Por um lado, trabalhávamos na fábrica e, por outro, desenvolvíamos
nossos conhecimentos no campo da literatura, da ciência, etc.

Considero, por exemplo, que se o cumprimento das obrigações de Komsomol


em nossas escolas vai dificultar o estudo da matemática — e refiro-me
deliberadamente à matemática, já que é a matéria que mais se distingue do
estudo político — se nossos estudos políticos vão substituir a matemática, as
ciências naturais, então cometeremos um erro Neste caso, um Komsomol que
tivesse lido alguns livros de política não seria mais que um homem desenvolvido
exteriormente. Em uma conversação sobre qualquer matéria, poderá expor
algumas opiniões, terá uma cultura e um brilho aparentes, mas não poderemos
dizer que seja um homem culto e desenvolvido. Quando vos encontrardes com um
camarada assim, a princípio ele vos causará uma impressão muito boa. Mas
conversai com ele durante algumas horas e vos convencereis de que sua cultura
política não tem base, vereis que, no que se refere às ciências naturais, não possui
os conhecimentos que são comuns ao homem que terminou a escola intermediária
ou a de primeiro e segundo grau. E é por essa razão, ao que me parece, que a
organização do Komsomol deve contribuir para transformar os jovens em homens
que possuam não somente uma instrução política; é necessário que a cultura
política se apoie naqueles ramos da instrução social e da ciência, que se
consideram como atributo indispensável do homem mais ou menos desenvolvido,
para que esse desenvolvimento e essa ciência não caiam no esquecimento.

Em certa ocasião, na Academia Militar Lobatchevski, dizia eu que estudar o


marxismo não significa só ler Marx, Engels e Lênin; podereis estudar suas obras de
cabo a rabo, pode-reis repetir textualmente estas ou outras ideias; não obstante,
isso não quer dizer que tenhais aprendido. Aprender o marxismo significa saber
abordar, uma vez dominado o método marxista, todos os restantes problemas
ligados a vosso trabalho. Se fordes trabalhar, suponhamos por exemplo, na
agricultura, servirá do algo saber utilizar o método marxista? Claro que servirá.
Mas, para poder aplicar o método marxista, devereis estudar também a
agricultura, tereis que ser especialistas em matéria agrícola. Sem isso, a aplicação
do marxismo na agricultura é coisa morta. Isso é o que não deveis esquecer, se
quiserdes aplicar praticamente o marxismo, se desejardes ser lutadores e não
simples exegetas do marxismo. Mas, que significa ser marxista? Significa saber
adotar uma linha acertada. E para adotar uma linha marxista acertada é preciso
ser um excelente especialista no ramo em que se trabalha.

Esta tese geral é integralmente aplicável a todos os membros do Komsomol,


começando pelos estudantes e terminando pelos que trabalham na agricultura e os
aprendizes das fábricas. Na fábrica, cada Komsomol, para ser um bom ajustador,
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que saiba aplicar praticamente seus conhecimentos e que saiba abordar cada
tarefa da maneira mais acertada e conveniente, deve pensar de antemão na forma
de iniciar seu trabalho. Quem começa seu trabalho sem um plano, trabalha mal, e
como resultado produz; um artigo de baixa qualidade. Pelo que foi dito acima,
compreendereis que a organização do Komsomol deve incutir em seus filiados a
convicção de que sua tarefa fundamental consiste em conhecerem com perfeição a
especialidade a que se dedicam, em chegarem a ser tão bons mestres como seus
instrutores. Esse conhecimento da especialidade não só proporciona uma
segurança material, mas também permite desenvolver com mais amplitude no
futuro as particularidades individuais. Se o torneiro ou o ajustador trabalham mal,
ver-se-ão presos a seu local de trabalho, pois é muito difícil ao mau operário
encontrar outra colocação; mas, para o Komsomol, é muito difícil trabalhar
durante muito tempo num mesmo lugar, uma vez que seu desejo é o de correr
mundo. E se se deseja correr mundo, é preciso ser um ajustador ou um torneiro
tão bom que, depois da primeira prova, seja admitido em qualquer parte onde
chegue.

Como resumo, uma pequena lição de moral. Observei que nossos jovens têm
uma atitude pouco séria em relação aos mestres instrutores. Eu gostaria muito de
que nossa juventude lesse os filósofos da antiguidade. Assim veriam com que
atenção e respeito os discípulos tratavam seus mestres. Para aprender a trabalhar
bem é preciso apaixonar-se sinceramente pelo trabalho; sem essa paixão não é
possível aprender a trabalhar. O aprendiz de ajustador, por exemplo, deve deixar
de lado todos os aspectos negativos de seu mestre e dele aprender os
conhecimentos de sua especialidade. Vós mesmos compreendereis que um velho
de 60 anos pode ter muitas coisas ridículas do ponto de vista da juventude, mas
se reparardes unicamente nisso, escapar-vos-á o mais importante. O que deveis
fazer é absorver dele os conhecimentos de seu ofício.

A União Soviética deposita todas as suas esperanças na organização do


Komsomol. De seus êxitos, da assimilação por ela das conquistas que possuímos,
dependerão nossos êxitos futuros. Por isso, é inteiramente compreensível que, se
o Komsomol prestar pouca atenção a essas tarefas fundamentais, não poderemos
cumprir nossa missão e perderemos toda uma série de especializações muito
valiosas, sem ter podido transmiti-las por completo ao Komsomol. Eu desejaria
que vós mesmos meditásseis a fundo sobre estas diversas teses, sobre todas estas
questões, que acabo de expor de forma resumida.

Se a juventude abordar com acerto estes problemas, então uma grande parte
dos aspectos negativos sobre os quais acabo de falar desaparecerá por si mesma.
Pois a vida é demasiado interessante e são muitas as coisas dignas de que a gente
se apaixone por elas. Tão somente, é preciso fazer com que a juventude se
apaixone pelo que tem verdadeiro valor e serve para desenvolver o homem em
todos os aspectos.

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Inclusão 11/10/2012

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O Estudo e a Vida
M. I. Kalinin

30 de Maio de 1926

Primeira Edição: Do discurso pronunciado na colação de Grau dos estudantes da Universidade


Sverdlov. “Izvéstia”, (“As Notícias’’), 27 de junho de 1926.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 16-21.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

O Trabalho Revolucionário e a Escola Teórica

Na atualidade, atravessamos um período sumamente


complexo. Cada ano nossa vida se complica mais e mais. Em
nossa edificação soviética são necessárias forças cada vez
mais qualificadas. Agora, já se torna sumamente difícil
abordar dum modo primário os problemas sociais. Pelo
contrário, a dialética marxista nos ensina que o que ontem
era negro, hoje se tornou branco. E o que ontem era
vermelho, hoje se tomou branco. Em cada ocasião, é necessário saber focalizar de
forma profunda, marxista, cada problema social. É necessário saber abarcar o
objeto em seu conjunto e ao mesmo tempo saber analisar todo o seu conteúdo
interno. Compreende-se que para abarcar o objeto em seu conjunto e analisar-lhe
o conteúdo, torna-se necessário possuir previamente uma ampla preparação
marxista. E essa preparação marxista será tanto mais necessária quando a pessoa
não tenha realizado antes um grande trabalho prático.

Assim, pois, agora, tanto a edificação soviética como o trabalho do Partido


estão profundamente necessitados de trabalhadores muito qualificados. Nossa
União Soviética, pela educação política, pela atividade politica das massas e pelo
seu profundo espírito político, está, diria eu, certamente mais adiantada do que
todos os países europeus e de outros continentes. Isto é algo de que não cabe
duvidar, mas o auge da atividade política não basta por si só para uma edificação
sistemática, regular e de enormes proporções.

É indubitável que nossa tarefa deve ser a seguinte: utilizar a atividade das
massas e seu desejo de orientar-se na política num sentido cultural e de partido.
Nos momentos de ascensão como ocorre agora com a greve inglesa, cada

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operário, que ontem era um homem comum e corrente, transforma-se em herói


que luta pelos interesses operários; e o entusiasmo das massas vai criando cada
vez novos heróis na luta pelos interesses dessas massas. Mas, camaradas, o ritmo
do movimento progressivo nem sempre é rápido. Com grande frequência temos
que retroceder e nos anos comuns, o habitual trabalho de cada dia ocupa os 99%
da vida da pessoa. O que é mais apreciado num dirigente do Partido é que saiba
trabalhar com entusiasmo na situação comum e corrente de cada dia, que saiba ir
vencendo dia a dia um obstáculo após outro, que os obstáculos que a vida prática
coloca diante dele a cada dia e a cada hora não possam extinguir-lhe o
entusiasmo, que esses prosaicos obstáculos de cada dia desenvolvam e revigorem
sua energia, que saiba ver nesse trabalho diário os objetivos finais e nunca perca
de vista esses objetivos finais pelos quais luta o comunismo.

O Partido, nosso Estado-Maior — no mais amplo sentido da palavra — no qual


também vós ides trabalhar, não deve esquecer em seu trabalho cotidiano esses
objetivos finais. E sejam da natureza que forem os obstáculos que encontre em
seu caminho, sabe ele firmemente que se esses obstáculos não são vencidos hoje,
sê-lo-ão amanhã. E é necessário que no trabalho prático diário e com exemplos
concretos, saiba transmitir e inculcar na consciência das amplas massas de
camponeses e operários sem partido essa sua profunda convicção da vitória final
do comunismo. O operário (e o mesmo sucede convosco, vossos professores e
dirigentes) só aprecia o dirigente que se inflama com as massas que, inflamando-
se ele mesmo, inculca esse ardor à consciência da massa no seio da qual atua. Por
isso, camaradas, para trabalhar no Partido, onde o próprio trabalho adquire um
certo grau de heroísmo, para encontrar alegria nesse trabalho e achar interesse
nele, cumpre estar profundamente convencido da beleza e da razão dos princípios
pelos quais lutamos. E quem pode estar mais convencido da razão desses
princípios e dessas ideias que o marxismo ensina, senão aqueles que o estudaram
durante três anos?...

O Marxismo e sua Aplicação

Ser marxista não significa somente ler e nem sequer estudar Lênin, Marx,
Engels e Plekhánov. É certo que para conhecer o marxismo basta ler esses quatro
autores. Mas uma coisa é conhecer o marxismo e outra saber aplicá-lo cada dia,
cada hora, nas situações mais diversas, especiais e inusitadas. O conhecimento
textual do marxismo, conhecer Marx ao pé da letra, não significa ainda que a
pessoa seja capaz de abordar cada problema sob o ponto de vista marxista. Se,
para ser marxista, bastasse a cada pessoa familiarizar-se com as obras de Marx,
Engels, Lênin e Plekhánov, estudá-las mesmo que fosse um pouco, poderíamos
fabricar marxistas como tortas. Por muito difícil que seja estudar a fundo os quatro
colossos marxistas, isto se pode conseguir dedicando-lhe certo tempo. Acaso não
existem numerosos funcionários de nosso Partido que conhecem Marx na ponta da
língua?

O marxismo — seu método, sua concepção — não se domina somente


estudando as obras dos autores acima enumerados, mas também na marcha
histórica dos acontecimentos. O marxismo se comprova realmente na prática. Não

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fizestes mais do que dominar o método marxista (se é que o conseguistes; a meu
ver ainda não o dominastes completamente), mas vos encontrais na mesma
situação que um militar que termina a Academia de Estado-Maior. É certo que a
maior parte dos chefes militares que existem no mundo procede das academias,
mas não se pode dizer que cada militar que tenha terminado a academia seja um
grande chefe. Em nosso exército revolucionário as altas patentes não são
acadêmicos Que significa isto? Que o marxismo é uma das ciências mais vivas e
não uma teoria abstrata. Quando se lê o primeiro tomo de “O Capital” de Marx, a
gente se encontra em plena abstração. E posto que lestes — ao menos por
obrigação — o primeiro tomo de “O Capital” de Marx, tereis sentido essa
impressão. E ao encontrar-vos sob o domínio da abstração deveis ter pensado em
como poder aplicar essa teoria na prática. Essa abstrata teoria é ao mesmo tempo
a mais viva, a teoria que mais se estuda no trabalho prático de cada dia.

O Marxismo e o Trabalho Criador

Para ser marxista é preciso impregnar a teoria de vida, é preciso vincular o


trabalho cotidiano à teoria. Ser marxista é ser criador.

E que quer dizer ser criador? Que diferença há entre o artesão e o criador? A
mesma que existe entre um artista e um pintor vulgar. Tomai, por exemplo, os
ícones dos pintores Vladímir ou de Súsdal. Todos se parecem entre si; em nenhum
deles achareis um rosto animado... Muito diferente é a obra do artista criador.
Quando este trabalha põe toda a sua alma, mesmo que seja no trabalho mais
simples, mesmo que não faça mais do que tecer alpargatas. O artesão pode ser
um magnífico artista quando põe toda a sua alma no trabalho. E por sua vez, o
artista pode ser um artesão, quando não faz mais do que besuntar, quando não
põe a alma em seu trabalho. E o marxismo, quando não se põe alma no que se
faz, quando não se realiza um trabalho criador, quando não se toma realmente em
conta o que sucede em cada momento, se converte num quase-marxismo. Se ides
aplicar, nos lugares onde atuareis, o que aprendestes, de modo escolástico, em
forma estereotipada, não sereis mais do que uns artesãos do leninismo. Nunca
conseguireis arrastar as massas e a aplicação que façais do método marxista será
errônea. O método marxista se emprega com acerto, quando, ao mesmo tempo
que trabalhamos com a teoria de Marx, estudamos o fenômeno que nos ocupa. E a
decisão que tomemos será em cada caso uma decisão nova. Se hoje resolvemos
um problema de uma forma, esse mesmo problema teremos que resolvê-lo
amanhã de outro modo, pois amanhã a situação será diferente. As situações
mudam sem cessar. A História marcha. A História não está parada, mas se move
eternamente para a frente. E o marxismo deve avançar constantemente junto com
o movimento histórico. O marxista deve saber orientar-se com precisão. Por muito
simples que seja seu trabalho, a mente do marxista deve mover-se, estudar e
criar sem descanso. Vós, camaradas, acabais de terminar um curso trienal de
marxismo. É completamente natural que todos vos encontreis no melhor estado de
ânimo possível, dispostos a fazer com que vosso trabalho renda o máximo
resultado. Pois, que melhor recompensa para o homem do que a convicção de
haver contribuído com algo para a sociedade! Não existe recompensa melhor! Por

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mais formosas que sejam as ilusões que tenhais, a satisfação maior que podeis
receber é a de saber que sois úteis. Essa convicção satisfaz plenamente o homem.

Entretanto, a juventude não pode ter passado pela experiência prática da vida,
pela experiência política da luta revolucionária, pela experiência da luta entre as
classes, pela experiência de direção, de conquista das massas. A juventude não
possui essa experiência.

Desejaria que tivésseis essa convicção, a convicção de que para dirigir as


massas é preciso inflamar-se, de que se alguém se apresenta ante um auditório
sem sentir-se emocionado, com vontade de dormir, é indubitável que o auditório
sintonizará com esse estado de ânimo. Digo-vos com franqueza que não há nada
mais sensível do que o auditório; este é o barômetro mais sensível. Podeis falar da
tribuna com uma linguagem balbuciante, mas se vos sentis emocionados, se os
problemas que levantais têm importância e se na tribuna resolveis um problema, a
massa também se sentirá inflamada. O que é que isto significa? Isto significa que
para ganhar as massas é preciso inflamar-se com elas.

Do Trabalho Entre as Massas

E por último, camaradas, um pequeno preceito para terminar. Não cabe dúvida
de que constituis e sereis uma fôrça cultural nos lugares onde vos encontrardes.

Agora, nossa União Soviética é grande, nosso Partido começa já a passar do


milhão e nesse Partido numeroso, como em todo o nosso país, a cultura é ainda
muito débil. Por isso, quando começardes a trabalhar, jamais deveis alardear ante
as massas vossa instrução. Não o façais nunca. Nesse sentido a massa é muito
sensível. Só se pode falar às massas quando se fala aberta, francamente, e com a
ideia de que se trata de pessoas de tanto senso comum como nós e que podem
resolver um problema com a mesma sensatez que o próprio informante e autor.

Estas são as poucas palavras que considerei oportuno expor no dia em que vos
despedis de vossa vida de estudo. . .

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Inclusão 13/10/2012

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Sede Homens de Ampla Cultura


M. I. Kalinin

24 de Maio de 1934

Primeira Edição: "Komsomólskaia Pravda", ("A Pravda do Komsomol"), 24 de maio de 1934. Do


discurso pronunciado durante a conferência do Ativo do Komsomol de Dniepropetrovsk.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 22-30.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Nós apreciamos os jovens do Komsomol não só porque,


como dizem os pioneiros, são os “herdeiros” dos velhos
bolcheviques, mas também porque esses “herdeiros” tomam
parte ativa na edificação, porque são uma fôrça ativa e
criadora do país. Isto, como é natural, implica numa grande
responsabilidade para o Komsomol leninista. E a primeira
obrigação de cada organização do Komsomol, como em geral
a de qualquer organização, deve ser a de saber orientar e
utilizar suas forças da maneira mais adequada e que renda os
melhores resultados.

Nem sempre é bom o chefe que lança todas as suas forças ao combate de uma
vez. Nem sempre essa forma de combater é adequada. Será um bom chefe aquele
que saiba conservar melhor a energia de seus combatentes para a batalha
decisiva. Em certa ocasião, o camarada Budiónni indicava acertadamente o erro
cometido por um chefe militar branco durante a Guerra Civil. Ambos conduziam
suas unidades por itinerários paralelos através das estepes da região do Azov.
Budiónni conduzia suas tropas por lugares habitados, onde os soldados vermelhos
podiam dormir à noite e os cavalos alimentar-se; ao contrário, o exército inimigo
avançava através de uma estepe nua e arrasada. Assim, cobriram mais de 200
quilômetros. As tropas de Budiónni chegaram com um bom moral e em boas
condições de combater. O inimigo, ao contrário, esgotara-se na marcha sendo
destroçado pelo camarada Budiónni. Quero dizer com isto que cada organizador
deve saber organizar seu trabalho como é devido, calcular e pesar a seu devido
tempo todas as circunstâncias e só em caso de necessidade lançar à ação toda a
fôrça material, toda a fôrça da organização completa. Essas qualidades
bolcheviques eram dominadas com perfeição pelo camarada Lênin e são
dominadas com perfeição pelo camarada Stálin. Também os jovens do Komsomol
devem aprender a dominá-las, reajustando seu trabalho de tal forma que lhes
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permita conhecer a cada Komsomol, saber o que é que se pode exigir e que ajuda
se lhe pode e se lhe deve prestar, em que trabalho pode dar melhor resultado.

Eis um exemplo: entre os jovens do Komsomol há uma grande quantidade de


estudantes de universidade e de escolas técnicas superiores e intermediárias.
Estes, com frequência, estão sobrecarregados de trabalho. E se os estudantes não
organizam bem seu regime de estudo, de trabalho social e de descanso, resultará
que ao terminar o curso superior alguns deles terão perdido a saúde. Um terá o
figado doente, outro adoecerá rapidamente dos rins e um terceiro terá um
estômago que não digerirá bem. Quem deve, pois, preocupar-se com a
organização racional da vida de nossos estudantes? Quem responde, em primeiro
lugar, ante o Partido, por esses quadros? O Komsomol! Este é um assunto de sua
incumbência, é ele quem deve olhar por isto, é ele quem deve realizar um trabalho
diário nas escolas, começando pela primária e acabando na superior. É ele quem
deve ajudar no indispensável cumprimento das diretivas correspondentes do
Governo e a organizar melhor o estudo e o regime de vida dos que estudam.

Nosso Estado proletário, dedicado ao trabalho criador socialista, encontra-se


dentro de um cerco capitalista. Isto significa que estamos expostos
constantemente ao perigo de um possível ataque do inimigo. Não devemos
esquecer isto nem um só instante em nosso trabalho pacífico de cada dia. Todos
nós devemos estar sempre alertados, devemos estar sempre no posto de combate.

De quem se comporá no fundamental nosso exército em caso de guerra? De


jovens do Komsomol em parte muto considerável. Por isso, são sobretudo os
komsomóis que devem estar de olho vivo, devem recordar a cada momento que,
em caso de ataque inimigo, dirigidos pelos comunistas e lado a lado com eles,
deverão suportar o primeiro golpe. E como é sabido, os primeiros golpes do
inimigo são mais encarniçados. Isto obriga os komsomóis e a juventude operária
dirigida por eles a estudar com consciência o manejo das armas. O camarada
Vorochílov levantou diante do Komsomol tarefas concretas e precisas no terreno
militar. Essas tarefas são conhecidas, é preciso cumpri-las, sendo desnecessário
insistir sobre elas.

Mas aqui é preciso mencionar um setor de importância do trabalho do


Komsomol como é o da educação física. O esporte é uma boa coisa, pois fortalece
o homem. Mas o esporte é algo auxiliar e não se deve praticar o esporte pelo
esporte em si, convertê-lo em exclusivo recordismo. Nós queremos desenvolver o
homem em todos os aspectos, para que saiba correr bem, nadar, marchar com
rapidez e galhardia, para que todos os seus órgãos se encontrem em bom estado,
numa palavra, para que seja uma pessoa normal e sã, apta para o trabalho e a
defesa, para que paralelamente a todas essas qualidades físicas se desenvolvam
também, como é devido, suas qualidades mentais.

Visitei com o camarada Vorochílov várias escolas militares e vi que ele


prestava particular atenção a essas questões. Dizia o camarada Vorochílov que é
preciso evitar o recordismo e que não devemos nos dedicar ao esporte pelo
esporte; o esporte deve subordinar-se às tarefas gerais da educação comunista.
Pois o que nós procuramos desenvolver e preparar não são simples desportistas,

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mas cidadãos da edificação soviética, os quais não só devem possuir braços fortes
e um bom aparelho digestivo, mas também, em primeiro lugar, um amplo
horizonte político e capacidade de organização. Por isso, ao alistar no movimento
da cultura física novos milhões de jovens trabalhadores, ao elevar nosso esporte a
um grau superior, o Komsomol deve imprimir a nossos desportistas uma
fisionomia política e social bem definida.

Eu quisera que os jovens do Komsomol me compreendessem bem, que não


pensassem que minha intenção é a de refrear seus impulsos, que
compreendessem toda a importância que tem uma acertada organização
bolchevique em qualquer setor de nossa vida e de nosso trabalho.

Quero dizer, em particular, umas quantas palavras sobre o companheirismo


entre a juventude. Durante os anos juvenis, o homem se sente muito mais
predisposto à amizade e à ajuda coletiva aos camaradas. Rara vez um jovem
abandonará o camarada que se encontra em situação difícil. Em cada cem casos
podem ocorrer dois ou três em que tal aconteça. Esses sentimentos adquirem uma
importância extraordinária no combate. A segurança plena na firmeza do
companheiro ao lado eleva consideravelmente as qualidades combativas de uma
unidade. E o fogo do inimigo não provoca nenhum pânico ou, em todo o caso, o
pânico é menor. Esses sentimentos unem estreitamente e disciplinam os
combatentes. O companheirismo, a amizade de classe, devem ser fomentados por
todos os meios entre a juventude. Esta é uma das qualidades mais socialistas,
imprescindíveis em todas as partes e em particular na luta de classes.

Muitos se acostumaram a compreender o companheirismo como simples


palavra; mas se esse sentimento se desenvolve acertadamente, se se procura
fazer com que os komsomóis e a juventude sem partido, que os camaradas e
amigos compartilhem suas alegrias na produção, superem juntos as dificuldades,
assimilem juntos a técnica, ajudando-se de verdade uns aos outros, passem juntos
seus momentos de ócio, dedicando-se à cultura física e ao desporte, etc., teremos
no companheirismo um excelente e fecundo complemento de emulação socialista.

Nossos komsomóis vivem numa época que não pode ser melhor, e de
extraordinário interesse. No transcurso de toda a história da sociedade humana
nem uma só geração juvenil viveu uma época como esta.

Em verdade, nos tempos em que não se realizavam transformações históricas


de grande envergadura, a gente podia viver até os setenta anos sem avançar além
do mínimo possível: na vida não havia grandes mudanças e o homem morria de
velho na mesma casa em que tinha nascido.

Mas agora, nós e nossa juventude vivemos num período de grandiosas


revoluções históricas. Ante nossos olhos subsistem ainda Estados com fortes
sobrevivências feudais e, ao mesmo tempo, no que foi outrora o país mais bárbaro
da Europa, o mais antigo cárcere de povos, na Rússia, marcha a toda velocidade a
edificação socialista.

Em que época da história existiu um período mais interessante? Quando houve


mais heroísmo e mais dramaticidade do que em nossos tempos?
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Inclusive no período da Revolução Francesa, tão rico em acontecimentos e


comoções, não houve tanto heroísmo nem tanta dramaticidade. E, naturalmente,
não se pode compará-la à nossa Revolução. Aquela foi uma revolução que, embora
progressista para seu tempo, era burguesa. A nossa, a socialista, é uma revolução
que ao lutar pela primeira vez na História pelos interesses da classe mais
avançada, da classe mais progressista que já existiu na História, o proletariado,
luta ao mesmo tempo pelos interesses de toda a humanidade trabalhadora.
Recomendo com particular interesse a nossos komsomóis, a nossa juventude, que
leiam “O Albatroz”, de Gorki. Essa obra reflete perfeitamente o afã revolucionário
dos homens de vanguarda da velha Rússia.

Quem quer viver para o trabalho socialista, cria, modifica a vida, luta, destrói o
velho, constrói o novo. E nossa realidade soviética permite a cada trabalhador, a
cada jovem operário e kolkhoziano revelar e desenvolver do modo mais efetivo
todas as suas capacidades e aptidões. Compreende-se que não tenha existido na
história da humanidade outro período tão interessante como este, já que antes da
Revolução de Outubro só existia a luta pelo pedaço de pão, quando um punhado
de ricos exercia o domínio sobre milhões de trabalhadores.

Não há dúvida de que dentro de certo tempo, e na base de nossa luta e da


transformação que se realiza em nosso país, criar-se-ão obras artísticas
admiráveis. Não resta dúvida de que as grandes obras de nossa realidade
revolucionária constituirão temas magníficos para os artistas. E viver numa época
tal é realmente uma grande sorte. Apesar de contar 58 anos, considero-me
extraordinariamente feliz por me haver tocado viver neste período. Sabemos que o
comunismo será uma realidade, que a vida será bela e interessante, mas o melhor
momento é aquele em que se verifica a luta de classes, quando a gente mesmo
participa dessa luta e sabe que nela o proletariado sairá vencedor.

E isto não pode senão inspirar nossa juventude a realizar novas façanhas na
luta pelo socialismo. E nós vemos como cada dia os jovens educados pelo Partido
— os filhos do Komsomol leninista — demonstram fidelidade à causa do
socialismo, como, ao primeiro chamado do Partido, lançam-se à conquista da
cultura e da técnica, extraem o minério das minas, constroem o “Metrô”, tomam
de assalto as alturas da estratosfera, lutam valorosamente contra os rigores do
Ártico, convertendo-se nos primeiros heróis da União Soviética.

O Comitê Central de nosso Partido, o camarada Stálin e os outros membros da


C.C. sabem de que maneira responde o Komsomol a todas as tarefas apresentadas
pelo Partido. O Partido e o Governo contam com o carinho, a fidelidade e o apoio
mais absolutos da jovem geração de nosso país, do Komsomol.

Nós, os velhos bolcheviques, estamos seguros de que não nos equivocamos.


Os jovens do Komsomol são os novos edificadores de nossa União. Se alguém quer
ser um verdadeiro comunista será jovem até a morte.

Por que digo verdadeiro comunista? Por que proporciona o comunismo tal
energia aos homens? Para o verdadeiro comunista as preocupações de tipo pessoal
se revestem de um caráter secundário: pode ocorrer qualquer contrariedade
familiar — isto é muito penoso, mas eu creio que por causa disso o socialismo não
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perdeu nada e tampouco o trabalho deve sair prejudicado. Naturalmente que se


uma pessoa vive limitada aos interesses domésticos, se passa todo o tempo
pensando em si mesmo ou em sua Filomena, não será então um verdadeiro
comunista. Ao passo que, quando em realidade se trabalha ativamente e se toma
parte ativa em toda a construção, às vezes a pessoa não observará que vestido
usa sua mulher e se esquecerá das minúcias da vida cotidiana e dos infortúnios
pessoais.

Para ser um comunista forte requer-se antes de tudo uma firme ideologia
comunista. A ideologia comunista nos permite abordar acertadamente cada
problema, cada fenômeno. A ideologia comunista é para os lutadores da revolução
proletária o que para o astrônomo, digamos por exemplo, é um colossal
telescópio, ou para o pesquisador de laboratório, um microscópio. A ideologia
comunista permite ao político, ao homem público, compreender plena e
acertadamente a situação em que trabalha, organizar a massa e conduzi-la ao
combate; dá-lhe a possibilidade de ver, compreender e assinalar com acerto as
perspectivas. Tudo isto em seu conjunto fortalece o homem, torna-o mais
resistente não só às pequenas adversidades de caráter individual, mas também a
outras maiores. Quando, na vida de uma pessoa o principal é a ideia coletiva e
comum, quando a causa da coletividade está acima de tudo e se vive com os
mesmos interesses e esperanças que os que nos cercam, esses interesses comuns
dos trabalhadores são os que torna jovens os comunistas velhos.

Tomai o período da guerra civil e o de nossa construção socialista. Naqueles


dias, todos os trabalhadores, sem excluir os velhos, demonstraram prodígios de
heroísmo e de entusiasmo, realizaram façanhas extraordinárias, como hoje em dia
demonstram e realizam também. Isto é o que deve compreender a geração que
nos sucede, os komsomóis e a juventude operária e kolkhoziana. Dos velhos
bolcheviques e dos velhos proletários, temperados nos combates, devem aprender
os hábitos coletivos, a paixão criadora, a compreensão e a visão teórica dos
acontecimentos.

Para acompanhar nossa agitada vida não basta paixão no trabalho. A fôrça do
Partido Bolchevique reside em que está armado com a teoria de Marx-Engels-
Lênin-Stálin e que sabe manejar com perfeição essa arma. Nas condições da
ilegalidade, da contínua vigilância policial, nas condições da luta encarniçada
contra o tzarismo e a burguesia, nas condições do presídio e da deportação, os
bolcheviques iam assimilando a teoria revolucionária, iam sintetizando na teoria as
experiências da luta do proletariado. É verdade que em certas ocasiões estávamos
“livres” para o estudo. Acontecia que nos metiam no cárcere e ali, podíamos ler,
embora nem sempre. Naturalmente nossa juventude não dispõe atualmente
dessas “vantagens”.

Os jovens do Komsomol, e em particular os ativistas, lamentam-se às vezes de


não terem tempo para ler nem para se dedicarem aos estudos. Eu também sou um
homem ocupado e, não obstante, todos os dias dedico algum tempo à leitura.
Cada dia leio, mesmo que não seja mais do que oito ou dez páginas, não de
papéis, mas de livros marxistas e além disso leio também as novidades literárias.

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O camarada Stálin dizia em certa ocasião que o pior que pode ocorrer é que se
pense de acordo com fórmulas e ordens de antemão preparadas. Isto, como é
natural, é o mais simples. Para explicar tal ou qual tese teórica com palavras
próprias, é necessário antes de tudo ter meditado bem sobre ela, tê-la
compreendido, pois, do contrário, pode-se cometer erros. E quando se fala com
fórmulas aprendidas de memória, o pensamento não trabalha como é devido,
dorme. Por isso, a primeira condição para o estudo teórico é a análise profunda do
problema, sua compreensão e não aprender de memória tais ou quais teses.

Os jovens do Komsomol, e em particular os jovens ativistas, têm muito que


fazer. Seu trabalho é muito grande, mas apesar disso estão obrigados a ser
pessoas de ampla cultura.

A construção socialista necessita de pessoas instruídas; mas não podemos


considerar como pessoas instruídas as que somente leem muito, mas as que
estudam a fundo a filosofia materialista, as que vão dominando o caudal da
ciência, as que assimilam o que leram e compreendem como se deve combinar a
teoria revolucionária com a prática revolucionária.

E não há dúvida de que se os jovens do Komsomol distribuírem acertadamente


seu tempo, Este lhes chegará também para o estudo teórico.

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Inclusão 15/10/2012

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11/09/2019 Do Artigo "A Senda Gloriosa do Komsomol"
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Do Artigo "A Senda Gloriosa do


Komsomol"
Por motivo do X aniversário da União das Juventudes Comunistas-
Leninistas da URSS

M. I. Kalinin

Outubro de 1938

Primeira Edição: “Sobre a Juventude”, págs. 248-301, ed. “Molodáia Gvárdia”, (‘‘A Jovem
Guarda”), 1939.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 31-43.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

No transcurso de vinte anos de luta heroica e de trabalho,


o Komsomol chegou a ser uma organização que, hoje, conta
em suas fileiras com seis milhões e meio de pessoas, dotadas
de boa saúde física, garantidas no aspecto material, cultas,
otimistas e ativas na vida social. Ante o Komsomol abrem-se
grandes perspectivas e possibilidades de criação e progresso
em todos os domínios da atividade em proveito dos
trabalhadores. Mas também as tarefas que se apresentam ao
Komsomol são enormes e de grande responsabilidade.

Segundo a definição do camarada Stálin, o Komsomol é a reserva do Partido, é


o manancial que serve para completar as fileiras do Partido. Essa função não se
realiza de modo formal, de acordo com a idade, já que Lênin, referindo-se a
Engels, escrevia:

“Acaso não é natural que entre nós, no Partido da revolução, predomine


a juventude? Somos o Partido do futuro, e o futuro pertence à
juventude. Somos o Partido dos inovadores, e a juventude preferiu
sempre seguir os inovadores. Somos o Partido da luta abnegada contra a
velha podridão, e sabemos que a juventude será sempre a primeira a ir
a uma luta abnegada.”(1)

Entende-se que os elementos formais também são levados em consideração,


mas não são o essencial.

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Admite-se no Partido os que sejam capazes de lutar sem reservas, em suas


fileiras e sob sua bandeira, pela vitória do comunismo. O ingresso no Partido
impõe obrigações especiais, tanto políticas como morais. Por isso, estuda-se e
comprova-se cuidadosamente os que ingressam no Partido, para determinar em
que medida estão preparados para cumprir essas obrigações e, em geral, até que
ponto merecem ser membros do Partido. A valorização de todos os dados e das
qualidades pessoais dos que ingressam no Partido tem lugar nas assembleias
gerais das organizações de base do Partido. Todo aquele que ingressa no Partido
não só se compromete desde esse momento a conhecer o programa e os estatutos
do Partido, a cumpri-los honradamente, mas também presta uma espécie de
juramento tácito de não manchar o nome do Partido com sua conduta, de cumprir
honrada e conscientemente todas as decisões do Partido, de lutar com toda a
energia, sem poupar esforços, nem a própria vida, por sustentar a linha do Partido
e seus órgãos, de observar a disciplina partidária e tomar parte ativa na vida do
Partido, de elevar incessantemente sua preparação como membro do Partido,
aperfeiçoando-se no domínio do marxismo-leninismo, de ser um modelo na
observância da disciplina do trabalho e do Estado, esforçando-se por dominar
plenamente a técnica de seu trabalho e da missão que lhe tenha sido confiada.

É uma grande honra ser membro do Partido de Lênin e Stálin, pois para
preencher suas fileiras são escolhidos os melhores entre os melhores. O Partido é
a vanguarda dos trabalhadores que marcha conscientemente à frente de seu
combativo exército para a luta pelos interesses do proletariado; é a vanguarda que
coloca diante de si mesma, ante sua própria vida, como a missão básica e
fundamental, a de conquistar a vitória do comunismo, e que está disposta a
subordinar todos os seus atos aos interesses dessa luta. E isso é completamente
natural, pois que, como dizia S. M. Kírov:

“Aguardam-nos combates encarniçados contra o mundo capitalista. Não


é só no interior do país que teremos que arrancar pela raiz os restos dos
elementos capitalistas. Sabemos que chegará o dia em que nos
lançaremos ao assalto do baluarte do capitalismo”.(2)

Sob a direção do Partido, o Komsomol educa a juventude, prepara novos


militantes para o Partido, novos combatentes da causa da classe operária,
dispostos a marchar para o assalto ao capitalismo. Mas, para poder preparar e
educar devidamente homens como esses, dentro das fileiras do Komsomol, é
preciso que as tarefas internacionais da juventude ocupem um lugar importante
em seu trabalho. Nossa juventude, diz o camarada Stálin:

“... está livre da carga do passado e assimila com mais facilidade que
ninguém os preceitos leninistas. Precisamente por isso, porque assimila
com mais facilidade que ninguém os preceitos leninistas, é que a
juventude está chamada a impulsionar os atrasados e os vacilantes. É
certo que os jovens não possuem os conhecimentos necessários. Mas os
conhecimentos se adquirem. Hoje não os têm, mas amanhã os terão.
Por isso a tarefa, aqui, estriba-se em aprender e aprender até assimilar
o leninismo. Camaradas das Juventudes Comunistas: aprendei, assimilai

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o bolchevismo e empurrai os vacilantes! Falai menos e trabalhai mais e


vereis como tudo marcha a contento!”.(3)

Mas Lênin e Stálin advertiram muitas vezes que não se aprende o marxismo,
que não se assimila sua essência com um simples estudo para guardar suas
fórmulas de memória; que como resultado de tal estudo pode obter-se um
exegeta, um conhecedor do texto, um pedante, mas um mau marxista-leninista. A
melhor maneira de aprender o marxismo-leninismo é na sua aplicação à politica
prática, na atividade social e econômica. É por essa razão que também a educação
da juventude no espírito do leninismo deve realizar-se não só através do estudo,
mas também da atividade prática. Sabemos que o Komsomol conta com grande
quantidade de pessoas das mais diversas profissões: sábios, escritores,
engenheiros, agrônomos, operários e kolkhozianos, dirigentes sindicais, políticos e
administrativos, soldados vermelhos, aviadores, etc. Quantos caracteres e
inteligências diferentes se encontram aqui, quantas peculiaridades profissionais! E
ao mesmo tempo, trata-se de pessoas ousadas, com uma impressionabilidade
aguçada e de grande atividade, que aspiram a contribuir com o máximo em
benefício de seu povo. Disto se conclui que a tarefa do Komsomol consiste em
saber utilizar inteligentemente e canalizar de forma orgânica toda essa energia
pessoal manifestada sob os aspectos mais diversos, sem quebrar por isso as
aspirações pessoais, sem frear a energia juvenil com formas burocráticas,
conduzindo-a ao leito do leninismo, ao leito do Partido.

Mas ao mesmo tempo é preciso ter presente os numerosos perigos e escolhos


contra os quais pode chocar-se facilmente a nave da direção do Komsomol. O
conhecimento do leninismo somente ajuda, facilita a solução acertada dos
problemas políticos; mas quem deve resolvê-los são os homens, e neste caso
concreto, são os dirigentes do Komsomol. Precisamente nestas soluções, em sua
subordinação aos princípios e em sua conveniência é que se comprova se a direção
é de fato bolchevique.

Para ilustrar meu pensamento, deter-me-ei em dois exemplos de nossa vida


social. Nós não só simpatizamos com nossos heróis, os aplaudimos e os
glorificamos, mas também fazemos todo o possível para que se multipliquem e
melhorem qualitativamente, tendo bem presente, ao mesmo tempo, que a ampla
manifestação do heroísmo é um produto de nosso sistema social. Por si mesmo o
heroísmo é uma boa qualidade do homem, própria sobretudo da juventude. Mas
também o consideramos como um dos elementos da defesa do país. Creio que é
ocioso esclarecer que um exército heroico, em igualdade nas demais condições,
tem maiores probabilidades de obter a vitória.

O desenvolvimento em massa da educação física e do esporte é de uma


utilidade extraordinária, uma vez que a educação física e o esporte disciplinam as
pessoas, fortalecem-lhes a saúde, estimulam a ação individual e a iniciativa,
ensinam a atuar conjunta e coordenadamente. Numa palavra, a educação física e
o esporte são um fator importante na criação de homens sãos, fortes, hábeis,
engenhosos, valentes, que saibam lutar contra os obstáculos e olhar seguros para
o futuro. Mas tudo isso, no conjunto, é só a parte externa, o aspecto físico da
questão. E diante do Komsomol se coloca a tarefa de incutir a todo esse
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movimento de massas o conteúdo ideológico do marxismo revolucionário. E como


se pode fazer isto? Só há um meio: ligar a atividade esportiva à edificação geral do
socialismo. Dir-me-ão que isto é um lugar comum, que é algo que todo mundo
sabe, que em nosso país cada trabalho de utilidade geral é uma partícula da
edificação socialista. Mas é precisamente esse conteúdo ideológico geral que se
deve inculcar na consciência das pessoas. O último desfile esportivo realizado em
Moscou foi organizado sob o lema: “Tudo para a defesa do país dos Soviets”.
Podemos dizer com toda a segurança que as tarefas da defesa de nosso país
gravaram-se profundamente na consciência do povo e a demonstração, que
fizeram os desportistas de seu trabalho dedicado à defesa, corresponde
plenamente à consciência popular e às aspirações do povo. Conclui-se então o
seguinte: para que essas aspirações do povo resultem em algo prático, é evidente
que as organizações esportivas, cada uma de acordo com suas particularidades,
devem determinar a forma concreta de sua participação diária no fortalecimento
da defesa. Com isso, os desportistas elevarão seu trabalho ao nível das aspirações
gerais de todo o povo no terreno da defesa da Pátria socialista; isto é, darão a seu
trabalho um profundo conteúdo, no qual cada ramo da atividade esportiva achará
fontes inesgotáveis da seiva necessária ao seu crescimento e um poderoso
estimulo ao seu aperfeiçoamento ulterior.

Somente assim é que se podem estender os conhecimentos de marxismo-


leninismo adquiridos nos livros ao trabalho e à luta de cada dia, isto é, à pratica, e
evitar esse divórcio que, como dizia Lênin, “era o traço mais repulsivo da velha
sociedade burguesa”(4). Só assim é que o Komsomol poderá cumprir com
dignidade seu papel de reserva do Partido de Lênin e Stálin, preparar a reserva
combativa da velha guarda bolchevique.

De particular responsabilidade é o papel que desempenha o Komsomol na


produção, tanto na industrial como na agrícola. A produtividade do trabalho é a
fôrça decisiva na luta contra o capitalismo. A produtividade do trabalho demonstra
em que medida o regime socialista é mais perfeito que o capitalista. O aumento da
produtividade do trabalho é o caminho mais direto para o comunismo, quando
cada um receber de acordo com suas necessidades e trabalhe de acordo com sua
capacidade.

No transcurso de um breve período, o regime socialista demonstrou em nosso


país quão poderosas são as forças produtivas que encerra o socialismo. Todo o
problema se reduz a saber pôr praticamente em ação todas essas fôrças e dirigi-
las de maneira organizada a um objetivo.

A particularidade da produção no País do Socialismo consiste em que o


trabalho, que antes tinha um caráter forçado e de escravidão, se transformou
numa questão de honra, de heroísmo e de glória. Este novo conceito do trabalho
deve penetrar na carne e no sangue dos cidadãos soviéticos e, em primeiro, lugar
dos komsomóis e de toda a juventude soviética.

O socialismo colocou o trabalho no posto de honra que lhe corresponde, pois o


Estado de classe dos exploradores o tinha arrastado ao degrau mais baixo da
escala social. Na sociedade capitalista, a elevada produtividade do trabalho

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representa a miséria para os trabalhadores e o enriquecimento para os


capitalistas. Em nosso país, no País do Socialismo, ocorre o contrário; a elevada
produtividade do trabalho melhora a situação material e cultural dos trabalhadores
e fortalece o Estado Socialista.

Em nosso país, na produção, a percentagem de jovens em idade de Komsomol


é muito elevada. E isto não só na indústria e nas novas fábricas, mas também na
agricultura, especialmente na sua parte mecanizada. Nos kolkhozes, as brigadas
de jovens do Komsomol são quase sempre as que marcham na frente.

A organização do trabalho, o aumento de sua produtividade, mesmo que não


seja mais do que o suficiente para cobrir o nível das necessidades iniciais da
sociedade socialista, é um dos problemas mais complicados.

Lênin dizia:

“A produtividade do trabalho é, em última instância, o mais importante,


o decisivo para a vitória do novo regime social. O capitalismo conseguiu
uma produtividade do trabalho sem precedentes sob o feudalismo. E o
capitalismo poderá ser e será definitivamente derrotado porque o
socialismo consegue uma nova produtividade do trabalho, muitíssimo
mais alta. É uma tarefa muito difícil e muito grande...

O comunismo representa uma produtividade do trabalho mais alta (em


relação ao capitalismo), obtida voluntariamente por operários
conscientes e unidos que têm a seu serviço uma técnica moderna...

O comunismo começa quando os operários de base sentem uma


preocupação — abnegada e mais forte que a dureza do trabalho — por
aumentar a produtividade do trabalho, por defender cada pud de trigo,
de carvão, de ferro e de outros produtos que não estão destinados
diretamente aos que trabalham nem a seus “parentes”, mas a pessoas
“estranhas”, isto é, a toda a sociedade em conjunto, a dezenas e
centenas de milhões de homens, agrupados primeiro em um Estado
socialista, e mais tarde em uma União de Repúblicas Soviéticas”.(5).

A juventude deve abordar em cheio a solução desse problema, que deve


ocupar o lugar que lhe corresponde nas reuniões do Komsomol, nos debates sobre
questões de organização. A emulação socialista e o método stakhanovista abrem
grandes possibilidades para a criação na produção, particularmente para os jovens
técnicos. A missão dos jovens do Komsomol na produção, especialmente a dos que
são engenheiros, é a de aplicar com mais amplitude nos diversos setores de
trabalho o método do camarada Stakhánov em suas variadas formas. Hoje em dia,
tem uma importância de primeiríssima ordem ser o iniciador da emulação
socialista na produção de peças-padrão, desenvolver a emulação a longo prazo
entre brigadas e inclusive entre operários isolados. Considero que tem mais valor
um trabalhador que ocupa o primeiro posto na emulação socialista depois de um
ano inteiro de trabalho. Para isto se exige uma firmeza enorme, um trabalho
sistemático e uma atenção esmerada para com a máquina, para com a
ferramenta. Assim é que se formam os bons operários da produção.
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11/09/2019 Do Artigo "A Senda Gloriosa do Komsomol"

A organização da produção na oficina tem uma importância enorme. Basta


dizer que se o mestre escolhe o trabalho de modo que se possa produzir em série
ou por um método mais ou menos análogo, o trabalho do operário será muito mais
fácil e produtivo. Será um mestre hábil o que levar em consideração as
particularidades individuais dos operários, isto é, que um operário trabalha com
mais lentidão mas com mais precisão e limpeza, e, que outro realiza um trabalho
mais rápido porém mais tosco, e distribuir o trabalho de acordo com isso. Tudo
isto deve ser discutido nas reuniões de produção. Essas reuniões de produção são
uma boa escola técnica, que é o que, afinal de contas, devem ser...

Alguns podem dizer que se trata aqui dum praticismo estreito, demasiado
mesquinho para ser capaz de atrair os jovens do Komsomol, que sonham com
façanhas e heroicidades. Mas julgo que é precisamente à base desse trabalho,
aparentemente vulgar, que os dirigentes do Komsomol devem mostrar e
esclarecer à massa de jovens do Komsomol que uma coisa não estorva a outra
mas, pelo contrário, a completa. Acaso um jovem acostumado a obter
sistematicamente das máquinas tudo o que estas são capazes de dar, pode ser um
mau aviador? É de supor que seu valor se manifestará também na aviação, isto é,
que obterá do avião tudo o que dele se possa tirar. É de supor que suas qualidades
se refletirão também de forma não menos positiva no comando duma unidade
militar. Por conseguinte, os caminhos para um grande trabalho e para as grandes
façanhas não estão fechados.

Mas não se trata somente disto. Uma vez que o trabalho é uma questão de
honra, de heroísmo e de glória, os komsomóis, ao discutirem em suas reuniões os
problemas relacionados com a produção, devem partir precisamente disto e
inculcar na consciência da juventude que o operário que cumpre honradamente
seu trabalho e o considera como algo profundamente seu, serve à causa de Lênin
e Stálin, à causa da honra, do heroísmo e da glória, que esse operário é o
construtor fundamental do socialismo, que ele, um dos muitos milhões de
construtores da cidade e do campo, é merecedor da estima e da glória e que se
lhe deve prestar uma atenção especial por parte da organização do Komsomol,
pois é assim que se cumpre uma das diretivas fundamentais do Partido.

As tarefas internacionais de nosso Komsomol são de muita responsabilidade,


pois para ele estão voltados os olhares da juventude trabalhadora de todo o
mundo. Sejamos pois — para expressar-nos com as palavras do camarada Stálin
— dignos do honroso posto de brigada de choque na luta pela vitória do
proletariado em todo o mundo.

A juventude da União Soviética encontra-se em condições muito favoráveis


para seu desenvolvimento físico e espiritual. O ambiente familiar, as relações entre
filhos e pais mudaram e melhoraram de tal forma que não há termo de
comparação: avançaram consideravelmente para o socialismo. No mundo
capitalista essas relações são insensíveis e egoístas, grosseiras e cruéis, ao passo
que em nossa sociedade elas se humanizaram no melhor sentido que se pode dar
a esta palavra. Para isto contribuiu era grande medida a igualdade de direitos
concedida à mulher.

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11/09/2019 Do Artigo "A Senda Gloriosa do Komsomol"

Nossa escola não assusta a criança e o pequeno de oito anos vai a ela com
dignidade própria, como o dono que entra em suas possessões. A absoluta
continuidade que existe entre a escola primária e a intermediária e entre a
intermediária e a superior facilita a passagem a esta última à juventude que
anseia por instruir-se. Ao trabalhar em máquinas de primeira qualidade e ao
dominar a técnica em rápido desenvolvimento, a juventude trabalhadora tem
todas as possibilidades de adquirir uma alta qualificação; e os operários com
iniciativa que se interessam por seu trabalho podem ascender com facilidade na
escala da produção. Ante a juventude kolkhoziana abrem-se perspectivas
inconcebíveis não só na aldeia dos velhos tempos, mas também, de modo geral,
na agricultura dos países capitalistas mais avançados. O caráter coletivo da
produção, o trabalho em público, por assim dizer, contribui para pôr em evidência
todas as aptidões e pôr em tensão todas as fôrças para realizá-lo da melhor
maneira e para que o processo desse trabalho seja belo e atraia a atenção dos
demais. A técnica elevada e a florescente agronomia não só desenvolvem
intelectualmente as pessoas e aumentam a produtividade do trabalho, mas
também abrem perspectivas muito amplas para o progresso da juventude dotada
de talento.

Ante os jovens operários, kolkhozianos e empregados soviéticos abre-se


também o amplo campo da atividade social nas fileiras do Partido, dos Sindicatos,
do Komsomol, do “Ossoaviakhim”(6), do movimento desportivo, das organizações
culturais e educativas, etc., onde as fôrças ativas têm a possibilidade de
desdobrar-se, onde cada qual pode manifestar sua capacidade na atividade social,
e que constitui um filão inesgotável onde o Komsomol pode extrair ou, melhor
dito, descobrir homens capazes e de talento. Feliz Komsomol, quantas
possibilidades tens de servir à grande causa de Lênin e Stálin! Quão amplas são as
perspectivas e as possibilidades que se abrem diante de ti no campo da educação
e da formação do homem novo!

O Partido Comunista se propõe como objetivo estabelecer a plena igualdade,


tanto política como econômica, dos homens. O Partido constrói o Estado socialista
sobre a base do pleno desenvolvimento do povo, de todas as suas valiosas
aptidões e capacidades. Ao mesmo tempo, o Partido Comunista julga que quanto
mais consciente for a atitude de nosso povo diante de todos os fenômenos da
natureza e da vida social, mais forte e invencível será nossa pátria.

De grande responsabilidade e envergadura é o papel histórico mundial do


proletariado, a classe mais progressista, a vanguarda de todos os trabalhadores.
Para cumprir essa sua missão, o proletariado, junto com o campesinato
kolkhoziano, deve re- elaborar e assimilar tudo o que nos legou a cultura da
humanidade, deve conquistar todas as alturas da ciência e da técnica, elevar-se ao
cume do saber e converter-se na classe mais instruída do mundo. Em nosso país,
o desenvolvimento da ciência deve marchar na vanguarda da ciência mundial.
Nossa ciência deve ser a mais avançada do globo em todos os ramos do saber,
porque fora da União Soviética a ciência está nas mãos das classes exploradoras,
que a adaptam a seus interesses egoístas, a seus interesses de classe, a utilizam
com o fim de oprimir ainda mais os trabalhadores, paralisam seu desenvolvimento.
Libertá-la das cadeias do velho mundo e convertê-la em arma potente para
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11/09/2019 Do Artigo "A Senda Gloriosa do Komsomol"

defender os trabalhadores, em alavanca de Arquimedes da construção do


comunismo, em instrumento que sirva para afirmar a dominação do homem livre
sobre a natureza: eis a missão de nossa juventude e, em primeiro lugar, do
Komsomol. O País do Socialismo deve marchar na vanguarda no terreno da
ciência, da técnica e da arte. Nossa juventude tem onde trabalhar, meios para
trabalhar e objetivos em que aplicar seu trabalho. Façamos, pois, avançar a
ciência sobre a base das conquistas já alcançadas hoje em dia pela humanidade,
submetendo as fôrças da natureza; mas não o façamos à maneira artesã nem
isoladamente, mas de forma organizada, munidos de todos os meios mais
aperfeiçoados da ciência e da técnica. Quanto é atraente para a juventude essa
perspectiva de poder participar da luta coletiva para conquistar o domínio do
homem sobre a natureza e o universo!

Qualquer que seja o setor de atividade que prefiramos — desde o pedagógico


até o militar — todos e cada um adquirem em nossas condições um conteúdo
profundamente ideológico. Tomemos, por exemplo, a arte. Nos países capitalistas,
ela se encontra em estado raquítico, ao passo que na URSS a arte está passando
por um desenvolvimento impetuoso, pois os milhões de homens do povo estão
ansiosos por poder apreciá-la. Vemo-lo, mesmo que não seja mais do que pela
atitude de nosso povo para com o teatro, a música, as exposições artísticas, etc.
Vemo-lo na satisfação e no orgulho patente com que nossa população contempla a
decoração artística do “Metro”. Não duvido de que o Komsomol fará tudo o que
dele dependa para que nossa juventude, dirigida por ele, desmascare em um
prazo brevíssimo e extirpe por completo, tanto na arte como nos demais aspectos
da ideologia social, toda a falsidade e hipocrisia burguesas, inculcando em toda a
parte as ideias de Marx—Engels—Lênin—Stálin.

A atividade criadora dos povos da URSS, que conseguiram se ver livres do


jugo da bolsa de ouro, tem como único fim a felicidade dos trabalhadores do
mundo inteiro. E que pode haver de mais apreciado, de melhor para o
enriquecimento ideológico, que é que pode cativar mais a juventude do que a luta
abnegada em nome desse objetivo, pela vitória completa do comunismo em todo o
mundo, que a luta junto com o Partido, sob suas bandeiras de combate e sob a
direção do camarada Stálin?

Início da página

Notas de rodapé:

(1) V. I. Lênin e J. V. Stálin, “Sobre a Juventude”, págs. 136- 137, ed. “Molodáia Gvárdia”, (“A
Jovem Guarda”), 1938. (retornar ao texto)

(2) S. M. Kírov, “Sobre a Juventude”, pág. 200, ed. “Molodáia Gvárdia” (“A Jovem Guarda”), 1938.
(retornar ao texto)

(3) J. V. Stálin, “Questões do Leninismo”, pág. 524, ed. espanhola, 1947, Moscou. (retornar ao
texto)

(4) V. I. Lênin, “Obras”, t. XXX, 3ª ed. russa, pág. 405.(retornar ao texto)

(5) V. I. Lênin, “Obras Escolhidas”, t. II, págs. 618-619, ed. espanhola, 1948. (retornar ao texto)

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11/09/2019 Do Artigo "A Senda Gloriosa do Komsomol"

(6) Organização que contribui para o fortalecimento da defesa do país, de sua indústria química e
da aviação. (N.T.) (retornar ao texto)
Inclusão 17/10/2012

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11/09/2019 Discurso na Conferência de Professores Destacados das Escolas Urbanas e Rurais Convocada pela Redação da Utchítelskaia Ga…
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Discurso na Conferência de
Professores Destacados das
Escolas Urbanas e Rurais
Convocada pela Redação da
Utchítelskaia Gazeta (Jornal do
Professor)
M. I. Kalinin

27 de Dezembro de 1938

Primeira Edição: "Sobre as tarefas da intelectualidade soviética”, págs. 31/45, Edições Políticas
do Estado, Moscou, 1939.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 44-62.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

I - Sobre o Domínio da Teoria Marxista-


Leninista

Camaradas: Atualmente fala-se muito entre nós do estudo


da teoria revolucionária do marxismo-leninismo, do estudo da
história do Partido Bolchevique. O principal neste caso é
assimilar a essência dessa teoria, aprender a utilizá-la na
prática e a recolher a experiência revolucionária de nosso
Partido.

Ao ler a “História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS”, eu me


entusiasmei com a profundidade de seu conteúdo, a precisão de suas ideias e a
simplicidade de sua exposição, mas não poderia repetir agora, textualmente, o que
li, pois não o recordo. Entretanto, aqui não se trata somente de recordar, mas,
sobretudo, de compreender.

A teoria marxista-leninista não é um símbolo de fé, não é uma recopilação de


dogmas, mas um guia para a ação. Quando alguns se referem ao domínio do

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marxismo-leninismo, dizem ser “um trabalho profundo”, “especialmente


profundo”, etc. Mas é preciso compreender que o principal no marxismo-leninismo
não é a letra, mas a sua essência, seu espirito revolucionário.

Que significado tem a expressão: “dominar plenamente o marxismo-


leninismo”? Como devemos entendê-la? Devemos compreendê-la no sentido de
aprender ao pé da letra toda a sabedoria do marxismo-leninismo em fórmulas e
conclusões já feitas? Ou é preciso compreendê-la como o domínio da essência do
marxismo-leninismo e como saber empregar essa teoria na qualidade de guia para
a ação, tanto na vida política e social como na vida privada? Este segundo modo
de ver será o mais acertado, mais justo, mais importante e constitui o
fundamental do marxismo-leninismo. E quando se fala em “dominar o marxismo-
leninismo”, isto significa aprender a considerá-lo em movimento.

Qualquer um pode aprender de memória, melhor ou pior, o marxismo-


leninismo, mas assimilar a sua essência e aprender a aplicá-lo, já é mais difícil.
Conhecemos muitos velhos operários que participaram da luta política. Acaso
estudaram o marxismo-leninismo tanto como vocês? Eles não dispunham da
“História do P.C. (b) da URSS” Muito poucas foram as oportunidades que tiveram
para estudar, de forma sistemática, essa teoria. Pode ser que, no conjunto,
tivessem lido uma dezena de livros revolucionários. Mas, não obstante, em sua
prática aplicaram o marxismo-leninismo com bastante acerto. Sob a bandeira
dessa teoria marcharam e marcham atualmente milhões de pessoas. Muitos
operários focalizaram com acerto os fenômenos sociais e a vida política, aplicaram
bem a linha marxista-leninista na solução de tal ou qual problema. E assim se deu
porque compreenderam a essência revolucionária da teoria marxista-leninista,
porque a assimilaram.

Não se deve estudar o marxismo-leninismo pelo mero fato de estudá-lo, por


puro formalismo. Não estudamos o marxismo-leninismo para conhecê-lo de um
modo formal, como antes se estudava o catecismo. Nós o estudamos como um
método, como um instrumento com a ajuda do qual determinamos corretamente
nossa conduta política, social e pessoal. Nós o consideramos como o instrumento
mais poderoso de que dispõe o homem na vida prática.

Agora apresenta-se-nos o problema de como aprender a aplicar com mais


acerto o marxismo-leninismo na prática. Antes de tudo, devemos conhecer, ainda
que não seja mais do que a largos traços, os fundamentos teóricos do marxismo-
leninismo e a história do Partido Comunista. Quando estudamos a história do
Partido, devemos ver como os bolcheviques resolviam tal ou qual questão prática
em tais ou quais circunstâncias. Devemos ver por quê resolviam uma determinada
questão de uma forma e não de outra e em que se baseavam para assim
proceder. Por quê, por exemplo, boicotamos a Duma de Bulíguin e em que nos
baseamos para isso? A análise de todas as questões desta índole (e estas foram
muitas na história, já que houve numerosas lutas) nos serve como uma espécie de
modelo para a aplicação do método marxista-leninista, de norma para abordar e
resolver outros problemas numa situação política nova, para resolver os problemas
nas condições atuais.

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Entende-se que para isso é necessário ter em conta todas as modificações


ocorridas, todas as novas condições. Por isso, o mais importante no estudo do
marxismo-leninismo é experimentar-se a si mesmo na maneira de abordar a
solução dos problemas que se apresentam hoje, agora mesmo, nas diversas
esferas da vida. Tomemos qualquer exemplo da vida diária. Suponhamos que uma
professora de certa escola separou-se do marido. Qual deve ser, do ponto de vista
marxista, a conduta das pessoas neste caso? Que fazer aqui? Também essa
questão deve ser abordada com acerto sendo preciso analisá-la e resolvê-la de
forma marxista. O modo de proceder mais simples (e em certa medida, acertado,
pelo menos do ponto de vista formal) é o de dizer: trata-se dum assunto privado
que não tem nada que ver com a política. Não obstante, uma vez que o assunto é
de domínio público, os alunos falam dele, na aldeia murmura-se e o prestígio da
professora cambaleia. Impõe-se uma explicação razoável desse fato. Já vêdes
como, às vezes, inclusive um problema de caráter estritamente privado pode
transformar-se em questão de importância política e social. Cada dia sucede um
número infinito de casos como esse. Onde se vê o marxista é precisamente na
maneira de encontrar uma solução acertada para esses casos, de compreender
como se deve abordá-los do ponto de vista do marxismo.

Pois o marxismo-leninismo é a chave que dá a possibilidade de resolver tal ou


qual problema. Somente dá a possibilidade, mas não o resolve; somente dá a
possibilidade de abordar com mais acerto a solução das questões, mas não é uma
receita preparada para todos os casos da vida. Na maneira de resolver, na maneira
de abordar a solução dos problemas vitais é onde se vê quem é um verdadeiro
bolchevique marxista e quem é um exegeta e um pedante.

Existem os que, na realidade, dominam o marxismo-leninismo e sabem aplicar


esta teoria à solução dos problemas práticos. Mas há outros que estão abarrotados
de textos eruditos, assim como um saco pode estar cheio de batatas, e que não
sabem aplicar praticamente tais conhecimentos. Estas pessoas são capazes de
recitar qualquer coisa de ponta a ponta, podendo inclusive fazer uma conferência.
Mas, se se lhes diz que na escola aconteceu algo insólito — por exemplo que um
pai deu uma surra no filho, aluno dessa escola — e se lhes pergunta qual é a
maneira correta de focalizar Este caso concreto do ponto de vista social,
verificamos que tais pessoas se afogam num copo d'água. E no caso de fazerem
uma proposição qualquer, esta terá caráter oportunista e não corresponderá de
modo algum ao espírito do marxismo-leninismo, embora ilustrem o caso com um
montão de citações. O oportunismo nem sempre se exprime unicamente na
negação franca do marxismo-leninismo. Às vezes manifesta-se no pedantismo, no
dogmatismo com que se aborda essa teoria.

A solução dos problemas práticos na base da assimilação a fundo da essência


do marxismo-leninismo é o que constitui precisamente a escola do bolchevismo.

O estudo do texto não é mais do que isso: simples estudo do texto. E do


mesmo modo que a escola para meninos ainda não é a vida propriamente dita,
mas apenas uma escola, assim também o estudo do marxismo-leninismo nas
instituições escolares, nos diversos círculos e seminários, no estudo individual,
etc., não é mais do que simples estudo. Ao realizar este estudo não se consegue

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mais do que conhecer o marxismo-leninismo de um modo abstrato. Mas quando


alguém mergulha na vida política, na atividade social, quando alguém aplica este
método e o aplica conscientemente, a coisa muda. Na solução prática dos
problemas da vida com que nos defrontamos cada dia, é precisamente onde se
manifesta o marxismo-leninismo, é onde se põe em evidência o verdadeiro
marxista-leninista.

A escola principal não consiste em acorrer a um seminário ou em escutar uma


conferência. Estes são só elementos au-

xiliares.

Cursa-se a escola principal quando se discute com os demais, quando se fala


com as pessoas, quando se tem que tomar uma decisão sobre um aluno
negligente, quando se tem que decidir se se lhe dá uma nota má ou regular, se se
expulsa esse aluno da instituição escolar ou, pelo contrário, se deve tratá- lo com
benevolência.

Na solução de tais questões é onde está a escola principal do marxismo-


leninismo.

E assim como para o engenheiro tecnólogo o trabalho na fábrica é a aplicação


prática de seus conhecimentos tecnológicos e lhe serve para acumular experiência,
assim como para o professor o trabalho na escola é a aplicação prática de seus
conhecimentos pedagógicos, da mesma forma o marxismo-leninismo é a unidade
viva e orgânica da teoria e da prática.

Compreendestes, agora, o sentido do que venho dizendo. Quero que fique


clara a ideia de que para dominar o marxismo-leninismo não basta de modo algum
aprender de memória as fórmulas e conclusões desta teoria, que nem sequer é
suficiente assimilar-lhe o conteúdo. Para dominar de verdade o marxismo-
leninismo cumpre além disso, aprender a utilizar esta teoria ao resolver os
problemas práticos e, se vamos mais longe, diremos ser também necessário saber
enriquecê-la com experiência acumulada, generalizar essa experiência, isto é,
saber desenvolver a teoria e fazê-la avançar. E isto é o mais difícil.

A “História do PC (b) da URSS”, examinada por alto, parece estar escrita de


forma muito popular, mas ela exige um grande trabalho do leitor. Nela estão
expostos todos os fundamentos do marxismo-leninismo na forma mais
concentrada. Ao lê-la é necessário deter-se e pensar sobre cada linha. Não se trata
de aprendê-la de memória, mas de meditá-la. Trata-se de chegar a saber aplicar o
marxismo na prática e isto é preciso que se aprenda. Mas, como? É preciso
aprender nos exemplos históricos, mas em comunhão com outros e trocando
opiniões.

Aqui se disse, por exemplo, que seria bom dispor de círculos de estudo.
Compreendo plenamente esse desejo, que, em certa medida, está justificado,
porque, apesar de tudo, o círculo permite o intercâmbio de opiniões. Mas quem
vos disse que não podeis organizar, agora, círculos de estudo? Donde tirastes isto?
Lede a resolução do Comitê Central do Partido de 14 de novembro de 1938. Ali se

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condena o círculo como sistema obrigatório de estudo do marxismo-leninismo,


convertido anteriormente em forma fundamental de instrução bolchevique de
nossos quadros e como expressão prática da corrida pela quantidade, em prejuízo
da qualidade da propaganda. Uma camarada disse aqui haver entre eles sete
professores que estudam por conta própria. Quem o impede de dizer: “Dentro de
uma semana farei um informe sobre tal ou qual problema; quem quiser reunir-se
conosco para discuti-lo, que assista”? Acaso alguém o impede?

Para ser marxista, é preciso focalizar cada fenômeno da vida de modo


concreto. Naturalmente, a discussão conjunta ajuda a orientar-se melhor nos
problemas. Quando se lê algo, capta-se um lado da questão, três lados, mas fica
um quarto lado que não se capta. Por último, captou-se os quatro lados, mas
sucede que não se trata de um quadrado mas de um cubo, que tem seis faces.
Donde se conclui que na discussão a ideia se apura e se enriquece.

Dizeis que as discussões são necessárias. Quem vos impede de fazê-las? Basta
que se reúnam cinco ou dez pessoas. Entre cinco pessoas já se pode organizar
uma boa discussão. Quem há de impedi-lo? E se além disso fazeis informes
escritos, devo dizer-vos com toda a franqueza que estudareis muitíssimo melhor o
problema do que se ouvísseis uma conferência, pois para escrever um informe é
necessário meditar a fundo cada palavra, cada ideia. Escrever um informe implica
em consultar as fontes originais e outra série de materiais. Ao escrever um
informe aborda-se mais problemas do que quando se ouve uma conferência. O que
se tira de uma conferência depende de muitas circunstâncias: da qualidade do
conferencista e do estado de ânimo da própria pessoa. Pode acontecer que,
durante a conferência, se tenha estado conversando com o vizinho. Vós mesmos
sabeis que, frequentemente, as três quartas partes da conferência são mero
enchimento e só uma quarta parte, dados úteis (Risos). Desgraçadamente, não
sabemos separar o enchimento, como cumpre fazer. É certo que se deve deixar o
enchimento de lado, mas apesar de tudo não o conseguimos por completo. Não
acrediteis que estou contra as conferências. É evidente que as conferências
constituem um aspecto muito importante do ensino. Eu só quero impelir-vos a
trabalhar por vossa conta, pois esse trabalho vos obrigará a frequentar as
conferências e a ouvi-las com atenção.

Que atitude se deve adotar ante o estudo nos círculos? O círculo tem certo
sabor de coisa restrita. O próprio nome de “círculo” já é um sinal de limitação.
Acaso suprime-se por isso a discussão coletiva? Não, não se suprime nem se
condena. A discussão coletiva deve combinar-se ao estudo individual, que é o
método fundamental. Deve-se preparar o tema em casa, fazer o informe no círculo
ou na reunião e travar a discussão em torno do informe. Não se devem travar
debates artificiais, mas sim debates em que cada qual expresse sua verdadeira
opinião sobre o problema colocado, sem temor de dizer o que pensa. E se esse
informe não contém mais que uma gota de opinião própria, não duvido de que
entre vós se travarão acaloradas discussões. Essas discussões, mesmo que
versassem sobre Púchkin, seriam uma excelente lição de marxismo-leninismo.

Quando se fala do estudo do marxismo-leninismo, pensa-se com frequência


que se deve ler somente livros marxistas, que só se deve ler Marx, Engels, Lênin e

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Stálin. Na realidade, a pessoa não se deve limitar a esses livros. O que se deve
fazer é ler qualquer livro com um critério marxista-leninista-stalinista.
Suponhamos que lemos Tchernitchevski; pois bem, pode-se lê-lo de diferentes
modos. O leitor progressista dos anos da década de 60 ou 70 do século passado o
lia à sua maneira; o leitor liberal daquela mesma época o lia a seu modo e nós,
como marxistas-leninistas, o lemos a nosso modo. Nossa interpretação será outra.
Quando se faz um informe sobre a obra de Tchernitchevski, quando se analisa
Tchernitchevski, quando se desenvolvem as discussões e se precisam as ideias, é
então que se assimila melhor o marxismo-leninismo. Nas discussões é preciso falar
com palavras próprias, com linguagem própria. Vós deveis ter uma linguagem
própria, estou convencido disso. É necessário que as pessoas discutam, não de
forma artificial, mas indo ao fundo da questão, isto é, de modo que a coisa
chegue, se não até às “vias de fato”, pelo menos até uma disputa séria e
acalorada. É assim que cumpre colocar o problema. Então as pessoas acorrerão
aos círculos e estudarão. É precisamente com semelhante método de estudo que
melhor se adquire o conhecimento do marxismo-leninismo.

Creio que conheceis os textos melhor do que eu; estou certo disso. Se eu
tivesse de ser examinado por vós, sairia reprovado no que se refere ao
conhecimento dos textos; não há dúvida de que sairia reprovado. Mas tenho a
firme convicção de que saberei focalizar um problema do ponto de vista marxista
melhor que vós, que encontrarei antes de vós o caminho para abordá-lo, pois a
longa experiência e a prática enriquecida pelas discussões teóricas aguçaram meus
sentidos. Quando se faz uma formulação falsa, sinto-a como algo que desafina. Foi
assim que adquiri um novo sentido, elaborado nas discussões teóricas e nas
disputas, e que me habituou a concentrar a atenção. Por isso não devemos temer
as discussões, mas acostumar as pessoas a elas. Só assim conseguireis polir
vossas ideias e vossa linguagem. Quando saibais que cada conclusão errônea e
cada formulação falsa vai ser discutida, então buscareis com mais atenção
soluções acertadas.

Por isso, os informes, conferências e discussões, tomando como base o estudo


individual, vos serão de enorme utilidade, se é que desejais compreender o
marxismo-leninismo e dominar esta teoria. O estudo individual é o método
fundamental para dominar o marxismo-leninismo.

II - A Tarefa Fundamental do Professor é Educar um


Homem Novo, o Cidadão da Sociedade Socialista

É possível que ontem se tenha aqui falado disto, mas hoje ninguém disse nada
sobre vossos meninos, como anda o trabalho com eles, nem quais são vossas
relações com as crianças. Um camarada disse de passagem que “se estabeleceram
turnos de guarda nas moradias dos operários. Os que estão de guarda vigiam para
que a conduta dos jovens não altere demasiado a ordem”. Não é assim? (Uma
voz: “É assim.”)

Acaso quereis que o menino se comporte como um morador qualquer, como


um homem de 45 anos com o estômago algo avariado? (Risos). Ou quereis acaso

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que o menino seja exatamente como vós, que sois pessoas adultas? Mas os
meninos têm demasiada iniciativa. Se eu fosse professor e os meninos fizessem
alguma travessura (e ao fazê-lo demonstrassem coragem, e a estimularia de certo
modo esse valor, os repreenderia ligeiramente pela travessura e nada mais. Claro
está que não se deve confundir e tolerar toda sorte de travessuras.

Se me perguntassem o que é que, hoje em dia, devemos exigir em primeiro


lugar do professor, eu diria: educar um homem novo. (Disto se falou com
frequência e o que digo não é nenhuma novidade). Em nosso país está se criando
o homem novo da sociedade socialista. A esse homem novo se deve inculcar as
melhores qualidades humanas. Pois o homem novo, o homem socialista, não há de
ser uma pessoa desprovida de sentimentos humanos. O homem continuará sendo
homem. É daí que devemos partir.

Quais são essas qualidades humanas que devemos inculcar?

Em primeiro lugar, o carinho, o carinho por seu povo, o carinho pelas massas
trabalhadoras. O homem deve sentir carinho pelas pessoas. Se o homem sente
carinho pelas pessoas, a vida lhe será mais fácil, mais alegre, pois ninguém vive
tão mal no mundo como os misantropos, como os que odeiam os demais homens.
Eles são os que pior vivem.

Em segundo lugar, a honradez. É preciso habituar os meninos a serem


honrados. No meu entender, o professor deve tratar de consegui-lo com um
trabalho consequente e recorrendo a todos os métodos pedagógicos possíveis.
Deve-se ensinar o menino a não mentir, a não enganar, a ser honrado.

Em terceiro lugar, o valor. O homem socialista é o homem do trabalho e quer


conquistar o mundo; e não só o mundo existente no globo terrestre, mas ampliar
o universo por meio da razão humana.

Em quarto lugar, o companheirismo. Tem que existir um sentimento de


companheirismo, ainda que seja somente pelo fato de nos encontrarmos dentro do
cerco capitalista, porque nossa União é sistematicamente atacada, porque cada
burguês espera ansioso o momento oportuno para esmagar a União Soviética. É
claro que esse momento não chegará para eles, mas tudo isso significa que a
União Soviética só pode defender-se com uma muralha de aço. A União Soviética
será ainda mais forte se se inculcar aos homens soviéticos, desde tenra idade,
desde a idade escolar, um verdadeiro e firme sentimento de companheirismo.
Então, quando o homem chegar às fileiras do Exército Vermelho ou for enviado à
frente, ser-lhe-á mais fácil unir-se aos companheiros de luta, pois já o liga a eles o
sentimento de carinho pela Pátria socialista.

Em quinto lugar, o amor ao trabalho. Não só se deve sentir amor ao trabalho,


mas também ter uma atitude honrada para com ele, recordando firmemente ao
mesmo tempo que, se o homem vive, alimenta-se e não trabalha, isto significa
que come o fruto do trabalho alheio.

Não creio que haja grande necessidade de explicar isto com mais detalhes.
Isto deve é ser explicado diante dos alunos. É preciso colocar o problema do

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trabalho dum modo especial. Costumamos dizer que “o trabalho é uma questão de
honra”, mas pouco conseguiremos se nos limitarmos a repeti-lo. Não é assim que
se vai cumprir o desejo de nosso chefe, o desejo do Partido e do povo. É preciso
que os meninos vejam de maneira concreta que o trabalho é efetivamente uma
questão de honra. É impossível enganar a criança. A partir do momento em que
note algo de falso, deixará de acreditar em nós.

Eu poderia continuar enumerando as qualidades do novo homem, mas me


limitarei às já citadas. São essas as qualidades do marxista-leninista, sendo ao
mesmo tempo as que deve possuir qualquer homem honrado e sensato. E é nisto
que reside o valor de nossa teoria, em exigir precisamente aquilo que se requer
para tornar-se uma pessoa honrada e sensata.

Não falemos da disciplina. Esta se depreende das qualidades a que acabo de


me referir. Os meninos gostam de quebrar e destruir. Deslizar para dentro de um
pomar alheio era para nós um prazer: as maçãs roubadas eram mais doces ao
nosso paladar que as nossas próprias ou as compradas. Mas, apesar de tudo,
devemos dizer que os homens têm que cuidar e guardar as coisas de valor. Não se
deve só destruir, mas também criar: esse é o quê da questão. Não só destruímos
o velho; mas também somos os edificadores do novo.

Creio que para ser um verdadeiro professor deve-se nascer professor e não só
aprender a sê-lo. O trabalho do professor encerra muitos obstáculos, sendo sua
responsabilidade muito grande. É claro que o ensino da disciplina correspondente
constitui o trabalho fundamental, mas, além disso, é preciso ter em conta que os
alunos imitam o seu professor. Por isso, a ideologia do professor, sua conduta, sua
vida, sua maneira de focalizar cada fenômeno influem de uma ou de outra forma
sobre cada um de seus alunos. Às vezes isso ocorre de um modo imperceptível.
Mas isto não quer dizer, ficai certos, que se o professor goza de grande prestigio,
os sinais de sua influência perdurarão durante toda a vida de alguns de seus
alunos. Por isso é importante que o professor preste atenção à sua pessoa, que
sinta que sua conduta e seus atos se acham submetidos a um controle tão
rigoroso como ninguém no mundo o experimenta. Dezenas de olhos infantis o
estão fitando. E não há nada tão atento, tão penetrante, tão sensível aos
diferentes matizes da vida psíquica do homem, nada que capte melhor os mais
sutis detalhes que o olho infantil. É isto que não devemos esquecer.

Receio unicamente que este fato vos induza à ideia de que deveis manter uma
atitude forçada. Também isto seria mau, seria um grande erro. Ao resolver todos
os problemas, o professor deve atuar com naturalidade e honradez, sobretudo ao
resolver os diferentes assuntos infantis, a questão dos castigos, etc. Suponhamos
que um menino quebrou um vidro ou ofendeu uma menina, ou que foi uma
menina que ofendeu um garoto. Aqui não só se deve partir do fato simples, mas
ter presente o possível efeito que tal ou qual solução do assunto possa ter sobre a
psicologia infantil. Não há dúvida de que tudo isto deve ser levado em conta, pois,
apesar de tudo, os meninos têm seu próprio “código de leis”. Suponhamos que
numa briga de garotos um dá um soco no outro e este vem queixar-se. Até um
menino neutro o condenará por essa atitude e lhe dirá: “És um xereta, queres
briga e logo vens queixar-te!”

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O principal é que o professor seja honrado com os meninos, preste atenção à


sua própria pessoa, que faça de nossos meninos cidadãos verdadeiramente bons e
verdadeiramente socialistas, honrados e valentes, com um elevado espírito de
camaradagem e disciplinados dentro dos limites da psicologia e das possibilidades
infantis.

E por último, camaradas, é preciso que nossos meninos conservem durante


longos anos as melhores e mais luminosas recordações e impressões da escola. Se
conseguirdes que vossos alunos guardem durante toda a vida a lembrança dos
anos escolares como de uns anos maravilhosos, isto já será um bom sintoma.

Isto, a meu ver, é o mais importante de quanto podemos exigir do professor.

III - O Dever de cada Professor é Levar seus


Conhecimentos às Massas Populares e Participar
Diariamente da Vida Social

Deter-me-ei agora em algumas questões da vida social. O que aqui importa é


que o professor entre em estreito contato com as pessoas e com a realidade, que
aprenda a orientar-se também nas condições locais. Naturalmente, o ideal seria
que todos os nossos professores e os demais quadros de nossa intelectualidade
dominassem a fundo o marxismo-leninismo. Mas já não seria mau que
conhecessem pelo menos os fundamentos gerais dessa teoria. E não seria mau
tanto para os comunistas como para os sem-partido. Posso assegurar que alguns
sem-partido conhecem melhor o marxismo-leninismo que os militantes, embora
seja certo que não são muitos. O que se deve fazer é aprender a focalizar os
fenômenos da vida local do ponto de vista marxista e saber analisá-los com acerto.
Mas nas conferências que fazeis à população, a que vos referistes aqui, não figura
nada da vida local. De todos os que aqui falaram, nenhum disse ter pronunciado
uma conferência sobre algum tema local. Mas as pessoas nascem, morrem,
contraem núpcias e celebram bodas. Toda uma série de acontecimentos sociais...
Acaso não tendes nada que dizer sobre eles? Será que não se pode falar destes
acontecimentos? Acaso escasseiam os temas?

A organização de kolkhozes e o desenvolvimento da economia são temas que


despertam a imaginação do kolkhoziano e a ligam com as grandes tarefas da vida
social. Tudo isto constitui um material cheio de interesse e mais do que suficiente
para as conferências.

Dos kolkhozes saem dirigentes de excepcional valor: se se fala deles nas


conferências, e se, além disso, se tiram conclusões, assinalando os aspectos
positivos e negativos, é fora de dúvida que se provocará acalorados debates. E
uma discussão sã de tais conferências enaltece o valor social do kolkhoziano e
aumenta o respeito pelo trabalho kolkhoziano.

No kolkhoz do lado a colheita é de 10-12-15 quintais por hectare, ao passo


que no vosso é de 5-6. Qual é a causa dessa baixa colheita? Eis aí um tema para
conferência.

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Numa palavra, quando penetrais na vida camponesa, quando quereis trabalhar


com a população, deveis proceder de tal forma que vosso trabalho esteja direta e
intimamente ligado à vida e que vossos informes afetem as pessoas. Então o povo
correrá sem dúvida a vossas conferências. É evidente por si mesmo que os
acontecimentos políticos e sociais da vida de nosso país e de todo o mundo
proporcionam um material mais do que suficiente.

Por último, é preciso que as conferências sejam discutidas com toda a


liberdade e que se seja mais tolerante ante a forma das intervenções. O principal é
que se compreenda a ideia fundamental da conferência e que os que participam
dos debates expressem a opinião que a conferência lhes mereceu, sem se
sentirem coibidos pelo seu modo de falar, pois devem compreender claramente
que o estilo é coisa que se adquire com o tempo. O importante é ter ideias
próprias.

É preciso que na vida social o professor exponha honradamente sua opinião


em todas as partes e sempre que ela seja solicitada. O camponês deve respeitar o
professor não só como professor, mas também como pessoa. Tende em conta que
se trata duma questão política, duma questão profundamente política. Se quereis
que o magistério ocupe o lugar que lhe corresponde, deveis seguir uma linha de
conduta que converta o professor numa pessoa imparcial e que não receie expor
seu ponto de vista sobre tal ou qual questão. Está claro que, ao resolver os
problemas dos camponeses, o professor pode prestar ajuda na qualidade de
habitantes do lugar e visto como participa de toda sua vida econômica e política.
Mas é sobretudo no terreno cultural que o professor pode ajudar o camponês.

O conceito de cultura é muito amplo: ele se estende desde a simples higiene


do rosto até os mais altos cumes do pensamento humano. Pois bem, é nesse
terreno, mais do que em qualquer outro, que se pode cair com mais facilidade em
atitudes pequeno-burguesas. A limpeza das mãos, o asseio no vestir, o conforto no
lar, etc., são sinais de cultura da população. As reuniões sociais, os círculos
dramáticos, as noitadas com baile, etc., são sinais de cultura social. Os comunistas
participam deles, considerando-os com razão fatores de desenvolvimento cultural.
Mas tudo isso pode converter-se num modo pequeno-burguês de passar o tempo.
Por isso, para que se possa ver a linha divisória que existe entre a atitude
pequeno-burguesa e o verdadeiro desenvolvimento cultural, precisa-se de ampla
cultura e sensibilidade política. O marxista considera essas aquisições como um
meio, como um novo degrau para continuar avançando. Mas o pequeno- burguês
as considera como um fim, tende a estabilizar a aquisição, se converte em escravo
da situação criada, estabelecendo uma moral em consonância com isso e
adormecendo o pensamento. Contra isso devemos lutar.

Portanto é de desejar que, no trabalho cultural, introduzais as noções de


sociedade e Estado, que leveis a ele a política, pois do contrário vossa cultura
perde orientação, converte-se em uma espécie de “cultura de campanário” e se
divorcia da cultura e das exigências culturais de todo o país.

A obra cultural que realizais deve vincular-se à edificação socialista nos demais
terrenos, para que o homem não pense isoladamente. O pequeno-burguês é um

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homem que pensa isoladamente e separado dos demais, que não se sente ligado a
nada e a ninguém.

Esse trabalho é muito difícil. É um trabalho muito difícil e delicado porque o


próprio professor tem que ser uma pessoa preparada. Aqui acontece o mesmo que
com a música. Um músico perceberá uma nota que desafine numa orquestra, mas
para mim passará desapercebida toda uma escala desafinada, pois não sou um
entendido na matéria. E quando se ouve uma nota falsa é preciso corrigi-la.

IV - O Professor deve pôr em sua Palavra a Alma e o


Pensamento

Camaradas: Ignoro como transcorreu a sessão de ontem. Mas hoje não se vê


nenhum intercâmbio de opiniões: cada qual se limita a fazer um informe de seu
trabalho; alguns o apresentam melhor do que é. Acaso vos reunistes aqui para que
cada um faça um informe do tipo mais ou menos habitual? Pois acontece que as
escolas se parecem umas com as outras e as pessoas também se parecem umas
com as outras. E eu que pensava que vos havíeis reunido aqui para “brigar”!

Por quê, quando relatais algo, seguis a tendência de falar com fórmulas feitas?
Sois professores e conheceis o russo. Não sabeis acaso o que significa falar com
frases feitas? Isso significa que vosso pensamento não trabalha, que a única coisa
que trabalha é a vossa língua. Com frases feitas não impressionais as pessoas e
não as impressionareis porque essas frases já são por elas conhecidas sem
necessidade de que as repitais para elas. Receais que, se disserdes as coisas à
vossa maneira, não saiam tão bonitas. Estais enganados. Vossas próprias palavras
soarão melhor e chegarão melhor ao povo.

Na vida real tendes um grande contato com os camponeses, com toda a


população. Mas quando falais dele, esse contato tem o aspecto de um processo
“técnico”: tantas reuniões celebradas, tantas palestras dadas. Parece que não
falais da vida, mas da “técnica”, das relações entre os camponeses e o magistério.
Mas vós não vos relacionais com a população somente nas reuniões e durante as
palestras. É preciso falar do conteúdo dessas relações com a população.

Essas relações têm um aspecto político e um aspecto psicológico, além de


outros que se manifestam na vida normal do homem. Mas em vossas exposições
não aparece esse contato estreito, esse vínculo orgânico. Será que me tornei
demasiado velho e por isso não o percebo? Mas não ouvi nenhuma palavra sobre
vossas dificuldades nem onde vos aperta o sapato. Não fazeis mais do que repetir
frases feitas, o que dá às intervenções um caráter formal. Cada um deve esforçar-
se por falar com a própria linguagem, com a linguagem que lhe deu sua mãe.
Acreditai-me, a melhor linguagem é a materna. Costumamos dizer: oh! o
professor! que grande coisa é ser professor! E é mesmo. Mas, que acontecerá, se
o professor não oferece às pessoas mais do que fórmulas preparadas?

Por exemplo, você, o último dos camaradas que falaram, trabalha na aldeia e
parece estar satisfeito com sua situação. Você apresentou as coisas de tal forma
que parece que agora você vive muito bem. Mas eu acredito que se a gente ler a
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ata taquigráfica de seu discurso não dará muito crédito ao que diz. E não por que
seja falso; não, não é por isso. Dirá em primeiro lugar, que o camarada se elogia
bastante. Ressalta o “eu fiz tal e tal coisa”. Quando as pessoas percebem que
alguém se elogia e se exibe, imediatamente se põem em guarda. Eu lhe direi
francamente que sua intervenção excedeu-se em belas palavras, mas lhe faltou
alma. Não se sentia que você pusesse a alma nas palavras. Não quero dizer com
isso, longe de mim, que você não tenha alma. Nada disso. Quero dizer unicamente
que você trata de exprimir seu verdadeiro estado de ânimo com as fórmulas em
uso. Mas o homem costuma expressar seus sentimentos com palavras próprias e
simples, sem recorrer a formulações já preparadas. Por isso, quando uma pessoa
instruída ler a ata taquigráfica de sua intervenção, pensará: é uma intervenção
artificial, porque não reflete um estado de espirito natural. Muitas palavras,
palavras ardentes, palavras que dizem que você está satisfeito com o trabalho,
que o trabalho lhe interessa; mas palavras que não convencem porque não são
palavras próprias, mas frases feitas. Compreendeu-me? Diga-me, é ou não é
verdade o que assinalo? Assim, fica ou não fica artificial sua intervenção? (Vozes:
“É certo”).

Imaginai que alguém se apresente ante um auditório e faça uma exposição,


faça um informe dessa natureza; que pensais sobre o que seria o resultado? O
povo escutaria e iria embora sem perguntar nada ou faria muito poucas perguntas.

Por isso, o que se requer em primeiro lugar dum professor é que fale com
estilo próprio, com o estilo que lhe deu sua mãe. Que estude a gramática para que
sua linguagem seja correta, porém que fale com naturalidade, com palavras
simples.

Devo dizer que o trabalho do professor é dos mais difíceis. Creio inclusive ser
preciso nascer professor. Refiro-me ao professor no pleno sentido da palavra. Há
gente que sabe muito. Conheço numerosas pessoas que dominam
estupendamente uma matéria, mas se pusermos uma dessas pessoas como
professor não saberá explicar com acerto a sua matéria. Não basta conhecer a
matéria, também é preciso saber expô-la de modo que os alunos possam assimilar
bem.

É por isso precisamente, a meu ver, que o que deve vir em primeiríssimo lugar
deve ser uma linguagem normal. Não acostumeis os meninos a fórmulas feitas e
estereotipadas, pois estas lhes entrariam por um ouvido e sairiam pelo outro.

Deve-se falar com palavras próprias. As palavras podem ser diferentes sem
que por isso modifiquem o sentido. E então vereis que as pessoas vos prestarão
um pouco mais de atenção. É preciso que as palavras sejam oportunas e
adequadas e que surjam de modo espontâneo. Mas o que vemos é que se fala de
maneira mecânica. É preciso que as palavras não fluam de um modo mecânico,
mas organicamente, que expressem ideias próprias.

Deve-se fugir das fórmulas feitas, que são retidas de memória mas que não
são analisadas pela cabeça. A linguagem que utilizardes para relacionar-vos com a
população deve ser vossa própria linguagem, simples e num estilo natural. O estilo
artificial proporciona à linguagem um certo pedantismo repelente. Muitos de vós
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seguramente recordais (talvez não) essas velhas beatas que percorriam os


mosteiros. Havia muitas na Rússia antes da Revolução. Ouvir uma era o mesmo
que ouvir todas as outras gaguejar: “Senhor, a mãe de Deus houve por bem
contemplar tua divina imagem!” Não se deve ser como elas. Nosso idioma é rico e
não deveis desfigurá-lo nem estropiá-lo; deveis habituar os meninos a que
também não o façam. Mas, como acostumá-los? Exigindo deles que pensem antes
de falar e não o contrário. Isto é o fundamental.

★★★

Essas são as tarefas que se apresentam a nosso magistério. Em seu conjunto


nosso magistério deve ter um.nível cultural ainda mais elevado. Não só no sentido
de que os professores conheçam sua matéria, mas no sentido de que suas próprias
exigências culturais sejam mais amplas. Vós mesmos vedes como a população
urbana e rural, cujo nível cultural cresce a passos agigantados, tem grandes
exigências culturais.

Nossa vida é cada vez mais complexa, exige que todos os nossos
trabalhadores em todos os terrenos tenham uma “estatura” cada vez maior. Se
agora, por exemplo, a “estatura” do professor é de dois metros, é preciso que seja
pelo menos de dois metros e meio.

Os camaradas se referiram aqui à escassez de jornais. É certo que andamos


escassos de jornais. Mas, apesar de tudo, os jornais não bastam para elevar o
nível cultural. Precisa-se deles para a orientação política num dado momento, para
cobrir as exigências do dia. Mas para elevar o nível cultural é mister recorrer à
história da cultura, a todo o legado cultural da humanidade. Deve-se conhecer a
literatura russa e, em particular, as belas letras. Isto é indispensável. O professor
tem que tratar com o material humano mais jovem e impressionável. A meu ver,
pelo menos, a literatura oferece um riquíssimo panorama de tipos humanos. Na
literatura vemos os tipos humanos nas circunstâncias mais diversas. Por isso, o
conhecimento da literatura é para vós quase um dever profissional. Assim sendo, a
elevação do nível cultural há de consistir em primeiro lugar no conhecimento da
literatura, que é a que mais contribui para enriquecer os conhecimentos do
homem, a que melhor permite ao homem desenvolver-se (julgo por minha própria
experiência), a que permite compreender melhor as pessoas.

Isto é tudo o que eu queria dizer-vos. Sobre esse tema se poderia falar até ao
infinito, pois são muitos os problemas de vosso trabalho que esperam solução. Mas
ouvistes o principal, o fundamental de quanto eu desejava dizer-vos. Desejaria
apenas que ao regressar a vossas casas não vos esquecêsseis dos meus
conselhos. (Grandes aplausos).

Início da página

Inclusão 20/10/2012

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Discurso na Solenidade em Honra


dos Professores Rurais
Condecorados
M. I. Kalinin

8 de Julho de 1939

Primeira Edição: “Sobre as tarefas da intelectualidade soviética”, págs. 46-49. Edições Políticas
do Estado, 1939.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 63-67.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Camaradas: Torna-se evidente para todos que a


condecoração dos professores nacionais com ordens e
medalhas tem uma grande significação política. Com estas
condecorações, o Governo e o povo soviéticos elevam o
professor nacional a uma grande altura.

Logicamente surge a pergunta: para quê se necessita que


o professor nacional esteja situado a uma grande altura?

A classe operária e o campesinato, em outras palavras,


todo o povo que tomou o Poder em suas mãos quer manter
esse Poder, quer construir uma nova vida, isto é, o comunismo; quer que todos os
povos do mundo tomem a União Soviética como exemplo nesse sentido. E para
consolidar definitivamente esse Poder e construir o comunismo é preciso que o
povo tenha sua própria intelectualidade, é preciso que o povo adquira cultura, é
preciso que desapareça toda oposição e toda diferença entre o trabalho intelectual
e o trabalho físico. Mas quando será que o trabalho intelectual terá deixado de
diferenciar-se do trabalho físico? Somente quando todos os homens, quando todo
o povo de nosso país seja um povo instruído, quando tenhamos edificado o
comunismo.

Fazer com que todo o povo da enorme e multinacional União Soviética seja um
povo instruído é uma das maiores tarefas. Mas nós não só queremos que seja
instruído, queremos além disso que nosso povo receba uma educação soviética,
comunista. Queremos que nossa escola proporcione uma educação comunista. E o

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que significa isso? Precisamente sobre esse tema quero dizer umas quantas
palavras.

Sabeis perfeitamente que não só nas escolas primárias, como nem tampouco
nas secundárias se estuda a fundo o marxismo.

Mas quando falamos da educação comunista não nos referimos ao ensino da


doutrina do marxismo, mas precisamente à educação. Há uma enorme diferença
entre ensino e educação! Eu mesmo poderia ensinar os princípios da aritmética
aos alunos de primeiro ano (demonstrações ruidosas de aprovação, aplausos),
mas a educação é um assunto muito mais complicado. Não é em vão que se dizia
antes que a família educa o homem, que o meio educa o homem, que a escola
imprime seu timbre no homem. A educação é uma das tarefas mais difíceis —
refiro-me à verdadeira educação, a uma educação acertada.

Que quer dizer educar? Educar é influir sobre a fisionomia psíquica e moral do
aluno, é influir num determinado sentido durante seus dez anos de estudo, isto é,
fazer dele um homem. Educar é portar-se com os alunos de tal forma que, quando
se resolvam os infinitos choques e mal-entendidos inevitáveis na vida escolar, os
meninos cheguem a convencer-se de que o professor procedeu corretamente. Isto
deixa uma profunda marca na alma infantil. Se o professor qualificou com
parcialidade um aluno preguiçoso, estou convencido de que essa classificação
parcial não deixará de repercutir na psicologia dos alunos. Pois o problema reside
precisamente nisto, em que o professor está metido numa espécie de sala de
espelhos, submetido aos olhares de centenas de penetrantes e impressionáveis
olhos infantis, com uma capacidade assombrosa de captar tanto os aspectos
positivos do professor como os seus lados negativos. A educação dos alunos
estriba-se antes de tudo na conduta do professor na aula, em sua atitude para
com os alunos. E isto é o que faz da educação algo sumamente difícil.

Com isto não quero de forma alguma voltar as costas à necessidade de uma
boa instrução para os meninos. Para vós, como professores, isto é evidente. Mas o
trabalho educativo escapa muitas vezes à atenção do professor, quando na
realidade tem uma enorme importância para a formação do caráter e da fisionomia
moral dos garotos. Muitos professores esquecem seu dever de pedagogos. E o
pedagogo é um arquiteto de almas humanas. Está claro que para saber influir
sobre os alunos no sentido necessário se requer uma capacidade especial. Mas isto
não é tudo. Para poder exercer conscientemente uma determinada influência é
preciso que o próprio professor seja uma pessoa muito culta e, positivamente,
muito instruída.

Pois, em realidade, o Estado e o povo lhe confiam os meninos, isto é, lhe


confiam seus homens numa idade em que se pode influenciá-los com a maior
facilidade; lhe confiam a educação, o desenvolvimento e a formação dos meninos,
isto é, põem nas mãos do professor suas esperanças e seu futuro. Essa grande
confiança implica para o professor numa enorme responsabilidade. É claro que os
professores devem ser pessoas que, duma parte, possuam uma grande instrução
e, de outra, sejam de uma honradez cristalina. Pois a honradez, o caráter

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11/09/2019 Discurso na Solenidade em Honra dos Professores Rurais Condecorados

insubornável, no sentido mais elevado da palavra, além de impressionar o menino,


e contagia-o e deixa nele um sinal profundo para o resto da vida.

Pois bem, camaradas, nós queremos que nossos filhos se eduquem no espírito
comunista, queremos que se lhes inculquem os princípios comunistas. Talvez vos
ocorra perguntar: quais são esses princípios comunistas?

Os princípios comunistas tomados em seu aspecto mais simples, são os


princípios de um homem altamente instruído, honrado e de vanguarda; e esses
princípios são: o amor à Pátria socialista, a amizade, a camaradagem, o
sentimento humano, a honradez, o carinho pelo trabalho socialista e uma série de
outras elevadas qualidades fáceis de compreender para qualquer um. A educação,
o cultivo dessas virtudes, dessas elevadas qualidades, é a parte mais importante
da educação comunista.

Essas virtudes não podem ser inculcadas ao menino com prédicas à base de
belas palavras nem com uma simples agitação verbalista. Essas virtudes só podem
ser profundamente inculcadas na consciência do menino exercendo sobre ela,
durante todo o período da vida escolar, uma ação continua, imperceptível e
baseada em relações de camaradagem. E, naturalmente, isto só será possível
quando os próprios professores dominem o marxismo-leninismo, ainda que seja
em termos gerais.

Dizemos com frequência que se deve dominar o marxismo-leninismo. Devo


dizer-vos — porque o sei por experiência própria — que o estudo do marxismo-
leninismo ajuda extraordinariamente no trabalho, ajuda a encontrar a solução
acertada de numerosíssimos problemas que surgem no trabalho de cada um. Ante
nossos professores se ergue a muito difícil tarefa de educar no espírito comunista,
de inculcar uma consciência comunista aos homens soviéticos. Somente se pode
resolver com êxito essa tarefa sob a condição de que nossos professores não só
sejam pessoas muito instruídas, como possuam também uma preparação
marxista.

Nesse aspecto vos encontrais na mesma situação que eu e os camaradas


sentados a esta mesa. Creio que estareis todos de acordo comigo em que nosso
povo se desenvolve com extraordinária rapidez e que com igual rapidez se
desenvolve seu grau de consciência, sua instrução e sua cultura e que este
processo tem lugar em todos os rincões de nosso país. Agora já não temos aqueles
“sórdidos” rincões, agora cada rincão de nosso país se considera uma partícula de
Moscou. (Ruidosas manifestações de aprovação. Aplausos prolongados).

E que quer dizer que o povo se desenvolve? Quer dizer antes de tudo que cada
ano se incorporam a nosso meio dois milhões de pessoas instruídas. E se nós, os
velhos que não passamos pela escola moderna, nos obstinamos e não tratamos de
colocar-nos em seu nível, pouco a pouco iremos sendo deslocados. Por isso
também os professores que fizeram os seus estudos na velha escola não devem
cair agora na negligência, O mestre não é só professor, é também aluno.
(Aplausos)

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11/09/2019 Discurso na Solenidade em Honra dos Professores Rurais Condecorados

O professor entrega a seus alunos, ao povo, todas as suas energias, seu


sangue, tudo o que tem de valor. Mas, camaradas, se entregardes hoje, amanhã e
depois de amanhã tudo o que tendes, e ao mesmo tempo não completardes
constantemente vossos conhecimentos, vossas forças e vossa energia, resultará
que ficareis sem nada. (Vozes de aprovação). De um lado, o mestre entrega; e de
outro, absorve como uma esponja o melhor que têm o povo, a vida, a ciência e
torna a entregar tudo isto aos meninos. (Vozes: “Muito bem!” Aplausos).

E se o professor soviético quer ser tanto hoje como amanhã um verdadeiro


mestre, um mestre avançado, deve marchar sempre com a parte mais avançada
do povo. Então, por muito que dê a seus alunos, se ao mesmo tempo se nutre, se
absorve os melhores traços e as melhores qualidades do povo, sempre terá um
excesso dessa seiva para a garotada.

Hoje reuniram-se aqui professores vindos de todos os confins da União


Soviética. Alegra-me extraordinariamente a presença neste local de ucranianos,
georgianos e professores das repúblicas autônomas. Quisera que levásseis de
Moscou tudo o que Moscou vos pode dar. Quisera que vossas condecorações, que
o ato de sua entrega, que a acolhida que vos foi dispensada em Moscou, que tudo
isso ficasse gravado em vós para toda a vida, como luminosa recordação.
(Grandes aplausos). Quisera que tudo isto representasse para vós um vinculo
estreito, um laço indissolúvel que vos una com o centro, com Moscou, ou em
outros termos, com o Governo soviético, com o Partido, com o camarada Stálin. E
quisera que esse sentimento de união com o Governo, com o Partido e com o
camarada Stálin perdurasse para sempre em vosso trabalho cotidiano. (Os
presentes se erguem numa grande ovação em honra do Partido, do Governo e do
camarada Stálin).

Início da página

Inclusão 22/10/2012

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11/09/2019 Discurso na Conferência de Alunos da Oitava, Nona e Décima Classes das Escolas Intermediárias Completas do Distrito Bauman …
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Discurso na Conferência de
Alunos da Oitava, Nona e Décima
Classes das Escolas
Intermediárias Completas do
Distrito Bauman de Moscou
M. I. Kalinin

7 de Abril de 1940

Primeira Edição: “Questões da educação comunista”, págs. 28-35. Edições Políticas do Estado,
1940.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 68-76.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Camaradas: Os meus desejos, da mesma forma que os


vossos, são que vos apliqueis em vossos estudos. Este é o
desejo geral, de vossos pais, do Governo, de vossos
professores e de toda a geração adulta.

Está claro que não se trata só de boas intenções, mas de


que deveis estudar e além disso, estudar muito. A escola é o
único lugar onde vos habituam a um trabalho sistemático. Por
muito que alguém se empenhe em obter conhecimentos à
margem da escola, prescindindo dela, só com seu esforço,
não será, apesar de tudo, mais do que um autodidata, como se costuma dizer.

Outros pensam: Que me importa a escola! A questão é terminá-la mesmo que


não seja com qualificações muito brilhantes, pois no fim de tudo isto se refletirá
unicamente na ficha escolar, mas não na vida. Está claro que os que assim
pensam não têm razão. A escola proporciona ao homem conhecimentos
sistematizados, prepara-o para o trabalho qualificado. E vós, na maioria, sereis
provavelmente trabalhadores qualificados. Por isso deveis estudar, deveis estudar
com tenacidade e insistência.

Quem quiser ser no futuro um trabalhador qualificado, deve passar pela escola
soviética e aprender a trabalhar de modo sistemático com os livros e ampliar seus
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11/09/2019 Discurso na Conferência de Alunos da Oitava, Nona e Décima Classes das Escolas Intermediárias Completas do Distrito Bauman …

conhecimentos. A vida será difícil para quem não tenha passado pela escola; o
trabalho a que depois se dedique também lhe ficará difícil. A falta de
conhecimentos sistematizados e de um hábito de trabalho sistemático é um defeito
que sentireis sempre e em todas as partes, que vos perseguirá constantemente,
agarrado aos calcanhares como uma sombra. E, diga-se de passagem, eu o
experimentei e o continuo experimentando até o dia de hoje. Por essa razão,
deve-se tirar o maior proveito possível da escola — desde a primeira até à sétima
ou até à décima classe — como de uma fonte decisiva de conhecimentos
sistemáticos.

Nenhum escolar deve esquecer que só pode ter certa significação na vida
social e política, em qualquer esfera que seja de utilidade, quem saiba trabalhar de
modo sistemático e conheça seu trabalho. Mas os que só luzem uma cultura
superficial, só adquirem um verniz cultural, as pessoas do tipo de Onéguin(1),
capazes de dizer algo sobre qualquer tema mas que não sabem nada de
substancial, essa gente não desempenha nem desempenhará nenhum papel de
importância na vida da sociedade nem do Estado soviético.

Desta tribuna falaram hoje os alunos destacados. Devo dizer-vos, camaradas


destacados, que falais bem, com eloquência, mas — perdoai-me a franqueza —
com uma falta absoluta de originalidade. Claro que esta franqueza deve ser
desagradável para vós, mas eu não o digo para desagradar-vos e sim para que
compreendais o principal, o mais necessário no estudo. Vossa oratória é correta e
não se lhe pode opor nenhuma restrição. Trata-se, sob todos os pontos de vista,
duma oratória fluente. Vossos discursos poderiam ser colocados no jornal mural da
escola sem que seu redator se visse exposto a um reparo. Mas essa oratória não
emocionará ninguém, não proporcionará nada nem ao espírito nem ao coração.
Pois sois jovens e inclusive vossa maneira habitual de expressar-vos adquire um
caráter emocionante. E as palavras que mais impressionam são as que tocam no
que é vivo, as que provocam assentimento ou objeção. Este é o primeiro sintoma
de que o orador possui alguma ideia própria, alguma ideia viva.

Mas, camaradas, isso se adquire com o tempo. Sois ainda jovens e tendes
tudo pela frente. Por isso me atrevo a dizer-vos que vossa oratória carece de
originalidade. Se tivésseis cinquenta anos, eu não o diria por temor a que nunca
chegásseis a falar com originalidade. Ainda tendes toda a vida pela frente e
conseguireis falar com originalidade. Não tenho a menor dúvida. Mas por enquanto
vossa tendência é falar com frases feitas, com frases que não são próprias, mas
alheias. Em vossas intervenções não se percebe ideias próprias, ideias vivas.
Vossas palavras são como a luz da lua, que não aquece.

De todos vós, talvez o único que falou com sua própria linguagem foi o último
orador, o camarada Karib. Por sua maneira de falar via-se que pensa suas frases,
que tem uma ideia própria. E isto é o mais importante.

Suponhamos que vem visitar-vos uma pessoa enviada pelo Comitê da


organização do Komsomol. É uma pessoa tão treinada na arte de falar que é capaz
de pronunciar um discurso em qualquer momento e sobre qualquer tema. Sua
palavra flui ininterruptamente, suave e bela como um grande rio por entre uma

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formosa paisagem. Mas essa palavra só é bela exteriormente, pois lhe falta o
principal, falta-lhe alma. É uma flor de rosmaninho. E um orador como esse não
vos dará nada porque ele mesmo não pensa suas frases. Um orador como esse
não emociona com o conteúdo de suas palavras. Os que o escutarem só poderão
exclamar: Ah! Como fala bem! E nada mais.

Suponhamos agora que quem veio visitar-vos não é um “boca de ouro”, mas
simplesmente uma pessoa reflexiva. Sua oratória não se destaca por sua beleza e
inclusive frequentemente se interrompe. Vê-se que pensa e fala, que fala e pensa.
Quando se detém a meditar suas frases, obriga a pensar com ele todo o auditório,
que o segue, segue o curso de seu pensamento. Os que o ouviram falar podem
dizer: esse orador expôs uma ideia concreta. E as pessoas reagem ante essa ideia:
admitem-na ou a rechaçam, discutem-na ou a aprovam, indignam-se ante ela ou a
acolhem com benevolência.

O camarada Karib se parece com um orador deste tipo. Deveis todos assimilar
os princípios e o método desse orador para pensar, para poder construir vós
mesmos vossas frases e não falar com frases feitas e preparadas de antemão. E
então se verá além disso se conheceis ou não o idioma russo.

Aqui intervieram alunos da oitava, nona e décima classe e, além disso, alunos
destacados, que, do ponto de vista teórico, isto é, de acordo com os programas de
estudo, deveriam conhecer bem o idioma russo e expressar-se corretamente em
russo. Mas, por desgraça, não posso dizer se sabem ou não o russo, porque se
exprimiram com frases feitas, com frases estereotipadas. Mas em compensação o
camarada Karib, quando falava, construía ele mesmo suas frases. E quando uma
pessoa constrói suas próprias frases, então se pode julgar se sabe ou não sabe- o
russo, se a escola lhe ensinou ou não lhe ensinou a expor suas ideias. Este
caminho, o caminho do camarada Karib, é o que devem seguir os escolares
soviéticos se é que de fato querem trabalhar seriamente, se é que não consideram
a escola como um castigo do céu.

E não digo isto por dizer. Em realidade acontece que alguns consideram a
escola como uma carga e uma obrigação, como um purgatório pelo qual se deve
passar para chegar ao “céu”. Mas se não pensais assim, se considerais o estudo
como uma feliz oportunidade que deve ser aproveitada totalmente para vos
instruir e ampliar o horizonte de vossos conhecimentos, então é preciso que vos
expresseis com vossas próprias palavras. Isto se refere tanto a vosso trabalho de
composição como à resolução dos diferentes problemas de matemática, aos
exercícios de desenho linear e de figuras, etc., etc.

Suponhamos que tendes de escrever uma composição e recorreis amiúde aos


“serviços” de outros alunos mais adiantados ou simplesmente copiais de uma
“cola”. Camaradas, isso é fatal: assim nunca chegareis a aprender nada. Mais vale
escrever menos bem a composição, contanto que seja rigorosamente algo original.
Ainda que tenhais que refazer e copiar mil vezes o que vós mesmos escrevestes,
isso não deve assustar-vos e não deveis poupar vossas fôrças, pois isso vos
habituará a um trabalho independente, nisso reside precisamente a independência
no trabalho.

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Ou tomemos, por exemplo, as conferências. Temos muitos tipos de


conferencistas. Há os que podem falar durante duas, três e até cinco horas,
contornando a dificuldade de qualquer jeito com lugares-comuns e recorrendo a
frases de efeito para que as pessoas aplaudam cada 15 ou 20 minutos. Isto não é
difícil. É o mais fácil de tudo. Para uma conferência como essa não se requer muita
inteligência. Mas pronunciar uma conferência com menos palavras e sobretudo
com palavras meditadas e selecionadas pelo conferencista — ainda que o estilo
saia defeituoso — isto é muito mais difícil.

Aqui se reuniram os alunos destacados. Claro que quando se reúnem os


melhores alunos torna-se muito mais fácil chegar a um acordo com eles sobre o
que se deve fazer para que não haja alunos atrasados. Mas não seria errado reunir
os alunos atrasados e falar com eles para saber por que ficam para trás e o que é
que é preciso fazer para que não se atrasem.

Não pensava em intervir hoje. Para dizer a verdade, eu esperava que aqui se
fosse desenrolar uma encarniçada batalha, que iríeis falar dos defeitos da escola,
do que lhe falta. Mas resulta que vossa reunião se converteu numa sessão solene.
E onde abunda a solenidade, geralmente falta o conteúdo.

Hoje falaram aqui os melhores alunos, cujos discursos tinham o caráter duma
prestação de contas. Nota-se que a coletividade obrigou-os a intervir dessa forma.
Os camaradas disseram: “Antes ocupávamos o sétimo lugar e agora passamos ao
quinto. Esperamos conquistar o terceiro”. Mas nenhum deles disse o que pensa
fazer, aonde se deseja ir quando terminar a décima classe. Mas o que ocorre,
camaradas, é que ides terminar a escola intermediária, estais no umbral da vida
independente.

Se eu fosse aluno da décima classe — por desgraça não o posso ser — no mês
de abril do ano da promoção enfrentaria de início o seguinte problema: para onde
ir? E não há dúvida de que eu teria decidido com exatidão o lugar para onde iria.

Mas nem sempre se pode ir para onde se quer. Provavelmente muitos de vós
desejariam entrar para o Instituto de Jornalismo. Eu o sei pelos concursos dos
anos anteriores. Mas ali não podem ingressar todos os que o desejam, pois o
concurso é muito difícil. E apesar de tudo, aonde ir? Ou talvez não vos interessa de
modo nenhum esse problema? Isto seria um mau sintoma. Considero um grave
erro que em vossas discussões tenha faltado uma questão tão importante como
esta. Por certo, me agradaria muito saber quais são as aspirações da maioria dos
escolares, qual é a profissão preferida por nossa juventude, pois isso seria muito
significativo e sobre a base desses dados se poderia fazer deduções de interesse.
Mas através de vossas intervenções não consegui saber nada, pelo que não posso
fazer nenhuma espécie de deduções.

Apesar de tudo, não posso chegar a crer que essa ideia não vos tenha passado
pela cabeça. Sem dúvida é uma ideia que vos preocupa a todos. Em vossa idade,
quando se é jovem, todos devem pensar nesse problema. Não há dúvida de que,
entre vós, noventa por cento se propõem realizar grandes façanhas e reorganizar
o mundo à sua maneira. Também eu tinha essas ideias em meus anos de

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juventude. Com toda certeza essas ideias fervem em vossas cabeças, pois não
poderia ser de outro modo. Para isso sois jovens.

Mas agora chegou o momento em que tendes de vos definir, em que tendes de
dar uma resposta completa à pergunta: aonde ir? Muitos resolvem a questão de
maneira demasiado simples: sou Komsomol, depois serei comunista, cidadão
soviético, e assunto acabado, já está “determinado” o meu destino. Mas essa é
uma “autodeterminação” demasiado fácil.

Determinar com seriedade o próprio destino é traçar o caminho que há de


seguir sua vida, é forjar um caráter próprio, convicções próprias, encontrar a
vocação. Cada um de vós deve fazer o seguinte raciocínio: eu sou um homem
soviético, cidadão dum Estado rodeado de inimigos e pelo qual não terei que lutar
menos, mas talvez mais do que lutaram as velhas gerações. Tomai como exemplo
nossa geração, a geração dos velhos bolcheviques. Nós lutamos contra os
capitalistas e latifundiários russos que eram um inimigo relativamente débil, mal
organizado e pouco culto. Ao contrário, vós tereis que lutar contra um inimigo
incomparavelmente mais forte, mais organizado, mais pérfido, mais experiente na
luta política e nos diversos métodos e processos de mistificação. É preciso
preparar-se para essa luta de maneira tenaz e sistemática.

Mas deveis ter presente que esta luta não vai desenrolar-se somente nos
campos de batalha. Nossos estudantes já realizaram prodígios de valor nos
campos de batalha durante os primeiros choques de sondagem. E isso não tem
nada de estranho. Como não ia ser valente nossa culta juventude soviética! Esta
luta se estenderá a todas as esferas de nossa vida. Será o ponto culminante da
intensificação da luta que se leva a cabo desde os primeiros dias da existência do
Poder Soviético.

E para obter a vitória nesse choque decisivo deveis temperar vosso caráter e
vossa vontade na luta diária, deveis determinar com exatidão qual há de ser o
vosso lugar na edificação socialista e dominar com perfeição a atividade a que
tenhais consagrado a vida.

Mas essa autodeterminação também é de suma importância na vida diária de


cada um de vós. Quando tiverdes conseguido formar vosso caráter, quando
tiverdes definido claramente vossa concepção do mundo, quando tiverdes
encontrado vosso lugar e assimilado vosso papel na edificação do socialismo e na
luta diária, quando o objetivo de vossa vida já seja o de levar à prática vossas
convicções, então se poderá dizer que tereis adquirido ao mesmo tempo uma
imunidade segura contra toda sorte de arranhões, desenganos e reveses da vida.
Às vezes ocorre que um aluno namora durante muito tempo uma jovem e depois a
abandona, começando a namorar uma outra; aí tendes todo um “drama”. Não
deveis supor que estou falando com a ironia própria dum velho. Também fui jovem
e respeito agora os sentimentos juvenis. Pois bem, numa pessoa que ainda não se
formou, que não definiu sua posição na vida, esse “drama” pode adquirir uma
importância demasiado grande e ser a causa de que, em geral, se desiluda da
vida, o que poderia deixar nela um profundo ressentimento que durasse muitos

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anos. Mas para uma pessoa que definiu claramente sua posição na vida, esse
“drama” passará sem provocar graves perturbações.

Portanto, é preciso que o homem tenha o quanto antes um caráter formado e


uma firme concepção do mundo. Se ele diz: serei zoólogo — ponto final. Dedicará
tudo o que tiver à sua atividade no campo da zoologia, para o bem de sua pátria.
Essa é a diferença que existe entre o zoólogo soviético e o zoólogo de um país
capitalista. O zoólogo soviético dirá: nesse campo tenho que trazer a máxima
utilidade para minha Pátria. E o conseguirá, realizará uma grande obra. E para um
homem como este será incomparavelmente mais fácil resistir aos arranhões,
reveses e dramas da vida do que a um outro, que não tenha definido sua
orientação, que careça de vocação definida, de uma ideia definida.

Pessoalmente, sinto um grande respeito pelas pessoas que forjaram seu


caráter e suas convicções. Talvez seja demasiado cedo para que vos ocupeis disto?
Não, camaradas, não é demasiado cedo. Sem dúvida conheceis bem a vida do
camarada Stálin. Aos quinze anos já se tinha feito marxista e aos dezessete foi
expulso do seminário por ter determinadas convicções políticas, orientadas em
tudo contra a autocracia tzarista, contra o capitalismo. Vedes, pois, com que pouca
idade determinou o camarada Stálin a orientação de sua vida. E se antes os
homens podiam determinar a orientação de sua vida com tão pouca idade, vós
podeis resolver agora este problema com maior facilidade.

Como conclusão, quero dizer-vos ainda o seguinte. Asseguraram-me que entre


vós há quem pense que não tem sentido procurar obter as máximas qualificações
nos exames finais se, de qualquer modo, não vão ingressar nas escolas superiores,
mas terão que ir para o exército. Este raciocínio é totalmente errôneo. Antes de
tudo, não se deve examinar o problema exclusivamente do ponto de vista das
qualificações. Não se trata das qualificações, mas de que esses camaradas já não
terão no futuro a possibilidade de realizar um estudo sistemático, isto é, não
poderão sanar as falhas que tenham nos conhecimentos proporcionados pela
escola intermediária. Além disso, supomos que a a maioria dos camaradas, se é
que terminaram bem a escola secundária, poderão ingressar nas escolas
superiores ao terminar o serviço militar, sem falar já de que muitos deles
ingressarão nos centros de ensino superior do próprio exército. No Exército
Vermelho temos muitas instituições de ensino cujo corpo discente se constituirá
primordialmente à base dos que tenham terminado a escola intermediária com
boas qualificações. Por isso deveis estudar na escola intermediária com a máxima
intensidade.

A escola superior é já outra coisa, ali encontrareis um ensino de ordem


superior, onde as pessoas já se formam para trabalhar em um ramo determinado
da ciência, ao passo que na escola intermediária os alunos só aprendem a
trabalhar de modo sistemático, não fazem mais do que colocar os alicerces de sua
instrução.

Por isso considero que os camaradas que pensam que não tem sentido estudar
com a máxima intensidade na escola intermediária equivocam-se profundamente e
podem causar um dano irreparável a si mesmos.

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Desejo de todo o coração aos alunos de décima classe deste ano que sejam
bons soldados nas fileiras de nosso Exército Vermelho e que ao mesmo tempo
sejam bons estudantes de nossas escolas superiores. (Tempestuosos aplausos).

Início da página

Notas de rodapé:

(1) Herói do poema de Púchkin “Eugênio Onéguin”, (N.T.). (retornar ao texto)


Inclusão 26/10/2012

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Discurso na Reunião do Comitê


Central da União das Juventudes
Comunistas da URSS com os
Secretários dos Comitês Regionais
do Komsomol Encarregados do
Trabalho entre os Escolares e os
Pioneiros
M. I. Kalinin

8 de Maio de 1940

Primeira Edição: "Questões da educação comunista”,págs. 20-27. Edições Políticas do Estado,


1940.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 77-85.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Camaradas: Eu não tinha a intenção de falar, mas o


camarada Mikháilov diz que não escaparei. Que posso dizer-
vos com relação à presente reunião? Parece-me que em
vossos informes faltam vários elementos muito substanciais.

Sois os secretários dos comitês regionais do Komsomol


encarregados do trabalho entre os escolares e os pioneiros.
Quisera compreender o que isto quer dizer. Recio aplicar-me o
qualificativo de velho, mas apesar de tudo já estou próximo
de sê-lo e por isso recorro a comparações de velho tipo. Que
posto poderíeis ocupar no antigo Ministério da Instrução Pública? Por mais que eu
tenha estado procurando, não pude encontrar algo que fosse mesmo remotamente
adequado.

É de supor que vossa missão, que vossa missão fundamental é a penetração


política na escola e no seio do magistério para ajudar o Partido e o Poder Soviético
na educação comunista dos meninos soviéticos. Aqui falaram muitos camaradas

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1940/05/08.htm 1/6
11/09/2019 Discurso na Reunião do Comitê Central da União das Juventudes Comunistas da URSS com os Secretários dos Comitês Regionai…

que informaram sobre seu trabalho. Percebe-se que pessoas cultas e instruídas
acorreram a esta reunião. Posso dizer que fazeis bem vossos informes. O informe
mais brilhante foi feito pela secretaria do Comitê Central do Komsomol da
Bielorrússia. Mas creio que teria podido fazer outro tipo de informe se não temesse
atuar com independência. Seu informe, no fundo, não difere dos demais. Pelo
conteúdo todos os vossos informes foram iguais. Por que foram iguais? Porque
têm, por assim dizer, um caráter organizativo-administrativo-disciplinar. Todos
falaram aqui num plano de inspeção e com certo tom de autoridade. Este é o
primeiro de vossos grandes defeitos.

É bastante eloquente o fato de que nenhum de vós se tenha detido no método


de ensino, que ninguém tenha dito uma palavra sobre o nível cultural geral dos
professores soviéticos e em particular, dos professores que pertencem ao
Komsomol, que devem ser a figura dirigente na escola. Pergunto: encontrastes
professores pertencentes ao Komsomol que sejam os melhores em pedagogia ou
em qualquer outra esfera do trabalho escolar? Se isto ocorreu deveríeis ter falado
neles. E se não os encontrastes, é uma vergonha para vós, pois é indubitável que
tais homens existem em nossas escolas, sendo impossível que não existam. Esta é
uma questão de muita importância. Não obstante, ela parece achar-se fora de
vosso campo visual. E uma vez que não prestastes atenção a este problema, quer
dizer que ainda não foi compreendido de todo qual deve ser o vosso papel.

Ser secretário duma organização do Komsomol para o trabalho entre a


juventude escolar e os pioneiros significa ser um modelo para centenas e milhares
de professores. Vós mesmos dissestes aqui que trinta por cento dos professores
estão em idade de Komsomol. E se eles seguem vosso exemplo, seguramente
farão os mesmos informes de tipo organizativo-administrativo-disciplinar. Por
desgraça, nenhum de vós nos disse como vivem e trabalham os professores
pertencentes ao Komsomol. Este é o segundo de vossos grandes defeitos.

Prossigamos. Se aspirais a pôr ordem e estabelecer a disciplina na escola — é


imprescindível que aspireis a isso — é preciso antes de tudo elevar o prestígio do
professor. Não me refiro àqueles casos isolados em que os professores carecem de
prestígio porque conhecem mal sua matéria ou porque, apesar de conhecê-la bem,
não sabem ensiná-la, ou então porque, em geral trabalham rotineiramente. Refiro-
me àqueles casos em que estão presentes as condições objetivas e subjetivas
necessárias para uma elevação do prestígio do professor. E eu vos pergunto, que
fizestes para elevar e fortalecer esse prestígio? Por desgraça, não vos detivestes
em nada quanto a esta questão, inclusive nada foi dito sobre se o prestígio dos
professores, em geral, se eleva ou não se eleva, e se se eleva, de que maneira,
por que meios. Este é o terceiro de vossos grandes defeitos.

Prossigamos. Considero que os secretários dos comitês do Komsomol


encarregados do trabalho entre os escolares e os pioneiros devem ser pessoas
duma grande cultura. Com isso não quero dizer de forma nenhuma que deveis ser
única e exclusivamente pedagogos especializados. Não, não se trata disso. Creio,
inclusive, que se fosseis única e exclusivamente pedagogos especializados
poderíeis prejudicar em algo vosso trabalho. Deveis ser pessoas duma elevada
cultura no sentido duma erudição geral, isto é, deveis conhecer a fundo as obras

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11/09/2019 Discurso na Reunião do Comitê Central da União das Juventudes Comunistas da URSS com os Secretários dos Comitês Regionai…

de tipo geral e de tipo especializado sobre as questões fundamentais em matéria


escolar, sobre os ramos fundamentais da ciência, da arte e da técnica, deveis
conhecer bem a literatura, etc., porque sois um modelo para os professores
pertencentes ao Komsomol. Deveis possuir uma elevada cultura no sentido de
saber manter uma atitude correta ante os professores, no sentido de saber tratar
as pessoas em geral, no sentido de proceder com tato. Se chegais a adquirir estes
elementos de cultura, conhecereis antes e mais facilmente as exigências
espirituais e os interesses do magistério soviético, vos inteirareis sem dificuldade
do que leem as pessoas, que obras preferem, qual sua atitude diante da literatura
em geral e, por último, vos será mais fácil conhecer o estado de ânimo dos
professores e dos alunos. Só então chegareis a ser verdadeiros auxiliares do
Partido e do Poder Soviético na educação comunista dos escolares.
Lamentavelmente, tampouco foi dito nada a respeito. Este é o quarto de vossos
grandes defeitos.

Parece-me que deveis fazer vossos informes de modo completamente


diferente. A julgar por muitos dados e, em particular, pelo fato de que não careceis
de eloquência, isto encaixa perfeitamente dentro de vossas possibilidades. Claro
que para isso tereis que trabalhar seriamente, meditar sobre muitas coisas, pois
aqui vos ameaçam vários perigos, podeis ter falhas e cometer erros. Mas não é
próprio de membros do Komsomol temer as dificuldades e retroceder diante dos
perigos. Vossas intervenções devem ser um manancial de iniciativas e de ideias
criadoras. Naturalmente, quando é preciso, pode-se dar-lhes um matiz
organizativo-administrativo-disciplinar, mas ainda assim, o informe deve encher-se
de conteúdo político e é preciso fazer com que nele se destaquem os valores
culturais que crescem e se desenvolvem entre os alunos e entre os professores.

Quero dirigir-me em particular às mulheres do Komsomol. Camaradas: entre


os membros do Komsomol dedicados a trabalhar na esfera da instrução pública,
vós sois as mais cultas, porque nós levamos os jovens cultos a muitos outros
lugares, começando pela aviação e terminando pela mineração. Na esfera da
instrução pública trabalham mais que ninguém mulheres do Komsomol. Na
realidade, a instrução pública vos foi entregue “em concessão”, a vós mulheres do
Komsomol, e sois principalmente vós que respondeis pela escola. Por isso, sois vós
quem, em primeiro lugar, deve elevar o nível cultural dos professores em idade de
Komsomol, como já há tantos entre os nossos professores.

Falou-se aqui duma professora que não soube resolver um problema, pelo que
é considerada má professora. Isso é abordar a questão dum modo mecânico e
totalmente errôneo. Onde poderemos encontrar essas luminosidades capazes de
resolver qualquer problema? Um de meus filhos era professor dum centro de
ensino secundário. Certa ocasião perguntei-lhe:

És capaz de responder a todas as perguntas que te possam fazer os alunos


sobre tua disciplina?

Ele me respondeu:

— Como poderei responder a todas as perguntas? Quando me perguntam algo


que não posso responder, digo-lhes: “Agora não posso responder-lhes esta
https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1940/05/08.htm 3/6
11/09/2019 Discurso na Reunião do Comitê Central da União das Juventudes Comunistas da URSS com os Secretários dos Comitês Regionai…

pergunta: fá-lo-ei na próxima vez”.

É claro que a coisa não é fácil para o professor quando quarenta olhos infantis
o fitam com malícia e nesses olhos brilha a ideia maliciosa: “Até que enfim te
metemos num aperto”. Não obstante, o professor tem a obrigação de dizer
francamente aos alunos: “Agora não posso responder a esta pergunta porque não
sei como fazê-lo, mas na próxima vez procurarei esclarecer tudo”. Em meu modo
de ver essa será uma atitude honrada do professor ante seus alunos. E é preciso
acostumar os alunos com a honradez.

Em minha casa tenho seis pessoas com instrução superior, em sua maioria
engenheiros, que por conseguinte devem conhecer bem matemática. Na época em
que minha filha menor estudava ainda na escola secundária, quando preparava
suas lições e tratava de resolver algum problema, os maiores porfiavam em ajudá-
la cada qual melhor. Imaginai que às vezes não podiam resolver o problema de
saída: tinham esquecido. Pareceria lógico que aquilo fosse para eles a coisa mais
corriqueira, pois são engenheiros e conhecem bem matemática. E apesar de tudo
falhavam. Isto indica que não se pode julgar por alguns casos isolados se uma
pessoa sabe ou não sabe sua disciplina, se é bom ou mau professor.

Não se pode elevar o prestígio do professor somente com medidas


administrativas. Mas quando vedes que tal ou qual professor é maltratado, então
deveis intervir, pois assim não só se quebra o prestígio desse professor, mas em
geral de todo o magistério. Se quisermos elevar o prestígio do professor, devemos
tratar dessa questão com muito cuidado. Claro que é um mal que o professor diga
que não vê sem óculos, quando em realidade não usa óculos. Mas ao mesmo
tempo devemos recordar que no mundo não existiu nem existe um sábio que
possa responder a todas as perguntas. Para elevar o prestígio do professor deve-
se cultivar nas pessoas de todas as idades um sentimento de profunda estima para
com ele, para o que se deve cercar o professor duma auréola de respeito geral.

Isto é o que, segundo me parece, deve ser feito através da atuação do


Komsomol, não em forma duma circular oficial, e sim como lei não escrita que
deve converter-se em tradição de todo o nosso Komsomol. E vós, secretários dos
comitês do Komsomol para o trabalho entre a juventude escolar e os pioneiros,
deveis ser os primeiros e mais zelosos executores dessa lei, pois a elevação do
prestígio do professor é uma linha comum de nosso Partido e do Komsomol.

Aqui se falou muito do aproveitamento dos escolares e foram citadas


diferentes porcentagens. É claro que as porcentagens têm importância para uma
visão de conjunto da situação. Mas vós não sois os chefes das Seções de Instrução
Pública. Além disso, conseguis essas porcentagens sem grandes esforços pedindo-
as aos professores ou diretores de escolas, que as entregam já calculadas. Por
conseguinte, nem sequer tendes que realizar um elementar trabalho de estatístico.
Para ser sincero, direi que esperava muito mais. Esperava que falásseis do que
encerram essas porcentagens. Deveríeis ter feito uma análise da situação, mesmo
que fosse somente do ponto de vista pedagógico. Mas nada disso ouvi dizer aqui.

Sabemos muito bem que alguns professores dão notas altas com grande
facilidade, ao passo que é muito difícil obtê- las com outros. Existem mesmo
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11/09/2019 Discurso na Reunião do Comitê Central da União das Juventudes Comunistas da URSS com os Secretários dos Comitês Regionai…

professores que não conferem graus de distinção pôr princípio, dizendo que só eles
mesmos merecem essa classificação. Mas também aqui é preciso saber distinguir.
Temos magníficos pedagogos, sobretudo entre os velhos, que devotam profundo
carinho á sua disciplina, apaixonam-se por ela e a ensinam bem. Os alunos amam
e respeitam profundamente a tais professores e, por causa deles, também gostam
da matéria. Ainda que esses professores sejam condescendentes em suas notas,
podemos afirmar a priori que seus alunos conhecem a matéria muito melhor que
as disciplinas explicadas por professores que consideram que somente eles
mesmos são merecedores duma nota de distinção. Não prestastes atenção
tampouco a este aspecto do problema.

De modo geral, causa-me certa estranheza o fato de vos terdes limitado a


fazer informes de tipo formal.

Expressando-me na linguagem de nossos críticos, direi que vossos informes


têm mais um caráter formalista e não um caráter de realismo socialista. Creio que
foi Briúsov quem disse: “Gosto da juventude porque é um bom ponto de apoio
para marchar para diante”. É certo. Não obstante, não se percebe que marcheis
para a frente, ainda que tenhais muitas possibilidades para isso. Pois não sois uns
chefes de Seções de Instrução Pública, abafados pelos assuntos administrativos,
desde a reparação da escola até a disciplina na mesma. Tendes relativamente
mais liberdade que o chefe de uma Seção de Instrução Pública. Sois os auxiliares
do Partido e do Poder Soviético, não tanto no que tange à reparação das escolas —
ainda que nisso também deveis ajudar quando se torne necessário — como no
tocante à tarefa de organizar e assegurar uma educação comunista da jovem
geração.

Por último, não sois observadores imparciais, mas, como suponho, ardentes
patriotas soviéticos. Em vós deve borbulhar a energia, e se não é assim, que
espécie de patriotas soviéticos sois vós? Deveis aspirar a marchar sempre para a
frente, deveis recolher todas as questões novas e de atualidade. Mas para isso,
repito, deveis possuir uma grande cultura. Se estivesse em minhas mãos, eu vos
obrigaria a dedicar pelo menos cinco horas diárias a ler literatura (belas letras e
obras consagradas aos diversos problemas da arte, da ciência, da técnica, etc.)
para que fosseis pessoas preparadas, cultas, instruídas; então, quando surgisse
qualquer questão prática e de princípio, o professor diria com seus botões: parece
uma enciclopédia! É assim que vosso prestígio crescerá rapidamente aos olhos dos
professores.

Pelo que compreendi, do ponto de vista formal careceis de poder sobre a


escola, mas podeis exercer uma enorme influência sobre ela, e neste sentido o
Partido espera de vós um grande e frutífero trabalho. Para tanto, insisto nisso mais
uma vez, os secretários do comitê do Komsomol encarregados do trabalho entre a
juventude escolar e os pioneiros devem ser pessoas dum alto nível cultural e os
mais destacados por este conceito no meio pedagógico.

E com a cultura deveis levar à escola o espírito bolchevique de partido. Que


quer dizer ser portador do espírito de partido? Agora a questão parece ter-se
simplificado consideravelmente: temos a “História do Partido Comunista

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11/09/2019 Discurso na Reunião do Comitê Central da União das Juventudes Comunistas da URSS com os Secretários dos Comitês Regionai…

(bolchevique) da URSS”; estudando-a, assunto concluído. Não obstante,


camaradas, um manual não é mais do que isso: um manual; e o espírito de
partido não deve inculcar-se somente através de um manual. Claro está que a
“História do P.C. (b) da URSS” é uma arma poderosa para o desenvolvimento da
ideologia marxista-leninista. Mas é que não se exige que as pessoas se orientem
somente na história do Partido de acordo com o ponto de vista marxista, mas que
o façam também em seu trabalho, na vida cotidiana e na vida em geral, que
focalizem os problemas concretos que surgem cada dia e a cada passo com um
espírito de partido, à maneira bolchevique.

Mas quando vos dedicais a estudar a fundo o manual, às vezes temeis sair do
marco de alguns de seus parágrafos. E se vos limitais a esse marco, sereis uns
maus marxistas, pois cada parágrafo não é um dogma, mas um guia para a ação.
Ao estudar a História do Partido bolchevique é conveniente que esses parágrafos
sejam ilustrados não somente com fatos do passado, mas que se lhes dê um
conteúdo atual, esclarecendo sua essência com exemplos tomados da vida
contemporânea.

Por exemplo, aqui se falou de um suicídio. Se eu me dedicasse a ensinar a


História do Partido talvez fosse um mau professor dessa disciplina, mas em
compensação não teria deixado passar por alto esse acontecimento sem
desenvolver o parágrafo correspondente. Demonstraria que esse comunista não
procedeu de modo marxista, que no fundo não era comunista, que só o era no
nome, pois um comunista não pode proceder dessa maneira. Se é assim que ides
estudar a História do Partido, então vos desenvolvereis de verdade, isto é, não só
consolidareis o conhecimento da História de nosso Partido, mas também
reafirmareis em vossa consciência os princípios comunistas, e no caso presente, a
ética proletária, a ética comunista.

E se vós, secretários dos comitês regionais do Komsomol encarregados do


trabalho entre a juventude escolar e os pioneiros, temerdes, como dirigentes,
estas questões, topareis com muitas dificuldades. Deveis levantar com audácia
estas questões entre os professores e procurar fazer com que sejam resolvidas do
ponto de vista marxista.

Como vedes, camaradas, coloquei muito alto vosso papel e a importância de


vosso trabalho, o que supõe para vós uma grande responsabilidade. Em particular,
isso exige de vós o que já disse a princípio: que vossos informes tenham um
grande conteúdo político, que sejam de fato informes com espírito de partido. Essa
será para vós a primeira lição de marxismo, de verdadeiro marxismo. E se assim
for, se conseguirdes superar os lugares-comuns e o dogmatismo em vossos
informes, vereis como isto se refletirá inevitavelmente em todo o vosso trabalho.
(Atroadores aplausos)

Início da página

Inclusão 30/10/2012

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11/09/2019 Sobre a Educação Comunista
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Sobre a Educação Comunista


Informe pronunciado na Assembleia do Ativo do Partido da Cidade
de Moscou

M. I. Kalinin

2 de Outubro de 1940

Primeira Edição: “Sobre a educação comunista", Edições Políticas do C.C. do P.C. (b) da URSS,
1940.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 86-111.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Camaradas: Há 20 anos, precisamente a 2 de outubro de


1920, Lênin pronunciou um discurso sobre a educação
comunista no III Congresso da União das Juventudes
Comunistas da Rússia. Dirigindo-se ao Komsomol, Lênin disse
que era pouco provável que nossa geração, educada na
sociedade capitalista, pudesse levar a cabo a edificação da
sociedade comunista. Essa tarefa deveria tocar à juventude.

Pois bem: Hoje, quando aplaudíeis, recordei


involuntariamente essas palavras e me ocorreu pensar que
diante de mim encontram-se esses antigos jovens do Komsomol, essa geração a
que se dirigia Lênin. E que esses jovens, já convertidos em adultos e com uma
experiência da vida, participam ativamente da edificação socialista. E uno meus
aplausos aos vossos para louvar precisamente a vós, os edificadores do socialismo.

Em nosso país se presta muita atenção à educação comunista. Não é em vão


que a palavra “educação” se destaca nas colunas de nossa imprensa.

Não obstante, se pretendemos dar uma definição relativamente clara e concisa


do que é em geral a educação, tropeçamos com dificuldades consideráveis. Não
poucas vezes se confunde a educação com o ensino. É claro que a educação tem
muita semelhança com o ensino, mas de modo nenhum são sinônimos. Certos
pedagogos autorizados consideram que a educação é um conceito muito mais
amplo que a instrução. A educação tem suas particularidades.

Em meu entender, a educação consiste em exercer uma ação determinada,


sistemática e com um objetivo definido sobre a psicologia do educando, com o fim

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1940/10/02.htm 1/18
11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

de inculcar-lhe as qualidades desejadas pelo educador. Parece-me que esta


definição (que naturalmente não é obrigatória para ninguém) abarca em termos
gerais tudo o que entendemos por educação, a saber: inculcar uma determinada
concepção do mundo, uma determinada moral e certas normas de convivência
humana, forjar determinados traços do caráter e da vontade, criar certos hábitos e
certos gostos, desenvolver determinadas qualidades físicas, etc. A educação
constitui uma das tarefas mais difíceis. Os melhores pedagogos a consideram tanto
uma ciência como uma arte. Referem-se à educação escolar, que, está claro, é
relativamente limitada. Mas, além desta, existe a escola da vida, na qual se
verifica um processo ininterrupto de educação das massas, onde o educador é a
própria vida, o Estado e o Partido, e o educando, milhões de pessoas adultas,
diferentes umas das outras por sua experiência política. Essa educação é muito
mais complicada.

Vou falar hoje precisamente dessa educação, da educação das massas.

Em seu livro “Anti-Dühring”, Engels diz:

“... os homens, seja consciente ou inconscientemente, tiram suas ideias


morais, em última instância, das condições práticas em que se baseia
sua situação de classe: das relações econômicas em que produzem e
trocam seus produtos... A moral tem sido sempre uma moral de classe;
ou justificava a dominação e os interesses da classe dominante, ou
representava, quando a classe oprimida se tornava bastante poderosa, a
rebelião contra essa dominação e defendia os interesses do futuro dos
oprimidos”.

Assim pois, na sociedade de classes nunca existiu nem pode existir uma
educação que esteja à margem ou por cima das classes.

Na sociedade burguesa, está impregnada até à medula da hipocrisia e dos


interesses egoístas das classes dominantes e tem um caráter profundamente
contraditório, que reflete os antagonismos da sociedade capitalista.

O ideal dos capitalistas é que os operários e os camponeses sejam uns servos


submissos que suportem sem protestar o jugo da exploração. Partindo dessas
considerações, os capitalistas não quiseram desenvolver nos operários e
camponeses o valor e a intrepidez, não quiseram dar-lhes a menor instrução, pois
é mais fácil dominar gente atrasada e embrutecida. Mas com essa gente não se
pode alcançar a vitória nas guerras de conquista, e esse mesmo povo, sem
conhecimentos elementares, não pode trabalhar nas máquinas. A concorrência
entre os capitalistas, nas condições do progresso técnico, a corrida armamentista,
etc., por um lado, e por outro a luta dos operários e camponeses por sua
instrução, obrigam a burguesia a proporcionar aos trabalhadores pelo menos
algumas migalhas de conhecimentos; e as guerras de rapina a obrigam a inculcar-
lhes valor, firmeza e outras qualidades perigosas para a burguesia.

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1940/10/02.htm 2/18
11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

Nenhum sistema de educação burguesa pode fugir a essas contradições.

Pois bem; apesar dessas contradições que, como já disse, residem na própria
natureza da sociedade burguesa, as classes dominantes levam a cabo uma luta
desesperada para subjugar as massas populares, utilizando para isso todos os
meios, desde a repressão aberta até ao engano sutil.

Na sociedade burguesa, o trabalhador encontra-se, desde o berço até à


sepultura, submetido à influência constante das ideias, sentimentos e hábitos que
convêm á classe dominante. Essa influência se exerce por inúmeros canais e
adquire às vezes formas mal perceptíveis. A igreja, a escola, a arte a imprensa, o
cinema, o teatro e diversas organizações, tudo isso serve de instrumento para
levar à consciência das massas a ideologia burguesa, sua moral, seus hábitos,
etc..

Tomemos, por exemplo, o cinema. Referindo-se às películas norte-americanas,


um diretor cinematográfico burguês escreve:

“Muitas das películas modernas constituem uma espécie de narcótico


destinado a pessoas que se acham tão fatigadas que só desejam sentar-
se numa fofa poltrona e serem alimentadas a colheradinhas”.

Tal é a essência da educação burguesa.

A essa educação, elaborada durante séculos e destinada a fortalecer a posição


da classe capitalista dominante e a conseguir que os oprimidos se resignem à sua
situação, o Partido Comunista — o destacamento de vanguarda do proletariado —
opõe seus princípios educativos dirigidos em primeiro lugar contra o domínio da
burguesia e a favor da ditadura do proletariado.

II

A educação comunista difere radicalmente da educação burguesa não só no


que diz respeito a seus objetivos, o que se compreende sem necessidade de
demonstração, mas também por seus métodos. A educação comunista está
indissoluvelmente ligada ao desenvolvimento da consciência política e da cultura
geral e à elevação do nível intelectual das massas. Este é o objetivo visado por
todos os partidos comunistas.

Apesar de o objetivo final de todos os partidos comunistas ser o mesmo,


apesar disso, e sendo a situação da classe operária na União Soviética diferente da
situação dos trabalhadores nos países capitalistas, a educação em nosso país deve
corresponder precisamente a essas condições diversas. A classe operária é em
nosso país a fôrça dominante e dirigente tanto no aspecto material como no
espiritual.

Marx e Engels diziam:

“A classe que dispõe dos meios de produção material, dispõe também,


em virtude disso mesmo, dos meios de produção intelectual.

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1940/10/02.htm 3/18
11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

“Os indivíduos que formam a classe dominante possuem, ademais, uma


consciência e, em virtude disso, pensam; e como exercem seu domínio
precisamente como classe e determinam toda uma época histórica dada,
torna-se evidente que exercem esse domínio em todas as esferas, isto é,
que dominam também como seres pensantes, como produtores de
ideias, regulam a produção e a distribuição das ideias de seu tempo; e
isto significa que suas ideias são as ideias dominantes da época”.

Não se pode dizer o mesmo da classe operária de fora da União Soviética.

Para nós a educação comunista se concebe sempre dum modo concreto. Em


nossas condições, ela deve estar subordinada às tarefas que se apresentam ao
Partido e ao Estado soviético. O objetivo principal e fundamental da educação
comunista é proporcionar a máxima ajuda à nossa luta de classes.

Vejo que isto vos causa um pouco de estranheza, que quereis perceber o
sentido da tese: educar no povo o afã de prestar a máxima ajuda à luta de classes
em nosso país, em um país onde as classes exploradoras foram liquidadas. A meu
ver, neste caso não se requer esclarecimentos especiais. Bastará recordar-vos a
magnífica resposta dada pelo camarada Stálin ao Komsomol Ivanov.

“... Uma vez que não vivemos numa ilha — escrevia o camarada Stálin
—, mas “em um sistema de Estados”, grande parte dos quais mantém
atitude hostil para com o País do Socialismo, com o consequente perigo
duma intervenção e duma restauração, nós proclamamos franca e
honradamente que a vitória do socialismo em nosso país ainda não é
definitiva”.

Os acontecimentos deste último ano confirmaram praticamente, com fatos


concretos, as ideias expostas na resposta do camarada Stálin.

É verdade que nossa luta de classes tem formas diferentes da luta de classes
que se desenvolve fora da URSS. Eu diria que é uma luta de classes que se elevou
a um grau superior, que seus resultados positivos são mais eficazes. Mas,
naturalmente, também é muito mais complexa.

A tese de Marx e Engels de que “as ideias da classe dominante são as ideias
dominantes”, no que se refere à classe operária da União Soviética obriga-nos a
muito. Não podemos limitar-nos simplesmente a uma crítica do regime burguês. O
fundamental agora é a luta pelas realizações práticas em todos os aspectos da
política, da economia, da cultura, da ciência, da arte, etc. Está claro também que a
educação comunista deve desenvolver-se em nosso país nesse sentido.

III

Quais são as tarefas que nos propomos hoje em dia como fundamentais no
campo da educação comunista? São essas tarefas baseadas em novos princípios,
em comparação com os princípios daquelas de que falava Lênin, faz vinte anos, no
III Congresso do Komsomol?

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11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

Está claro que a situação na União Soviética mudou consideravelmente em


todo esse tempo. Mas no fundo, as tarefas da educação comunista apresentadas
por Lênin há vinte anos continuam sendo de atualidade em nossos dias.

Não seria demais que essas tarefas fossem recordadas com maior frequência
aos que querem representar de maneira abstrata os traços da sociedade
comunista. esses aficionados de “teorizar”, de matutar “profundamente” sobre os
traços peculiares do homem do futuro, associando o comunismo a um porvir
nebulosamente bom, essa gente leva também à mesma abstração o problema da
educação comunista. Em meu entender, isso não é penetrar no futuro, mas
dedicar-se a adivinhações.

Camaradas, a elevada produtividade do trabalho é um dos fatores mais


importantes da edificação comunista e uma arma poderosa nas mãos dos
trabalhadores da URSS para sua lula contra o capitalismo. Lênin dizia:

“A produtividade do trabalho é, em última instância, o mais importante,


o decisivo para o triunfo do novo regime social. O capitalismo conseguiu
uma produtividade do trabalho sem precedentes sob o feudalismo. E o
capitalismo poderá ser e será definitivamente derrotado porque o
socialismo consegue uma nova produtividade do trabalho, muitíssimo
mais alta... O comunismo representa uma produtividade do trabalho
mais alta, em relação ao capitalismo, obtida voluntariamente por
operários conscientes e unidos que têm a seu serviço uma técnica
moderna”.

Eis aqui, camaradas, no que se deve pensar e do que se deve falar; esta é a
orientação que se deve dar antes de tudo à educação comunista: lutar por uma
elevada produtividade do trabalho.

Mas acaso esta maneira de apresentar a questão, esta orientação prática da


educação comunista é, digamo-lo entre nós, algo de minha própria seara? Não,
camaradas, não se trata de algo de minha própria seara.

Quando, ao preparar-me para o informe, tracei-lhe mentalmente o esquema,


recorri às fontes principais e, em primeiro lugar, à nossa Constituição. Em seu
artigo 12 lemos:

“O trabalho na URSS é, para todo cidadão apto ao mesmo, um dever e


uma questão de honra, de acordo com o princípio: “Quem não trabalha,
não come”.

Na URSS aplica-se o princípio do socialismo: “De cada um, segundo sua


capacidade; a cada um, segundo seu trabalho”. E vós mesmos sabeis, camaradas,
que a Constituição não é só a expressão jurídica dos direitos e deveres dos
cidadãos, mas também um poderoso fator para a educação do povo.

Este artigo da Constituição nos fala diretamente da grandeza do trabalho. E


compreende-se: já faz tempo — como assinalou o camarada Stálin — que em
nosso país está se produzindo uma transformação radical na atitude dos homens
para com o trabalho. A emulação socialista “faz com que o trabalho, que era
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11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

considerado como uma carga vergonhosa e pesada, se converta numa questão de


honra, numa questão de glória, numa questão de valor e heroísmo”. Este fato
encontrou na Constituição sua expressão brilhante, sua expressão stalinista.

Poder-se-ia objetar-me que uma coisa é a grandeza do trabalho em nosso país


e outra, a luta por uma elevada produtividade do trabalho. Não, camaradas, não
há tal diferença. A própria apresentação da questão da grandeza do trabalho
implica também na necessidade de estimular por todos os meios a elevação da
produtividade do trabalho. E isto é o fundamental.

Estão dirigidas para a realização dessa tarefa medidas tão importantes do


Partido e do Poder Soviético como o estabelecimento do título de “Herói do
Trabalho Socialista”, a instituição da Ordem da “Bandeira Vermelha do Trabalho” e
das medalhas “Pelo Trabalho Heroico” e “Pelo Trabalho Destacado”. Além disso, o
Poder Soviético e o Partido condecoram com frequência os que se destacaram de
modo especial no trabalho com uma distinção tão elevada como é a “Ordem de
Lênin” ou com as ordens da “Estrela Vermelha” ou do “Emblema de Honra”. '

O alto título de “Herói do Trabalho Socialista” se equipara ao de “Herói da


União Soviética”. esse título, assim como as ordens e medalhas, não se concede
simplesmente pelo trabalho, nem pelo mero fato de a pessoa trabalhar, mas por
ter conseguido altos índices na produtividade do trabalho, por conseguir
excepcionais êxitos na luta por uma maior produtividade do trabalho.

Este mesmo fim é visado pelo decreto do Presídium do Soviet Supremo da


URSS de 26 de junho de 1940.

Exteriormente parecem duas coisas diametralmente opostas: por um lado, a


concessão do título de “Herói do Trabalho Socialista”, as condecorações,
começando pela “Ordem de Lênin” e terminando pelas medalhas; e por outro lado,
o decreto com o qual se introduz a aplicação do elemento punitivo para fortalecer
a disciplina do trabalho. Mas no fundo, trata-se de duas medidas do mesmo
gênero. Ou melhor, são medidas encaminhadas à consecução dos mesmos
resultados.

Ao estimular e premiar os melhores representantes do trabalho socialista, de


uma parte, e ao castigar os desorganizadores da produção, de outra, o Partido e o
Poder Soviético demonstram com isso qual é a orientação que se deve dar à
educação comunista dos trabalhadores da URSS.

Camaradas, provavelmente são poucos entre vós os que trabalharam nas


fábricas antes da Revolução. Cada ano que passa, resta um número menor dessas
pessoas entre nós. Por isso cabe supor que não conheceis muito bem qual era a
atitude com o trabalho nos velhos tempos pré-revolucionários. Mas, infelizmente,
essa atitude ainda se faz sentir entre nós com bastante fôrça.

Naquela época, nós, os revolucionários, não apreciávamos muito os velhos


operários, bons especialistas, que tinham permanecido trabalhando na fábrica
durante 40 anos. E tratava-se de operários qualificados, conhecedores de seu
ofício, verdadeiros paladinos da disciplina no trabalho, ao qual nunca faltavam.

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1940/10/02.htm 6/18
11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

Quando surgia alguma greve, era preciso empurrá-los à fôrça para fora da fábrica,
pois não se atreviam a abandonar o trabalho por conta própria, temerosos de
abalar as boas relações que tinham com seus chefes. Naqueles velhos tempos não
apreciávamos esses operários. Por que? Porque se esfalfavam para os capitalistas.

Muito diferente é a situação de agora, com o socialismo. Hoje em dia, esses


homens que passaram 40 anos trabalhando na fábrica, que constituem um modelo
de disciplina no trabalho, que são conhecedores do seu ofício e cuja produtividade
no trabalho é muito elevada, esses homens nós os promovemos, os condecoramos
com ordens e medalhas, os honramos e os premiamos como os melhores cidadãos
soviéticos.

Aqui tendes, diga-se de passagem, um exemplo concreto de dialética. Antes


negávamos essa atitude para com o trabalho. Agora “negamos” essa “negação”.
Resulta, como vedes, uma “negação da negação”, uma afirmação da atitude
socialista para com o trabalho.

Por que modificamos radicalmente nosso critério acerca desses trabalhadores?


Por que os consideramos agora como os cidadãos mais úteis e de mais valor para
a União Soviética? Porque ocupam as posições de vanguarda em nossa luta de
classes, luta que chegou ao grau superior de seu desenvolvimento. Pois não se
deve entender a luta de classes só no sentido de uma luta na frente, com as armas
na mão. Não, a luta de classes segue agora por outros caminhos. E a luta pela
máxima produtividade do trabalho é, nos momentos atuais, um dos caminhos
principais da luta de classes. Se nos tempos anteriores ao regime soviético alguém
trabalhava bem, ajudava com isso objetivamente o capitalismo, apertava ainda
mais as cadeias de sua própria escravidão e as da escravidão da classe operária
em seu conjunto. Mas agora, na sociedade socialista, se o homem trabalha bem,
coloca-se por este mesmo fato ao lado do socialismo, e com suas conquistas, além
de desbravar o caminho que conduz ao comunismo, rompe também as cadeias da
escravidão do proletáriado mundial. É um combatente ativo pela causa do
comunismo.

É muito o que temos conseguido quanto à elevação da produtividade do


trabalho em nosso país? Eu não diria que neste aspecto temos conseguido muito
grandes resultados. Teoricamente se considera que a produtividade do trabalho
socialista deve superar em muito a do trabalho no regime capitalista. Que acha
você, camarada Stcherbákov(1), é ou não é assim? (Stcherbákov: “É isso mesmo,
é isso mesmo”. Animação na sala). Mas, e na prática? Na prática ainda não
alcançamos a mais alta produtividade do trabalho que existe na Europa, sem
referir-nos já aos Estados Unidos. Por conseguinte, temos que empenhar-nos
ainda mais em conseguir maior produtividade do trabalho. A elevação da
produtividade do trabalho nos permitirá ver mais claramente o perfil da futura
sociedade comunista.

Pois bem, camaradas, uma produtividade maior do trabalho não só significa


uma quantidade maior, mas também melhor qualidade da produção. Há entre nós
pessoas inclinadas a considerar o comunismo de maneira abstrata, sem dar a Este
conceito um conteúdo concreto. Mas, que significa o comunismo? Significa produzir

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11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

o mais possível e da melhor qualidade possível. E ao dizê-lo não me refiro somente


à produção do trabalho físico mas também à do trabalho intelectual, à produção
dos engenheiros, arquitetos, escritores, professores, médicos, artistas, pintores,
músicos, cantores, etc.

Devemos dizer abertamente que estamos muito descontentes com a qualidade


de muitos de nossos produtos. E é característico o fato de que todos nós
praguejamos quando nos entregam algum objeto de má qualidade; mas ao mesmo
tempo nós mesmos não nos pomos a meditar em como são os produtos que outros
recebem de nossas mãos. Em resumo, cada um de nós quer que haja de tudo em
abundância e que seja de boa qualidade. Mas eu vos pergunto: como vai se
conseguir isso se cada um não procura em seu posto trabalhar mais e melhor?
Devemos, duma vez, meter em nossa cabeça essa velha verdade que diz: do que
semeares, colherás.

E tampouco aqui, no terreno da luta pela qualidade da produção, nos


limitamos apenas às medidas de estímulo. Como sabeis, o decreto do Presídium do
Soviet Supremo da URSS, publicado a 10 de julho de 1940, estabelece que

“a produção de artigos de má qualidade ou incompletos, e a produção de


artigos violando os padrões obrigatórios, constitui um delito contra o
Estado equivalente à sabotagem”.

Os diretores, engenheiros-chefes e os chefes das seções de controle técnico


das empresas industriais, que sejam responsáveis pela produção de artigos de má
qualidade ou incompletos, serão entregues aos tribunais, que lhes aplicarão penas
de reclusão de 5 a 8 anos.

Nem é preciso dizer que este decreto afeta em cheio certas pessoas e lhes faz
sentir duramente sua culpabilidade na produção de artigos de má qualidade Mas,
ao mesmo tempo, proporciona aos dirigentes das empresas uma arma poderosa
para lutar contra a prejudicial influência de alguns que os cercam. Pois, como
costumavam raciocinar muitos deles? Raciocinavam assim: para que vamos armar
escândalos, turvar nossas relações com as organizações sociais, com os
camaradas, etc., se no final de contas passarão na massa de artigos os de
fabricação defeituosa? E com efeito, passavam. Essa atitude com a produção
defeituosa lançou raízes profundas em nossa produção.

E são precisamente essas raízes que temos que cortar, destruir. Devemos
fazê-lo no interesse da sociedade socialista e de cada um de nós em particular.
Das duas uma: ou edificamos o comunismo, ou só falamos do comunismo,
enquanto avançamos para ele pachorrentamente — se é que podemos expressar-
nos assim — espreguiçando-nos e bocejando. Mas lembrai-vos de que avançar
assim para o comunismo é muito arriscado, que assim se pode atrasar demasiado
a passagem para o comunismo.

Falar do comunismo e ao mesmo tempo não relacionar a questão de modo


concreto e material com problemas dum interesse tão palpitante como a qualidade
da produção, é carregar água numa peneira.

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11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

Lembro-me como se fosse agora, mas o que vou contar-vos ocorreu há 40


anos, ou talvez 39 ou 38; como vedes a antiguidade de minhas recordações gira
em torno dos 40 anos. (Risos.) Em nossa organização clandestina surgiu a
seguinte discussão: Deve ou não deve o operário revolucionário fazer bem as
coisas, isto é, preocupar-se com a qualidade de sua produção?” Uns diziam: “Não
podemos, organicamente não podemos deixar que saia de nossas mãos um objeto
mal feito; é algo que nos repugna, que rebaixa nossa dignidade de homens”.
Outros, pelo contrário, diziam: “Não é assunto nosso a qualidade da produção. Isto
é problema dos capitalistas. Nós trabalhamos para eles e de todas as formas eles
nos obrigam a fazer bem as coisas. E na medida em que os capitalistas nos
obriguem — diziam — faremos bem as coisas. Mas não devemos ostentar nossa
iniciativa, não devemos pôr demasiado zelo no trabalho”.

Como vedes, camaradas, inclusive antes da Revolução, nos tempos do


capitalismo, uma parte dos operários que lutavam contra os capitalistas
considerava que não podia fazer mal as coisas; era algo que lhes repugnava, como
se lhes pesasse na consciência. E em nossas condições, na sociedade socialista,
quando não trabalhamos para os capitalistas, mas para nós mesmos, acaso
repugna a todos produzir objetos mal feitos, acaso lhes pesa na consciência?
Infelizmente não podemos dizer que seja assim. Não obstante, seria muito melhor
que os homens sentissem mais remorsos, que sentissem maior repugnância em
produzir artigos de má qualidade.

E quando falamos de educação comunista, isto quer dizer antes de tudo que é
preciso inculcar na consciência dos trabalhadores a ideia de que devem realizar
seu trabalho pelo menos com um minimo de escrupulosidade. Temos que inculcar-
lhes a ideia de que quem se considera um bolchevique ou simplesmente um
honrado cidadão soviético, deve produzir com um mínimo de escrupulosidade, de
modo que seus artigos sejam de boa qualidade.

Assim, pois, a luta pelo comunismo é a luta por uma maior produtividade do
trabalho, tanto no que se refere à quantidade como à qualidade da produção. Essa
é a primeira das tese fundamentais sobre a educação comunista dos trabalhadores
da URSS.

IV

Camaradas, no artigo 131 da Constituição da URSS lemos:

“Todo cidadão da URSS é obrigado a salvaguardar e consolidar a


propriedade comum, socialista, como base sagrada e inviolável do
regime soviético, como manancial da riqueza e do poderio da Pátria,
como fonte duma vida acomodada e culta para todos os trabalhadores.

As pessoas que atentarem contra a propriedade comum, socialista, são


inimigas do povo”.

Por seu valor intrínseco, a questão de salvaguardar e consolidar a propriedade


comum é uma questão de maior importância do que aparenta exteriormente. A

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11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

atitude cuidadosa para com a propriedade comum é um traço comunista. Tenho a


impressão de que na história da humanidade não existiu uma sociedade mais
cuidadosa que a comunista. E é natural, pois somente na sociedade comunista os
recursos se encontram nas mãos dos produtores que dispõe deles. Não creio que
haja especial necessidade de demonstrar que o produtor é mais econômico no
gastar que o explorador ou o usurpador de bens alheios.

A história não habituou o povo a ser cuidadoso com a propriedade comum; ao


contrário, sempre foram muitos os que gostam de dilapidá-la. O peculato
constituía um dos traços característicos do velho sistema de governo; o erário
público era uma vaca leiteira para os funcionários. Compreende-se que tal ordem
de coisas fomentasse a incúria até em relação aos bens pessoais e sua dilapidação,
sendo que a atitude negligente para com os bens comuns se estendia de alto a
baixo.

Mas esta depredação do patrimônio nacional e do trabalho humano que


observávamos no passado é, apenas, uma travessura infantil se a comparamos
com a maneira pela qual se esbanja o trabalho humano na sociedade capitalista
contemporânea. Podemos dizer sem medo de errar que na atualidade se joga fora
milhões de jornadas de trabalho com o fim de destruir o trabalho anterior. E
quantos valiosíssimos dons da natureza, tão limitados no mundo, estão sendo
destruídos! Somente por esse delito de lesa-humanidade, o capitalismo merece ser
destruído o quanto antes.

No balanço geral da produção do Estado, a economia é uma das parcelas no


haver do patrimônio nacional. E essa parcela tem que aumentar de ano para ano
como resultado da elevação de nosso nível cultural.

Camaradas, o artigo 131 da Constituição nos proporciona abundantíssimo


material para a educação comunista. Trata-se de um artigo dirigido contra a
concepção burguesa, que diz: “Esta é minha casa e não quero saber de mais nada.
Em meu refúgio antiaéreo não deixarei entrar ninguém”.. esse artigo nos obriga a
cuidar da propriedade comum, a colocar os interesses comuns acima dos
interesses individuais, pois só na coletividade, só na sociedade socialista é que fica
verdadeiramente salvaguardada a situação de cada um.

Já no primeiro ano de existência do Poder Soviético, Lênin dizia:

“Administra com cuidado e escrupulosamente o dinheiro, administra


economicamente, abandona a preguiça, não roubes, observa a maior
disciplina no trabalho: estas são precisamente as palavras de ordem
que, ridicularizadas com razão pelo proletariado revolucionário quando a
burguesia encobria com elas seu domínio como classe exploradora, se
transformam hoje em dia, depois da derrubada da burguesia, nas
palavras de ordem principais e próprias do momento”.

E quanto aos ladrões, os dilapidadores da propriedade comum, os velhacos e


demais “depositários das tradições do capitalismo”, contra eles devemos dirigir as
medidas de repressão. Para esses fins servem em particular a disposição adotada
a 7 de agosto de 1932 pelo Comitê Executivo Central e o Conselho de Comissários
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11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

do Povo da URSS “Sobre a salvaguarda dos bens das empresas do Estado, dos
kolkhozes e das cooperativas e a consolidação da propriedade comum (socialista)”
e do decreto do Presídium do Soviet Supremo da URSS de 10 de agosto de 1940
“Sobre a responsabilidade criminal pelos pequenos furtos na produção e os atos de
má conduta”.

Portanto, camaradas, primeiro devemos aprender a trabalhar de acordo com a


nossa capacidade, a cuidar dos bens comuns; e quando tivermos produzido
bastante e aprendido a cuidar dos frutos de nosso trabalho, então poderemos
proporcionar de tudo, de acordo com as necessidades.

Esta é outra das partes integrantes da educação comunista.

O estímulo do amor à Pátria, à Pátria socialista, estímulo do patriotismo


soviético é também um elemento indispensável da educação comunista.

A palavra “patriota” apareceu pela primeira vez durante a revolução francesa


de 1789-1793. Naquela época chamavam-se República, em oposição aos traidores,
aos monarquistas que tinham traído a Pátria.

Mas, mais tarde, esse termo foi utilizado em proveito de seus fins egoístas
pelos reacionários e pelas castas superiores que se encontravam no Poder. Por
isso, tanto na Europa como na Rússia tzarista, as pessoas mais honradas que se
desvelavam pelas necessidades do povo adotaram sempre uma atitude de
desconfiança contra a palavra “patriotismo”, na qual viam uma expressão do
chovinismo nacional e, da infundada soberba das camadas governantes.
Finalmente, sob a bandeira do patriotismo os sátrapas tzaristas saqueavam os
povos anexados.

As centúrias negras monopolizaram o “patriotismo”, demonstrando seus


“sentimentos patrióticos” com pogromos de rua e espancando os operários, os
intelectuais e os judeus. E em geral, em torno desse “patriotismo” agruparam-se
então muitos elementos suspeitos e aventureiros procedentes dos rebotalhos da
sociedade.

A palavra “patriotismo” ficou envilecida aos olhos do povo. Uma pessoa


honrada não podia incluir-se entre os “patriotas”.

Os povos que tinham sido incorporados à Rússia, oprimidos, explorados,


despojados e escarnecidos a cada passo por funcionários e colonizadores, odiavam
naturalmente o Estado russo.

Como contrapartida ao “patriotismo” dos cavaleiros do knut(2) e do garrote, ia-


se desenvolvendo com rapidez crescente um movimento progressista cujo gume
era dirigido contra a autocracia.

De um modo geral — a luta das forças progressistas contra a reação abarcou a


literatura, a música e a pintura, onde, pelo menos com alusões, se podia exprimir
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11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

a repulsa à realidade daquela época. Com o passar do tempo, pouco a pouco


foram-se incorporando a essa luta as camadas democráticas da população, graças
ao que ela adquiria um caráter mais radical. Este processo formava e agrupava os
adversários da autocracia, os adversários da chamada Rússia oficial. Ao mesmo
tempo, ia criando o baluarte nacional de um grande povo, baluarte constituído
pelos seus melhores representantes. Apareceu toda uma plêiade de escritores,
críticos e publicistas geniais dotados de grande talento, que ergueram muito alto
nossa literatura e a incorporaram ao patrimônio da literatura mundial. E isto não
ocorreu somente com a literatura, mas também a música, a pintura e as ciências
começaram a destacar luminosos representantes na qualidade de verdadeiros
patriotas da cultura nacional russa.

Estes homens, zelosos de sua honra, de sua dignidade e de sua reputação


social, apartavam-se resolutamente desse “patriotismo” oficial e mesquinho. Para
eles acima de tudo estava a tarefa de servir seu próprio povo e despertar nele um
verdadeiro patriotismo. E não poupavam suas fôrças nem seu talento em benefício
desse grande objetivo. Seus contemporâneos e as gerações seguintes aprenderam
com eles, seguiram seu exemplo e se contagiaram de seu elevado patriotismo. A
atividade profundamente patriótica desses homens encheu grande número de
atraentes e brilhantes páginas da história do povo russo. E ainda que não
gozassem das simpatias da Rússia oficial, em troca o povo os cercava do respeito
de que se tinham tornado credores e sempre venerou e continuará venerando sua
lembrança luminosa.

E foi esse processo de luta das fôrças do progresso contra as fôrças da reação,
esse processo de crescimento e consolidação dos valores culturais que permitiu
que pelo menos os elementos mais conscientes das nacionalidades oprimidas
pudessem ver a outra Rússia, a Rússia nobre, amante da liberdade, inimiga da
opressão, culta, dotada de talento e que contribui para desenvolver os
conhecimentos entre as grandes massas da população. O movimento operário
revolucionário que se tinha desencadeado, colocou na ordem do dia, como tarefa
do momento, a de agrupar de verdade os proletários e trabalhadores de todas as
nacionalidades do império russo em sua luta contra o tzarismo e o capitalismo. Os
esforços de Lênin e Stálin por criar um partido da classe operária para toda a
Rússia, sem o qual era inconcebível a emancipação do povo russo e das
nacionalidades oprimidas, a incansável prédica da política nacional leninista-
stalinista, a luta dos bolcheviques contra qualquer manifestação de chovinismo de
grande potência e do nacionalismo local, tudo isso contribuiu para estreitar os
laços entre as nacionalidades oprimidas e o povo russo, obrigou os elementos mais
conscientes daquelas a conhecer a literatura, a ciência e a arte russas, a conhecer
os lutadores revolucionários russos e com isso os ia incorporando à cultura russa,
os convertia em partidários da luta comum e conjunta, isto é, em pessoas cujos
pensamentos se estendiam já a toda a Rússia.

A pregação do patriotismo soviético não pode fazer-se de maneira isolada,


desvinculando-a do passado de nosso povo. Essa prédica deve estar cheia de
orgulho patriótico pelas façanhas de nosso povo, pois o patriotismo soviético é o
herdeiro direto da obra criadora de nosso antepassados, que impulsionaram o
desenvolvimento de nosso povo.
https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1940/10/02.htm 12/18
11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

A vida soviética o ilustra com assombrosa clareza. Basta assinalar apenas um


fato: o entusiasmo com que os povos emancipados reavivam em sua memória as
imagens de seus personagens épicos e de seus heróis históricos. Esses heróis são
representados em suas melhores produções artísticas, que logo levam para exibir
em Moscou, coração das repúblicas soviéticas, como se cada um deles quisesse
dizer a todos os povos da URSS: Olhai, não sou um membro da grande união dos
povos por favor de alguém, não sou uma pessoa sem origem, nem família; aqui
tendes minha genealogia da qual me orgulho e quero que vós, meus irmãos no
trabalho e na defesa dos melhores ideais da humanidade, a admireis!

Por conseguinte, o patriotismo soviético tem suas origens em um remoto


passado, a partir da épica popular: o patriotismo soviético se nutre de tudo o que
há de melhor do povo e considera como a maior das honras a salvaguarda de
todas as suas conquistas.

A grande Revolução proletária não fez somente grandes destruições; ela marca
também o começo de um trabalho criador de proporções nunca vistas. Ao mesmo
tempo, a Revolução passou como um poderoso furacão purificador pelas cabeças
de dezenas de milhões de pessoas, dando-lhes ânimo e confiança em suas
próprias fôrças. Essas pessoas sentem-se agora como se fossem heróis
legendários capazes de vencer a todos os inimigos das massas trabalhadoras.

E já surgiu a épica soviética que ligou a arte popular de nossa época ao fio da
arte popular de um passado remoto, cortado pelo capitalismo, inimigo deste
aspecto da produção espiritual. O processo da transformação socialista da
sociedade pôs em relevo grande quantidade de temas atraentes e ricos de
conteúdo, dignos do pincel de grandes artistas. O povo já vai selecionando os
melhores elementos desses temas e pouco a pouco vai traçando esboços esparsos
para os poemas épicos desta grande época e de seus grandes heróis, como Lênin e
Stálin.

Nossos literatos e artistas não devem ficar atrás do povo, pois jamais puderam
dispor de um material tão abundante nem tão grato como em nossa época. Só
agora é que têm possibilidades ilimitadas de servir a seu povo e de inculcar ás
massas profundos sentimentos patrióticos baseados nas grandes façanhas das
gerações atuais.

Parece-me que Maiakovski constitui um excelente exemplo de como se deve


servir ao povo soviético. Maiakovski considerava-se um combatente da Revolução,
e em realidade, a natureza de sua arte o credencia como tal. Sua aspiração era a
de fundir com o povo revolucionário, não só o conteúdo, mas também a forma de
sua produção poética, e os historiadores do futuro dirão com toda a certeza que
suas obras pertenceram à grande época em que as relações entre os homens se
transformaram por completo. Por isso considero que Maiakovski, ao dirigir-se às
gerações futuras, tinha pleno direito de dizer:

“Eu chegarei até vós


em um longínquo comunista,
mas não
como um herói legendário cantado por Essênin.
https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1940/10/02.htm 13/18
11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

Meu canto chegará


através do lombo dos séculos
e sobre as cabeças
dos poetas e dos governos.

Meu canto chegará, mas não como uma flecha


em uma caçada de Cupido, não como chega
ao numismático a moeda manchada, nem como
a luz de uma estrela apagada.

Meu canto,
com o trabalho,
romperá a multidão dos anos e chegará,
ponderável,
rude,
visível, como a nossos dias
chegou o aqueduto construído
pelos escravos de Roma”.

Nesta orgulhosa declaração percebemos a voz majestosa de nossa época, de


nossas gerações que transformam o mundo sobre bases novas.

Camaradas, a história nos incumbiu de uma tarefa honrosa e de


responsabilidade: levar nossa luta de classes ao triunfo total do comunismo.

“Devemos marchar para frente de tal maneira que a classe operaria do


mundo inteiro possa dizer ao olhar-nos: “Eis ali o meu destacamento de
vanguarda, minha brigada de choque, meu Poder operário; eis ali minha
Pátria..." (Stálin).

Mas para isso devemos educar a todos os trabalhadores da URSS num espírito
de ardente patriotismo, de amor sem limites à sua Pátria. E não me refiro a um
amor abstrato e platônico, mas a um amor impetuoso, ativo, apaixonado,
indômito; um patriotismo sem misericórdia para com os inimigos e que não se
detenha diante de nenhuma espécie de sacrifícios em holocausto à Pátria.

Aí tendes a terceira tarefa fundamental da educação comunista dos


trabalhadores da URSS.

VI
Julgo necessário deter-me ainda na questão do espírito coletivo. Não há
necessidade de demonstrar dum modo especial que a formação do espírito coletivo
deve ocupar um lugar de destaque na educação comunista. Não me refiro aqui aos
fundamentos teóricos do espírito coletivo, mas à introdução de hábitos sociais na
produção e na vida cotidiana, à criação de condições nas quais o espírito coletivo
constitua parte integrante de nossos costumes, de nossas normas de conduta,
para que nossos atos sejam não só meditados e tenham um caráter consciente,

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1940/10/02.htm 14/18
11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

como se produzam de maneira instintiva e orgânica. Esclarecerei minha ideia com


alguns exemplos.

Os que tenham lido “A América de um pavimento”, de Ilf e Petrov, recordarão


com toda a certeza suas interessantes observações durante a viagem.

Se acontece alguma desgraça a algum dos viajantes, não lhe faltará a ajuda
voluntária dos outros. E é característico que os norte-americanos, apesar de seu
lema: “o tempo é ouro”, não regateiem seu tempo em tais casos. A necessidade
de prestar toda a espécie de ajuda se subentende como um dever social.

Outro exemplo. Na antiga aldeia russa, na época de maior atividade, quando


cada família se apressava em adiantar-se às demais na colheita, se alguma
camponesa, geralmente só no trabalho e com muitos filhos, se atrasava na
colheita, os demais camponeses, ao passar ao seu lado de regresso do trabalho,
tinham por costume prestar-lhe ajuda coletiva.

Aí tendes, camaradas, em que sentido entendo a educação do espírito coletivo


como norma habitual dos homens. Nos tempos antigos esses costumes se iam
criando espontaneamente. Mas eu me refiro à necessidade de cultivá-los no povo
dum modo consciente.

O espírito coletivo não deve. ser confundido com o espírito de manada. Assim,
por exemplo, quando nos tempos antigos uma multidão de camponeses espancava
um ladrão de cavalos, ou uma turba de credores de um banco em falência, furiosa,
quebrava os vidros dos escritórios do banco, em meu entender essas ações não
podiam ser consideradas como manifestações de espírito coletivo. Eram
manifestações que tinham certo caráter de manada. Pelo contrário, o espírito
coletivo engendra sempre a ação racional.

Na vida prática de nossa sociedade, o espírito coletivo desempenha um grande


papel, pois se baseia no coletivismo. Nós opomos à sociedade capitalista o
coletivismo-comunismo, pois estamos convencidos de sua enorme superioridade.
Do êxito que tenhamos na empresa de levar à produção e à vida social e individual
os hábitos coletivos, depende também em grande medida o êxito da edificação
comunista.

O espírito coletivo no trabalho, a cooperação no trabalho é a base da


produção. No que tange à indústria socialista, isto não requer uma demonstração
especial. É algo evidente, que os operários e quem quer que esteja ligado à
produção fabril podem compreender com facilidade. Se na sociedade capitalista o
trabalho de qualquer proletário se despersonaliza por completo e, ao ser
materializado num objeto, desaparece do campo visual não só do operário, mas
também do fabricante, ao qual interessa unicamente o lucro, pelo contrário, em
nosso país, o trabalho materializado está à vista do operário, pois não só se
manifesta no lugar de sua produção, como também no consumo, no uso. Por
conseguinte, qualquer produtor de perspicácia mediana pode ver os resultados de
seu trabalho. Não obstante, com nosso trabalho educativo devemos ampliar e
aprofundar a capacidade de cada operário de perceber sua participação individual
no trabalho comum, no trabalho coletivo.
https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1940/10/02.htm 15/18
11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

Mas, onde sobretudo devemos concentrar nossa atenção na educação do


esprito coletivo é no campo, na aldeia kolkhoziana. A aldeia kolkhoziana está
passando por uma grande escola de espírito coletivo sem possuir ao menos
hábitos de trabalho coletivo. Embora no passado as palavras “sociedade” e
“interesses sociais” se pronunciassem às vezes nas assembleias rurais, no fundo
seu conteúdo coletivo era muito escasso. Sob a capa das palavras “interesses
sociais” ocultavam-se os assuntos privados dos kulaks.

Quando os camponeses tomaram o caminho da coletivização, difíceis


problemas ergueram-se diante deles: em oposição a todo o passado, deviam
romper, ou melhor, deviam orientar sua psicologia num sentido diametralmente
oposto, deviam passar do trabalho para si ao trabalho para todos. Não se trata de
um processo fácil e ele só pôde desenvolver-se com êxito sob uma pressão
considerável e com a ajuda do Estado.

A passagem do trabalho individual e simples ao trabalho coletivo, mais elevado


e mais complexo, exige das pessoas muito mais capacidade de organização. E
vemos que, enquanto se vai eliminando o espírito de propriedade privada e se
acumulam nos camponeses kolkhozianos hábitos coletivistas, reúne-se também
experiência organizadora na aplicação dos métodos coletivos de trabalho.

Essas são as condições em que se vai realizando a educação comunista no


campo.

É evidente que os simples apelos ao coletivismo, que a simples propaganda de


suas vantagens em comparação com o trabalho individual já não bastam. O
propagandista, o agitador e o educador devem indicar aos kolkhozianos métodos
de trabalho mais eficazes, ou, pelo menos, citar-lhes exemplos concretos de
trabalho eficaz, analisando as causas de sua eficácia.

Tanto é assim, que inclusive um trabalho tão complicado como a educação do


espírito coletivo, para conseguir sua máxima eficácia, deve adaptar-se ao trabalho
prático. Em outras palavras, a educação do espírito coletivo deve fazer-se de
maneira concreta. O educador, ao mesmo tempo que explica o sentido de tal ou
qual processo prático,, vai adquirindo por sua vez materiais práticos para seu
próprio desenvolvimento teórico. Isto, diga-se de passagem, nos serve de exemplo
palpável da unidade da teoria com a prática.

Aí tendes o quarto elemento da educação comunista.

VII

A cultura é um fator que aumenta a fecundidade de qualquer trabalho positivo.


Quanto mais complexo e qualificado é determinado trabalho, maior cultura se
requer. A cultura nos é tão necessária como o ar, necessitamo-la em toda a sua
amplitude, isto é, desde a cultura elementar, literalmente indispensável a cada
homem, até a chamada grande cultura. Diz-se com efeito: um homem de grande
cultura.

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11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

A cultura constitui certo índice do grau de desenvolvimento da pessoa. E como


as pessoas desenvolvidas são objeto de uma atenção preferente, alguns se
dedicam a copiar os aspectos externos da cultura. Dessa gente costumava-se
dizer: - esse enfeita-se com penas de pavão. Não obstante, minha opinião é que
esse juízo é errado e prejudicial ao desenvolvimento da cultura. É claro que, em
sua grande maioria, os homens se apropriam primeiro dos aspectos externos. Mas
na medida em que o homem trata de adquirir os aspectos externos da cultura,
estes contribuem por sua vez para elevar o nível geral de sua cultura.

Por que experimentamos, agora, com particular agudeza, a necessidade de


elevar o nível cultural geral? Nestes vinte e três anos de existência do regime
soviético nossa economia fez consideráveis progressos. Subiu muito o nível técnico
da produção, as máquinas se tornaram mais complicadas e reclamam um trato
mais atento, mais esmerado. Se passarmos em revista, um após outro, os
diversos ramos da indústria, em todas as partes ouviremos o mesmo clamor:
necessitamos de trabalhadores mais bem preparados. Paralelamente compreende-
se que também nos escritórios as exigências tenham crescido em igual medida.

O campo kolkhoziano, por sua vez, apresenta uma procura colossal de homens
de elevado nível cultural. O tratorista, o condutor da máquina combinada, o
mecânico, o agrônomo, o zootécnico, além dos conhecimentos de sua
especialidade, devem possuir pelo menos uma cultura elementar. Tomemos outras
especialidades, mesmo que seja a de moco de estrebaria. Um camponês não terá
grandes dificuldades para ser palafreneiro quando se tratar de um ou dois cavalos.
Mas quando na cavalariça há 20 ou 40 cavalos, então já se requer uma certa
experiência organizativa e certa cultura. O mesmo ocorre nos demais ramos da
economia kolkhoziana. A cultura é indispensável para continuar avançando.

Não será demais recordar também as necessidades da defesa do país. Neste


caso as necessidades culturais não crescem dia a dia, mas de hora em hora.

Além de tudo o que foi indicado, é também cultura o esmero na produção e na


maneira de viver.

Imaginai, camaradas, um engenheiro, um bom engenheiro. É uma pessoa


instruída e que estudou muito. Dirige uma fábrica e se considera um trabalhador
valioso. Mas se passardes pelas oficinas de sua fábrica vos exporeis a quebrar a
cabeça a cada passo! (Risos). Pode-se chamar a isso de cultura? Se um
engenheiro desse tipo não presta atenção a tais coisas, quer dizer que ainda lhe
falta a cultura mais elementar, quer dizer que ainda não tem o apego devido à sua
produção nem à sua fábrica.

Entendo a luta pela cultura no sentido mais amplo dessa expressão, incluindo,
por exemplo, a preocupação para que as torneiras não gotejem, para que em
Moscou haja menos percevejos, nas casas, etc. Pois os percevejos são algo
intolerável, são uma vergonha, e enquanto isso ocorre tanta gente pergunta: como
deve ser o homem da época do comunismo, quais deverão ser as suas qualidades
distintivas? (Risos). Há quem se dedique a falar pelos cotovelos sobre a educação
da infância, porém que em suas casas organize autênticos viveiros de percevejos.

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1940/10/02.htm 17/18
11/09/2019 Sobre a Educação Comunista

Mas, que é isso? Como dizer que tais pessoas são cultas? Trata-se duns
amolecidos aristocratas, restos da antiga sociedade russa. (Risos).

★★★
Camaradas, ainda poderia deter-me em toda uma série de questões relativas à
educação comunista, como, por exemplo, o papel do Partido, os Sindicatos, o
Komsomol, as organizações desportivas, os centros de ensino superior, as escolas,
a literatura, a arte, o cinema, o teatro, a família, etc. Mas isso nos levaria
demasiado longe e deixaríamos à margem de nosso campo visual o mais
importante, o que determina as tarefas e o conteúdo comunista dos trabalhadores
da URSS na presente etapa da luta de classes.

Julgo serem os marcos fundamentais a que acabo de referir-me os que devem


determinar a atitude a ser adotada para com a educação comunista por todos os
nossos organismos e instituições e por todos os que tenham relação direta com
esta questão. Devem resolver todas as questões de caráter prático do ponto de
vista do conteúdo principal e do objetivo básico da educação comunista.

Se nossa educação tem um excelente aspecto exterior, mas é abstrata, isto é,


não está ligada a objetivos concretos, não está materialmente ligada à luta pelo
desenvolvimento do Estado socialista e pela consolidação de suas posições na
atual luta de classes, o que obtivermos será uma paródia da educação.

Dada a complexa situação internacional do momento, nosso povo deve


preparar-se, mobilizar-se e aguçar como nunca sua vigilância, para que nosso
Estado socialista esteja preparado para enfrentar qualquer surpresa ou
eventualidade. Este deve ser o ponto central da atividade de todas as nossas
organizações sociais, da literatura, da arte, do cinema, do teatro, etc. Assim será,
camaradas, que cumpriremos de verdade os desejos do Partido, as indicações do
camarada Stálin e os preceitos de Lênin no que respeita à educação comunista das
massas no atual período histórico. (Atroadores aplausos. Todos os presentes se
põem de pé).

Início da página

Notas de rodapé:

(1) A. Stcherbákov (1901-1945). Destacado dirigente bolchevique e homem de Estado. (retornar


ao texto)

(2) Chicote, em russo. (retornar ao texto)


Inclusão 16/01/2008
Última alteração 01/11/2012

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1940/10/02.htm 18/18
11/09/2019 Discurso na Reunião de Alunos da Oitava, Nona e Décima Classes das Escolas Intermediárias do Distrito
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Discurso na Reunião de Alunos da


Oitava, Nona e Décima Classes
das Escolas Intermediárias do
Distrito Lênin de Moscou
M. I. Kalinin

17 de Abril de 1941

Primeira Edição: Revista “Smena" ("A Nova Geração”), n.° 6, 1941.


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 112-129.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Camaradas: Apesar de não serem tão raros meus


encontros com a juventude, não me é fácil compenetrar-me
de vosso estado de ânimo nem de vossos sentimentos. E isto
se compreende, pois passaram uns cinquenta anos desde a
época em que eu tinha a vossa idade. Muitas das coisas
vividas em minha juventude fugiram-me da memória durante
esses anos e o que recordo sem dúvida vos parecerá algo
muito, mas muito velho. Se vos perguntassem que ideia
tendes da vida da juventude naqueles tempos, certamente
vos veríeis em dificuldades para responder: passaram muitos
anos desde então.

Não obstante, acho que a vida da juventude de há 40 ou 50 anos passados


também encerra certo interesse para vós. Embora eu não pretenda conhecer a
fundo essa juventude com todas as suas virtudes e seus defeitos, quisera traçar-
vos, mesmo que ligeiramente, um quadro de como vivia, quais eram suas
preocupações, que tipos a constituíam e quais eram seus sentimentos. Além disso,
referir-me-ei principalmente à juventude operária, aquela com quem mais tive
oportunidade de tratar.

É bem verdade que também tive vínculos mais ou menos estreitos com a
juventude camponesa, mas que se pode dizer da vida da juventude camponesa
daqueles tempos? Essa vida não oferece nenhum interesse nem tem valor
instrutivo algum. Em sua grande maioria, os moços e as moças do campo viviam
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esmagados pelo trabalho e pelas privações de suas casas. É claro que tampouco a
vida da juventude operária era muito doce; apesar disso tinha certas vantagens,
embora só pelo fato de que seu horizonte era incomparavelmente mais amplo:
tinha a possibilidade de ver e conhecer mais coisas. Ao contrário, o horizonte da
juventude camponesa limitava-se aos interesses da aldeia e ela pouco sabia do
que se passava fora desses limites. Mal um jovem atingia os 13 ou 15 anos e já
era jungido ao trabalho. E ao alcançar os 18 ou 19 anos seu caminho estava
definitivamente traçado: contraía matrimônio, separava-se dos pais e bem ou mal
ia organizando seu próprio ninho.

Conheci pouco a juventude estudantil, apesar de ter tratado com ela, pois ter
tido contato não significa conhecer. Minha atitude para com ela era como para com
algo de estranho. Além disso, devemos ter em conta que a juventude estudantil
constituía para mim uma classe diferente. Entretanto, a luta dos estudantes não
passava desapercebida da massa operária. Além do agrado com que se via essa
luta, ia crescendo e se fortalecendo a simpatia para com a juventude estudantil.

Assim, pois, ao falar da juventude de um remoto passado referir-me-ei


sobretudo à juventude operária.

Como era a juventude operária daquela época? Que tipos a integravam? Que
lhe interessava, quais eram seus sonhos, que ideias se agitavam em suas
cabeças?

Os tipos que se via entre a juventude operária daquela época eram os mais
diversos, provavelmente tão diversos como os que se veem entre vós.

O primeiro tipo era constituído pelos que aspiravam, por todos os meios e
artimanhas, a sair do meio operário, a ganhar mais, vestir melhor, adquirir um
verniz exterior de “homens finos”, sobretudo na roupa, estabelecer relações com
os funcionários da fábrica, casar com suas filhas, para aproveitar a primeira
oportunidade de galgar um dos postos da escala administrativa. É claro que tais
tipos não abundavam no seio da massa juvenil e careciam de importância política.

Outro tipo era constituído pelos laboriosos, que, ou bem aprendiam o ofício, ou
já haviam concluído a aprendizagem e ganhavam seu salário. Todos os seus
interesses se limitavam a. ganhar dinheiro, garantir para si um conforto doméstico
e um bem-estar pessoal. A produção e o bem-estar pessoal abrangiam toda a
esfera de seus interesses, da qual não saíam. Os homens desse tipo eram muito
mais numerosos que os do primeiro, mas também eles formavam uma minoria
insignificante.

Às vezes podia-se encontrar entre a juventude operária espiões e aduladores.


Mas eram muito poucos, literalmente casos isolados. esses elementos tendiam a
melhorar sua situação com uma atitude servil e dedicando-se a fazer denúncias.
Mantinham contato com os capatazes, com a polícia e o pessoal de direção das
fábricas. Os operários não suportavam esses elementos, que sempre estavam
cercados por um ambiente de desprezo geral; eram bastante maltratados e com
frequência eram até surrados.

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Mas o que caracterizava a esmagadora maioria dos jovens operários era sua
oposição à ordem social e política então existente. Desse tipo de pessoas era
precisamente que saíam na época os verdadeiros combatentes revolucionários. A
grande massa da juventude operária constituiu sempre uma base sólida na qual
podia apoiar-se nosso Partido. Era uma espécie de destacamento combativo dos
operários que, durante as greves e protestos, desempenhava o papel mais ativo
sob a direção dos membros do Partido.

Não podemos dizer, entretanto, que a oposição dos jovens operários fosse
plenamente consciente desde o princípio. Muitas vezes essa oposição transbordava
de forma espontânea e se manifestava em surras dos capatazes maus — esses
serviçais dos patrões — de policiais, etc.

Com o passar do tempo, sob a influência da propaganda socialista, iam


surgindo entre a juventude operária círculos clandestinos, dirigidos por intelectuais
marxistas, aos quais acorriam homens em quem começava a despertar a
consciência social.

Quanto mais tempo passava, mais meditavam sobre a situação da classe


operária e sobre muitas questões da vida social. Essas pessoas liam com avidez a
literatura marxista, aprofundavam-se na teoria do socialismo científico,
dedicavam-se seriamente a aumentar seus conhecimentos, e não só se
desenvolviam politicamente, como também elevavam seu nível cultural. Nos
círculos, tinham lugar calorosas discussões entre os camaradas, tanto em torno
dos temas candentes da vida política, como dos livros lidos. É assim que se ia
formando a consciência de classe, a consciência socialista entre os representantes
mais avançados da juventude operária.

E devo dizer-vos que os participantes dos círculos marxistas ilegais eram os


que gozavam de mais prestígio, não só entre a juventude, mas também entre os
operários de idade mais avançada. Apesar de realizarem seu trabalho de modo
conspirativo, uma parte considerável dos operários estava bem inteirada disso e os
ajudava com prudência nos primeiros passos de sua atividade revolucionária.

Fora disso, pouco nos diferenciávamos exteriormente dos outros operários. Da


mesma forma que outros jovens operários, íamos às casas de chá e aos bares e
até, pela noite, ao regressar do trabalho, nos metíamos às vezes nos pomares
alheios; é claro que o fazíamos por travessura, para fazer alarde de valor e não
porque nos fizessem falta as maçãs. Recordo, como se fosse agora, que em um
dos pomares próximos à fábrica de Putílov havia um guarda com a espingarda
carregada de sal. Como não íamos meter-nos nesse pomar, se isso representava o
perigo de receber um tiro de sal! (Risos).

Assistíamos aos espetáculos noturnos, tínhamos encontros com as moças e


passeávamos. E para passear no parque público às vezes saltávamos o gradil.
(Risos). E o fazíamos, não porque não tivéssemos os 10 kopeques que custava a
entrada. Não. Tínhamos dinheiro, pois ganhávamos o nosso salário e podíamos
pagar os 10 kopeques. Mas saltar o gradil representava certo perigo, pois podiam
apanhar-nos e tirar-nos “triunfalmente” do parque. Como íamos deixar de saltar o
gradil (Risos). Assim, pois, saltávamos os gradis e passeávamos com as moças E
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passeávamos provavelmente como vós passeais. Naturalmente, não sei como é


que vós passeais, mas acredito que estas coisas ocorrem hoje da mesma forma
que há 40 ou 50 anos. Parece que neste aspecto não houve grandes modificações.
(Risos).

Portanto, exteriormente, nossa vida era a mais comum. Se alguém se


dedicasse a observar-nos não notaria nada de particular.

Mas, apesar de tudo, nos distinguíamos dos demais jovens operários. Em que
consistia essa diferença? Em que para nós os pequenos interesses da vida diária
iam perdendo importância e eram substituídos pelos interesses gerais dos
operários. Os estudos nos círculos ilegais e a literatura revolucionária ampliavam
nosso horizonte político e enchiam nossa vida de certo conteúdo ideológico. Até
então tínhamos considerado como abusos isolados as arbitrariedades mais
revoltantes que se cometiam na, fábrica, mas agora já os interpretávamos como
todo um sistema de opressão da classe operária em geral, e não só por parte dos
chefes da fábrica e dos patrões, mas também por parte da autocracia.

Aparentemente nada tinha mudado. Continuávamos passeando com as moças,


comparecíamos aos encontros, dançávamos nos bailes e, naturalmente, tínhamos
nossos amores. (Risos). Mas pensávamos já em algo mais do que no “bem-estar
americano” das novelas. Nossas ideias se concentravam no trabalho social e
inclusive quando assistíamos a uma festa pensávamos na forma de aproveitá-la
para nossos fins revolucionários.

E assim, pouco a pouco, sem dar-nos conta, fomos entrando em uma vida
cheia de conteúdo ideológico. E uma vida com conteúdo ideológico é a maior, a
mais interessante das vidas! Era nisso precisamente que nos diferenciávamos do
resto da juventude operária, com a qual sempre estávamos em estreito contato e
na qual nos apoiávamos constantemente para nosso trabalho revolucionário.

É claro que as possibilidades que tínhamos de viver uma vida cheia de


conteúdo ideológico eram muito mais limitadas do que as que tem agora a
juventude soviética e sobretudo vós, alunos das últimas classes dos centros de
ensino secundário. E isso se compreende perfeitamente.

Em primeiro lugar, naquela época não estudávamos nos liceus; a instrução


secundária era inacessível para nós. Há mais: muito poucos eram os que tinham a
sorte de poder terminar a escola pública. Por conseguinte, neste aspecto estais
muito acima da juventude operária daquela época e só por este fato tendes mais
possibilidades de viver uma vida, cheia de conteúdo ideológico.

Em segundo lugar, naqueles tempos os operários com ideias e com consciência


de classe eram objeto de perseguições: despediam-nos das fábricas, eram detidos,
desterrados, etc. Isto quer dizer que só podíamos pôr em prática nossas ideias de
maneira ilegal. Por isso, se naquela época uma pessoa queria viver uma vida de
conteúdo ideológico, desenvolver-se politicamente, trabalhar em proveito da classe
operária e de seu povo e avançar pelo caminho do progresso, não lhe restava mais
do que esses estreito e espinhoso caminho pelo qual, como é natural, só muito
poucos podiam marchar. Pelo contrário, neste sentido abrem-se para vós campos
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ilimitados. Todas as condições necessárias estão ao vosso dispor. Nada mais


precisais do que lançar-vos ao trabalho!

Mas se vos ocorresse perguntar-me se naqueles anos eu não me arrependia de


ter escolhido para minha vida precisamente aquele caminho, eu teria que dizer-vos
o seguinte: o homem que aspirasse a viver uma vida grande e não uma vida
estreita e mesquinha, cujo único fim fosse o de assegurar para si mesmo um bem-
estar exclusivamente pessoal, de tipo puramente pequeno-burguês; o homem que
quisesse viver uma vida efetivamente digna e interessante, esses homem não
podia seguir outro caminho! Parece que vos falo somente de mim. Mas na
realidade não é assim, pois eu não era mais do que um entre muitos, e por isso
tudo o que vos disse se refere a centenas de pessoas do mesmo desenvolvimento
intelectual e com o mesmo conceito da vida. Unicamente tive a sorte de poder vir
aqui, diante de vós, e falar-vos de coração a coração, ao passo que a maioria de
meus companheiros provavelmente já morreu há muito tempo.

Assim, pois, uma vida cheia de conteúdo ideológico e de interesses sociais,


uma vida que tenda a esses fins é a melhor e a mais interessante de quantas vidas
possamos imaginar. Mas, efetivamente, na realidade, o modelo de uma vida como
essa nos oferece a do camarada Stálin. (Aplausos prolongados).

Mas vós podereis dizer-me: “Sim, a vida do camarada Stálin é, de fato, um


modelo de vida nobre e de profundo conteúdo ideológico. Mas nós somos homens
comuns e vulgares, ao passo que nos falas de um grande homem, de nosso
chefe”. Com nossos chefes Lênin e Stálin devemos aprender a viver e a trabalhar,
pois eles não só possuem a capacidade de compreender e exprimir com acerto e
melhor do que ninguém as exigências atuais do desenvolvimento social, mas
também a de satisfazer melhor que ninguém e com igual acerto a essas
exigências.

Viver uma vida grande e de conteúdo ideológico é viver os interesses sociais


da classe mais avançada e progressista da época; e na época atual, é viver os
interesses do povo soviético, da Pátria socialista. Se viveis para servir a esses
interesses, se vossos pensamentos tendem a engrandecer ainda mais vosso povo,
a elevar ainda mais o potencial econômico e militar de vossa Pátria, se dedicais
todas as vossas fôrças à luta pelo triunfo total do comunismo e esta grande ideia
domina vossos pensamentos, não duvido de que de fato viveis uma grande vida.

Camaradas, os sonhos e as fantasias de todo gênero são algo próprio da


juventude de todas as épocas e gerações. Longe de constituir um vício, são uma
virtude muito meritória. Ninguém que atue e pense normalmente pode prescindir
da fantasia. Mas na juventude tal tendência está muito mais desenvolvida que na
idade madura. Em nosso tempo também nós tínhamos uma fantasia rica e variada.
Cada um de nós fantasiava de acordo com suas ideias e seu grau de
desenvolvimento. Mas, está claro, os limites do voo de nossa fantasia, como se
disséssemos, seu “teto”, não podem comparar-se ao “teto”, aos limites do voo de
vossa fantasia. E apesar disso, como vistes, muitíssimos jovens operários daquela
época acariciavam grandes ilusões sobre uma vida melhor e mais racional. Creio
que neste sentido tínhamos muito de comum convosco.

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Eu também fantasiava bastante, diga-se de passagem. Assim, por exemplo,


quando tinha 15 anos, sonhava ser marinheiro. Naquela época, ainda não
trabalhava na fábrica. Com o fim de preparar-me para a dura vida de marinheiro
passei três meses dormindo no chão. Queria converter-me em um homem
resistente. Que marinheiro é esses que dorme numa cama! — dizia eu naquela
época. (Risos).

Creio que também a vós ocorrem fantasias desse tipo, pois sois alunos de
nona e décima classe e essa é a idade em que a gente se sente dominado pela
fantasia e pela ânsia de algo grande. E não pode ser de outro modo, pois que
espécie de jovens soviéticos serieis se não sonhásseis com uma vida grande, se
cada um de vós não pensasse em derrubar montanhas ou em levantar o mundo
com a alavanca de Arquimedes? (Risos).

Mas, como já disse, para vós é mais fácil — do que era para nós —
empreender a luta por uma vida grande. Se me perguntassem quais são as
medidas práticas a seguir para empreender esses caminho, eu diria: por ora, visto
que ainda estais na escola, não se exige muito. Para começar, para lançar os
alicerces, digamos assim, deveis dominar três matérias de vosso programa de
estudos, se é que quereis converter-vos em edificadores de uma grande vida.
Somente três matérias! Vedes como sou modesto. (Risos).

Antes de tudo, deveis conhecer bem o russo. Julgo que o conhecimento do


russo é um fator de extraordinária importância no desenvolvimento geral do
homem. Pois não existe nenhuma ciência entre as que tereis de estudar no futuro
— sobretudo se ingressardes em alguma faculdade de humanidades — nem
nenhuma esfera de atividade social em que não se requeira um bom conhecimento
do russo. E este conhecimento nos é necessário inclusive na vida cotidiana para
poder expressar corretamente e com exatidão as ideias, os sentimentos e as
nossas mais íntimas emoções. Pois, se um homem quer fazer chegar tudo isto aos
demais, tem que exprimi-lo mediante orações bem construídas do ponto de vista
da sintaxe e da morfologia.

Creio que muitas vezes ouvireis dizer por vossos camaradas: “Compreendo a
matéria e a sei bem, mas não posso expô-la de maneira alguma”. (Risos). E por
que não pode expô-la? Pois é porque não domina sua língua materna. Imaginai um
jovem que se decida a escrever uma carta à bem-amada. Suponhamos que isso
aconteceu há 50 anos. Eis o que lhe escreveria ele: “Amada minha, amo-te com
toda a minha alma. (Risos). Meu carinho é tão grande que não posso expressá-lo.
Faltam-me as palavras”. (Risos). É claro que ao ler esta carta uma jovem ingênua
exclamaria: “Que bonito!” (Risos). Mas, e se não se trate de uma jovem ingênua e
simples, mas de uma moça muito culta? Estou certo de que essa moça diria:
“Pobrezinho, como tens pouco miolo”. (Risos. Aplausos).

O estudo da língua materna tem uma grande importância. As maiores


aquisições do pensamento humano, os conhecimentos mais profundos e os
sentimentos mais ardentes permanecerão ignorados dos homens se não forem
expressados com palavras claras e precisas. O idioma é o meio de expressão da
ideia. E a ideia só adquire o caráter de ideia quando se exprime com palavras,

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quando se exterioriza com a ajuda da linguagem, quando como diriam os filósofos


— se mediatiza e se objetiva para os demais. Por isso digo eu que o conhecimento
do idioma materno é o fundamental para vosso futuro trabalho.

A segunda matéria, que também considero como absolutamente indispensável


para vós, é a matemática.

Por que destaco desse modo a matemática? Por que considero que essa
ciência tem tanta importância precisamente nas condições atuais e precisamente
para vós, para a juventude escolar soviética?

Em primeiro lugar, a matemática disciplina o intelecto e nos habitua a pensar


com lógica. Não é em vão que se costuma dizer que a matemática é uma ginástica
para o intelecto- Não duvido de que vossas cabeças estejam cheias de ideias a
ponto de rebentar (risos), mas é preciso pôr essas ideias em ordem, discipliná-las,
canalizá-las — se é que podemos dizer assim para um trabalho proveitoso. E a
matemática vos ajudará a levar a cabo essa empresa. Entretanto, estes
argumentos são mais aplicáveis aos sábios que a vós e não creio que contribuam
muito para inclinar-vos ao estudo da matemática.

Em segundo lugar — e talvez o compreendais melhor — o campo da aplicação


prática da matemática é enorme. Qualquer que seja a ciência que estudeis ou o
centro de ensino superior em que ides ingressar, qualquer que seja o campo de
vossa atividade, vos é imprescindível o conhecimento da matemática se é que
desejais deixar nesses lugares algum vestígio de vossa passagem por eles. E quem
de vós não sonha agora em chegar a ser marinheiro, aviador, artilheiro, operário
qualificado dos diversos ramos de nossa indústria, operário da construção,
metalúrgico, ajustador, torneiro, etc. perito agrônomo, criador de gado,
horticultor, etc., operário de estradas e obras, maquinista, comerciário, etc.? Mas
todas essas profissões exigem um bom conhecimento da matemática. Por isso, se
quereis participar na grande vida deveis encher a cabeça de matemática, enquanto
tendes a possibilidade de fazê-lo. A matemática vos prestará mais tarde uma
enorme ajuda em vosso trabalho.

Um exemplo: um dos melhores oculistas de Moscou dizia-me que o oculista


que conhece mal a física é um mau oculista. Não lhe perguntei a que parte da
física se referia, pois pelo visto aludia à ótica. E a ótica consiste quase toda ela em
fórmulas matemáticas. Não é assim? É isso pouco mais ou menos. (Risos). Como
vedes, os que vão estudar medicina também necessitarão da matemática.

A terceira matéria que considero de excepcional importância para vós é... mas
temo que estranheis muito o que vou dizer e talvez não estejais completamente de
acordo comigo. Entretanto, tenho que dizê-lo. Se não conseguir convencer-vos de
todo pelo menos tentarei induzir-vos a compreender a importância dessa matéria.
Talvez vossas ideias se orientem nesse sentido e então considerarei que consegui
meu objetivo. Qual é, pois, essa matéria? Refiro-me à educação física. (Risos.
Aplausos). Veja que alguns se alegraram e com toda a certeza porque não citei
outras matérias que exigem um grande esforço intelectual.

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Por que coloco a educação física no mesmo nível do russo e da matemática?


Por que considero-a uma das matérias fundamentais do ensino e da educação?

Em primeiro lugar, porque desejo que todos vós sejais cidadãos soviéticos
sãos. Onde vamos parar, se de nossas escolas saírem jovens com os nervos
alterados ou com estômagos estragados (risos), que cada ano necessitem ir tratar-
se nos sanatórios? Jovens assim dificilmente poderão encontrar a felicidade na
vida, pois que felicidade pode haver sem uma boa saúde? Devemos preparar
substitutos sãos para nossa geração, substitutos constituídos por homens sãos e
mulheres sãs.

Em segundo lugar, refiro-me à educação física porque quero que nossa


juventude seja uma juventude ágil e resistente. É claro que nem todas as pessoas
são sadias, ágeis e resistentes de nascença. Mas também há pessoas que desde o
nascimento possuem, como se costuma dizer, uma saúde de touro. E continuam
conservando a saúde até nas condições mais desfavoráveis da vida. Existe até a
expressão: forte como um touro. No entanto, tais pessoas não são muito
numerosas. As pessoas comuns e do tipo corrente desenvolvem e fortalecem a
saúde no transcurso da vida. Com mais forte razão podemos dizer isto no que se
refere à agilidade e à resistência: tanto uma como a outra são qualidades que se
adquirem.

A vida de Suvórov constitui um exemplo de como e até que ponto o homem


pode aumentar sua resistência com o auxílio do exercício. Cito este exemplo
porque certamente todos assistiram ao filme sobre Suvórov. Como recordareis,
Suvórov era um menino tão débil que seus pais nem sequer pensavam em
destiná-lo à carreira das armas. Mas ele soube curtir-se de tal modo que, afinal, se
converteu num dos homens mais resistentes de sua época e alcançou, se não me
falha a memória, os 70 anos. É ou não é verdade? Vós é que tendes a obrigação
de conhecer História e não eu. (Risos).

O que nós queremos é precisamente que os homens soviéticos e antes de tudo


vós, os jovens que estudais — sejam tão ágeis e resistentes como foi Suvórov. E o
menor progresso nesse sentido deve ser considerado como um grande êxito do
Estado soviético. Recomendo que leais “Combates na Finlândia”. É uma obra muito
longa, em dois volumes. Quando me aconselhei com um dos meus conhecidos
sobre se devia recomendar-vos essa leitura, ele me disse que não o fizesse pois é
demasiado volumosa e de qualquer forma não a leríeis até ao fim. Levai em conta
que se trata do conselho de um professor e que, portanto, deve conhecer-vos um
pouco. Em lugar dessa obra ele me propôs que vos recomendasse outras
dedicadas aos combatentes na Finlândia, por serem de menor volume. Mas, apesar
de tudo, decidi recomendar-vos precisamente essa obra em dois volumes. É tão
interessante e instrutiva que tenho plena certeza de que, uma vez começada, a
lereis até o fim.

Qual é o interesse desse livro? Não achareis nele um resumo geral da guerra,
mas através de toda a obra, como um “leitmotiv”, se destaca a ideia de que a
guerra moderna requer excelente conhecimento da arte militar, um domínio
perfeito do material bélico moderno, uma extraordinária tensão das fôrças físicas,

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exige um trabalho colossal, resistência e mais resistência, uma excepcional


agilidade, iniciativa e a capacidade de orientar-se nas mais complicadas situações
do combate. Hoje em dia, não se pode combater sem essas qualidades. E vós
deveis preparar-vos intensamente para cumprir o mais importante e sagrado de
vossos deveres, o de patriotas soviéticos. E para isso, em primeiro lugar, tendes
que curtir-vos, tendes que ser resistentes, sãos e ágeis.

Mas a educação física vos é necessária também para a vida prática. Pois, como
pode ser feliz um homem que padece de úlcera no estômago? (Risos). Em
compensação, um homem são, em quem tudo funcione normalmente — que não
tenha falta de apetite, não sofra de insônia, etc. — suportará melhor todas as
adversidades da vida. Assim, pois, para serdes pessoas sãs, para poder gozar mais
a vida, deveis praticar os exercícios físicos.

Tenho a impressão de que em nossas escolas, por assim dizer, intelectualizam


demasiado o pessoal. E não no sentido intelectual, mas no sentido de que se mima
de mais os meninos sem que se os habitue a apreciar o trabalho físico. Não posso
precisar de quem é a culpa, mas o fato é esses. Pelo visto, aqui se fazem sentir
em certa medida as sobrevivências da antiga atitude com o trabalho físico. E
talvez a culpa principal nesse caso seja da família; mas a escola não se opõe como
deveria a esta influência, não incute nos meninos na medida necessária uma
atitude comunista para com o trabalho físico. Por isso muitos meninos entregam-
se ao trabalho físico de má vontade, considerando-o como algo de vergonhoso e
humilhante. A meu juízo isso constitui um profundo erro. Nós honramos qualquer
tipo de trabalho. Não existem para nós trabalhos de categoria inferior ou superior.
Para nós é igualmente uma questão de honra, de glória, de valor e heroísmo o
trabalho do pedreiro, como o do sábio, do porteiro, do engenheiro, do carpinteiro,
do artista, da tratadora de porcos, da atriz, do tratorista, do agrônomo, do
empregado no comércio, do médico, etc.

Todo jovem soviético deve apreciar o trabalho físico e não deve recusar os
trabalhos mais simples. Os que se habituarem ao trabalho físico conhecerão
melhor a vida; se vós mesmos souberdes fazer pelos menos as coisas mais
indispensáveis — lavar e remendar a roupa, preparar a comida, manter a casa
limpa, etc. — se souberdes pelo menos algum ofício, podeis estar certos de que
nunca vos vereis perdidos.

Em certa ocasião tive a oportunidade de ler as cartas pedagógicas do filósofo


inglês John Locke, que viveu há mais de 250 anos. Dirigindo-se às classes
dominantes da Inglaterra, Locke lhes disse: não habitueis vossos filhos a dormir
em leitos macios, pois quando se viaja não é possível carregar uma cama macia, e
na guerra, com mais forte razão, não haverá ocasião de pensar nisso; se um
jovem gentleman se acostumar a dormir em cama dura, não haverá necessidade
de habituá-lo a dormir em leito macio, pois a isso se acostumará rapidamente.
Além disso, John Locke recomenda aos pais que eduquem seus filhos de forma que
estes aprendam obrigatoriamente vários ofícios, e um deles a fundo. Isso sempre
lhes servirá e até pode ser de utilidade aos homens de grande erudição para
quando queiram repousar de um intenso trabalho intelectual. E com mais forte
razão, no caso de o destino preparar-lhes uma armadilha.

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11/09/2019 Discurso na Reunião de Alunos da Oitava, Nona e Décima Classes das Escolas Intermediárias do Distrito

Como vedes, na época em que o poderio da Inglaterra estava em ascensão, os


ideólogos das classes exploradoras lhes aconselhavam que educassem seus filhos
de modo que soubessem apreciar o trabalho físico, que não evitassem os trabalhos
simples e que se preparassem para todas as circunstâncias da vida. E tudo isso se
fazia com o fim de consolidar ainda miais o domínio dos exploradores.

Mas se os filhos dos capitalistas e latifundiários ingleses davam atenção a


estes conselhos de estimar o trabalho físico, não desdenhavam os trabalhos
simples e tratavam de curtir-se para que lhes fosse mais fácil suportar qualquer
prova na vida, com maior motivo a juventude soviética deve compreender tudo
isto. Onde e como podeis participar no trabalho físico? Habituai-vos antes de tudo
a praticá-lo em casa. Depois deveis desenvolver por todos os meios vossa
resistência e agilidade.

Com frequência costumamos perguntar: como há de ser o futuro homem


comunista? Eu desejo que o homem soviético seja um homem são, vigoroso,
resistente e intransigente com os inimigos de nossa Pátria, que saiba combater
com perfeição em defesa de seu povo e pelo triunfo definitivo do comunismo. E
não posso admitir a ideia de que nossa juventude, em seu conjunto, não tenha às
vezes vontade de brigar. isso não seria natural. Está ou não está certo? (Vozes:
“está certo, está certo”). É claro que há diferentes espécies de pessoas, mas eu
me refiro à juventude em seu conjunto. Por conseguinte, deveis educar-vos de tal
maneira que sejais pessoas vigorosas, ágeis, resistentes e capazes de suportar
qualquer prova e vencer qualquer dificuldade.

E agora, julgai vós mesmos; para que podem servir uns tipos como esses de
que fala a “Pravda” numa nota publicada sob o título de “Jovens poltrões”? O
correspondente do jornal relata sua conversação com Vítor N., jovem de 18 anos
do kolkhoz “OGPU”. Vítor, filho de um kolkhoziano, terminou há dois anos a sétima
classe. Agora está em casa sem fazer nada, ou como diz ele, “acumulando forças”.
À minha pergunta por que não trabalhava no kolkhoz o jovem torceu o nariz e
disse:

"Não terminei a sétima classe para meter-me a trabalhar num kolkhoz.


Isto é para Andriúcha, o coxo; eu encontrarei um trabalho mais limpo,
posso colocar-me em algum escritório!..."

Quando li essa nota cheguei à conclusão de que Vítor N., além de outras
coisas, é um analfabeto, pois que se depois de terminar a escola passou dois anos
sem fazer nada, tudo parece indicar que também na escola estudou de qualquer
maneira, que se arrastou com dificuldade de classe em classe e por conseguinte
mal deve saber ler e escrever. E em vista disso devemos supor que não serve para
trabalhar num escritório. Acaso não precisamos agora de pessoas cultas em
nossos kolkhozes? Acaso se pode agora prescindir dos conhecimentos científicos
na agricultura? Está claro que não podemos estar de acordo com uma “filosofia”
dessas. É uma filosofia prejudicial, contra a qual temos de lutar resolutamente.
Devemo-nos empenhar para que de nossas escolas não saia gente desse tipo. O
povo soviético não pode tolerar os poltrões. Pois, que história é essa? Fizemos a
Revolução para acabar com os preguiçosos e vivedores e aqui topamos com a

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aparição de novos preguiçosos e vivedores. Não, isto é intolerável e a escola tem


no fato certa responsabilidade.

Camaradas, quando eu vos falava do russo, da matemática e da educação


física, não era minha intenção rebaixar a importância de outras disciplinas do
ensino escolar. Portanto, isto não significa que podeis abandonar as demais
matérias. Detive-me nessas três disciplinas porque considero que são a base que
vos facilitará a assimilação das demais e vos abrirá as portas da grande vida.
Estou certo de que se vos aplicardes nessas três matérias fundamentais, tereis
garantido um êxito completo em todas as outras matérias do programa escolar,
pois é muito estreita a relação que existe entre umas e outras.

Camaradas, se considerarmos o sentido fundamental de quanto eu queria


dizer-vos, veremos que não representa algo de novo. Minha intenção não era mais
do que recordar e em parte ilustrar uma conhecida indicação do camarada Stálin.
Em certa ocasião, dirigindo-se à juventude, o camarada Stálin disse:

“Para construir é preciso saber, é preciso dominar a ciência. E para saber


é preciso estudar, estudar de um modo tenaz e paciente.”

Talvez a ilustração que escolhi para esta indicação do camarada Stálin não
seja muito feliz e por isso é possível que pessoas mais entendidas em questões
pedagógicas ponham em discussão a oportunidade de tal ilustração.

Para concluir, permiti-me que vos diga que nos diferentes períodos da história
apresentam-se diferentes tarefas de caráter progressista, pelas quais lutam as
melhores fôrças do povo. Assim, por exemplo, entre os anos 40 e 60 do século
passado a tarefa progressista fundamental foi a de emancipar os camponeses da
servidão feudal. E sabemos que todos os homens honrados e progressistas da
época lutavam direta ou indiretamente por conseguir esses objetivo.

Nos fins do século passado e princípio do século atual, uma nova tarefa
progressista se apresentou na ordem do dia: derrubar o tzarismo e o poder do
capital, levar a cabo a revolução proletária e transformar a sociedade à base dos
princípios socialistas.

Na atualidade, a tarefa mais progressista é a consolidação do socialismo e a


edificação do comunismo. O caráter progressista desse objetivo é evidente não só
para os homens soviéticos, mas também para os trabalhadores de todo o mundo.
Para conseguir esses objetivo, é preciso, antes de tudo, fortalecer por todos os
meios a potência econômica e militar do País dos Soviets. Por isso eu quisera que
nossa juventude se compenetrasse desse grandioso objetivo e o convertesse em
meta de sua existência, pois somente assim é que vossa vida se encherá de um
profundo conteúdo ideológico.

O marxismo-leninismo é a arma que nos serve para a luta pelo comunismo e a


realização de todos os ideais comunistas. Essa doutrina e seu método constituem
um poderoso recurso , tanto no trabalho prático como na atividade científica. Os
que aspirarem a uma vida grande e luminosa devem conhecer a fundo o

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marxismo-leninismo. E uma vida como essa não pode deixar de atrair nossa
juventude.

O camarada Stálin dizia:

“A juventude é nosso porvir, nossa esperança, camaradas. A juventude é


que há de substituir-nos a nós, os velhos. É ela que há de levar nossa
bandeira até o triunfo final... É certo que os jovens não possuem os
conhecimentos necessários. Mas os conhecimentos se adquirem. Hoje
não os têm, mas amanhã os terão. Por isso a tarefa se baseia em
aprender, aprender constantemente o leninismo.”

Camaradas, agora vos encontrais no período de vosso vir a ser. Não sei se
compreendereis esta expressão demasiado filosófica. Expressar-me-ei com outras
palavras: estais no período de vosso desenvolvimento, em que deixais de ser
jovens, nos quais predominam a fantasia, a fogosidade e o valor temerário, e vos
converteis em homens maduros. Mas ainda não sois homens maduros e ainda não
fizestes a escolha definitiva da senda que ides trilhar na vida. Não fazeis mais do
que sondar o caminho. Há 50 anos, era mais fácil para nós tomar uma
determinação, pois não tínhamos diante de nós mais do que uma estreita senda. E
se naquela época alguém tropeçava, infalivelmente rodava para o pântano da vida
mesquinha. Em compensação, infinitos caminhos práticos se abrem diante de vós.
esses caminhos são os que escolheis agora. Com o tempo sereis marinheiros,
ferroviários, artilheiros, tanquistas, aviadores, engenheiros, ajustadores, torneiros,
operários da construção, homens de ciência, artistas, médicos; trabalhadores dos
diferentes ramos do trabalho físico e do trabalho intelectual.

Pois bem, eu quisera que no período de vosso vir a ser, assim como nós, há 50
anos, vos sentísseis dominados pelo afã de entregar-vos a um|a atividade social
consciente, que convertêsseis em objetivo de vossa vida a tarefa de servir ao
grande povo soviético e coroar a obra de Lênin e Stálin. Se conseguirdes que esses
afã se arraigue em vós e que tudo o mais se subordine a ele, não duvido,
camaradas, de que tereis assegurada a felicidade e a alegria de viver. (Atroadores
aplausos. Todos se põem de pé.)

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Inclusão 05/11/2012

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Discurso na Reunião de Alunos da


Oitava, Nona e Décima Classes
das Escolas Intermediárias do
Distrito Lênin de Moscou
M. I. Kalinin

17 de Abril de 1941

Primeira Edição: Revista “Smena" ("A Nova Geração”), n.° 6, 1941.


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 112-129.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Camaradas: Apesar de não serem tão raros meus


encontros com a juventude, não me é fácil compenetrar-me
de vosso estado de ânimo nem de vossos sentimentos. E isto
se compreende, pois passaram uns cinquenta anos desde a
época em que eu tinha a vossa idade. Muitas das coisas
vividas em minha juventude fugiram-me da memória durante
esses anos e o que recordo sem dúvida vos parecerá algo
muito, mas muito velho. Se vos perguntassem que ideia
tendes da vida da juventude naqueles tempos, certamente
vos veríeis em dificuldades para responder: passaram muitos
anos desde então.

Não obstante, acho que a vida da juventude de há 40 ou 50 anos passados


também encerra certo interesse para vós. Embora eu não pretenda conhecer a
fundo essa juventude com todas as suas virtudes e seus defeitos, quisera traçar-
vos, mesmo que ligeiramente, um quadro de como vivia, quais eram suas
preocupações, que tipos a constituíam e quais eram seus sentimentos. Além disso,
referir-me-ei principalmente à juventude operária, aquela com quem mais tive
oportunidade de tratar.

É bem verdade que também tive vínculos mais ou menos estreitos com a
juventude camponesa, mas que se pode dizer da vida da juventude camponesa
daqueles tempos? Essa vida não oferece nenhum interesse nem tem valor
instrutivo algum. Em sua grande maioria, os moços e as moças do campo viviam
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esmagados pelo trabalho e pelas privações de suas casas. É claro que tampouco a
vida da juventude operária era muito doce; apesar disso tinha certas vantagens,
embora só pelo fato de que seu horizonte era incomparavelmente mais amplo:
tinha a possibilidade de ver e conhecer mais coisas. Ao contrário, o horizonte da
juventude camponesa limitava-se aos interesses da aldeia e ela pouco sabia do
que se passava fora desses limites. Mal um jovem atingia os 13 ou 15 anos e já
era jungido ao trabalho. E ao alcançar os 18 ou 19 anos seu caminho estava
definitivamente traçado: contraía matrimônio, separava-se dos pais e bem ou mal
ia organizando seu próprio ninho.

Conheci pouco a juventude estudantil, apesar de ter tratado com ela, pois ter
tido contato não significa conhecer. Minha atitude para com ela era como para com
algo de estranho. Além disso, devemos ter em conta que a juventude estudantil
constituía para mim uma classe diferente. Entretanto, a luta dos estudantes não
passava desapercebida da massa operária. Além do agrado com que se via essa
luta, ia crescendo e se fortalecendo a simpatia para com a juventude estudantil.

Assim, pois, ao falar da juventude de um remoto passado referir-me-ei


sobretudo à juventude operária.

Como era a juventude operária daquela época? Que tipos a integravam? Que
lhe interessava, quais eram seus sonhos, que ideias se agitavam em suas
cabeças?

Os tipos que se via entre a juventude operária daquela época eram os mais
diversos, provavelmente tão diversos como os que se veem entre vós.

O primeiro tipo era constituído pelos que aspiravam, por todos os meios e
artimanhas, a sair do meio operário, a ganhar mais, vestir melhor, adquirir um
verniz exterior de “homens finos”, sobretudo na roupa, estabelecer relações com
os funcionários da fábrica, casar com suas filhas, para aproveitar a primeira
oportunidade de galgar um dos postos da escala administrativa. É claro que tais
tipos não abundavam no seio da massa juvenil e careciam de importância política.

Outro tipo era constituído pelos laboriosos, que, ou bem aprendiam o ofício, ou
já haviam concluído a aprendizagem e ganhavam seu salário. Todos os seus
interesses se limitavam a. ganhar dinheiro, garantir para si um conforto doméstico
e um bem-estar pessoal. A produção e o bem-estar pessoal abrangiam toda a
esfera de seus interesses, da qual não saíam. Os homens desse tipo eram muito
mais numerosos que os do primeiro, mas também eles formavam uma minoria
insignificante.

Às vezes podia-se encontrar entre a juventude operária espiões e aduladores.


Mas eram muito poucos, literalmente casos isolados. esses elementos tendiam a
melhorar sua situação com uma atitude servil e dedicando-se a fazer denúncias.
Mantinham contato com os capatazes, com a polícia e o pessoal de direção das
fábricas. Os operários não suportavam esses elementos, que sempre estavam
cercados por um ambiente de desprezo geral; eram bastante maltratados e com
frequência eram até surrados.

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Mas o que caracterizava a esmagadora maioria dos jovens operários era sua
oposição à ordem social e política então existente. Desse tipo de pessoas era
precisamente que saíam na época os verdadeiros combatentes revolucionários. A
grande massa da juventude operária constituiu sempre uma base sólida na qual
podia apoiar-se nosso Partido. Era uma espécie de destacamento combativo dos
operários que, durante as greves e protestos, desempenhava o papel mais ativo
sob a direção dos membros do Partido.

Não podemos dizer, entretanto, que a oposição dos jovens operários fosse
plenamente consciente desde o princípio. Muitas vezes essa oposição transbordava
de forma espontânea e se manifestava em surras dos capatazes maus — esses
serviçais dos patrões — de policiais, etc.

Com o passar do tempo, sob a influência da propaganda socialista, iam


surgindo entre a juventude operária círculos clandestinos, dirigidos por intelectuais
marxistas, aos quais acorriam homens em quem começava a despertar a
consciência social.

Quanto mais tempo passava, mais meditavam sobre a situação da classe


operária e sobre muitas questões da vida social. Essas pessoas liam com avidez a
literatura marxista, aprofundavam-se na teoria do socialismo científico,
dedicavam-se seriamente a aumentar seus conhecimentos, e não só se
desenvolviam politicamente, como também elevavam seu nível cultural. Nos
círculos, tinham lugar calorosas discussões entre os camaradas, tanto em torno
dos temas candentes da vida política, como dos livros lidos. É assim que se ia
formando a consciência de classe, a consciência socialista entre os representantes
mais avançados da juventude operária.

E devo dizer-vos que os participantes dos círculos marxistas ilegais eram os


que gozavam de mais prestígio, não só entre a juventude, mas também entre os
operários de idade mais avançada. Apesar de realizarem seu trabalho de modo
conspirativo, uma parte considerável dos operários estava bem inteirada disso e os
ajudava com prudência nos primeiros passos de sua atividade revolucionária.

Fora disso, pouco nos diferenciávamos exteriormente dos outros operários. Da


mesma forma que outros jovens operários, íamos às casas de chá e aos bares e
até, pela noite, ao regressar do trabalho, nos metíamos às vezes nos pomares
alheios; é claro que o fazíamos por travessura, para fazer alarde de valor e não
porque nos fizessem falta as maçãs. Recordo, como se fosse agora, que em um
dos pomares próximos à fábrica de Putílov havia um guarda com a espingarda
carregada de sal. Como não íamos meter-nos nesse pomar, se isso representava o
perigo de receber um tiro de sal! (Risos).

Assistíamos aos espetáculos noturnos, tínhamos encontros com as moças e


passeávamos. E para passear no parque público às vezes saltávamos o gradil.
(Risos). E o fazíamos, não porque não tivéssemos os 10 kopeques que custava a
entrada. Não. Tínhamos dinheiro, pois ganhávamos o nosso salário e podíamos
pagar os 10 kopeques. Mas saltar o gradil representava certo perigo, pois podiam
apanhar-nos e tirar-nos “triunfalmente” do parque. Como íamos deixar de saltar o
gradil (Risos). Assim, pois, saltávamos os gradis e passeávamos com as moças E
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passeávamos provavelmente como vós passeais. Naturalmente, não sei como é


que vós passeais, mas acredito que estas coisas ocorrem hoje da mesma forma
que há 40 ou 50 anos. Parece que neste aspecto não houve grandes modificações.
(Risos).

Portanto, exteriormente, nossa vida era a mais comum. Se alguém se


dedicasse a observar-nos não notaria nada de particular.

Mas, apesar de tudo, nos distinguíamos dos demais jovens operários. Em que
consistia essa diferença? Em que para nós os pequenos interesses da vida diária
iam perdendo importância e eram substituídos pelos interesses gerais dos
operários. Os estudos nos círculos ilegais e a literatura revolucionária ampliavam
nosso horizonte político e enchiam nossa vida de certo conteúdo ideológico. Até
então tínhamos considerado como abusos isolados as arbitrariedades mais
revoltantes que se cometiam na, fábrica, mas agora já os interpretávamos como
todo um sistema de opressão da classe operária em geral, e não só por parte dos
chefes da fábrica e dos patrões, mas também por parte da autocracia.

Aparentemente nada tinha mudado. Continuávamos passeando com as moças,


comparecíamos aos encontros, dançávamos nos bailes e, naturalmente, tínhamos
nossos amores. (Risos). Mas pensávamos já em algo mais do que no “bem-estar
americano” das novelas. Nossas ideias se concentravam no trabalho social e
inclusive quando assistíamos a uma festa pensávamos na forma de aproveitá-la
para nossos fins revolucionários.

E assim, pouco a pouco, sem dar-nos conta, fomos entrando em uma vida
cheia de conteúdo ideológico. E uma vida com conteúdo ideológico é a maior, a
mais interessante das vidas! Era nisso precisamente que nos diferenciávamos do
resto da juventude operária, com a qual sempre estávamos em estreito contato e
na qual nos apoiávamos constantemente para nosso trabalho revolucionário.

É claro que as possibilidades que tínhamos de viver uma vida cheia de


conteúdo ideológico eram muito mais limitadas do que as que tem agora a
juventude soviética e sobretudo vós, alunos das últimas classes dos centros de
ensino secundário. E isso se compreende perfeitamente.

Em primeiro lugar, naquela época não estudávamos nos liceus; a instrução


secundária era inacessível para nós. Há mais: muito poucos eram os que tinham a
sorte de poder terminar a escola pública. Por conseguinte, neste aspecto estais
muito acima da juventude operária daquela época e só por este fato tendes mais
possibilidades de viver uma vida, cheia de conteúdo ideológico.

Em segundo lugar, naqueles tempos os operários com ideias e com consciência


de classe eram objeto de perseguições: despediam-nos das fábricas, eram detidos,
desterrados, etc. Isto quer dizer que só podíamos pôr em prática nossas ideias de
maneira ilegal. Por isso, se naquela época uma pessoa queria viver uma vida de
conteúdo ideológico, desenvolver-se politicamente, trabalhar em proveito da classe
operária e de seu povo e avançar pelo caminho do progresso, não lhe restava mais
do que esses estreito e espinhoso caminho pelo qual, como é natural, só muito
poucos podiam marchar. Pelo contrário, neste sentido abrem-se para vós campos
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ilimitados. Todas as condições necessárias estão ao vosso dispor. Nada mais


precisais do que lançar-vos ao trabalho!

Mas se vos ocorresse perguntar-me se naqueles anos eu não me arrependia de


ter escolhido para minha vida precisamente aquele caminho, eu teria que dizer-vos
o seguinte: o homem que aspirasse a viver uma vida grande e não uma vida
estreita e mesquinha, cujo único fim fosse o de assegurar para si mesmo um bem-
estar exclusivamente pessoal, de tipo puramente pequeno-burguês; o homem que
quisesse viver uma vida efetivamente digna e interessante, esses homem não
podia seguir outro caminho! Parece que vos falo somente de mim. Mas na
realidade não é assim, pois eu não era mais do que um entre muitos, e por isso
tudo o que vos disse se refere a centenas de pessoas do mesmo desenvolvimento
intelectual e com o mesmo conceito da vida. Unicamente tive a sorte de poder vir
aqui, diante de vós, e falar-vos de coração a coração, ao passo que a maioria de
meus companheiros provavelmente já morreu há muito tempo.

Assim, pois, uma vida cheia de conteúdo ideológico e de interesses sociais,


uma vida que tenda a esses fins é a melhor e a mais interessante de quantas vidas
possamos imaginar. Mas, efetivamente, na realidade, o modelo de uma vida como
essa nos oferece a do camarada Stálin. (Aplausos prolongados).

Mas vós podereis dizer-me: “Sim, a vida do camarada Stálin é, de fato, um


modelo de vida nobre e de profundo conteúdo ideológico. Mas nós somos homens
comuns e vulgares, ao passo que nos falas de um grande homem, de nosso
chefe”. Com nossos chefes Lênin e Stálin devemos aprender a viver e a trabalhar,
pois eles não só possuem a capacidade de compreender e exprimir com acerto e
melhor do que ninguém as exigências atuais do desenvolvimento social, mas
também a de satisfazer melhor que ninguém e com igual acerto a essas
exigências.

Viver uma vida grande e de conteúdo ideológico é viver os interesses sociais


da classe mais avançada e progressista da época; e na época atual, é viver os
interesses do povo soviético, da Pátria socialista. Se viveis para servir a esses
interesses, se vossos pensamentos tendem a engrandecer ainda mais vosso povo,
a elevar ainda mais o potencial econômico e militar de vossa Pátria, se dedicais
todas as vossas fôrças à luta pelo triunfo total do comunismo e esta grande ideia
domina vossos pensamentos, não duvido de que de fato viveis uma grande vida.

Camaradas, os sonhos e as fantasias de todo gênero são algo próprio da


juventude de todas as épocas e gerações. Longe de constituir um vício, são uma
virtude muito meritória. Ninguém que atue e pense normalmente pode prescindir
da fantasia. Mas na juventude tal tendência está muito mais desenvolvida que na
idade madura. Em nosso tempo também nós tínhamos uma fantasia rica e variada.
Cada um de nós fantasiava de acordo com suas ideias e seu grau de
desenvolvimento. Mas, está claro, os limites do voo de nossa fantasia, como se
disséssemos, seu “teto”, não podem comparar-se ao “teto”, aos limites do voo de
vossa fantasia. E apesar disso, como vistes, muitíssimos jovens operários daquela
época acariciavam grandes ilusões sobre uma vida melhor e mais racional. Creio
que neste sentido tínhamos muito de comum convosco.

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Eu também fantasiava bastante, diga-se de passagem. Assim, por exemplo,


quando tinha 15 anos, sonhava ser marinheiro. Naquela época, ainda não
trabalhava na fábrica. Com o fim de preparar-me para a dura vida de marinheiro
passei três meses dormindo no chão. Queria converter-me em um homem
resistente. Que marinheiro é esses que dorme numa cama! — dizia eu naquela
época. (Risos).

Creio que também a vós ocorrem fantasias desse tipo, pois sois alunos de
nona e décima classe e essa é a idade em que a gente se sente dominado pela
fantasia e pela ânsia de algo grande. E não pode ser de outro modo, pois que
espécie de jovens soviéticos serieis se não sonhásseis com uma vida grande, se
cada um de vós não pensasse em derrubar montanhas ou em levantar o mundo
com a alavanca de Arquimedes? (Risos).

Mas, como já disse, para vós é mais fácil — do que era para nós —
empreender a luta por uma vida grande. Se me perguntassem quais são as
medidas práticas a seguir para empreender esses caminho, eu diria: por ora, visto
que ainda estais na escola, não se exige muito. Para começar, para lançar os
alicerces, digamos assim, deveis dominar três matérias de vosso programa de
estudos, se é que quereis converter-vos em edificadores de uma grande vida.
Somente três matérias! Vedes como sou modesto. (Risos).

Antes de tudo, deveis conhecer bem o russo. Julgo que o conhecimento do


russo é um fator de extraordinária importância no desenvolvimento geral do
homem. Pois não existe nenhuma ciência entre as que tereis de estudar no futuro
— sobretudo se ingressardes em alguma faculdade de humanidades — nem
nenhuma esfera de atividade social em que não se requeira um bom conhecimento
do russo. E este conhecimento nos é necessário inclusive na vida cotidiana para
poder expressar corretamente e com exatidão as ideias, os sentimentos e as
nossas mais íntimas emoções. Pois, se um homem quer fazer chegar tudo isto aos
demais, tem que exprimi-lo mediante orações bem construídas do ponto de vista
da sintaxe e da morfologia.

Creio que muitas vezes ouvireis dizer por vossos camaradas: “Compreendo a
matéria e a sei bem, mas não posso expô-la de maneira alguma”. (Risos). E por
que não pode expô-la? Pois é porque não domina sua língua materna. Imaginai um
jovem que se decida a escrever uma carta à bem-amada. Suponhamos que isso
aconteceu há 50 anos. Eis o que lhe escreveria ele: “Amada minha, amo-te com
toda a minha alma. (Risos). Meu carinho é tão grande que não posso expressá-lo.
Faltam-me as palavras”. (Risos). É claro que ao ler esta carta uma jovem ingênua
exclamaria: “Que bonito!” (Risos). Mas, e se não se trate de uma jovem ingênua e
simples, mas de uma moça muito culta? Estou certo de que essa moça diria:
“Pobrezinho, como tens pouco miolo”. (Risos. Aplausos).

O estudo da língua materna tem uma grande importância. As maiores


aquisições do pensamento humano, os conhecimentos mais profundos e os
sentimentos mais ardentes permanecerão ignorados dos homens se não forem
expressados com palavras claras e precisas. O idioma é o meio de expressão da
ideia. E a ideia só adquire o caráter de ideia quando se exprime com palavras,

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quando se exterioriza com a ajuda da linguagem, quando como diriam os filósofos


— se mediatiza e se objetiva para os demais. Por isso digo eu que o conhecimento
do idioma materno é o fundamental para vosso futuro trabalho.

A segunda matéria, que também considero como absolutamente indispensável


para vós, é a matemática.

Por que destaco desse modo a matemática? Por que considero que essa
ciência tem tanta importância precisamente nas condições atuais e precisamente
para vós, para a juventude escolar soviética?

Em primeiro lugar, a matemática disciplina o intelecto e nos habitua a pensar


com lógica. Não é em vão que se costuma dizer que a matemática é uma ginástica
para o intelecto- Não duvido de que vossas cabeças estejam cheias de ideias a
ponto de rebentar (risos), mas é preciso pôr essas ideias em ordem, discipliná-las,
canalizá-las — se é que podemos dizer assim para um trabalho proveitoso. E a
matemática vos ajudará a levar a cabo essa empresa. Entretanto, estes
argumentos são mais aplicáveis aos sábios que a vós e não creio que contribuam
muito para inclinar-vos ao estudo da matemática.

Em segundo lugar — e talvez o compreendais melhor — o campo da aplicação


prática da matemática é enorme. Qualquer que seja a ciência que estudeis ou o
centro de ensino superior em que ides ingressar, qualquer que seja o campo de
vossa atividade, vos é imprescindível o conhecimento da matemática se é que
desejais deixar nesses lugares algum vestígio de vossa passagem por eles. E quem
de vós não sonha agora em chegar a ser marinheiro, aviador, artilheiro, operário
qualificado dos diversos ramos de nossa indústria, operário da construção,
metalúrgico, ajustador, torneiro, etc. perito agrônomo, criador de gado,
horticultor, etc., operário de estradas e obras, maquinista, comerciário, etc.? Mas
todas essas profissões exigem um bom conhecimento da matemática. Por isso, se
quereis participar na grande vida deveis encher a cabeça de matemática, enquanto
tendes a possibilidade de fazê-lo. A matemática vos prestará mais tarde uma
enorme ajuda em vosso trabalho.

Um exemplo: um dos melhores oculistas de Moscou dizia-me que o oculista


que conhece mal a física é um mau oculista. Não lhe perguntei a que parte da
física se referia, pois pelo visto aludia à ótica. E a ótica consiste quase toda ela em
fórmulas matemáticas. Não é assim? É isso pouco mais ou menos. (Risos). Como
vedes, os que vão estudar medicina também necessitarão da matemática.

A terceira matéria que considero de excepcional importância para vós é... mas
temo que estranheis muito o que vou dizer e talvez não estejais completamente de
acordo comigo. Entretanto, tenho que dizê-lo. Se não conseguir convencer-vos de
todo pelo menos tentarei induzir-vos a compreender a importância dessa matéria.
Talvez vossas ideias se orientem nesse sentido e então considerarei que consegui
meu objetivo. Qual é, pois, essa matéria? Refiro-me à educação física. (Risos.
Aplausos). Veja que alguns se alegraram e com toda a certeza porque não citei
outras matérias que exigem um grande esforço intelectual.

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11/09/2019 Discurso na Reunião de Alunos da Oitava, Nona e Décima Classes das Escolas Intermediárias do Distrito

Por que coloco a educação física no mesmo nível do russo e da matemática?


Por que considero-a uma das matérias fundamentais do ensino e da educação?

Em primeiro lugar, porque desejo que todos vós sejais cidadãos soviéticos
sãos. Onde vamos parar, se de nossas escolas saírem jovens com os nervos
alterados ou com estômagos estragados (risos), que cada ano necessitem ir tratar-
se nos sanatórios? Jovens assim dificilmente poderão encontrar a felicidade na
vida, pois que felicidade pode haver sem uma boa saúde? Devemos preparar
substitutos sãos para nossa geração, substitutos constituídos por homens sãos e
mulheres sãs.

Em segundo lugar, refiro-me à educação física porque quero que nossa


juventude seja uma juventude ágil e resistente. É claro que nem todas as pessoas
são sadias, ágeis e resistentes de nascença. Mas também há pessoas que desde o
nascimento possuem, como se costuma dizer, uma saúde de touro. E continuam
conservando a saúde até nas condições mais desfavoráveis da vida. Existe até a
expressão: forte como um touro. No entanto, tais pessoas não são muito
numerosas. As pessoas comuns e do tipo corrente desenvolvem e fortalecem a
saúde no transcurso da vida. Com mais forte razão podemos dizer isto no que se
refere à agilidade e à resistência: tanto uma como a outra são qualidades que se
adquirem.

A vida de Suvórov constitui um exemplo de como e até que ponto o homem


pode aumentar sua resistência com o auxílio do exercício. Cito este exemplo
porque certamente todos assistiram ao filme sobre Suvórov. Como recordareis,
Suvórov era um menino tão débil que seus pais nem sequer pensavam em
destiná-lo à carreira das armas. Mas ele soube curtir-se de tal modo que, afinal, se
converteu num dos homens mais resistentes de sua época e alcançou, se não me
falha a memória, os 70 anos. É ou não é verdade? Vós é que tendes a obrigação
de conhecer História e não eu. (Risos).

O que nós queremos é precisamente que os homens soviéticos e antes de tudo


vós, os jovens que estudais — sejam tão ágeis e resistentes como foi Suvórov. E o
menor progresso nesse sentido deve ser considerado como um grande êxito do
Estado soviético. Recomendo que leais “Combates na Finlândia”. É uma obra muito
longa, em dois volumes. Quando me aconselhei com um dos meus conhecidos
sobre se devia recomendar-vos essa leitura, ele me disse que não o fizesse pois é
demasiado volumosa e de qualquer forma não a leríeis até ao fim. Levai em conta
que se trata do conselho de um professor e que, portanto, deve conhecer-vos um
pouco. Em lugar dessa obra ele me propôs que vos recomendasse outras
dedicadas aos combatentes na Finlândia, por serem de menor volume. Mas, apesar
de tudo, decidi recomendar-vos precisamente essa obra em dois volumes. É tão
interessante e instrutiva que tenho plena certeza de que, uma vez começada, a
lereis até o fim.

Qual é o interesse desse livro? Não achareis nele um resumo geral da guerra,
mas através de toda a obra, como um “leitmotiv”, se destaca a ideia de que a
guerra moderna requer excelente conhecimento da arte militar, um domínio
perfeito do material bélico moderno, uma extraordinária tensão das fôrças físicas,

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11/09/2019 Discurso na Reunião de Alunos da Oitava, Nona e Décima Classes das Escolas Intermediárias do Distrito

exige um trabalho colossal, resistência e mais resistência, uma excepcional


agilidade, iniciativa e a capacidade de orientar-se nas mais complicadas situações
do combate. Hoje em dia, não se pode combater sem essas qualidades. E vós
deveis preparar-vos intensamente para cumprir o mais importante e sagrado de
vossos deveres, o de patriotas soviéticos. E para isso, em primeiro lugar, tendes
que curtir-vos, tendes que ser resistentes, sãos e ágeis.

Mas a educação física vos é necessária também para a vida prática. Pois, como
pode ser feliz um homem que padece de úlcera no estômago? (Risos). Em
compensação, um homem são, em quem tudo funcione normalmente — que não
tenha falta de apetite, não sofra de insônia, etc. — suportará melhor todas as
adversidades da vida. Assim, pois, para serdes pessoas sãs, para poder gozar mais
a vida, deveis praticar os exercícios físicos.

Tenho a impressão de que em nossas escolas, por assim dizer, intelectualizam


demasiado o pessoal. E não no sentido intelectual, mas no sentido de que se mima
de mais os meninos sem que se os habitue a apreciar o trabalho físico. Não posso
precisar de quem é a culpa, mas o fato é esses. Pelo visto, aqui se fazem sentir
em certa medida as sobrevivências da antiga atitude com o trabalho físico. E
talvez a culpa principal nesse caso seja da família; mas a escola não se opõe como
deveria a esta influência, não incute nos meninos na medida necessária uma
atitude comunista para com o trabalho físico. Por isso muitos meninos entregam-
se ao trabalho físico de má vontade, considerando-o como algo de vergonhoso e
humilhante. A meu juízo isso constitui um profundo erro. Nós honramos qualquer
tipo de trabalho. Não existem para nós trabalhos de categoria inferior ou superior.
Para nós é igualmente uma questão de honra, de glória, de valor e heroísmo o
trabalho do pedreiro, como o do sábio, do porteiro, do engenheiro, do carpinteiro,
do artista, da tratadora de porcos, da atriz, do tratorista, do agrônomo, do
empregado no comércio, do médico, etc.

Todo jovem soviético deve apreciar o trabalho físico e não deve recusar os
trabalhos mais simples. Os que se habituarem ao trabalho físico conhecerão
melhor a vida; se vós mesmos souberdes fazer pelos menos as coisas mais
indispensáveis — lavar e remendar a roupa, preparar a comida, manter a casa
limpa, etc. — se souberdes pelo menos algum ofício, podeis estar certos de que
nunca vos vereis perdidos.

Em certa ocasião tive a oportunidade de ler as cartas pedagógicas do filósofo


inglês John Locke, que viveu há mais de 250 anos. Dirigindo-se às classes
dominantes da Inglaterra, Locke lhes disse: não habitueis vossos filhos a dormir
em leitos macios, pois quando se viaja não é possível carregar uma cama macia, e
na guerra, com mais forte razão, não haverá ocasião de pensar nisso; se um
jovem gentleman se acostumar a dormir em cama dura, não haverá necessidade
de habituá-lo a dormir em leito macio, pois a isso se acostumará rapidamente.
Além disso, John Locke recomenda aos pais que eduquem seus filhos de forma que
estes aprendam obrigatoriamente vários ofícios, e um deles a fundo. Isso sempre
lhes servirá e até pode ser de utilidade aos homens de grande erudição para
quando queiram repousar de um intenso trabalho intelectual. E com mais forte
razão, no caso de o destino preparar-lhes uma armadilha.

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Como vedes, na época em que o poderio da Inglaterra estava em ascensão, os


ideólogos das classes exploradoras lhes aconselhavam que educassem seus filhos
de modo que soubessem apreciar o trabalho físico, que não evitassem os trabalhos
simples e que se preparassem para todas as circunstâncias da vida. E tudo isso se
fazia com o fim de consolidar ainda miais o domínio dos exploradores.

Mas se os filhos dos capitalistas e latifundiários ingleses davam atenção a


estes conselhos de estimar o trabalho físico, não desdenhavam os trabalhos
simples e tratavam de curtir-se para que lhes fosse mais fácil suportar qualquer
prova na vida, com maior motivo a juventude soviética deve compreender tudo
isto. Onde e como podeis participar no trabalho físico? Habituai-vos antes de tudo
a praticá-lo em casa. Depois deveis desenvolver por todos os meios vossa
resistência e agilidade.

Com frequência costumamos perguntar: como há de ser o futuro homem


comunista? Eu desejo que o homem soviético seja um homem são, vigoroso,
resistente e intransigente com os inimigos de nossa Pátria, que saiba combater
com perfeição em defesa de seu povo e pelo triunfo definitivo do comunismo. E
não posso admitir a ideia de que nossa juventude, em seu conjunto, não tenha às
vezes vontade de brigar. isso não seria natural. Está ou não está certo? (Vozes:
“está certo, está certo”). É claro que há diferentes espécies de pessoas, mas eu
me refiro à juventude em seu conjunto. Por conseguinte, deveis educar-vos de tal
maneira que sejais pessoas vigorosas, ágeis, resistentes e capazes de suportar
qualquer prova e vencer qualquer dificuldade.

E agora, julgai vós mesmos; para que podem servir uns tipos como esses de
que fala a “Pravda” numa nota publicada sob o título de “Jovens poltrões”? O
correspondente do jornal relata sua conversação com Vítor N., jovem de 18 anos
do kolkhoz “OGPU”. Vítor, filho de um kolkhoziano, terminou há dois anos a sétima
classe. Agora está em casa sem fazer nada, ou como diz ele, “acumulando forças”.
À minha pergunta por que não trabalhava no kolkhoz o jovem torceu o nariz e
disse:

"Não terminei a sétima classe para meter-me a trabalhar num kolkhoz.


Isto é para Andriúcha, o coxo; eu encontrarei um trabalho mais limpo,
posso colocar-me em algum escritório!..."

Quando li essa nota cheguei à conclusão de que Vítor N., além de outras
coisas, é um analfabeto, pois que se depois de terminar a escola passou dois anos
sem fazer nada, tudo parece indicar que também na escola estudou de qualquer
maneira, que se arrastou com dificuldade de classe em classe e por conseguinte
mal deve saber ler e escrever. E em vista disso devemos supor que não serve para
trabalhar num escritório. Acaso não precisamos agora de pessoas cultas em
nossos kolkhozes? Acaso se pode agora prescindir dos conhecimentos científicos
na agricultura? Está claro que não podemos estar de acordo com uma “filosofia”
dessas. É uma filosofia prejudicial, contra a qual temos de lutar resolutamente.
Devemo-nos empenhar para que de nossas escolas não saia gente desse tipo. O
povo soviético não pode tolerar os poltrões. Pois, que história é essa? Fizemos a
Revolução para acabar com os preguiçosos e vivedores e aqui topamos com a

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aparição de novos preguiçosos e vivedores. Não, isto é intolerável e a escola tem


no fato certa responsabilidade.

Camaradas, quando eu vos falava do russo, da matemática e da educação


física, não era minha intenção rebaixar a importância de outras disciplinas do
ensino escolar. Portanto, isto não significa que podeis abandonar as demais
matérias. Detive-me nessas três disciplinas porque considero que são a base que
vos facilitará a assimilação das demais e vos abrirá as portas da grande vida.
Estou certo de que se vos aplicardes nessas três matérias fundamentais, tereis
garantido um êxito completo em todas as outras matérias do programa escolar,
pois é muito estreita a relação que existe entre umas e outras.

Camaradas, se considerarmos o sentido fundamental de quanto eu queria


dizer-vos, veremos que não representa algo de novo. Minha intenção não era mais
do que recordar e em parte ilustrar uma conhecida indicação do camarada Stálin.
Em certa ocasião, dirigindo-se à juventude, o camarada Stálin disse:

“Para construir é preciso saber, é preciso dominar a ciência. E para saber


é preciso estudar, estudar de um modo tenaz e paciente.”

Talvez a ilustração que escolhi para esta indicação do camarada Stálin não
seja muito feliz e por isso é possível que pessoas mais entendidas em questões
pedagógicas ponham em discussão a oportunidade de tal ilustração.

Para concluir, permiti-me que vos diga que nos diferentes períodos da história
apresentam-se diferentes tarefas de caráter progressista, pelas quais lutam as
melhores fôrças do povo. Assim, por exemplo, entre os anos 40 e 60 do século
passado a tarefa progressista fundamental foi a de emancipar os camponeses da
servidão feudal. E sabemos que todos os homens honrados e progressistas da
época lutavam direta ou indiretamente por conseguir esses objetivo.

Nos fins do século passado e princípio do século atual, uma nova tarefa
progressista se apresentou na ordem do dia: derrubar o tzarismo e o poder do
capital, levar a cabo a revolução proletária e transformar a sociedade à base dos
princípios socialistas.

Na atualidade, a tarefa mais progressista é a consolidação do socialismo e a


edificação do comunismo. O caráter progressista desse objetivo é evidente não só
para os homens soviéticos, mas também para os trabalhadores de todo o mundo.
Para conseguir esses objetivo, é preciso, antes de tudo, fortalecer por todos os
meios a potência econômica e militar do País dos Soviets. Por isso eu quisera que
nossa juventude se compenetrasse desse grandioso objetivo e o convertesse em
meta de sua existência, pois somente assim é que vossa vida se encherá de um
profundo conteúdo ideológico.

O marxismo-leninismo é a arma que nos serve para a luta pelo comunismo e a


realização de todos os ideais comunistas. Essa doutrina e seu método constituem
um poderoso recurso , tanto no trabalho prático como na atividade científica. Os
que aspirarem a uma vida grande e luminosa devem conhecer a fundo o

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marxismo-leninismo. E uma vida como essa não pode deixar de atrair nossa
juventude.

O camarada Stálin dizia:

“A juventude é nosso porvir, nossa esperança, camaradas. A juventude é


que há de substituir-nos a nós, os velhos. É ela que há de levar nossa
bandeira até o triunfo final... É certo que os jovens não possuem os
conhecimentos necessários. Mas os conhecimentos se adquirem. Hoje
não os têm, mas amanhã os terão. Por isso a tarefa se baseia em
aprender, aprender constantemente o leninismo.”

Camaradas, agora vos encontrais no período de vosso vir a ser. Não sei se
compreendereis esta expressão demasiado filosófica. Expressar-me-ei com outras
palavras: estais no período de vosso desenvolvimento, em que deixais de ser
jovens, nos quais predominam a fantasia, a fogosidade e o valor temerário, e vos
converteis em homens maduros. Mas ainda não sois homens maduros e ainda não
fizestes a escolha definitiva da senda que ides trilhar na vida. Não fazeis mais do
que sondar o caminho. Há 50 anos, era mais fácil para nós tomar uma
determinação, pois não tínhamos diante de nós mais do que uma estreita senda. E
se naquela época alguém tropeçava, infalivelmente rodava para o pântano da vida
mesquinha. Em compensação, infinitos caminhos práticos se abrem diante de vós.
esses caminhos são os que escolheis agora. Com o tempo sereis marinheiros,
ferroviários, artilheiros, tanquistas, aviadores, engenheiros, ajustadores, torneiros,
operários da construção, homens de ciência, artistas, médicos; trabalhadores dos
diferentes ramos do trabalho físico e do trabalho intelectual.

Pois bem, eu quisera que no período de vosso vir a ser, assim como nós, há 50
anos, vos sentísseis dominados pelo afã de entregar-vos a um|a atividade social
consciente, que convertêsseis em objetivo de vossa vida a tarefa de servir ao
grande povo soviético e coroar a obra de Lênin e Stálin. Se conseguirdes que esses
afã se arraigue em vós e que tudo o mais se subordine a ele, não duvido,
camaradas, de que tereis assegurada a felicidade e a alegria de viver. (Atroadores
aplausos. Todos se põem de pé.)

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Inclusão 05/11/2012

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Tudo para Derrotrar o Inimigo


Discurso pronunciado na Reunião do Ativo do Komsomol da
Cidade de Kuibichev

M. I. Kalinin

12 de Novembro de 1941

Primeira Edição: “Komsomólskaia Pravda”, (“A Pravda do Konsomol’’) 21 de novembro de 1941.


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 130-138.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Camaradas: A União Soviética sofreu no passado muitas


vicissitudes. E provas muito duras, que exigiram grandes
esforços e custaram muitos sacrifícios, couberam por sorte à
velha geração. A vida da velha geração foi rica em façanhas.
Mas, em benefício de que se realizavam essas façanhas? Elas
se realizavam para o futuro, para vós. Eu alentava a
esperança de que a atual geração de jovens do Komsomol,
que são os filhos prediletos do povo, crescesse numa situação
de relativa tranquilidade, assimilando conhecimentos e
experiência.

Mas, como vedes, couberam por sorte à vossa geração provas não menos
duras e talvez ainda mais cruéis. A guerra parece acelerar de golpe a maturação
da juventude. Num prazo brevíssimo, nossos komsomóis, que vivem ainda as
alegrias da idade, que se entregam a sonhos agradáveis sobre o futuro e a bem-
amada, que se embelezam com todas as maravilhas da vida, esses jovens do
Komsomol se transformam em homens maduros e compreendem que a guerra pôs
fim a tudo aquilo, sentem que foi cortado esses período de sua vida, o melhor de
todos os períodos da vida do homem.

Citar-vos-ei um caso dos mais comuns. O jornal “Krásnaia Zviezdá”(1) publica


as notas de seu repórter gráfico Loskutov. Nelas se relata como um grupo de
trabalhadores soviéticos, entre os quais se encontravam o autor e um cinegrafista,
passou à retaguarda alemã para chegar a um acampamento de guerrilheiros.

“Acompanha-nos um guia — diz o correspondente — que se converteu


no chefe do grupo. Nosso chefe é jovem, tem apenas 20 anos, mas já
passou por muitas provas e já viu muitas coisas. É um Komsomol
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valente, tenaz e logo nos afeiçoamos a ele. Chama-se Serguéi Záitzev,


mas nós o chamamos 'Záitchik'”.(2)

Sim, é provável que cinco meses antes fosse na realidade um “filhote de


lebre”, mas agora é o chefe de um grupo e está formado pela experiência da luta.
Atentai bem: um jovem de 20 anos, que conduz um grupo pela retaguarda alemã,
ao longo de cinquenta quilômetros. Há cinco meses era um jovem comum e vulgar
que não imaginava fosse ser guerrilheiro e guia na retaguarda alemã. As ideias
que mais ocupavam seu pensamento eram provavelmente as de passear, dançar,
cortejar as moças, pois esses são os desejos mais naturais dos jovens de suá
idade. Mas em cinco meses converteu-se num combatente, num vingador do povo.
Conserva o valor ilimitado e o afã de lutar de sua juventude, mas já é um
combatente experiente, ensinado pela vida, a quem homens maduros confiam sua
sorte nos momentos de maior responsabilidade.

Já vedes com que rapidez, em nossos dias, os jovens se convertem em


guerreiros, se fazem homens. Eram precisos anos para isso, em tempos de paz.
Para os membros do Komsomol que estão na frente, a juventude já passou, eles
se converteram em guerreiros. Muitos de vós tendes irmãos que estiveram na
frente e regressaram ao lar em licença ou então que encontraste por outro motivo.
Acaso não dizeis então: “Como mudaste! Quando partiste eras um menino e voltas
homem feito”.

Mas essas modificações são exteriores. Nos homens produzem-se também


profundas modificações interiores. É indubitável que os membros do Komsomol em
seu conjunto estão passando agora por um período de ardor guerreiro. Muitos
deles já se encontram na frente, ou se não estão na frente trabalham na produção,
que é a própria frente. Assim, por exemplo, os membros moscovitas do Komsomol
que trabalham na produção sofrem com frequência os ataques da aviação inimiga.
E se requer muita firmeza para trabalhar nesses momentos com pleno domínio de
si mesmo e com o máximo rendimento.

Para os leningradenses a frente está ainda mais perto. Os membros do


Komsomol de Leningrado estão em plena frente, quer trabalhem nas fábricas, quer
defendam sua cidade de armas na mão. E ambos — o jovem proletário de Moscou
e o jovem proletário de Leningrado — se fizeram homens, se transformaram em
combatentes.

Naturalmente, este mesmo processo também tem lugar na retaguarda,


embora talvez se desenvolva num ritmo mais lento.

Atualmente, parte do Governo encontra-se em Kúibichev. Isto implica numa


determinada responsabilidade para os trabalhadores de Kúibichev e para o
Komsomol da cidade. Há um ano, há cinco meses, Kúibichev era uma das grandes
cidades da URSS, mas apesar de tudo não era mais do que uma entre tantas
grandes cidades. Em Svérdlovsk, Tchkálov, Novossibirsk e outras cidades não se
prestava particular atenção aos habitantes de Kúibichev, pois também elas eram
centros regionais. Mas agora aqui se encontra o Comitê Central da União das
Juventudes Comunistas Leninistas da URSS. Para cá acorrem os membros do

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Komsomol de outras regiões. E, naturalmente reparam em vós, em vosso trabalho


e se interessam por saber como marcham as coisas em Kúibichev. Têm esperanças
de ver algo, de aprender algo.

Qual é a tarefa fundamental que se apresenta agora ao Komsomol? Parece-me


ser muito clara: participar da guerra. A guerra é o fato mais fundamental e
decisivo da vida atual. Hoje em dia não existe tarefa mais importante que a de
derrotar o inimigo. Todas as demais tarefas não são mais do que auxiliares para a
conquista deste objetivo fundamental: vencer o inimigo.

Pode-se participar da guerra de modo direto e também trabalhando na


indústria, em toda a espécie de instituições militares e da retaguarda. Mas
provavelmente a maioria dentre vós — se não for hoje, será amanhã ou depois de
amanhã — participará diretamente da guerra. E esta guerra é cruel, o inimigo que
temos de enfrentar é de tal natureza que somente poderemos acabar com ele
pondo em grande tensão nossas fôrças.

Por isso, levanta-se ante a organização do Komsomol a tarefa de preparar os


jovens do Komsomol para a guerra, para uma participação eficaz nela. Creio que,
do ponto de vista político, cada um de vós compreende perfeitamente que nossa
guerra é uma guerra justa e se dá perfeita conta disso. Mas cada um de vós deve
preparar-se moralmente para a guerra. É preciso habituar-se de antemão às
condições da frente.

Deveis compreender que a guerra não é um brinquedo, mas uma prova muito
dura. Não é casual o fato de que na guerra, o jovem imberbe se converta
rapidamente num homem maduro, num lutador. Na guerra, o homem passa num
mês ou em alguns meses pelo que não passa nem em dez anos de vida pacífica, e
num só combate talvez receba mais impressões do que em meia existência. E para
isso é preciso estar preparado. A organização do Komsomol e cada membro do
Komsomol devem preparar-se e devem preparar toda a juventude para participar
da guerra; deveis preparar-vos moralmente para que todas as crueldades da
guerra e todas as perfídias do inimigo não possam quebrantar-vos.

Que quer dizer preparar-se para a guerra? Deveis fazer a preparação para a
guerra de forma concreta. Na guerra moderna aplica-se uma enorme quantidade
de recursos técnicos da mais diversa natureza. Não só deveis aprender a utilizá-los
para derrotar o inimigo, mas também saber preservar-vos para poder continuar
combatendo.

O camarada Vorochilov, em certa ocasião quando se despedia de umas


divisões que marchavam para a linha da frente, disse dirigindo-se aos soldados:
“Aprendei a entrincheirar-vos rapidamente.” É isto o que um marechal da União
Soviética dizia a soldados com vários anos de serviço, que conheciam o manejo
das armas, porem que ainda não tinham estado na frente: não poupeis esforços
para cavar trincheiras, trabalhai com a pá; a pá é a salvadora do combatente
durante a guerra; aprendei a entrincheirar-vos rapidamente.

Creio que se um marechal da União Soviética dá esses conselho a uma divisão


de veteranos que é enviada à frente, com mais forte razão, ele se aplica a vós,
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membros do Komsomol: aprendei a manejar a pá. É. preciso conseguir que, como


futuros combatentes, cada um de vós seja capaz de cavar numa hora uma
trincheira que lhe chegue até o peito, e em duas horas uma trincheira que lhe
cubra a cabeça. Portanto, uma das tarefas concretas é a de aprender a
entrincheirar-se. Se eu fosse o secretário de vossa organização local do
Komsomol, obrigar-vos-ia a dedicar diariamente uma ou duas horas a cavar a
terra gelada e veria com que rapidez havíeis de dominar a arte de entrincheirar-se
(Risos.) É claro que no íntimo muitos de vós desejaríeis livrar-vos de mim por isso
e consideraríeis essa medida como uma arbitrariedade, como uma inútil perda de
tempo (Risos). E os que não chegassem a ir para a frente continuariam agarrados
a essa ideia, mas em compensação, os que seguissem para a linha de frente me
agradeceriam: “Que bom que me tenham ensinado isto com antecedência; cavar
uma trincheira é agora para mim um brinquedo de criança”.

Não me recordo exatamente, mas parece que foi Napoleão quem disse que
cada um de seus soldados levava na mochila o bastão de marechal. Isso era no
exército de Napoleão. Mas na União Soviética não existem castas especiais que
gozem de privilégios nas promoções, na concessão das patentes militares.

Em nosso país isso se realiza unicamente de acordo com as qualidades


pessoais de cada um. Provavelmente muitos de vós sereis chefes militares ou
quadros políticos do Exército. Creio que muitos de vós chegareis a ser chefes de
grandes unidades militares e talvez até marechais. É possível que dentre vós não
saia nem um só marechal? (Risos). Julgo que sim, que pode sair. Portanto,
camaradas, deveis aprender a fundo o exercício das armas e a teoria militar. Não
importa que a princípio tenhais que servir como soldados rasos. Será melhor se
começardes com uma preparação teórica, pois isso vos será útil para o futuro.
Quando eu era jovem também tinha minhas ilusões: sonhava com que talvez
chegasse a ser deputado de um Parlamento operário. E sonhava com isso apesar
de saber que antes teria que passar pela cadeia. (Risos.) Entre os 15 e 18 anos os
sonhos sempre se antecipam à realidade. E isso não é mau. Portanto, deveis
preparar-vos para ocupar postos de comando no exército. E isso quer dizer que,
desde agora, deveis estudar todos os aspectos do exercício das armas. Atualmente
isso é o principal para nós.

Nesta reunião do ativo um dos secretários de distrito do Komsomol se


queixava de que muitos dos membros de sua organização não fazem a instrução
militar. Eu não compreendo isto. Mas, isto sim, por uma coisas dessas pode-se
aplicar o código ao próprio secretário da organização! (Risos.) A instrução militar é
um dever para com o Estado e não um exercício voluntário. Como pode alguém
negar-se a ela? Se eu fosse secretário duma organização distrital do Komsomol,
asseguro-vos que todos os seus membros fariam a instrução militar.

Os presidentes dos Soviets rurais ou os presidentes dos kolkhozes às vezes


têm que obrigar os kolkhozianos a consertar as estradas era mau estado. Quando
as pessoas trabalham na reparação da estrada maldizem os presidentes, mas
quando terminam de fazê-lo, ao passar por ela só lhes fazem elogios: “Que bom
que tenhamos feito a estrada; andaram bem em obrigar-nos a fazê-la”. (Risos.) É
preciso que também no Komsomol se obrigue as pessoas a fazer o que é

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11/09/2019 Tudo para Derrotrar o Inimigo

necessário. Pois, que pensais disso? Hoje é um que não comparece à instrução
militar, amanhã será outro; mas então que acontecerá se os membros do
Komsomol se põem a pensar se devem ou não comparecer à instrução militar?
Não, não é essa a atitude que se deve adotar ante os deveres para com o Estado e
aqui nem cabe falar de que tal ou qual pessoa queira ou não queira cumpri-los.

Outra questão é a de que o Komsomol seja a fôrça principal na instrução


militar da juventude. Aqui se exige mais. É preciso que os membros do Komsomol
aprendam bem o manejo das armas e sirvam de exemplo aos que não são do
Komsomol; é preciso que a juventude passe à frente das pessoas adultas que
aprendem o manejo das armas. Naturalmente, isto é mais difícil, mas eu o julgo
perfeitamente realizável. Pois vós, do Komsomol, tendes uma disciplina, a
disciplina do Komsomol; só vos resta saber aproveitá-la como é devido.

Também é muito importante que estejais preparados para a guerra no aspecto


físico. Em nosso país a juventude não vivia mal; até que a mimávamos um pouco.
Não me arrependo nada disso. Mas agora chegou o momento em que se exige das
pessoas algo mais que uma moral elevada e resistência física. Acho que o
Komsomol deve acostumar o pessoal a provas de resistência física. A natureza que
cerca Kúibichev nos dá a possibilidade de fazê-lo. Num tempo como o de hoje
pode-se curtir as pessoas muito bem. Poder-se-ia, por exemplo, sair no sábado e
realizar uma marcha até domingo à tarde, levando um par de fatias de pão seco
ou mesmo uma fatia só por pessoa. Esse seria um verdadeiro treinamento.

Temos que vencer e venceremos. Mas a vitória não nos cairá do céu. É preciso
conquistar a vitória, combatendo, e de que maneira! Deveis curtir-vos agora,
enquanto ainda não estais na frente. Talvez agora isto não vos seja de todo
agradável, mas em compensação quando chegardes à linha de frente o
agradecereis. Naturalmente que ainda se poderia dizer muitas^ coisas acerca da
preparação militar. Mas só quero indicar-vos as linhas gerais que essa instrução
deve seguir. Tendes que chegar a dominar o manejo das armas. Vossa condição
de membros do Komsomol vos obriga a isto. Se não o fizésseis não poderíeis
chamar-vos membros do Komsomol. A maioria de nossos combatentes é de
homens sem partido, mas quantos exemplos de abnegado heroísmo estão dando
na defesa de nosso país!

Agora, algumas palavras sobre a produção. Vós mesmos sabeis que não se
pode combater sem a produção. Na região de Kúibichev existem muitas fábricas
de importância. Sabeis disso sem necessidade de que eu o diga. Também na
produção os membros do Komsomol devem ser a fôrça dirigente. Deveis dedicar
agora todas as vossas forças ao trabalho, deveis pôr em tensão todas as vossas
capacidades.

Ouvi com prazer a intervenção do camarada da escola profissional. Agradou-


me que se tivesse detido nos aspectos negativos do funcionamento de sua escola,
que não se gabasse, que tivesse posto em evidência os defeitos para corrigi-los.

Assim, camaradas do Komsomol que trabalhais na produção, deveis dominar


vosso trabalho com perfeição e no mais curto prazo, pois tendes que conseguir
bons resultados em vosso trabalho.
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11/09/2019 Tudo para Derrotrar o Inimigo

Devemos elevar ao máximo a produtividade do trabalho, tendo bem presente


que cada novo projétil é um reforço para nossos combatentes, para nossos
camaradas do Komsomol que estão na frente. Por isso não poupeis vosso trabalho,
produzi mais material de guerra e que seja material da melhor qualidade.

Camaradas: todos somos patriotas. Mas entre nós há alguns que poderíamos
chamar de tipos contemplativos. Porém agora não é possível a gente limitar-se
somente às emoções passivas, por exemplo, alguns ouvem os boletins do Bureau
de Informação e se lamentam: “Ai, recuamos; ai, abandonamos uma cidade!”.
Ouviram o boletim, lamentaram-se mas não movem um dedo para ajudar a frente.
Esse patriotismo não valo nada. Não, melhor é não ficar nervoso e fazer tudo o
que se possa para ajudar a frente, para esmagar o fascismo.

Essas são as tarefas que no momento presente competem ao Komsomol.


Deveis fazer tudo o que possais e ainda mais para conseguir a vitória.

E vossas obras se unirão às palavras do camarada Stálin:

É preciso esmagar a potência militar dos invasores alemães é preciso


aniquilar, até que não sobre um, todos os ocupantes alemães que
invadirarn nossa pátria para escravizá-la”

Eu convido a organização do Komsomol da cidade de Kúibichev a cumprir


precisamente esta tarefa. (Atroadores aplausos).

Início da página

Notas de rodapé:

(1) “A Estrela Vermelha”. (retornar ao texto)

(2) “Zaitchik”, filhote de lebre. Jogo de palavras. O sobrenome russo vem de “Záiatz”: lebre.
(retornar ao texto)
Inclusão 08/11/2012

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11/09/2019 Discurso na Conferência dos Secretários das Organizações Rurais do Komsomol da Região de Moscou
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Discurso na Conferência dos


Secretários das Organizações
Rurais do Komsomol da Região de
Moscou
M. I. Kalinin

26 de Fevereiro de 1942

Primeira Edição: “Komsomólskaia Pravda’’, “A Pravda do Komsomol”), 3 de março de 1942.


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág:139-145.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Camaradas! Vossa conferência tem um objetivo concreto:


ver a melhor maneira de preparar-se para os trabalhos
agrícolas da primavera, de realizar a semeadura da
primavera. Em relação a isto apresentam-se tarefas muito
importantes aos membros do Komsomol. Na aldeia os
komsomóis constituem uma grande fôrça. Se se organizar
essa fôrça, se a organização do Komsomol no kolkhoz
conseguir encabeçar não só a juventude, mas também os
kolkhozianos adultos, conseguirá êxitos indiscutíveis na
semeadura da primavera.

É claro que não é só o Komsomol quem vai se ocupar da preparação e da


realização das semeaduras de primavera. Também se ocuparão disto as
organizações do Partido e dos Soviets. Mas como atribuímos uma grande
importância à boa realização das semeaduras, queremos que se mobilizem todas
as organizações sociais, incluindo o Komsomol.

... Estamos em época de guerra. Não creio estar enganado ao dizer que no
campo todos desejam a derrota dos alemães.

Mas limitar-se a querê-lo é pouco, é o mesmo que não fazer nada. Se se


quiser que os alemães sejam derrotados, é preciso aniquilá-los com fatos e não
com palavras. E se nos referimos à região de Moscou, devemos dizer sem rodeios

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11/09/2019 Discurso na Conferência dos Secretários das Organizações Rurais do Komsomol da Região de Moscou

que quem quiser participar da vitória sobre os invasores fascistas alemães tem que
semear a maior quantidade possível de batatas.

É claro que pode acontecer que uma camponesa vos pergunte: Mas como vou
aniquilar os alemães com batatas?” É possível haver quem pense assim. Pois bem,
vós, os moços do Komsomol, deveis explicar aos kolkhozianos que o enorme
Exército Vermelho — que luta contra os invasores alemães e avança com exito
para o Oeste — deve ser bem alimentado e abastecido de todo o necessário. Vós
mesmos compreendeis que o homem que está no exercito sofre muitas privações
e adversidades. O combatente passa os dias e as noites sob a gélida intempérie,
metido nas trincheiras. Para que tenha fôrças e energias, para que tenha sempre
vontade de lutar, para que tenha bom moral, é preciso proporcionar-lhe comida
nutritiva e saborosa. Se fosseis mantidos dois ou três dias sem comer e em
seguida se organizasse uma corrida ou vos propusessem uma partida de futebol,
diríeis todos: “Não posso correr” ou “que péssimo craque serei eu”. Por
conseguinte, devemos dar ao combatente comida nutritiva, boa e saborosa. Temos
que proporcionar em abundância os produtos necessários ao nosso exército.
Devemos proporcionar mais carne ao exército e à população. A batata é um bom
alimento para os porcos, e quanto mais porcos cevarmos, mais carne receberão o
exército e a população.

Este ano, quando nos encontramos em guerra, as semeaduras da primavera


devem realizar-se de modo exemplar e no prazo mais curto possível. Com uma
semeadura bem feita, devemos assentar a base de uma abundante colheita.

Por conseguinte, camaradas do Komsomol, deveis esmerar-vos para que as


semeaduras da primavera sejam bem feitas, e que, em primeiro lugar, seja
cumprido o plano e se aproveite ao máximo todo pedaço de terra livre. Essa é a
tarefa. Eu diria inclusive que essa tarefa deve converter-se em lei para todo
cidadão soviético. Essa é a primeira tarefa, camaradas. A segunda, é a de
conseguir a máxima colheita, a de obter da terra tudo o que ela é capaz de dar.
Por isso a qualidade dos trabalhos agrícolas da primavera deve assegurar o êxito
da colheita. E vós, camaradas do Komsomol, deveis fazer tudo o que esteja ao
vosso alcance para lançar as bases duma abundante colheita mediante a
realização exemplar da semeadura da primavera. Não vou falar aqui do que e
preciso fazer para isso. Vós sois kolkhozianos e o sabeis tão bem quanto eu.

Em resumo, tendes duas tarefas fundamentais. A primeira: semear o mais


possível; a segunda: assegurar uma abundante colheita. E isso, camaradas, será a
expressão de vosso serviço à Pátria, de vossa ajuda à frente, de vossa mais eficaz
participação na luta contra o fascismo.

Alguns camaradas disseram aqui que os jovens do Komsomol fazem muito


para a preparação das semeaduras da primavera, que procuram preparar bem os
kolkhozes para as fainas da primavera. Isto está muito bem. Tudo isso é digno de
louvor, mas eu acredito que alguns membros do Komsomol tratam de suprir as
funções dos presidentes dos kolkhozes.

Vós dizeis: faltava-nos isto e aquilo; saímos a procurar, conseguimos,


obtivemos o que faltava em troca de outras coisas. E que fazia o presidente do
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kolkhoz? Estava sentado, aquecendo- -se ao lado da estufa? É preciso que o


presidente trabalhe mais. Vossa missão é ajudar, pressionar, estimular, não deixar
as pessoas em paz, aguilhoá-las como se fosseis marimbondos, pois quando um
marimbondo crava seu aguilhão em alguém, este se move a toda a pressa.

Mas qual é o resultado? Vós fareis tudo e o presidente se deixará ficar


tranquilamente sentado, dizendo para si mesmo: os outros que façam por mim.

Lembrai-vos, camaradas do Komsomol, que existem dois modos de dirigir ou


de participar na organização, na agitação e na propaganda.

Um desses modos é o de fazer tudo sozinho. Há membros do Komsomol que


tudo fazem eles mesmos: dirigem a biblioteca do kolkhoz, convocam as reuniões,
pronunciam conferências, fazem a propaganda para atrair novos membros aos
kolkhozes e recolhem as contribuições. Numa palavra: uma só pessoa faz tudo e
está ocupada desde a manhã até a noite, enquanto outros do Komsomol, que
convivem com ela, não têm nenhuma incumbência. Isto costuma acontecer entre
nós, e o trabalho parece avançar um pouco; mas julgo, camaradas, que a fôrça do
organizador não só deve consistir em que ele mesmo trabalhe, mas em que faça
trabalhar os demais, em que os faça seguir seu exemplo. Se pudéssemos supor
que eu fosse um Komsomol (claro que isso já não pode ser) (Risos.) e chegasse a
um kolkhoz, de nenhum modo eu me poria a fazer tudo eu mesmo, mas procuraria
realizar todo o trabalho com a ajuda das pessoas do kolkhoz, para que cada um
tivesse uma missão, uma incumbência, numa palavra, para que todos
trabalhassem. E ainda mais, se eu observasse que um Komsomol somente
figurava de nome na organização, mas não realizava trabalho nenhum, trataria de
dar-lhe tarefas com mais frequência. “Tenha a bondade de fazer isto e aquilo” —
dir-lhe-ia. E comprovaria com frequência o que fez e como trabalhou.

Só assim é que podemos trabalhar com êxito. Tende presente, camaradas, que
quando são muitos os que trabalham, quando cada pessoa tem algo a fazer,
quando o trabalho geral do Komsomol se distribui entre todos os seus membros,
então, é claro que o trabalho marcha melhor. Pois dez pessoas realizarão mais e
melhor trabalho do que uma só.

A agrupação orgânica da juventude não pode realizar-se unicamente sobre


uma base ideológica. Os jovens nem sempre ingressam no Komsomol por suas
convicções ideológicas. É claro que no fundamental a juventude acorre ao
Komsomol por motivos ideológicos, compreendendo que essa organização é o
primeiro e mais próximo auxiliar do Partido; mas existem jovens que quando
ingressam no Komsomol têm ainda uma preparação ideológica débil e não veem
com clareza o conteúdo ideológico do trabalho do Komsomol. Pois bem, para que
estes novos membros do Komsomol também se convertam em pessoas de ideias e
convicções é preciso trabalhar muito com eles. É preciso que os jovens se
habituem ao Komsomol, que a organização do Komsomol se converta para eles
numa parte de sua existência, de sua vida diária. Para isso é que se torna
necessário que todos os dias façam alguma coisa. No trabalho prático o homem se
educa, se desenvolve, se fortalece como organizador, se eleva no terreno
ideológico. Esta é a razão pela qual cada jovem Komsomol deve dedicar-se a um

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11/09/2019 Discurso na Conferência dos Secretários das Organizações Rurais do Komsomol da Região de Moscou

trabalho prático, deve realizar constantemente algum trabalho pelo qual responda
perante a organização do Komsomol. Unicamente dentro do trabalho harmônico da
coletividade é que poderemos educar bons organizadores, bons trabalhadores.

Por que ocorre com frequência o seguinte fenômeno em nossos kolkhozes:


enquanto tem um bom presidente, o kolkhoz prospera; quando esses presidente
se vai e em seu lugar colocam um moleirão, depois de um ano o kolkhoz fica tão
ruim que não há quem o reconheça?

A única razão disto é que não se fez com que os kolkhozianos participassem
dos assuntos práticos.

Por isso, se vós, do Komsomol, quereis chegar a ser verdadeiros organizadores


no kolkhoz, além de prestar vossa ajuda aos trabalhos, deveis ser bons
organizadores, deveis acompanhar de perto o trabalho dos chefes de brigada, do
presidente, dos kolkhozianos, ajudá-los, estimular os stakhanovistas do trabalho
kolkhoziano, censurar e repreender os kolkhozianos negligentes. É preciso que os
jovens do Komsomol exerçam uma influência social no kolkhoz e que não se
comportem como administradores.

Compreendereis a diferença que existe entre a ação administrativa e a


influência social. Suponhamos que celebrais uma reunião aberta do Komsomol na
qual fustigais à vontade os que, digamos por exemplo, se dedicam a especular.
Isso teria uma significação social: teríeis coberto de vergonha um homem por
aproveitar-se das circunstâncias da guerra a fim de vender a batata no mercado
pelo triplo do preço, e assim tratareis de exercer sobre ele uma influência social. É
claro que existe outro método de influir sobre o especulador: é o método
administrativo; mas eu me refiro ao método social, que tem grande importância
para a educação do homem.

Atualmente, nos kolkhozes, no fundamental, trabalham mulheres. Vossa


missão, camaradas do Komsomol, é a de incorporar todas as mulheres ao trabalho
ativo da produção, despertar nelas elevados sentimentos patrióticos, contagiá-las
com vosso exemplo. Se conseguirdes cumprir esta missão, o trabalho de
organização do Komsomol e sua influência sobre as massas serão muito frutíferos.

Já concordamos em que neste ano realizaremos da melhor maneira as


semeaduras da primavera e assentaremos as bases para uma colheita abundante.
Mas se quereis cumprir esta tarefa com seriedade, deveis incorporar ao trabalho o
maior número possível de mulheres, deveis fazer as kolkhozianas compreenderem
que o abastecimento de nosso Exército Vermelho e da população dependem das
semeaduras da primavera.

Estou certo de que todas as nossas mulheres estão interessadas em que nosso
Exército Vermelho e nossa retaguarda sejam abastecidos da melhor maneira, tanto
em quantidade como em qualidade. Vós, do Komsomol, deveis organizar as coisas
de tal maneira que durante as semeaduras da primavera todas as kolkhozianas
acorram ao trabalho do campo. O trabalho dos membros do Komsomol deve ser
medido não só pelo que eles mesmos fazem, mas pela forma com que conseguem
encabeçar a juventude, todos os kolkhozianos, e, em particular, as mulheres.
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11/09/2019 Discurso na Conferência dos Secretários das Organizações Rurais do Komsomol da Região de Moscou

Devemos recordar que as mulheres são a fôrça fundamental no kolkhoz, e se


conseguirmos incorporar ao trabalho do campo todas as mulheres, se
conseguirmos inspirar-lhes elevados sentimentos patrióticos, muito será o que
essas mulheres poderão fazer.

Acredito que se o Komsomol lutar contra os preguiçosos com todo o ardor


juvenil, terá o apoio de todos os kolkhozianos e kolkhozianas. Não podemos tolerar
a vadiagem, sobretudo em tempo de guerra, quando se estão travando combates
encarniçados, quando cada dia centenas de homens morrem no campo de batalha
por nosso país, por nosso Estado soviético. Creio que contaremos com a simpatia e
o apoio de todo o povo se castigarmos severamente os preguiçosos e os parasitas.

Nos duros dias da guerra, quando nos campos de batalha se decide o destino
de nossa Pátria, nenhum homem honrado pode permanecer à margem da luta.
Imaginai uma pessoa que anda sorridente sem fazer nada e além disso não quer
fazer nada. Esse homem é um inimigo nosso. O Komsomol deve botá-lo no
pelourinho e desmascará-lo perante todo o povo. E sendo impossível corrigi-lo,
então é preciso que ele sinta o peso de nossa mão, com toda a sua dureza. Essa é
a linha de conduta que deveis seguir, camaradas do Komsomol!

O trabalho do Komsomol é muito grande e de muita responsabilidade. Mas,


camaradas, uma vez que nosso glorioso Exército Vermelho pode com um inimigo
poderosíssimo, com um inimigo como não há outro no mundo, uma vez que
nossos combatentes o estão fazendo correr para o Oeste e varrem da terra
soviética o lixo fascista, creio que vosso desejo será o de estar à altura de nossos
combatentes, dos soldados, oficiais e quadros políticos do Exército. Não tendes
porque assustar-vos da responsabilidade nem das dificuldades; deveis ser capazes
de cumprir a tarefa que se ergue diante de vós...

Início da página

Inclusão 11/11/2012

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11/09/2019 Algumas Questões do Trabalho de Massas do Partido
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Algumas Questões do Trabalho de


Massas do Partido
Discurso pronunciado na Conferência dos Dirigentes das
Organizações do Partido nas Empresas da Cidade de Moscou

M. I. Kalinin

21 de Abril de 1942

Primeira Edição: Revista “Partínoie Stroítelstvo”, (“A Construção do Partido”), nº 8, de 1942.


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 146-161.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Camaradas: Não pretendo fazer um informe de


orientação; apenas me limitarei a algumas questões
relacionadas com o trabalho de massas do Partido.

Muito ouvimos falar do trabalho de massas do Partido.


Todo o mundo fala disso; mas se nos aprofundarmos um
pouco veremos que são muitos os que carecem de uma ideia
clara, definida e concreta desta questão. Nas
complicadíssimas condições da guerra atual, sobretudo se
levarmos em conta que milhares de pessoas novas foram
conduzidas aos postos de direção das organizações do Partido, das empresas e
instituições, que essas pessoas se converteram em propagandistas e agitadores,
ergue-se ante nós a tarefa de aproveitar com habilidade a riquíssima experiência
de nosso Partido quanto à maneira de organizar e realizar o trabalho político entre
as massas.

Que quer dizer trabalho de massas do Partido? Que quer dizer ter contato com
as massas? É a isto precisamente que atribuímos especial importância em nosso
trabalho político.

Devo dizer que o contato com as massas pode ser dos mais diversos tipos.

Assim, por exemplo, pode consistir em ter um grande circulo de relações, em


visitas recíprocas; e, naturalmente, aproveitando a visita, pode-se conhecer algo
do que ocorre na fábrica, entre os operários ou na administração. Também essa é
uma forma de ligar-se às pessoas.

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11/09/2019 Algumas Questões do Trabalho de Massas do Partido

Existe o compadrismo no trato com os operários. Suponhamos um organizador


do Partido ou do sindicato que anda pelas fábricas dando palmadinhas nas costas
dos operários e até chamando-os pelo nome, porém que em compensação não se
ocupa do trabalho nem chama a atenção dos operários para os defeitos do mesmo.
Às vezes ouvimos as pessoas dizerem, referindo-se a um desses secretários de
comitê do Partido ou a um desses organizadores do Partido: “Esse é dos nossos,
esses sim sabe estar junto às massas. É de ver-se como dá palmadinhas nas
costas dos operários e até os chama pelo nome!”.

Arrastar-se a reboque das massas é também uma forma de “contato” com as


massas. Se alguém vem queixar-se disto ou daquilo, segue-se a corrente,
acompanha-se a jeremiada e quando esses alguém choraminga, faz-se coro: “Sim,
não há luz, faz frio, em realidade os produtos não são abundantes”. No caso de
ocorrer algum contratempo na fábrica ou na administração, faz-se coro com os
descontentes: “Maldito seja. Que burocratas, em que bela encrenca nos meteram!”
E o pessoal dá ouvido a isso, que, de modo geral, pode até agradar-lhes.

Mas, acaso nós, os bolcheviques, nos referimos a esse tipo de ligação com as
massas? É claro que não. Seguir as massas para onde elas vão, arrastadas muitas
vezes por elementos retrógrados, é uma linha menchevique. Nossa linha
bolchevique consiste em conduzir as massas, não de modo tutelar, mas fazendo
com que marchem atrás da vanguarda consciente.

E que se deve fazer para conduzir as massas?

Antes de responder a esta pergunta, farei outra: Quem pode conduzir as


massas? Os comunistas são chamados a fazê-lo. O Partido Comunista é quem
conduz as massas e não o faz mal. Para demonstrá-lo poderíamos citar uma
infinidade de exemplos. A guerra é o primeiro deles, Apesar dos reveses sofridos
nos primeiros meses da guerra, reveses provocados principalmente pela surpresa
e o inesperado do ataque, podemos dizer com segurança que a confiança do povo
em seu Governo, e por conseguinte, no Partido, não vacilou um só instante. Isto é
um fato.

Vós que estais aqui reunidos sois dirigentes do Partido. Queirais ou não, em
vossos locais de trabalho, sois os guias das massas. Não pode ser de outra
maneira, pois que secretário de comitê de Partido é esses em que o povo não vê
um dirigente político? O secretário de comitê do Partido é uma das pessoas de
mais responsabilidade na empresa, na instituição ou no distrito.

Porém que condições deve reunir um secretário de organização do Partido para


ter verdadeira influência sobre as massas, para que as massas o ouçam e tenham
confiança nele? É lógico que o dirigente do Partido, o propagandista ou o agitador,
deve ser pessoa de ideias, profundamente fiel ao Partido Comunista, deve
conhecer, embora somente a largos traços, a história de nosso Partido e
compreender as tarefas que o Partido levanta ante a classe operária, ante o povo.
O nível político do dirigente do Partido, do propagandista, não deve ser inferior,
em qualquer caso, ao dos demais. Tampouco lhe faria mal certa cultura geral.

Qual deve ser pois a atitude do dirigente do Partido perante as massas?


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11/09/2019 Algumas Questões do Trabalho de Massas do Partido

Primeiro. Baseando-me nos muitos anos de prática que tenho, entendo ser
necessário que o dirigente do Partido não seja uma pessoa arrogante nem vaidosa.
Se em vossas conversações com os operários ou com os militantes de base dais a
entender, mesmo que seja só por um gesto, pela entonação, através de uma frase
sem importância e aparentemente casual, que vos considerais mais inteligentes
que eles, que sabeis mais que eles, neste caso estais perdidos. Os operários, e em
geral qualquer pessoa simples, não estimam os vaidosos, não fazem caso deles e,
no momento oportuno, fá-lo-ão sentir com bastante dureza. Por isso, sobretudo os
comunistas não devem ser arrogantes nem vaidosos, nem devem esquecer as
palavras pronunciadas pelo camarada Stálin na Conferência dos stakhanovistas
celebrada em novembro de 1935:

“Por conseguinte, nós, dirigentes do Partido e do Governo, devemos não


só instruir os operários, mas também aprender com eles. Que vós,
membros desta Conferência, aprendestes aqui algo dos dirigentes de
nosso Governo, não o negarei. Mas tampouco se pode negar que
também nós, dirigentes do Governo, aprendemos muito de vós, dos
stakhanovistas, dos membros da presente Conferência. Pois bem,
camaradas, obrigado, pela lição! Muito obrigado!”.

Assim, chegamos à conclusão de que o agitador deve ser modesto.

Sobretudo o dirigente do Partido deve possuir esta qualidade, o secretário de


organização do Partido que goza, por assim dizer, de um poder administrativo no
Partido. Se quiser gozar do carinho dos operários, procurará ser modesto, evitará
a vaidade. É justo o que digo? (Vozes: “É justo!”) Quem quiser ser dirigente deve
prestar atenção à sua própria conduta.

Segundo. É errado o propagandista ou o dirigente adotarem tom doutoral no


trato com as massas. Certamente já percebestes que se toma desagradável ouvir
um orador, quando ele não faz mais do que dizer: é preciso fazer isto e aquilo,
devemos, temos a obrigação, etc. Quando escrevo um artigo e o fio de minhas
ideias exige um “é preciso fazer”, isto é desagradável até para mim e trato de
substituir essa expressão por outra. Muito diferente é o caso em que a ideia, o
apelo ou o convite se exprimem mediante um raciocínio, uma análise,
demonstrando a necessidade de tal ou qual medida. A pessoa pode dirigir-se a seu
auditório como se pedisse um conselho: “Que vos parece, se fizéssemos a coisa
desta forma?”, “Parece-me que seria melhor resolver a questão desta maneira”,
“Neste caso eu procederia assim”. Então o povo reagirá de maneira diferente.

Referimo-nos no caso presente às intervenções em assembleias pouco


numerosas, em reuniões de produção ou durante alguma palestra. Naturalmente,
nos comícios assistidos por milhares de pessoas, a forma de intervir deve ser
diferente: neste caso a frase deve ser breve, de perfil bem definido. Aqui é difícil
recorrer à forma dialogada. Ao contrário, em vosso trabalho diário, o de que
necessitais com mais frequência é provocar a discussão, fazer falar os operários, e
nesse caso a forma “que vos parece? qual é a vossa opinião?” será a mais
aceitável. É muito importante animar as pessoas a intervirem, fazer com que
exponham suas opiniões, estabelecendo o intercâmbio com os demais. Nesse caso

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1942/04/21.htm 3/11
11/09/2019 Algumas Questões do Trabalho de Massas do Partido

a reunião transcorrerá animadamente, os operários intervirão com prazer e a


utilidade da reunião será indiscutível. Pois às vezes costuma acontecer como
antigamente nas ladainhas: o pregador diz a sua parte, o auditório também diz o
que lhe cabe e, terminado o tempo previsto, cada qual segue seu caminho.

Não temais afastar-vos do plano de vossa intervenção ou palestra. Podeis


estar falando da produção ou da guerra, mas se surge outra questão que provoca
uma reação do auditório, não importa, não a deixeis de lado. Se conseguirdes
despertar o interesse das pessoas e elas reagem ao que dizeis, todos prestarão
atenção e então podereis expor as questões do esquema.

E o mais importante é que não fujais nunca à discussão de questões


espinhosas, como fazem com frequência alguns oradores. Em nenhum caso deveis
recorrer a isso, não tenteis esquivar-se à resposta, não esfumeis as perguntas que
vos façam. Se não podeis responder imediatamente a uma pergunta, dizei
abertamente: “A pergunta, é interessante e tem importância. Eu responderia com
muito prazer, mas não estou preparado, não meditei sobre ela, não me considero
em condições de poder respondê-la. Vou informar-me sobre a questão, consultarei
alguns camaradas e então responderei. Será que alguns dos presentes poderia
esclarecer-nos esta questão?” Isto já seria outra coisa, pois há entre nós quem
goste de tangenciar as questões candentes ou explicá-las de tal forma que o
auditório não compreende nada nem obtém uma resposta direta e verídica à sua
pergunta.

O dirigente do Partido deve ser de uma honradez absoluta *em seu trato com
os demais. O secretário da organização do Partido é o olho do Partido. Não sei se
percebeis completamente a questão. Por isso, qualquer simpatia ou antipatia de
tipo pessoal deve ser posta à margem. Se, por qualquer motivo, não simpatizais
com uma pessoa, deveis ocultá-lo tão profundamente que ninguém possa
adivinhá-lo. As coisas irão mal se as pessoas perceberem que não sois imparciais
no trato.

Acontece às vezes que uma pessoa comum e vulgar faia pouco e se mantém
afastada, mas trabalha bem; ao contrário, outra trabalha mal, mas comparece
com frequência ao comitê do Partido, ao sindicato ou à organização do Komsomol,
é sempre visível e se projeta. Isso é mau. Se o secretário do comitê do Partido
quer gozar de prestígio, deve aparecer sem mácula aos olhos das massas. Isto não
quer dizer que não possa ter mais amizade com determinadas pessoas. Claro que
pode. Mas em suas relações sociais deve tratar a todos com igual imparcialidade.
Sua posição deve ser a seguinte: “És meu amigo, está certo; mas se te descuidas
do trabalho, se te fazes de desentendido, se te safas das tarefas da produção,
exigirei de ti mais do que dos outros e te calcarei a mão com mais fôrça que aos
demais”. É assim que deve portar-se com as pessoas o secretário da organização
do Partido.

Em todas as questões deveis adotar uma conduta que permita ao povo


verificar vossa sinceridade e honradez. Nunca conseguireis ocultar às massas a
hipocrisia e por isso deveis fazer todo o possível para evitá-la. Não conseguireis

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11/09/2019 Algumas Questões do Trabalho de Massas do Partido

enganar as massas e se o povo percebe que alguém age hipocritamente, nunca


mais lhe dará crédito.

Se conseguirmos desenvolver em nós estas qualidades, será mais fácil


trabalhar.

E agora apresentemos a questão de como deve ser abordado o trabalho de


massas do Partido, como deve ser realizado e como devem ser apresentadas às
massas tais ou quais questões.

É necessário apresentar as questões com espírito de Partido, tudo deve ser


abordado com espírito de Partido.

Suponhamos que se está realizando a subscrição do empréstimo. É evidente


que agora todos o subscreverão com um mês de salário. Se eu fosse agitador,
diria abertamente aos operários: “Agora, até as pessoas que não ganham um
salário elevado subscreverão o empréstimo com o salário de um mês. Sabeis qual
a situação que atravessa nosso Estado. Temos um grande exército, despesas
enormes, o Estado precisa de dinheiro e tem que tirá-lo de alguma parte. Ou
vamos à inflação, ou temos que ajudar o Estado e proporcionar-lhe o dinheiro sob
a forma de empréstimos. É somente assim que se pode levar a guerra para
diante”. A isto podem objetar: “Mas a vida é difícil”. E eu lhes responderia: “É a
guerra, por isso a vida está difícil e por isso o pão está racionado. Se houvesse
muito pão, muitos tecidos, muita roupa, calçados e demais mercadorias, não
recorreríamos aos empréstimos, mas simplesmente abriríamos as lojas, as
encheríamos de mercadorias e o dinheiro afluiria às caixas. Mas é precisamente
por isso que fazemos o empréstimo, porque falta, dinheiro, porque faltam artigos
de consumo, porque se fabricam armas e munições, porque as mercadorias se
destinam às necessidades do exército e da guerra”.

Não é só em nosso país que escasseiam as mercadorias; também há falta em


outros países, sobretudo nos países fascistas ou nos que foram saqueados pelos
fascistas alemães. Neste ponto é que se deve desenvolver a tese de que nós
somos os menos culpados pelo que está acontecendo, pois fomos atacados. Deve-
se fazer ver a natureza imperialista da guerra que, a Alemanha hitlerista leva a
cabo. Pode-se perguntar diretamente aos operários: “Que desejais: que nos
derrotem?” Sei que tendes medo até de pronunciar esta palavra Pois esta pergunta
eu a faria mais de uma vez aos que subscrevem mal o empréstimo. “Que é que
desejais: que nos derrotem?” Uma das duas: ou nos derrotam ou apertamos o
cinto. Tomai o exemplo dos leningradenses: que dificuldades estão atravessando e
com que heroísmo se mantêm. Assim é que se deve levantar as questões diante
dos operários; isto significa apresentá-las com espirito de Partido.

Numa grande fábrica, ao falar perante os operários, eu apresentei o problema


dessa forma, sem rodeios, e lhes disse que o Estado exige que consumamos
menos e produzamos mais. Apresentei o problema diretamente e lhes expliquei
que não se trata de querermos que os operários e empregados fiquem a meia
ração, porém de que agora temos menos mercadorias, as- exigências da frente
são grandes e o inimigo pressiona. Não temais apresentar as questões de modo
cortante, desde que o façais com acerto e com espírito de Partido.
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11/09/2019 Algumas Questões do Trabalho de Massas do Partido

Se o pessoal da fábrica sabe que não costumais ser hipócritas, fugir dos
problemas, nem envaidecer-vos, então vossas palavras chegarão à consciência de
todos. Em caso contrário não merecereis crédito e as pessoas dirão: “Já te
conhecemos, para nós vens com conselhos, mas tu pensas outra coisa e tua
conduta não corresponde às tuas palavras.”, Talvez não o digam abertamente,
mas com toda a certeza o dirão em surdina.

Qual é atualmente o objetivo da propaganda e da agitação do Partido? Fazer


com que as massas sintam a cada passo que o Partido Comunista não tem
interesses próprios especiais, que o que defende são os interesses do proletariado,
de todo o povo em seu conjunto. E estes são precisamente os momentos em que a
preponderância dos interesses do todo sobre os interesses da parte se manifesta
com uma clareza e um relevo extraordinários e é compreendida por todos,
inclusive pelas pessoas pouco cultas, até pelas crianças. Qualquer um compreende
agora que os interesses do povo prevalecem sobre os interesses pessoais ou de
grupo.

Trava-se uma guerra cruel, os fascistas cometem ferocidades inauditas.


Devemos dizê-lo e perguntar a cada um o que é que pensa, como quer participar
na obra comum. “Isto é o que exige de ti o todo, isto é o que exige o Partido. Se
derrotarmos o inimigo, terás de tudo; mas senão o derrotarmos, também tu
sucumbirás. Mas só podemos derrotar o inimigo com a condição de que lancemos
todos os nossos recursos na guerra, tanto os materiais como os humanos. Posso
assegurar-vos que, falando assim em qualquer assembleia e expondo
honradamente tudo isso, em qualquer caso, 99 senão cem por cento dos
assistentes se mostrarão de acordo com a necessidade de realizar todos os
sacrifícios com o fim de derrotar o inimigo. Talvez algum tipinho se manifeste
contra — ainda restam inimigos — mas serão indivíduos isolados, apóstatas,
resíduos dos tempos passados. Devemos ensinar as pessoas a trabalhar com
abnegação para o bem de todo o povo. Esta é nos momentos atuais a tarefa dos
comunistas.

Agora se manifesta um fenômeno muito importante: está ingressando mais


gente no Partido do que nos tempos de paz, na frente mais do que na retaguarda,
nas regiões próximas à frente mais do que nas distantes dela. (Vozes: “É isso
mesmo!”) E por que acontece isto? Porque todos sentem a necessidade de
fortalecer o Partido. Todos veem que o Partido é o guia, que só um Partido
poderoso e forte pode garantir a vitória do povo. E quando o soldado vê que se
avizinha um combate duro, solicita seu ingresso no Partido, pois quer ir ao
combate como comunista. Essa é a grande fôrça de nosso Partido e do Estado
soviético. As massas sabem perfeitamente que seu caminho é o caminho do
Partido.

Na Alemanha fascista existem organizações de massas. Hitler acorrentou as


massas, esmagou-as, humilhou-as; ao contrário, nós educamos as massas,
elevamos sua consciência.

Aqui foi dito que os propagandistas e os agitadores atendem aos pedidos


pessoais dos trabalhadores e os ajudam. Tal coisa não é má. Devo dizer-vos que

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quando se pode ajudar as pessoas em alguma coisa e se presta essa ajuda, isso é
bom, é uma boa qualidade. E o êxito é maior entre as mulheres que entre os
homens. Mas também aqui é necessário explicar a relação existente entre os
pedidos pessoais e nossas tarefas comuns Se alguém aparece pedindo algo,
convém ajudar e ao mesmo tempo dizer-lhe: “Já vês que a organização do Partido
ou o sindicato te ajudam, fazem algo por ti; mas queremos que também tu,
quando chegue tua vez, não fiques à margem, que juntamente com todos ajudes a
levar adiante a obra comum”. Esta é a linha de conduta a que nos devemos ater e
que temos de pôr em prática em todo o nosso trabalho de massas.

Falou-se aqui da leitura dos jornais e foi dito que ela transcorre com certo
aborrecimento. Devemos reconhecer que, frequentemente, mais do que uma
leitura, isto parece uma tutela exercida sobre os operários. Tenho a impressão de
que nem sempre é conveniente ou útil nomear leitores permanentes. Se eu fosse
secretário da organização do Partido duma fábrica, faria o seguinte: na hora da
refeição, aproximar-me-ia para perguntar aos operários se estavam dispostos a
ouvir a leitura dos jornais. Naturalmente haverá quem manifeste tal desejo. Então
eu perguntaria: “Quem quer ler?” Em nossas fábricas são muitos os que sabem ler
um jornal e sem dúvida apareceria um voluntário. Apesar disso, eu mandaria a
esses grupo um operário com experiência, culto, para provocar a conversação e
ajudar a esclarecer o que foi lido. Assim, a leitura se tornará mais natural e será
mais fácil perceber quais as questões que mais interessam aos operários. É claro
que a pessoa enviada deve ser culta e possuir tato. Asseguro-vos que com esses
método as leituras se tornarão mais animadas e terão aceitação.

Há cerca de 40 anos, também eu fui leitor de jornal. Umas quinze pessoas


frequentavam meu círculo ilegal. Se eu tivesse me limitado a ler, aquilo não teria
marcado. Somente a leitura nos tomava uns 15 ou 20 minutos, depois vinha a
discussão. Eu lhes perguntava: “Como é, entenderam este ou aquele artigo?”

— “Não, não entendemos”. — “Bom, então vamos esclarecê-lo”. Começava a


palestra, que durava uma hora, hora e meia e às vezes mais. Enquanto eu estava
lendo os ouvintes não dormiam, pois sabiam que depois da leitura começaria a
discussão. Como vedes, camaradas, ser agitador não é coisa tão simples. A leitura
do jornal é já quase um trabalho de propaganda, sendo preciso organizá-la com
habilidade, pensando bem. Se o encarregado da leitura e de conduzir a discussão
não sabe despertar o interesse dos ouvintes, se estes percebem que vem
preparado de antemão, não é possível que a discussão saia bem. Os que
assistirem a uma leitura desse tipo a aceitarão como exercício escolar, como algo
parecido com o antigo catecismo.

Em cada artigo de jornal é possível encontrar algo que possa servir de


pretexto para entabular uma conversação sobre questões políticas gerais. Acho
melhor ser a leitura feita por algum dos operários, e melhor ainda que leiam por
turno, ao passo que as pessoas enviadas para assistir a leitura nos grupos devem
ajudá-los na discussão e no esclarecimento do que não for compreendido.

Ouvindo-se os camaradas que aqui intervieram, não se notou que mostrassem


iniciativa e levantassem as questões da produção. Talvez se tenham contido. É

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11/09/2019 Algumas Questões do Trabalho de Massas do Partido

possível.

Quais são, pois, as tarefas da produção que se nos apresentam além das
tarefas gerais que já conheceis? Eu levantaria, por exemplo, como uma das tarefas
importantes a de recolher a sucata. Não nas fábricas nem casas, pois somente em
estilhaços de metralha, digamos por exemplo, quanto metal não andará atirado
pelos campos da região de Moscou? Por que não propormos ao Komsomol de
Moscou a tarefa de recolher esta sucata? Nos campos e bosques da região acham-
se aviões destruídos e muito metal atirado. Creio que se pode recolher facilmente,
na pior das hipóteses, uma dez mil toneladas. E isso seria de grande utilidade.
Naturalmente, para tanto é preciso realizar a correspondente agitação, explicar
aos jovens a falta que o metal faz ao país e instruí-los sobre a maneira de recolher
e entregar a sucata. Na realidade, não acredito que faça falta uma grande
agitação, pois a coisa está bem clara; é preciso apenas saber organizar a colheita
na prática.

Também quisera deter-me na questão das hortas. Entre os camaradas que


aqui intervieram nenhum tocou nesta questão. E não obstante, é uma questão de
muita importância. O agitador não só deve realizar uma campanha em favar das
hortas, mas também ajudar a organizá-las, velar para que não se envie
inutilmente as pessoas às hortas coletivas, para que cada jornada de trabalho seja
aproveitada integralmente e seja produtiva. A organização do Partido e dos
sindicatos e a direção das empresas devem realizar um grande trabalho de
organização neste sentido.

Em nossa reunião estranhei muito a seguinte circunstância: os jornais falam


todos os dias do movimento stakhanovista; e aqui, onde se reuniram os
secretários das organizações do Partido, onde alguns quase fizeram um balanço de
sua atividade, aqui ninguém se lembrou do movimento stakhanovista, ele foi
esquecido. Pois a mim me parece que o esquecimento não foi casual. Os jornais
nem sempre focalizam o movimento stakhanovista como é devido. Somente
destacam os que alcançam mil ou dois mil por cento da norma; mas, acaso temos
muitos desses?’ Eis aí a razão pela qual não se falou no movimento stakhanovista.
Certamente nos vossos jornais murais também existe a preferência de não falar
mais do que nos tíssiatchnik”.(1)

Esta questão pode ser focalizada sob dois aspectos diferentes. Também
podemos dizer: será que em vossa fábrica o diretor, o engenheiro-chefe e a
administração não entendem de nada, já que durante muito tempo os operários
vêm trabalhando de acordo com uma norma tal que uma pessoa razoável e
honesta pôde superá-la em mil por cento? Pelo que se vê, até agora se trabalhava
muito mal ou não. se fazia nada. Pois se um operário da fabrica, sem nenhuma
adaptação ou inovação, supera a norma em mil por cento, o diretor e o
engenheiro-chefe dessa empresa devem ser enviados aos tribunais, porque em
sua fábrica se dilapidam os recursos do Estado. Eu mesmo trabalhei uns 25 ou 27
anos como torneiro numa fábrica, também vós vindes da fábrica e compreendeis o
que é um “tíssiatchnik”.

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Somente pode, ser um verdadeiro “tíssiatchnik” quem introduz algum


aperfeiçoamento, alguma melhora técnica no processo de trabalho. Suponhamos,
por exemplo, que antes os botões eram pregados a mão e agora o fazeis à
máquina. Naturalmente, a produtividade deve aumentar de muitas vezes. Ou
então, que se introduz no processo de trabalho alguma racionalização que eleva
rapidamente a produtividade.

Nem se pode conceber o movimento stakhanovista sem uma racionalização do


processo de trabalho. E é precisamente disto que não se fala, é isto o que não se
mostra.

Ao falar dos “tíssiatchnik”, deve-se dizer que tal trabalhador, em tal fábrica,
propôs uma racionalização eficaz que deu tais e tais resultados na produção. É
muito mais importante dizer como se conseguiu tal resultado do que repetir sem
parar a palavra “tíssiatchnik”. E é preciso que na fábrica todos estejam atentos a
cada inovação e que esta inovação vá penetrando em todas as demais empresas.
E se o autor da proposta de racionalização é um ajustador, um torneiro ou
qualquer outro operário, devemos fazer a pergunta: que ajuda lhe prestaram os
engenheiros da fábrica e os construtores? Tudo isto demonstra como estamos
atrasados na maneira de apresentar questões de tanta importância como a
propaganda da racionalização, a introdução de inovações e o desenvolvimento da
emulação. Se os artigos sobre os “tíssiatchnik” fossem escritos deste ponto de
vista, prestaríamos uma grande ajuda à racionalização.

Qual é a raiz deste mal? O mal reside em que nos esquecemos do operário
médio, do operário comum, de tipo corrente. Dizei-me, por exemplo: se todos os
operários que agora não cumprem a norma começassem a cumpri-la, em quanto
aumentaria a produção? (Vozes: em 10, 15, 200%). Aí está. Pois bem, se
conseguíssemos elevar a produtividade do trabalho de todos os operários —
precisamente de todos — só em 10%, quantos benefícios obteríamos, como isso
faria subir a produção industrial! Mas é mais difícil consegui-lo do que estabelecer
alguns recordes isolados. Fazer algum pequeno invento ou introduzir alguma
racionalização no processo de trabalho são coisas importantes, mas não é tudo,
nem sequer é o mais difícil. Assim, por exemplo, num torno, trabalhando à mão,
pode-se fazer a rosca de 20 parafusos, enquanto num torno automático se podem
fazer 5.000. Mas isso ainda não resolve a questão.

O movimento stakhanovista pressupõe um melhoramento dos métodos de


trabalho, significa facilitar o trabalho introduzindo diversos aperfeiçoamentos. Esse
espírito inovador não pode estender-se muito entre o pessoal, pois isso depende
bastante de cada um, de suas capacidades individuais, de sua capacidade de
inventor. Mas esses espirito deve ser estimulado, desenvolvido, o que deve ser
feito sobretudo pelos engenheiros de fábrica e os construtores, pois essa é a sua
obrigação.

Mas nem por isso o movimento stakhanovista deve eclipsar nem rebaixar o
papel da emulação socialista entre os operários comuns e de tipo corrente, que
pode ser de grande utilidade. Os operários médios, os operários comuns e
correntes são os que decidem do êxito da produção. E vós, camaradas, — di-lo-ei

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com toda a franqueza — tendes uma atitude negligente para com os operários
comuns e correntes. Deveis recordar com mais frequência que a elevação de 10%
na produtividade do trabalho do operário médio é uma grande coisa e em torno
disso é preciso realizar uma propaganda diária. É preciso fazer com que os
engenheiros, sobretudo os engenheiros membros do Partido — e não temos
poucos deles em cidades tão grandes como Moscou — prestem atenção a este
problema. O movimento stakhanovista deve ser apresentado na imprensa tal como
deve ser. Os avanços em matéria de racionalização devem ser divulgados, devem
ser dados a conhecer e sobretudo devem ser introduzidos na produção; mas isso
não deve ocultar aos nossos olhos a importância de conseguir avanços entre os
operários médios. O operário médio aumenta a produtividade do seu trabalho sem
introduzir modificações no processo técnico, mas aumentando a intensidade e a
rapidez de seu trabalho, adquirindo maior habilidade. Conviria reunir esses
operários, particularmente os de idade madura, os que estão há muitos anos na
produção e com eles examinar a fundo o problema do aumento da produção de
artigos. Isso repercutiria consideravelmente no balanço geral do trabalho da
fábrica e os resultados seriam grandes.

Aconselho-vos insistentemente a que presteis mais atenção aos operários


médios, que os destaqueis, que apresenteis seus trabãlhos nos jornais murais.
Suponhamos que durante dois anos um operário vinha cumprindo a norma
somente em 80 ou 90%, mas na guerra começou a cumpri-la em 100-105%. É
preciso destacá-lo, expor seu trabalho. Por que devemos fazê-lo? Pois é porque
esses operários são milhares e o que fizerdes terá o efeito de exaltar o operário
médio que cresce, o operário comum e corrente que ultrapassa regularmente a
norma em 3 ou 5%. Deveis escrever um pequeno artigo sobre ele no jornal,
publicar 'seu retrato. E então o operário que trabalha na máquina ao lado pensará:
“E eu por acaso sou inferior? Tanto quanto ele, também posso ultrapassar a norma
em 3 ou 5% e meu retrato sairá igualmente no jornal”.

É assim que cresce a emulação no seio da massa de operários, porque sua


base é accessível a todos eles. Essa será realmente uma grande ajuda à produção.
A isto se dá comumente o nome de movimento stakhanovista, mas no fundo trata
-se duma verdadeira emulação socialista, dum trabalho de choque ao qual não
podemos renunciar de maneira nenhuma. Unicamente é preciso saber aproveitá-lo
e meu mais fervente desejo é que o aproveiteis e desenvolvais. É preciso
considerar o assunto de maneira realista. Não necessitamos do alvoroço para
nada, o que necessitamos é de uma utilidade real e isto quer dizer elevar a norma
média de produção.

Aqui foi levantada a questão do trabalho entre os novos operários. Trata-se


dum trabalho muito importante e muito difícil. Em que consiste sua dificuldade?

Em primeiro lugar, quando um operário novo — e agora trabalham na


produção sobretudo mulheres — chega pela primeira vez à fábrica, a princípio
sente-se aturdido, até algo atemorizado com o incomum do ambiente fabril; e
somente depois de trabalhar uns seis meses na fábrica começa a tomar-lhe
carinho. Eu o sei por experiência própria. Na fábrica reina a disciplina, mas nosso
pessoal, e sobretudo os jovens, está acostumado a fazer o que bem entende. É

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11/09/2019 Algumas Questões do Trabalho de Massas do Partido

preciso prestar aos operários recém-chegados uma ajuda que lhes permita
incorporar-se à produção, acostumar-se à disciplina da fábrica, à ordem; e por
outro lado lhes deve ser explicado, de modo a compreenderem, que mesmo que
no princípio lhes pareça duro, depois se afeiçoarão à fábrica e não haverá quem os
separe dela. Deve ser feito tudo o necessário para que os novos operários se
afeiçoem ao seu trabalho, dominem rapidamente a especialidade e elevem a
própria qualificação. Por isso, me parece que devem ser tomadas como tarefas de
enorme significação a prestação de ajuda técnica aos novos operários e concentrar
a atenção das organizações sindicais e do Partido no problema de atrair e
incorporar os novos operários à vida cotidiana da coletividade. Tem muita
importância o conhecer as pessoas, saber qual é o contingente de operários que
chegou à fábrica e organizar o trabalho em consonância com isso.

Agora dispomos dum argumento de excepcional fôrça persuasiva: a guerra.


Devemos explicar à juventude que chega à fábrica que não vai para lá a fim de
brincar ou divertir-se, porém que chegou a uma frente das mais combativas,
equivalente quase a uma frente de guerra. Este é um de nossos argumentos de
maior valor. Não só o Komsomol, mas também as organizações do Partido devem
trabalhar com os novos contingentes de jovens operários que chegam às
empresas.

Nas difíceis condições atuais, muitas coisas hão de depender dos novos
quadros operários, das mulheres e dos jovens. E preciso inculcar a disciplina aos
novos operários, fazer com que tomem consciência dos interesses comuns do
proletariado. O Partido deve realizar entre eles um trabalho diário e Kábil. Mas não
se deve atuar unicamente por meio de sermões, mas interessando os próprios
operários e atraindo-os ao trabalho social.

Isto é tudo o que queria dizer-vos. Permiti-me fazer votos para que nossa
palestra seja pelo menos de alguma utilidade em vosso trabalho. (Aplausos
prolongados.)

Início da página

Notas de rodapé:

(1) “Tíssiatchniki” — operário que supera a norma em mil por cento ou mais. (retornar ao texto)
Inclusão 14/11/2012

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11/09/2019 Algumas Questões Relacionadas com a Agitação e a Propaganda
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Algumas Questões Relacionadas


com a Agitação e a Propaganda
Discurso pronunciado na Conferência de Secretários de
Propaganda dos Comitês Regionais do Komsomol

M. I. Kalinin

28 de Setembro de 1942

Primeira Edição: Revista “Bolchevik", (“O Bolchevique”) nºs. 17-18, de 1942.


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 162-176.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Camaradas: Não me vou referir às questões de


organização do trabalho do Komsomol: este é problema vosso
e vós mesmos resolvereis sobre a forma de trabalho que
melhor vos convenha. Somente abordarei a questão das
formas de que deve se revestir hoje a agitação e a
propaganda.

Hoje encaro o Komsomol sob um aspecto algo diferente


do anterior. Antes da guerra, eu via no Komsomol uma
juventude ainda não madura, que gostava de passear e
divertir-se e não muito disposta a cansar a cabeça com problemas intrincados,
uma juventude que deve desenvolver-se e fortalecer-se fisicamente para se
converter em homens maduros no tempo devido, distanciando-se o mais possível
da velhice.

Mas estalou a guerra. E hoje, esta claro, os komsomóis — o não só eles, mas
todas as pessoas — adquirem experiência da vida com muito maior rapidez. Por
isso, se compararmos nosso Komsomol com a Juventude Comunista de outros
países, resultará, naturalmente, que nossos membros do Komsomol são muito
mais maduros, e isso os toma maiores de idade. Com efeito, hoje em dia nossos
jovens de dezessete anos já devem preparar-se para ingressar no exército. Falo
apenas da preparação. Quando forem chamados às fileiras, a questão já será
outra; mas já pensam em seu ingresso nas fileiras do Exército Vermelho.

E o meio ambiente? É sabido que a agitação deve adaptar-se às condições


circundantes. Hoje em dia o Komsomol constitui em nosso país, particularmente

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11/09/2019 Algumas Questões Relacionadas com a Agitação e a Propaganda

no campo, uma organização social muito poderosa. É claro que, hoje, o Komsomol
toma uma parte muito mais ativa na vida social, política, econômica e cultural do
país, participa em massa — e isso é fundamental na guerra e, naturalmente, no
trabalho de agitação e propaganda. E não é só entre a juventude que deve realizar
todo esses trabalho, mas também entre o resto da população. Já vedes que a
importância política do Komsomol é hoje superior à de antes da guerra. Por isso, o
Komsomol deve realizar um vasto trabalho de agitação e propaganda e dominar
melhor as formas desse trabalho.

Cada momento histórico exige uma forma peculiar de agitação e propaganda.


É indubitável que atualmente nossas formas de agitação não podem ser idênticas
às de dois anos atrás, por exemplo. E é natural. Se hoje nos apresentássemos
diante das massas com as mesmas formas de agitação e propaganda que
usávamos antes, estas resultariam pouco eficazes, não produziriam entre a
população a mesma impressão que causavam antes da guerra. Por exemplo, se há
dois anos atrás nos apresentássemos numa reunião de kolkhozianos duma grande
aldeia e pronunciássemos um discurso saturado de piadas, anedotas ou frases
pomposas, é possível que nos tivessem recebido com agrado; o povo teria rido,
nos aplaudiria e ficaria contente. Acaso, hoje podemos pronunciar um discurso
dessa natureza? É claro que não. Hoje o povo passa grandes dificuldades; são
muitos os que perderam seus entes queridos; hoje a população realiza um
trabalho muito grande e muito duro e em troca a satisfação de suas necessidades
está muito limitada. A vida tornou-se rigorosa. As pessoas se tornaram mais
concentradas, mais pensativas. Por conseguinte, a agitação e a propaganda devem
estar em consonância com a situação reinante e com o estado de ânimo do povo.

Mas, quais devem ser as formas de agitação e propaganda e em que fontes


poderiam buscá-las os dirigentes do Komsomol encarregados deste trabalho? Onde
procurá-las? Com que exemplos aprender?

Devo dizer que em nossa imprensa ainda não são abundantes as novas formas
de agitação e propaganda: apenas começa a exteriorizá-las em proporção
crescente. Mas, onde se pode aprender melhor do que na imprensa, na qual
colaboram as pessoas mais qualificadas? Entende-se que, atualmente, o melhor
material para os agitadores é constituído pelas crônicas de guerra. E é natural,
pois hoje não se vive fora da guerra. De uma ou de outra forma, todos os
sentimentos da população estão relacionados com a guerra, com seus êxitos e
reveses. Por isso, também vós, os dirigentes da propaganda entre a juventude,
deveis buscar nessas fontes a inspiração principal de vosso trabalho de agitação e
propaganda.

Existem essas possibilidades, existem modelos que poderiam ser aproveitados


no trabalho de agitação?

Penso que existem, embora não sejam muitos. Mas, cada dia que passa,
aparecem na imprensa em número crescente os bons artigos dos quais já se pode
extrair material de propaganda, que podem ser imitados em certo grau e na leitura
dos quais se pode aprender. Subentende-se que quando digo imitar, não me refiro
a uma imitação mecânica: esses é um procedimento pouco eficaz; é preciso fazê-

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11/09/2019 Algumas Questões Relacionadas com a Agitação e a Propaganda

lo reelaborando o material de acordo com as condições locais, com determinada


camada da população, com o caráter do auditório ante o qual tendes que intervir.

Acho que os artigos de Tíkhonov e Símonov, por exemplo, são boas crônicas
de guerra; as publicações de guerra constituem um bom material para os
agitadores. Todos vós quereis vir a Moscou para receber ajuda e indicações de
como levar a cabo o trabalho de agitação. Mas é difícil dar indicações para isto;
ademais, como é possível transmitir e assinalar as formas de agitação? Cada qual
faz a agitação a seu modo. Julgo que a imprensa é a fonte principal onde se pode
aprender a forma de levar a cabo a agitação e a propaganda. Não me refiro aos
artigos oficiais, que são os que determinam o conteúdo e a linha política geral da
propaganda e esboçam o conjunto dos problemas que se erguem perante nós;
somente assinalarei as novas formas que aparecem em nossa imprensa.

Não sei se lestes o último artigo de Símonov, “Dias e noites”. Devo dizer-vos
que está bem feito. Em geral, seus artigos apresentam um quadro real dos
combates. No artigo a que me refiro, todas as proporções e medidas foram
observadas. Está escrito com sobriedade. À primeira vista produz a impressão de
uma simples crônica, mas, na realidade, é a obra de um artista, um quadro
inesquecível por muito tempo.

É preciso reconhecer que Símonov foi o primeiro a descrever a luta dos


operários de Stalingrado, particularmente a dos operários da fábrica de tratores,
fato de grande importância social e política. Cito suas palavras:

“Na cidade não existem agora simples habitantes; só restam defensores.


E suceda o que suceder, qualquer que seja o número de máquinas que
tenha sido evacuado das fábricas, as oficinas continuam sendo oficinas;
e os velhos operários, que entregaram à fábrica os melhores anos de sua
viada, continuam cuidando até às últimas possibilidades humanas dessas
oficinas, nas quais todos os vidros saltaram aos pedaços, em que ainda
se sente o cheiro da fumaça dos incêndios recém-apagados.

Não assinalamos tudo aqui — diz o diretor, indicando um encerado com


a cabeça. E começa a contar-nos que faz alguns dias os tanques alemães
abriram uma brecha num setor da linha defensiva e se lançaram contra
a fábrica. A notícia chegou às oficinas. Era preciso empreender algo com
urgência antes que anoitecesse, para ajudar os soldados a fechar aquela
brecha. O diretor mandou chamar ó chefe da oficina de reparações e
ordenou que fosse terminada quanto antes a reparação de uns tanques
que já estavam quase prontos. Os operários que souberam reparar os
tanques com suas próprias mãos, souberam também, naquele momento
de perigo, montar neles e converter-se em tanquistas.

Ali mesmo, no pátio da fábrica, com uns voluntários das milícias


populares — operários e inspetores — formaram-se várias tripulações.
Montaram nos tanques e depois de encher com seu estrépito o pátio
deserto, lançaram-se através do portão da fábrica diretamente ao
combate. Foram os primeiros que interceptaram o caminho aos alemães,
que tinham aberto passagem perto da ponte de pedra dum pequeno
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11/09/2019 Algumas Questões Relacionadas com a Agitação e a Propaganda

riacho. Um enorme barranco — que os tanques só podiam transpor


atravessando a ponte — os separava dos alemães. E foi precisamente
naquela ponte que a coluna de tanques alemães se encontrou com os
tanquistas da fábrica.

Travou-se intenso duelo de artilharia. Enquanto isso, os infantes


alemães, armados de fuzis automáticos, começaram a cruzar o barranco.
Então, a fábrica opôs sua própria infantaria à infantaria alemã: atrás dos
tanques soviéticos apareceram no barranco dois destacamentos de
milicianos, um deles comandado por Kostiutchenko, o chefe da milícia
local, e pelo professor Pástchenko, decano da cátedra do Instituto de
Mecânica, e o outro sob o comando de Popov, chefe da oficina de
ferramentas e do velho fundidor Krivúlin. O combate foi travado nos
abruptos declives do barranco, transformando-se com frequência em
luta corpo a corpo. Naquele encontro sucumbiram os velhos operários da
fábrica, Kondrátiev, Ivanov, Volódin, Símonov, Mómotov, Fomin e
outros, cujos nomes, agora, estão na boca de todos na fábrica.

Naquele dia, transformaram-se os arredores do bairro operário. Nas ruas


que davam para o barranco apareceram barricadas. Para levantá-las,
empregou-se tudo que havia à mão: ferro de caldeiras, chapas de
blindagem, armações de tanques desmontados. Como na guerra civil, as
mulheres levavam cartuchos a seus maridos e as moças se dirigiam das
oficinas diretamente para as linhas de fogo e, depois de fazer o primeiro
curativo nos feridos, os levavam para a retaguarda. Foram muitos os
que morreram naquele dia, mas por esses preço, os operários milicianos
e os soldados conseguiram deter os alemães até à noite, quando novas
unidades chegaram à brecha”.

Por acaso, não é bom este quadro verídico dos combates em defesa de
Stalingrado?

“Os pátios da fábrica estão desertos. O vento assobia ao passar pelas


janelas quebradas. Quando alguma granada de morteiro estoura nas
vizinhanças, por todas as partes voam sobre o asfalto pedaços de vidro
partido. Mas a fábrica continua lutando, como toda a cidade. E se
alguém pudesse acostumar-se às bombas, às granadas, às balas e, em
geral, ao perigo, diríamos que aqui se habituaram a ele, e se
acostumaram como ninguém em parte alguma chegou a acostumar-se”.

Nesse mesmo artigo o camarada Símonov mostra os sentimentos


experimentados pelo povo. Eis um episódio do qual é protagonista uma moça
enfermeira, oriunda de Dniepropetrovsk. que acompanha através do Volga os
transportes de feridos.

“A meu lado, na borda da balsa, ia sentada uma praticante de uns vinte


anos, uma jovem ucraniana chamada Stchepenha, com o singular nome
de Vitória. Era a quarta ou quinta vez que realizava a travessia para
Stalingrado...

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11/09/2019 Algumas Questões Relacionadas com a Agitação e a Propaganda

A balsa já se aproximava da margem.

— E não obstante, sinto um pouco de temor toda vez, ao desembarcar —


disse logo Vitória. Já me feriram duas vezes, uma delas muito
gravemente, e apesar de tudo não acreditei que pudesse morrer porque,
apenas comecei a viver e não conheço nada da vida. Como podia morrer
assim, de repente?

Naquele instante a moça tinha os olhos grandes e tristes. Compreendi


que o que dizia era verdade: aos vinte anos é terrível ter sido ferida
duas vezes, já ter passado quinze meses combatendo e voltar a
Stalingrado pela quinta vez. Era tanto o que a esperava no futuro: toda
uma vida, todo o amor, talvez o primeiro beijo, quem sabe! E eis aqui a
noite, um incessante estrondo; face a face, a cidade em chamas e uma
jovem de vinte anos que para lá se dirige pela quinta vez. E é preciso
fazê-lo, apesar do temor que sente. E dentro duns quinze minutos
passará entre as casas em chamas, e em alguma das ruas dos
subúrbios, entre as ruínas, sob o assobio da metralha, recolherá os
feridos e os conduzirá à outra margem; e se conseguir chegar,
regressará à cidade pela sexta vez”.

O autor podia ter descrito uma jovem valente, que desconhece o medo e as
vacilações, como costuma fazer-se entre nós. Mas ele preferiu fazer-nos ver os
sentimentos humanos, as emoções humanas. Este quadro é um material magnífico
para os agitadores e propagandistas.

Convém assinalar a forma como se apresenta neste artigo a questão da glória


e do heroísmo. Faço-o para comparar com o modo de ser abordado este problema
por outros correspondentes.

Símonov escreve:

“Se, aqui (em Stalingrado) é difícil viver, é ainda mais impossível viver
na inatividade. Mas viver combatendo, viver matando alemães isso, sim,
é possível; é assim que é preciso viver aqui e assim viveremos,
defendendo a cidade, entre chamas, fumo e sangue. E se a morte pende
sobre nossas cabeças, a glória, em compensação, está ao nosso lado,
converteu-se em nossa irmã entre estas ruínas e o soluço dos meninos
órfãos”.

Os agitadores e propagandistas devem buscar a seiva vivificante da palavra e


do pensamento russos e levá-la ao povo.

É interessante e instrutiva a descrição dum combatente de nosso exército que


luta nas ruas de Stalingrado. Piotr Boloto, um dos quatro que cortaram a
passagem de trinta tanques e que com seus fuzis antitanque puseram fora de
combate quinze deles.

“... lembrando-se do combate em que avariaram os quinze tanques...


sorri logo e diz:

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11/09/2019 Algumas Questões Relacionadas com a Agitação e a Propaganda

— Quando me vinha em cima o primeiro tanque, juro-lhe que pensei que


tinha chegado o meu fim. Depois, o tanque se aproximou e começou a
arder e comprovou-se que tinha chegado o fim dele e não o meu. E,
diga-se de passagem, devo confessar-lhe que durante aquele combate
enrolei e fumei cinco cigarros. Bem, não vou mentir, talvez não os
tivesse fumado inteiros, mas o certo é que enrolei cinco cigarros. Assim
costumam ser as coisas durante o combate: quando o tempo permite, a
gente deixa o fuzil de um lado e se põe a fumar. Durante o combate
pode-se fumar, o que não se pode fazer é falhar na pontaria, porque se
falhares uma vez, já não terás mais oportunidade de fumar. Assim são
as coisas!...

Piotr Boloto esboça um largo e sereno sorriso de homem seguro de ter


interpretado como deve sua vida de soldado, essa vida em que, às
vezes, se pode descansar e fumar um cigarro, mas na qual não se pode
falhar”.

Existe nisso material para o propagandista e o agitador? Creio que há um


material abundante. Basta apenas, lê-lo, meditar sobre ele e transmiti-lo
habilmente ao auditório. Entende-se que os correspondentes nem sempre
conseguem escrever bons artigos; predominam as crônicas do tipo “Nas margens
do Têrek”. Em nossos jornais aparecem com frequência artigos do seguinte teor:

“Ao entardecer, quando o combate amainava, quando centenas de


cadáveres alemães ficaram estendidos no vale, quando terminavam de
consumir-se os tanques alemães incendiados e o inimigo retirava para a
retaguarda seus canhões de campanha, todos souberam... que durante o
combate o sargento Rakhalsk, com sua metralhadora convenientemente
camuflada, abriu um fogo mortífero contra as colunas alemãs que
avançavam e aniquilou cinquenta homens. Honra e glória ao sargento
Rakhalsk.

Todos souberam que o sargento Tupotchenko, desprezando a morte,


arrebatou aos fascistas quatro companheiros feridos e os tirou do campo
de batalha. Honra e glória ao sargento Tupotchenko!

Todos souberam que num encontro corpo-a-corpo, o soldado Jhienko


matou seis alemães. Honra e glória ao soldado Jienko!”

Aqui está uma forma de escrever completamente diferente. Eu não


recomendaria imitá-la. O autor, como um ricaço que se diverte, reparte honras e
glória a torto e a direito. (Risos.) Isto é uma desconsideração para com os homens
que demonstraram verdadeiro heroísmo, é uma desconsideração para com os
leitores, pois o menos que o autor faz é descrever aqueles homens. Enumera,
guiando-se pelas folhas de serviço, o que fizeram os combatentes, acrescentando
duas palavras: “honra e glória”. A propósito de que vêm essas exclamações de
“honra e glória, honra e glória”? Com a glória não se deve brincar. O soldado que
faz fogo com seu fuzil ou com sua metralhadora, rechaça os alemães e os aniquila,
não faz mais do que cumprir com seu dever como qualquer outro em situação de
combate.
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11/09/2019 Algumas Questões Relacionadas com a Agitação e a Propaganda

O Bureau de Informação Soviético — órgão do Governo ao assinalar o


comportamento heroico destes oú daqueles soldados e oficiais, não prodigaliza
honras e glórias, como costumam fazer alguns correspondentes. Parece-me que
estes não atribuem a devida importância ao sentido das palavras do idioma russo.
Não compreendem que a glória não é distribuída, mas que a glória se conquista. Já
faz dois meses que Stalingrado, cidade enorme, de grandes tradições militares de
significação histórica, em dura luta contém as hordas inimigas, causando-lhes
perdas de tal natureza que, de fato, estabilizaram as demais frentes.

Ali, o heroico é o pão de cada dia. E isto deve ser descrito com fatos, sem
retórica nem frases altissonantes. Nossos soldados não necessitam dos elogios de
um repórter; para eles o melhor elogio é a descrição verídica dos seus atos.

No trabalho de agitação e propaganda é preciso evitar por todos os meios as


estridências. Não é o momento de se aparecer perante o público com discursos
ruidosos, com artifícios retóricos e uma dialética doutorai. Agora o povo não está
para isso. Nestes momentos, se alguém se apresentasse numa assembleia
operária ou numa reunião de kolkhozianos e começasse a pronunciar um discurso
ribombante ou a dar lições ao povo, este diria: “A propósito de que vem ensinar-
nos?” Hoje em dia é preciso explicar com clareza e paciência o que ocorre na vida,
descrever com palavras verazes as dificuldades experimentadas pelo povo.

Se pronunciais discursos de agitação e propaganda isentos de atavios, de


artifícios retóricos, lições e preceitos — compreendo, naturalmente, que isto
costuma ser difícil — estou certo de que vosso trabalho de agitação e propaganda
será muito mais eficaz.

Os artigos de Ehrenburg ocupam um lugar especial em nossa literatura de


agitação. Acho que se pode aprender muito com ele e que em seus artigos há
muito o que aproveitar para o trabalho de agitação.

Como devem ser considerados os artigos de Ehrenburg? Ehrenburg sustenta


uma luta corpo a corpo com os alemães, assesta golpes a torto e a direito. Ataca
com fúria e golpeia os alemães com tudo o que lhe está ao alcance da mão:
dispara contra eles com seu fuzil e quando acaba os cartuchos, ataca-os a
coronhaços, golpeando-os na cabeça e onde pode. Nisto reside o principal mérito
militar do autor.

Pode o propagandista e agitador extrair um bom material de seus artigos?


Indubitàvelmente. É claro que não se deve cornar um artigo isolado, mas três,
quatro ou cinco fatos, analisá-los e aproveitá-los, de acordo com circunstâncias
concretas. Não se deve copiar unicamente o que está escrito; todo o material deve
ser primeiramente meditado e assimilado.

Em nossa imprensa, como podeis ver, existem, apesar de tudo, numerosos


materiais. Publicou-se uma série de artigos bastante bons sobre a guerra,
particularmente em “Krásnaia Zviezdá”, que podem ser muito bem aproveitados.
Estão bem escritos e podem servir de material apropriado para o agitador e
propagandista, principalmente para o Komsomol.

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11/09/2019 Algumas Questões Relacionadas com a Agitação e a Propaganda

O que eu desejaria recomendar-vos é que em vosso trabalho de agitação e


propaganda eviteis as palavras rebuscadas. Existem entre nós alguns aficionados
em recorrer a elas. Por exemplo, na imprensa encontramos com frequência a
expressão “um atirador super-certeiro”. Pessoas que dominam perfeitamente o
russo fizeram-me a seguinte pergunta: “Diga-nos, como atira esses homem: por
cima do alvo ou de que maneira?” É claro que a pergunta tinha bastante malícia.
Alguém empregou essa frase rebuscada que depois começou a passear pelas
páginas dos jornais. Mas essa palavra não tem um sentido concreto. Se
chamássemos de atirador supercerteiro a um caçador que costuma abater muitos
animais, ele se poria a rir. Em realidade, que pode significar esses “supercerteiro”?
Acaso significa que esses atirador cumpre algo, superando o plano, ultrapassando
os 100%? Deveis ter presente que ao dizê-lo se perde a noção da medida no que
se refere à pontaria. Essa expressão, além de ser desacertada do ponto de vista
do idioma, o é também na sua essência. Seu emprego, inclusive, é prejudicial ao
nosso trabalho. Por que? A razão é muito simples. Suponhamos que o atirador
supercerteiro acerta cem vezes em cem impactos possíveis (compreende-se que
ultrapassar essa porcentagem é impossível); então o homem que faz 80 ou 90
impactos seria um atirador certeiro, o de 70 impactos, um bom atirador, e o de
60, regular. Eis ao que isto conduz! E tudo porque a gente não atribui importância
ao sentido das palavras. O emprêgo de têrmos tais como “supercerteiro” não
mostra mais do que um afã de rebuscamento que, no final de contas, conduz ao
absurdo. Os agitadores e propagandistas devem evitar o emprêgo de palavras
rebuscadas. Elas não servem para nada!

Freqüentemente, podemos encontrar casos de petulância nos tópicos


jornalísticos. Não faz muito li num jornal a descrição dum episódio de guerra, onde
se contava como o tenente X, chefe duma companhia, dirigiu um ataque dentro
das possibilidades de sua unidade e se apoderou dum lugar povoado. Depois de
narrar todas as fases do combate, o correspondènté acrescenta que o tenente se
tinha apossado da localidade no estilo de Suvórov. É admissível, no caso presente,
essa expressão? Sim, naturalmente; mas não obstante, a expressão “no estilo de
Suvórov” deve empregar-se com sumo cuidado. Se nos pusermos a aplicá-la a
toda ação bélica relativamente pequena, levada a cabo por uma seção ou uma
companhia, lhe tiraríamos importância. Resulta que a atuação de Suvórov —
grande capitão, que se cobriu de glória numa série de campanhas brilhantemente
realizadas — é comparada pelo correspondente com uma ação que, embora
importante, é relativamente limitada. Devemos elevar os tenentes ao nível de
Suvórov, mas não atribuir-lhes, sem mais aquela, o “estilo suvoroviano” por uma
só ação acertada. Aparentemente temos aí uma frase leve, simples e boa: “No
estilo de Suvórov”, mas duvido de que os ouvintes fiquem satisfeitos. É preciso
que as palavras sejam eficazes, que as expressões e a apreciação do
comportamento dos homens sejam mais modestas, que as pessoas a quem vos
dirigis sintam que as palavras não são sugeridas por um estado de ânimo
passageiro, porém que foram meditadas uma por uma.

Quero chamar vossa atenção para outra expressão empregada com bastante
frequência nas crônicas de guerra. Em virtude de encontrá-la quase diariamente,
ela pode gravar-se profundamente em nossa memória. E não obstante, tampouco
é muito feliz e costuma induzir a confusões. Dizem os correspondentes: “tal
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11/09/2019 Algumas Questões Relacionadas com a Agitação e a Propaganda

unidade não retrocedeu nem um só passo”. Repetida várias vezes, a frase alçou
voo. Mas ao mesmo tempo a gente lê uma crônica da frente na qual se diz que tal
ou qual unidade conservou suas posições e então pensa: aqui não diz que não
tenha retrocedido um só passo; será que, apesar de tudo retrocedeu? (Risos). Pois
bem, camaradas, quando se fala ou se escreve, sobretudo quando se escreve, não
se deve pensar somente como nós mesmos entendemos tal ou qual
acontecimento, também se deve pensar em como o entenderão os demais. Por
outro lado, o apelo “Nem um só passo atrás!” tem um profundo sentido, já que
precisamente o primeiro passo de retrocesso é o mais perigoso, pois lhe sucede
inevitavelmente a retirada.

A palavra não deve ser manejada de qualquer maneira. O descuido nas


expressões não fará mais do que tirar influência aos agitadores e propagandistas.

O que foi dito acima se refere à propaganda no exército. Mas como marcham a
agitação e a propaganda na retaguarda?

No mesmo número de “Krásnaia Zviezdá” em que se publicou o artigo de


Símonov á que acabo de me referir, aparece também um artigo de K. Finn: “As
mulheres da cidade de Ivánovo”. Devo dizer-vos que todos nós estamos hoje tão
absorvidos pelas ideias e as emoções ligadas à guerra que nem sempre lemos os
artigos em que se descreve a vida e o trabalho na retaguarda. Mas este é um bom
artigo. Naturalmente, como acontece em toda a nossa vida, nele a retaguarda e a
frente aparecem entrelaçadas. O autor relata seu encontro, num jardim, com uma
mulher de uns trinta anos, que lhe conta sua dor, a forma como a recebeu e como
suporta sua desgraça.

“— Ontem recebi a notícia. Mataram meu marido na frente. A carta


chegou pela tarde. Eu acabava de voltar do trabalho...”

Já tinham doze anos de casados e haviam vivido entranhadamente


unidos. Não tinham filhos.

E era para fim um marido e um filho. Eu o amava com um carinho


especial. Se você soubesse como...

Não pôde pronunciar a palavra “era”. E assim, evitando esta palavra,


temendo-a e temendo ao mesmo tempo falar do marido como de uma
pessoa viva, de modo confuso, com frases entrecortadas, como
exclamações, mas sem lágrima, contou-me que ao receber a carta
perdeu os sentidos. Quando voltou a si, saiu correndo da casa. Para
onde? Não sabia. Andou vagando pelas escuras ruas de Ivánovo, pela
cidade onde tinha nascido, onde conhecia cada pedra, cada casa Reinava
a escuridão, mas ela soube encontrar todos os lugares em que havia
estado com seu marido. Recordou o que lhe tinha dito ele, ali, na
esquina da rua Socialista, ou aqui, num banco da praça do Teatro
Municipal. E imaginava por um instante que não tinha acontecido nada,
que não havia guerra, que seu Vássia vivia e estava a seu lado. Mas logo
a dor tornava a invadi-la.

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11/09/2019 Algumas Questões Relacionadas com a Agitação e a Propaganda

Hoje fui trabalhar. Eu atendo uma máquina retorcedora. Temia não


poder ir, que me faltassem as fôrças para ocupar meu posto. Mas me
dominei. Convenci-me a mim mesma: “Vai ao trabalho, Marússia. Por
ele, pelo teu Vássia. Ele aprovará”. E hoje, enquanto trabalhava,
parecia-me que ele, o meu amado, estava a meu lado. Minhas amigas
me observavam sem revelar seus sentimentos, mas às escondidas de
mim choravam em silêncio. Agora volto do trabalho. E imagine que me
dá medo passar pelos lugares onde costumava passar com Vássia”.

Ou então este outro relato do mesmo autor, no qual descreve como nasceu a
amizade entre os servidores de uma bateria e umas moças do Komsomol de
Ivánovo:

“Dússia Lébedeva tinha feito, com outras companheiras de trabalho,


uma viagem à frente, levando presentes para os soldados e oficiais. Ali
teve ocasião de visitar uma bateria.

Servem nessa bateria uns rapazes guapos e ágeis. E como atuam bem!
Em nossa presença destruíram uma cozinha de campanha alemã e com
ela doze fritzes. “Isto é para você, Dússia — disseram-me os artilheiros
— um bom presente por motivo de sua chegada”. O que miais me
surpreendeu ali foi a limpeza: seus canhões refulgiam como se tivessem
sido lustrados. Em geral, observava-se que na bateria reinava uma
ordem exemplar.

E foi então que Dússia teve a ideia de que valia a pena fazer maior
intimidade com os artilheiros, relacioná-los com as moças de sua
brigada, estabelecendo uma amizade cordial e sincera entre uns e
outras. Mas naquele momento Dússia não se atreveu a dizê-lo aos
artilheiros. E quando voltou a Ivánovo, depois de consultar as
companheiras, decidiu-se a escrever uma carta aos servidores daquela
bateria, propondo-lhes a emulação: “Esmaguem vocês os fritzes e nós
superaremos nosso plano de produção”.

Não vos parece que o artigo citado está escrito com veracidade? Por
conseguinte, está bem escrito. Cabe a vós saber aproveitá-lo com o mesmo
acerto. É um verdadeiro achado para um propagandista.

Outro exemplo: o autor descreve como essas mesmas moças começaram a


corresponder-se com uns artilheiros que não recebiam cartas de ninguém. Um
propagandista não deve passar ao largo de um fato como este, de tanta
importância em tempo de guerra:

“Um dia, o camarada Máltsev, novo comissário da bateria, escreveu para


as garotas. Eis aqui o final da carta: “Ah, sim, um pedido mais (em
segrêdo). Em minha bateria há uns soldados, bons rapazes, que não
mantêm correspondência com suas casas por motivos que facilmente
compreendereis. Costumam estar bastante tristes, particularmente
quando chega o correio e eles não recebem carta alguma. Na realidade,
é muito penoso. Peço-lhe, Dússia, que pense no que lhe digo e me envie
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11/09/2019 Algumas Questões Relacionadas com a Agitação e a Propaganda

pelo menos uns três ou quatro endereços de suas amigas. Isso me


permitirá entregar a meus soldados tais endereços e livrá-los das
penosas esperas. Suplico-lhe que não o interprete como um atrevimento
e sim como um pedido para o bem da causa comum. E quanto ao rumo
que tome esta correspondência, os soldados o decidirão por si mesmos”.

Dússia enviou os endereços. Estabeleceu-se o intercâmbio de cartas. E


agora quando chega o correio à “nossa bateria”, não só recebem cartas
os que têm parentes próximos, como também as recebem os
combatentes cujas casas e aldeias foram destruídas pelo maldito
inimigo. Sem dúvida também os artilheiros de “nossa bateria”, nas horas
de descanso, falam nas moças do distante Ivánovo e as chamam de
“nossas garotas”.

Em seguida relata o autor outros episódios da vida das operárias de Ivánovo.


Descreve sua vida e seu trabalho de modo concreto, verídico, e se percebe que
nos oferece um pedaço da vida real. Não destaca nada intencionalmente, tudo
parece natural. É um artigo muito útil para o propagandista e, particularmente,
pará o agitador. Vós me considerais um agitador experiente. Eu não me tenho
nessa conta (risos), mas não poderei dar-vos tanto como esses artigos, sempre
que os abordeis e analiseis com toda a serenidade.

Tais artigos e tudo o que aparece de novo em nossa imprensa — o novo e


valioso no meu modo de ver — e que sugere formas de agitação mais eficazes
para os momentos atuais, publica-se melhor na imprensa militar. Ao que parece,
esta imprensa está mais próxima das emoções relacionadas com a frente.

É isto, camaradas, tudo o que eu queria dizer-vos.

Como poderíamos resumir, portanto, nossa palestra? Creio que podemos fazê-
lo do seguinte modo: nossa imprensa proporciona material suficiente; é preciso
apenas aproveitá-lo com habilidade. Temos autores de talento. Eu me referi só aos
artigos aparecidos nos últimos dias. Não falei da obra “A Frente”, de Korneitchuk,
que tem grande importância e orienta em muitas questões, trazendo um material
digno de ser analisado. É muito rigorosa a hora em que vivemos. Como já vos
disse, nosso povo cumpre um enorme trabalho que absorve todas as suas
energias. Ao mesmo tempo, o nível de vida baixou, as condições de existência
pioraram. Nosso povo é tão heroico, tão valente e firme que não há necessidade
de criar nada artificialmente, nem de exagerar na propaganda; basta tomar o
material oferecido pela vida do povo e do exército e falar com plena consciência
das dificuldades que suporta o povo e da necessidade absoluta de derrotar o
inimigo custe o que custar. Asseguro-vos que se falar-des ao povo aproveitando
tais materiais, esses método de agitação será o mais eficaz e o que maior
influência exercerá. (Aplausos.)

Início da página

Inclusão 17/11/2012

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11/09/2019 Tarefas Combativas do Komsomol nos Kolkhozes
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Tarefas Combativas do Komsomol


nos Kolkhozes
Discurso pronunciado na Recepção aos kolkhozianos de
vanguarda membros do Komsomol

M. I. Kalinin

22 de Outubro de 1942

Primeira Edição: "Komsomólskaia Pravda”, (“A Pravda do Komsomol”), 22 de outubro de 1942.


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 177-184.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Camaradas:

A guerra que nosso Estado sustenta é muito dura e


cruenta. Os alemães conseguiram arrastar vários países à
contenda: Itália, Rumânia, Finlândia, Hungria, cujos exércitos
lutam a seu lado. Todos, com exceção da Itália, são países
pequenos, mas, não obstante, o resultado é que nos vemos
obrigados a lutar sós contra uma série de Estados europeus.

Os alemães apoderaram-se de um vasto território em


nosso país, ocuparam regiões densamente povoadas.
Acreditavam que depois de alguns golpes demolidores começaria a dispersão e o
desmoronamento de nosso exército. Mas deu-se o contrário: à medida que passam
os meses, o Exército Vermelho se mostra mais tenaz na luta e aumenta sua
resistência frente ao inimigo. Isto é consequência da tenacidade de nossos
homens, educados pelo Partido Bolchevique. Existe unicamente um mau costume,
que é um estorvo para alguns de nós. Refiro-me aos que só se lembram de Santa
Bárbara quando troveja. Essas pessoas começam a combater como é preciso
somente quando veem que os alemães as estão agarrando pelo pescoço.

No estrangeiro não esperavam que nosso pais opusesse tanta resistência aos
hitleristas. Alguns imaginavam que nossas forças eram escassas, que nossa
indústria era má, que o exército era débil; imaginavam que os alemães acabariam
rapidamente conosco. A heroica resistência de nosso povo frente ao invasor
alemão provoca hoje o assombro de tais políticos.

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11/09/2019 Tarefas Combativas do Komsomol nos Kolkhozes

No estrangeiro somente os cegos podem deixar de ver a completa


unanimidade que reina entre nosso Governo e o povo. Apesar de os alemães
terem se apoderado de um grande território, verificou-se que as fôrças postas em
ação por nosso país são muito numerosas. Os próprios alemães não pensavam
encontrar uma resistência tão grande; contavam acabar conosco em três ou
quatro semanas. Agora vemos quão grande foi o seu erro.

Nosso Exército Vermelho luta com os alemães de igual para igual. Há mais: ao
lado dos alemães combatem a Rumânia, Hungria, Itália, e Finlândia, enquanto a
URSS luta sozinha. Possuímos bastante armamento, que não é pior, mas melhor
que o alemão. Começamos a manobrar melhor com nossos recursos. No
transcurso da guerra, nossos soldados e oficiais aprenderam muito. É lógico que
numa frente tão extensa existam comandos frouxos e alguns incapazes. Mas não
há dúvida alguma de que a enorme maioria dos comandos está à altura das
circunstâncias.

Naturalmente, nossas perdas não são poucas, mas os alemães perdem mais.
Interroguei minuciosamente os militares fazendo-lhes perguntas capciosas. Todos
confirmam que as baixas alemãs são muito superiores às nossas. É bem verdade
que no território soviético ocupado os alemães se apoderaram de muita população
civil. Mas nisto tampouco sairão ganhando.

O resultado final da guerra depende da resistência que ofereçamos. É muito o


que devemos agradecer aos valorosos defensores de Stalingrado. Combatem
muito bem e dão o exemplo de como se deve defender nossa terra e nossas,
populações.

Devo acrescentar que também nas demais frentes onde os alemães tentam
avançar, seus ataques tropeçam com uma firme resistência. Quanto mais
contundentes forem nossos golpes tanto mais rapidamente os soldados alemães
compreenderão qual há de ser o fim de seus sonhos de conquista.

Agora, algumas palavras sobre a situação em nossa indústria.

Conseguimos realizar com êxito a evacuação de nossas empresas das regiões


ocupadas pelos alemães. Estes, é claro, não supunham que iríamos consegui-lo.
Contavam poder utilizar imediatamente nossas fábricas para suas próprias
necessidades.

O trabalho nas fábricas evacuadas já entrou em ritmo normal. Em geral, nossa


indústria deu provas duma grande organização e duma grande capacidade de
manobra. Nesta guerra, os operários, contramestres, engenheiros e todo o pessoal
técnico e administrativo revelou — di-lo-ei com fraqueza — muito boas qualidades;
trabalham com abnegação e dia após dia aumentam a produtividade do trabalho.

Como resultado disso, nosso exército está melhor abastecido que nunca de
material bélico, equipamentos e alimentação, melhor que no começo da guerra. Na
história da Rússia, isto não ocorreu quase nunca. Assim, por exemplo, a Rússia
nunca combateu tendo seu exército suficientemente abastecido de munição.

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Conheceis o importante papel que a artilharia desempenha na guerra. A atual


conflagração demonstra que a artilharia soviética é digna de inveja. A qualidade de
nossos canhões é boa. E os produzimos em tal quantidade que, além de repor as
peças gastas e destruídas, ainda nos sobram algumas reservas. Também melhora
a situação no que se refere aos tanques. O mundo inteiro reconhece que não há
tanques melhores que os nossos.

Como vedes, a indústria soube cumprir sua tarefa. É preciso apenas que não
haja envaidecimento e que as empresas trabalhem melhor ainda. Ainda não
esgotamos, longe disso, todas as possibilidades.

Hoje, a tarefa mais árdua é superar as dificuldades da agricultura. Os alemães


ocuparam temporariamente a Ucrânia e o Kuban, territórios que produziam a
maior quantidade de trigo para o mercado, para abastecer outras regiões. Devido
a isso, as regiões orientais, as do outro lado do Volga, suportaram todo o peso da
produção tritícola. Essas regiões devem produzir o máximo de cereais, têm que
trabalhar com toda a tensão de suas energias humanas e de suas possibilidades.
Se ali se trabalhar como exigem as circunstâncias, creio que teremos comida.
Também será preciso exigir às regiões de Kalínin, Yaroslavl, Moscou, Riazan e
Gorki que aumentem o rendimento do solo e deem mais cereais. O regime
kolkhoziano nos oferece todas as possibilidades para consegui-lo. Devemos
aumentar a produção de trigo, custe o que custar. Trata-se, dum aspecto muito
importante de nossa luta para triunfar sobre os alemães.

Hoje, tanto na indústria como na agricultura a força quase fundamental — em


todo o caso, a mais ativa da população— é constituída pelo Komsomol e pelos
pioneiros. Eles arcam com uma responsabilidade muito superior à passada. No
campo ficaram muito poucos homens de menos de quarenta anos; no fundamental
ficaram só mulheres e meninos. Do Komsomol dependem hoje em grande parte os
êxitos que possamos obter na produção. Por isso, consideramos agora o
Komsomol sob outro ponto de vista. Devemos tratar seus membros dum modo
diferente, devemos ser mais exigentes com eles. Também no exército o Komsomol
constitui o núcleo mais ativo. No fundo, sois vós, precisamente, os que em muitos
aspectos têm que arcar com todo o peso da guerra. Tendes toda a vida pela
frente. Quando esmagarmos os alemães — e os esmagaremos sem dúvida alguma
sereis precisamente vós os incumbidos de reconstruir o que foi destruído e de
fortalecer e edificar nosso Estado. A guerra atual é uma grande e cruel escola para
nossa juventude. Os fascistas davam à sua juventude uma educação de quartel.
Isto lhes permitiu amestrar a juventude e impor-lhe a disciplina — uma disciplina
mecânica, está claro. É evidente que quando começarmos a golpeá-los saltará à
evidência o aspecto negativo dessa disciplina. Mas, no momento, ela ajuda os
alemães.

Quais são as tarefas que se erguem hoje perante vós do Komsomol?

Em primeiro lugar, deveis compreender que vós, kolkhozianos do Komsomol,


respondeis em grande parte por nossa agricultura. Hoje em dia, a organização
mais importante que existe no campo é o Komsomol. Seus militantes já não são os
jovens alegres de outrora, que só se preocupavam com passear na aldeia, e tocar

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acordeão; agora tocam-lhes grandes responsabilidades e, enquanto durar a


guerra, são os que devem preocupar-se com a vida da aldeia. Ainda tereis que
trabalhar muito, mas muito. Deveis responder pela marcha dos trabalhos e por sua
qualidade. Hoje, já sois maiores. O conceito que se tinha do Komsomol deve
mudar. O Komsomol é a parte mais ativa da população e é plenamente
responsável pela marcha da produção. A organização do Komsomol será a primeira
responsável -— moralmente, perante toda a população, e politicamente, perante
os organismos centrais, perante o Partido e perante o Estado — se seu kolkhoz
trabalha mal e não cumpre suas obrigações. Deveis compreender tudo isto e fazer
as consequentes deduções práticas.

Em segundo lugar, deveis acumular maiores conhecimentos práticos e teóricos


relacionados com a agricultura, sem os quais não é possível fazer progredir a
economia agrícola. No campo ficou muito pouca gente experiente, todos foram
para o exército. Hoje, como é natural, o Komsomol é quem está mais ligado ao
kolkhoz, ao qual se entrega de corpo e alma. O Komsomol não conhece outro
sistema senão o kolkhoziano. Se conheceis algo do sistema individual de economia
é de ouvido ou por remotas recordações. A antiga economia individual era uma
economia atrasada. Portanto, queirais ou não, tereis que acumular experiência
própria no campo da agricultura. Atualmente, tendes pouca experiência e escassos
conhecimentos. E sem conhecimentos o kolkhoz não marchará para a frente.
Talvez quisésseis ser engenheiros, técnicos, médicos ou ocupar algum posto
administrativo ou político. Mas hoje se trata de salvar o país, de salvar sua
independência. Sois vós quem responde pela economia. Isto quer dizer que em
primeiro lugar é preciso trabalhar onde seja mais necessário para a Pátria' Deveis
converter-vos o mais rapidamente possível em homens experientes, em mestres
do ofício, em conhecedores da produção kolkhoziana. Se falta o agrônomo, deveis
substituí-lo. É necessário que em cada organização kolkhoziana existam pessoas
que estudem profundamente os vários aspectos da economia — a agricultura, a
pecuária — e procurem os meios de obter elevadas colheitas de cereais, legumes,
batatas, linho, etc. Conviria que se destacasse mais a juventude feminina.

Em terceiro lugar, tereis que converter-vos nos principais organizadores no


campo. É claro que também para isso vos falta experiência. Para dirigir as
pessoas, o organizador deve ter alguns conhecimentos. Entende-se que uma moça
de dezoito anos tropeçará em dificuldades para dirigir. Mas ninguém nos dará
dirigentes já formados. O mais acertado será elevar com audácia aos postos
dirigentes as pessoas que revelem dons e talento de organizadores.

Temos jovens guerrilheiras. Sua missão é difícil, mas demonstram ter uma
grande iniciativa, espírito de organização, muita astúcia militar e não combatem
pior que os homens. E repare-se que a luta guerrilheira é bem mais difícil que as
fainas do kolkhoz. O guerrilheiro tem que resolver problemas de tática militar,
deve ser mais ágil que o inimigo. E, não obstante, há grande quantidade de
mulheres entre os guerrilheiros. Acredito que no campo também haverá bastantes
moças inteligentes que possam ser elevadas aos postos de direção. O que é
preciso fazer é procurá-las e promovê-las.

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Entre nós acontece muitas vezes que um posto de direção é ocupado por um
homem desses dos quais se costuma dizer que não é carne nem peixe. Esse
homem não mostra zelo nem entusiasmo pelo trabalho. Seu único mérito consiste
em se haver carregado de anos. É para substituir esses homens que devemos
promover com decisão gente nova, gente jovem: que os jovens do Komsomol se
encarreguem da direção. E isto quer dizer precisamente que deveis converter-vos
em organizadores da economia.

E, por último, a quarta tarefa, o trabalho político entre as massas. As


dificuldades da guerra também são. sentidas no campo. Pois bem, o Komsomol
deve intervir e explicar de tal modo a natureza dessas dificuldades que o povo
possa compreender que os sofrimentos ocasionados pela guerra não foram
provocados por nós, mas nos foram impostos, e que é necessário que cada
kolkhoziano tenha todas as suas forças em constante tensão. Se não enfrentarmos
todas as dificuldades com firmeza, se não as vencermos, se não derrotarmos os
alemães, cairemos numa escravidão terrível. E então não só não tornaremos a ver
nossos pais, irmãos e esposos, mas a própria vida se converterá numa maldição.

O Komsomol deve ser a parte mais ativa, mais tenaz da juventude, e com um
objetivo na vida: neste caso, o de derrotar o inimigo. Nenhum sacrifício poderá
deter-nos. É preciso aceitar todos os sacrifícios e não poupar nada com o objetivo
de conquistar a vitória.

Vedes como são grandes as tarefas que hoje se erguem diante de vós.
Portanto, é preciso incrementar numericamente o Komsomol como se faz na frente
com os soldados. Ali não exigem que o soldado saiba os estatutos e conheça a
História. Se ele dá de rijo nos alemães isto quer dizer que é o mais indicado para
ser admitido no Komsomol ou no Partido. Temos moças que trabalham como os
melhores, mas se as fazemos falar nas reuniões desconcertam-se e não são
capazes de alinhavar duas palavras. Mas, quando se fala à parte com elas,
verifica-se que são gente boa, verdadeira gente nossa. São pessoas modestas e se
embaraçam facilmente. Vós mesmos deveis selecionar ativamente e admitir no
Komsomol as pessoas provadas no trabalho.

É certo que também existem jovens que trabalham bem, porém que na hora
do balanço, por exemplo, gostam de apropriar-se de glórias alheias. Ou alguns
que, segundo parece, são boas pessoas, mas tratam de escalar posições
recorrendo a toda a sorte de manobras. Eu me absteria de admiti-los no
Komsomol. Não há motivo para abrir as portas da organização a pessoas que
recorrem a métodos desonestos para vangloriar-se. Essa gente não tem nada que
fazer nas fileiras do Komsomol. Outros ingressam no Komsomol para fazer
carreira. Por isso não se deve fazer admissões em bloco. Mas tampouco se deve
levantar barreiras artificiais. Pelo contrário, é preciso que as pessoas saibam que
se pode entrar no Komsomol, que as portas da organização estão abertas.
Conheceis bem a todos em vossas aldeias. A maioria das famílias é de gente boa.
Pois bem, com esta gente boa é que se deve reforçar as fileiras do Komsomol. É
pouco seis ou oito membros do Komsomol para toda uma aldeia. Devem ser pelo
menos uns vinte. É preciso facilitar o ingresso na organização, é preciso que

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tenhais sempre às portas do Komsomol uma multidão de jovens ansiosos por nele
ingressar.

Camaradas, é isto, pouco mais ou menos, tudo o que queria dizer-vos. As


questões que abordei aqui não são novas para vós. Não obstante, devereis tomá-
las como guia, penetrar bem seu sentido e começar a pôr em prática as medidas
que a guerra nos exige e das quais acabo de falar. Não esqueçais que o êxito na
agricultura equivale a ganhar uma importante batalha nesta grande guerra. Vós,
moços e moças do Komsomol, respondeis por esses êxito.

Desejo-vos muita sorte em vosso trabalho. Se algum dia chegarmos a nos


reunir de novo, desejaria ver mais robustecida a organização do Komsomol nos
kolkhozes e ouvir que a organização do Komsomol no campo converteu-se numa
organização ainda mais combativa, em uma organização política, para que no
campo se comprove ainda mais que o Komsomol é uma fôrça poderosa.

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Inclusão 21/11/2012

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Entrevista com os Dirigentes das


Reservas de Mão de Obra do
Estado e das Organizações do
Komsomol das Escolas
Profissionais, Ferroviárias e de
Aprendizagem Industrial
M. I. Kalinin

22 de Outubro de 1942

Primeira Edição: "Komsomólskaia Pravda”, ("A Pravda da Komsomol”), 18 de novembro de 1942.


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 185-198.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

No dia 23 de outubro de 1942, o Presidente do Presídium


do Soviet Supremo da URSS, Mikhail Ivánovitch Kalínin,
recebeu no Kremlin um grupo de dirigentes das Reservas de
Mão-de-Obra do Estado e das organizações do Komsomol,
participantes da Conferência sobre questões relacionadas com
o trabalho político de massas nas Escolas Profissionais,
Ferroviárias e de Aprendizagem Industrial.

Na entrevista, que durou três horas, os chefes suplentes


das direções regionais, territoriais e republicanas das
Reservas de Mão-de-Obra, encarregados do trabalho político de massas e os
dirigentes dos Comitês regionais e territoriais da União das Juventudes Comunistas
Leninistas da URSS informaram o camarada Kalínin de como realizavam seu
trabalho educativo entre a juventude chamada pelo Estado para receber uma
instrução profissional nas citadas escolas e de como lutam pela boa qualidade de
tal instrução.

Em sua intervenção, Mikhail Ivánovitch Kalínin assinalou a excepcional


importância que tem a preparação da juventude nas Escolas Profissionais,

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Ferroviárias e de Aprendizagem Industrial, detendo-se numa série de problemas


da preparação e educação da juventude.

A seguir publicamos um extrato da entrevista.

A camarada Góguina (chefe suplente da Direção das Reservas de Mão-de-Obra


da região de Tula, encarregada do trabalho político): — Todas as escolas
profissionais da região de Tula foram destruídas pelos invasores alemães, com
exceção das que se achavam na própria cidade de Tula.

Nossos alunos trabalharam muito na restauração de todas as escolas e na


reparação de suas instalações. É preciso destacar o trabalho da Escola Profissional
número 12, que obteve o segundo prêmio da emulação socialista em toda a URSS

O camarada Kalínin: — Houve casos em que os jovens abandonaram vossas


escolas sem permissão?

A camarada Góguina: — Houve alguns casos. É bem verdade que quando os


instrutores dão provas duma solicitude paternal, quando estudam as
peculiaridades dos alunos e os tratam de forma individual, os jovens não
abandonam a escola; ao contrário, ali onde os instrutores e educadores tratam os
alunos com desapego e onde a própria educação se faz aos gritos, verificam-se
casos de abandono da escola.

O camarada Kalínin: — Isto indica que a educação ainda não foi devidamente
organizada.

A camarada Góguina: — É um sério defeito de algumas de nossas escolas. Em


muitas delas, onde os instrutores trabalham bem e revelam mestria pedagógica,
obtêm-se êxitos no ensino profissional. Grandes êxitos obteve nossa Escola
Ferroviária n? 2, que foi destacada ao fazer-se o balanço da emulação. Nessa
escola há um bom educador, o instrutor Rassókhin, que dedica grande carinho aos
jovens.

Camarada Kalínin, em uma conferência você disse que para ser pedagogo é
preciso sê-lo de nascença. Pois bem, esse instrutor é um pedagogo nato. Sabe
combinar a educação política da juventude com o ensino prático. Em Tula, seus
alunos estenderam um ramal ferroviário de quatro quilômetros, pelo que
receberam um prêmio e o agradecimento do Soviet e do Comitê do Partido da
cidade.

O camarada Kalínin: — Como é que você trata seus alunos, como a meninos já
crescidos ou como a pessoas adultas?

— Você falou de educação e de pedagogia, que quer dizer isso?

A camarada Góguina: — Estabeleço uma diferença entre o sistema de


educação nas escolas comuns e nas de reserva de mão-de-obra. A diferença é
grande, já que nossos alunos são preparados diretamente para serem operários.

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O camarada Kalínin: — Temo que você os esteja convertendo em pessoas


adultas antes do tempo, que lhes tire tudo o que é próprio da juventude. Você,
como pedagogo, deve percebê-lo. E diga-me: — os jovens conservam ou não sua
fogosidade juvenil?

A camarada Góguina: — Creio que a conservam. Por exemplo, em nossa


Escola Profissional nº. 3 funcionam bastante bem um coro de 60 jovens, círculos
de instrução militar, conjuntos artísticos e outros.

O camarada Kalínin: — Agora estamos em guerra e é preciso que as pessoas


sejam valentes, que gostem do perigo e isso não se consegue com círculos corais.
Os círculos, por si sós, são uma boa coisa, mas é necessário que vossos rapazes
não se sintam como se estivessem num convento. Os jovens devem ser vivazes e
valentes.

A educação da juventude é uma obra complexa e aqui o principal é o seguinte:


de um lado, deve-se proporcionar aos jovens uma orientação determinada, e por
outro, não se deve paralisar a faceta volitiva de seu caráter. Eles estão numa
idade em que é fácil destruir esses traço de seu caráter. Isto encerra um grave
perigo. É preciso evitar que se transformem em seres enfastiados, que tentam
passar por adultos antes do tempo.

A camarada Ivanova (instrutora da Seção de Escolas Profissionais e de


Aprendizagem Industrial do Comitê regional do Komsomol de Górki): — Em nossa
região, uma das grandes escolas profissionais foi destruída pela aviação alemã.

O camarada Kalínin: — E os jovens foram afetados pelo bombardeio?

A camarada Ivanova: — Não. Os jovens não sofreram dano algum, mas parte
deles abandonou a escola depois do bombardeio.

O camarada Kalínin: -— Conte-nos este incidente: os jovens abandonaram a


escola; e vocês, que fizeram em face disso?

O camarada Buchúiv (chefe suplente da Direção Regional das Reservas de


Mão-de-Obra de Górki, encarregado do trabalho político): — Graças ao diretor, ao
subdiretor encarregado do trabalho político e aos instrutores, a maioria dos alunos
regressou à escola. Os próprios jovens repararam o edifício e as instalações. Hoje
essa escola é uma das melhores da região.

O camarada Kalínin: — Como é que vocês interpretaram, do ponto de vista


político, o fato de que os jovens tenham corrido e como o explicaram a eles, como
abordaram vocês este assunto?

O camarada Buchúiev: — Antes de tudo lhes dissemos que Hitler necessitava


daquele bombardeio, como precisava da guerra. Explicamos detalhadamente que
devíamos reparar a escola com nossas próprias fôrças e que nosso dever era
preparar quadros para a indústria.

O camarada Kalínin: — Isso é pouco. Vocês deviam ter reunido os jovens e


dizer-lhes: — “Sois uns covardes! Fugistes. Que defensores da Pátria sereis,

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portanto? Vossos pais lutam contra os fascistas e vós fugis para as aldeias. Nós
pensávamos que íeis salvar a escola, mas acontece que vos pusestes a correr.
Onde está, pois, vossa valentia?” Era preciso dizer-lhes: — “Sois uns covardes e
vos cobristes de vergonha ante toda a Rússia! Aparece apenas um avião e correis”.

É que os jovens devem ser tratados como jovens. Se eu fosse o diretor da


escola lhes teria dito: — “Muito bonito! Eu fiquei só e vós correstes. Nós
acreditávamos que éreis uns jovens valentes e tínhamos a intenção de dar-vos
fuzis e metralhadoras. E vós, pernas para que vós quero... Será que vou dar aulas
a uns covardes que fogem diante do menor perigo?” É assim que se deveria tê-los
envergonhado e dizer-lhes logo depois disso: — “Para que seja menos perigoso,
vamos cavar umas trincheiras e preparar tudo para o caso de outro bombardeio”.

É claro, os meninos se assustaram e fugiram, mas cada um deles quisera ser


um valente. Asseguro-lhes que de cada cem noventa e nove querem ser valentes.

Vocês devem preparar os alunos, pois envergonhá-los é coisa fácil. Poderiam


fazê-lo se lhes dissessem mais ou menos como eu: — “Vós escapastes e somente
fiquei eu, um velho, Não me ajudastes”. Então, se envergonhariam e meditariam.
É assim que se deve fazer o trabalho de agitação.

E se, por hipótese, tivessem ficado três meninas, seria o caso de apontá-las
como exemplo, dizendo: — “Aqui tendes três valentes que ficaram enquanto os
outros fugiam”, Você, ao contrário, soltou-lhes um discurso comicieiro, com frases
de tipo geral, passando por alto o fato fundamental. Mas nisto residia todo o
aspecto político da questão. E assim acontece a cada passo!

Quero lembrar que vocês não devem somente preparar gente que conheça sua
profissão, mas também combatentes, cidadãos soviéticos.

A camarada Ivanova: — Em nossa região vai mal o incremento das


organizações do Komsomol. Ali temos uma escola que figura entre as
retardatárias, a de número 3, ligada à fábrica da Sórmovo.

O camarada Kalínin: — Por que?

A camarada Ivanova: — Depende muito da direção, mas ali já trocaram três


vezes de diretor. A organização do Komsomol não está em condições de fazer
grande coisa. Além disso, durante muito tempo, não havia lá um diretor suplente
incumbido do trabalho político. O contingente de alunos procedia naquela época
das regiões de Orei e Tula. Dentre mil e quinhentos jovens somente oitenta e sete
pertenciam ao Konsomol. Compreende-se que eles não podiam fazer grande coisa.

O camarada Kalínin: — Diga-me: organizam vocês algumas vezes saraus ou


bailes?

A camarada Ivanova: — Ao fazermos o balanço do mês, depois da reunião,


organizamos um baile.

O camarada Kalínin: — Os alunos têm instrumentos de música?

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A camarada Ivanova: — Sim.

O camarada Kalínin: — É preciso organizar noitadas para que os jovens


dancem e se distraiam.

A camarada Ivanova: — Realizamos uma conferência que foi assistido por


quatrocentas pessoas. Convidamos velhos operários e também jovens que fizeram
a aprendizagem nas escolas profissionais. Os velhos operários contaram em que
condições trabalhavam antes do advento do Poder Soviético e como trabalham
agora. Também falaram das facilidades oferecidas hoje em dia para os que estão
aprendendo um ofício.

Os alunos mais desenvolvidos contaram como conseguiram seus êxitos. O


estudante Belov, de quinze anos de idade, cumpriu em cinco dias 215% de sua
tarefa. Depois da conferência houve concerto e baile.

O camarada Kalínin: — Perguntei pelo baile porque, tomo a repeti-lo, não


quero que vocês convertam artificialmente os jovens nuns velhos. Não se deve
deixar a dança de lado, porque esta ensina às pessoas a plasticidade do
movimento. Quem sabe dançar, sabe entrar numa casa como é devido e seus
movimentos serão mais ágeis. Nossa juventude gosta da dança. Verifico isto
através dos jovens com quem trato. E já que o povo gosta, não há porque frear
essa preferência. É preciso unicamente evitar que se transforme num passatempo
constante, e sim — que sirva de descanso.

A camarada Galilina (chefe suplente da Direção das Reservas de Mão-de-Obra


da República Socialista Soviética Autônoma da Tartária): — Temos 11 escolas
profissionais, 2 ferroviárias e 23 de aprendizagem industrial, nas quais estudam
16.000 jovens. Atribuímos grande importância ao desenvolvimento da atividade
artística de nossa juventude. Nossos educadores trabalharam muito para organizar
grupos de canto, dança e música; prepararam e realizaram com bastante êxito um
concurso entre os melhores conjuntos de madores das escolas de vanguarda. Os
jovens gostam muito de canto, da declamação e outros gêneros de atividade
artística.

O camarada Maximov (chefe suplente da Direção das Reservas de Mão-de-


Obra de Leningrado, encarregado do trabalho político) fala do partido e do trabalho
dos alunos e do pessoal das escolas profissionais, ferroviárias e de aprendizagem
industrial da cidade de Leningrado, e da ajuda que prestam ao comando milhar na
defesa da cidade contra os invasores fascistas alemães. Os alunos ajudaram a
restabelecer a circulação dos bondes em Leningrado e a reparar o Palácio dos
Pioneiros e outros edifícios da cidade.

Mikhail Ivánovitch Kalínin ouviu também as intervenções de outros


funcionários das Reservas de Mão-de-Obra e de dirigentes das organizações do
Komsomol da RSS da Bachkíria, da região de Molotov, da RSS do Azerbaidjão, das
regiões de Tcheliabinsk e Yaroslavl, da RSS Autônoma dos Komi, das regiões de
Arcángels e Kalínin, da cidade de Moscou e da região de Moscou.

Discurso de Mikhail Ivánovitch Kalínin


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Camaradas: A educação dos que estudam no sistema de Reservas de Mão-de-


Obra é uma empresa muito árdua e delicada e o método de abordá-la, um dos
mais difíceis. Além disso, a própria tarefa de preparar reservas de mão-de-obra
para o Estado é uma tarefa complexa.

Em primeiro lugar, é necessário preparar operários mais ou menos


qualificados; em segundo lugar, queremos que a juventude que vem engrossar as
fileiras da classe operária seja educada no espírito soviético e, em terceiro lugar, o
assunto se complica devido à atual situação, em consequência da guerra.

O Estado encomenda aos que estudam no sistema das Reservas de Mão-de-


Obra toda uma série de trabalhos destinados a cobrir as necessidades da frente
que não teriam que fazer em tempo normal. Complicam-se os problemas
relacionados com a alimentação, o vestuário e o calçado, sem falar em que a
própria guerra já coloca a organização das Reservas de Mão-de-Obra em situação
bastante difícil. Está claro que numa situação como esta resulta muito mais difícil
formar operários como se deve.

A guerra está agora em pleno desenvolvimento e, apesar dos alunos do


sistema das Reservas de Mão-de-Obra não serem chamados às fileiras, é bem
possível que alguns deles tenham que combater. Por isso é absolutamente natural
distraí-los de seu trabalho direto para que recebam treinamento militar. Numa
época normal, de paz, dedicaríamos toda a nossa atenção à aquisição de
conhecimentos e duma boa qualificação. Na situação atual, pelo contrário, somos
obrigados a praticar a instrução militar em todas as escolas. Estamos preparando
operários qualificados, mas, se as circunstâncias exigirem que partam para o
combate, é necessário que estejam preparados para isso. Cometeríamos um erro
imperdoável se não lhes proporcionássemos conhecimentos militares. Por isso
considero que, na situação atual, os de Leningrado procedem acertadamente
quando dão uma orientação militar à organização de seus alunos, apesar das
dificuldades que isto representa para os jovens.

Temos a obrigação de formar operários jovens que conheçam bem o seu ofício,
mas ao mesmo tempo devemos formar cidadãos soviéticos, combatentes, de modo
que a juventude compreenda qual é seu dever para com a Pátria, ponha mais
empenho era aprender o ofício, o domine com maior rapidez, produza, no processo
da aprendizagem, mais armas e munições para o Exército Vermelho, estude o
manejo das armas e se desenvolva fisicamente.

A Pátria não esquecerá o heroísmo de seus filhos que hoje lutam contra os
invasores fascistas alemães nas frentes da Guerra Patriótica.

Também se lembrará, agradecida, do trabalho abnegado de nossos moços e de


nossas moças, que estudam nas escolas profissionais, ferroviárias e de
aprendizagem industrial, que ajudam a frente e se esforçam por estudar e
trabalhar o melhor possível na retaguarda.

Ao falar da educação, devemos dizer que é muito difícil abordar praticamente


este problema. Para isto sé requer que o pessoal dela encarregado seja muito
qualificado.
https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1942/10/22-1.htm 6/11
11/09/2019 Entrevista com os Dirigentes das Reservas de Mão de Obra do Estado e das Organizações do Komsomol das Escolas Profissionai…

Jovens de diversas regiões e de diferentes camadas da população acorrem ao


sistema das Reservas de Mão-de-Obra. São moços e moças da cidade e do campo.
Trata-se, é claro, de pessoas diferentes umas das outras. Tentai educá-las de
forma que se desenvolvam por igual! Não é fácil a tarefa. Além disso, não
devemos perder de vista um só instante que se trata quase de uns meninos, com
todas as suas inclinações infantis. É verdade que a guerra e o ambiente que os
cerca os faz maiores do que seriam em tempo de paz. Não obstante, nosso desejo
é que conservem o mais possível suas inclinações juvenis. É indubitável que todo
este conjunto de problemas é muito difícil de ser solucionado na prática.

Lê-de a literatura pedagógica universal. Ela nos oferece uma experiência rica e
variada no terreno da educação do homem. Uns afirmavam que o melhor é educar
os jovens na cidade; outros repeliam esta ideia e sustentavam a tese de que a
educação deve fazer-se num ambiente rural. Existiam muitas outras teses e
proposições sobre este tema. Apesar disso, não se pode dizer que tenha sido
elaborado definitivamente e que se tenha cristalizado um determinado sistema de
educação. Hoje, o sistema deve ser diferente do de três anos atrás, por exemplo.
Antes, por assim dizer, formávamos intelectuais e não homens destinados ao
trabalho físico. Pessoalmente considero desacerta- do tal sistema educativo, pois,
apesar de tudo, em nosso Estado a massa fundamental da população se dedica ao
trabalho físico. E diante de nós se apresentou a questão: que fazer para que
nossos jovens sejam eficientes no trabalho físico e ao mesmo tempo
intelectualmente desenvolvidos?

Hoje talvez se tenha acentuado em certa medida a tendência de aumentar as


forças físicas, inculcar hábitos de trabalho, a tendência de habituar as pessoas a
suportar toda sorte de adversidades, o que permitirá submeter nossa juventude a
uma série de provas para curti-la. Assim como com os exercícios físicos e as
competições esportivas de todo gênero visamos a temperar a fôrça física, da
mesma maneira, com a submissão a uma rigorosa disciplina e inculcando hábitos
de trabalho devemos curtir nossa juventude para que resista mais facilmente a
todas as dificuldades com que cada homem pode tropeçar no caminho da vida.

Para isso, torna-se agora necessário que nossa juventude esteja preparada
para superar dificuldades e tome apego ao trabalho com o fim de que, depois de
passar por esta escola, sinta necessidade de trabalhar.

Nas fábricas existe uma camada considerável de operários especializados para


os quais o ver-se privado da possibilidade de trabalhar equivale a perder o sentido
da vida. Esses homens, ao serem obrigados a deixar o trabalho, seja por velhice
ou enfermidade, parecem perder a metade de seu próprio ser, porque estão
habituados ao trabalho, por que têm carinho pela sua profissão e, ao se verem
privados da possibilidade de exercê-la, parecem perder todo o apoio na vida. Nós
queremos que estas qualidades de amor ao trabalho sejam inculcadas, em maior
ou menor grau, em nossos jovens operários.

É evidente que não estavam com a razão os camaradas que, ao intervir aqui,
queriam fazer recair a tarefa da educação unicamente sobre os instrutores. Se eu
fosse diretor duma escola profissional e me perguntassem que instrutor é

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1942/10/22-1.htm 7/11
11/09/2019 Entrevista com os Dirigentes das Reservas de Mão de Obra do Estado e das Organizações do Komsomol das Escolas Profissionai…

preferível: o que tem dotes pedagógicos, mas conhece mal seu ofício, ou o que
está pouco preparado em pedagogia, mas é um mestre no seu ofício — eu daria
minha preferência ao que tem pouca preparação pedagógica mas é bem
qualificado no seu ofício.

Por que procederia assim? Porque a influência do instrutor só será eficaz no


caso em que os alunos sintam que ele lhes proporciona um conhecimento real do
ofício. Este tipo de instrutores será sempre benéfico para os alunos. Citarei um
exemplo. Antes, havia na Universidade professores de tendências reacionárias,
porém que conheciam a fundo sua matéria e sabiam explicá-la com muita arte.
Sempre acorriam numerosos ouvintes às conferências desses catedráticos, apesar
de os estudantes saberem que eram uns reacionários. E existiam outros
professores muito loquazes, que gostavam de empregar frasezinhas liberais e
eram muito eloquentes. Nas suas primeiras conferências, os assistentes enchiam a
aula. Mas depois os estudantes sérios deixavam de comparecer, porque não lhes
ensinavam nada.

O mesmo acontece com nossos instrutores. Se conhecem bem o que trazem


entre as mãos e sabem transmitir aos alunos seu ofício e seus conhecimentos,
cumprirão a missão.

No que respeita ao fato de que tanto os instrutores como as mulheres


encarregadas da limpeza devem educar os meninos, isto não deve entender-se no
sentido literal, mas sim que tanto uns como outras, com sua conduta, com o fiel
cumprimento de seus deveres e com o exemplo, deve incutir aos alunos a afeição
ao trabalho, ao esmero e à ordem. Se a mulher encarregada da limpeza faz bem o
seu trabalho e cuida para que os rapazes não façam lixo e os repreenda por isso,
assim ela lhes in- culca determinados hábitos e sua influência sobre os alunos é
positiva. Mas ela o faz porque o diretor lhe exige o cumprimento de suas
obrigações.

É muito difícil que uma mesma pessoa reúna as qualidades de bom ajustador
ou torneiro e de bom pedagogo. Aqui se disse com toda a razão que há instrutores
que tratam paternalmente os meninos, mas, em meu entender isto se deve ao
seguinte: é difícil imaginar que um bom operário não ame sua profissão, que esta
lhe seja indiferente, que não ponha a alma nela. Um caso desses seria mais uma
exceção do que um fenômeno comum. Um bom instrutor, cuja psicologia está
intimamente ligada à sua profissão, empenha-se em transmitir seus
conhecimentos aos alunos e, sem intenção especial, lhes dedica atenção em tudo.
Esta é a essência da educação profissional da juventude.

Somente um instrutor que domina sua especialidade, que seja um mestre no


seu ofício poderá ajudar seus alunos a aprender esses ofício. Devemos inculcar nos
alunos o sentimento da honra profissional e isto só pode ser feito por um bom
mestre, que conheça a profissão e sinta carinho por ela. Ao resto do pessoal só
cabe cumprir suas obrigações com consciência. Se o fazem bem, obter-se-á
indiretamente um efeito educativo, já que com seu exemplo habituam os alunos à
ordem e lhes in- culcam determinados hábitos. É o ambiente que exerce sua
influência através das relações cotidianas.

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1942/10/22-1.htm 8/11
11/09/2019 Entrevista com os Dirigentes das Reservas de Mão de Obra do Estado e das Organizações do Komsomol das Escolas Profissionai…

Como já disse, desejamos fazer de nossos jovens bons operários


especializados e, de outra parte, bons cidadãos soviéticos. Nisto reside
precisamente a responsabilidade dos dirigentes políticos do sistema das Reservas
de Máo-de-Obra, que devem cultivar sistematicamente em nossos jovens
operários a noção de que são membros da classe operária do País Soviético, que
essa classe é a classe dirigente na sociedade soviética e é a que dirige toda a
nossa vida. Estas são as ideias fundamentais que os dirigentes políticos, mais do
que ninguém, devem inculcar na nossa juventude.

O Estado soviético é um Estado de operários e camponeses. No mundo não


existe outro Estado como o nosso e nós somos seus defensores, seus
representantes. Esta é a propaganda que deverão realizar dia a dia nossos
dirigentes políticos. Os êxitos desta propaganda dependerão de sua habilidade.

Aqui me perguntaram: — “Qual deve ser a participação do Komsomol no


sistema das Reservas de Mão-de-Obra?”

O sistema das Reservas de Mão-de-Obra é um sistema estatal.

É natural que o Komsomol desempenhe e deva desempenhar um importante


papel em tal sistema, já que a massa dos alunos das Reservas de Mão-de-Obra
está em idade de pertencer ao Komsomol. Se entre eles há poucos membros do
Komsomol, isto se deve simplesmente à nossa própria negligência. Quanto ao
mais, dentro de dois anos, 90% daquela massa deverão pertencer ao Komsomol.
Mas, acaso isto significa que o Komsomol deve ser o dirigente administrativo ou
político das escolas profissionais?

Claro que não.

O Komsomol é uma organização política que forma a ideologia política da


juventude, faz com que essa ideologia adquira o espírito do Partido, prepara os
jovens para seu ingresso no Partido.

Mas, talvez seja a parte educativa a que deve correr por conta do Komsomol?
Creio que não. E mesmo que seja possível que meu pensamento radical a respeito
não seja do agrado do Komsomol, julgai vós mesmos: nossas escolas e
universidades se compõem integralmente de jovens em idade de pertencer ao
Komsomol; mas, será que este os dirige? O Komsomol os ajuda a se formarem
politicamente, torna-os mais conscientes, leva-os às organizações do Komsomol,
organizações independentes que, em certo grau, não dependem dos organismos
do Estado, que são os que administram as escolas e universidades.

Quem responde pela educação das Reservas de Mão-de- Obra? Você,


camarada Moskátov(1), responde pela educação destas reservas e o Komsomol o
ajuda. Você e não o Komsomol será quem vai responder perante o Governo pelos
defeitos que possa haver nisto. É possível que de passagem se digar ao
Komsomol: “Também vós, queridos camaradas, trabalhais mal", mas não é aos
dirigentes do Komsomol que se destituirá do cargo, e sim ao chefe das Reservas
de Mão-de-Obra.

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1942/10/22-1.htm 9/11
11/09/2019 Entrevista com os Dirigentes das Reservas de Mão de Obra do Estado e das Organizações do Komsomol das Escolas Profissionai…

Por conseguinte, aqui o trabalho de direção compete aos organismos das


Reservas de Mão-de-Obra do Estado.

Passemos agora ao assunto de quem deve ser, portanto, o educador direto da


juventude das Reservas de Mão-de-Obra. Acabo de dizer o quanto é difícil o
trabalho do dirigente político e do educador. Essa tarefa deve ser atribuída a
pessoas hábeis e dotadas de preparação teórica. Em geral, são preferíveis para
essa tarefa pessoas adultas e experientes. Deve-se entregar este trabalho a
membros do Komsomol — permiti-me a expressão — que já tenham ultrapassado
a ideologia do Komsomol. Parece-me que as pessoas de idade mais madura
servirão melhor para esta obra. Se se apresentasse diante dos rapazes um de sua
idade, eles não lhe dariam muita confiança e lhe diriam: “Não hás de saber mais
do que nós!” Os jovens querem pessoas de prestígio e nós devemos inculcar-lhes o
respeito às pessoas de prestígio.

Parece-me que nesta tarefa as organizações do Komsomol devem


desempenhar o papel de ajudantes, devem emprestar um pouco de fogo aos
dirigentes dotados de experiência e de conhecimentos, porém que já tenham
perdido algo de seu ardor. Creio, inclusive, que um educador mais experiente
saberá melhor fazer intimidade com a juventude. Claro que não se porá a jogar
futebol com os jovens, nem a competir em provas de natação com eles. Trata-se
da influência política, do prestígio, do desejo dos jovens de adquirir os
conhecimentos que ele possui, todas elas coisas valiosas que alguém com a
mesma idade nem sempre possui. Os jovens sempre poderão dizer a um instrutor
da mesma idade que a deles: — “Puxa, que espécie de mestre arranjamos; não
somos menos desempenados que tu e sabemos tanto quanto tu!” Deve-se levar
em conta a idade. Não quero dizer que os membros do Komsomol devem ser
desprezados neste trabalho. Simplesmente me parece que as pessoas de idade
madura são preferíveis.

Considero que, do ponto de vista formal, o Komsomol deve desempenhar no


sistema das Reservas de Mão-de-Obra o mesmo papel que desempenha nas
empresas e instituições. E, de fato, o Komsomol desempenha aqui um papel de
suma importância, pois é o auxiliar do Partido na educação dos jovens quadros
operários.

O Komsomol deve criticar os defeitos e exigir que a educação seja organizada


devidamente. Se o Komsomol participasse de um ou de outro modo na direção,
arcaria também com a responsabilidade e não teria a necessária liberdade de
ação. Em nenhum país o Komsomol ocupa um lugar tão destacado como no nosso.
Eu mesmo o aprecio extraordinariamente. Mas não se lhe devem atribuir funções
que não lhe competem.

Os casos de abandono das escolas profissionais devem-se á má organização. É


claro que no princípio os moços e moças que saíram das aldeias não se sentem à
vontade. Na cidade tudo lhes causa medo. Eu o digo por experiência própria. É
como se caísse num mundo completamente estranho. Além disso, estão
acostumados à liberdade e na escola impera a disciplina. Para acostumar-se à
fábrica é também preciso tempo e um período bastante grande. Em dois meses a

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1942/10/22-1.htm 10/11
11/09/2019 Entrevista com os Dirigentes das Reservas de Mão de Obra do Estado e das Organizações do Komsomol das Escolas Profissionai…

gente não se habitua e no princípio tudo mete medo, E se acrescentarmos isso à


má organização, certos defeitos e alguma desordem, compreender-se-á que seja
difícil aos jovens se adaptarem.

Considero que nas escolas urbanas das Reservas de Mão-de-Obra deverá


haver mais alunos procedentes das cidades, o que facilitará vosso trabalho. É certo
que parte da juventude urbana sonha com outros trabalhos, aspira a trabalhar
num escritório ou como contador, mas também desta juventude se pode tirar
operários bons e qualificados. Isto é muito importante.

Compreendo toda a dificuldade do trabalho no sistema das Reservas de Mão-


de-Obra, mas o empreendimento a que vos entregastes e de suma importância
para o Estado. Tende presente que estamos preparando novos quadros de jovens
operários dos quais dependerá o fortalecimento do regime soviético. O camarada
Stálin salientou mais de uma vez que não podemos permanecer indiferentes diante
da forma como vão se completando em nosso pais as fileiras da classe operária.
Queremos que vá à classe operária a parte melhor de nossa população, que na
sociedade soviética a classe operária alcance um elevado nível político e
intelectual.

A tarefa que vos foi entregue é grande e trabalhosa. Se conseguirmos dar-lhe


cumprimento, teremos prestado um grande serviço ao nosso país.

Desejo-vos muito êxito em vosso trabalho!

Início da página

Notas de rodapé:

(1) P. Moskátov — Chefe da Direção Central das Reservas de Mão-de-Obra, anexa ao Conselho de
Comissários do Povo da URSS. Depois, vice-ministro das Reservas de Mão-de-Obra. (N. da R.).
(retornar ao texto)
Inclusão 29/11/2012

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11/09/2019 Discurso na Reunião Comemorativa do XXV Aniversário da Grande Revolução Socialista de Outubro Celbrada pelos Alunos e pel…
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Discurso na Reunião
Comemorativa do XXV Aniversário
da Grande Revolução Socialista de
Outubro Celebrada pelos Alunos e
pelo Pessoal das Escolas
Profissionais, Ferroviárias e de
Aprendizagem Industrial da
Cidade de Moscou
M. I. Kalinin

2 de Novembro de 1942

Primeira Edição: “Komsomolskáia Pravda’’, (“A Pravda do Komsomol"), 12 de novembro de 1942.


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 199-204.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Camaradas:

Vossa reunião é consagrada ao vigésimo-quinto


aniversário do Poder Soviético. Passaram vinte e cinco anos
desde a instauração do regime soviético em nosso país. Pelo
seu significado, este é um acontecimento único na vida da
humanidade. A história não conhece outro acontecimento
igual, nem sequer semelhante a este.

No dia do vigésimo-quinto aniversário da Revolução de


Outubro celebramos a emancipação dos trabalhadores de
nosso país, que se libertaram dum regime reacionário e explorador. É preciso
compreender bem o sentido deste acontecimento, porque conheceis o regime
antigo apenas de ouvido ou através de livros e conversações. E estas conversações
podem ser da natureza mais diversa. Se encontrardes um antigo ricaço ou um
kulak expropriado, ouvi-lo-eis elogiar o velho regime. Mas se encontrardes alguém

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11/09/2019 Discurso na Reunião Comemorativa do XXV Aniversário da Grande Revolução Socialista de Outubro Celbrada pelos Alunos e pel…

que era pobre, que era operário, camponês médio ou empregado, eles vos
contarão os aspectos penosos da vida dos operários, dos camponeses e dos pobres
da cidade na Rússia de antes da Revolução, na Rússia tzarista.

A Grande Revolução de Outubro modificou radicalmente as condições de vida


dos trabalhadores de nosso país. Hoje temos o regime soviético. Muitos jovens
excelentes morreram lutando pelo regime soviético. Também hoje a juventude luta
pelo regime soviético, e não só na própria frente, mas também na retaguarda, nas
fábricas e grandes oficinas.

Este ano celebramos nossa festa empenhados numa guerra cruel contra os
fascistas alemães. Quando a celebrávamos em tempo de paz, tínhamos dois dias
de festa, a jornada de trabalho era menor e em nossa mesa havia maior
abundância. Hoje a celebramos numa hora em que grande número de jovens
soviéticos, nossos camaradas, encontram-se em território inimigo, onde estão
passando por terríveis provas. Parte deles morreu nas mães dos monstros
fascistas ou está sendo assassinada por eles. Já vedes em que tempos celebramos
o vigésimo-quinto aniversário do Poder Soviético.

As Reservas de Mão-de-Obra — se nos referirmos às escolas profissionais e de


aprendizagem industrial — foram criadas em nosso país antes da guerra. Em que
consiste sua importância? Em que darão à nossa indústria a possibilidade de
completar constantemente seu pessoal operário com gente que conheça a
produção.

Não é fácil a tarefa de preparar operários competentes. Para isso é preciso


dois ou três anos, e para chegar a ser um operário bastante qualificado são
necessários três ou quatro anos. Não é obrigatório que se passe todo esses tempo
na escola. Para que uma pessoa aprenda a trabalhar bem, os hábitos
fundamentais lhe devem ser proporcionados na escola e, depois, completar sua
aprendizagem no trabalho prático.

Devereis trabalhar em nossas fábricas como operários profissionais. Muitos,


involuntariamente, pensarão: — “Sendo assim, minha vida já está determinada?
Agora, a escola profissional ou de aprendizagem industrial e depois devo
converter-me em operário de uma fábrica”. Alguns talvez vacilem e tenham suas
dúvidas sobre se isto está certo. Talvez tivesse sido melhor trabalhar num
escritório, talvez o trabalho ali seja mais limpo e mais fácil?

Mas é realmente melhor?

A isto devo responder-vos concretamente, pois passei trinta anos de minha


vida trabalhando nas fábricas e agora já tenho vinte de escritório (animação na
sala) e estou em condições de falar sobre um e outro trabalho. Onde se está
melhor? Indubitavelmente, na fábrica, na oficina duma fábrica.

É claro que no princípio, quando passardes da oficina da escola profissional


para as enormes naves de uma fábrica, vos sentireis algo intimidados. Os
primeiros dias, o primeiro mês ou os dois primeiros meses vos parecerão difíceis
Mas, depois, o ambiente fabril, o próprio trabalho vão se apoderando da gente

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11/09/2019 Discurso na Reunião Comemorativa do XXV Aniversário da Grande Revolução Socialista de Outubro Celbrada pelos Alunos e pel…

cada vez com mais fôrça. E após trabalhar um par de anos a Fábrica se converterá
em algo familiar para vós. E nenhum trabalho de escritório pode igualar-se ao
trabalho na fábrica pela satisfação íntima que este proporciona, já que se pode ver
e perceber diretamente o fruto do seu trabalho.

Para que o homem possa ir com mais decisão para a fábrica é preciso que
conheça bem seu ofício. Nos tempos em que eu era aprendiz, cada um queria
trabalhar melhor que os demais. Se era torneiro, queria ser um bom torneiro e se
era ajustador, queria ser um bom ajustador. O trabalho numa fábrica é muito
interessante, é um trabalho que apaixona por si mesmo e agora é ainda mais
interessante do que antes, pois as condições são outras.

Antes, tudo se fazia à mão. Isto tinha uma grande importância. Mas, por mais
hábeis que sejam as mãos, as máquinas são melhores. Antes, havia poucas
máquinas. Hoje, nossas fábricas estão equipadas com uma enorme quantidade de
maquinaria. Isto faz com que o trabalho em nossas fábricas seja mais
interessante, mas exige ao mesmo tempo mais conhecimentos e mais destreza.

Terminar a escola sem ter dominado bem o ofício significa não poder gozar do
respeito dos camaradas. Quando alguém não conhece bem seu ofício, não está em
condições de realizar trabalhos de grande responsabilidade. Unicamente os que
sabem trabalhar bem são incumbidos de trabalhos de responsabilidade. Isto
significa que deveis dominar vossa profissão. É preciso saber interpretar os
desenhos. No futuro, muitos de vós serão chefes de equipe de mecânicos,
montadores de maquinaria, eletricistas, ferramentistas. Cada operário que se
respeite a si mesmo deve saber interpretar os desenhos e vós deveis aprendê-lo
ainda no período escolar.

É vossa obrigação conhecer as máquinas e seria de desejar que as


conhecêsseis a fundo. O trabalho na fábrica é um trabalho de produção em série.
Parece um trabalho uniforme, mos exige grande atenção e conhecimento da
maquinaria. A produção em série tem suas peculiaridades. Quais são elas? A
produção em série exige destreza e rapidez. O operário confecciona as peças uma
depois da outra, empregando, às vezes, em cada uma delas, somente um minuto.
Isto quer dizer que é preciso aprender a trabalhar rápida e ritmicamente. Nas
escolas profissionais, alguns alunos fazem uma parte do trabalho, outros, a outra
parte. É preciso aprender a realizar todas as operações que possam tocar a cada
um.

Desejo que nasça em vós, o mais breve possível, esses alto orgulho que se
chama orgulho profissional. Se vossos pais foram bons operários, vós, afinal de
contas, não deveis ser piores.

Hoje vos preparais para ingressar numa fábrica, em alguma grande oficina. A
aprendizagem duma profissão fabril não vos priva de trabalhar no futuro em
qualquer outro terreno. A fábrica não fecha o caminho ao progresso de ninguém.
Pelo contrário, oferece amplas perspectivas para a atividade social, política,
administrativa e inclusive para o trabalho científico.

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11/09/2019 Discurso na Reunião Comemorativa do XXV Aniversário da Grande Revolução Socialista de Outubro Celbrada pelos Alunos e pel…

Deveis ser bons especialistas dentro de vossa profissão. Os operários de nosso


país não devem conhecer pior o seu ofício do que os operários de outros países. Os
operários soviéticos, nossos jovens operários, não devem ser menos qualificados e
sim mais qualificados que os operários europeus e americanos. Deveis ter isto
presente e transformá-lo em realidade.

Em segundo lugar, onde mais comunistas havia antes era entre os operários.
O Komsomol ainda não existia, mas havia uma juventude muito afim com os
comunistas.

Para os jovens de vossa idade existe hoje a organização do Komsomol. É uma


organização que educa politicamente os jovens e os ilustra. E eu desejaria que
todos os jovens que neste momento estão sentados diante de mim pertencessem
ao Komsomol. É possível que entre vós exista gente passiva e, não obstante, eu
quisera que a maioria dos alunos das escolas profissionais e de aprendizagem
industrial aspirasse a ingressar no Komsomol.

A consciência política das pessoas desempenha um papel muito grande em


nosso país, nós aspiramos a que cada pessoa em nosso país seja uma pessoa
politicamente consciente.

O Komsomol é a antessala do Partido. O Komsomol prepara a juventude para


seu ingresso no Partido, prepara sua consciência política. Habitua as pessoas a
participarem das atividades de tipo social. E vós ides trabalhar no seio da
coletividade, não isolados do povo, mas participando da obra comum. Uma
máquina não é construída por uma pessoa isolada. São centenas de homens que
participam de sua construção.

O próprio trabalho leva os homens à vida social. Por isso eu não quereria que
vos dedicásseis somente à atividade produtiva, somente a trabalhar diretamente
na fabricação dos artigos que nos fazem falta, e sim — que vosso tempo livre, que
vossa educação espiritual transcorresse de um modo organizado, no seio do
Komsomol. É para isso que o Komsomol é o organizador da juventude. Assim se
encheria aquela parte de vossa vida que, por assim dizer, fica livre do trabalho
direto, assim se encheria vossa vida espiritual.

Estamos empenhados numa guerra cruel e sangrenta. Os alemães querem


dilacerar nosso país e pisotear nosso povo. Vós, camaradas, além de estudar,
também ajudais a frente. Nas escolas e na produção vos dedicais a cumprir
encargos militares. E preciso que tais encargos sejam bem cumpridos.

Não vos encontrais diretamente na frente, mas, camaradas, sois jovens e eu


confio em que não sereis os últimos na luta que nosso povo sustenta contra os
fascistas. Creio que em rapidez — qualidade própria da juventude — não deveis
permitir que os adultos levem a melhor. Pelo contrário, a bandeira da primazia
deve estar em vossas mãos, nas mãos da juventude. Deveis ser os primeiros no
trabalho e na guerra. Deveis dizer: — “Não deixaremos que nossos pais nos
ganhem, haveremos de mostrar-lhes como nós, os jovens, sabemos trabalhar, nós
que acabamos de iniciar-nos na produção".

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1942/11/02.htm 4/5
11/09/2019 Discurso na Reunião Comemorativa do XXV Aniversário da Grande Revolução Socialista de Outubro Celbrada pelos Alunos e pel…

Permiti-me fazer votos para que alcanceis esta destreza no trabalho, para que
nos próximos anos possais demonstrá-lo plenamente. (Aplausos prolongados.)

Início da página

Inclusão 05/12/2012

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1942/11/02.htm 5/5
11/09/2019 Prefácio ao Livro "O Komsomol na Luta em Defesa da Pátria"
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Prefácio ao Livro "O Komsomol na


Luta em Defesa da Pátria"
M. I. Kalinin

1942

Primeira Edição: coletânea "O Komsomol na luta em defesa da Pátria", págs. 3-6, ed. “Molodáia
Gvárdia” ("A Jovem Guarda”), 1942.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 205-209.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Por imposição do fascismo, nosso povo — e não só nosso


povo está vivendo dias muito difíceis. Os obscurantistas
alemães imaginaram ser os artífices da história universal e
consideram que podem fazer-nos retroceder a seu bel-prazer.
Tocou a nosso país, a nosso povo, o dever de sair em defesa
do progresso da humanidade frente aos bárbaros do século
XX.

No dia 3 de julho de 1941, J. Stálin, Presidente do Comitê


de Defesa do Estado, dizia em seu discurso pelo rádio dirigido
ao povo soviético, ao Exército e à Marinha:

“Em virtude da guerra que nos foi imposta, nosso país travou um duelo
de morte com seu inimigo mais encarniçado e mais vil: o fascismo
alemão. Nossas forças lutam heroicamente contra um inimigo armado
até aos dentes com tanques e aviação. O Exército Vermelho e a Marinha
Vermelha, vencendo inumeráveis dificuldades, lutam abnegadamente,
palmo por palmo, pela terra soviética. O grosso de nossas fôrças do
Exército Vermelho, provido de milhares de tanques e aviões, está
entrando em combate. O valor dos combatentes do Exército Vermelho é
incomparável. Nossa resistência frente ao inimigo cresce e se torna cada
vez mais tenaz. Junto com o Exército Vermelho, todo o povo soviético se
levanta em defesa da Pátria”.

"É muito natural que tenha sido a juventude a primeira a ter que sair em
defesa da Pátria, já que o Exército ativo se compõe principalmente de
jovens. Por ser a parte mais ativa da população, a juventude, os

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11/09/2019 Prefácio ao Livro "O Komsomol na Luta em Defesa da Pátria"

komsomóis, acorrem às fileiras do exército e participam dos


destacamentos guerrilheiros”.

A luta de guerrilhas é uma forma de luta que surge obrigatoriamente do


caráter da Guerra Patriótica que o povo soviético sustenta contra o fascismo
alemão, que nos impôs a chamada guerra total, com todas as destruições que esta
implica, com sua indescritível crueldade e desenfreada violência e o escárnio
contra a população civil de nosso país.

“É, pois, questão de vida ou de morte para o Estado soviético, questão


de vida ou de morte para os povos da URSS. Trata-se de que os povos
da União Soviética sejam livres ou que sejam reduzidos à escravidão”.
(Stálin)

Engels, num de seus artigos referentes à guerra franco-prussiana de 1870,


dizia:

“Onde quer que o povo tenha sustentado uma guerra de guerrilhas com
energia, o inimigo teve de convencer-se rapidamente de que era
impossível guiar-se pelo velho código de guerra a ferro e fogo”.(1)

Engels compreendia perfeitamente o caráter de banditismo do capitalismo,


mas não previu uma barbárie como a que foi revelada pelos fascistas alemães. Ao
ferro e ao fogo ajuntaram montanhas de imundície. E o mais característico é que,
quanto mais golpes recebem, mais abomináveis são suas ações.

O desenvolvimento histórico da humanidade segue um curso contraditório: os


períodos de acumulação evolutiva de modificações moleculares alternam com
crises internacionais.

A guerra atual é um ponto crucial de nossa história. No futuro, será estudada


pormenorizadamente e exercerá uma grande influência no desenvolvimento
cultural e patriótico de nossa juventude.

O povo comporá histórias de legenda em torno desta guerra; o heroísmo dos


combatentes inspirará canções; como de uma rica fonte, os dramaturgos extrairão
deste período os argumentos para suas obras. Mas tudo isso será no futuro, será
obra de nossos descendentes. Hoje, em troca, nosso povo, e em primeiro lugar a
juventude e os komsomóis, são os atores dum grande drama real, que, por sua
crueldade e pelos esforços humanos na sangrenta luta, não tem precedente.

A Pátria está em perigo, os bárbaros pisoteiam nosso solo, escarnecem e


cobrem de lixo pestilento tudo o que amamos e veneramos.

O inimigo quer arrancar-nos a alma humana e converter-nos em bestas de


carga, em escravos. Perante a juventude soviética e o Komsomol em seu conjunto
e perante a consciência de cada Komsomol em particular, a questão se apresenta
assim: aceitar todos os sacrifícios e lutar pela liberdade ou submeter-se sem o
menor protesto. Nosso povo, e em primeiro lugar a juventude e os komsomóis,
cheios de indignação e de ódio contra o inimigo fascista, tomaram a decisão
irrevogável de empreender a luta, uma luta de vida ou de morte até esmagar
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11/09/2019 Prefácio ao Livro "O Komsomol na Luta em Defesa da Pátria"

completamente o inimigo. E, na realidade, não existe arma nem forma de luta na


Guerra Patriótica da qual o Komsomol não participe, em que não se encontre na
primeira linha.

Nosso Komsomol é uma organização relativamente jovem, mas seus primeiros


quadros começaram a forjar-se na guerra civil, defendendo o Poder Soviético.
Dirigidos pelo Partido de Lênin e Stálin, estes quadros acabaram de forjar-se nos
anos de luta pela industrialização do país, durante a coletivização das fazendas
camponesas na luta contra os elementos oportunistas e traidores no seio do
Partido e do Komsomol. Tudo isso permitiu ao Komsomol acumular tradições
positivas de firmeza e consequência nos princípios, defendendo o Estado
Proletário.

Hoje o perigo provém do inimigo externo. A guerra contra o fascismo adquire


um caráter cada vez mais encarniçado e o Komsomol dela participa, em massa.
Também é geral o heroísmo dos komsomóis na luta. Duvido de que exista alguma
unidade em que os komsomóis não tenham dado provas de valor e heroísmo, o
que por sua vez reforça as gloriosas tradições de luta do Komsomol e faz com que
o valor e abnegação no combate sejam algo tradicional e obrigatório para os
militantes de base do Komsomol. Eis a essência da formação e do reforçamento de
gloriosas tradições combativas.

A presente coletânea é um trabalho modesto que está longe de ter reunido os


dados completos das heroicas façanhas guerreiras e da abnegada fidelidade à
Pátria demonstradas por aqueles que, com plena consciência da justiça de seus
atos, suportaram todos os martírios imagináveis e, firmemente convencidos de
que o fascismo será derrotado, sucumbiram bradando com orgulho: “Morremos
pela Pátria, pela felicidade de nosso povo!”

Eu quisera que o leitor acolhesse este livro não como uma obra literária
acabada, porém como um simples relato de camarada das maravilhosas ações
guerreiras de nossos komsomóis nas frentes da Guerra Patriótica. Quando nosso
povo morre heroicamente, os soldados erigem com suas próprias mãos modestos
monumentos nos túmulos dos heróis. São monumentos simples, como simples são
também as inscrições nas lápides. Mas duvido de que haja um artista que ponha
tanto carinho em sua obra como o carinho posto pelos soldados nos túmulos por
eles erigidos sobre as sepulturas em que repousam os que morreram
gloriosamente como heróis. O povo conservará estes túmulos que gozarão de seu
carinho, como monumentos à memória de seus heróis legendários. A eles acorrerá
a juventude e ante eles ressoarão as canções triunfais do livre povo soviético e de
sua juventude, o Komsomol.

Nestes momentos de sofrimento, os autores da coletânea limitam-se a erigir a


nossos heróis uns simples monumentos ainda não acabados do ponto de vista
artístico. No momento não podem fazer mais: como soldados que são, devem
seguir para a frente com nossas tropas que vão libertando a pátria. Do mesmo
modo que todos os nossos combatentes, consideram com razão que os melhores
monumentos que hoje em dia se pode erigir à memória de nossos heróis e
heroínas são as pirâmides de cadáveres de inimigos.

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1942/mes/prefacio.htm 3/4
11/09/2019 Prefácio ao Livro "O Komsomol na Luta em Defesa da Pátria"

Para nós, Chura Tchkálin, Lisa Tcháikina, e Zóia Kosmodemiánskaia —


conhecida entre os guerrilheiros com o nome da Tânia — não são somente heróis:
são filhos de mães vivas, irmãos e irmãs de irmãos e irmãs vivos. O Komsomol os
conhece, todos nós os conhecemos e amamos entranhadamente e sua morte
heroica na algidez da encarniçada luta desperta em nós sede de vingança.

Meu desejo é que este livro se difunda amplamente entre as grandes massas
da população e particularmente entre a juventude, entre os komsomóis. Nos
traços dos heróis reais descritos nos relatos aqui reunidos, o leitor encontrará os
traços que caracterizam o homem novo, o homem soviético, verá como no
Komsomol são numerosos os que colocam acima de tudo a felicidade do povo
soviético e os ideais de nosso Partido.

Por essa felicidade do povo, pelo Partido de Lênin e Stálin, nossa juventude, o
Komsomol, oferece seu sangue gota a gota, Quem, depois disto, pode duvidar de
que o inimigo receberá o que merece e de que a vitória será conquistada na luta?

Este é o sentido da coletânea “O Komsomol na luta em defesa da Pátria”.

Início da página

Notas de rodapé:

(1) F. Engels, (“A luta na França”). (retornar ao texto)


Inclusão 14/12/2012

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11/09/2019 A Palavra do Agitador na Frente
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A Palavra do Agitador na Frente


Intervenção na entrevista celebrada com os Agitadores chegados
da Linha de Frente

M. I. Kalinin

28 de Abril de 1943

Primeira Edição: “A palavra do agitador na frente”, págs. 15-24. Edições Militares do


Comissariado do Povo da Defesa, 1943.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 210-217.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Todo agitador aspira a que sua palestra esteja cheia de


familiaridade. Que quer dizer familiaridade? Sei que, com
frequência, os agitadores vão visitar os soldados com o
deliberado propósito de falar com eles com o coração na mão.
E basta o próprio fato de que o agitador coloque de antemão
este objetivo diante de si mesmo para que tire toda a
naturalidade à palestra. Mas se o agitador vai tomar um chá
com os soldados e entabula com eles uma conversação sobre
qualquer tema, para depois abordar uma questão que lhes
interesse, então sim a palestra não terá nenhum caráter
forçado.

Outro exemplo. Se alguém cometeu uma falta e a gente o admoesta


paternalmente, lê o regulamento para ele, mas depois diz: “Bem, não contarei a
ninguém, mas lembra-te de que se reincidires não poderei ocultá-lo”, também esta
será uma conversação cheia de familiaridade. Ao contrário, quando alguém chega
com o propósito especial de falar com toda a naturalidade, quase nunca consegue.

Ao falar da naturalidade, refiro-me às palestras em que os homens não se


sentem coibidos por nada, perguntam tudo o que desejam ou o que mais lhes
interessa e não têm a impressão de que o agitador foi visitá-los com um fim
determinado. É sabido que os agitadores devem realizar muitas palestras sobre
determinados temas e que estas palestras devem ser feitas. Mas nessas conversas
de caráter familiar a que me referi o tema surge como que de modo espontâneo.

Tratai de provocar um intercâmbio de opiniões entre os assistentes, de


arrastá-los à discussão na qual vós sereis uma espécie de árbitro incumbido de

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1943/04/28.htm 1/6
11/09/2019 A Palavra do Agitador na Frente

decidir qual deles tem razão.

A naturalidade na conversa não significa que esta não deva ser orientada. Sim,
devemos orientá-la. Mas isto deve ser feito de modo que as pessoas não tenham a
impressão de que fostes visitá-las com um objetivo predeterminado.

Mas é perfeitamente justo visitar os soldados e dizer-lhes: “Hoje vim fazer


uma palestra sobre tal tema”, pois o trabalho de agitação não pode se basear
única e exclusivamente em conversas espontâneas. Mas, qualquer que seja o tema
que vos toque abordar, deveis chegar sempre à mesma conclusão: temos que
derrotar os alemães e para isso é preciso fazer todo o possível e o impossível.

A própria forma da palestra depende das circunstâncias. Se o auditório é


numeroso, ela pode assumir a forma de conferência ou de comício. Se a celebrais
num refúgio, podeis organizá-la sob a forma de perguntas e respostas. Pois bem:
se que- reis que os soldados tenham uma ideia mais completa sobre determinada
questão, podeis limitar-vos a ela, prevenindo os ouvintes de que falareis com eles
unicamente sobre tal tema, deixando para mais tarde as demais questões.

Quero chamar vossa atenção para o fato de que o agitador deve evitar
apresentar-se como uma pessoa dotada de mais conhecimentos ou de mais
inteligência que a massa que o cerca. Tenho uma longa experiência de
propagandista e agitador e sei que se as pessoas notam o menor sintoma de
envaidecimento por parte do agitador ou de que este se considera mais inteligente
do que elas, esses agitador está perdido, pois ninguém terá confiança nele. Deveis
falar aos soldados como a pessoas que entendem tudo. E se qualquer deles diz
que não entende alguma coisa, podeis objetar-lhe — “Por que finges, acaso tens
um melão no lugar da cabeça? Percebo que entendes tudo tão bem como eu, mas
te fazes de tolo”. Não se deve tratar o povo com desdém. Não importa que digam
dum soldado: “É um ignorante, não sabe nada”. Deveis refutar essas coisas: “Já
conhecemos esses ignorantes. Vereis que bom soldado dará! Já estivestes na
frente e lá aprendestes alguma coisa. Ele também será como vós”. Pois bem, se
tratardes as pessoas desta forma, elas vos respeitarão.

Podem perdoar-vos muitas coisas, mas jamais vos perdoarão o


envaidecimento e o que é mais importante, jamais vos considerarão inteligentes.
Suponhamos, por exemplo, que vos inteirais de que um soldado já está há muito
tempo na linha de frente e ainda não matou nem um só alemão. Este fato pode ser
abordado de diversas maneiras. Um agitador começará por censurá-lo, outro lhe
dirá que seus companheiros já mataram vários alemães. Eu lhe diria mais ou
menos o seguinte: “Que vamos fazer? Nem todos os soldados podem matar
alemães. Se todos o fizessem já há muito tempo que teríamos acabado com todos
eles. Entretanto, seria melhor que cada soldado matasse algum alemão. Guerra é
Guerra. Os alemães querem acabar conosco e nós queremos fazer o mesmo com
eles. Por isso, cada soldado acima de tudo deve procurar matar o inimigo”.

O agitador deve ser veraz. Não pinteis quadros cor de rosa para os soldados,
mostrai-lhes a realidade tal qual é, não temais apontar-lhes as dificuldades, pois
estais tratando com pessoas adultas que sabem compreender as coisas.

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11/09/2019 A Palavra do Agitador na Frente

O mais difícil do trabalho de agitação é aprender a falar como é devido. A


primeira vista parece não haver nada de complicado nisso: o homem começa a
falar aos dois anos! Mas, na realidade, é uma tarefa importante e difícil. Em que
consiste a dificuldade?

O agitador deve transmitir seus pensamentos de forma brilhante, para que


impressionem, e, além disso, para que produzam precisamente a impressão
desejada. Ao mesmo tempo, deveis expor vossas ideias de forma concisa, pois
vosso tempo é pouco.

As ideias devem ser claras para os ouvintes e compreensíveis para todos e


para cada um deles. É muito difícil conseguir tudo isso.

É preciso aprender a língua lendo os clássicos. Tomemos Turguêniev. Onde


podereis encontrar uma descrição do aspecto exterior dos personagens como a
que ele faz dos heróis de suas obras? Tentai descrever mesmo que não seja mais
do que vossa própria esposa. Saberíeis encontrar as palavras necessárias? Nem
todos saberiam fazê-lo, apesar de conhecê-la tão bem. Fá-lo-iam com frases
comuns. Mas o que se exige do agitador é algo mais do que isso, é preciso que sua
descrição seja feita cm cores vivas.

A linguagem é tudo para o agitador. Falais com os soldados de coisas que eles
conhecem. Por conseguinte, somente podereis despertar seu interesse se lhes
falardes destas coisas com palavras vivas e bem ditas. Não digo com palavras
“bonitas”, porque, com frequência, muitos abusam da retórica, pensando que isto
está muito bem. Mas, na realidade, fica muito mal encher a palestra de frases
estereotipadas. Conheço agitadores capazes de falar três horas seguidas, mas
depois de suas intervenções não ficam nas cabeças dos ouvintes mais do que
umas quantas exclamações. Porque seus discursos não contêm nenhuma ideia.
Vossos ouvintes são soldados, pessoas simples que percorreram milhares de
quilômetros combatendo, que viram muitos horrores, de modo que as frases
batidas, e ribombantes ainda por cima, eles as sentem sobretudo como uma
punhalada. O de que eles necessitam é que o agitador exponha determinadas
ideias de forma clara e concisa, com particularidade de que nunca é demais repetir
as boas ideias. Não importa que vos digam, por exemplo: “Por que insistes tanto
no entrincheiramento?” A isso podeis responder: “Continuarei falando disso até
que aprendais a entrincheirar-vos bem; dói-me que percais a vida inutilmente”.

O agitador deve ser uma pessoa culta. Tem que ler muito e cultivar seu
intelecto. Eu diria que o agitador deve dedicar todo o seu tempo livre à leitura.
Lede as obras de nossos clássicos. Lede as obras de Lênin e Stálin. Aprendei a
realizar o trabalho de agitação no estilo stalinista. O camarada Stálin é um ótimo
agitador. Como sabe falar ao povo!

É sempre necessário preparar-se bem para as palestras, inclusive quando o


agitador tem boa instrução, leu muito e conhece a arte militar. Pois, apesar de
tudo, nossos conhecimentos são limitados e por isso é preciso preparar
conscienciosamente cada palestra, aproveitando ao máximo os conhecimentos que
possuímos. Por este motivo, sou partidário da organização mais frequente de
palestras sobre temas fixos, pois estas proporcionam maiores conhecimentos e
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11/09/2019 A Palavra do Agitador na Frente

disciplinam as pessoas. Mas, quando vos dais conta de que o tema começa a
cansar e que surge o desejo de conversar simples e cordialmente, então, ide
tomar chá com os soldados e conversar com eles com toda a simplicidade e
naturalidade.

Mas deveis ir preparados até para uma conversa desse gênero, porque no
transcurso da mesma podem fazer numerosas perguntas. Não deveis escamotear
as respostas nem tratar de passar por alto por uma pergunta feita. Tampouco
deveis assustar-vos se não podeis responder a alguma delas. Dizei aos soldados
com franqueza: “Não sei, procurarei a resposta em algum livro e quando a
encontrar eu vos direi”.

Às vezes os soldados costumam dizer-nos: “Entre nós, particularmente entre


os mais velhos, há crentes que trazem cruzes e rezam, mas os jovens os
ridicularizam”... É necessário ter presente que nós não perseguimos ninguém por
suas crenças. Consideramos a religião como um extravio e lutamos contra ela,
ilustrando o povo. E como a religião ainda se estende a camadas consideráveis da
população e algumas pessoas são profundamente crentes, não é com chacotas que
poderemos combatê-la. É claro que não há nada grave no fato de um jovem fazer
alguma troça. O importante é que as brincadeiras não se transformem em
escárnio. Isso é o que não se deve tolerar.

O que é que exige atenção especial dos agitadores nestes momentos?

Mais do que tudo é preciso propagar o espírito de organização. Como? Darei


um exemplo simples: é hora da comida, mas o rancho ainda não chegou e é
preciso sair para procurá-lo Ao topar com uma situação destas, tendes um tema
para uma palestra sobre o espírito de organização. Debatei como se pode
conseguir que o rancho chegue sempre a tempo e que medidas cumpre tomar
para isso. Numa palestra deste gênero não será de mais censurar como é devido
nossa negligência russa, contra a qual temos que continuar lutando ainda hoje em
dia. Se eu fosse agitador, dedicaria noventa por cento do meu tempo a este tema.

Nosso principal defeito é a imprevisão. Ainda costumamos ser despreocupados


e com frequência pensamos: “Ora, de qualquer forma há de se dar um jeito!” É
sabido por todos que quando uma unidade ocupa posições na frente, ela deve pôr
todo o seu empenho em reforçá-las e manter-se nelas; quando empreende uma
ofensiva, deve fazer todo o possível para que esta seja eficaz e se desenvolva com
um mínimo de baixas. Mas entre nós as coisas muitas vezes são feitas na hora,
obtendo-se um mau resultado, como consequência. É preciso desterrar
decididamente a improvisão.

No período inicial da guerra tropeçamos com muitas dificuldades, porque não


organizávamos devidamente o combate, quando na realidade tudo depende da boa
organização do mesmo. Todos os chefes militares devem ser excelentes
organizadores. Antes, muitos chefes pensavam que era preciso organizar o
combate do posto de comando. Mas esta já é a última etapa da organização.
Quando o combate começou e o chefe ocupa seu posto de comando, ele não faz
mais do que recolher os frutos do trabalho previamente realizado.

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11/09/2019 A Palavra do Agitador na Frente

Considero muito importante inculcar nos soldados o sentido da precaução. Não


é justo que os soldados se disponham a comer num lugar descoberto, na zona da
frente- Qualquer projétil que caia nesse momento provocará um desastre. Morrerá
gente e serão necessárias substituições. Vós, os agitadores, deveis lutar
energicamente contra os que adotam uma atitude negligente com o perigo.

Também deveis propagar o desenvolvimento da destreza militar e a astúcia.


Insisto na astúcia, porque vós desenvolveis vosso trabalho entre os soldados, cujo
campo de ação é limitado. É preciso inculcar nos soldados a ideia de que devem
meditar bem suas ações, que devem procurar fazer tudo da melhor maneira e que,
na medida do possível, devem superar o inimigo em astúcia. A arte do sniper(1) é
muito valiosa, entre outras coisas porque habitua o soldado a calcular bem seus
atos e desenvolve nele, por assim dizer, qualidades de caçador. O sniper procura
matar o inimigo e o inimigo procura matar o sniper Por isso o sniper deve conhecer
todos os recursos da astúcia, tem que saber camuflar-se e deve ter olho de lince e
mão firme. É preciso cultivar essas qualidades não só no sniper, mas em todos os
nossos combatentes.

Prestai muita atenção para que os soldados se habituem a cavar trincheiras.


Às vezes procura-se fugir a esses trabalho, especialmente durante as ofensivas. Os
soldados costumam dizer: “Para que vamos cavar trincheiras, se dentro de meia
hora já não nos farão falta?” Mas vós deveis inculcar-lhes a ideia de que sempre é
um trabalho necessário e, mesmo que a trincheira depois não faça falta, é um
treinamento muito necessário na luta que sustentamos.

Também acho que deveis prestar mais atenção aos feridos. Eles precisam de
alento e simpatia e é aí que podeis demonstrar cordialidade. O soldado ferido se
recordará sempre do bom trato recebido e falará disso em mil lugares. Em
consequência, uma palavra pronunciada a meia voz se difundirá até muito longe.

Deveis cultivar nos soldados um profundo respeito pelos que tombaram. Qual
é a atitude do povo diante de um morto? Em presença de um morto todo o mundo
fala em voz baixa. Devemos honrar os mortos em combate e sois vós, os
agitadores, quem deve implantar esses costume. Escrevi aos presidentes dos
Comitês Executivos dos Sovietes locais no sentido de que cuidem das valas
comuns e de que se dê essa tarefa aos piorneiros. Em vossas unidades, deveis
conseguir que os enterros sejam feitos na devida forma e que se erga um túmulo
sobre cada fossa. É claro que isto nem sempre é possível quando o exército
avança, mas também há agitadores no segundo escalão. Deveis propagar a ideia e
cuidar para que, na medida do possível, se dê um caráter solene aos enterros dos
soldados. Isto exercerá grande influência sobre a educação do povo e o habituará
a ter carinho para com os defensores da Pátria.

O agitador deve ser sempre o guia das massas e conduzi-las. O papel do


agitador adquire particular importância durante o combate. Ocorre às vezes que
até uma boa unidade, ao sofrer grandes baixas, perde a confiança em suas fôrças.
Em tais momentos, o agitador pode elevar o moral dos soldados e conseguir uma
reviravolta no curso do combate.

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11/09/2019 A Palavra do Agitador na Frente

O agitador deve sempre estudar o lugar e levar em consideração qual é a


gente com a qual tem que atuar. Tratais com soldados, gente disciplinada, porém
que suporta grandes sofrimentos. Deveis ter isto em conta, bem como que são
pessoas de diferente nacionalidade, idade e caráter. Tudo isto deve estar presente
para o agitador.

Início da página

Notas de rodapé:

(1) Atirador especializado. (retornar ao texto)


Inclusão 22/12/2012

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11/09/2019 Uma Unida Família Combativa
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Uma Unida Família Combativa


M. I. Kalinin

4 de Agosto de 1943

Primeira Edição: Intervenção na entrevista celebrada com os Agitadores que realizam seu
trabalho na Frente entre os soldados de nacionalidades não russas. "Sobre o trabalho de massas do
Partido”, págs. 27-31, Edições Políticas do Estado, 1943.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 218-224.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Camaradas: Constitui grande prazer para mim encontrar-


me com os agitadores do Exército Vermelho, representantes
de quase todas as nacionalidades da URSS que participam da
Grande Guerra Patriótica.

Esta contenda é dura e sangrenta. Ao cabo de mais de


dois anos de guerra são muitas as famílias que sofreram a
perda de seus entes queridos. Mas não temos outro remédio
senão lutar. A questão está colocada da seguinte maneira: ou
vamos limpar as botas dos fascistas, converter-nos em seus
escravos e morremos, ou lutamos por nossa liberdade e independência.

Quando os fascistas alemães começaram esta guerra, não nos consideravam


como seres humanos e nos tachavam de animais, de bestas submissas. Era assim
que pensavam antes. Mas agora, depois dos golpes que lhes assestamos, os
fascistas começam a dar-se conta, cada vez com mais clareza, do que representa
a União Soviética. Antes acreditavam que todos os nossos combatentes eram
russos, mas agora viram que nossos soldados, e sobretudo bons soldados, não são
apenas russos, mas também turcomanos, kazaks, uzbeks, azerbaidjanos, etc., etc.
Antes os alemães imaginavam que os ucranianos e os bielorrussos os receberiam
de braços abertos e se levantariam contra os russos. Nem sequer levavam em
consideração as demais nacionalidades.

A guerra demonstrou que a União Soviética é uma família unida de povos que
vivem em harmonia e que esta união é duma solidez sem precedentes no mundo.
Naturalmente, há exceções, mas estas são insignificantes. Algumas pessoas
aceitam servir aos alemães na qualidade de prefeitos ou de outra coisa, mas são
casos isolados e não têm nenhuma importância para um país tão vasto como o

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11/09/2019 Uma Unida Família Combativa

nosso. Os soldados de todas as nacionalidades representadas no Exército


Vermelho defendem sua pátria com abnegação, lutam maravilhosamente e dão
provas de enorme valor e heroísmo. E isto nossos inimigos não esperavam.

Todos combatem em nosso país. Sob o regime tzarista, os azerbaidjanos e os


povos da Ásia Central — turcomanos, uzbeks, kazaks, quirguizes e outros — não
combatiam porque não eram chamados às fileiras. O governo tzarista não confiava
neles e não lhes queria ensinar o manejo das armas. Sabeis que, se de uma parte
a guerra exige grandes sacrifícios dos povos, de outra, ela permite à população
masculina aprender bem o manejo das armas. E um povo que saiba manejar as
armas não se deixará pisotear. Por isso o governo tzarista não admitia no exército
os representantes dessas nacionalidades, com exceção dum pequeno grupo de
kulaks e nobres, os quais, na realidade, eram agentes do governo tzarista e
executores de sua política.

O Governo Soviético não tem por que tratar assim os povos que habitam
nosso território. Aqui todos os povos gozam de iguais direitos. E todos os povos da
União Soviética, inclusive os que antes eram considerados como muito atrasados,
hoje tomam parte na guerra, sem falar dos georgianos, armênios e tártaros, que
também durante o regime tzarista participavam das guerras.

Compreende-se que não era fácil tarefa ensinar a arte da guerra, o manejo
das armas e a vida militar à população das Repúblicas e regiões nacionais.
Somente o Poder Soviético podia realizá-la com êxito.

Dizemos com frequência que somos internacionalistas, mas nem todos


compreendem o que isto significa. Alguns pensam que chamar-se internacionalista
significa não se considerar nem russo, nem uzbek, nem kazak. Isto é um absurdo.
Ser internacionalista significa respeitar todas as nacionalidades. Nem mais nem
menos. Nosso mestre na questão nacional é o camarada Stálin, que já faz muitos
anos orienta nossa política nacional. Antes da Revolução já era o conselheiro de
Lênin neste problema. O camarada Stálin nos ensina a respeitar todas as
nacionalidades. Pois, bem, se alguém respeita todas as nacionalidades, esses
alguém é internacionalista; mas se alguém é russo, por exemplo, e considera que
só o que é russo é bom, então se trata de um chauvinista e não de um
internacionalista, trata-se de um homem de curto alcance, que não vê mais longe
do que o seu nariz. A política nacional stalinista permitiu pôr de pé todos os povos
de nosso país para que participem da Guerra Patriótica, a política stalinista
converte todos os nossos povos em heróis e abre um amplo caminho para todos os
homens de talento de nosso país.

Com efeito, se um homem soviético, seja qual for sua nacionalidade, é dotado
de talento, irá escalando posições cada vez mais altas. Sabeis de quantos oficiais
magnificamente preparados e de todas as nacionalidades dispõe hoje o Exército
Vermelho. Hoje são tenentes ou jovens coronéis, mas no fim de certo tempo
chegarão a ser generais e marechais. Em nosso país não é a nacionalidade que
determina as promoções, mas a inteligência e o valor. Um homem que não tenha
inteligência e seja um mau combatente não será promovido, mas se uma pessoa
— soldado ou oficial — tem talento, inteligência e conhece bem seu ofício, essa

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pessoa escalará elevados postos, seja qual for sua nacionalidade. Nosso Alto
Comando apega-se firmemente a este princípio. Ninguém poderá afirmar que o
camarada Stálin dá preferência a este ou aquele povo. Para todos ele é um pai:
premia e exige responsabilidades de todos por igual, segundo seu merecimento, e
destaca os homens de talento de qualquer nacionalidade.

Referir-me-ei a outra questão importante: o aprendizado do russo pelos


soldados de outras nacionalidades. Isto é muito necessário. O idioma russo é
indispensável no Exército. Todos os regulamentos militares estão redigidos em
russo, em russo são escritas todas as ordens de batalha e em russo são dadas as
vozes de comando. O idioma russo serve para relacionar entre si todos os povos
da URSS. O idioma russo é o idioma de Lênin. É neste idioma que nosso chefe, o
camarada Stálin, se dirige a todos os homens soviéticos, ao Exército Vermelho.

Nos primeiros tempos, o conhecimento do idioma russo pelos soldados de


outras nacionalidades naturalmente será muito limitado e é claro que continuarão
pensando no idioma materno. Por isso, se quereis transmitir aos soldados algo que
lhes chegue até a alma, fazei-o em sua língua materna e então vossos ouvintes se
compenetrarão melhor do que lhes disserdes. O idioma materno chegará à sua
consciência e lhes transmitirá todos os matizes de vosso pensamento. Portanto, o
estudar o idioma russo não dispensa o agitador da obrigação de empregar o
idioma dos soldados de diferentes nacionalidades, no seu trabalho entre eles.
Estudai o russo, mas, sobretudo, no princípio, deveis utilizar o idioma materno do
soldado para abrir caminho até seu coração. E é muito justo que em nosso
exército se escolha agitadores da mesma nacionalidade que a dos soldados entre
os quais devem trabalhar.

Durante a guerra, todos os povos de nosso país desenvolveram-se


consideravelmente. Foi relatado aqui que os uzbeks vos perguntam como vai em
sua terra o cultivo do algodão. Mas hoje, para o Uzbekistão, o algodão já não é o
mais importante. Seu papel primordial não ficou limitado à agricultura. Hoje, em
dia o Uzbekistão possui uma enorme indústria. Durante a guerra foram
transferidas para essa República numerosas fábricas, abriram-se minas de carvão
e foram postas a funcionar novas centrais hidrelétricas. E hoje já não se pode dizer
que a República da Uzbékia seja famosa somente por suas uvas e seu algodâo.
Não! Hoje ela é uma República dotada de grande indústria. Antes, mal existia ali a
classe operária; hoje os operários do Uzbekistão se contam às centenas de
milhares.

A guerra exige grandes sacrifícios materiais e muitas vidas humanas de todas


as nossas nacionalidades. Mas de outra parte forja-se a firmeza de todos os nossos
povos, sua consciência cívica se desenvolve, alargam-se seus horizontes, fazem
grandes progressos e, poderíamos dizer, saem para o cenário mundial. E, na
realidade é assim. Imaginai como sereis ao retomar aos vossos lares depois que
tivermos derrotado os alemães. Regressareis completamente transformados,
convertidos, por assim dizer, em pessoas de fama mundial, com plena consciência
de ter contribuído diretamente para forjar a História Universal.

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Os agitadores, que falaram aqui, disseram com toda razão que cada
nacionalidade deve ser tratada de maneira diferente, porque os homens de cada
nacionalidade viveram e continuam vivendo em condições diferentes, o que deixa
sua marca em cada povo. Assim, por exemplo, os povos do Cáucaso e da
Transcaucásia sentem um grande respeito pelas armas e a entrega das armas num
ambiente solene representa muito para eles. Os uzbeks, por sua parte, respeitam
muito os velhos. Em seu trabalho, forçosamente, o agitador deve ter em conta os
hábitos, usos e costumes nacionais de cada povo.

Não obstante, considero que existe também um modo comum de tratar todos
os nossos povos. Sabeis perfeitamente que o agitador não tem que gastar muitas
palavras com o soldado que combate bem e sabe analisar os fatos. Pelo contrário,
para o soldado que combate mal ou se mostra pusilânime — seja ele georgiano,
kazak ou uzbek — o agitador poderia falar-lhe mais ou menos do seguinte modo:
“Será possível que não queiras que participemos desta guerra, quando todas as
demais nacionalidades lutam como leões? Acaso podemos ficar à margem da
guerra? Será possível que queiras que, por tua causa, pensem que todo o nosso
povo é composto de gente pusilânime? Medita, acaso estaria certo que se
começasse a considerar nossa República como um país cujos homens não sabem
combater e são incapazes de lutar e defender-se? Depois disto, como é que vamos
apresentar-nos ante os demais povos, como poderemos continuai marchando,
para a frente, como desenvolveremos nossa cultura? Acaso és o único que vai à
guerra? Hoje todos lutam. E tu, que queres: não combater? Queres que nos
escravizem? Sentimos muito, mas isto nós não toleraremos! Mais vale morrer na
luta do que voltar para casa com o estigma de covarde ou de traidor. Na guerra
atual não se luta por alguma cidade ou algum território, não se luta porque os
alemães queiram apoderar-se de alguma cidade fronteiriça e nós não queiramos
entregá-la. Hoje se luta porque os alemães desejam converter-nos em escravos e
edificar seu domínio mundial sobre nossos ossos. Os alemães levaram muitos
cidadãos soviéticos dos territórios ocupados para o cativeiro na Alemanha. Muitos
deles sucumbiram por causa da fome e do trabalho desumano. É contra tudo isso
que nós sustentamos a guerra. Hoje não se pode dizer que a guerra é lá, no
Ocidente, e que não nos afeta”.

Quando se conversa com alguém em seu idioma materno, pode-se falar com
maior liberdade, porque o outro entenderá tudo como é preciso. Quando um uzbek
está entre uzbeks ou um kazak entre kazaks, eles não se sentem coibidos. Se os
soldados vos dizem: “Por que nos falas assim e nos censuras”, podeis responder-
lhes: “Falo assim porque também sou uzbek (ou kazak) e amo meu povo tanto
quanto vós podeis amá-lo”.

Todos, inclusive os russos, se mostram orgulhosos de sua nacionalidade. E não


pode ser de outro modo, pois cada um é filho de seu povo! Este é um detalhe
muito importante e de grande significação e que não se deve esquecer nunca no
trabalho de agitação. Cultivai em vossos homens o patriotismo soviético, o orgulho
nacional, recordai a cada combatente as heroicas tradições de seu povo, suas
magníficas lendas épicas, sua literatura, os grandes homens — capitães e chefes
militares — os paladinos da libertação das massas populares. Mas só isto não
basta. O orgulho nacional e o patriotismo de nossos povos, devem traduzir-se em
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ações bélicas. Cada povo tem seus heróis nacionais. Façamos com que estes se
multipliquem! Estamos em guerra e a guerra, como é sabido, engendra heróis.
Contribui com vosso trabalho para forjar soldados valorosos e viris, ajudai a
formar os quadros de sargentos e oficiais do Exército Vermelho entre os soldados
das nacionalidades não russas.

Os povos da URSS consideram — e com toda a razão que o povo russo é o seu
irmão maior. Deveis conhecer também o glorioso passado do povo russo, seus
heróis nacionais, seus grandes homens e falar de tudo isso aos soldados de outras
nacionalidades. Isto contribuirá para unir ainda mais todos os povos de nosso país
e tornará ainda mais estreita sua amizade.

Mas não se deve robustecer a amizade entre os povos somente com fatos e
acontecimentos do passado. Na frente podemos encontrar numerosos e magníficos
exemplos de amizade entre soldados de diferentes nacionalidades. Propagai estes
exemplos, difundi-os entre todos. Vós, os agitadores, podeis fazer muito neste
sentido.

Atualmente, a guerra vai tomando uma feição cada vez mais favorável para
nós. Devemo-lo aos nossos combatentes de todas as nacionalidades. Todos os
nossos povos, competindo em heroísmo, lutam abnegada e valorosamente contra
o inimigo.

Nosso Exército Vermelho é uma só família combativa na qual todos os povos


estão unidos por uma amizade sólida e in- quebrantável. E, como disse o
camarada Stálin, a amizade entre os povos é o mais valioso de quanto nos deu a
política nacional bolchevique. Esta amizade constitui uma firme garantia de nossa
vitória sobre os invasores fascistas alemães.

Início da página

Inclusão 30/12/2012

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Combatente Auxiliar do Partido


Bolchevique
M. I. Kalinin

29 de Outubro de 1943

Primeira Edição: Por motivo do XXV aniversário da União das Juventudes Comunistas Leninistas
da URSS. “Pravda” (“A Verdade”) 29 de outubro de 1943.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 225-236.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

O Komsomol, e com ele toda a juventude soviética,


celebra o vigésimo quinto aniversário de sua existência. O
Komsomol percorreu um caminho glorioso e tem em seu
haver grandes méritos históricos perante a Pátria. Nascido na
luta pelo regime soviético, o Komsomol, obedecendo ao apelo
do Partido, lutou heroicamente, ombro a ombro com a
geração adulta, contra os guardas brancos e os
intervencionistas, defendendo a jovem República Soviética.

Durante os vinte e cinco anos de sua existência, a União


das Juventudes Comunistas passou por uma grande escola. As organizações do
Komsomol conquistaram um sólido prestígio em todas as esferas da atividade
estatal, econômica, cultural e educativa. Os komsomóis sempre estiveram na
primeira linha, onde quer que tenha sido necessário energia moça, ardor juvenil e
abnegação. Não era em vão que o camarada Stálin dizia que

“o Komsomol sempre marchou na primeira linha de nossos combatentes.


Não conheço um só caso em que ele tenha sido superado pelos
acontecimentos de nossa vida revolucionária”.(1)

Lênin e Stálin nos ensinam que em cada empreendimento o principal é saber


encontrar o elo fundamental por meio do qual se possa puxar toda a corrente.
Nosso Komsomol assimilou este preceito e, juntamente com o Partido e sob sua
direção, foi solucionando os mais importantes problemas da edificação e
consolidação do Estado socialista soviético. Basta recordar o importantíssimo papel
desempenhado pelo Komsomol e a juventude na reconstrução da indústria ao

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terminar a guerra civil, e depois, na industrialização do país, particularmente nos


Urais.

Centenas de milhares de membros do Komsomol e de jovens não enquadrados


em suas fileiras trabalharam abnegadamente na construção do combinado
metalúrgico de Magnitogorsk, na abertura de novas minas e na construção de
centrais elétricas. Obra de suas mãos são as fábricas de tratores de Stalingrado e
de Kharkov e a central hidrelétrica do Dniéper. E como um presente para as
gerações futuras, os komsomóis construíram num lugar remoto, entre selvas
impenetráveis e nas margens do majestoso rio Amur, a cidade que ostenta seu
nome, Komsomolsk, que já se converteu num importante centro fabril do Extremo
Oriente e cuja significação industrial aumenta dia a dia.

Não são menores os méritos do Komsomol na coletivização da agricultura. O


Komsomol do campo foi um fiel executor da linha do Partido, foi seu ativo auxiliar
na luta pela criação e consolidação do regime kolkhoziano.

Caiu em terreno fecundo o apelo do camarada Stálin, exortando o Komsomol a


estudar tenaz e pacientemente, a estudar com todo o empenho para assimilar a
ciência e forjar novos quadros de especialistas bolcheviques em todos os ramos do
saber. Centenas de milhares de membros do Komsomol e de jovens em geral
estudaram com grande empenho e adquiriram conhecimentos especiais; no
começo da guerra nosso país dispunha dum quadro considerável de jovens
especialistas. Foi, como se disséssemos, o ato culminante duma grande obra
criadora realizada em nosso país e que nos permitiu, nas difíceis circunstâncias da
guerra atual organizar o trabalho nas empresas evacuadas e desenvolver
progressivamente alguns ramos da indústria, como a construção de aviões,
tanques, etc. Através de sua experiência diária na frente, cada soldado pode
convencer-se, agora, de maneira palpável, do grande benefício trazido pela
palavra de ordem lançada pelo camarada Stálin de que os komsomóis devem
dominar a ciência.

O Komsomol desempenhou um grande papel no fortalecimento da capacidade


defensiva do país. O patrocínio das Forças Aéreas e da Marinha de Guerra pelo
Komsomol é uma das páginas brilhantes de sua história. Milhares de magníficos
komsomóis se incorporaram à Marinha e ingressaram nas escolas navais; no
começo da conflagração nossa Marinha de Guerra já era uma fôrça poderosa. O
mundo inteiro admira os heroicos marinheiros que defenderam Odessa, Sebastópol
e Leningrado; a lembrança de suas façanhas viverá eternamente na memória de
nosso povo.

De fato, tivemos que criar desde o princípio nossa frota aérea. Nela, o papel
desempenhado pelo Komsomol não foi menor, mas talvez maior do que na
Marinha de Guerra. Os esforços do povo, e em particular os do Komsomol, deram
abundantes frutos na guerra atual. Os exemplos de Alexandre Molódtchi, Bóris
Safónov, Dmítri Glinka, Vassíli Záitzev, Mikhail Bondarenko, Vassíli Efrêmov, duas
vezes Heróis da União Soviética, e dos Heróis da União Soviética, Nikolái Gastello,
Vítor Talalíkhin, Piotr Kharitónov, Stepan Sdoróvtsev, Mikhail Júkov e muitos
outros, todos eles educados pelo Komsomol, servirão para as futuras gerações de

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aviadores como um modelo de abnegado serviço à Pátria e de grande mestria na


pilotagem aérea.

Assim, pois, nos vinte e cinco anos de sua existência, o Komsomol, que iniciou
sua vida lutando contra os guardas brancos e os intervencionistas, participou
abnegadamente na restauração e no desenvolvimento da indústria, na edificação
do regime kolkhoziano no campo e assimilou com êxito a ciência nas
universidades, nos institutos; nos laboratórios fabris e nos campos de
experimentação agrícola, aumentando assim a potência defensiva do país. O
frutífero trabalho avançava em plena marcha. Abriram-se, ante o Komsomol e a
juventude, ilimitadas possibilidades de trabalhar em paz e dedicar-se ao trabalho
científico.

★★★
A guerra que nos foi imposta pela Alemanha hitlerista interrompeu o trabalho
pacífico e criador dos cidadãos soviéticos. Chegaram dias duros para o Komsomol
e toda a nossa juventude. Era preciso defender a Pátria e todas as conquistas
conseguidas em quase um quarto de século, graças ao esforço comum de todos os
povos da URSS

A guerra é uma dura prova para o povo, para seu regime estatal, sua política e
seus dirigentes. No fundo, este conceito é aplicável também a toda organização
social e, em particular, ao Komsomol. Antes da guerra, entre os komsomóis e, em
gera', entre muitas pessoas soviéticas influenciadas pela construção cada vez mais
vasta e pelos êxitos econômicos e culturais, predominavam as tendências próprias
dos tempos de paz. A guerra terminou bruscamente com tudo isso e ante o
Komsomol surgiram novas tarefas relacionadas com a guerra. Compreende-se não
ser fácil a tarefa de desarraigar o espírito dos tempos de paz, sobretudo se
levarmos em conta que o Komsomol é uma organização que conta com milhões de
filiados. Não obstante, podemos dizer em honra do Komsomol, que ele se saiu
airosamente dessa prova.

A palavra de ordem “Tudo para a guerra!” era simples, compreensível e foi


acolhida com entusiasmo pelos komsomóis e por toda a juventude. Mas faltava
ainda orientar de forma organizada a energia juvenil pelos diversos canais da
atividade prática direta. As dificuldades que se alçavam neste caminho eram
enormes e ainda hoje tropeçamos nelas.

A juventude apenas começa a viver, mas a guerra exige tudo do homem,


inclusive a vida. Para que esta necessidade fosse compreendida por milhões de
seres, era preciso dar-se plena conta de que a guerra nos tinha sido imposta pela
fôrça, de que era inevitável e de que a participação na luta é um dever sagrado e
de toda justiça. Não é pouco o que a organização do Komsomol fez e continua
fazendo neste sentido.

É natural que ante o Komsomol, como ante cada organização soviética e ante
cada cidadão de nosso pais, se apresentasse a questão primordial: onde e como
empregar melhor suas forças para a defesa da Pátria? E milhares de komsomóis,
rapazes e inclusive moças, fiéis às melhores tradições do Komsomol,
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incorporaram-se voluntariamente ao exército em operações, e os que se achavam


nas regiões ocupadas ingressaram nos destacamentos de guerrilheiros. E esta
atração pela frente, característica dos komsomóis, continua até hoje.

As dificuldades e os perigos não assustam a juventude, a atraem, a impelem


para realizar façanhas heroicas. Nossa juventude soviética, com sua heroica luta
nas diversas frentes da Guerra Patriótica, além de escrever uma nova e brilhante
página na história do Komsomol, demonstra a inquebrantável vontade que anima
seu povo ao defender a honra, a liberdade e a independência do Estado Soviético.

Todas as guerras são cruéis, exigentes e implacáveis para com os homens.


Mas esta guerra adquiriu formas de monstruosa brutalidade por obra e graça dos
miseráveis fascistas alemães. O escárnio sem precedentes a que é submetida a
população das regiões ocupadas, o ultraje de que são objeto seus mais íntimos
sentimentos e sua moral, o espancamento de velhos e crianças, o martírio de
feridos e enfermos, a separação das mães de seus filhos menores e seu exílio para
a escravidão fascista, os açoites, fuzilamentos e as forcas, tudo isso tinha sido
planejado nos Estados-maiores alemães como medidas que deviam contribuir para
o triunfo das armas alemães. Os hitleristas acreditavam que mediante esses terror
conseguiriam desmoralizar nosso povo e convertê-lo num submisso rebanho de
escravos.

Os homens soviéticos, o exército e particularmente a juventude, educados


num espírito de solícita preocupação pelo homem, de respeito à sua dignidade, no
primeiro momento não puderam compreender essa tática de guerra dos fascistas
alemães.

O camarada Stálin pôs a descoberto a natureza bestial do imperialismo


alemão, assinalou o perigo mortal que se abatia sobre nossa Pátria e exortou o
povo soviético a encher-se de ódio contra os bandidos alemães, a exterminar
todos os fascistas que invadiram o solo soviético. Os komsomóis e a juventude em
geral fizeram eco às palavras do chefe, ergueram-se em defesa da Pátria e com
toda sua energia juvenil e abnegado valor exterminam os invasores alemães.

A guerra moderna exige do soldado uma enorme tensão moral. Mas dele
exige, sobretudo, que conheça o manejo das armas, que saiba aproveitá-las com a
máxima eficácia na luta contra o inimigo, exige uma valentia sem reservas, unida
à prudência do guerreiro experimentado e, por último, resistência física e destreza.
E nós somos testemunhas de como nesta encarniçada luta contra os saqueadores
alemães se vão forjando os combatentes de nosso exército e de nossa marinha,
soldados de infantaria, aviação, tanques, artilharia, cavalaria, morteiros, marinha,
tropas de desembarque, sapadores. O Komsomol, com justo direito, pode
orgulhar-se de que na legião dos Heróis da União Soviética figurem mais de
quinhentos de seus filhos e de que dezenas de milhares deles tenham sido
condecorados com ordens e medalhas.

Pode dizer-se sem medo de faltar à verdade que o heroísmo da juventude na


frente é de caráter geral. A façanha heroica de um engendra dezenas e centenas
de êmulos. Os nomes dos komsomóis Ivan Smoliakov, Ludmila Pavlitchenko,
Natália Kovshova, Dmítri Ostapenko, Maria Polivánova, Kurban Durda, Ivan
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Sivkov, do metralhador Nina Onilova, operária da fábrica de malhas de Odessa, e


de muitos outros converteram-se em símbolos do heroísmo; milhares de
combatentes aspiram a ser como eles. E quantos heróis repetiram as façanhas
sem par do piloto komsomol Gastello, do infante komsomol Matróssov, de
Musabek Senguirbáiev da Divisão da Guarda do general Panfílov, e de outros
tantos!

Agora temos um novo grupo de heróis que forçaram o Dniéper, muitos dos
quais são do Komsomol. O cruzamento do Dniéper é uma nova página brilhante na
história da Grande Guerra Patriótica do povo soviético.

Os komsomóis participam em grande proporção do movimento guerrilheiro. O


comando alemão confiava em poder esmagar este movimento por meio do terror.
Mas quanto maior era o furor raivoso do inimigo, mais potente se desenvolvia o
movimento guerrilheiro. E hoje, os invasores veem-se obrigados a choramingar de
quando em quando: “Os russos não combatem segundo as regras da guerra”. Com
efeito, o movimento guerrilheiro é a vingança do povo pelas ruínas de nossas
cidades e aldeias, pelo saqueio e a violência, pelo escárnio de que se faz objeto o
homem soviético, pelos assassinatos e execuções de mulheres, velhos e crianças
indefesos. Mas por mais que choraminguem os bandidos alemães, depois de terem
“semeado ventos, colhem agora tempestades”.

É difícil subestimar a importância da luta guerrilheira na guerra moderna. O


que se pode dizer, isto sim, é que suas proporções superaram todos os cálculos.
Em consequência da atividade desenvolvida pelos guerrilheiros soviéticos, os
alemães perderam centenas de milhares de soldados e oficiais; milhares de
locomotivas e dezenas de milhares de vagões com tropas e material de guerra
foram lançados pelos barrancos. A destruição das linhas telefônicas e telegráficas,
dos centros de abastecimento e dos postos de comando dos alemães levada a
cabo pelos guerrilheiros desequilibra os serviços de retaguarda do inimigo e
interrompe as comunicações do exército alemão. E o mais importante é que, com
suas atividades, os guerrilheiros estimulara a resistência da população frente ao
inimigo e infundem no povo a certeza da inevitável derrota dos invasores fascistas.

Os guerrilheiros conseguiram grandes resultados, mas também sua luta é


extraordinariamente difícil. O perigo ronda constantemente suas cabeças. A luta
guerrilheira impõe duríssimas condições de vida e de combate. E nestas severas
Condições da guerra, os komsomóis—guerrilheiros não só têm resistido à prova
com honra, mas além disso se cobriram de glória como infatigáveis e intrépidos
paladinos na luta para libertar sua Pátria dos saqueadores, violadores e assassinos
alemães.

Nas duras condições da luta clandestina, milhares de komsomóis realizam um


trabalho abnegado, organizando a população local para a luta contra os invasores.
Com risco de vida celebram reuniões da juventude. Valendo-se de palestras,
relatos, “rumores” lançados, volantes, jornais e muitos outros recursos, os
komsomóis fazem chegar a verdade ao povo, infundem a fé no triunfo do Exército
Vermelho e desmentem as patranhas da propaganda fascista.

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A Pátria, nosso povo aprecia em alto grau seus melhores filhos que combatem
na retaguarda inimiga. Entre os guerrilheiros honrados com o título de Herói da
União Soviética figuram vinte e dois komsomóis. Milhares de jovens guerrilheiros
foram condecorados com ordens e medalhas. Todo o povo soviético conhece e
pronuncia com profundo carinho os nomes dos Heróis da União Soviética, Lisa
Tcháikina, Sasha Tchekálin, Zoia Kosmodemiánskaia, Antonina Petrova, Filip
Streléts, Vladímir Kurilenko, Mikhail Silnitski, Vladímir Riábok, os irmãos Ignátov e
muitos outros. Heróis imortais todos, que passarão à história da luta guerrilheira e
assim à história da Grande Guerra Patriótica. Para a jovem geração eles serão um
modelo de exemplar serviço e de abnegada fidelidade à Pátria.

Os hitleristas atentaram contra o mais precioso de quanto possuía e possui a


juventude soviética, contra sua liberdade e seus princípios ideológicos, contra toda
a imensa riqueza moral e material da cultura soviética, patrimônio de nossa
juventude. E ela, com todo o seu ardor juvenil, sustenta contra o inimigo uma luta
de morte em defesa de seu futuro. Todos conhecem o maravilhoso caso de “A
Jovem Guarda”, a organização do Komsomol criada na cidade de Krasnodon da
região de Vorochilovgrad. Apesar do brutal regime de terror implantado pelos
alemães, Olep Koshevói, Ivan Semnúkhov, Serguéi Tiulênin, Uliana Grómova,
Liubov Shevtsova e os demais integrantes da organização “A Jovem Guarda”, não
inclinaram suas orgulhosas cabeças ante os invasores. Com a paixão que
caracteriza o homem soviético amante da liberdade, estes jovens travaram uma
luta feroz, que parecia superior às suas fôrças. A maioria dos rapazes e moças de
“A Jovem Guarda” morreu heroicamente, mas a causa pela qual lutaram, a causa
de Lênin e Stálin vive. Não há fôrça capaz de destruir a alma do povo, de um povo
que ama sua pátria, sua liberdade e sua independência. O lugar dos que tombam é
ocupado por novas e novas legiões dispostas a continuar sua gloriosa obra.

Os bandidos fascistas pretendiam escarnecer do homem soviético, afundá-lo


na lama, semear em sua alma o horror e o espanto. Não o conseguiram. Em todas
as partes vimos exemplos imortais de elevado e leal serviço ao povo, ao País
Soviético. Eu quisera que os dirigentes das organizações do Komsomol
assumissem a obrigação de recolher e guardar zelosamente os relatos das
façanhas da juventude na frente e na retaguarda inimiga, façanhas que nos falam
do elevado amor à Pátria revelado pela juventude e de como os komsomóis, em
sua luta contra o inimigo, mantêm bem alta a bandeira do Komsomol, a bandeira
do Partido de Lênin e Stálin.

Também é considerável a importância do Komsomol na retaguarda, na


indústria, na agricultura e demais setores que atendem às necessidades da frente.
São numerosas as empresas industriais nas quais predomina o elemento juvenil e
neste, as mulheres jovens. E nossa indústria se nutre constantemente de
renovados contingentes de operários procedentes das escolas profissionais e de
aprendizagem industrial, que, ao mesmo tempo que preparam operários
qualificados, dão cumprimento a importantes pedidos militares.

Pode-se afirmar com toda a segurança que os komsomóis e a juventude em


seu conjunto põem no trabalho para a frente todo o seu saber e todas as suas
fôrças, revelando muita iniciativa criadora. O apelo do camarada Stálin para

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reorganizar nossa indústria em face da guerra e fazer todo o necessário para que
na frente não faltem armas nem munições, encontrou um eco entusiástico entre os
komsomóis e a juventude em geral.

Podemos julgar a eficácia do trabalho de nossa indústria comparando-a ao da


indústria alemã. A Alemanha hitlerista r:a- ciueou toda a Europa e sequestrou
milhões de operários dos países ocupados, obrigando-os a trabalhar como
escravos na Alemanha. Não obstante, os fabricantes alemães não cessam de
clamar contra a falta de operários, particularmente de operários qualificados. Que
acontece, então, com os operários? Devido ao trabalho esgotador, aos
espancamentos, a mortalidade entre os operários, sobretudo entre os operários
estrangeiros, alcançou proporções nunca vistas nas empresas alemãs. Pelo seu
modo de exterminar a mão-de-obra, a Alemanha fascista se parece ao Minotauro,
esses monstro da mitologia grega ao qual eram lançados jovens e donzelas para
serem devorados por ele. Hitler, à semelhança do Minotauro, exige
incessantemente novas vítimas de seus aliados e vassalos.

Em nossa indústria, os engenheiros e técnicos, e entre eles os jovens


engenheiros, trabalham sem descanso para melhorar os processos tecnológicos e
aliviar o trabalho dos operários. Devido a isto, o trabalho em nossa indústria
avança em elevado nível e satisfaz às necessidades da frente em quantidade e
qualidade. Isto significa que a produtividade do trabalho de ura povo livre,
inspirado pelo patriotismo e que defende sua Pátria, supera em muitas vezes a
produtividade do trabalho forçado nas empresas alemãs. Além disso, os lucros dos
hierarcas alemães atingem, um nível nunca visto e isso é o principal para eles.

É muito grande o papel da juventude, da juventude feminina sobretudo, na


agricultura. Hoje em dia, esta juventude desempenha o papel principal em
milhares de kolkhozes. Também nisto, o Komsomol fez muito para que não baixe o
ritmo da produção agrícola. Durante a guerra, em muitas regiões, principalmente
nas regiões centrais, a colheita chegou inclusive a elevar-se consideravelmente.
Neste aspecto é grande o mérito de nossas mulheres e moças perante a Pátria. A
incorporação da população masculina à frente impôs um grande trabalho de
preparação de tratoristas, de condutores de segadoras-trilhadoras e de operários
de outras especialidades. E a juventude feminina está dominando com êxito as
complexas profissões agrícolas, como as de motoristas de tratores e de segadoras-
trilhadoras. Muitas delas superam consideravelmente o plano estabelecido pelo
Estado para os trabalhos agrícolas com tratores.

Eu poderia citar numerosos exemplos dos resultados práticos obtidos pelo


Komsomol e a juventude do campo no que tange ao incremento da produção
agrícola necessária à frente e à indústria. Não o faço, porque são publicados
diariamente nos jornais e transmitidos pelo rádio. O que posso dizer, isto sim, é
que quando os broncos ou trapaceiros alemães (ou melhor, as duas coisas ao
mesmo tempo) predizem a fome no País Soviético, em sua propaganda, esquecem
uma coisa: esquecem que no país onde impera o trabalho livre sobre a terra livre,
onde o povo, onde os kolkhozianos estão inspirados pelo afã de aniquilar o bando
hitlerista, a terra é tão pródiga como o espírito do povo e recompensa fartamente

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11/09/2019 Combatente Auxiliar do Partido Bolchevique

os esforços do povo. Neste sentido grande é o mérito que cabe ao Komsomol e à


juventude do campo.

Ao referir-me ao grande trabalho realizado durante a guerra pelo Komsomol na


frente, na indústria e na agricultura, quero, além disso, assinalar outro problema
em cuja solução o Komsomol deve desempenhar, sem dúvida alguma, um papel
de não menos importância: trata-se da participação do Komsomol e da juventude
em geral na reconstrução da cidades e aldeias destruídas e na organização da
ajuda às vítimas da ocupação alemã.

Hoje trabalha-se na reconstrução de Stalingrado. Cada cidadão soviético


pronuncia este nome com orgulho e acha que seu dever cívico é participar de um
ou de outro modo desta obra. A nobre iniciativa do Komsomol de patrocinar a
reconstrução da fábrica de tratores, da fábrica “Dzerjinski”, das oficinas
metalúrgicas “Outubro Vermelho” e da fábrica número 264 de Stalingrado,
encontrou amplo eco entre a juventude da União Soviética e confio em que esta
iniciativa se estenderá por todas as regiões libertadas.

O povo soviético contempla sua juventude com carinho e orgulho. A guerra


irrompeu como um furacão na vida dos jovens soviéticos, colocou-os diante da
cruel necessidade de defender com o próprio peito sua Pátria, seu futuro, e de
submeter-se a provas muito duras. É assim que já faz mais de dois anos que
nossos jovens, em luta encarniçada contra o inimigo, juntamente com seus pais e
irmãos maiores, defendem valorosa e abnegadamente a liberdade e a felicidade de
seu povo. A guerra tem sido uma dura prova para as qualidades morais e físicas
da juventude soviética e de seu destacamento de vanguarda: o Komsomol. Nosso
Komsomol e nossa juventude estão se saindo airosamente desta prova. Na
retaguarda e na frente, a juventude trabalha, incansável, com plena consciência
de seu dever perante a Pátria, e dedica todas as suas fôrças e todos os seus
conhecimentos ao objetivo de aproximar a hora da vitória sobre o feroz inimigo.

Muitas pessoas no estrangeiro, sobretudo no período inicial da guerra,


procuravam a explicação do grande entusiasmo patriótico do povo soviético e da
firmeza do Exército Vermelho. Entretanto, para nós é evidente que a origem do
patriotismo do homem soviético reside em seu amor à Pátria, ao seu povo, à sua
cultura, e ao seu modo de viver. E precisamente porque na grande família dos
povos soviéticos todos são iguais e todos estão impregnados de um sentimento de
respeito mútuo de confiança recíproca e de amizade, por isso, precisamente, é
firme e inquebrantável a União Soviética.

Uma das causas fundamentais do elevado patriotismo de nossa juventude e de


seu heroísmo sem igual reside nos Vínculos indissolúveis que unem o Komsomol
ao Partido Comunista. O Partido inspira o Komsomol para a realização de grandes
façanhas em nome da causa comum. A história de nosso Partido, a história de sua
luta pelos ideais do povo foi e continua sendo uma fonte inesgotável de inspiração
para o comportamento heroico da juventude na Guerra Patriótica. Os objetivos
visados por nosso Partido são grandiosos: conseguir o bem-estar do povo e sua
fraternal unidade. Nosso Partido lutou e luta por estes objetivos. Com ele e sob

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11/09/2019 Combatente Auxiliar do Partido Bolchevique

sua direção, também luta abnegadamente nosso Komsomol, arrastando toda a


juventude soviética.

De todo o coração, felicito o Komsomol leninista-stalinista por motivo de, seu


vigésimo quinto aniversário e lhe desejo novos triunfos e novas glórias.

Início da página

Notas de rodapé:

(1) V. I. Lênin e J. V. Stálin — “Sobre a Juventude”, ed. Molodáia Gvárdia, (“A Jovem Guarda”),
pág. 297, Moscou, 1938. (retornar ao texto)
Inclusão 21/01/2013

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11/09/2019 Algumas Palavras Sobre a Propaganda e a Agitação
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Algumas Palavras Sobre a


Propaganda e a Agitação
M. I. Kalinin

12 de Janeiro de 1944

Primeira Edição: Discurso pronunciado na Conferência de Secretários das Organizações do Partido


da Cidade de Moscou. Revista "Propagandist”, (“O Propagandista” ) N.° 2, de 1944.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 237-248.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Camaradas: Ouvimos as intervenções de seis oradores e


creio que falaram pouco mais ou menos como poderiam tê-lo
feito os demais secretários das organizações do Partido aqui
reunidos.

Qual é o traço característico dos secretários de nossas


organizações de base do Partido? É seu praticismo. Deveis ter
observado que todos os camaradas que aqui falaram colocam
as questões dum modo prático. Isto não é mau. O
bolchevismo nunca perde de vista o aspecto prático dos
problemas. O espírito prático é uma qualidade positiva. Mas ao mesmo tempo,
parece-me que os secretários não deveriam circunscrever-se ao aspecto prático;
conviria também que fizessem algumas sínteses. É preciso habituar-se a sintetizar.

Os informes e balanços — apesar de serem um trabalho necessário — não


deixam de ser somente uma parte do trabalho. O que distingue precisamente os
comunistas é saberem sintetizar um conjunto de questões e tarefas práticas,
agrupando-as num todo conexo. Por isso, ao fixar a atenção em vossa prática e
procurando sintetizá-la, parece-me que separais o trabalho político e social do
trabalho na produção. É como se considerásseis que alguém pode ser um
magnífico trabalhador na produção e fiel comunista, mas se não atua em algum
círculo, se não fala nas reuniões e não realiza um trabalho de agitação, não realiza
nenhum trabalho social.

Esta maneira de ver as coisas, estabelecendo uma separação entre o trabalho


social e o trabalho na produção, o trabalho para o Estado, a mim, pessoalmente
(friso que é pessoalmente), me parece que não corresponde de todo às tarefas da

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11/09/2019 Algumas Palavras Sobre a Propaganda e a Agitação

própria produção, ao caráter de nosso Estado. Esta maneira de ver as coisas seria,
talvez, mais própria dos comunistas de antes da Revolução. Por que?
Simplesmente porque, então, o trabalho na produção beneficiava o capitalista e
nossa agitação estava inteiramente dirigida contra os capitalistas. Mas hoje, o
trabalho na produção é uma das mais importantes tarefas estatais e sociais, é o
trabalho mais importante em nossa época.

Atentai bem: quando nos velhos tempos eu trabalhava na fábrica de Putílov,


fortalecia com isso os capitalistas. Naquela época tínhamos pleno direito de
estabelecer uma clara diferença entre o trabalho na fábrica e o trabalho de Partido.
Se naquela época eu tivesse superado as normas de trabalho, os camaradas
teriam podido censurar-me com toda a razão: “É assim que ganhas teu salário e te
dedicas a trabalhar horas extras: ajudas os capitalistas, mas não compareces às
reuniões e abandonaste o trabalho de Partido”. Naqueles tempos — e só naqueles
tempos — isto seria lógico. Mas, e agora? Imaginemos, hoje, um homem que não
cumpra sua tarefa na fábrica, que deixe tudo para amanhã, e ao mesmo tempo
reúne seu círculo, desvia outros do trabalho obrigando-os a comparecer aos
estudos políticos e assim realiza o trabalho do Partido. Ninguém, naturalmente,
aceitaria esses homem como bom comunista. E é lógico, porque hoje não
trabalhamos para o patrão, pós mesmos nos convertemos em senhores de nosso
Estado socialista. E a própria produção se converteu numa produção social,
estatal.

Por isso, se eu fosse secretário, consideraria que o trabalho fundamental, de


Partido e social, que um homem pode realizar é seu trabalho na produção. Se não
fossem satisfatórios os resultados obtidos por uma pessoa na produção, mas, em
troca, fosse boa toda a sua atividade restante, eu diria que essa pessoa é um mau
comunista.

Através de vossas intervenções percebo que, na prática, vos guiais por este
mesmo critério, mas não o dizeis abertamente com medo de que vos censurem
por vos terdes convertido em simples administradores. Pelas vossas intervenções
se vê que sois pessoas cultas e entendidas, e apesar disso, nenhum de vós disse
que considerava o trabalho na produção, em nosso sistema socialista e, ainda por
cima, em tempos de guerra, como o mais importante trabalho social e de Partido,
como um trabalho que fortalece o regime soviético.

Por que não colocar a questão do ponto de vista dos princípios, dum ponto de
vista de Partido? Acaso um trabalho que fortalece o regime soviético, que assesta
potentes golpes em nossos inimigos, que dá fama ao País Soviético no mundo
inteiro, ou, o que dá no mesmo, ao regime socialista, acaso esses trabalho não é
um trabalho comunista, não é um trabalho de Partido? Acaso nossos êxitos na
produção e no campo cultural não constituem um trabalho comunista, um trabalho
de Partido? Pode-se fazer a propaganda com palavras e com fatos. A propaganda e
a agitação com fatos são mais reais. Já é quase um provérbio entre nós a
expressão de que a propaganda e a agitação com fatos são mais eficazes. Pois
bem, nossos êxitos na produção são precisamente uma propaganda com fatos.

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Citarei um exemplo: qual é a mais importante condição hoje em dia exigida na


frente para que alguém seja considerado um digno candidato a membro do
Partido? (Uma voz: “O heroísmo!”).

É isso, o heroísmo. Combater bem. Aparentemente, não é um trabalho de


Partido. Mas vedes que o heroísmo, a abnegação na luta constitui o elemento mais
importante para julgar das qualidades de um homem, quando este solicita seu
ingresso no Partido.

Estabeleçamos agora um paralelo. Se admitis que combater bem na frente


constitui um grande trabalho de Partido, um trabalho comunista, devereis estar de
acordo em que os projéteis, os canhões e as metralhadores que produzimos,
constituem também um trabalho que nos absorve profundamente, uma luta direta
por nossos objetivos. A produção é a base primordial, eu diria até que é o mais
sagrado do atual trabalho de Partido. Pois bem, deveis ter isto presente sempre
que realizeis vosso trabalho de agitação, de propaganda e de educação do povo.

Através dos informes do camarada Stálin e das obras de Lênin conheceis a


importância que tem o saber escolher em cada etapa do desenvolvimento o elo
principal. E esses elo principal é o que deveis agarrar, quer quando realizais vosso
trabalho de agitação e propaganda, quer quando inculcais às pessoas o espírito de
Partido. Qual é hoje a tarefa fundamental e decisiva do povo soviético? A luta
contra os invasores alemães. Por isso, hoje em dia, onde quer que realizeis vosso
trabalho de agitação, qualquer que seja o trabalho que façais e a pessoa com
quem faleis, este trabalho de agitação e propaganda deverá reduzir-se sempre à
questão fundamental: que todos ajudem com a plenitude de suas forças a levar à
prática a principal tarefa do povo, a de esmagar os invasores alemães.

Quando vos preparais para o trabalho de agitação na sala de estudo da Casa


do Partido e acumulais sabedoria comunista, deveis selecionar o material e buscar
as analogias históricas que enriqueçam vossos conhecimentos e vos permitam
explicar e esclarecer melhor às massas a situação atual de nosso país e as tarefas
de cada um na luta contra o fascismo. Nossa vida de hoje está tão cheia de fatos
maravilhosos que qualquer agitador, desde o mais modesto até o maior, pode nela
encontrar um inesgotável material palpitante e atual, diretamente relacionado com
os acontecimentos do dia.

Tomemos, por exemplo, o jornal de ontem. Nele encontrareis uma declaração


de nosso Governo sobre o problema polonês, feita através da agência TASS. É um
excelente material para vós, com a particularidade de que a referida declaração foi
redigida com grande brilho e em forma compreensível para qualquer um. Ela pode
servir de base para magnífica palestra. De-.veis chamar a atenção dos ouvintes
sobre o que já se disse mais de uma vez: que sustentamos uma guerra justa. Em
seu primeiro discurso, pronunciado no começo da conflagração, o camarada Stálin
ressaltou que sustentamos uma guerra defensiva e justa. Hoje nossos exércitos se
encontram em melhor situação que em qualquer outro momento, ao passo que os
alemães nunca estiveram numa situação pior do que agora, nos últimos único
anos. Pois bem, atentai como em tais momentos nosso Governo estende sua mão
à Polônia, ao povo polonês. Ao mesmo tempo, como é natural, podereis passar em

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11/09/2019 Algumas Palavras Sobre a Propaganda e a Agitação

revista a história das relações soviético-polonesas, selecionando e citando o


material correspondente, baseado em fatos históricos, que podereis obter na
própria sala de estudos da Casa do Partido.

Empregando este método, aprender-se-á a interpretar e focalizar os problemas


internacionais de modo marxista e paulatinamente irá se acumulando a
experiência necessária para o trabalho cotidiano do Partido.

Que quer dizer trabalho do Partido? Está claro que quanto à organização
estabelecemos diferentes campos de atividade, que chamamos respectivamente
de: trabalho de Partido, sindical, administrativo, etc. Cada um desses campos de
atividade tem suas peculiaridades.

Que peculiaridade distinguem o trabalho de Partido dos demais? Parece-me


muito limitada a interpretação de que a diferença consiste em que o trabalho de
Partido se circunscreve à agitação, à propaganda e à educação comunista no
sentido estrito da palavra. O trabalho de Partido consiste, se me permitem a
expressão, em levar a cada trabalho, até ao mais simples e mecânico, o espírito de
Partido, em encará-lo do ponto de vista do Partido.

Por exemplo, um torneiro realiza um simples trabalho mecânico. Mas para nós
não é indiferente, de jeito nenhum, se ele o realiza como se trabalhasse numa
empresa privada, cobrando uma determinada retribuição, sem relacioná-lo com
uma interpretação social da importância do mesmo, ou se nosso torneiro, ao fazer
tal ou qual peça, está dominado pela ideia de que ao mesmo tempo realiza um
grande trabalho de Estado, de que trabalha para a defesa do país, de que sua
produção vai parar na frente, onde é utilizada para lutar contra o inimigo, e que
quanto melhor for sua produção tanto mais eficaz será sua participação na luta
contra os alemães. Portanto, ele não se considera isolado das tarefas políticas
gerais, e sim como um elo da luta comum e das medidas gerais do Estado.

A propósito disto desejo compartilhar convosco mais uma ideia. Ouvimos dizer
frequentemente deste ou daquele comunista ter ele muito espírito de Partido. Mas,
atentai bem, acaso aplicamos esta expressão somente em relação aos agitadores e
propagandistas? Para que uma pessoa tenha espírito de Partido não é
indispensável que seja agitador ou propagandista; é preciso outra coisa, é preciso
que tenha uma conduta digna de um comunista em sua vida política e social e
inclusive em sua vida privada. Voltemos outra vez ao nosso torneiro. Se este
homem sabe relacionar seu trabalho com o objetivo geral, se põe toda a sua
energia no trabalho, compreendendo que com isso também defende o País
Soviético e que, por isso, não se preocupa com o horário nem recua ante as
dificuldades ou defeitos de organização que possam surgir na produção, este
homem tem uma atitude comunista ante o trabalho, eu diria que esses camarada
tem muito espírito de Partido e que seu trabalho na produção é ao mesmo tempo
um trabalho de Partido, já que o relaciona com o objetivo geral.

Citarei um exemplo do passado. Naquele tempo ingressavam no Partido alguns


indivíduos que abandonavam rapidamente o Partido quando tinham que realizar
um simples trabalho prático, como distribuir volantes, manter uma casa para fins
conspirativos ou qualquer outro trabalho técnico. Eles queriam ser agitadores,
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11/09/2019 Algumas Palavras Sobre a Propaganda e a Agitação

propagandistas, isto é, aspiravam a brilhar politicamente e o que lhes tocava era,


ao contrário, desempenhar uma tarefa modesta e prosaica. Mas naquela época,
esses trabalho era dos mais necessários para o Partido.

E por último recordem os camaradas aquele episódio da história do Partido,


quando o camarada Stálin organizou uma imprensa clandestina em Baku. Acaso
acreditais que o camarada Stálin a organizou fazendo agitação, propaganda ou
escrevendo manifestos? Nada disso: nas condições do regime autocrático e de
vigilância policial isto representava um enorme trabalho de organização e ao
mesmo tempo um trabalho prático, dos mais prosaicos, já que era preciso resolver
muitos problemas puramente práticos: encontrar o local, conseguir os tipos de
imprensa, organizar o transporte do material impresso, etc. Dizei-me, isto era ou
não um trabalho de Partido? Vedes, assim, que o espírito de Partido ou o trabalho
de Partido não estão ligados ao tipo de trabalho, mas ao objeto do mesmo. Se o
trabalho não favorece a causa da classe operária, é inútil e não tem nada de
trabalho de Partido.

E agora, dizei-me: qual o trabalho produtivo que, em nosso Pais Soviético,


particularmente nas fábricas, nos kolkhozes e nos escritórios, não contribui para
fortalecer o regime soviético? Como podeis ver, não é a distribuição orgânica do
trabalho (o que é absolutamente acertada do ponto de vista da organização), que
lhe confere o espírito de Partido, e sim a introdução desse espírito em todo o
trabalho, seja social, fabril ou de escritório.

É claro que com isso não quero tirar a importância à necessidade de estudar o
marxismo-leninismo que é, afinal de contas, o que, na vida prática, permite
abordar qualquer tarefa com espírito de Partido.

Um dos camaradas que falou aqui declarou que se vê em apuros para dar a
todos os comunistas da fábrica algum trabalho social ou de Partido, em vista do
grande, número de membros dessa organização do Partido. Creio que existe um
mal-entendido nesse caso.

Aqui nos contaram que um engenheiro-inventor, que tinha ingressado no


Partido, apresentou-se ao Bureau da organização do Partido para pedir um
trabalho social e que lhe atribuíssem a direção de um círculo de propagandistas.
Depois, apresentou- se outro engenheiro qualificado. Mas, já não restava nenhum
círculo para ele e a organização do Partido não soube de que trabalho social
incumbi-lo. Eu teria,procedido de outro modo e lhe teria dito: “Organize um círculo
de inventores e dirija-o. Pode ser que não invente nada, mas também pode
acontecer que faça alguma coisa.” Talvez alguns de vós não considerem isto um
trabalho de Partido, mas eu considero que é um trabalho de Partido, porque se se
tratar dum verdadeiro inventor ele estará possuído de uma ideia fixa e todos os
seus pensamentos tenderão para um único objetivo. Para que, pois, vamos desviá-
lo? Dai-lhe o trabalho mais adequado: que organize um círculo em que as pessoas
se dediquem à experimentação. A isto eu consideraria um trabalho de Partido. E se
outro engenheiro é um bom agitador, poderá realizar um trabalho de agitação c
propaganda, mas se não tem inclinação para isso, é preciso procurar para ele uma
tarefa social em que possa render o máximo possível.

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11/09/2019 Algumas Palavras Sobre a Propaganda e a Agitação

Por isso não vos deveis preocupar com que não haja tarefas suficientes para
todos, mas dar curso livre à iniciativa e fazer a cabeça trabalhar um pouco. Vereis
logo que vos falta gente para realizar tanto trabalho.

Aqui se falou da educação dos comunistas, de como inculcar o espírito de


Partido a seus novos membros. Isto depende de vós mesmos, da orientação que
deis ao assunto.

Um camarada nos disse aqui que numa reunião os novos membros do Partido
foram censurados pela irregularidade no pagamento das contribuições. Poderia
parecer que se trata duma questão puramente prática. É claro que se pode
simplesmente fazer um sermão aos novos militantes, indicando que são uns
comunistas indisciplinados, uns maus comunistas, etc. Mas esta mesma questão
pode ser colocada no terreno dos princípios, dizendo: “Vós mesmos deveis
compreender que o atraso de um ou dois meses no pagamento das contribuições
não representa grande coisa para o Partido. Sua caixa não se ressentirá por isso.
Hoje, nosso Partido não é um partido pobre. E se falamos nisto não é porque vossa
morosidade nos tenha impedido de mandar o balancete a tempo. Não se trata
disso, mas de que se não pagais a tempo vossas contribuições para o Partido, isto
quer dizer que o assunto não vos preocupa; que não dais importância às vossas
obrigações para com o Partido, e além do mais obrigações tão simples, de
exclusivo caráter de organização, como é o pagamento das mensalidades, é
porque não tem muito apego ao Partido. Porque, para aquele que se preocupa com
o Partido, o pagamento das contribuições é um prazer, pois com isso parece
estabelecer um laço material com o Partido, parece pôr- se em contato com ele”.

Vedes, camaradas, como interpretamos do mesmo modo a questão, nossos


pensamentos são idênticos, mas eu quis mostrar-vos como se pode dar um caráter
político a um fato simples. Se focalizarmos os problemas dessa forma, uma
questão tão simples como o pagamento das mensalidades do Partido se
transforma num assunto político.

E se a questão for assim abordada, vereis que aparecem nas reuniões


oradores dispostos a invocar exemplos de todo o gênero e chegarão a dizer,
inclusive, que esta não é uma questão de tanta importância, que alguém pode dar
a vida pelo Partido e no entanto esquecer-se de pagar as contribuições, etc., etc. E
então a discussão entrará no terreno dos princípios.

Como vedes, quando focalizamos uma questão dum ponto de vista puramente
prático e a discutimos somente com a linguagem dos fatos, ela chega menos à
consciência das pessoas. Mas quando a generalizamos e a julgamos com critério
político, então ela serve para educar.

Observo que relacionais o trabalho político com os novos comunistas, a


educação dos comunistas unicamente com o estudo. Naturalmente, estudar não é
mau. Não sou inimigo do estudo político. É preciso ensinar as pessoas. Mas a
educação e a instrução não são o mesmo, no rigoroso sentido da palavra.

Pode-se conseguir que um homem aprenda o programa do Partido, conheça


seus estatutos e que também cumpra todas as formalidades e, não obstante, não
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11/09/2019 Algumas Palavras Sobre a Propaganda e a Agitação

será um comunista. Será um perna de pau e não um comunista. Já deveis ter


ouvido dizer de alguém que é um “perna de pau”. (Uma voz'. “Um tapado”). Não,
é algo diferente. “Tapado” é um insulto, ao passo que “perna de pau” aplica-se ao
homem de intelecto demasiado rígido, pouco flexível, sem emoções, que não
compreende a ironia nem tem o senso do humor. De um homem assim é que se
diz ser um “perna de pau”.

Educar é muito mais difícil que ensinar, que ministrar instrução, pois o
educador influi sobre os educandos não só porque lhes proporciona determinados
conhecimentos, mas, principalmente, com sua atitude para com os fatos de cada
dia.

A camarada Bodrova nos falou aqui da vida difícil duma trabalhadora à qual
deram ajuda, conseguindo assim elevar seu moral. Devo dizer-vos que isto, por si,
não é somente uma ação própria de bons comunistas. O valioso do fato não
consiste unicamente em ter prestado ajuda à uma pessoa acabrunhada por
circunstâncias difíceis. Aqui se trata também da educação dos comunistas, duma
educação baseada em fatos concretos. Em tais exemplos é que deveis basear
vossa educação dos comunistas.

Também uma ação má deve servir de base para a educação, discutindo-a a


partir duma posição de princípios. Suponhamos que uma pessoa trabalha mal. É
preciso demonstrar que o mau trabalho repercute em todos os demais. Assim
sendo, é nos fatos concretos, nas questões tomadas da vida diária, como nos
problemas políticos gerais, que se deve basear a educação das pessoas.

Vejamos um exemplo: suponhamos que sou secretário duma organização do


Partido. Vêm visitar-me muitas pessoas, entre as quais encontram-se alguns que
gostam de mexericos: fulano trabalha mal, beltrano se porta mal. Mas nem eles,
tampouco, estão livres dos mesmos pecados. Ainda existe gente assim. Pois bem,
desmascarar um desses tipos será um bom trabalho educativo.

Devo dizer-vos com toda a franqueza que o trabalho educativo é um dos mais
difíceis, porque também está relacionado com vossa própria conduta. Se alguém,
por exemplo, faz propaganda contra a vodka e ele mesmo gosta de beber,
ninguém lhe fará caso. Se alguém convida as pessoas a serem disciplinadas e ele
mesmo infringe constantemente a disciplina, seu apelo, como é lógico, surtirá
pouco efeito.

A educação é um dos trabalhos pedagógicos mais difíceis. Outra coisa é


proporcionar às pessoas, conhecimentos políticos, ensinar-lhes o programa e os
estatutos do Partido, uma vez que com isso transmite-se determinados
conhecimentos. Está claro que não se pode traçar uma linha divisória entre o
ensino e a educação, porque com o ensino também se educa o homem. O principal
é que não percais de vista que o trabalho educativo entre os membros do Partido
deve realizar-se diariamente, de modo imperceptível, baseando-se com frequência
em coisas pequenas e em outras ocasiões em fatos e problemas sérios e de
grande importância.

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1944/01/12.htm 7/9
11/09/2019 Algumas Palavras Sobre a Propaganda e a Agitação

Falou-se aqui da leitura coletiva de jornais. Mas isto não basta se, depois, não
se discute e comenta o que foi lido. Pode acontecer que alguns já tenham lido o
jornal e não vos escutem, mas outros, embora não o tenham feito, pouco proveito
tiram da leitura sem comentários. Se, ao contrário, analisais e sintetizais o que foi
lido, logicamente a leitura será interessante para todos. Discuti os problemas. Por-
que não discuti-los? É que sois demasiado praticistas. Tendes medo de cometer
algum erro. E que é que tem, se cometeis algum erro? Nós não castigamos os
erros. Talvez vos censurem ou escrevam sobre o assunto nos jornais, mais nada.
Castiga-se os que defendem seus erros, insistem nos erros e se afastam da linha
do Partido. Quando se trata duma pessoa verdadeiramente nossa, fiel ao Poder
Soviético, ao seu Partido, porém que não foi muito feliz ao formular uma
interpretação, naturalmente, esta é corrigida e nada mais.

Acreditais que se pode inculcar o espírito de Partido só com os estatutos e o


programa? É claro que é preciso dar a conhecer os estatutos aos que ingressam no
Partido, pois os estatutos assinalam as regras de conduta dum comunista, as
regras gerais de conduta. Mas se as palestras com os comunistas se reduzissem a
isso, seriam muito enfadonhas. Neste ponto não se pode ser formalista.

Também na instrução é necessário tratar as pessoas de modo diferente.


Imaginemos uma pessoa de sessenta anos da qual exigis que conheça a fundo o
programa e os estatutos do Partido. É um excelente trabalhador, um operário
honrado, um homem fiel ao Poder Soviético e comunista bastante bom. É claro
que, nestas condições, se deve ser mais condescendente com um tal membro do
Partido.

Organizamos círculos, estudamos o marxismo, mas dedicamos pouca atenção


ao estudo da história da Rússia, como se considerássemos que é um assunto que
não cabe ao Partido. Isto é falso, absolutamente falso. O estudo da história russa é
interessante e atraente e se quem a expõe é um marxista e se cada fenômeno
histórico do passado é examinado dum ponto de vista marxista, o povo acorrerá
ao círculo com satisfação e aprenderá muito. E esses será um trabalho de Partido.

As pessoas mais preparadas poderiam dedicar-se ao estudo da história da


filosofia. Em geral, cada grupo de pessoas com esta ou aquela preferência, por
exemplo, a literatura, o estudo de um determinado período da história universal ou
que tenham interesse em investigar algum problema social ou mesmo técnico,
pode formar círculos nos quais se estude a matéria de seu interesse. O espírito de
Partido desses círculos consistirá precisamente na aplicação do método marxista-
leninista à interpretação dos problemas em estudo. E as pessoas poderão até
dedicar-se a filosofar um pouco.

Qual o verdadeiro comunista que não gosta de filosofar um pouco? Nós


dirigimos o olhar para longe, para longínquas perspectivas. E a mim me parece
que vos tornastes todos demasiado praticistas e não fazeis mais do que olhar para
diante do nariz. Assim podeis tropeçar.

O marxismo é o único método acertado para compreender não só os


fenômenos sociais, mas também os fenômenos da natureza. Por isso todo o
esforço dirigido à compreensão dos fenômenos do universo e que seja feito do
https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1944/01/12.htm 8/9
11/09/2019 Algumas Palavras Sobre a Propaganda e a Agitação

ponto de vista do marxismo-leninismo, robustece nossa consciência política


bolchevique. Este trabalho não tem limites. Unicamente, é necessário que se
considere o mundo com maior amplitude de vistas, que se saiba interpretar e
generalizar a sua própria experiência.

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Inclusão 30/01/2013

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1944/01/12.htm 9/9
11/09/2019 Do Artigo "O Poderio do Estado Soviético"
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Do Artigo "O Poderio do Estado


Soviético"
M. I. Kalinin

Abril de 1944

Primeira Edição: Revista “Bolchevik”, ("O Bolchevique”) N.° 7-8, de 1944.


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 249.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

A juventude soviética e o glorioso Komsomol leninista-


stalinista — organizador da juventude — desempenham um
enorme papel na vida de nosso país, no fortalecimento do
poderio do Estado soviético.

Não vou referir-me ao heroísmo dos komsomóis e da


juventude em geral, na frente e nos destacamentos de
guerrilheiros, nem a seu abnegado trabalho na retaguarda,
nas fábricas e na agricultura. Todos conhecem seu patriotismo
e sua fidelidade à Pátria soviética. Quero dizer apenas que o
Komsomol, como o crisol dum forno enorme, funde e modela o homem novo, o
homem soviético. O Komsomol é o primeiro degrau para a juventude, o degrau
que a conduz a uma ampla vida social e política, que a conduz ao Partido. O
Komsomol é o elemento organizador mais importante, tanto da juventude
operária, como, particularmente, da juventude camponesa. O Komsomol vem a ser
o primeiro passo no trabalho coletivo e na vasta atividade social dessa juventude,
sendo extraordinário o seu papel na formação do homem soviético e na ampliação
de seu horizonte político e social.

Início da página

Inclusão 12/02/2013

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1944/04/poderio.htm 1/1
11/09/2019 Algumas Observações sobre a Educação do Soldado Komsomol
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Algumas Observações sobre a


Educação do Soldado Komsomol
M. I. Kalinin

15 de Maio de 1944

Primeira Edição: discurso pronunciado na recepção aos Encarregados do trabalho do Komsomol


no Exército Vermelho. “Komsomólskaia Pravda” (“A Pravda do Komsomol”), 31 de maio de 1944.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 250-258.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Desejo dizer, camaradas, algumas palavras sobre a


educação da juventude no exército.

Está claro para todos que a principal tarefa do Komsomol


em todas as partes, inclusive no exército, é a educação da
juventude. E a educação dos homens, particularmente a dos
militares, é um trabalho complexo e delicado. Neste trabalho
não se pode confiar em certas formas de organização de uso
permanente, ou inventar formas novas de trabalho válidas
para todos os casos que se apresentem na vida, pensando
que com elas a educação marchará por si mesma. Com uma fórmula preparada de
antemão, mesmo que seja perfeita, não se pode resolver todos os problemas da
educação.

Tomemos, por exemplo, a influência que, dia a dia, o oficial Komsomol exerce
sobre a massa de soldados komsomóis. Pode-se, nesta situação, inventar algo
obrigatório e legitimado pelo Comitê Central do Komsomol? Creio que não. As
próprias condições de existência, as relações que se vão estabelecendo na unidade
e que se cristalizam em determinadas formas, arraigam-se na vida e servem à
causa da educação.

Nossos soldados—komsomóis são pessoas instruídas que terminaram pelo


menos o sétimo ano da escola intermediária. Mas trata-se de gente jovem e
impulsiva. O oficial deve acostumá-los à disciplina. Ao mesmo tempo, deve-se
distinguir entre as relações no serviço e fora dele. Durante o combate, quando o
soldado está em seu posto, deve-se exigir dele que cumpra as ordens sem a
menor discussão. A discussão durante o combate é fatal, pois o inimigo não espera

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1944/05/15.htm 1/7
11/09/2019 Algumas Observações sobre a Educação do Soldado Komsomol

que a gente acabe a discussão. Mas ao contrário, depois do combate, numa


reunião do Komsomol, por exemplo, os soldados podem analisar abertamente seus
próprios defeitos e os de seus camaradas.

O prestígio do oficial Komsomol não é determinado unicamente pela sua


graduação. Aqui seu prestígio é de outra natureza. È preciso que o oficial
Komsomol seja estimado não só por sua qualidade de tenente ou de capitão, mas
por seu conhecimento da arte militar e por sua qualidade de pessoa sensata e de
dirigente político. Em outros termos, o oficial Komsomol deve ganhar prestígio
sobretudo com seus conhecimentos e sua experiência.

A própria conduta do oficial Komsomol constitui um exemplo educador, pois o


que mais contribui para a completa educação do jovem soldado são as relações
que se estabelecem entre os homens e, no caso presente, na vida de campanha,
são principalmente as relações estabelecidas entre a oficialidade e os soldados.

Em nosso exército não existe essa situação em que só o oficial manda e o


soldado apenas obedece. Quando o comandante do pelotão ou da seção é posto
fora de combate, são simples soldados que assumem o comando, assim
manifestando sua própria iniciativa. Casos assim no exército alemão podem ser
contados nos dedos, mas em nosso exército são muito numerosos. Em nosso
exército, os oficiais e soldados se identificam por seu espírito, por sua educação e
por sua origem. Nosso soldado-Komsomol, que terminou a escola intermediária, e
o jovem oficial komsomol não só são afins pelo seu espírito, não só pensam da
mesma maneira, mas também são afins pelo seu desenvolvimento intelectual.

Nós exigimos uma disciplina rigorosa. E é natural, porque um exército só pode


merecer esses nome se for disciplinado c mantiver coesas suas fileiras. Por isso
deve-se frisar sempre a questão da disciplina. E ao mesmo tempo, os oficiais
encarregados do trabalho político, sobretudo em campanha, prestam muita
atenção à educação dos soldados, pois sem isto não será possível a disciplina
consciente, traço característico de nosso exército. Eles ensinam aos soldados a ser
valentes e honrados, a não enganar os camaradas, pois se devemos, sendo
mesmo um dever, enganar o inimigo, tal é inadmissível em se tratando de
companheiros de armas.

É neste ponto que tem grande importância o prestígio pessoal do oficial, que
sempre deve ser mantido a uma grande altura. Se um oficial de reconhecida
valentia, diligência e conhecimentos militares comete algum erro de expressão
numa palestra Ou numa reunião, os soldados não o levarão a mal. Dirão que
cometeu um equívoco, porém que, em compensação, trata-se de um valente no
combate. O oficial ganha este prestígio no campo de batalha, no comando de sua
unidade e no trabalho político, sendo que esses mesmo prestígio se refletirá na
solução de todos os problemas que surgem ante a organização do Komsomol.

Naturalmente, seria de desejar que o oficial Komsomol tivesse melhor preparo


político e fosse mais culto que o oficial não pertencente ao Komsomol. Embora
tenham os mesmos conhecimentos militares, deve-se procurar sempre que o
oficial komsomol tenha um nível cultural mais elevado. Isto, nada mais do que
isto, pode assegurar-lhe uma influência maior entre os soldados. Para acumular
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11/09/2019 Algumas Observações sobre a Educação do Soldado Komsomol

conhecimentos é preciso estudar constantemente. Podereis dizer-me que já estais


combatendo três anos sem descanso e que, nesta situação, é muito difícil estudar
e aperfeiçoar qualquer espécie de conhecimentos e, em particular, os teóricos.
Tudo isto é verdade, naturalmente. Compreendo ser difícil. Mas devo dizer-vos que
aquele que não amplia seus conhecimentos nos momentos difíceis, em outra
ocasião, quando tenha menos trabalho, dirá certamente que precisa repousar e
que, de um modo geral, os conhecimentos não fazem tanta falta assim. (Risos).

Reconheço as dificuldades da situação. Mas estas mesmas dificuldades nos


servem de incentivo para aperfeiçoar nossos conhecimentos e elevar nosso nível
cultural. A aquisição de conhecimentos é mais difícil quando falta uma pressão
exterior contínua. Julgo por mim mesmo: não escrevi um único artigo sem que me
pressionassem. Mas quando me pedem o artigo e me apertam, não tenho outro
remédio senão escrever. (Risos). A pressão exterior contribui para que o homem
não estaque, para que não se detenha num ponto morto.

Breve completarei setenta anos e, apesar disso, não tenho outra saída senão
estudar diariamente e estar em dia com a produção literária. Não se pode proceder
de outro modo. Eis por que tenho mais experiência que vós e sou mais hábil em
política, o que me permite sair de apuros com mais facilidade. Sois mais jovens,
encontrais maiores dificuldades e somente os conhecimentos vos podem ajudar.
Deveis estudar sem cessar. A própria vida o exige imperiosamente.

É claro que cada oficial e cada soldado se preocupam antes e acima de tudo
com a honra de sua unidade.

Temos magníficas unidades militares, cujo nível geral é muito alto. Perguntais
como se pode aproveitar sua experiência em outras unidades para torná-las tão
boas como aquelas. Responderei com um exemplo. Suponhamos que existe um
quadro maravilhoso do qual se fazem cópias, muito boas cópias. E, não obstante,
essas cópias nunca deixarão de ser cópias e serão julgadas como de muito menos
valor que o original. O mesmo ocorre com a educação das pessoas, que não tolera
o clichê, mesmo sendo bom. Naturalmente, é preciso aproveitar a experiência dos
demais, mas não se pode transplantar uma experiência alheia sem levar em conta
as peculiaridades da situação, as pessoas e os objetivos. Toda experiência deve
ser vivida, deve ser conquistada na luta, para que se torne carne e sangue do que
passa por ela.

Imaginemos uma unidade que participou de operações de desembarque e


passou por uma boa escola combativa. É claro que os marinheiros, infantes e
artilheiros dessa unidade estão muito ligados; sua amizade, forjada na luta,
tornou-se muito íntima. Qual é a origem de tudo isso? Quando iam para o
combate, os marinheiros sabiam que todo o exército tinha os olhos postos neles,
sabiam que muitas coisas dependiam deles. O perigo os espreitava a cada passo.
Em cada um deles ardia o desejo de cumprir a ordem, de fazer o que lhes haviam
determinado e, ao mesmo tempo, de salvar-se e a seus camaradas. Obtinham
êxito à custa de enormes esforços. É claro que em semelhante situação o
combatente amadurece com muito maior rapidez que, por exemplo, nas unidades
que ocupam setores mais tranquilos da frente. Neste caso, é menor a tensão em

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11/09/2019 Algumas Observações sobre a Educação do Soldado Komsomol

que se encontram os homens e, ademais, a monotonia da situação influi


negativamente sobre eles. Dir-se-ia que nessas unidades há mais tempo livre e,
portanto, é mais fácil levar a cabo o trabalho educativo. Mas na realidade acontece
precisamente o contrário. E mais fácil educar as pessoas numa situação em que a
própria vida ajuda a educá-las. Resulta, portanto, ser mais complicado levar à
prática um trabalho político e realizar uma obra de organização, agitação e
propaganda quando a gente fica durante muito tempo num lugar fixo, metido nas
trincheiras. Creio que nestas condições se deve conceder mais atenção ao trabalho
das organizações do Komsomol.

O exemplo citado demonstra ser difícil dar uma receita para todos os casos da
vida, uma receita do melhor modo de dirigir o trabalho educativo do Komsomol no
exército.

Qual é a causa, digamos, de uma unidade ser melhor e outra pior? Verifica-se
que na unidade melhor há um dirigente que sabe encaminhar melhor o trabalho.
Devo dizer-vos que um homem pode estar muito bem informado e ser muito culto,
mas se dirige a juventude sem ardor, se não põe a alma na educação e instrução
da juventude, ela o perceberá logo e não o quererá. Ao contrário, se alguém põe a
alma na sua tarefa e não poupa esforços para que sua organização figure entre as
primeiras, se dedica a isso todas as suas energias e todo seu ardor, conquistará
seguramente o carinho da juventude. Um homem assim não só será respeitado
pela juventude, mas será querido por ela, o que tem mais valor.

Por isso julgo que se a organização é boa, isto se deve em grande parte ao
fato de ela ser encabeçada por um bom dirigente. Quando um homem aspira
realmente a organizar bem as coisas, quando possui um mínimo de cultura e não é
um pateta, alcançará sempre êxito. A própria vida lhe sugerirá os meios para
alcançá-lo. Quando falamos dessas relações cotidianas é preciso compreender que
tais relações vão-se formando no processo da vida e são criadas pela própria vida,
sem regras escritas, diferentemente das formas de organização cristalizadas
historicamente e registradas nos estatutos. Depende de vós que sirvam as
relações entre nossos oficiais e soldados komsomóis sempre e invariavelmente à
causa da educação da juventude e ao fortalecimento do poderio de nosso exército.

Perguntais: que se deve fazer diante do fato da existência, nas unidades, de


bons e maus komsomóis? Que remédio! Os komsomóis não caem do céu, mas
saem do povo. E entre o povo há homens bons, muito bons, e há maus, covardes,
charlatães e hipócritas. Não faz mais que vinte e seis anos que nosso povo se
libertou do regime capitalista, cujos vestígios não desapareceram de todo. Seria de
estranhar que o exército, saído do povo, fosse composto unicamente de santos.
(Risos). Isto não é possível. O mesmo acontece com a organização do Komsomol,
na qual há bons e maus komsomóis. Se todos os homens fossem honrados,
valorosos, disciplinados, cultos e conhecedores de suas obrigações, não teríeis o
que fazer. (Risos).

Entretanto, acredito não estar enganado ao dizer que, no fundamental, a


massa Komsomol é composta de representantes avançados da juventude. Mas,
naturalmente; há nessa massa uma porcentagem insignificante de jovens

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1944/05/15.htm 4/7
11/09/2019 Algumas Observações sobre a Educação do Soldado Komsomol

atrasados, que não devemos deixar escapar de nossa influência. Esta é nossa
obrigação.

Um dos camaradas disse que no Komsomol do exército há muitos camaradas


ótimos, mas, infelizmente, nem todos são dirigentes. Que se pode responder a
isso? Se todo o povo fosse composto de dirigentes, então não haveria povo.
(Risos). O número de dirigentes é sempre limitado, do contrário não seriam
dirigentes, pois não teriam a quem dirigir. Se em vossa unidade há dois dirigentes,
isto é ótimo, pois se um for posto fora de combate, haverá quem o substitua.
Receio que se alguma unidade fosse composta unicamente de dirigentes faltar-lhe-
ia capacidade combativa, porque todos se sentiriam aborrecidos por serem os
dirigidos. (Risos). O importante é que haja pessoas dispostas a seguir o dirigente,
a estar em estreito contato com ele. São elas que constituem o ativo e cumprem
todas as tarefas. É nesse ativo que devemos apoiar-nos a todo instante.

Aqui foi formulada a pergunta sobre o que fazer com os komsomóis que não
têm nenhuma incumbência social na organização.

Não se pode abordar a questão de modo formalista. Se ura membro do


Komsomol não está incumbido de nenhum trabalho social na organização, mas
tem outras obrigações importantes e necessárias, as cumpre bem e ajuda a
conquistar a vitória, pode-se considerar que cumpre com honra suas obrigações de
membro do Komsomol. E estará muito acertada a organização, se considerar que
seu fundamental trabalho militar é de suficiente importância, que absorve todo seu
tempo, e não lhe der uma ocupação adicional. Suponhamos que certo oficial,
membro do Komsomol, realiza importante trabalho no Estado-Maior. Pode-se
considerar que ele realiza uma tarefa de Komsomol ou não? Se ele ocupa um
posto de responsabilidade no Estado-Maior, dedicando todo o seu tempo a essa
missão militar, é justo censurá-lo por não ter nenhuma tarefa social do Komsomol?
Entre nós costuma acontecer que a organização do Komsomol, apesar de ver que
um homem está sobrecarregado de trabalho, apesar disso, trata de inventar um
trabalhinho para ele. Não é justo. Vós, organizadores e dirigentes da atividade
política dos komsomóis deveis saber como trabalha cada um deles. E se vedes que
algum está sobrecarregado de trabalho, embora este não seja considerado como
uma missão fundamental do Komsomol no sentido amplo da palavra, não deveis
acreditar que ele evita o cumprimento de suas obrigações de membro do
Komsomol. Há uma diferença essencial entre o homem sobrecarregado de trabalho
e o homem que foge ao trabalho.

Para nós o trabalho do Komsomol jamais constituiu um objetivo em si. A


juventude ingressa no Komsomol com o fim de ajudar o Partido em sua luta pelo
bem-estar e a felicidade do povo trabalhador. O valor de um Komsomol não está
em que ele faça brilhantes intervenções nas reuniões, em que seja um ativista da
organização ou nela desempenhe algumas funções especiais. Seu valor é
determinado, antes de tudo, pela forma pela qual realiza o trabalho fundamental
— estatal, militar ou administrativo — que lhe tenha sido atribuído.

Do mesmo modo, os êxitos do Komsomol em seu conjunto são devidos ao


trabalho socialmente útil de todos os rapazes e moças komsomóis. Acaso não vos

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1944/05/15.htm 5/7
11/09/2019 Algumas Observações sobre a Educação do Soldado Komsomol

sentis cheios de legítimos orgulho porque saíram tantos heróis e tantos


condecorados do seio do Komsomol? Mas acontece precisamente que eles
ganharam as condecorações mais pela sua atividade combativa do que por seu
trabalho de komsomol.

Nas diferentes etapas de nossa história, o Partido visou objetivos concretos.


Antes, o Partido reunia em seu redor as fôrças do povo para derrubar o tzarismo,
organizar a sociedade socialista e consolidar o regime soviético. Hoje, todas as
fôrças do Partido estão empenhadas na defesa do País Soviético. De jeito nenhum,
o Partido traça a tarefa de converter todos os seus membros em homens
lavadinhos, branquinhos e limpinhos. O Partido está dedicado à tarefa histórica de
defender o Estado Soviético, sua independência e seu futuro; luta para que o
mundo inteiro respeite a União Soviética como poderosa fôrça. Esta é a tarefa de
hoje. 'Subentende-se que nesta gigantesca luta os homens se transformam e se
definem seus conceitos ideológicos e seus caracteres. Com isso formamos uma
geração de homens novos que põem acima de tudo o bem-estar da sociedade, a
luta pelos ideais da nova sociedade e da humanidade inteira. É para estes
objetivos que vive o Partido e de modo algum para ser simplesmente um Partido
como tal. Cabe dizer exatamente o mesmo do Komsomol.

O valor de cada Komsomol deve ser interpretado não só do ponto de vista de


como cumpre suas obrigações de membro do Komsomol, mas também da sua
utilidade para a obra comum. E uma vez que luta e defende o Estado Soviético, já
que o protege com todas as suas fôrças, com unhas e dentes e com seu próprio
sangue contra os atentados dos inimigos, pode, acaso, deixar de ser considerado
como trabalho de Komsomol o cumprimento de seu dever militar, cujo fim é
defender o Estado Soviético? É claro que seu trabalho militar é um trabalho de
Komsomol, é a tarefa principal e fundamental na qual põe em relevo seu
patriotismo, sua capacidade e seu heroísmo.

Hoje, algumas de nossas unidades combatem fora das fronteiras da União


Soviética, em terras estranhas, na Rumânia. Ali nos encontramos com outro
mundo. As relações do Exército Vermelho com a população local são como devem
ser. Mas não devemos intrometer-nos na vida dos romenos. É preciso dizer que
foram difundidas muitas mentiras sobre a União Soviética no seio da população
romena. Parte da população romena foge diante de nós, temerosa de que, quando
chegarem, esses terríveis bolcheviques comecem a esfolá-los vivos. É preciso
demonstrar-lhes até que ponto foram enganados. Sob este aspecto, nossa
oficialidade e os soldados se mostram à altura das circunstâncias. Os romenos se
vão convencendo de que chegou a seu país um exército culto de um povo culto.
Devemos proteger-nos unicamente contra a espionagem e os atos de sabotagem.
É preciso adotar medidas preventivas de caráter puramente militar.

Para terminar, quero desejar-vos de todo o coração muito êxito em vosso


trabalho. Pelo visto, grandes combates serão travados neste verão. Vossa tarefa
primordial consiste em preparar os homens para esses combates, prepará-los
técnica, política e psicologicamente. Deveis subordinar todo o vosso trabalho ao
cumprimento dessa tarefa. Desejo-vos muito êxito! (Atroadores aplausos.
Exclamações: “Viva Mikhail Ivánovitch Kalínin! Hurra!”).

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1944/05/15.htm 6/7
11/09/2019 Algumas Observações sobre a Educação do Soldado Komsomol

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Inclusão 07/03/2013

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1944/05/15.htm 7/7
11/09/2019 A Fisionomia Moral de Nosso Povo
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A Fisionomia Moral de Nosso Povo


M. I. Kalinin

Janeiro de 1945

Primeira Edição: Revista “Bolchevik”, (“O Bolchevique”), núm. 1, de 1945.


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 259-297.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

A moral ou ética existe desde o início da formação da


sociedade humana, por cujo desenvolvimento econômico é
determinada, não de um modo automático, naturalmente,
mas com certo atraso, da mesma forma que toda a
superestrutura ideológica, como o direito, a religião, etc. Nos
albores da sociedade humana a moral surgia das condições de
existência, constituindo-se praticamente em determinadas
normas de conduta dos homens.

Por certo, essas normas não eram registradas em


nenhuma espécie de códigos jurídicos — naqueles tempos nem sequer existia a
escrita — mas eu diria que não eram menos obrigatórias para os homens daquela
época que os artigos jurídicos cias atuais leis escritas o são para nós. A atitude
para com a comunidade, o clã, a família, a atitude do homem para com a mulher e
vice-versa, as relações da vida diária iam-se consolidando e convertendo-se em
normas psicológicas aceitas por todos, na moral da sociedade.

Com a divisão da sociedade humana em classes, com a aparição do Estado,


também a moral, como é lógico, se transforma numa moral de classe, em arma
poderosa nas mãos das classes dominantes para escravização das massas
dominadas. Referindo-se à sociedade capitalista, Engels dizia que nela existem
pelo menos três espécies de moral:

“a da aristocracia feudal, a da burguesia e a do proletariado”.

"E como até o dia de hoje a sociedade se tem agitado nos antagonismos
de classes, a moral sempre foi uma moral de classe; ou justificava a
dominação e os interesses da classe dominante, ou representava,
quando a classe oprimida se tornava bastante poderosa, a rebelião

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1945/01/moral.htm 1/27
11/09/2019 A Fisionomia Moral de Nosso Povo

contra essa dominação e defendia os interesses do futuro dos


oprimidos”.(1)

As classes dominantes de cada época — a da escravidão, a feudal, e a


capitalista — procuravam encobrir sua dominação e apresentar seus exclusivos
interesses de classe como interesses de todo o povo. Apresentavam sua moral de
exploradores como uma moral de toda a humanidade, elevando-a à categoria de
verdade eterna, cujas bases, situadas fora da sociedade humana, não dependem
do homem nem de determinada formação social, mas emanam de Deus.

Com o passar do tempo, iam desaparecendo as velhas formações econômico-


sociais e outras novas surgiam em seu lugar. Os problemas da moral
transformaram-se em um ramo da ciência filosófica. Os filósofos metafísicos e
escolásticos, dedicados ao estudo desses delicados problemas, justificavam a
ordem vigente com leis morais baseadas em concepções transcendentes, isto é,
inacessíveis ao entendimento humano. Isto não quer dizer que o trabalho secular
dos metafísicos e escolásticos não tenha trazido resultados positivos para o
desenvolvimento do saber humano e da lógica do pensamento. Mas, em geral,
todos eles visavam um único fim: pôr a moral a serviço dos interesses das classes
dominantes, justificar a opressão da maioria explorada pela minoria exploradora e
reconhecer que o moral era precisamente essa situação.

A literatura da Europa Ocidental, apesar de servir em seu conjunto aos


interesses da sociedade capitalista, produziu excelentes obras que estigmatizam o
capitalismo. Assim, por exemplo, na novela “O tio Goriot” de Balzac — um dos
melhoras conhecedores da sociedade burguesa — a viscondessa de Beauséant
aconselha ao estudante Rastignac:

“Quanto mais frios forem vossos cálculos, mais longe ireis. Feri sem
piedade e sereis temido. Não considereis os homens e as mulheres mais
do que cavalos de posta que deixareis rebentados em cada muda... Mas
se chegardes a ter um verdadeiro sentimento, ocultai-o como um
tesouro; que ninguém o perceba, ou estais perdido. De verdugo vos
converteríeis em vitima”.

Na Rússia, como em todas as partes, à medida que se desenvolvia a


sociedade, também iam-se modificando os postulados morais. A moral da classe
dominante na Rússia tzarista apoiava-se nos três pilares do regime: “autocracia,
religião e ordem”. Eram os três princípios das camadas mais reacionárias da
população: a nobreza latifundiária, a casta militar, os altos funcionários e a côrte
com toda a sua criadagem, a chamada “alta sociedade”, que agrupavam e
encabeçavam todas as fôrças reacionárias. Todos os esforços dessa classe
dominante visavam à conservação de seus privilégios e a manter o povo
submetido. Diga-se de passagem que a própria aristocracia não atribuía muita
importância moral à pessoa do tzar, o que, não obstante, não a impedia de realizar
uma ampla propaganda no seio do povo, afirmando que o tzar era um ungido de
Deus, seu poder uma graça divina e que, por isso, todas as suas decisões eram
justas e inatacáveis.

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1945/01/moral.htm 2/27
11/09/2019 A Fisionomia Moral de Nosso Povo

Em oposição a esta moral estreita e egoísta da elite aristocrático-monárquica


germinavam as bases duma nova moral: o ódio aos exploradores, o amor ao povo
e à Pátria. Os melhores homens da Rússia entregavam todas as suas energias e
até sua vida para ajudar os camponeses a se emanciparem da servidão feudal. As
insurreições de Stepan Razin e Emelian Pugatchov obrigaram os espíritos mais
esclarecidos da aristocracia a refletir, impelindo-os a uma análise crítica da
situação dos camponeses e dos abusos dos latifundiários.

A literatura russa do século XVIII produziu os primeiros rebentos da moral


revolucionária, em parte devido à influência dos enciclopedistas franceses. O
representante mais destacado dessa literatura — Radístchev — realiza uma crítica
demolidora do regime da servidão em sua obra “Viagem de Petersburgo a
Moscou”. Ao descrever em cores vivas o vergonhoso quadro da vida feudal (a
venda de famílias camponesas por atacado e a varejo, as levas de camponeses
mandados para o serviço militar, o escárnio e as violências dos senhores contra
seus escravos), Radístchev, cheio de indignação, estigmatizava o regime da
servidão, sua crueldade, e afirmava a legitimidade de qualquer ação dos
camponeses em defesa do direito de se chamarem homens. Chamando seus
contemporâneos à razão, dizia:

“Até hoje nossos lavradores continuam sendo escravos; não os


reconhecemos como cidadãos iguais a nós, esquecemos que são
homens. Oh, amados concidadãos! Oh, filhos verdadeiros da nossa
Pátria! Olhai em torno de vós e reconhecei vosso erro!...

Mas, quem de nós carrega ferros, quem suporta o peso da escravidão? O


lavrador! O que alimenta nossa magreza e sacia nossa fome; o que nos
dá a saúde e mantém nossa vida, sem poder dispor do que cultiva nem
do que produz...

Pode considerar-se feliz um Estado no qual duas terças partes dos


cidadãos são privadas de condição social e em certa medida não existem
para a lei? Pode chamar-se de feliz a situação social do camponês na
Rússia? Só um vampiro insaciável dirá que o camponês é feliz, porque
não tem não alguma de uma situação melhor...

Diremos que é feliz um país onde cem orgulhosos cidadãos nadam na


opulência, enquanto milhares não têm garantido o pão e carecem de um
teto que os proteja contra o calor e o frio? Malditos sejam esses países
da abundância!...”(2)

As ideias de Radístchev sobre a educação podem ser consideradas


progressistas até hoje em dia.

A moral abarca uma ampla escala de sentimentos e, para revelá-los à


sociedade, necessita de uma linguagem rica. Lomonósov, o grande sábio russo,
trabalhou muito na criação do idioma, o que contribuiu para que a sociedade russa
assimilasse as novas ideias de seu tempo.

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11/09/2019 A Fisionomia Moral de Nosso Povo

“O idioma — dizia Lomonósov — mediante o qual _ o Estado russo


exerce seu império numa grande parte do mundo, possui, em virtude
desse poderio, uma riqueza, formosura e vigor naturais que não ficam
atrás de nenhum idioma europeu”. Lomonósov via no idioma russo “o
esplendor do espanhol, a vivacidade do francês, o vigor do alemão, a
ternura do italiano e, ademais, a riqueza e a concisão de imagens do
grego e do latim”.

A literatura da primeira metade do século XIX deu um poderoso impulso ao


desenvolvimento do pensamento político da sociedade russa e permitiu-lhe
conhecer melhor seu povo.

Belinski, Tchernichevski, Dobroliúbov e Nekrássov deram um grande impulso


ao desenvolvimento e ao aprofundamento da moral revolucionária, que já se tinha
estendido a massas mais consideráveis da sociedade da época. esses autores
despertavam a consciência humana, obrigavam a meditar sobre a vida e sobre o
que nela se podia fazer de útil. Duvido de que haja alguém, na história da
literatura e do jornalismo russo, que tivesse exercido tanta influência sobre o
pensamento dos homens e elevado tão eficazmente sua consciência cívica,
impulsionando a luta contra a autocracia e pela revolução democrática, como
Belinski, Tchernichevski e Dobroliúbov, cujas vidas, inteiramente consagradas ao
desenvolvimento da democracia russa, aureolavam-se de elevada moral aos olhos
da sociedade progressista.

Belinski dizia:

“É impossível não amar a Pátria... unicamente, é preciso que esses amor


não seja um conformismo inerte com o que existe, mas um vivo afã de
perfeição; numa palavra, o amor à Pátria deve ser ao mesmo tempo
amor à humanidade... O amor à Pátria é o desejo ardente de ver nela a
realização do ideal humano e contribuir para isso na medida de nossas
fôrças”.

Com suas obras, Nekrássov despertava em todo homem honrado o ódio aos
escravistas, o amor ao povo e chamava à luta:

“Marcha para o combate em honra da Pátria,


Por tuas convicções, por teus amores...
Marcha e morre com a consciência limpa.
Não será em vão... É firme a causa
Cujos alicerces são regados a sangue”.

Õ grito saído do fundo de sua alma: “podes não ser poeta, mas é teu dever ser
cidadão”, despertava espontaneamente em amplos círculos da sociedade russa os
mais elevados sentimentos cívicos, a consciência da responsabilidade moral
perante o país, perante seu povo.

★★★

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11/09/2019 A Fisionomia Moral de Nosso Povo

Antes da Revolução de Outubro, o conteúdo fundamental da moral marxista


consistia em

“criticar a burguesia, desenvolver nas massas o sentimento de ódio


contra ela, desenvolver a consciência de classe, saber agrupar as
próprias fôrças”.(3)

A nova moral penetrava no seio da classe operária e dos trabalhadores por


dois caminhos convergentes: de uma parte, a propaganda realizada pelos
intelectuais marxistas; de outra, o próprio capitalismo em ascenso, com sua feroz
exploração do trabalho, impelia os operários à resistência. Por isso, a consciência
da comunidade de interesses dos trabalhadores abria caminho rapidamente entre
os operários, que assimilavam com facilidade os apelos à solidariedade
internacional. A moral proletária ia-se formando no próprio ambiente operário: nas
oficinas e nas fábricas. A propaganda marxista não fazia mais que ampliar a
compreensão da ética proletária.

Por exemplo, os operários consideravam como um justo castigo o


espancamento dos fura-greves, espiões, pelegos e capatazes desalmados que
cortavam os salários. A solidariedade entre os operários, especialmente durante os
conflitos com os patrões, era compreendida, quando não por todos, pelo menos
pela imensa maioria. Isto, evidentemente, não quer dizer que os operários
atuavam sempre solidariamente. Além dos espiões pagos pela administração e de
seus agentes, havia entre os operários, arrivistas, que aspiravam tomar-se
contramestres e ocupar algum posto administrativo e que, por isso, mantinham-se
à margem.

Cada greve, cada luta de maior ou menor importância nas empresas era
seguida de represálias: despedida dos chamados instigadores, listas negras e
prisões. Os operários coletavam dinheiro para as vítimas e as ajudavam com tudo
o que podiam. Havia até contramestres que contribuíam para as subscrições e, às
vezes, ajudavam a colocar em outras fábricas os operários atingidos. Isto era
considerado como um dever moral entre os operários.

Apesar de tudo, nos primeiros tempos tudo isto não tinha um caráter
organizado. Somente com o desenvolvimento do movimento revolucionário, com o
despertar da consciência de classe do proletariado, com sua transformação de
classe em si em classe para si, começaram a formar-se qualidades morais como a
honradez para com sua classe, a disciplina, o apoio mútuo, a abnegação na luta e
o espírito de organização. Estes traços morais do proletariado constituíram a base
da nascente moral socialista, que no regime capitalista se opunha à moral
burguesa com seus cruéis e ferozes princípios: “O homem é o lobo do homem”,
“Cada um por si e Deus por todos”, “Abre caminho na vida”, etc.

A propaganda de nosso Partido trazia um elemento extraordinariamente


enobrecedor para o ambiente operário. Podemos dizer sem medo de errar que
precisamente com a extensão da propaganda e da agitação marxista, com a
organização dos círculos clandestinos, começou a formar-se a intelectualidade
operária na Rússia. Os propagandistas e organizadores agruparam os operários

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11/09/2019 A Fisionomia Moral de Nosso Povo

numa fôrça compacta e organizada. E a moral revolucionária do proletariado por


eles inculcada arraigou-se na massa operária mais profundamente do que parecia
à primeira vista. A moral revolucionária não só abarcava o campo das relações
sociais, mas também a própria vida da classe operária.

Em honra de nossa intelectualidade da época pré-revolucionária devemos dizer


que de longa data surgiam de seu seio pensadores, pintores, literatos de talento,
ardentes lutadores pelo bem do povo. O lugar da brilhante plêiade de populistas
revolucionários foi ocupado, por direito próprio, pelos marxistas. Quem não
conhece a apaixonada luta travada na literatura política de fins do século passado
e princípios do atual entre o populismo e o marxismo, as disputas sobre os
caminhos do desenvolvimento da economia russa e do pensamento revolucionário?
O fato de esta luta ter girado em torno dos princípios fundamentais foi
determinado pela realidade pré-revolucionária: as greves e manifestações nas
cidades pareciam competir com as insurreições camponesas e os incêndios de
fazendas de latifundiários nas províncias de Khárkov, Poltava e outras.

Nesta luta contra a autocracia e a ordem feudal-burguesa ia-se formando o


pensamento revolucionário marxista e se constituía, na base dos círculos operários
dispersos, o Partido Social-Democrata, que, em 1903, depois da cisão com os
mencheviques no II Congresso, começou a chamar-se Partido Operário Social-
Democrata (bolchevique). Guiado por Lênin e Stálin, o Partido bolchevique, e com
ele a classe operária, empreenderam firmemente o caminho marxista
revolucionário de luta pela defesa dos interesses da classe operária. As ideias do
marxismo revolucionário estendiam-se e se consolidavam entre os operários e se
arraigava cada vez mais profundamente a ideia leninista da comunidade de
interesses das massas operárias e camponesas na luta contra o tzarismo, da
necessidade da insurreição armada.

A revolução de 1905, apesar de seus limitados resultados e da derrota


temporária da classe operária, elevou consideravelmente não só a consciência de
classe dos operários, mas também a dos camponeses, enriquecendo a uns e a
outros com a experiência revolucionária da luta sob a direção de nosso Partido. O
povo se convenceu na prática da possibilidade de defender seus interesses de
armas na mão. E isso, naturalmente, não podia deixar de influir na mentalidade do
povo e de refletir-se no seu estado de ânimo e em seus sentimentos morais e
políticos

Contrariamente ao que ocorria, por exemplo, no seio da intelectualidade


burguesa, entre a pequena burguesia e a elite operária que aderiu aos
mencheviques, onde em consequência da derrota da revolução se produzia uma
queda brusca do moral revolucionário, entoavam-se cânticos fúnebres à revolução
e se pregava o chamado egoismo “legitimo” da personalidade, nosso Partido era o
único que a despeito do elemento pequeno- burguês, além de não arriar a
bandeira da luta revolucionária, fortalecia suas fileiras, mantinha uma luta
implacável contra todas as manifestações de oportunismo, eliminando de seu seio
os companheiros de viagem. Este trabalho, cujo peso principal caiu sobre os
ombros de Lênin e Stálin, em pouco tempo deu frutos.

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Sob a influência de nosso Partido, a revolução democrático-burguesa de


fevereiro transformou-se na Grande Revolução Socialista de Outubro, coroada pelo
triunfo completo do proletariado e dos camponeses pobres sobre o velho regime
da Rússia tzarista, sobre o capitalismo. Foi cruzado o Rubicon, começou uma nova
vida. O povo seguiu um caminho novo, jamais explorado por ninguém e enfrentou
um grandioso objetivo: reorganizar sua vida sobre princípios novos, sobre
princípios socialistas, livre da exploração do homem pelo homem. Isto exigiu a
subversão radical das velhas relações sociais e, por conseguinte, foi preciso
modificar também a fisionomia moral do homem.

E era natural, pois a reorganização da Rússia sobre novos princípios sociais e


econômicos, a reorganização dum país em que se entrelaçavam de forma tão
caprichosa as diferentes formas de produção e de vida social, exigiu de nosso
Partido, de sua direção, uma enorme tensão de suas fôrças intelectuais, muitos
anos de agitação e propaganda com o fim de cultivar nas massas a moral
comunista. Marx e Engels diziam:

“Tanto para que esta consciência comunista brote em massa, como para
alcançar o próprio objetivo, é preciso uma transformação em massa dos
homens, possível únicamente num movimento prático, numa revolução;
em consequência, a revolução é necessária não só porque nenhum outro
meio é capaz de derrubar a classe dominante, mas também porque só
numa revolução a classe que derruba pode libertar-se de toda a velha
imundície e tornar-se capaz de edificar a nova sociedade”.(4)

A Grande Revolução Socialista de Outubro elevou a moral dos povos da Rússia


a um grau mais alto, transformando-a na moral mais elevada da sociedade
humana. E não se trata de nenhum exagero; esta não é mais do que uma
conclusão objetiva da realidade presente. Isto não significa que um belo dia o povo
amanheceu iluminado por uma graça repentina: a nova moral, a moral socialista.
Marx já assinalava que a moral dos homens se atrasa em relação ao
desenvolvimento econômico e que, por isso, não é possível extirpar de uma hora
para outra, somente com a transformação revolucionária, todos os remanescentes
do capitalismo.

A grandeza da doutrina marxista consiste, precisamente, em que Marx


descobriu, na sociedade burguesa, a classe operária como a única fôrça capaz de
transformar a vida.

Lênin dizia que o que distingue o marxismo

“do antigo socialismo utópico é que este pretendia edificar a nova


sociedade não com a massa de material humano, produto do capitalismo
sanguinário, imundo, rapace, mercantilista, mas com seres muito
virtuosos, criados em estufas e viveiros especiais. Agora todos se
convenceram de que esta ideia é irrisória e a abandonaram; mas nem
todos desejam ou são capazes de analisar a doutrina contrária exposta
pelo marxismo, de analisar como se pode (e se deve) edificar o
comunismo à base de uma massa de material humano corrompida por

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séculos e milênios de escravidão, servidão e capitalismo, de economia


pequena e dispersa, de guerra de todos contra todos por um lugar no
mercado, por um preço mais elevado dos produtos ou do trabalho”.(5)

Com efeito, não foi fácil às massas, assimilar a nova moral, a moral socialista.
A princípio, a vitória do proletariado e dos camponeses pobres foi recebida com
hostilidade até pela maioria dos intelectuais, sem falar nas classes derrubadas. E
inclusive a classe operária, e sobretudo o campesinato, não puderam renunciar de
repente aos usos, costumes e tradições adquiridos durante séculos de domínio dos
latifundiários e da burguesia. Nem todos os operários se davam conta de que,
vivendo na sociedade capitalista, eram uns proletários sem lar e que, na realidade,
não tinham pátria, pois esta era uma madrasta para eles; não compreendiam que
só depois da Revolução de Outubro foi que deixaram de ser proletários deserdados
para se converterem em cidadãos de um grande país, em membros iguais da
coletividade de milhões de construtores do Estado socialista, em co- proprietários
de todas as riquezas do país, tanto das existentes como das potenciais.

O amor ao trabalho é um dos elementos fundamentais da moral comunista.


Mas, unicamente com o triunfo da classe operária, o trabalho — condição imutável
da existência humana deixa de ser uma carga pesada e vergonhosa para
transformar-se numa questão de honra e heroísmo.

Certa vez, antes da Revolução, coube-me participar de uma reunião de.


operários em que se discutia a atitude que devíamos adotar para com o trabalho
na oficina. Alguns opinavam que se trabalhávamos para o capitalista não era
preciso esmerar-se muito; bastava cumprir o mínimo exigido pelo patrão e o
contramestre. Outros objetavam, dizendo que sua honra profissional não admitia
que de suas mãos saíssem objetos mediocremente acabados; o trabalho perfeito,
diziam, proporciona uma satisfação moral.

Compreende-se que aquela discussão era puramente teórica. Todos sabiam


que o contramestre e o dono exigiriam um trabalho de alta qualidade e vigiariam
atentamente para que assim fosse. Mas, depois da vitória da Revolução Socialista,
poderia, por acaso, apresentar-se semelhante questão, mesmo que fosse somente
em teoria? De modo nenhum. Agora, a moral proletária exige categoricamente que
somente se produzam artigos de alta qualidade.

É claro que no campo a assimilação da moral socialista avançava com muito


maior dificuldade. E era natural. Ali, a tradição de propriedade privada tinha
lançado raízes mais profundas; existiam diferenças substanciais na forma da posse
e do cultivo da terra. Em algumas partes predominava a propriedade comunal; em
outras, a propriedade privada, a fazenda. Os aspectos sociais e o gênero de vida
de cada lugar introduziam uma diferença essencial na fisionomia moral daquelas
camadas do campesinato.

E quando se colocou na ordem do dia o problema camponês básico — a


coletivização — as dificuldades pareceram insuperáveis para muitos. Para o
camponês não era fácil lançar-se no caminho desconhecido da economia
kolkhoziana, começar pela socialização dos meios de produção. O camponês

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médio, para não falar no camponês pobre, possuía poucos bens: um cavalo com os
arreios, instrumentos primitivos de lavoura (um arado, uma grade). Apesar disso,
parecia a muitos que o que eles entregavam ao kolkhoz era mais do que
entregavam outros e que sua contribuição ao trabalho kolkhoziano era maior que a
do vizinho. Também se deve ter em conta que em cada aldeia, por pequena que
fosse, existia algum kulak ou alguém com inclinações de kulak, que, às vezes
abertamente, mas com maior frequência de forma encoberta, lutava ferozmente
contra a coletivização, tentava corromper os camponeses kolkhozianos por todos
os meios e caluniava os mais avançados e ativos.

Graças ao prestígio do Poder Soviético, ao prestígio de que gozavam o Partido


e o camarada Stálin, o regime kolkhoziano triunfou em nosso país. O campesinato
tinha certeza de que o Governo soviético e o Partido tratavam realmente de
melhorar a vida dos camponeses. Os camponeses kolkhozianos aderiram ao
regime socialista, transformando-se em seus ativos edificadores. Enquanto as
bases da economia agrária se modificavam num sentido socialista, começaram
também a modificar-se pouco a pouco a psicologia dos camponeses e sua atitude
para com o Estado, a propriedade coletiva, socialista, para com o trabalho.
Começaram a transformar-se as relações entre os próprios camponeses. Numa
palavra, os camponeses representaram um terreno fecundo para o
desenvolvimento da moral socialista.

Na URSS, o trabalho na cidade e no campo — desde o mais simples até o mais


qualificado — adquiriu um profundo sentido, viu-se animado pela grande ideia do
socialismo e se converteu no princípio fecundo que renova as pessoas e as educa
no espírito da moral comunista.

“O comunismo começa quando os operários de base sentem uma


preocupação — abnegada e mais forte que a dureza do trabalho — por
aumentar a produtividade do trabalho, defender cada pud de trigo, de
carvão, de ferro e de outros produtos que não estão destinados
diretamente aos que trabalham nem a seus “parentes”, mas a pessoas
“estranhas”, isto é, a toda sociedade em conjunto, a dezenas e centenas
de milhões de homens, agrupados primeiro num Estado socialista e,
mais tarde, numa União de Repúblicas Soviéticas”.(6)

Amplamente conhecida, esta tese leninista reflete de modo insuperável a


profundíssima transformação operada na atitude dos homens em relação ao
trabalho, depois da vitória do proletariado. E hoje podemos afirmar com pleno
direito que, em nosso país, o trabalho socialista, a emulação socialista e o
movimento stakhanovista converteram-se em princípios inabaláveis da moral
comunista, em normas de conduta do homem soviético.

★★★
No dia 22 de junho de 1941, sem prévia declaração de guerra, o exército
alemão invadiu o território soviético.

Durante vinte e quatro anos nosso povo tinha trabalhado sem desfalecimento.
Ao mesmo tempo, pondo em tensão todas as suas fôrças e toda a sua capacidade,
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estudava, estudava e estudava constantemente. Na luta pelo desenvolvimento da


indústria e da agricultura, no tenaz e unânime afã de elevar a cultura geral, a
ciência, a técnica e a arte, todos os povos da União Soviética estreitaram relações
e se irmanaram.

Isto exprimiu-se brilhantemente no apelo dirigido ao povo uzbek pelos


combatentes dessa nacionalidade:

“Teu povo, é filho da União Soviética. Durante vinte e cinco anos, russos,
ucranianos, bielorrussos, azerbaidjanos. georgianos, armênios, tadjiks,
turcomanos, quirguizes e kazaks, juntamente contigo, estiveram
edificando, dia e noite, nossa grande casa, nosso país, nossa cultura...
Mas hoje, na casa de teu irmão maior — o russo — na casa de teus
irmãos — os bielorrussos e ucranianos — irrompeu o bandido alemão,
trazendo a peste parda, a forca e o knut, a fome e a morte. Mas a casa
do russo é também a tua casa!... Pois a União Soviética é uma família
unida, onde, embora cada um viva em sua casa, a riqueza é comum e
indivisível”.

Dizem que para lutar com êxito contra o inimigo é preciso conhecê-lo. Os
fascistas alemães não ocultavam seus princípios, seus objetivos, nem a fisionomia
“moral” do homem que constituía seu ideal.

Hitler dizia:

“Só devemos obedecer a nossos instintos. Retornemos à infância,


tornemo-nos novamente ingênuos... Lançam anátemas contra nós...
como inimigos do pensamento. Pois bem, é certo, somos mesmo...
Agradeço ao destino por me ter privado de instrução científica. Assim
posso estar livre de muitos preconceitos. Assim sinto-me
perfeitamente... Formaremos uma juventude que fará tremei o mundo;
uma juventude brusca, exigente e cruel... Quero que ela se pareça com
as jovens feras selvagens”.

Numa conversação com Rauschning, Hitler perdeu todo o recato:

“Ver-nos-emos na obrigação de diminuir a população alheia... É preciso


elaborar a técnica que nos permita reduzir a população alheia. Quem
pode negar-me o direito de exterminar milhões de seres de raça inferior,
que se multiplicam como insetos?... Antes de tudo, é preciso conseguir
que diminua a população eslava. A enorme fecundidade dos povos
eslavos e orientais constitui um grave perigo para a raça branca nórdica.
É preciso que a hierarquia dos senhores subjugue a massa de escravos”.

Plenamente convencidos de sua vitória em todo o mundo, os alemães


pensavam escarnecer impunemente da humanidade e com a mesma impunidade
exterminar milhões de seres em benefício da “besta loura alemã”.

O comando alemão aplica métodos de guerra em consonância com esses


“princípios”. Num apelo dirigido pelo comando a seus soldados e impresso em
forma de “mandamentos”, está dito:
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“Recorda e cumpre:

1. Pensa sempre no Führer de manhã, de tarde, à noite; que não te


preocupem outros pensamentos; deves sabê-lo: ele pensa e trabalha
por ti. Tu só deves atuar, sem temor a nada; és um soldado alemão e
és invulnerável. Nenhuma bala e nenhuma baioneta te poderão tocar.
Para ti não devem haver nervos, nem coração, nem compaixão; és
feito do farro alemão. Depois da guerra tornarás a adquirir uma alma
nova, um coração iluminado: para teus filhos, para a grande Alemanha.
Mas agora, age com decisão, sem vacilações.
2. Tu não tens coração nem nervos; na guerra isto não faz falta. Afoga em
ti a piedade e a compaixão: mata todo russo, todo cidadão soviético;
não te detenhas se vires diante de ti um ancião ou uma mulher, uma
menina ou um menino; mata! Com isso te salvarás da morte,
assegurarás o futuro de tua família e te cobrirás de glória eterna.
3. Nenhuma fôrça no mundo resistirá ao ímpeto alemão. Poremos todo o
mundo de joelhos. O germânico é o dono absoluto do mundo. Tu
decidirás a sorte da Inglaterra, da Rússia, da América. Tu és germânico
e, como compete a um germânico, elimina tudo o que vive e se opõe a
teu caminho; pensa sempre no alto, no Führer, e vencerás. A bala e a
baioneta não abrem feridas em ti. Amanhá todo o mundo estará de
joelhos a teus pés”.

Poderíamos citar como exemplo milhares de cartas de soldados e oficiais


alemães, bem como anotações feitas em seus diários. Todas são iguais e todas
caracterizam o alemão como um saqueador mesquinho, como um cego executante
das ordens mais sanguinárias, como um ignorante cheio de fátua presunção e que
se imagina pertencente a uma “raça superior”.

E este exército imbuído de delirantes ideias fascistas, de “exclusivismo racial”


e de “geopolítica” — o que por si só exclui toda moral humana — lançou-se para o
leste, antecipando uma fácil vitória.

É preciso dizer que não era só em virtude de sua suficiência que o comando
alemão julgava assegurada sua vitória sobre a URSS Até certo ponto alentavam
essa convicção as incessantes calúnias difundidas durante muitos anos pela
imprensa estrangeira hostil à URSS, por uma imprensa que denegria todas as
nossas realizações e insistia com particular obstinação na existência de um baixo
nível moral e político no seio do povo soviético. Por isso, no começo da guerra, os
especialistas militares do exterior, um depois do outro, fixavam a hora da derrota
definitiva da União Soviética. Hoje, todo o mundo verifica quão grande foi o erro
cometido por todos esses “especialistas”.

Mesmo nos momentos mais difíceis nosso povo estava convencido de seu
triunfo final sobre a Alemanha. Esta certeza baseava-se em nossas possibilidades
materiais, na convicção de que um povo, que durante vinte e quatro anos
trabalhou para edificar seu Estado socialista, não pode ser vencido enquanto tiver
armas nas mãos.

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Na realidade, a guerra foi a mais rigorosa prova da solidez de nosso Estado, de


seu poderio econômico, do acerto de sua direção política e firmeza do estado
moral.e político do povo. A superioridade moral de nosso exército sobre o dos
fascistas alemães foi precisamente um dos fatores principais que nos garantiram a
vitória. Isto se vê claramente hoje, quando as hordas fascistas alemãs, derrotadas
e expulsas de nosso país, estão à beira da derrota.

Ao escalar o Poder, os fascistas proclamaram: “Que nos chamem de bárbaros,


não queremos cultura!’' E entregaram-se à queima de vinte milhões de livros.

Nosso Partido concedeu enorme importância à revolução cultural na União


Soviética.

É difícil avaliar todo o esforço realizado pelo Partido e pelo Governo para
desenvolver a cultura e a instrução das massas populares, sem falar da constante
preocupação do Partido e do Governo pelo desenvolvimento da indústria e da
agricultura, pela organização e pelo equipamento dum exército moderno. Salvo
raras exceções, os observadores estrangeiros, ao julgarem o nível da cultura e da
ciência na União Soviética, partem dos tempos pré-revolucionários. E mesmo
quanto levam em conta a elevação deste nível durante os anos de Poder Soviético,
medem-no pela bitola do progresso cultural dos países burgueses. Mas basta citar
alguns dados do desenvolvimento das instituições culturais de nosso país para que
se convença de sua extraordinária envergadura.

Já em 1938-1939 a URSS era o primeiro país do mundo pelo número de alunos


das escolas primárias e secundárias e superava neste terreno em 20% a Grã-
Bretanha, a Alemanha, a França e a Itália reunidas; quanto ao número de
estudantes dos centros de ensino superior, este supera em 40% o dos países
acima citados e mais o Japão. Somente em Leningrado, havia nos centros de
ensino superior, antes da guerra, mais estudantes que em toda a Alemanha
fascista.

Em princípios de 1939, a URSS contava com 240.765 bibliotecas, num total de


422.203.800 livros. Em comparação com 1914, o número de bibliotecas populares
aumentou de 6,2 vezes na União Soviética. Só a Biblioteca Pública Saltikov-
Stchedrin possui 3,2 vezes mais livros que a Biblioteca Nacional Prussiana de
Berlim.

Nossa cultura socialista se baseia no princípio formulado por Lênin:

“Antes, toda a inteligência do homem, todo o seu gênio criava


unicamente para proporcionar a uns todos os benefícios da técnica e da
cultura e privar a outros do mais imprescindível: a instrução e o
desenvolvimento intelectual. Hoje, pelo contrário, todas as maravilhas
da técnica, todas as conquistas da cultura passarão a ser patrimônio de
todo o povo e de agora em diante nunca mais a inteligência e o gênio
humanos serão convertidos em instrumentos de violência, em meios de
exploração”.

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O Poder Soviético não poupou recursos para converter em patrimônio de todo


o povo as melhores realizações do intelecto humano. Elevam-se a dezenas e
centenas de milhares de exemplares as edições das obras de Aristóteles, Voltaire,
Diderot, Helvetius, Holbach, Spinoza, Descartes, Demócrito, Feuerbach, Darwin,
Newton, Einstein, Mendeléiev, Métchnikov, Pávlov, Timiriásev. As obras dos
clássicos da literatura mundial como Byron, Balzac, Heine, Goethe, Hugo, Dickens,
Zola, Maupassant, Romain Rolland, Cervantes, Anatole France, Shakespeare e
Schiller foram editadas em milhões de exemplares.

As obras dos clássicos da literatura russa — Púchkin, Gógol, Griboiédov,


Lérmontov, Herzen, Nekrássov, Saltikov-Stchedrin, Leon Tolstoi, Tchékhov,
Máximo Górki e Maiakovski — já foram editadas em dezenas de milhões de
exemplares. O povo russo familiarizou-se com os clássicos da literatura dos outros
povos da URSS: Chevtchenko, Akhúndov, Rustaveli, Ovanes Tumanian e Cholom
Aleikhem. Outros povos da URSS puderam conhecer os tesouros da literatura
russa e mundial. Eis alguns dados característicos:

Edição de obras por quantidade


de idiomas
Antes da Depois da
Autores
Revolução Revolução
Púchkin 9 66
Lérmontov 5 26
Tolstoi 10 54
Nekrássov 1 21
Saltikov-
1 24
Stchedrin
Tchékhov 5 53
Goethe 1 6
Romain
1 13
Rolland

No regime soviético obtiveram grande difusão as obras dos bardos, poetas e


narradores populares: Djambul, Togtohul, Satilgánov, Suleiman Stalski, Hamsat
Zadass, Fekla, Bessúbova, Marfa Kriúkova.

Nosso teatro ocupa de direito um lugar de vanguarda não só na cultura


soviética, mas também na cultura mundial. Pelo seu caráter é multinacional, como
é a União Soviética. A arte teatral de muitas de nossas nacionalidades, que antes
da Revolução permanecia em estado embrionário, desenvolveu-se em todos os
aspectos sob o regime soviético e ocupou um lugar de honra na cultura nacional.
Assim, na Armênia, Turcmênia, Tadjikistão, e Quirguízia não havia, antes, teatros
profissionais. Hoje, a Armênia tem 27 teatros, o Tadjikistão 23, a Quirguízia 21, a
Turcmênia 11. Antes da Revolução existiam 31 teatros na Ucrânia. Em 1940, já
eram 125; na Geórgia havia 3, agora há 49; na Uzbékia não havia mais que um,
hoje são 49.

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Mesmo as nacionalidades menores, que nem sequer tinham linguagem escrita


na época tzarista, possuem hoje vários teatros, à base dos quais floresce sua arte
nacional.

Os clubes, cinemas e, museus alcançaram ampla difusão na União Soviética.


Em princípios de 1939 já existiam mais de cem mil clubes, sendo quarenta e um
mil nos kolkhozes. Em 1939, o número de instalações cinematográficas da URSS
era 21,9 vezes maior que em 1915. De modo geral, o cinema, uma das mais
populares formas da arte, só se desenvolveu durante o regime soviético.

Quando se iniciou a guerra atual contávamos com 794 museus, enquanto na


época pré-revolucionária eles apenas chegavam a várias dezenas, com a
particularidade de que se achavam quase exclusivamente nas capitais
(Petersburgo e Moscou). Somente algumas grandes cidades, como Kíev, Khárkov e
Tiflis, tinham seus pequenos museus. Agora, quase todas as capitais de nossas
repúblicas contam com seus próprios museus de Belas Artes e, na prática, não
existe um único centro regional que não tenha seu museu, onde estão reunidas as
amostras das riquezas do território ou da região, e as obras dos artistas locais.

Além disso, cada cidade onde tenha nascido ou passado a vida algum dos
escritores, músicos ou pintores famosos, reúne com amor tudo o que se relaciona
à vida e ao trabalho do artista e organiza um museu ostentando seu nome, muito
frequentado tanto pelo público local como pelos forasteiros. Assim, por exemplo,
existe um museu dedicado a Tchékov em Taganrog, cidade natal do grande
escritor russo, e outro em Yalta, onde ele passou os últimos anos de sua vida. Esta
procura de museus é tão grande que, inclusive agora, nesta época de guerra tão
dura para o povo, não se interrompeu o processo de criação de museus.
Constantemente aparecem nos jornais notícias da abertura deste ou daquele
museu em diversos pontos de nosso país. Faz muito pouco tempo que se
organizou uma filial literária no Museu Nacional de Kazan. No Palácio Mauritano da
cidade de Khiva, o museu regional de Khoresm organiza uma exposição de novos
materiais históricos do antigo Khoresm.

★★★
Estamos no quarto ano de guerra. Ela foi deslocada para o território alemão.
Agora os alemães sentem os efeitos da guerra de modo mais real e concreto, pois
os estão sentindo nas suas próprias costas, embora, é claro, a entrada dos
exércitos aliados na Alemanha não signifique para a população alemã a pilhagem e
as violências que os hitleristas cometiam nos países por eles ocupados,
particularmente na URSS Em nossas cidades e aldeias os alemães exterminavam
ferozmente a população civil. Todo o exército alemão dedicava-se ao saque, desde
o comandante-chefe até ao último soldado; todos os alemães martirizavam e
assassinavam, desde Hitler até ao soldado raso.

No princípio da guerra, o povo soviético parecia indeciso, não sabia como nem
com que lutar contra aquele bando invasor de saqueadores e assassinos. Muitos
ficaram surpreendidos pela bárbara invasão procedente da “culta” Europa; isso
não combinava em absoluto com a ideia que faziam da Europa.

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Em seu discurso irradiado a 3 de julho de 1941, o camarada Stálin indicou que


a guerra contra a Alemanha fascista não podia ser considerada como uma guerra
entre dois exércitos e exortava à grande guerra de todo o povo contra os
invasores fascistas. Esse apelo deu ao povo uma forma concreta para lutar contra
o inimigo; e o povo preferia morrer com as armas na mão a converter-se em
eterno escravo das feras fascistas. Somente então o mundo exterior viu e
compreendeu — e não podia deixar de fazê-lo — a fôrça espiritual da gente
soviética, seu alto nível moral e político.

Com efeito, não se pode deixar de reconhecer o heroísmo de nosso exército, o


gigantesco trabalho realizado por todo o nosso povo nos momentos mais difíceis
que atravessava o país e sua ilimitada fidelidade à Pátria soviética.

Nossa classe operária deu provas de tanta abnegação para superar as


dificuldades engendradas pela guerra, de tanta tenacidade para melhorar sua
qualificação, de tanta consciência e disciplina no trabalho que duvido existam
exemplos iguais em qualquer outro país do mundo. E o camarada Stálin rendeu
alta homenagem a esses heroísmo no trabalho, declarando:

“Do mesmo modo que o Exército Vermelho, em prolongada e dura luta


de igual para igual, conquistou a vitória militar sobre as tropas fascistas,
os trabalhadores da retaguarda soviética, em combate singular com a
Alemanha hitlerista e seus cúmplices, conquistaram a vitória econômica
sobre o inimigo”.

Quem não conhece as duras condições em que se teve que organizar o


trabalho nas fábricas evacuadas dos territórios ocupados pelo inimigo? Em lugares
novos, em condições às quais absolutamente não estavam habituados, os
trabalhadores tiveram que erguer as naves das fábricas e construir moradias,
organizando ao mesmo tempo a produção. E o faziam. Os operários permaneciam
noite e dia nas fábricas, quando se tratava de atender algum pedido de urgência
para a frente.

E, apesar das incríveis dificuldades, foram feitas e continuam sendo feitas sem
cessar novas obras.

Grande heroísmo revelam nossos operários nas regiões libertadas, restaurando


a indústria destruída pelos alemães.

Em sua carta ao camarada Stálin, os mineiros da região de Stálino falam das


condições em que devem organizar a extração da hulha:

“Imediatamente após a libertação começamos a restauração das minas


destruídas. Os homens iam a este trabalho como se fossem ao combate.
Com frequência, o perigo rondava os mineiros. Na minha “Smolianka”
número 1-2, do truste “Kúibichevúgol”, os alemães, depois de minar as
galerias, dinamitaram o poço e entupiram a mina. Mas os homens, com
o risco de ficar enterrados a cada instante, trabalharam tenazmente dia
e noite, e metro por metro, foram limpando o acesso à mina. Os escora-
dores mais hábeis encabeçavam este abnegado trabalho, animando os

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demais mineiros com sua intrepidez e valor. No terceiro dia conseguiu-se


limpar o acesso à mina. Então começou uma nova etapa da luta.
Desprezando o perigo, os dinamiteiros retiraram da mina mais de
trezentos quilos de dinamite que os alemães ali tinham colocado.
Metidos na água gelada até à cintura, trouxeram à superfície os
mecanismos afundados.

Na mina “Kaganóvitch”, do truste “Makéievúgol”, os alemães


incendiaram a camada de carvão. Os intrépidos mineiros desceram à
mina para apagar o incêndio. esses heróis lutaram contra o fogo durante
três dias e três noites. O incêndio foi apagado e já se extrai carvão da
mina restaurada.

Na mina “Kalínin”, do truste “Artemúgol”, jovens ajustadores, metidos


na água gelada, desmontaram a bomba de água e a retiraram da mina
inundada.

Na mina “Dimítrov” número 5-6, do truste “Budiónnovúgol”, os operários


trouxeram as enormes caldeiras a pulso, transportando-as 15
quilômetros”.

Tanto na indústria como na agricultura, leva-se a cabo este processo de


restauração em todas as regiões libertadas.

Também nossos kolkhozianos deram prova duma elevada consciência cívica.


No campo restam agora muito menos homens aptos para o trabalho que antes da
guerra. O peso principal dos labores agrícolas recaiu sobre as kolkhozianas, que
realizam uma grande obra. Já vão mais de três anos e que os kolkhozes
proporcionam de modo satisfatório os víveres necessários ao Exército Vermelho e
às cidades e matérias-primas para a indústria. Quase não há um kolkhoz que,
depois de ter cumprido suas obrigações para com o Estado, não considere um
dever moral entregar parte de sua produção ao fundo do Exército Vermelho.

Poderia caber uma pergunta: que tem isso que ver com a consciência cívica, o
dever moral, etc? Não devemos esquecer que, hoje, nos kolkhozes, escasseiam
com frequência não só os meios de tração mecânica, mas também o gado, a
tração animal, e que somente à custa duma grande tensão das fôrças dos
kolkhozianos e graças à decisão dos mesmos em vencer o inimigo acima de tudo,
é possível terminar a tempo as fainas agrícolas e obter boas colheitas. São
milhares os exemplos desta elevada consciência manifestada no trabalho.

No kolkhoz “O Plano Quinquenal em quatro anos” do distrito de Kolomna,


região de Moscou, a equipe de Tamara Krútova cultivou com esmero seu setor de
dois hectares semeados de batatas, terminando a tempo todas as tarefas, mas o
calor de julho ameaçava queimar a colheita. Então, as moças, com Tamara à
frente, acharam no curral kolkhoziano uma velha bomba de incêndio,
consertaram-na e a utilizaram para regar. Em consequência, a equipe de Krútova
obteve 83 toneladas de batatas por hectare.

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Na estrada de ferro de Tachkent foi preciso descongestionar com urgência um


local de “engarrafamento”. Dezenas de milhares de kolkhozianos lançaram-se ao
trabalho e em 12 ou 15 dias construíram uma segunda via, ramais e novos
desvios.

Nos dias da guerra também adquiriu amplitude nunca vista a iniciativa criadora
e a atividade patriótica de nossa intelectualidade. Um incessante e fecundo
trabalho se manifesta em todas as partes, começando pela Academia de Ciências,
com seus institutos de investigação, e terminando pelos engenheiros nas oficinas,
minas e expedições geológicas. Os professores, médicos, agrônomos, artistas,
pintores e escritores soviéticos fazem tudo o que está a seu alcance para contribuir
para a vitória. Os resultados de seu trabalho foram condignamente apreciados pelo
camarada Stálin, que disse:

“Nossa intelectualidade marcha audazmente pelo caminho da inovação


no terreno da técnica e da cultura, desenvolve com êxito a ciência
moderna, aplica com talento seus descobrimentos na produção de
armamento para o Exército Vermelho. Com seu trabalho criador, a
intelectualidade soviética deu uma contribuição inapreciável à causa da
derrota do inimigo”.

Grande é a importância da juventude, especialmente da juventude feminina,


na indústria, na agricultura, no transporte e nas diversas instituições. Sobre ela
recai o peso principal do trabalho durante os dias de guerra. E nossa juventude,
educada pelo Komsomol leninista, honra a confiança do Partido. Não existe ramo
algum da indústria em que nossos rapazes e moças, organizados em equipes
juvenis, não cumpram com seu dever patriótico, elevando a produtividade do
trabalho, permitindo que os operários qualificados possam ser encaminhados a
outros ramos da indústria, racionalizando os processos de trabalho. A título de
ilustração, citarei alguns exemplos.

Na fábrica número 45, do Comissariado do Povo da Indústria da Aviação, a


fresadora Orlova propôs que em lugar dos quatro condutores antes utilizados para
as brocas, fosse utilizado um só de tipo universal, o que permite combinar quatro
operações em uma. O tempo requerido para trabalhar as peças reduziu- se a uma
terça parte, O torneiro Tiúrin propôs que o acabamento dos orifícios das peças se
realizasse no torno, em vez de fazê-lo em máquina especial. Com a aplicação de
sua ideia, o tempo requerido para trabalhar a peça se reduziu à quarta parte.

Os jovens do campo não ficam atrás dos seus camaradas das cidades. Em
outubro de 1944 já eram vinte mil as brigadas que participavam da emulação de
jovens tratoristas, cujo número total se elevava a mais de duzentas mil pessoas. E
nas equipes juvenis de cultivadores de elevadas colheitas figuravam cerca de
quatrocentos mil jovens kolkhozianos.

É característico o exemplo que nos oferece o trabalho da equipe comandada


por Zoia Chegueda, do distrito Buturlínovka da região de Vorónej. Quando estalou
a guerra, Zoia estudava na escola secundária. Seu pai foi para a frente e ela
decidiu trabalhar no kolkhoz. Pouco depois, a administração do kolkhoz nomeou-a
chefe de equipe, à qual atribuíram um setor de 15 hectares. Durante todo o
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inverno, a primavera e o verão de 1943, Zoia Chegueda e suas amigas


trabalharam e estudaram intensamente. Com o objetivo de obter uma elevada
colheita aplicaram métodos agrotécnicos avançados. E no outono desse ano, o
tenaz trabalho da equipe foi recompensado com uma colheita jamais vista
naquelas paragens: 29 quintais de milho por hectare.

O esforçado trabalho da juventude soviética, que observa diariamente e em


todas as partes, atesta que nossa jovem geração cresceu muito política e
moralmente na dura época da guerra. Não é pouco o mérito que, neste aspecto,
corresponde ao Konsomol leninista, que soube inculcar à juventude as ideias do
Partido Bolchevique, suas tradições e um abnegado amor à Pátria, a seu povo.

★★★
Embora tudo o que foi dito sobre os operários, kolkhozianos, intelectuais e a
juventude se refira igualmente às mulheres e aos homens, desejo, apesar disso,
ressaltar o destacado papel desempenhado pelas mulheres nesta guerra.
Possivelmente, a mulher não ocupa na literatura de nenhum outro país um posto
tão honroso como na literatura clássica russa. Quantos nomes de mulheres que
deram grandes provas de seu elevado espírito figuram na literatura e na história
de nosso país! É claro que todo o passado empalidece ante a grande epopeia da
guerra atual, ante o heroísmo e o espírito de sacrifício das mulheres soviéticas que
com tanto vigor, e eu diria até com uma majestade sem precedentes, revelam seu
heroísmo cívico, seu estoicismo ante a perda dos entes queridos e seu entusiasmo
na luta.

A guerrilheira komsomol Zoia Kosmodemiánskaia escalou os cimos do


patriotismo e da grandeza moral. Nela parecem ter encarnado os melhores
sentimentos que nosso povo forjou no processo de seu desenvolvimento histórico.
Ela já não é só uma filha do povo russo; é uma filha de todo o povo soviético, uma
filha do Komsomol leninista. Com sua cruel barbaria o fascismo quis humilhar a
mulher soviética e alquebrar seu espírito.

Mas não o conseguiu em absoluto. A firmeza moral de Zoia e de outras


mulheres soviéticas triunfou sobre a bestialidade fascista.

É claro que Zoia Kosmodemiánskaia, Herói da União Soviética, era uma moça
excepcional, mas constitui, não obstante, um símbolo das moças de nosso país, já
que o heroísmo vivia e vive em potência na alma da maioria das mulheres
soviéticas. A vida palpitante de hoje nos oferece milhares de exemplos de valor,
fidelidade e amor à Pátria, tão prodigamente manifestados por nossas mulheres no
transcurso da Guerra Patriótica. Eis alguns deles:

Olga Tikhomírova era exploradora e enfermeira de um dos destacamentos de


guerrilheiros de Vítebsk. Mais de uma vez esta moça intrépida tinha arriscado a
vida para salvar seus camaradas. Num combate travado no bosque de Chalbovski
foi ferido o chefe dum grupo. Depois de fazer-lhe o primeiro curativo, Olga
colocou-se à frente dos guerrilheiros e os conduziu ao assalto das trincheiras
inimigas. Um estilhaço de metralha arrancou-lhe a mão direita. Os camaradas lhe
vendaram o braço e Olga continuou avançando até que um projétil lhe destroçou
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ambas as pernas. A moça morreu, mas até o último instante de sua vida não
cessou de alentar seus camaradas.

Muito dano causou aos alemães a guerrilheira dinamitadora Vera Lesovaia. Ela
conta em seu haver de combatente três descarrilamentos de trens inimigos e
muitos caminhões que fez voar pelos ares. Ferida numa perna, Vera caiu nas mãos
dos alemães. Para obter dela dados a respeito do destacamento de guerrilheiros,
os alemães acenderam uma fogueira sobre seu peito. Mas nem com esses bestiais
tormentos conseguiram arrancar-lhe uma palavra. A moça morreu sem delatar
seus companheiros de luta.

A alferes Maria Stepánovna Batrakova, Herói da União Soviética, participou da


defesa de Leningrado e da de Stalingrado. Em agosto de 1943, ofereceu-se como
voluntária para participar, com uma companhia de atiradores de fuzis automáticos,
numa operação de infantaria montada em tanques. Quando o chefe da companhia
caiu ferido, Maria conduziu os soldados ao ataque. As trincheiras inimigas foram
ocupadas. Em setembro de 1943, ao ser forçado o rio Molótchnaia, Batrakova
colocou-se à frente dum grupo de soldados cujo chefe tinha morrido em combate e
os arrastou a um ataque contra os tanques inimigos. Comandados por essa moça
valorosa, os combatentes soviéticos sustentaram um combate de 120 horas e
rechaçaram 53 contra-ataques do adversário.

A aviadora Ekaterina Vassílievna Budánova, tenente da Guarda, pilotando um


caça, descobriu doze bombardeiros alemães que se dirigiam contra um trem. A
intrépida aviadora meteu-se em plena formação inimiga. Os alemães,
desconcertados, lançaram as bombas na estepe, mas ao verificar que combatiam
somente com um caça, contra-atacaram. Budánova aceitou o combate, derrubou
um bombardeiro e pôs os demais em fuga. Ekaterina Budánova conta em seu
haver vinte aviões alemães derrubados.

Todo o país sabe que a mãe de Oleg Kochevói, Elena Nicoláievna Kochevaia —
apesar de dar-se perfeita conta do perigo que ameaçava seu filho e seus
camaradas, se fossem descobertos no trabalho clandestino que realizavam —
ocultava os komsomóis de Krasnodon e os ajudava no que podia.

É a vida soviética que elevou a tais alturas de grandeza moral o espírito de


nossas mulheres. Seguramente, suas gloriosas façanhas e os profundos
sentimentos patrióticos revelados por elas nesta Guerra Patriótica inspirarão os
grandes literatos, escultores e pintores, que imortalizarão dignamente em suas
obras as heroínas soviéticas.

★★★
A luta guerrilheira deve ser considerada como manifestação da imensa
iniciativa do povo na defesa da Pátria, na defesa da liberdade do país contra os
escravizadores.

A 3 de julho de 1941 vibrou o apelo do camarada Stálin exortando à luta de


guerrilhas. Neste ponto, manifestou-se com a maior evidência a união existente
entre o Poder Soviético e o povo. Como chefe do povo e como Chefe Supremo de

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todas as fôrças armadas da União Soviética, como político, o camarada Stálin


compreendia melhor que ninguém a necessidade e a importância desse apelo. O
povo, se o imaginarmos encarnado numa pessoa, parecia inquieto, nervoso,
indeciso, sem saber o que fazer, sem saber de que forma concreta e prática
poderiam defender a Pátria os que não tinham sido chamados às fileiras. O apelo
do camarada Stálin abriu os diques, deu um leito à paixão do povo, indicou como
aplicar a energia das massas populares na luta de guerrilhas.

Chefe do povo! Maravilhoso nome! Não só significa ser dirigente do povo, do


exército: é a expressão da unidade monolítica entre o chefe e o povo, da
comunidade de sentimentos, da comunidade de objetivos. Por isso são tão eficazes
os apelos e as diretivas do camarada Stálin. Nosso movimento guerrilheiro
transformou-se numa luta de todo o povo, que se foi incrementando de mês a
mês. Nosso Partido desempenhou um enorme papel neste movimento. Os
comunistas foram os criadores, os organizadores dos primeiros grupos
guerrilheiros. Em grande parte o êxito é devido ao fato de o movimento ter uma
direção centralizada e contar com uma ideia clara dos fins visados.

Não é a primeira vez que nosso povo recorre à luta de guerrilhas para
defender a Pátria contra seus inimigos. Denis Davídov, famoso guerrilheiro,
baseando-se na experiência de 1812, escreveu:

“Nossa mãe Rússia é imensa! A abundância de seus recursos já custou


caro a muitos povos que atentaram contra a sua honra e sua existência;
mas os inimigos ainda não conhecem todas as camadas de lava que
repousam em seu fundo... A Rússia ainda não se ergueu em todo o seu
gigantesco porte e — ai de seus inimigos! se alguma vez ela chegar a
erguer-se!”.

E, com efeito, jamais, em sua multissecular história, o movimento guerrilheiro


teve tal amplitude nem abarcou tão amplas massas populares, e por isso a luta de
guerrilhas nunca foi tão organizada nem tão generalizada como nesta guerra. É
muito sintomática a considerável participação dos intelectuais soviéticos na luta de
guerrilhas. A eficácia de sua participação no movimento pode ser vista ainda que
somente no exemplo da luta sustentada pelo destacamento guerrilheiro “Irmãos
Ignátov”, de Krasnodar, região do Kuban.

Em suas “Notas de um guerrilheiro”, P. Ignátov (Bátia), chefe desse


destacamento, conta que sua unidade se compunha principalmente de
representantes da intelectualidade técnica: engenheiros, diretores de empresas,
economistas, homens de ciência. Todos eram homens da cidade, homens de
“gabinete”, como se costuma dizer. Mas, movidos por seu patriotismo, trocaram
sua cômoda e habitual existência na cidade pela vida dura e inusitada dos
guerrilheiros da montanha, com seus riscos e penúrias. Todos eles teriam podido
ser evacuados e trabalhar na indústria de guerra da retaguarda. Não obstante,
levando em consideração as circunstâncias, julgaram mais eficiente consagrar suas
fôrças à luta direta contra o inimigo odiado.

Foram surpreendentes os resultados obtidos por esses destacamento em meio


ano de luta: este pequeno grupo descarrilou 155 vagões com munições, tropas
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inimigas, tanques, artilharia, etc.; dinamitou oito pontes, destruiu dezenas de


tanques, tanque- tas e canhões pesados, mais de cem peças pequenas e
morteiros, aniquilou uns dois mil soldados e oficiais alemães e feriu gravemente a
mais de dois mil e quinhentos. Nesse período, o destacamento não teve mais que
sete baixas; cinco mortos e dois feridos graves.

Estes resultados foram muito maiores na realidade, pois o destacamento


organizou uma original “Universidade de sabotadores-minadores”, que preparava
pessoal para os destacamentos guerrilheiros vizinhos, os quais, por sua vez,
contam com seu próprio balanço de baixas causadas ao inimigo.

A eficácia das ações do destacamento de Ignátov é devida, em grande parte,


precisamente, à sua composição. O fato de estar constituído de excelentes
engenheiros, técnicos e operários permitiu-lhe, além de organizar como é devido o
grupo guerrilheiro, assestar ao inimigo golpes de modo planificado e, diria eu,
científico. Os homens do destacamento de Ignátov não só subordinaram seus
sentimentos ao serviço abnegado da Pátria, mas também sua alta qualificação
técnica, seus conhecimentos, sua vasta cultura e sua inteligência.

Todas as nacionalidades da União Soviética participaram do movimento


guerrilheiro e, particularmente, por motivos muito compreensíveis, os ucranianos e
bielorrussos. Sobre as proezas dos guerrilheiros foram escritos, escrevem-se e
escrever-se-ão muitos livros. Aqui, vou limitar-me a citar alguns exemplos, a título
de ilustração:

Na retaguarda profunda do inimigo, os guerrilheiros bielorrussos


reconquistaram grandes extensões, chamadas “zona guerrilheira”, onde os
alemães não se atreviam a meter sequer o nariz. Ademais, os guerrilheiros
controlavam outras regiões, impedindo que os invasores levassem os cereais e
outros produtos. Assim ocorria na região de Baránovitchi, onde os vingadores do
povo, descarrilando trens, armando emboscadas e em batalhas em campo aberto,
aniquilaram mais de trinta mil canalhas hitleristas.

No outono de 1943, os alemães resolveram exterminar a brigada guerrilheira


que atuava no distrito de Luban, região de Minsk. Várias divisões alemãs
excelentemente armadas e reforçadas com tanques e aviação, cercaram o bosque
onde se ocultava a brigada. Esta, fazendo esforços sobre-humanos, abriu caminho
e saiu do cerco cruzando pântanos, sob um fogo contínuo e um bombardeio aéreo
incessante, sem poder sequer deter-se para recolher os feridos, Chachura, o chefe
da brigada, ia tirando seus guerrilheiros do cerco. Quando Chachura caiu
gravemente ferido, os guerrilheiros improvisaram padiolas e colocaram nelas o seu
chefe. Só podiam levá-lo caminhando sem agachar-se; um após outro caíam os
padioleiros (seis deles foram mortos), mas seu posto era imediatamente ocupado
por outros. E a brigada, com seu chefe querido, conseguiu sair do cerco.

O movimento guerrilheiro revestiu-se das formas as mais variadas. Nos


primeiros dias da guerra, P. Buiko, professor do Instituto de Medicina da cidade de
Kíev, marchou para a frente como voluntário. Caiu prisioneiro, mas conseguiu
escapar. Cheio de ódio contra os invasores alemães, entregou-se ao trabalho
clandestino. Buiko colocou-se, como médico, no hospital dá cidade de Fástov e
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organizou a cura dos soldados e oficiais feridos do Exército Vermelho. Evitou que
uns mil jovens da localidade fossem enviados para a Alemanha, estabeleceu
contato com os guerrilheiros e recrutava gente para os destacamentos. Quando
suas atividades foram descobertas (em junho de 1943), Buiko uniu-se aos
guerrilheiros. Finalmente, os alemães conseguiram capturá-lo. Banharam-no de
gasolina, transformando-o em tocha viva. O nome deste intrépido patriota
soviético, magnífico representante de nossa intelectualidade, jamais será
esquecido.

A luta de guerrilhas, na qual participaram todas as nacionalidades da URSS


que povoavam os territórios invadidos pelos alemães, demonstrou brilhantemente
ao mundo inteiro o caráter popular do Poder Soviético, o amor que todo o povo
sente por ele, a firme decisão de lutar por conservá-lo e para manter a
independência do País Soviético. Não pode haver uma demonstração mais
convincente da unidade moral e política dos povos da União Soviética!

★★★
Se toda guerra põe à prova os recursos materiais dum Estado e sua fôrça
moral, a presente conflagração exigiu do povo um dispêndio realmente nunca visto
de fôrças materiais e o máximo de têmpera moral. Especialistas militares de
grande autoridade também consideram que a firmeza moral é um dos principais
elementos para obter a vitória.

Neste sentido tem interesse a opinião do general M. Dragomírov:

“Para vencer no combate o militar deve pôr em evidência uma grande


energia, tenacidade e flexibilidade moral. Requer-se dele essa energia
que não admite a menor dúvida no êxito quando, aparentemente, não
há a.menor esperança -de salvação; essa tenacidade que não permite
renunciar ao objetivo proposto; essa flexibilidade que num instante,
quando se modificam as circunstâncias, é capaz de achar novos meios
para a conquista do objetivo visado”.(7) “A vitória pertencerá ao exército
cujos soldados tenham a firme resolução de conquistá-la, mesmo à custa
da própria vida, pois somente pode vencer, isto é, matar o inimigo,
quem estiver disposto a morrer”.(8)

O lema “desprezo à morte” exprime nitidamente esta mesma ideia, tal como
nós a compreendemos hoje. Mas nós não colocamos nesta ordem um romantismo
místico, a exaltação neurótica do indivíduo, o afã de morrer elegantemente. Não
vemos na morte um objetivo, algo em si mesmo sublime e sobre-humano. Para
nós, a morte é o golpe mais duro que o homem pode sofrer.

Talvez em lugar algum se ame tanto a vida como na União Soviética. E é


precisamente o amor à vida no País Soviético, no seio do povo soviético, o que faz
com que o cidadão soviético perca o temor à morte quando essa vida está em
perigo, quando, para salvá-la, se luta sem quartel. Então, o temor à morte cede
ante o ardente desejo do homem de conservar a vida do povo soviético e, com ela,
eternizar, digamos, sua própria vida. Não é por acaso que o comunista sobe ao

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cadafalso com a cabeça orgulhosamente erguida e lança a seus inimigos palavras


impregnadas de fé sublime: “Morro, mas nossa causa vive e viverá”. Nestes
instantes, o homem se funde por completo com a coletividade, cujos interesses
estão para ele em primeiro lugar e acima de tudo, são mais fortes que a morte.
Esta consciência faz do cidadão soviético um intrépido combatente. Lembremo-nos
dos vinte e oito soldados da Guarda da divisão de Panfílov, que travaram um duelo
singular com dezenas de tanques fascistas; do soldado Matrósov, que com seu
corpo cobriu a boca de fogo dum fortim alemão; de Kamal Pulátov, que, durante a
defesa dos acessos de Stalingrado, lançou-se com um punhado de bombas sob o
tanque alemão que encabeçava uma coluna de forças blindadas; de Tuichi
Erdzhiguitov, que com seu corpo tapou a boca duma metralhadora alemã. O mais
importante é que estas façanhas não são únicas. No curso da guerra, nossos
soldados e oficiais as repetiram e hoje continuam a repeti-las.

Inclusive nos dias mais penosos, quando nosso exército via- se obrigado a
retirar-se, reinava em suas fileiras plena confiança em nossa vitória. Os soldados e
oficiais diziam com firmeza às populações que ficavam no território evacuado:
“Voltaremos!” E sua certeza não se apoiava unicamente em premissas materiais,
mas também na firmeza moral de nossa gente, na fé em nossa justa causa.
Ninguém podia admitir nem mesmo a ideia de que no mundo houvesse fôrça capaz
de arrebatar o Poder Soviético ao nosso povo. E este sentimento imperante entre
as massas transformou-se em fôrça material, que no Ocidente qualificam de
milagre. Nós, ao contrário, tínhamos nesta confiança a medida mais exata da fôrça
do Poder Soviético.

O amor à Pátria é inerente a todos os povos. Mas não podemos dizer o mesmo
de todos os exércitos. O decantado exército brandenburguense de Frederico II não
amava seu povo, nem este estimava o exército. O exército e o povo eram
estranhos um ao outro. Aquele exército não era mais do que um instrumento para
a realização dos planos de conquista do rei prussiano, somente servia para
consolidar o poder de Frederico sobre seus súditos.

Os princípios e métodos de organização e educação do exército de Frederico


pertencem ao passado remoto. Mas até os últimos tempos constituíram o ideal dos
governos europeus que desejavam exércitos semelhantes ao de Frederico.
Compreende-se que o tempo e o progresso introduziram suas emendas, limitando
consideravelmente essas aspirações. Não obstante, a disciplina do porrete, o
espírito de quartel, o isolamento do mundo exterior, o apoliticismo, a proibição de
ler a literatura progressista, numa palavra, todas as medidas tendentes a isolar o
exército de seu povo e o povo do exército, continuam em vigor até hoje. E, neste
sentido, a Alemanha marcha na vanguarda de todos os países estrangeiros. Lá, o
culto da disciplina mecânica do garrote floresce até hoje. Ali existe até um viveiro
especial (Prússia), escrupulosamente guardado do povo e destinado à criação de
homens duma natureza singular, cujo único objetivo é a guerra.

Por mais que os tzares da Rússia se tivessem esforçado para transplantar os


métodos prussianos para o exército russo, não puderam consegui-lo na medida de
seus desejos. Os russos não são da mesma massa que os alemães. Com razão diz
o ditado: “O que faz bem ao russo, mata o alemão”. Mas também o governo

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1945/01/moral.htm 23/27
11/09/2019 A Fisionomia Moral de Nosso Povo

tzarista mantinha o exército distanciado do povo e o exército não era patriótico no


sentido que nós damos à palavra. Apesar de tudo, existia nele uma camada da
qual saíam patriotas sinceros e chefes militares de talento, que serviam à Pátria
honradamente e, a despeito da pressão de cima, melhoravam as verdadeiras
qualidades combativas do exército, elevando seu prestígio nos campos de batalha.

O Exército Soviético é um exército diferente, que não se assemelha nem ao


velho exército russo, nem a nenhum dos exércitos europeus. Seus efetivos saíram
das entranhas do povo entre os soldados e oficiais do Exército Vermelho não existe
nenhuma diferença de classe, fato que não ocorre em nenhum dos exércitos
modernos. Nosso exército está ligado a seu povo por infinitos laços, tanto por seu
gênero de vida como por sua atividade social.

Os vínculos sociais entre o povo e seu exército manifestam- se em nosso país


no apoio, na atividade artística e de mil outras formas. O Partido e suas elevadas
ideias unem espiritualmente o povo ao exército. Nossos soldados e oficiais não só
se interessam pela vida de seus conterrâneos, não só vivem mentalmente tudo o
que ocorre em seu torrão, mas, na medida do possível, participam da vida local e,
na grande maioria dos casos, o fazem fruiferamente. O exército ama
entranhamente sua Pátria e não pode deixai de amá-la, porque a sente sempre
como se a estivesse tocando com suas próprias mãos.

Em nosso país, a amizade dos povos repousa sobre o sólido alicerce da


comunidade de interesses. É natural que essa comunidade também se perceba
fortemente no exército. Compreende- se que esta’ amizade em nada se parece aos
vínculos existentes entre os soldados e oficiais alemães, cuja “amizade” se baseia
no saque e no assassinato. Entre eles, o mandão dum bando cacarejante, ao
lançar-se numa aventura arriscada, admite os chefetes dos bandos pequenos, mas
olha com desprezo a chusma de bandidos. Tais eram, precisamente, as relações
existentes entre e exército alemão e os exércitos dos satélites da Alemanha no
momento da agressão de bandidos contra a URSS. Essa “amizade” é amoral e,
portanto, instável, como o demonstra a todas as luzes o desmoronamento do bloco
fascista. Isto não nos deve. causar estranheza: a própria teoria racial fascista nega
rotundamente a amizade entre os povos. E sobre essa teoria é que se baseia toda
a política da Alemanha.

A amizade entre os povos da União Soviética, a amizade autêntica, cultivada


nos tempos de paz, fulgiu como chama brilhante nos anos de guerra e
surpreendeu tanto nossos amigos como nossos inimigos no estrangeiro. Esta
amizade temperou-se nas duras provas da guerra. Como é natural, evidencia-se
com mais vigor na frente, onde o perigo sempre ronda o homem e, por isso, deve
ser completa a confiança no companheiro ao lado. A frente é a pedra de toque que
põe à prova, entre muitos outros sentimentos, também a lealdade e a amizade. Os
povos da União Soviética não só passaram por esta prova no trabalho solidário da
retaguarda, mas também na conduta de seus filhos na linha de fogo. E não podia
ser de outro modo. Nosso exército é uma família irmanada, onde a ajuda ao
companheiro é uma obrigação moral. Qualquer crônica de guerra das que publica
nossa imprensa nos dá exemplos de fraternal ajuda em combate.

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1945/01/moral.htm 24/27
11/09/2019 A Fisionomia Moral de Nosso Povo

Nos momentos de trégua a amizade embeleza a vida na frente.

Um jovem kazak lê uma carta de sua mulher em que esta lhe comunica o
nascimento dum filho. O pai discute seriamente com os companheiros do pelotão
que nome há de dar ao filho. Chega à frente a carta dum siberiano na qual
descreve a vida kolkhoziana, as perspectivas da colheita, etc.. Tais questões
interessam a todos os soldados, inclusive aos que antes viviam nas cidades, e dão
lugar a que se, estabeleça uma conversação generalizada. Numa palavra, sempre
existe uma infinidade de temas para discutir em comum.

Não é a cor da pele ou a nacionalidade do militar, mas a inteligência e mérito


na guerra que determina sua promoção e carreira em nosso país. E não apenas
formalmente ou, como diríamos, de acordo com a lei. Para isso contribui também a
opinião geral dos soldados e oficiais. A amizade pessoal nascida sobre semelhante
base perdura muito tempo, mesmo entre pessoas que vivem em pontos muito
distantes.

O ódio ao inimigo arraigou-se profundamente em nosso exército. Os próprios


alemães contribuíram para isso. Creio que em todo o exército não existe uma só
unidade, por pequena que seja, cujos homens não tenham sofrido com a
selvageria dos alemães: mataram-lhes a mulher, os filhos ou os pais, ou têm uma
irmã que foi levada para a escravidão alemã, sem falar dos bens saqueados, das
casas incendiadas.

Hoje, quando os exércitos aliados estreitam cada vez mais o cerco em torno da
Alemanha e a guerra se desloca para seu território, a propaganda alemã derrama
lágrimas de crocodilo; a guerra, diz ela, torna-se cada vez mais encarniçada,
desapareceu dos exércitos o antigo cavalheirismo. Pelo visto, esta propaganda é
feita para os néscios dos países aliados. Hoje, quando veem aproximar-se a hora
de pagar os crimes que cometeram, os miseráveis que exterminaram, direta e
indiretamente, dezenas de milhões de seres, lembram-se do cavalheirismo.

Nós consideramos sagrado o ódio às feras fascistas. Mas eis que um jornalista
americano, comentando favoravelmente dum modo geral o livro de Ehrenburg, “A
guerra”, observa que a obra perde seu valor pelo excessivo ódio aos alemães, que
se respira nas suas páginas. Não é uma opinião casual. Um considerável número
de pessoas na América e na Europa Ocidental foge às formulações incisivas e não
põe grande paixão na luta contra o fascismo. Segundo afirmam, a moderação é
mais eficaz e, dum modo geral, o ódio não se harmoniza com os nobres
sentimentos humanos. Isto, compreende-se, é completamente falso.

A literatura russa foi considerada com toda a justiça pelos críticos estrangeiros
como uma grande literatura, como a literatura mais humana. Assim, o crítico
polonês A. Brückner, no prólogo de sua “História da Literatura Russa”, escreve:

“A literatura russa é a mais jovem do mundo... Sua juventude é


compensada pela abundância e a originalidade de suas obras, pelo seu
alto valor moral, pela prédica do humanismo e do altruísmo, pela
agudeza e profundidade de suas análises da alma humana e de suas
observações da vida, por sua franqueza e amor à verdade e por seu
https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1945/01/moral.htm 25/27
11/09/2019 A Fisionomia Moral de Nosso Povo

espírito democrático. Ela se impõe pela grande significação que


conquistou em seu próprio país, coisa em que supera grandemente as
demais literaturas do mundo... Ela se converteu em cátedra da qual
brotou o verbo em defesa do bem, da beleza, da liberdade e do
humanismo, converteu-se em intérprete incomparável da consciência
social...”.

Mas em nossa literatura, nas obras de nossos melhores artistas da pena, o


ódio ao mal ressalta vivamente, como o sentimento mais nobre e como um dos
meios mais eficazes na luta contra os inimigos da humanidade.

O escritor Gorbátov pintou muito bem o ódio aos alemães em sua novela “Os
indomáveis”. O velho Tarás não pode sequer conceber que os alemães, que tanto
mal causaram ao povo, não sejam castigados. Faz tudo o que pode para vingar-se
do inimigo. Quando os alemães abandonam a cidade, sai a correr pela rua,
batendo com o bastão nos portões, gritando:

“— Ei! Gente, saia! Os alemães estão fugindo! Não os deixemos ir


embora! Ei, homens, saiam!
Em seu redor já se tinha reunido um grupo de pessoas.
— Deixa-os ir! — gritou alguém do grupo. — Nós não os chamamos! Que
vão para o diabo, bendito seja Deus!
— Que queres, Tarás?
— Que não deixemos os alemães sair! — gritou. — Que os exterminemos
aqui!
— Hão de matá-los sem nossa ajuda, Tarás!... Não somos militares. Isto
não nos compete.
— Como é que não nos compete? — rugiu Tarás —. Como é que não nos
compete? A quem compete, então? Se se forem assim como vieram,
tornarão a aparecer para escoucear- nos, para enforcar nossos filhos.
Não os deixemos partir. Enterremo-los! Enterremo-los!
Corria para o centro da cidade agitando seu bastão. Lionka corria a seu
lado. De todas as partes já saíam operários correndo, muitos com armas
conseguidas sabe Deus como.
— Pena que eu não tenha um fuzil! — exclamou Tarás sem deixar de
correr. Ei, Lionka, que pena que eu não tenha um fuzil!
E o velho ergueu sobre a cabeça o nodoso bastão. Impressionava e dava
pavor vê-lo assim, com o bastão na mão, a cabeça branca descoberta,
iluminado pelo resplendor da cidade em chamas...”

Assinalei as fontes que deram origem ao desenvolvimento da moral soviética.


Estas fontes remontam ao passado mais longínquo de nossa história. Aos
investigadores do desenvolvimento espiritual do povo russo e dos demais povos
que habitam a União Soviética é que cabe descobri-las. Referi-me a um número
muito reduzido de personalidades que contribuíram para a introdução e o
desenvolvimento das melhores qualidades morais na sociedade russa.
Subentende-se que os sentimentos morais das pessoas são mais ricos, mais
variados. Não falamos, por exemplo, de como, na época soviética, aumentou o
amor dos pais pelos filhos, nem do incremento do papel ativo e da independência

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1945/01/moral.htm 26/27
11/09/2019 A Fisionomia Moral de Nosso Povo

da mulher, etc., etc. Ilustrei, preferentemente, as qualidades político-morais do


povo, tratando de pôr em relevo os sentimentos que impulsionam a luta contra o
inimigo.

Como já disse, nossa moral foi cultivada e pregada pelos melhores filhos do
povo. Neste aspecto, é preciso fazer justiça à intelectualidade progressista russa, à
literatura e à arte russas, que durante séculos lutaram abnegadamente contra as
fôrças negras do tzarismo, contra a crueldade dos exploradores, contra a
ignorância do povo. A literatura russa enobreceu o homem, obrigou todo o mundo
a reconhecer seu elevado espírito moral, que floresceu particularmente e penetrou
na massa do povo com o regime soviético. O regime soviético socialista serviu de
base para o desenvolvimento de nossa moral comunista. E não poderia ser de
outro modo. O governo soviético, o Partido de Lênin e Stálin visam um único fim —
o bem do povo — e orientam todas as suas atividades para esta finalidade
autenticamente elevada.

O camarada Stálin confirma com todos os seus atos as palavras por ele
pronunciadas quando disse que entregaria todo o seu sangue, gota a gota, pela
causa do povo. Acaso não é este o grau supremo da moral humana? A moral de
nosso Partido, do Partido de Lênin e Stálin, é, ao mesmo tempo, a moral de nosso
povo. Ela dá ao Estado soviético sua enorme fôrça de resistência diante dos
agressores; ela inspira os trabalhadores das fábricas e do campo; ela faz com que
o heroísmo na frente seja um fenômeno de massas; ela é um dos elementos mais
importantes da vitória.

Início da página

Notas de rodapé:

(1) F. Engels, “Anti-Dühring”, pág. -114, ed. alemã, Moscou, 1946. (retornar ao texto)

(2) A. N. Radístchev, “Obras completas”, tomo I, págs. 313, 314, 315, 317, russa, 193S. (retornar
ao texto)

(3) V. I. Lênin, “Obras Escolhidas”, t. II, págs. 838, ed. esp. 1948. (retornar ao texto)

(4) K. Marx e F. Engels, “Gesamtausgabe”, (“Edição Conjunta”), t. IV, pág. 60, Moscou, 1933.
(retornar ao texto)

(5) V. I. Lênin, “Obras”, t. XXIII, pág. 458, 3ª ed. russa. (retornar ao texto)

(6) V. I. Lênin, “Obras Escolhidas”, t. II, pág. 619, ed. espanhola, Moscou, 1948. (retornar ao
texto)

(7) M. Dragomírov, “Manual de Tática”, parte I, pág. 3, ed. russa, 1906. (retornar ao texto)

(8) M. Dragomirov — Obra citada, parte II, págs. 10-11. (retornar ao texto)
Inclusão 18/03/2013
Última alteração 16/04/2014

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1945/01/moral.htm 27/27
11/09/2019 Discurso no Ato de Entrega de Condecorações aos Jornais Komsomólskaia Pravda e Pionérskaia Pravda
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Discurso no Ato de Entrega de


Condecorações aos Jornais
Komsomólskaia Pravda e
Pionérskaia Pravda
M. I. Kalinin

11 de Julho de 1945

Primeira Edição: "Komsomólskaia Pravda”,(“A Pravda do Komsomol”) 13 de julho de 1945.


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 298-300.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.

Camaradas: Felicito a redação de “Komsomólskaia


Pravda” e com ela a todo o Komsomol, bem como a redação
de “Pionérskaia Pravda”, os pioneiros, bem como todos os
meninos que leem, pelas altas condecorações de que se
tornaram merecedores ambos os jornais. Ao primeiro se
confere uma ordem militar, ao segundo, uma de trabalho.
Creio que ambos as mereceram Durante a guerra,
“Komsomólskaia Pravda” manteve bem alta a bandeira do
patriotismo soviético, elevou o ânimo e os sentimentos
patrióticos, o espírito combativo e a energia de trabalho de
nossa juventude. O trabalho do jornal não foi vão.

Nossos komsomóis, os jovens em geral passaram uma dura escola de vida


nesses quatro anos e muitos deles caíram na luta. E durante esses tempo em que
o homem realizou um ingente trabalho, durante esses tempo, repito, não há
dúvida de que “Komsomólskaia Pravda” ajudou na luta, indicou o caminho para a
juventude, o caminho certo que ela devia seguir. Hoje, pode orgulhar-se
legitimamente do resultado de sua atividade, do resultado de seus apelos. Seu
trabalho de propaganda, agitação e organização foi coroado de grandes êxitos.
Possivelmente, o Komsomol da União Soviética, toda a juventude soviética, fez,
durante esses tempo, mais do que a juventude do mundo inteiro.

Por isso, permiti-me felicitar a “Komsomólskaia Pravda", em primeiro lugar por


ter visto na prática os frutos de seu trabalho — nos campos de batalha, nas
fábricas, nos kolkhozes e sovkhozes — no enorme patriotismo, na fidelidade sem
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11/09/2019 Discurso no Ato de Entrega de Condecorações aos Jornais Komsomólskaia Pravda e Pionérskaia Pravda

limites de nossa juventude à sua Pátria, ao seu Estado socialista, ao seu Governo e
ao chefe do povo, o camarada Stálin, que, constantemente, sobretudo nas
circunstâncias difíceis, sempre apoiaram a juventude soviética; em segundo lugar,
felicito o jornal por ter ajudado consideravelmente o Komsomol na obra de dirigir e
influenciar toda a juventude soviética, alcançando um grande prestígio não só
entre a juventude, mas entre toda a população soviética.

O jornal “Pionérskaia Pravda” também realizou um grande trabalho. A


importância desse trabalho consiste, primeiro, em fazer com que as pessoas, já
desde os primeiros passos da vida, por assim dizer, já no período da adolescência,
se habituem imperceptivelmente à leitura do jornal, à vida social; fazer com que
sua consciência não se desenvolva por saltos, como acontecia antigamente,
quando o homem podia ser inconsciente até os quarenta anos, idade em que, sob
a influência do Partido ou por causas fortuitas, abria os olhos de repente, porém
que, pelo contrario, a consciência de nossos pioneiros se desenvolva paulatina e
incessantemente. Em segundo lugar, a importância do trabalho do jornal consiste
em alargar o horizonte intelectual dos meninos e, ao mesmo tempo, aumentar seu
desejo de realizar uma vida ativa, evitando assim que tão logo se façam homens,
já nos anos da juventude pareçam fartos da vida, com as perspectivas perdidas.
Essa importância consiste em fazer com que a atividade dos meninos, a sua ânsia
de viver e de agir siga uma ininterrupta linha ascendente. Este é o trabalho que
deve desenvolver “Pionérskaia Pravda”.

A educação da juventude é um trabalho muito árduo e os que atuam neste


terreno realizam uma tarefa muito honrosa e, ao mesmo tempo, de muita
responsabilidade. Somente sentindo carinho por este trabalho e entregando-se
completamente a ele, somente quando, se assim podemos dizê-lo, o dirigente da
organização dos pioneiros está consagrado de corpo e alma aos grupos de
pioneiros, quando seu espírito se funde com o dos pioneiros, com seus interesses,
com sua educação, só então dará uma contribuição de grande utilidade e terá
assegurado o êxito.

Permiti que vos deseje grandes êxitos, neste difícil — e repito pela segunda
vez — mas muito honroso e necessário trabalho.

Falamos do “homem novo”. E, com efeito, hoje vemos com particular clareza
que o homem, como todos os seres orgânicos, se modifica segundo a influência
sobre ele exercida. No momento presente, vós mesmos podeis ver os efeitos duma
influência perniciosa sobre o povo: países inteiros estão infeccionados pelas ideias
de ódio à humanidade. Mas hoje, toda a humanidade pode ver um magnífico
exemplo de boa influência sobre o povo, de influência humana, de cultivo da
nobreza e do amor à Pátria.

E desejo que os dirigentes das organizações dos pioneiros amem os meninos,


como mães sensatas que se empenham em conseguir a verdadeira felicidade de
seus filhos. Falo do cultivo de sentimentos nobres, humanos, verdadeiramente
humanos, entre a juventude, de incutir-lhes sentimentos nobres que mais tarde se
convertam para ela em algo de orgânico. Esta é uma de vossas importantes
tarefas. Por isso, permiti-me desejar-vos muito êxito neste trabalho.

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1945/07/11.htm 2/3
11/09/2019 Discurso no Ato de Entrega de Condecorações aos Jornais Komsomólskaia Pravda e Pionérskaia Pravda

(Os colaboradores da imprensa juvenil respondem com estrondosos aplausos


às cálidas e paternais felicitações de M. 1. Kalínin e lhe asseguram que
“Komsomólskaia Pravda” e “Pionérskaia Pravda’ farão todo o empenho para
conseguir êxitos ainda maiores na tarefa de educar a juventude no espírito de
nobre amor à Pátria).

Início da página

Inclusão 27/03/2013

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1945/07/11.htm 3/3
11/09/2019 Cumpre Basear o Trabalho do Komsomol na Organização e na Cultura
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Cumpre Basear o Trabalho do


Komsomol na Organização e na
Cultura
M. I. Kalinin

12 de Julho de 1945

Primeira Edição: Discurso pronunciado na reunião de Secretários das Organizações do Komsomol


nos kolkhozes da Região de Moscou. “Komsomólskaia Pravda", (“A Pravda do Komsomol"), 13 de
julho de 1945.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 301-304.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.

Camaradas: Quisera deter-me numa única questão.


Representais a organização do Komsomol da região de
Moscou, da região da capital, que tanto se destaca pela sua
instrução e cultura. Os komsomóis da região de Moscou, é
claro, devem constituir um dos destacamentos juvenis mais
cultos de nosso país. O que demonstrais diariamente na
prática: abnegação, tenacidade no trabalho, entusiasmo na
emulação, patriotismo, numa palavra, todas as qualidades
positivas de nosso Komsomol, são também inerentes aos
demais destacamentos.

Mas a organização da capital deve diferenciar-se em algo das outras, deve ter
um selo de capital. É hábito dizer-se que o habitante da capital tem um verniz
peculiar, que se diferencia um pouco do provinciano, que se distingue por suas
vivas faculdades perceptivas, pela rapidez de suas reações, etc. É certo que não
viveis em Moscou mesmo, mas na região de Moscou, e trabalhais na agricultura.
Não obstante, como organização da região moscovita, também deveis distinguir-
vos em algo.

Que é, pois, o que, no momento atual, se exige de vossa organização regional


do Komsomol, uma das organizações juvenis mais cultas da União Soviética? Em
meu entender, é o espírito de organização. Tem toda razão o camarada Popov(1)
ao dizer que invertemos demasiado trabalho na agricultura. Com menos trabalho,
deveríamos obter melhores resultados que os atuais. Esta é a tarefa que o
Komsomol deve resolver!
https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1945/07/12.htm 1/3
11/09/2019 Cumpre Basear o Trabalho do Komsomol na Organização e na Cultura

Também sois as pessoas mais cultas no meio camponês, pois todos cursaram
a escola secundária de sete ou dez anos. Antes da Revolução, na antiga província
moscovita, havia muito poucos jovens que tivessem cursado a escola de segundo
grau. Ademais, nunca se inverteu tanto dinheiro na instrução da juventude como
durante o Poder Soviético.

E que significação tem essa instrução? A instrução torna o homem mais


disciplinado, ensina-lhe a abordar cada assunto dum modo especial, de maneira
organizada. O homem sem instrução realiza o trabalho mecanicamente, por
hábito. Rara vez orienta-se ele por um plano bem pensado. Como direi? Trabalha
como trabalhavam seus avós. Mas hoje não se pode agir assim, hoje é preciso
fazer as coisas de um modo organizado.

E que significa isso? Significa que a semeadura, por exemplo, não deve ser
feita com canseiras, levantando-se ao cantar de galo e deitando-se ao pôr-do-sol,
correndo todo o tempo com a língua de fora. Admito que assim possa obter-se um
bom resultado. Admito inclusive que, às vezes, se possa recorrer a este sistema.
Mas vossa tarefa, a tarefa da camada culta, da camada intelectual do
campesinato, é regularizar o trabalho para que ele não se realize de forma
desordenada, para que se realize como se fosse automaticamente: bem e com
rapidez. Aqui vos aguarda um grande trabalho. Vossa organização, precisamente,
é chamada a marchar na vanguarda neste terreno de nossa atividade, levando a
cultura a todas as partes.

E que significa introduzir a cultura, inclusive na vida cotidiana e no trabalho?


Significa que não se deve fazer coisas de mais, significa que cada movimento deve
dar seu resultado. Sabeis como se trabalha nas fábricas? Quanto mais se agita o
operário junto à máquina, pior trabalha. E, pelo contrário, um que à primeira vista
parece apenas mover-se, rende extraordinariamente no seu trabalho, não faz um
só movimento desnecessário, tem as ferramentas e o material em ordem. Sem ter
que voltar-se, apariha o que necessita e seu trabalho é muito produtivo.

Na agricultura, no campo, pode-se trabalhar desesperadamente, de sol a sol, e


não obstante, parece que se fez pouco. É certo ou não? A gente se esforça o que
pode e, apesar disso, não vê o fim do trabalho. Isto, naturalmente, decorre da
falta de organização. A organização no trabalho e até em nossa vida, diria eu, é o
que devemos implantar.

Que significa a organização no trabalho do Komsomol? Significa que nas


reuniões não se fale além da medida, que não se divague em torno das questões
propostas, porém que se discuta concretamente, dando-lhes uma solução acertada
e aplicando-a, depois, na prática. Deveis ter presente que em tudo — no trabalho
de agitação, nas reuniões e até tomando uma xícara de chá evidencia-se se o
homem é organizado ou não.

Pois bem, considero que essa tarefa poderá ser cumprida pelo Komsomol da
região de Moscou, a organização mais culta da juventude. A não ser assim, quem
poderá cumpri-la? Deveis ser organizados, sobretudo porque na agricultura tendes
que tratar de diversos cultivos, de cultivos que requerem um enorme esforço.
Refiro-me aos legumes e às demais plantas cultivadas em hortos. Isto requer
https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1945/07/12.htm 2/3
11/09/2019 Cumpre Basear o Trabalho do Komsomol na Organização e na Cultura

muito trabalho. E neste caso, é claro, sem uma boa organização o trabalho pode
resultar infrutífero.

Não é a primeira vez que levanto este problema perante o Komsomol. Mas
vossas reuniões, vossas intervenções não demonstram que ele vos preocupe.
Quem, senão o Komsomol, forma o homem? o Komsomol, por assim dizer, lança
os alicerces de toda a atividade futura do homem. E por isso vós, dirigentes do
Komsomol, assumis uma grande responsabilidade se, suponhamos, qualquer de
vossas organizações, seja de kolkhoz ou de distrito, formasse homens ativos e
diligentes, bons patriotas do Pais Soviético, em suma, homens bons, mas
desorganizados, que não soubessem ordenar seu trabalho e sua vida.

Por isso permito-me confiar em que a organização do Komsomol de Moscou


prestará atenção a este aspecto de seu trabalho. De todo o coração, desejo-vos
êxito nesta tarefa.

(Atroadores aplausos. Todos se põem de pé. Exclamações: Viva Mikhail


Ivánovitch Kalínin! Hurra!)

Início da página

Notas de rodapé:

(1) G. Popov — Primeiro Secretário do Comitê local e regional de Moscou do Partido Comunista
(Bolchevique) da URSS e Secretário do Comitê Central do P. C. (b). (retornar ao texto)
Inclusão 02/07/2013

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11/09/2019 Filhas Gloriosas do Povo Soviético
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Filhas Gloriosas do Povo Soviético


M. I. Kalinin

26 de Julho de 1945

Primeira Edição: Discurso pronunciado na recepção dada pelo Comitê Central do Komsomol da
URSS em honra das jovens combatentes desmobilizadas do Exército Vermelho e da Marinha de
Guerra. “Komsomólskaia Pravda” (“A Pravda do Komsomol”), 31 de julho de 1945.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 305-308.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.

Camaradas: Antes de tudo desejaria felicitar-vos pela


vitória que coroou a grande guerra sustentada por todo o
nosso povo. O inimigo foi batido e nossa justa causa triunfou.
Nessa guerra extraordinária, as mulheres não se limitaram a
apoiar o exército com seu trabalho na retaguarda; elas
participaram da luta de maneira direta, com as armas na
mão.

As jovens que tomaram parte direta na guerra, foram


admitidas no exército depois de selecionadas entre muitos
milhões e tendo-se em conta sua instrução, cultura, estado de saúde, têmpera
física e inclinação por uma ou outra especialidade militar. Em resumo, penso que
acorreu à frente o melhor de nossa juventude feminina e é muito lógico que se
tenha comportado mais do que satisfatoriamente.

A guerra terminou, agora vos desmobilizam. A participação na guerra não é


coisa fácil, mas tampouco será fácil para vós a desmobilização. A coisa é uma
quando se desmobiliza um kolkhoziano, por exemplo; ele tem um objetivo
concreto: regressa ao kolkhoz onde o espera a família, sua mulher e filhos.

Ademais, a coisa não se limita a isso. A igualdade da mulher existe em nosso


país desde os primeiros dias da Revolução de Outubro. Mas conquistastes a
igualdade da mulher num novo domínio: na defesa da Pátria com as armas na
mão. Conquistastes a igualdade da mulher num terreno em que, até agora, ela
não tinha atuado tão diretamente.

Mas eu, homem ensinado pelos anos, quisera dizer-vos que não vos
envaideçais em vossa futura atividade prática. Não sejais vós quem fale de vossos
méritos; que deles fale o povo. Isto será melhor.

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11/09/2019 Filhas Gloriosas do Povo Soviético

Olho-vos com otimismo, contemplo vosso futuro com otimismo. Creio que
desempenhareis um importante papel em nossa vida pacífica. Talvez esses papel
não seja tão visível como no exército, mas dareis uma contribuição à construção
de paz.

Por mais brilhante que seja a situação de guerra, por mais que una as massas
num todo, por mais que exalte os melhores sentimentos do homem, por exemplo,
o patriotismo, não constitui, apesar de tudo, mais do que um episódio na história
dum país, ao passo que a vida pacífica é seu estado normal, no qual agora
devereis atuar.

Desejo-vos de todo o coração que tragais também para esta vida pacífica uma
parte das fôrças criadoras que tendes acumulado.

(Atroadores e prolongados aplausos. Todos se põem de pé e saúdam


calorosamente o camarada M. I. Kalínin).

Início da página

Inclusão 16/04/2013

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11/09/2019 O Ensino dos Fundamentos do Marxismo-Leninismo nas Escolas Superiores
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O Ensino dos Fundamentos do


Marxismo-Leninismo nas Escolas
Superiores
M. I. Kalinin

31 de Agosto de 1945

Primeira Edição: Discurso pronunciado na Assembléia de Estudantes e Professores da Escola


Superior do Partido Anexa ao Comitê Central do PC (b) da URSS. Revista “Propagandist", (“O
Propagandista) N.° 17, de 1945.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 309-316.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.

Camaradas: O papel decisivo desempenhado pela União


Soviética na conquista da vitória sobre o fascismo, bem como
o poderio militar e econômico demonstrado por nosso país na
segunda guerra mundial, como é notório, constituíram uma
surpresa para muitas pessoas no estrangeiro. Muitos ficaram
assombrados e alguns até desagradavelmente surpreendidos.
Mas fatos são fatos. E hoje eles são reconhecidos não só por
nossos aliados, mas também por nossos inimigos — por toda
a humanidade.

Podemos dizer também que foram reconhecidos em todo o mundo a


genialidade do chefe do povo soviético e o talento de seus colaboradores no
terreno político, diplomático e militar, econômico, cultural e organizativo.

As grandes vitórias do povo soviético na Guerra Patriótica causaram uma


profunda impressão no público estrangeiro e originaram uma verdadeira viragem
em sua atitude para com a União Soviética. Hoje, não existe em todo o globo
terrestre um país que desperte tão profundo interesse no estrangeiro e que seja
observado com tanta atenção como o nosso. Muita gente de além fronteiras, que
antes dava crédito a todas as fábulas caluniosas a respeito da União Soviética,
renunciou ao conceito que tinha de nosso país como de uma espécie de Estado
“totalitário”, isto é, um Estado onde se enclausura toda ideia e toda atividade
independente do homem.

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11/09/2019 O Ensino dos Fundamentos do Marxismo-Leninismo nas Escolas Superiores

O mundo inteiro pôde ver com seus próprios olhos que, nos momentos mais
difíceis para nosso país, as forças criadoras, a iniciativa e o engenho de nosso bem
dotado povo desdobraram-se com extraordinária amplitude e da maneira mais
completa. Pôde-se observar tudo isto não só na direção da guerra, mas também,
literalmente, em todos os setores da vida do Estado. Existe um único país, entre
os mais democráticos do estrangeiro, que conheça algo parecido? Tudo isto
consternou a alguns e despertou em outros um profundo interesse e o desejo de
estudar atentamente o sistema soviético, de conhecer suas instituições e seus
homens. E o heroísmo de nosso exército, sua luta abnegada e seu inaudito valor
na defesa da União Soviética? E o heroísmo revelado no trabalho por nossa
retaguarda, o esforço intenso e abnegado das mulheres, dos adolescentes e dos
velhos, muitos dos quais já estavam aposentados, mas retornaram
voluntariamente ao trabalho nos dias da guerra? Pode haver algo de parecido em
qualquer outro país democrático? Pode conceber-se isto em outro país que não
seja a encarnação da democracia genuinamente popular? Tudo isto demonstra que
nosso povo é absolutamente fiel ao Poder Soviético, que lutou e sempre está
disposto a lutar até o fim, até a última gota de sangue, pelo regime soviético.
Tudo isto não podia deixar de fixar na União Soviética a atenção do resto do
mundo.

Que acontece em nosso pais?

A sangrenta guerra, cheia de mortal perigo para nossa liberdade,


independência e existência como Estado, demonstrou ao nosso povo, inclusive aos
mais atrasados das províncias remotas, que se não fosse o Poder Soviético, a
construção do socialismo na URSS, se não fosse a direção do Partido Comunista e
do camarada Stálin, a coisa teria terminado com uma terrível catástrofe. Nosso
povo não teve jamais como tem agora tão plena consciência de todas as
vantagens e da superioridade desta nova democracia que ele edificou com suas
próprias mãos.

Certamente, ainda não surgiram na história circunstâncias mais favoráveis


para a assimilação da doutrina marxista pelas vastas massas trabalhadoras. Com
efeito, se em momentos de grande adversidade o povo deu provas duma
fidelidade tão profunda à União Soviética e se fundiu tão solidamente com o
regime soviético (que se baseia ideologicamente na doutrina de Marx, Engels,
Lênin e Stálin), compreende-se muito bem que, do ponto de vista histórico, o
momento atual é o mais favorável para a propaganda do marxismo-leninismo.

Em linhas gerais, são estas as condições em que nós, propagandistas do


marxismo, temos de trabalhar.

Já que aqui se reuniram pessoas que, por sua especialização, por seu trabalho,
estão chamadas precisamente a difundir as ideias comunistas entre as massas, eu
quisera expor perante elas quais são as formas e os melhores métodos para
propagar com maior eficácia as ideias comunistas entre os operários, os
camponeses, os intelectuais e, especialmente, entre a juventude.

O ensino do marxismo-leninismo e das ciências afins é uma obra difícil, mas ao


mesmo tempo muito fecunda. Lênin dizia que a doutrina marxista atrai
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11/09/2019 O Ensino dos Fundamentos do Marxismo-Leninismo nas Escolas Superiores

principalmente porque, duma parte, é a mais científica e, de outra, é


revolucionária. O ensino do marxismo-leninismo pode realizar-se de duas
maneiras: uma criadora e a outra, diria eu, abstrata.

Em que se diferencia o método criador, método singularmente difícil, do


abstrato? O ensino abstrato significa tomar o livro, assinalar com a unha “daqui
até aqui”, obrigar a ler e em seguida perguntar o que foi lido aos estudantes. Este
é o método que dá menos resultados, tanto na escola, como na propaganda e
agitação. Quanto mais abstrato é o discurso dum propagandista ou agitador,
quanto mais seus pensamentos se distanciam dos objetos concretos, menor é a
impressão que produz.

As pessoas podem assimilar a doutrina marxista dum modo simplesmente


mecânico ou então de um modo consciente, diria eu, orgânico. Nós, os marxistas,
devemos aspirar a que o máximo possível de pessoas aprenda conscienciosamente
a doutrina marxista, a compreenda e assimile a fundo.

Por que me detenho aqui no ensino desta ciência? Pela simples razão de que
hoje se considera uma tarefa extraordinariamente difícil o estudo do marxismo-
leninismo nos centros de ensino superior.

Em certa ocasião estive conversando a respeito com um camarada que ocupa


um posto de responsabilidade e lhe fiz a seguinte pergunta: “Que lhe parece? E se
tornássemos facultativa em vez de obrigatória esta matéria? Porque, na realidade,
o marxismo-leninismo é a matéria mais interessante e necessária para todo
homem culto e pode servir de base para as conferências mais amenas. No meu
entender, os estudantes devem apinhar as aulas onde se ensina esta matéria”.
Meu interlocutor pensou um pouco e logo me respondeu: “De acordo, mas seria
necessário esperar um pouco, até que disponhamos de mais conferencistas
capazes de tomar esta matéria realmente atraente para os estudantes”. (Risos.)

Esta conversação evidencia que, atualmente, ergue-se diante dos professores


de marxismo-leninismo uma ingente tarefa, melhorar o ensino, dominar métodos
criadores de ensino desta matéria, uma das mais atraentes.

O marxismo-leninismo é a ciência autêntica que estuda a sociedade e as leis


de seu desenvolvimento. É claro que, aparentemente, de modo formal, uma
pessoa pode aprendê-la com rapidez. Mas o essencial consiste no modo de fazê-lo.

Em certo sentido, o estudo do marxismo-leninismo se parece ao da


matemática. Esta é uma ciência abstrata, senão a mais abstrata de todas. Mas,
como se ensina esta ciência? No princípio, os alunos estudam as regras e logo
depois se manda que resolvam problemas concretos, puramente práticos. Pois
bem, o estudo do marxismo-leninismo também deve ser reforçado com fatos
concretos, com exemplos da vida real.

Sabeis, camaradas, que alguns professores de história, por exemplo, repetem


simplesmente fatos e datas, enquanto outros trazem novos dados e novos fatos
em cada conferência, comparam o velho à realidade atual, destacando a diferença
entre o presente e o passado. E somente quando se aborda assim o estudo da

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11/09/2019 O Ensino dos Fundamentos do Marxismo-Leninismo nas Escolas Superiores

história é que a gente pode afeiçoar-se ao estudo desta disciplina e aprofundar-se


nela.

O marxismo-leninismo, mais que qualquer outra matéria, exige — permiti-me


a expressão — que suas teses fundamentais sejam sempre apoiadas em fatos e
problemas concretos. Não basta aprender a doutrina marxista como uma matéria;
além disso, é preciso dominar o método, aprender a aplicá-lo ao interpretar os
fenômenos sociais. Isto é o mais importante. Um homem pode chegar a conhecer
a doutrina, assimilar o marxismo até certo ponto, mas não saber aplicá-lo ao
analisar os fenômenos sociais. Isto é muito mais difícil. Mas, na verdadeira
acepção da palavra, o marxista é tanto mais valioso quanto melhor sabe aplicar o
método marxista à solução de problemas concretos.

Suponhamos que dois estudantes apresentam-se a exame. Um deles expõe as


fórmulas exatamente como estão no manual, enquanto o outro faz uma exposição
muito aproximada à do livro, acertada na essência, mas não idêntica à do manual.
Que juízo formaria eu de um e de outro? Os conhecimentos do segundo me
inspirariam mais confiança e de nenhum modo eu lhe daria uma nota inferior à do
primeiro, que citou o texto do manual de memória (animação na sala). Por que
procederia eu assim?

Devemos fazer o possível para que nossos estudantes saibam formular seus
pensamentos por si mesmos, que saibam manejar independentemente sua
bagagem intelectual em lugar de limitar-se a fazer citações dos livros. Devemos
evitar por todos os meios que eles sejam, como costumava dizer Plekhánov,
“bibliotecas despejadas”.

Sei por experiência própria que as formulações dos estudantes mais medíocres
costumam ajustar-se mais ao texto que a dos estudantes mais dotados. Acho ser
isto um fenômeno natural, porque os últimos aspiram a compreender e a criar. O
próprio fato de procurarem criar, de aspirarem a expressar as ideias marxistas
com suas próprias palavras, é um grande mérito e é preciso impulsioná-los por
este caminho. (Aplausos).

Por que digo isto? Por que advogamos tanto este método? Pela simples razão
de que não necessitamos de gente que somente conheça a letra do marxismo, que
decorou suas teses unicamente para o exame, mas de homens que dominem o
método marxista e saibam aplicá-lo na vida prática.

O marxismo é o método de interpretação científica dos fenômenos sociais. O


conhecimento do marxismo-leninismo é imprescindível para os homens que
trabalham em todos os ramos da atividade política, econômica e cultural. Acaso
não é importante que um engenheiro, além de dominar bem sua especialidade
técnica, esteja armado com a teoria do socialismo científico? Dotado destes
conhecimentos, focalizará cada fenômeno de modo consciente e acertado. A
ciência marxista não só permite conhecer fenômenos isolados, mas formações
inteiras da sociedade humana.

Baseando-se em sua doutrina, Marx fez uma brilhante análise da sociedade


capitalista. Acreditais que se Marx se tivesse limitado a expor a essência de sua
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doutrina, sem fazer a análise da sociedade capitalista, essa doutrina ocuparia uma
posição tão elevada como a que agora ocupa nas ciências sociais? Pois bem, se
Marx não se limitou à simples doutrina, mas baseando-se nela revelou a essência
de toda uma formação, cada professor, ao expor os fundamentos do marxismo-
leninismo, deve fazer a análise correspondente dos fenômenos sociais, dos
processos que se operam hoje em nossa sociedade. É assim que se conseguirá
despertar interesse. Se o professor fizer a análise dos fenômenos sociais, seu
ensino terá um caráter criador.

Eu também fui professor... professor de marxismo num círculo clandestino.


Pois bem, às vezes, ao tratar deste ou daquele problema, percebia que os ouvintes
não me compreendiam bem. Então, comecei a recorrer ao seguinte método:
dedicava quinze minutos à teoria e depois entabulávamos uma palestra familiar,
analisando determinados fenômenos da realidade concreta. E, vejam só, todos
assimilavam facilmente o que eu lhes dizia. Mas, se eu tivesse dedicado a hora
inteira a expor-lhes fórmulas e mais fórmulas, o resultado teria sido nulo. Vedes
por aí quão necessário é ao propagandista recorrer a diversos meios para tornar o
estudo mais vivo e para que os ouvintes compreendam melhor o que expõe. Com
maior razão devem agir assim os professores de nossos centros de ensino
superior.

É nisto que consiste o ensino criador.

Naturalmente, este método didático é muito difícil, exige preparação para cada
conferência, implica em reunir e estudar o material necessário. Mas em
compensação, este método garante a assimilação profunda dos ensinamentos do
marxismo-leninismo pelos estudantes, consolidando esta assimilação com a
análise de acontecimentos concretos, de fatos concretos. Quando o ensino é
abstrato não dá tais resultados: o tema torna-se árido e a gente perde a vontade
de estudá-lo, pois ele não é ilustrado com fatos concretos.

Dever-se-ia exigir dos estudantes, além do conhecimento das teses


fundamentais do marxismo, que soubessem abordar estes ou aqueles fatos
concretos e interpretá-los do ponto de vista marxista-leninista. Se não se pode
trazer isto nas consciências, sempre é possível fazê-lo amplamente nas aulas de
controle.

V. I. Lênin nos exortava sempre a que avançássemos no domínio da teoria


marxista. O camarada Stálin nos lembra constantemente que a teoria é
inseparável da realidade concreta, que o marxismo não tolera a abstração
descarnada e que sempre se enriquece, se reforça e é brilhantemente ilustrado
quando se estudam a fundo os fatos da vida real.

Pois bem, camaradas, parece-me que nós (também me incluo, senão entre os
professores e conferencistas sem dúvida entre os pregadores da teoria comunista)
(aplausos) devemos procurar por todos os meios fazer com que as conferências de
marxismo-leninismo sejam, por princípio, do começo ao fim, revolucionárias e
científicas (tende presentes estas duas condições: revolucionárias e científicas) e
ilustradas com as mais belas cores com que o homem é capaz de fazê-lo. Não
esqueçais que a juventude gosta das coisas apresentadas com beleza. Se
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11/09/2019 O Ensino dos Fundamentos do Marxismo-Leninismo nas Escolas Superiores

meditarmos um pouco veremos, porém, que não se pode encontrar nada de mais
belo que as ideias do marxismo-leninismo, pois estas são as ideias de uma criação
ilimitada. Neste terreno, abrem-se ante vós as mais amplas perspectivas. Mas
estas vos impõem um sério trabalho: a criação. Procurai evitar em tudo o que for
possível o sistema do “daqui até aqui”.

Penso que com o esforço comum aproveitaremos o estado tão favorável da


mentalidade do povo, que assinalei no começo, para, na medida de nossas
possibilidades, arraigar mais intensa e profundamente no cérebro da classe
operária, do campesinato e da intelectualidade as ideias do marxismo-leninismo.

Desejo-vos, camaradas, que domineis plenamente o método fecundo do


ensino e vos asseguro que então convertereis os fundamentos do marxismo-
leninismo na matéria mais interessante e atraente dos programas de nossos
centros de ensino superior.

Os operários e camponeses de nosso país estão dispostos a entregar tudo ao


Poder Soviético. (Aplausos.) Apliquemos, pois todas as nossas energias para
enriquecer e iluminar ainda mais intensamente os trabalhadores de nosso país
com os ideais do marxismo-leninismo. (Aplausos.)

Início da página

Inclusão 14/06/2013

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11/09/2019 Discurso Pronunciado na Reunião Solene da XIV Sessão Plenária do Comitê Central do Komsomol da URSS
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Discurso Pronunciado na Reunião


Solene da XIV Sessão Plenária do
Comitê Central do Komsomol da
URSS
M. I. Kalinin

28 de Novembro de 1945

Primeira Edição: "Komsomólskaia Pravda" ("A Pravda do Komsomol”), 2 de dezembro de 1945.


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em
Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 317-320.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail
Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos.
Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.

Camaradas membros do Comitê Central do Komsomol


leninista, representantes das organizações regionais do
Komsomol e ativistas da organização de Moscou: hoje foi
entregue ao Komsomol leninista a mais alta condecoração — a
Ordem de Lênin. Agora, o Komsomol leva presa à sua
bandeira a ordem com a imagem de Vladimir Ilitch Lênin, o
grande lutador pelo bem do povo.

Compartilho convosco da felicidade que vos proporciona a


honra de tão alta distinção. Confio em que conservareis com
unção esta ordem, que lutareis com maior entusiasmo, melhor e mais ativamente
ainda pela grande causa de Lênin, pelos elevados ideais do Partido de Lênin e
Stálin.

Camaradas: é a terceira vez que o Governo soviético condecora a União das


Juventudes Comunistas. Pela terceira vez, nosso chefe genial, o camarada Stálin,
valoriza altamente os méritos do Komsomol ante o povo.

O Komsomol ganhou a primeira condecoração por ter participado ativamente


da guerra civil, quando nosso povo lutava pelo Poder Soviético. Naqueles anos, o
Komsomol mobilizou com êxito dezenas de milhares de jovens revolucionários para
lutar contra Koltchak, Deníkin, Iudénitch, os guardas brancos poloneses e
Wrangel. Sob a insígnia do Partido Bolchevique, a juventude daquela época
demonstrou com heroicas façanhas sua fidelidade ao Poder Soviético. Dirigida pelo

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11/09/2019 Discurso Pronunciado na Reunião Solene da XIV Sessão Plenária do Comitê Central do Komsomol da URSS

Komsomol, lutou com êxito pela consolidação do Poder Soviético, por nossa
vitória.

Em 1931, ao finalizar o Primeiro Plano Quinquenal stalinista, o Governo tornou


a condecorar o Komsomol pelo ingente trabalho que realizara, por seu entusiasmo,
por impulsionar a emulação socialista e também por ter lutado abnegadamente,
sob a bandeira do Partido, em prol do cumprimento do Primeiro Plano Quinquenal;
por sua atividade, por essa atividade que arrasta as massas e as leva a participar
com entusiasmo no trabalho. Então, o Komsomol foi condecorado com a Ordem da
Bandeira Vermelha do Trabalho.

Agora, acabo de entregar-vos a terceira ordem. Esta distinção, a Ordem de


Lênin, o Komsomol a mereceu pelos relevantes méritos adquiridos perante a Pátria
nos anos da Grande Guerra Patriótica da União Soviética contra a Alemanha
hitlerista e por seu intenso trabalho de educação da juventude soviética no espírito
da fidelidade sem limites à Pátria. Ao outorgar ao Komsomol a mais alta distinção,
o Governo quis acentuar os grandes méritos do Komsomol nos anos da épica luta
pela Pátria, tanto nas diversas frentes da Guerra Patriótica como na retaguarda,
nas fábricas e nos campos kolkhozianos.

Em resumo, as condecorações obtidas pelo Komsomol por seus méritos


perante a Pátria demonstram que não há campo de ação em que não tenha
participado o Komsomol, fiel ajudante do Partido.

Camaradas, quando nosso Governo condecora uma organização ou uma


pessoa, tem sempre presente, além do que já se fez, o que resta por fazer. Quais
são, portanto, as tarefas que agora se apresentam diante do Komsomol? Em que
domínio devereis aplicar, agora, vossos esforços com particular empenho para
acrescentar, à bandeira do Komsomol a glória de novos êxitos?

Creio que não direi nada de novo, que cada um de vós já o sabe, porém que
vale a pena relembrá-lo. Hoje, camaradas, a tarefa primordial e mais importante
consiste em lutar pelo cumprimento dos planos de construção de após-guerra, que
nossos órgãos governamentais estão traçando para o novo quinquênio.

O cumprimento de nossos planos de produção no após-guerra é uma grande


tarefa e é indispensável demonstrar sua importância. Isto e evidente para todo
aquele que tenha visto os danos causados pelos fascistas a nosso país, para todo
aquele que tenha adquirido consciência da importância que tem o fortalecimento
ininterrupto de nosso país.

Estou certo de que o Komsomol, mobilizando a juventude para o cumprimento


das novas tarefas de produção, saberá educar novos milhões de jovens patriotas
incondicionalmente fiéis à Pátria, ao Partido e ao camarada Stálin.

Quisera chamar vossa atenção para mais outra tarefa prática. Sabeis que
atualmente adquirem grande desenvolvimento as relações internacionais. Também
se intensificam as relações internacionais entre as organizações juvenis. Por isso,
quisera que nossos jovens, que os komsomóis se familiarizassem mais com a vida,

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1945/11/28.htm 2/3
11/09/2019 Discurso Pronunciado na Reunião Solene da XIV Sessão Plenária do Comitê Central do Komsomol da URSS

a cultura e o caráter dos povos estrangeiros. É desejável sobretudo que entre


nossos komsomóis haja mais gente que domine idiomas estrangeiros.

Camaradas, o Komsomol tornou-se credor de tão alta recompensa graças aos


heroicos esforços de milhões de seus militantes, jovens que, como já disse,
lutaram com abnegação por nossa justa causa, tanto na frente como na
retaguarda. Parte desses méritos cabe à plêiade de magníficos filhos do Komsomol
que ofereceram a vida pela Pátria Soviética. esses jovens deram provas de
madureza política, de experiência organizativa e de maestria na luta, de elevado
patriotismo e ilimitada fidelidade ao povo soviético; demonstraram perante o
mundo todo a elevada moral dos cidadãos soviéticos. Acaso não é evidente para
cada um o magnífico resultado da constante solicitude do camarada Stálin pelo
Komsomol, por toda a juventude?

E por isso estou convencido, camaradas, de que os militantes do Komsomol


guardarão como algo sagrado e multiplicarão as magníficas tradições cristalizadas
durante a Guerra Patriótica. Essas tradições contribuirão para formar os jovens, os
militantes do Komsomol.

As condecorações outorgadas ao Komsomol sempre guardam relação com


importantes etapas históricas da vida de nosso país. A última condecoração está
ligada à epopeia da Guerra Patriótica, à nossa vitória.

Em todas as etapas históricas, o Komsomol cumpriu honrosamente as tarefas


de que foi incumbido. Permiti-me desejar-vos que cumprais vossas tarefas de hoje
com tanto acerto como cumpristes as dos períodos anteriores do desenvolvimento
de nosso país. (Todos se põem de pé; atroadores e prolongados aplausos).

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Inclusão 18/05/2013

https://www.marxists.org/portugues/kalinin/1945/11/28.htm 3/3

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