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Prof.

João Pedro Marra Nogueira


Direito Eleitoral
Organização partidária –

Partidos políticos –

No mundo contemporâneo, os partidos políticos tornaram-se peças essenciais para o funcionamento do


complexo mecanismo democrático.

Constituem canais legítimos de atuação política e social; captam e assimilam rapidamente a opinião
pública; catalisam, organizam e transformam em bandeiras de luta as díspares aspirações surgidas no
meio social, sem que isso implique ruptura no funcionamento do governo legitimamente constituído.

Os partidos políticos são produtos da modernidade, notadamente século XIX. Para o seu
desenvolvimento muito contribuiu o surgimento e estruturação de um corpo de ideias liberais, que
enfatizavam a liberdade, igualdade, a independência e a autonomia do indivíduo. Também houve
significativo impulso proporcionado pelos movimentos socialistas coevos à Revolução Industrial.

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Adotando a razão como guia, passou-se a contestar a legitimidade do regime de monarquia
absoluta, notadamente sua legitimação religiosa ou divida; todo governo só existe por
consentimento dos governados, devendo ser limitado em seus poderes.

A certa altura, tornou-se imperioso o alargamento da participação política de todos os cidadãos e


a instituição de governos representativos. De elevação das pessoas comuns à condição de sujeito
político resultou a construção de novas formas de organização da participação política, e para
esse fim os partidos políticos foram os modelos mais exitosos.

Daí o surgimento dos partidos encontra-se associados aos países que adotaram formas de
governo representativo e progressiva ampliação do sufrágio.

Os processos civis e sociais que levaram a tal forma de governo, tornavam necessária a gestão do
poder por parte dos representantes do povo, o que teria conduzido a uma progressiva
democratização da vida política e á integração de setores mais amplos da sociedade civil no
sistema político.

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Nos primeiros tempos da trajetória de tal ente, vale destacar a
atuação de deputados no Parlamento britânico. Já no século XVII
começaram a ocorrer movimentos de contestação aos excessos
do poder monárquico-absolutista. Os membros do Parlamento se
dividiam em grupos e tendiam a votar unidos, de maneira a fazer
prevalecer os seus interesses (ou os daqueles que eles
representavam) em detrimento dos desígnios do rei.

Como que consolidando a afirmação do parlamento em face do


poder real, desde a época do monarca Carlos II, firmou-se na
Inglaterra a distinção ideológica entre Conservadores (Tories) e
Liberais (Whigs).

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Também nos EUA se firmou uma sólida tradição
partidária, a qual teve início com os partidos
Federalistas (de Hamilton e Adams) e Republicano (de
Jefferson e Madison), fundados na década de 1790.
Desde então, já se contam seis sistemas partidários
naquele país, conforme segue:

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No Brasil, o ano de 1831 é indicado por alguns
pesquisadores como o do surgimento do primeiro partido –
denominado Liberal -, seguido pelo Conservador, em 1838.

Durante quase todo o Segundo Reinado, a cena política


brasileira foi dominada pelos partidos Liberal e
Conservador. Trata-se de um período de estabilidade no
quadro partidário nacional. Somente na década de 1870 é
que surgiria o Partido Republicano, o qual viria a
desempenhar papel decisivo na derrocada do Império e na
formatação do Estado brasileiro.

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Definição de partido político –

Compreende-se por partido político a entidade formada


pela livre associação de pessoas, com organização estável,
cujas finalidades são alcançar e/ou manter de maneira
legítima o poder político-estatal e assegurar, no interesse do
regime democrático de direito, a autenticidade do sistema
representativo, a alternância no exercício do poder político,
o regular fundamento do governo e das instituições
políticas, bem como a implementação dos direitos humanos
fundamentais.

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Função –

No governo: os partidos políticos organizam a ação governamental, especialmente no Poder


Legislativo, influenciam a atuação dos agentes públicos no sentido de se alcançar os
objetivos pretendidos; aqui tais entes destacam-se como instrumento para a tomada de
decisões políticas.

Como organização: os partidos organizam os esforços dos cidadãos, candidatos e políticos,


com vistas a lograrem êxito nas eleições; nesse sentido, selecionam e indicam os
candidatos, os promovem e auxiliam a levantar dinheiro para financiar suas campanhas.

No eleitorado: os partidos orientam e auxiliam os eleitores a definirem o voto, já que esses


podem ligar suas crenças e seus interesses aos valores, ideias e objetivos abraçados pela
agremiação.

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Há ainda que se realçar a função fundamental dos
partidos como entes intermediários entre a sociedade e
o Estado. Nesse sentido, funcionam como instrumentos
das sociedades democráticas para ordenar a alteração
do exercício do poder estatal e, pois, a renovação dos
cargos públicos-eletivos. Por outro lado, aludidas
entidades captam e interpretam as prioridades do País
e as, por vezes, contraditórias demandas da opinião
pública, traduzindo-as em programas políticos ou ideias
gerais que podem embasar propostas legislativas ou
ações governamentais.

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Distinção de partidos políticos e outros entes –

Em sentido técnico, partido político distingue-se de outros entes como


frente, movimento, grupo, facção, liga, clube, comitê de notáveis, ainda
que os membros dessas entidades compartilhem iguais princípios
filosóficos, sociais, doutrinários, interesses, sentimentos, ideologia ou
orientação política.

Eventualmente, tais entidades podem até possuir algo em comum com


os partidos – como a busca pelo poder estatal ou seu controle -, mas o
fato é que os entes aludidos não apresentam as necessárias
estabilidade, estrutura e organização para serem caracterizados como
partido; eles constituem, na verdade, os precursores dos partidos
políticos modernos.

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Coligação partidária –

Coligação é o consórcio/união de partidos políticos formados com o propósito


de atuação conjunta e cooperativa na disputa eleitoral.

A possibilidade dos partidos se coligarem conta com a expressa previsão na


Constituição Federal, notadamente no §1º do artigo 17 (com a redação da EX
nº 97/2017):

“É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura


interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos
permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para
adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições
majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições proporcionais, sem
obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional,
estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de
disciplina e fidelidade partidária”

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A vedação de coligação para as eleições proporcionais (deputado
federal/distrital e vereador) só passou a valer a partir das eleições de 2020,
nos termos do artigo 2º da EC nº 97/2017.

A deliberação sobre coligação deve ocorrer na convecção para escolha de


candidatos (LE, art. 8º, caput). Para cada eleição e em cada circunscrição deve
haver específica deliberação.

A ata da convenção deve ser registrada na Justiça Eleitoral. Mas a coligação


não nasce desse ato, e sim da manifestação de vontade emanada das
agremiações.

A coligação terá denominação própria, que poderá ser uma expressão que
sintetize seu projeto político (coligação “O povo soberano”) ou a junção de
todas as siglas dos partidos políticos que a integram.

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Entretanto, a designação não poderá “coincidir, incluir ou fazer referência a
nome ou número de candidato, nem conter pedido de voto para partido
político” (LE, art. 6º, §1º-A). É com essa denominação que a coligação se
apresentará perante o eleitorado, sobretudo no espaço dedicado à
propaganda eleitoral.

Embora não se confunda com os partidos que a integram, a coligação não


possui personalidade jurídica, mas meramente judiciária. Nos termos do
artigo 6º, §1º, da LE, são-lhes atribuídas as prerrogativas e obrigações de
partido político no que se refere ao processo eleitoral, devendo funcionar
como um só partido no relacionamento com a Justiça Eleitoral e no trato dos
interesses inter-partidários.

Daí a necessidade de designar um representante, o qual “(...) terá atribuições


equivalentes às de presidente de partido político, no trato dos interesses e na
representação da coligação, no que se refere ao processo eleitoral”.

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Perante a Justiça Eleitoral, a coligação fala e age por seu representante, podendo,
ainda, designar delegados. Assim, nos pleitos de que participa, ostenta legitimidade
ativa e passiva, podendo ajuizar ações, impugnações, representações, interpor
recursos, contestar, ingressar no feito como assistente, integrar litisconsórcio.

Observa-se que, diante do seu caráter unitário, não se admite que os partidos
integrantes da coligação, isoladamente, venham a praticar atos no processo eleitoral,
como requerer registro de candidatura, impugnar pedido de registro, ingressar com
representações eleitorais.

Todavia, essa regra comporta exceção. Admite-se que partido coligado questione “a
validade da própria coligação, durante o período compreendido entre a data da
convenção e o termo final do prazo para a impugnação do registro de candidatos (LE,
art. 6 §4º)

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Extingue-se a coligação, entre outros motivos:

a) Pelo distrato, ou seja, pelo desfazimento do pacto


firmado por seus integrantes;
b) Pela extinção de um dos partidos que a compõe, no
caso de ser formada por dois partidos;
c) Pela desistência dos candidatos de disputar o pleito,
sem que haja indicação de substitutos, pois nesse caso
terá perdido seu objeto;
d) Com o fim das eleições para as quais foi formada, isto é,
com a diplomação dos eleitos.

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Regime jurídico –

O ordenamento jurídico brasileiro trata amplamente dos partidos políticos, o que


induziu o surgimento de estudos próprios de Direito Partidário.

A CF/88 consagra especificamente aos partidos o capítulo V de seu Título II, artigo 17.
No entanto, há disposições constitucionais que não se encontram no referido capítulo
V que são também aplicáveis ao regime dos partidos, como a que prevê “a liberdade
de associação” (CF, art. 5º, XVII).

No âmbito infraconstitucional, a disciplina geral dos partidos encontra-se na lei nº


9.096/1995 (lei dos partidos políticos – LPP), bem como em resoluções emanadas do
TSE.

Se não houver norma para regular determinada questão ligada à gestão e ao


funcionamento do partido, suas relações com filiados ou com pessoas e entes
privados, é razoável buscar analogia no regime geral das associações do Direito
Privado.

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Natureza jurídica –

Debate-se acerca da natureza jurídica do partido político, de


modo a definir se são entes públicos, privados ou híbridos.

No ordenamento jurídico brasileiro, por expressa definição legal,


o partido político apresenta natureza de pessoa jurídica de
Direito Privado, não sendo, portanto, ente público nem se
equiparando a “entidades paraestatais”, por exemplo, as
autarquias e fundações públicas.

O estatuto do partido deve ser registrado no Serviço de Registro


Civil de Pessoas Jurídicas (LPP art. 8º). É esse registro que lhe
confere existência e personalidade jurídica, que lhe habilita a agir
no mundo jurídico contraindo direitos e obrigações.

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Nota-se porém, que o partido não é ente privado comum ou
convencional, mas especial e diferenciado devido às
relevantes funções que lhe foram conferidas pela CF com
vistas ao adequado funcionamento do sistema político e do
regime democrático-representativo.

Situando-se entre a sociedade e o Estado, é submetido a


regime legal próprio, do qual resultam diversos deveres e
obrigações, inclusive a de prestar contas de todos os valores
arrecadados e gastos com suas atividades.

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