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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS


CAPITALISMO E URBANIZAÇÃO NO BRASIL

CAICÓ NA REDE URBANA POTIGUAR

ROBSON VASCONCELOS CARVALHO

NATAL/RN
JULHO – 2019
1. INTRODUÇÃO

1.1 O que é o REGIC?

Um dos estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, para


mensurar o papel das cidades brasileiras no contexto da rede urbana
nacional/regional/local é o estudo da Região de Influência Cidades – REGIC.
Este tipo de estudo privilegia, para além do riscado geográfico que demarca a
divisão política-administrativa, formando o “mapa” das cidades, as relações dessas
com as demais. Sejam relações do tipo local, regional, nacional ou internacional a
principal matéria prima utilizada por esse tipo de estudo para classificar as cidades é
a abrangência de suas redes, construídas nas dinâmicas construídas socialmente,
culturalmente, politicamente e comercialmente. A rede e os fluxos são as palavras-
chave.
O IBGE, então, definiu uma série de critérios para definir o que chamou de
centros de gestão do território, que são, segundo CORRÊA (1995): “Aquelas cidades
onde se localiza uma grande diversidade de órgãos do Estado e sedes de empresas,
a partir das quais são tomadas decisões que afetam direta ou indiretamente um dado
espaço”. (apud FIRKOWSKI, 2012).
De acordo com o próprio IBGE, para a definição dos centros da rede urbana
brasileira, buscam-se:

Informações de subordinação administrativa no setor público federal, para


definir a gestão federal, e de localização das sedes e filiais de empresas, para
estabelecer a gestão empresarial. A oferta de distintos equipamentos e
serviços capazes de dotar uma cidade de centralidade – informações de
ligações aéreas, de deslocamentos para internações hospitalares, das áreas
de cobertura das emissoras de televisão, da oferta de ensino superior, da
diversidade de atividades comerciais e de serviços, da oferta de serviços
bancários, e da presença de domínios de Internet – complementa a
identificação dos centros de gestão do território (IBGE, 2008, p.9).

A partir desses parâmetros básicos e de critérios bem definidos, o próprio IBGE


desenvolveu as seguintes classificações, considerando cinco níveis hierárquicos:

1. Metrópole - são 12 no total; são os principais centros urbanos do País e


subdividem-se em três grupos: grande metrópole nacional - São Paulo;
metrópole nacional - Rio de Janeiro e Brasília; metrópoles - Manaus, Belém,
Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre;
sua definição será objeto de atenção posteriormente;
2. Capital regional - composto por 70 centros urbanos, subdivididos em três
grupos: capital regional A, capital regional B e capital regional C; são centros
urbanos cuja importância em relação à gestão encontra-se em nível
imediatamente inferior ao nível das metrópoles e sua área de influência é
regional e não nacional;
3. Centro Sub-regional - é composto por 169 centros urbanos que apresentam
atividades de gestão menos complexas que os níveis anteriores; subdivide-
se em dois grupos: centro regional A e centro regional B;
4. Centro de Zona - formado por 556 centros urbanos de menor porte e
atividades elementares de gestão, com pequena área de influência.
Subdivide-se em dois grupos: centro local A e centro local B;
5. Centro Local - nesta classificação encontram-se todos os demais centros
urbanos do País cuja centralidade e influência estão circunscritas aos limites
do respectivo município. (IBGE, 2008)

No que diz respeito à divisão Urbano-Regional, há uma característica marcante


no Nordeste que é a existência de duas redes urbanas: uma no litoral e a outra no
interior da região, com características diversas:

uma no litoral composta pelas capitais dos estados e seu entorno, na qual se
concentram as atividades mais dinâmicas e os serviços tidos como
superiores; e outra no interior, dispersa e atomizada formada por antigas
capitais regionais e poucos centros, que apesar do baixo dinamismo
desempenham papel importante na dinâmica regional. (DANTAS e
CLEMENTINO, 2014a, p.107)

Tal forma de classificar as cidades, nos parece mais próxima da realidade, em


virtude do predomínio de influência política nas outras formas de conceber a
classificação das cidades, que nos levam a falsas impressões sobre os verdadeiros
tamanhos e abrangência das mesmas.

É comum se considerar e se oficializar uma cidade, por exemplo, como


metrópole, sem a mesma ser, do ponto de vista real de suas relações de influencias
e da hierarquia entre as demais cidades brasileiras. Do mesmo modo, existem cidades
que podem não serem classificadas como metrópoles, mas no seu contexto regional,
fazer as vezes, ou seja, cumprir a função de uma metrópole.
Desenvolvemos, de acordo com os níveis escalares, para melhor explicar, um
esquema que ilustra a divisão urbano regional, que abrange as classificações que ora
estamos expondo:
Figura 1. Divisão urbano regional.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Isso se dá, porque é necessário se enxergar e se considerar as


particularidades locais/regionais, comuns em um país de dimensões continentais. É
praticamente impossível definir critérios tão precisos que sejam capazes de enquadrar
as 5.570 cidades brasileiras e as funções exercidas pelas mesmas, até porque há
cidades semelhantes que chegam a exercer funções e papéis diferentes nas regiões
em que se encontram.

1.2 A rede urbanizada do Nordeste

A região Nordeste é o aglomerado populacional mais antigo do país, com


população estimada em 53.081.950 habitantes/2010; quase 1/3 = 27,8% da
Brasileira/2010; possui aproximadamente 1,5 milhão de Km2; contém 09 estados,
1.789 municípios com dinâmicas de desenvolvimento sociais distintos. Além disso,
quase metade da população do NE está nas Regiões Metropolitanas de Recife,
Salvador e Fortaleza.
Apesar de não condizer com a realidade dos fluxos e relacionamentos
apontadas pela classificação do REGIC/IBGE, possui 12 Regiões Metropolitanas
institucionalizadas com forte concentração urbana, das quais apenas 02 são RM´s
pelo REGIC. Seu aglomerado populacional caracteriza-se pela alta vulnerabilidade e
é marcado pela pobreza e exclusão social, e está passando por um processo de
transição demográfica, acompanhado de um processo de urbanização mais lento.
No que diz respeito à hierarquia, no contexto da divisão urbano-regional do NE,
de acordo com a Nota técnica/BNB (CLEMENTINO, 2013), localizamos centros de
gestão do território, divididos da seguinte forma: possui 03 Metrópoles das 12 do
Brasil; 18 capitais regionais, das 70 do Brasil, 51 Centros Sub-regionais dos 169 do
Brasil, além de centros de zona e locais, conforme ilustra a figura abaixo:

Figura 2. Rede Urbana do Nordeste segundo a Região de Influências das Cidades


(REGIC), Nordeste – 2007.

Fonte: IBGE - REGIC, 2008. Elaborado por FRANÇA, R; QUEIROZ,J,2013.

Quando consideramos o perfil e as funções urbanas da economia regional,


temos, de acordo com Clementino(2013), mais de 50% do PIB do Nordeste, que
representa 13,5% do PIB do Brasil está na BA/PE/CE; ainda assim, 15% das
empresas brasileiras está no Nordeste. Sobre o contingente populacional em relação
ao Brasil, o Nordeste tem 27,8% da população brasileira, 13,5 % do PIB e 16,7% da
renda gerada nacionalmente, 27,5% da População em Idade Ativa (PIA) e 26,4% da
População Economicamente Ativa (PEA) com base em dados de 2009.
No quadro abaixo, adaptado de Clementino(2013), o detalhamento do global
do Nordeste e, individual e percentualmente de cada um dos nove estados, em relação
às pessoas ocupadas, à massa salarial e a unidades locais de empresas.
Quadro 1. Percentual de Participação do Nordeste na Indústria de Transformação
Nacional, 2006.

Fonte: IBGE- Cadastro CEMPRE, 2006.

1.3 Um pouco da História e fundação da cidade de Caicó

A cidade de Caicó está localizada na região do Seridó, no estado nordestino do


Rio Grande do Norte. Segundo o IBGE (1960), a história do povoamento de Caicó
está intimamente ligada à de toda a região do Seridó e à de alguns municípios do
Estado da Paraíba e:

Acredita-se que os primeiros fundamentos da colonização tenham sido


lançados por volta de 1700, quando batedores paraibanos penetraram na
região para dar caça aos índios caicós, que habitavam nas proximidades da
confluência do rio Barra Nova com o Seridó. Expulsos os indígenas, vieram
os plantadores de fazendas, surgindo então os primeiros núcleos
demográficos, inteiramente voltados para a criação de gado bovino. Aos
primeiros povoadores do Seridó não passou despercebido a riqueza da terra
em pastagens e aguadas. Requeridas as primeiras datas e espalhada a
notícia da descoberta de uma nova região propícia à criação, acorrem para o
local paraibanos, pernambucanos e portugueses, a fim de situarem seus
gados na terra conquistada. Entre os povoadores mais antigos registram-se
os nomes do capitão Inácio Gomes da Câmara, Manoel de Sousa Fortes e
tenente José Gomes Pereira. Em 1748, quando toda a região do Seridó ainda
pertencia à freguesia de Piancó (Paraíba), já era conhecida a povoação
também denominada Seridó, possivelmente situada no local em que mais
tarde se assentaria a cidade de Caicó. Essa povoação, que parece ter sido a
mais antiga do município, é citada em carta dirigida ao Governador de
Pernambuco, datada de 1787, e que defendia a elevação do povoado a
município. (IBGE, 1960, p. 41)
Em relação à sua Formação Administrativa, o referido instituto aponta para as
seguintes informações, que resumem o histórico de sua formação institucional:

Distrito criado com a denominação de Vila Nova do Príncipe por Alvará de


1748. Elevado à categoria de vila com a denominação de Vila Nova do
Príncipe por Ordem do Governo de 28-04-1788, em virtude da Ordem Régia
de 22-07 1766. Instalado em 31-07-1788. Elevado à condição de cidade e
sede com a denominação de Vila Nova do Príncipe pela Lei Provincial n.º
612, de 16-12-1868. Pelo Decreto Estadual n.º 12, de 01-02-1890, o
município de Vila Nova do Príncipe passou a denominar-se Seridó. Pelo
Decreto Estadual n.º 33, de 07-07-1890, o município de Seridó passou a
denominar-se Caicó. Em divisão administrativa referente ao ano de 1911 o
município Caicó é constituído do distrito sede. Assim permanecendo em
divisão administrativa referente ao ano de 1933. Em divisões territoriais
datadas de 31-XII-1936 e 31-XII-1937 o município aparece constituído de 2
distritos: Caicó e Jardim de Piranhas. No quadro fixado para vigorar no
período de 1939 a 1943 o município é constituído de 2 distritos: Caicó e
Jardim de Piranhas. A Lei Estadual n.º 146, de 23-12 1948, desmembra do
município de Caicó o distrito de Jardim de Piranhas, elevado à categoria de
município. Em divisão territorial datada de 1-VII-1950 o município é
constituído do distrito sede. Pela Lei Estadual n.º 902, de 19-11 1953, é criado
o distrito de São Fernando e anexado ao município de Caicó. Em divisão
territorial datada de 1-VII-1955 o município é constituído de 2 distritos: Caicó
e São Fernando. Pela Lei Estadual n.º 2.320, de 05-12-1958, é criado o
distrito de Timbaúba dos Batistas e anexado ao município de Caicó. A Lei
Estadual n.º 2.333, de 31-12-1958, desmembra do município de Caicó o
distrito de São Fernando, elevado à categoria de município. Em divisão
territorial datada de 1-VII-1960 o município é constituído de 2 distritos: Caicó
e Timbaúba dos Batistas. A Lei Estadual n.º 2.774, de 10-05-1962,
desmembra do município de Caicó o distrito de Timbaúbas dos Batistas,
elevado à categoria de município. Em divisão territorial datada de 31-XII-1963
o município é constituído do distrito sede. Assim permanecendo em divisão
territorial datada de 2014. (IBGE, 2008)

1.4 Caicó em números no contexto do RN e do Brasil

Segundo o IBGE, Caicó possui uma população de acordo com o censo


demográfico de 2010, 62.709 pessoas. Em comparação com os 5.570 municípios
brasileiros, Caicó ocupa a 474° posição em relação ao seu contingente populacional;
no próprio estado, o 7° lugar dentre os 167 municípios potiguares, sendo a 1ª dentre
os sete municípios da microrregião do Seridó.
Esses dados apontam para uma densidade demográfica de 51,04 habitantes
por quilometro quadrado. Comparando a outros municípios do país, Caicó está na
1.405° posição, ao passo em que no Estado coloca-se na 57° e na sua microrregião
em 1° lugar.
No quesito Trabalho e Rendimento, levantado em 2017 pelo IBGE, o salário
médio mensal era de 1.6 salários mínimos. A proporção de pessoas ocupadas em
relação à população total era de 17.3%. Na comparação com os outros municípios do
estado, ocupava as posições 103 de 167 e 14 de 167, respectivamente. Já na
comparação com cidades do país todo, ficava na posição 4.225 de 5.570 e 1.711 de
5.570, respectivamente.
Ainda de acordo com o IBGE, considerando domicílios com rendimentos
mensais de até meio salário mínimo por pessoa, tinha 37.9% da população nessas
condições, o que o colocava na posição 103 de 167 dentre as cidades do estado e na
posição 3.021 de 5.570 dentre as cidades do Brasil. Já quando passamos a considerar
o pessoal ocupado, os dados se alteram: Caicó possuía na ocasião 11.788 pessoas
ocupadas, o que representava a 549° posição no país, a 5° no seu Estado e a 1ª na
microrregião.
Quando a temática pesquisada passa a ser a educação, a taxa de
escolarização de 06 a 14 anos de idade atinge 97,3% da população, significando a
3.221° posição no Brasil, 106° no RN e a 3ª em sua microrregião. Interessante
observar que ocupa 1° lugar em população e renda, mas o 3° neste tópico da
educação, em sua região. A sua nota no Índice de desenvolvimento da Educação
Básica – IDEB, nos anos iniciais do ensino fundamental (Rede pública) é 4,9, ficando
assim no comparativo com os demais municípios brasileiros na 3.882° posição, 31°
no RN e 5ª em sua microrregião. Já nos anos finais do ensino fundamental, a sua
posição é pior em nota atribuída, chegando a 4,1. No comparativo do país, ocupa a
3.402° posição; no RN, cai para 20° e cai mais uma vez na sua microrregião para 4°
lugar.
Na perspectiva da economia, Caicó/RN possui renda per capta de R$
15.672,50, refletindo a desigualdade na concentração de riquezas, pois na prática, o
valor atribuído não se aproxima de modo algum da realidade de cada cidadão
caicoense. De todo modo, representa a 2.829° posição no Brasil, 26° no Estado e
ocupa o 1° lugar na sua microrregião. Caicó é um município com altíssimo grau de
dependência econômica de recursos externos, com percentual chegando a 82,3% de
suas receitas. Na classificação nacional, despenca para a 3.546° posição, no Estado
para 119° e na sua microrregião para 7° e último lugar.
Ainda no campo da economia, chama a atenção o fato de orçamento realizado
pelo poder público municipal, sem menor do que o empenhado, implicando numa
perda de recursos que deveriam sem aplicados na cidade, fato que aponta para
ineficiência administrativa de seus gestores públicos. No total, foram realizadas,
segundo IBGE, R$ 119.336,02 (x1.000), ficando na 723° posição no país, na 8ª no
Estado, porém em 1° lugar em sua região. Curiosamente, R$ 123.033,42 (x1.000)
foram as despesas empenhadas, o que, no comparativo, coloca o município na 631°
posição no país, na 8ª no RN e em 1° lugar em sua microrregião.
De acordo com Tavares (2017) desde o começo de sua formação territorial,
Caicó centralizou uma série de atividades e funções sociais, além de econômicas que
lhe deu maior projeção em relação às demais cidades do seu entorno. Para Faria
(2011), analisando os diversos períodos e eventos que possibilitaram a expansão
urbana de Caicó, evidenciou que:

Já com a pecuária, mas principalmente a partir da cotonicultura, a cidade


tinha uma dinâmica acentuada, a qual se desenvolvia pela função de centro
atrativo/receptor que cada vez mais desempenhava. Foi, contudo, a partir do
período em que temos o uso do seu território pela indústria usineira de
beneficiamento do algodão, mais precisamente entre os anos de 1930 e
1970, que Caicó se tornou a principal cidade da região do Seridó, condição
que mesmo diante da crise desta atividade entre os anos 1970 e 1980, não
foi modificada. Se expandem no seu território urbano neste período, diversos
fixos vinculados ao adensamento do comércio e dos serviços (muitos devido
a forças políticas locais), que ratificam ainda mais o seu processo de
urbanização, possibilitando a mesma se tornar uma cidade
regional/intermediária. Caicó tinha uma relação com o circuito espacial têxtil,
todavia essa se dava sobretudo na produção da matéria-prima. E é
justamente no momento em que esta atividade entra em crise que outra a
substitui no cenário econômico da cidade. Caicó apresentava desde as
décadas de 1970 e 1980, além da produção e beneficiamento de algodão,
uma indústria têxtil que envolvia principalmente os circuitos de produção de
redes de dormir e de panos de prato. No entanto, esses circuitos foram
suprimidos pelas bonelarias, que iniciam o seu surgimento ainda na década
de 1980. Apesar de termos algumas fábricas estabelecidas na referida
década, é na segunda metade da década de 1990 que se tem o maior número
de empresas se instalando na cidade e em 2003 que se tem a total
substituição do pano de prato pelo boné, como nos revela Lins (2011).
Apesar da centralidade já exercida por Caicó, é possível verificar uma
expansão do comércio e da prestação dos serviços na cidade, coincidindo
com o período em que o município e seu entorno apresentam uma demanda
devido os circuitos espaciais têxteis e de confecções que acontecem no
período atual. (apud TAVARES, 2017, p. 2.249-2250).
Na área da saúde, o município de Caicó possui taxa de mortalidade infantil
média de 10,20 para 1.000 nascidos vivos. As internações devido a diarreias são de
5,5 para cada 1.000 habitantes. Comparado com todos os municípios do Estado, fica
nas posições 84 de 167 e 28 de 167, respectivamente. Quando comparado a cidades
do Brasil todo, essas posições são de 3.086 de 5.570 e 624 de 5.570,
respectivamente. Sobre a Mortalidade Infantil, são contabilizados10,20 óbitos por mil
nascidos vivos. Comparando a outros municípios, no país, Caicó fica em 3.086°, no
Estado em 84° e na sua microrregião em 5° lugar. Quando o tópico é Internações por
diarreia, Caicó registra 5,5 internações por mil habitantes. Em outros municípios no
Brasil, ocupa a 624° posição; no Estado a 28ª e em sua microrregião a 2ª.
Analisando as áreas de Território e Ambiente, o IBGE aponta para os seguintes
dados: Caicó apresenta 76.3% de domicílios com esgotamento sanitário adequado,
93.9% de domicílios urbanos em vias públicas com arborização e 1.5% de domicílios
urbanos em vias públicas com urbanização adequada (presença de bueiro, calçada,
pavimentação e meio-fio). Quando comparado com os outros municípios do estado,
fica na 5ª posição de 167, 23ª de 167 e 99ª de 167, respectivamente. Já quando
comparado a outras cidades do Brasil, sua posição é 1.112 de 5.570, 1.070 de 5.570
e 4.234 de 5.570, respectivamente.

2. CAICÓ NA REDE URBANA DO RIO GRANDE DO NORTE

Para explicar essa classificação, no contexto da hierarquia entre as cidades


brasileiras, devemos relembrar que as palavras-chave são o fluxo e os
relacionamentos – que ocorrem em níveis de intensidade diferentes – e que na
classificação, o IBGE também privilegiou a função de gestão do território, a partir da
avaliação dos níveis de centralidade do Poder Executivo e do Judiciário no nível
federal, e de centralidade empresarial, bem como da presença de diferentes
equipamentos e serviços.
O IBGE promoveu um minucioso levantamento das principais ligações entre as
cidades, fato que o permitiu delinear suas áreas de influência e desenhar a articulação
das redes no território.
Verificou-se que o conjunto de centros urbanos com maior centralidade – que
constituem foco para outras cidades, conformando áreas de influência mais ou menos
extensas – apresenta algumas divergências em relação ao conjunto dos centros de
gestão do território. Neste último, há casos de atuação restrita ao próprio território
municipal, exercendo funções centrais apenas para a população local. Segundo o
IBGE, inversamente, há cidades não classificadas como centro de gestão do território
cuja centralidade foi identificada a partir do efeito polarizador que exercem sobre
outras. Portanto:

A hierarquia dos centros urbanos assim identificados levou em conta a


classificação dos centros de gestão do território, a intensidade de
relacionamentos e a dimensão da região de influência de cada centro, bem
como as diferenciações regionais. De fato, diferenças nos valores obtidos
para centros em diferentes regiões não necessariamente implicam
distanciamento na hierarquia, pois a avaliação do papel dos centros dá-se em
função de sua posição em seu próprio espaço. Assim, centros localizados em
regiões menos densamente ocupadas, em termos demográficos ou
econômicos, ainda que apresentem indicativos de centralidade mais fracos
do que os de centros localizados em outras regiões, podem assumir o mesmo
nível na hierarquia. (IBGE, 2008)

2.1 Caicó como Centro Sub-Regional A no Rio Grande do Norte

O IBGE, segundo a classificação do REGIC, classifica a cidade de Caicó/RN,


como um centro sub-regional A, ao qual aponta as seguintes características:

Centro sub-regional – integram este nível 169 centros com atividades de


gestão menos complexas, dominantemente entre os níveis 4 e 5 da gestão
territorial; têm área de atuação mais reduzida, e seus relacionamentos com
centros externos à sua própria rede dão-se, em geral, apenas com as três
metrópoles nacionais. Com presença mais adensada nas áreas de maior
ocupação do Nordeste e do Centro-Sul, e mais esparsa nos espaços menos
densamente povoados das Regiões Norte e Centro-Oeste, estão também
subdivididos em grupos, a saber: a. Centro sub-regional A – constituído por
85 cidades, com medianas de 95 mil habitantes e 112 relacionamentos; e b.
Centro sub-regional B – constituído por 79 cidades, com medianas de 71 mil
habitantes e 71 relacionamentos. 4. Centro de zona – nível formado por 556
cidades de menor porte e com atuação restrita à sua área imediata; exercem
funções de gestão elementares. Subdivide-se em: a. Centro de zona A – 192
cidades, com medianas de 45 mil habitantes e 49 relacionamentos. (IBGE,
2008)

No quadro abaixo, um comparativo dos estudos do IBGE, nos anos de 1966,


1978, 1993 e 2007. A cidade de Caicó, posiciona-se ao longo do tempo de certo modo
estável, como um Centro Sub-Regional A, dentro do território do Rio Grande do Norte,
como mostra Dantas e Clementino, 2014b.
Figura 3. Principais níveis de centralidade – Municípios do Rio Grande do Norte –
1966,1978, 1993, 2007.

Fonte: Adaptação de Dantas e Clementino (2014) aos dados de IBGE (1972), (1987), (2000) e (2008).

Desenvolvemos a ilustração abaixo para situar a cidade de Caicó, marcada


com um “x”, em meio ao contexto dos fluxos onde ela se encontra, imaginando a
formação de um triângulo, a partir da ligação das pontas das três metrópoles
nordestinas que exercem influência sobre essa cidade: em primeiro lugar com mais
influência, está Recife/PE, depois Fortaleza/CE, e por último com praticamente
nenhuma influência está a cidade de Salvador/BA.
Já a Figura 5 mostra a realidade que narramos acima de forma amplificada, no
que diz respeito às influências regionais. Note-se que com a cidade de Campina
Grande/PB, há um bom nível de relacionamento.
Figura 4. Rede urbana - Brasil - 2007

Fonte: Adaptado de IBGE - REGIC, 2008.

Figura 5. Área de Influência das Metrópoles, Rio Grande do Norte – 2007

Fonte: IBGE- REGIC, 2008. Adaptado.


Segundo o REGIC/IBGE (2007), Caicó/RN está situada entre dois
compartilhamentos de áreas de redes urbanas: a de Fortaleza e a de Recife. A rede
de Fortaleza, é a terceira maior em população do País (11,2%) e concentra 25,7% do
PIB da rede, que abrange os Estados:

Do Ceará, Piauí e Maranhão e compartilha a área do Rio Grande do Norte


com Recife. Dela fazem parte as Capitais regionais A de São Luís, Teresina
e Natal; as Capitais regionais C de Imperatriz, Mossoró, Juazeiro do Norte–
Crato–Barbalha e Sobral; os Centros sub-regionais A de Bacabal, Caxias,
Pinheiro, Santa Inês, Caxias, Floriano, Parnaíba, Picos, Caicó, Pau dos
Ferros, Crateús, Iguatu, Quixadá; e os Centros sub-regionais B de Balsas,
Açu, Chapadinha, Pedreiras, Presidente Dutra, Campo Maior, São Raimundo
Nonato, Currais Novos e Itapipoca. (IBGE, 2008)

Já a rede urbana de Recife é a quarta maior em população do país, com 10,3%


de sua população. Deste total, 19,5% se concentram em Recife e abrange os Estados:

Do Pernambuco, Paraíba e Alagoas, além do Rio Grande do Norte (dividido


com Fortaleza). Por conta da divisão da área de Petrolina-Juazeiro com
Salvador, a rede de Recife avança ainda sobre a Bahia. Compõem a rede as
Capitais regionais A de João Pessoa, Maceió e Natal; a Capital regional B de
Campina Grande; as Capitais regionais C de Arapiraca, Caruaru, Mossoró e
Petrolina-Juazeiro; os Centros sub-regionais A de Caicó, Pau dos Ferros,
Cajazeiras, Guarabira, Patos, Souza, Garanhuns e Serra Talhada; e os
Centros sub-regionais B de Açu, Currais Novos, Itaporanga, Afogados da
Ingazeira, Araripina, Arcoverde, Palmares, Vitória de Santo Antão, Santana
do Ipanema e Senhor do Bonfim. (IBGE, 2008)

2.2 Caicó faz as vezes de cidade média no Rio Grande do Norte

Para Clementino (2013), o fenômeno metropolitano, ainda, é o mais importante


para se conhecer as características e condicionantes da complexidade espacial da
urbanização brasileira. Daí, a necessidade de aprofundar estudos sobre a rede urbana
interiorizada no Nordeste, pois embora essa rede tenha sido constituída historicamente
articulada com o litoral, sua dinâmica recente pode explicitar a existência de uma dinâmica
espacial refletida pelo novo padrão de crescimento brasileiro focado na produção e
consumo de massa. Estudos recentes mostram o quão beneficiado foi o Nordeste (e o
interior) com as recentes políticas de redistribuição de renda no Brasil (e também de
educação de nível superior e técnico).
Isso porque, são os centros de gestão do território e os fluxos determinam as
vinculações e o arranjo regional. Toda região, possui uma cidade que comanda circuitos
econômicos e políticos de seu entorno mais amplo e combina os processos de
urbanização e de integração do mercado nacional, com o surgimento de estruturas
verticais que estabelecem relações em rede e fortalecem cidades e aglomerações
urbanas como elementos fundamentais de interconexão da gestão, da infraestrutura e
das atividades produtivas.
Sou simpático à essa metodologia, apesar dela não considerar as identidades
culturais, porque as divisões / demarcações são, além de criação humana (pois não
existem de fato no território, que é contínuo) são também político-institucionais, assim
como as que burlam o processo técnico que define o que são efetivamente regiões
metropolitanas de acordo com o REGIC/IBGE.
Quando pensamos nos níveis escalares de articulação urbana, vale destacar que
as metrópoles possuem três níveis, que apontam para: regiões ampliadas, que incluem
as metrópoles de Recife, Salvador e Fortaleza, as intermediárias e imediatas. Inclui-se
ainda as cidades médias, marcadas pelo processo de interiorização do desenvolvimento
e da urbanização, com destaque para Campina Grande (PB), Juazeiro do Norte/Crato
(CE) e Mossoró (RN), e para o crescimento de atividades agrícolas, especialmente
fruticultura e agroindústria de exportação, apoiadas nos programas governamentais de
irrigação. Registre-se também, segundo Elias e Santos (2010) a formação das “Cidades
do Agronegócio” a partir da descentralização produtiva dos anos 90, modernização de
rodovias, instalação de instituições de ensino superior públicas, redes de energia e
transmissão de informações.
Por fim, temos também as pequenas cidades. Visto que é quase impossível pensar
uma caracterização única devido às especificidades de cada uma, sua classificação se
dará a partir de funções compreendidas nas conexões em rede com outras cidades.
Podem ser chamadas de “Cidades Locais”: considerando que o lugar é a dimensão
espacial do cotidiano (SANTOS, 1996), cabe analisar impactos do Bolsa Família e
programas governamentais, com foco nas “necessidades genuínas dos lugares” e dos
“usos populares do território” (CONTEL, 2010); isso pode implicar na possibilidade de
novos arranjos e do desbancar da tese da “diminuição da importância relativa das cidades
locais”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A urbanização e a industrialização têm provocado efeitos econômicos, sociais e


culturais que rebatem nas estruturas demográficas seguida de um rápido crescimento da
população urbana, de uma nova repartição das categorias sócio profissionais, demanda
de equipamentos coletivos e de serviços sócio culturais ligados à industrialização e a um
novo urbanismo. Esses processos integraram novos modos de vida pela mobilidade dos
indivíduos, pelo acesso rápido a informações pelo contato com a sociedade rural e
urbana.
Vivemos um novo urbanismo pautado por novas redes, novas conexões e fluxos,
novas relações e modos de vida, novos trabalhos e Caicó não está desconectada à esta
realidade, inclusive pela presença estruturante ao longo do tempo de indústrias têxteis.
Por outro lado, é preciso pensar sobre que impactos os novos fluxos
proporcionados pelas novas redes virtuais e de trabalho, podem ser gerados ao processo
de urbanização, como, por exemplo, a presença de investimentos na ampliação de
instituições de educação e saúde.
Um desses impactos, certamente é a formatação de novos modelos de cidades e
diversificação de suas economias, funções e centralidades exercidas, sobre a base das
“antigas cidades”, como bem ilustra o caso de Caicó, com a ampliação de suas redes de
ensino e saúde, chegando a sediar um curso de medicina da universidade pública.
É importante ressaltar que apesar da existência de áreas urbanas interiorizadas e
institucionalizadas como RM, RIDE ou Aglomerado Urbano que não apresentam natureza
metropolitana nem sinalizam nesse caminho, há também algumas cidades integradas,
que mesmo não consideradas “cidades(inter)médias fazem, em parte, as vezes destas,
segundo Clementino (2013). Esta função cabe a Caicó na rede urbana do Rio Grande do
Norte.
Esta nova característica de cidades que tem se acentuado em virtude da recente
interiorização dos serviços públicos no Brasil, em especial a interiorização da educação
superior e técnico, e da descentralização dos serviços de saúde, que contribuem também
para a atração de investimentos privados, geram ainda impacto na vida cultural e
dinamizam os setores de comércio e serviços.
Finalizamos, com uma questão que propõe novas pesquisas para reflexão: os
cortes do Governo Jair Bolsonaro em 2019 na Educação (UF´s e IF´s) interferirão no que
está projetado para 2022, como consequência do processo de desenvolvimento urbano
das cidades (inter)médias? Isso poderá causar impactos negativos também nas pequenas
cidades, mesmo após o impulsionamento do seu crescimento pelos investimentos nas
áreas sociais feitas pelos Governos de Fernando Henrique Cardoso, Luís Inácio Lula da
Silva e Dilma Vana Housseff?
REFERÊNCIAS

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banco do nordeste nos espaços subrregionais na área de sua atuação legal (Nota técnica:
PCT BRA/IICA/10/002 – BNB / ESPAÇOS SUB - REGIONAIS). 2013.

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