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O CAPITALISMO VERDE E UM NOVO CICLO DE MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA

DA AGRICULTURA BRASILEIRA: ELEMENTOS A PARTIR DO ACRE-BRASIL

Luiz Henrique Gomes de Moura1; Diogo Loibel Sandonato2

Resumo:

Com a ruptura metabólica da interação ser humano-natureza, forjaram-se muitas contradições


ecológicas em distintas escalas. Em sua etapa contemporânea, o capital intensifica sua acumulação
através de novas formas, dentre elas o chamado Capitalismo Verde. Utilizando-se do discurso de
crise ambiental, ideologicamente construído, o capital reduz a complexidade das interações
metabólicas ser humano-natureza a sistemas metrificados e traduzidos em toneladas de carbono, ao
mesmo tempo em que intensifica suas formas clássicas de acumulação. Este artigo visa analisar a
materialização desta possibilidade de avanço do Capital a partir do estudo do Sistema de Incentivos
dos Serviços Ambientais – SISA – do Acre e sua relação com a modernização conservadora da
agricultura naquele estado, destacando a cadeia produtiva da madeira. Os autores realizaram
trabalho de campo, com entrevistas e visitas in loco, e análise de documentação e bibliografia
correlata. Tivemos no Acre uma grande luta popular por meio dos empates realizados pelos
seringueiros, invertendo a lógica de apropriação capitalista, reduzindo a expansão da pecuária e
criando as Reservas Extrativistas. Isso impôs uma necessidade de reoroganização da
territorialização do capital, que encontra sua forma acabada nas políticas de desenvolvimento
sustentável que foram propagadas principalmente pelo governo da Frente Popular, em articulação
com interesses internacionais (ONGs transnacionais, frações capitalistas do setor de madeiras e do
capital financeiro ligado à financeirização da natureza por meio de créditos de carbono)
promovendo uma transformação da floresta, conquistada pelos seringueiros, em novo flanco de
acumulação capitalista. O que se observa no Acre é uma conjunção desses interesses, subordinando
as comunidades tradicionais e povos indígenas à lógica dos grupos privados, por meio de processos
de mediação técnica e política executados pelas ONGs. Fruto disso, o Acre possui um complexo
sistema de incentivos aos serviços ambientais (SISA) que por meio de refinados processos
burocrático-administrativos, é o motor oficial por onde transforma-se natureza em capital
financeiro. Dentre as principais ações estimuladas por esse sistema, está o Manejo Florestal
Comunitário (MFC), vigorosamente defendido por diversas ONGs e alguns governos, com o do
Acre, apresentado como única alternativa para um desenvolvimento “sustentável. O que temos
visto, no entanto, é muito mais uma batalha ideológica do que técnica, com objetivo de criar um
consenso em torno de uma nova fase de exploração de madeira em áreas histórica ou recentemente
conquistadas por camponeses, uma nova alternativa de acumulação do capital, em territórios que,
graças a luta de classes em outros períodos, eram para ele impenetráveis. Chegou-se à conclusão
que as políticas de mercantilização e financeirização da natureza produzem dois movimentos
distintos de territorialização do capital: i) imobilizam/controlam a gestão dos territórios
camponeses; ii) modernizam os territórios camponeses a partir de sistemas de integração
campesinato-indústria, em diferentes cadeias produtivas, ao mesmo tempo em que modernizam a
tecnologia e os meios de produção do latifúndio arcaico acreano, fundamentalmente pecuaristas e
seringalistas. Esse processo tem gerado profundos conflitos internos às comunidades camponesas e
indígenas e, fundamentalmente, destas com projetos tanto de imobilização/controle do território,
quanto de expansão do agronegócio e do latifúndio.

Palavras-chave: Capitalismo Verde; SISA; Manejo Florestal Comunitário; Acre

1
Doutorando em Geografia (IESA/UFG), membro dos grupos de pesquisa Núcleo de Estudos e Pesquisas em Geografia
Agrária e Dinâmicas Terriroriais (NEPAT) e Modos de Produção e Antagonismos Sociais (MPAS). Agradeço à CAPES, ao
CNPq e à UFG pelo apoio à pesquisa.
2
Mestrando em Geografia (UFF), membro do Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades
(LEMTO).
Introdução:

O conceito de metabolismo parte da reflexão marxiana da interação entre ser humano-


natureza, onde o trabalho é o mediar das trocas materiais entre os seres humanos, sua natureza
interna e a natureza externa a eles (FOSTER, 2005). Com o avanço do capitalismo industrial,
engendrou-se uma ruptura deste metabolismo, devido à organização geográfica capitalista cidade-
densidade demográfica e campo-vazio demográfico. Este processo levou a humanidade de múltiplos
movimentos de colização com as condições naturais dos territórios, regiões e países, forjando uma
série de contradições ecológicas nas distintas escalas.

Em sua etapa contemporânea, o capitalismo monopolista, hegemonizado pelo capital


financeiro, deflagra novas formas de intensificação do seu processo de acumulação. Uma destas é o
que chamamos Capitalismo Verde, uma etapa posterior do Desenvolvimento Sustentável que
atualmente recebe o nome oficial de Economia Verde.

Utilizando-se de um discurso de crise ambiental planetária – ideologicamente construída – o


Capital vem desenvolvendo novos parâmetros para sua reorganização produtiva – como o
equivalente Carbono – transformando os últimos redutos do metabolismo ser humano-natureza,
com sua profunda complexidade, em sistemas metrificados e traduzidos em toneladas de carbono,
ao mesmo tempo em que intensifica suas formas clássicas de acumulação.

Este artigo visa analisar a materialização desta possibilidade de avanço do Capital a partir
do estudo do Sistema de Incentivos dos Serviços Ambientais – SISA – do Acre e sua relação com a
modernização conservadora da agricultura naquele estado, principalmente com foco no Manejo
Florestal Comunitário. Os autores realizaram trabalho de campo, com entrevistas e visitas in loco, e
análise de documentação e bibliografia correlata.

Luta de classes e questão agrária no Acre: breve síntese entre 1980 a 2014

A luta popular dos seringueiros promoveu uma inversão da lógica de apropriação capitalista
construída pelos agentes hegemônicos entre as décadas de 1970 e 1980. Por meio dos empates, e,
posteriormente, pela grande capacidade de articulação política desse segmento da classe
trabalhadora, conseguiu-se reduzir a expansão da pecuária e criar processos fundiários totalmente
inovadores, como as Reservas Extrativistas. Segundo Paula e Silva (2008)
a natureza deixaria de estar subordinada aos interesses imediatos dos capitais
privados e passaria a ser incorporada como um bem público, cuja utilização deveria
levar em conta tanto as demandas sociais das populações da região, quanto as
preocupações mais abrangentes acerca da importância da conservação daquela
paisagem para o planeta (p.88)

É fundamental compreender que a chegada ao poder, em 1998, da coligação liderada pelo


Partido dos Trabalhadores (Frente Popular do Brasil) não é necessariamente a chegada das mesmas
organizações populares nascidas no seio do embate da luta de classes na década de 1980. O
governador eleito, Jorge Viana, teve sua formação política e técnica forjada em outras esferas,
sempre com transito na capital federal e nas articulações políticas em nível nacional. Recém-
formado em engenharia florestal na Universidade de Brasília, foi logo alçado ao cargo de diretor na
Fundação de Tecnologia do Acre (FUNTAC), no governo de Flaviano de Melo (1987-1989).

Portanto, o histórico do grupo político que estava à frente da Frente Popular do Brasil
possuía proximidade muito maior com os setores ambientalistas e técnicos do que com os
movimentos sociais. Vejamos que, enquanto o movimento dos seringueiros se colocava contrário à
extração de madeira das recém-criadas RESEXs (PAULA, 2005), a FUNTAC, ainda com Jorge
Viana como diretor, desenvolve um projeto pioneiro em parceria com a International Tropical
Timber Organization (ITTO) visando o manejo florestal (ELLER; FUJIWARA, 2006), o que
resultou, ainda em 1988 na criação da Floresta Estadual do Antimary (FEA).

Essa perspectiva histórica permite compreender a matriz político-ideológica-econômica das


políticas públicas e do planejamento estatal que será criado pelos sucessivos governos do Partido
dos Trabalhadores até a presente data. Entendemos que a vitória dos seringueiros no final da
década de 1980, com a criação das RESEXs, impôs uma necessidade de reorganização da
territorialização do capital, que encontra sua forma acabada justamente no governo da Frente
Popular, por meio das políticas de desenvolvimento sustentável. Como afirma Aquino et al. (2011):

A partir dos anos de 1990, com grande orientação da política internacional,


propostas alternativas de desenvolvimento regional, começaram a ser
implementadas, incluindo novas atividades econômicas na Amazônia,
caracterizadas como modelos de sustentabilidade.
Uma dessas novas estratégias foi o manejo florestal, que passa a ser empregado
como um dos modelos sustentáveis para reduzir a degradação ambiental e melhorar
a qualidade de vida das populações locais (p.110)

Assim, em articulação com os interesses internacionais (ONGs transnacionais, frações


capitalistas do setor de madeiras e do capital financeiro ligado à financeirização da natureza por
meio de créditos de carbono), a Frente Popular empreendeu uma profunda reestruturação do Estado,
dinamizando setores econômicos ligados à frações da elite local e nacional, conforme
apresentaremos ao longo deste trabalho.
Em nível institucional, ocorreram duas frentes de ação. No campo administrativo, a questão
florestal foi elevada como prioridade. No primeiro mandato do governo Jorge Viana criou-se a
Secretaria Executiva de Floresta e Extrativismo, com o objetivo de articular secretarias e programas
voltados para a política florestal e extrativista do Estado. Ainda no último ano de seu primeiro
mandato, Jorge Viana reorganizou a estrutura governamental, atendendo ao crescimento do setor
florestal no estado, repassando as questões voltadas ao extrativismo para a Secretaria de
Extrativismo e Produção Familiar (SEAPROF) e criando a Secretaria Estadual de Floresta (SEF), a
qual tinha como principal função agilizar ou facilitar a parte burocrática da exploração das florestas
(HUMBERTO; NETO, 2012). Por meio de acordos com grandes madeireiras e toda uma
reformulação da legislação, a floresta transformou-se em um ativo comercial, segundo os autores.

No ano de 2012, sob o primeiro mandato de Tião Viana, ocorreu a fusão da SEF com a
Secretaria de Desenvolvimento Economico, Indústria, Comércio, Serviços, Ciência e Tecnologia
(SEDICT), criando então a Secretaria de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e
dos Serviços Sustentáveis (SEDENS). Apesar de apresentada como alteração dos rumos políticos
erguidos ao longo dos dois mandatos de Jorge Viana (1998-2006) e do mandato de Binho Marques
(2007-2010) segundo Humberto e Neto (2012) e por entrevistados durante a pesquisa, nosso
entendimento é distinto.

Tais alterações, observadas sob perspectiva histórica, consolidam a essência original,


germinada ainda na FUNTAC dos anos 80: transformar a floresta, conquistada pelos seringueiros,
em novo flanco de acumulação capitalista, imprimindo uma nova derrota aos camponeses acreanos.
As dimensões dessa consolidação são contundentes. Segundo Veríssimo (2002), o objetivo do
governo do estado seria destinar 25% do território para manejo florestal, enquanto Segatto (2012)
menciona um potencial de 6 milhões de hectare, mais de 1/3 de todo o território do Acre. Os dados
detalhados do manejo florestal no estado estarão presentes mais adiante.

A segunda frente trata da regulamentação da mercantilização e, em etapa mais avançada, da


financeirização dos bens comuns florestais. Esse processo, nascido com o Zoneamento Ecológico
Economico (fase I e fase II) culmina na criação do Sistema de Incentivos aos Serviços Ambientais,
do qual trataremos a seguir.

A engenharia legal do capitalismo verde: o SISA

O Acre possui um sistema jurisdicional de serviços ambientais consolidado a partir da Lei


Estadual nº 2.308 de 2010, chamado Sistema de Incentivos aos Serviços Ambientais do Acre
(SISA). Ele é monitorado institucionalmente e é uma estratégia estadual de captação e aplicação de
recursos na implementação de planos e programas do governo estadual (ACRE, 2010). A ideia é
que esse sistema dialogue com todas as ações do governo transversalmente e aproveite programas
governamentais existentes (ACRE, 2010, WWF, 2013). Esse sistema é fruto de um histórico de
políticas ambientais, principalmente a partir de 1999, nas quais se destacam o Zoneamento
Ecológico-Econômico do Acre (ZEE/AC), a Política de Valorização do Ativo Ambiental Florestal e
Plano Estadual de Prevenção e Controle do Desmatamento do Acre – (PPCD/AC), que fornecem as
bases e diretrizes para a formulação e aplicação do SISA (ACRE, 2013; WWF, 2013).

Ele tem a ambição de abranger o estado como todo, inclusive áreas protegidas federais e
estaduais, assentamentos federais e estaduais e propriedades privadas, por meio de suas políticas,
programas e subprogramas, além das inciativas privadas por meio de projetos individuais que são
pré-registrados e reconhecidos como integrantes do SISA (WWF, 2013). A princípio, foi formulado
como um programa estadual de redução de emissões de gases efeito estufa por desmatamento e
degração (REDD), mas a partir de um processo de revisão e construção que envolveu diversos
atores, mas que tiverem mais peso e influência grandes ONGs ambientais como WWF, Katoomba
Group, IUCN, especialistas em mercados, empresas e bancos, se formulou essa proposta mais
abrangente e ambiciosa (ACRE, 2012).

O SISA possui uma arquitetura complexa, com criação de estruturas, como IMC (Instituto
de Mudanças Climáticas e CDSA (Companhia de Desenvolvimento de Serviços Ambientais), e com
participação de diversas secretarias de estado, principalmente a Secretaria Estadual de
Desenvolvimento Florestal, Indústrias, Comércio e Serviços Sustentáveis (SEDENS), e muitos
atores envolvidos como ONGs, entidades patronais e dos trabalhadores, universidades, bancos
(ACRE, 2010).

Nele se contempla muito mais que um programa relacionado aos mecanismos de mercado de
carbono, presentes programa jurisdicional de Incentivos aos Serviço Ambiental Carbono (programa
ISA Carbono) que é o que está mais desenvolvido, mas também programas relacionados a
biodiversidade, água e recursos hídricos, beleza cênica natural, regulação do clima, conhecimentos
tradicionais e conservação e melhoramento do solo (ACRE, 2010).

Possui uma perspectiva mais integradora com o planejamento do estado, fortalecimento de


programas e políticas, e o desenvolvimento de cadeias produtivas sob um grande arco de
mercantilização e financeirização da natureza. Ele se orienta principalmente por 3 eixos, com base
no ZEE e PPCD, na aplicação e desenvolvimento das políticas e programas: Ordenamento
Territorial e Fundiário, Cadeias Produtivas e Práticas “Sustentáveis” e Monitoramento e Controle
(ACRE, 2013). O eixo de ordenamento territorial, segue o ZEE e prioritariamente está relacionado a
regularização fundiária necessária para os futuros programas e projetos. O eixo de monitoramento e
controle envolve principalmente a fiscalização e monitoramento de desmatamentos e exploração de
madeira ilegais (ACRE, 2013).

O eixo relacionado as cadeias produtivas orienta a aplicação de recursos nas políticas,


programas e projetos considerados como “sustentáveis”, dentre elas a cadeia da madeira, com o
manejo florestal empresarial e comunitário e reflorestamento para atender a demanda do manejo
madeireiro (ACRE, 2013). Dentro do documento de 2013 do Programa de ISA Carbono é destacado
que ele tem por objetivo: “redução de emissões por desmatamento e degradação florestal, bem
como do manejo florestal sustentável e da recuperação e aumento dos estoques de carbono através
das atividades de sequestro pelo reflorestamento.” (ACRE, 2013, p. 4). Os incentivos do programa
serão relacionados a fortalecer principalmente a proteção de florestas, o manejo florestal e cadeias
produtivas e a intensificação a intensificação de práticas agrícolas, pecuárias, silviculturais e
agroflorestais (ACRE, 2013). Na Política de Valorização do Ativo Florestal, que embasa esse eixo,
temos o apoio ao desenvolvimento de planos de manejo florestal comunitário e empresarial (ACRE,
2010).

Manejo Florestal: a revanche capitalista sobre a vitória seringueira

As florestas, por si só, são um tema de debate complexo. Desde sua definição, onde a União
Internacional das Organizações de Pesquisa Florestal encontrou 624 distintas definições (LUND,
2002), até sua histórica relação com os seres humanos, esse é um conceito de grande polêmica. A
complexidade aumenta quando, no entanto, trabalha-se com o manejo florestal.

Apesar de ser uma ciência relativamente recente, o manejo florestal é vigorosamente


defendido por diversas ONGs e alguns governos, com o do Acre, sendo apresentado como única
alternativa para um desenvolvimento “sustentável. A defesa é ainda mais contundente quando trata-
se de Manejo Florestal Comunitário (MFC), em alusão a uma pretensa autonomia das comunidades
sobre esse processo produtivo. O que temos visto, no entanto, que essa é muito mais uma batalha
ideológica do que técnica, com objetivo de criar um consenso em torno de uma nova fase de
exploração de madeira em áreas histórica ou recentemente conquistadas por camponeses.

Rigoroso estudo empreendido por Medina e Pokorny (2011), aborda oito diferentes
experiências de manejo florestal comunitário, de pequena e grande escala. A primeira constatação
relevante é que, diferentemente do preconizado, o MFC não desenvolveu o domínio dos
camponeses sobre todo o processo, tendo estes se restringindo a algumas etapas. Embora os projetos
de pequena escala apresentem baixa rentabilidade, é neles que as famílias mais estão envolvidas nas
diversas fases do MFC, desde a delimitação das áreas até o beneficiamento da madeira.

Outra conclusão dos autores é que nenhuma das experiências verificou rentabilidade
econômica frente a outras práticas produtivas tradicionais, como roçados, criação de animais e
extrativismo. O “céu de brigadeiro” apontado pelos defensores do manejo, na realidade, se desenha
de outra forma

O conceito do Manejo Florestal Comunitário partiu do princípio de que é uma


atividade financeiramente interessante para o produtor familiar e representa baixo
risco. A análise revelou, porém, que os rendimentos são modestos e os riscos são
relativamente altos. (...) Os modelos estudados têm rentabilidade financeira
limitada, exigem altos investimentos na implementação e tendem a demandar
subsídios constantes. (MEDINA;POKORNY, 2011:33/34)

Essa suspeição é compartilhada por Lima et al (2008), que, ao estudar o impacto da


certificação FSC nas comunidades, aponta que a atividade de manejo “mostrou-se bastante custosa
do ponto de vista financeiro e operacional(...). As associações nãp possuíam estrutura técnica e
capacidade operacional para dar suporte às atividades de manejo(...)” (p.116). Mesma ressalva
fazem Aquino et al. (2011) ao estudarem a FEA

enquanto estratégia para aliar conservação florestal e melhoria das condições de


vida de populações locais, seus resultados de longo prazo podem ser questionáveis.
Isto porque 12 anos ainda é muito pouco para se avaliar de forma profunda uma
política de governo tão abrangente (p. 112)

Ambos os estudos depositam na conta da humanidade e da questão ambiental os riscos do


manejo florestal, apresentando-o como a resolução para o dilema do “desenvolvimento
sustentável”. Ou se faz manejo florestal ou se entrega a floresta ao desmatamento ilegal. Não se
questiona em momento algum a destinação destas madeiras, seu uso racional, a cadeia global do
setor madeireiro. O apocalíptico discurso ambiental torna-se álibi para, na realidade, legitimar uma
série de reestruturações de um capitalismo em crise sistêmica.

Não se coloca na ordem do dia o que o prof. Carlos Walter Porto-Gonçalves chama de
democracia desde abajo, ou seja, a partir dos conhecimentos e capacidades das próprias
comunidades. A histórica conquista dos seringueiros, ao reinventar a reforma agrária na Amazônia
com a criação das RESEXs (PAULA;SILVA, 2008), que abriu os horizontes para uma nova
possibilidade de reconhecimento da relação ser humano-natureza e, ao mesmo tempo, de
subordinação da renda da terra aos interesses coletivos, transformou em calvários dessas
populações. A ordem hegemônica, pautando a emergência de uma crise ambiental mundial,
reconquistou a possibilidade de dominar esses territórios.

Assim, os usos múltiplos tradicionalmente realizados pelas comunidades devem ser


drasticamente reduzidos em alguns poucos produtos. Conforme aponta Negret (2010) a categoria
“usos múltiplos”, para os camponeses extrativistas, compreende tanto uma diversidade produtiva
para autossutentação das famílias, com uma grande variedades de bens alimentícios, medicinais e
madeireiros, quanto na diversidade de produtos comercializados, com o objetivo de aquisição de
outros itens não produzidos nas colocações (CALAÇA, 1994; ANDRADE, 2006). Estamos,
portanto, diante da clássica fórmula de economia mercantil M-D-M, onde a mercadoria, fruto do
trabalho das famílias camponesas, é trocada pelo equivalente em dinheiro e este, exercendo sua
função de mediador das trocas, proporciona a aquisição de outros bens.

O que está se impondo com o MFC é lógica oposta, subsumindo essa produção camponesa à
lógica da indústria de caráter global. A impossibilidade de domínio dos meios de produção por parte
dos camponeses inicia-se já no inventário, onde o cientificismo é dominado por expertos em
estatística e modelagem matemática – e não necessariamente em botânica, sendo a identificação
normalmente destinada a algum camponês local – passando pela extração – não mais com
motosserra e carro-de-boi, mas sim com diferentes tratores de corte e arraste – pelo beneficiamento
– que, como aponta Araújo (2011), fica restrito à grande indústria de caráter global – e
comercialização. É, portanto, a materialização da lógica capitalista, onde a entrada de dinheiro de
um capitalista3 transforma a matéria prima em mercadoria por meio do trabalho (em todas essas
instâncias da cadeia produtiva) e realiza seu lucro ao comercializá-la: a fórmula D-M-D’.

Essa conformação produz uma profunda alteração no modo de vida das famílias. A relação
com a floresta, que anteriormente possuía alto grau daquilo que chamou de metabolismo (FOSTER,
2005), passa a ser simbolicamente e materialmente alterada pela lógica da produção alienada. Como
afirma Aquino (2011), ao se adotar essa forma atual de gestão dos recursos florestais, os
camponeses da floresta tiveram que se adaptar a essa nova maneira de exploração florestal que o
atual sistema exige.

3
Embora os primeiros MFCs tenha sido organizados com apoio financeiro do Governo e organismos internacionais, a
pesquisa a campo permitiu identificar que já a agentes privados que iniciam o processo, como o a Cooperfloresta.
Para uma crítica sobre o caráter privado e ausência de processo cooperado nesta empresa, cf. CARVALHO, R.S.
Desenvolvimento, sustentabilidade e manejo madeireiro em comunidades no sudoeste da Amzônia: um olhar para
além da engenharia florestal. Dissertação de mestrado, Departamento de Engenharia florestal/UFLA. 2009.
Segundo o estudo conduzido por Medina e Pokorny (2001), quanto mais intensa a escala de
produção do MFC, mais próximo dos sistemas empresariais se encontram (Tabela 01). Da mesma
forma, esses processos de MFC de escala mais intensa (como o caso dos PAE Cachoeira e de Porto
Dias) encontram grande similitude com os processos empresariais no que tange à terceirização das
etapas mais tecnificadas.

Tabela 01. Produtividades nos diferentes tipos de manejo


Menor Escala Maior Escala
Mini Pequena Grande Empresarial
Marirauá Ambé (PA), PAE
Oficinas (AM), Pedro Cachoeira (AC),
Cikel, Juruá,
Caboblas Peixoto (AC), Porto Dias (AC),
IBL
(PA) Boa Vista dos Costa Marques
Ramos (AM) (RO)
Delimitação (ha/dia) 2 3 9 18
Inventário (ha/dia) 2 3 11 12
Derrubada (m³/dia) 0,5 14 40 55
Arraste (m³/dia) 0,5 3 59 75
Fonte: MEDINA;POKORNY, 2011

Levando-se em conta os estágios de realização da mercadoria no modo de produção


capitalista – produção, circulação, distribuição/troca e consumo, Negret (2010) afima

a concepção da categoria RESEX no final da década de 80 significou (...) um


importante avanço em termos da apropriação dos principais meios de produção (a
terra e a floresta), consequentemente, um avanço na reforma agrária e na soberania
da primeira fase de realização das mercadorias (p. 384).

Há, porém, graças ao discurso ambiental hegemônico, uma subordinação destas fases às
terceira e quarta. Esse processo está em sintonia com o exposto por Foster (2012), quando este
demonstra que, no atual estágio do capital monopolista, o centro da acumulação capitalista está nas
últimas fases da realização da mercadoria, o que explica as determinantes estratégias de marketing e
a obsolescência programada.

Portanto, o manejo florestal deve ser encarado, em sua essência, como uma nova alternativa
de acumulação do capital, em territórios que, graças a luta de classes em outros períodos, eram para
ele impenetráveis. Mesmo trabalhos defensores do manejo florestal apontam a diversidade de
interesses envolvidos nessa questão. Segundo Alavalapati e Zarin (2005), a rentabilidade
econômica é prioridade para um grupo de interesse articulado ao manejo florestal, que são os
concessionários privados. Os autores levantam ainda dois grupos: i) as comunidade locais e povos
indígenas e ii) as ONGs. O primeiro visa garantir a demarcação de seus territórios, seus direitos
tradicionais e de usufruto. O segundo visa ampliar a área protegida de floresta, articulando criação
de unidades de conservação e pagamento por serviços ambientais. Para isso, “tentam estabelecer
estratégias nacionais e internacionais para a proteção da biodiversidade, criar planos de uso da
terra e desenvolver mecanismos de mercado para gerar renda por meio de serviços ambientais”
(p.356).

O que se observa no Acre é uma conjunção desses interesses, subordinando as comunidades


tradicionais e povos indígenas à lógica dos grupos privados, por meio de processos de mediação
técnica e política executados pelas ONGs. Conforme afirma Negret (2010)
o sistema de difusão e propaganda do próprio governo do Estado (GUIMARÃES
JUNIOR, 2007), junto com uma série de empresários madeireiros e a ação de
algumas organizações de assessoria e ONGs, tem contribuído para a elaboração e
pressão no licenciamento de alguns planos de manejo madeireiros, comunitários e
empresariais. (p. 376)

O “ovo da serpente”, como anteriormente citado, foi gestado com o projeto em parceria
entre a ITTO e a FUNTAC. Após anos de gestação, o projeto de manejo da FEA foi posto em
prática em 1999, com financiamento de 1,8 milhões de dólares da ITTO (AQUINO et al., 2011).
Em 2004 o projeto recebeu o selo da Forest Stewardship Council (FSC), sendo que 66 mil hectares
estavam sob manejo florestal empresarial e outros 11 mil hectares sob manejo florestal comunitário.

O mesmo estudo reconhece que a floresta tropical demora entre 140 e 200 anos para se
recuperar das extrações tradicionais, intervalo de tempo que aumenta consideravelmente com
sistemas de exploração industrial, mesmo que de impacto reduzido. Além disso, os autores citam
mudanças importantes no cotidiano, como regime de trabalho organizado pela prática industrial do
manejo, diferente daquele organizado de acordo com a relação com a natureza e com as relações
sociais construídas no território. Esse processo Negret (2010) reconhece como inserido nos marcos
da flexibilização das relações de trabalho.

Além disso, o manejo impõe uma nova relação territorial do campesinato. Apesar de Aquino
et al (2011) afirmar que “as escolhas são coletivas, trabalha-se com base em regimento criado
pelas associações, monitorando as atividades e aplicando sanções aos que não cumprem as
regras(...), o governo e governo e outras instituições são parceiros (...), mas não ditam regras” (p.
115/116), a realidade é distinta. Como exemplo, o primeiro ponto do acordo entre a ITTO e a
FUNTAC com a comunidade é o fim da abertura das áreas de roçado, prática fundamental para a
manutenção da mínima condição camponesa das famílias (p. 125). Torna-se ainda mais evidente o
caráter subordinador dessa medida no momento em que se constata que essas áreas de roçado
significam cerca de 1% do total da FEA (AQUINO et al., 2011).

Finalmente, as conclusões sobre o impacto do manejo na vida das famílias são reveladoras.
A situação de pobreza não se alterou, chegando os autores a sugerirem que “a assistência técnica
poderia ser continuada, ajudando os comunitários na implantação de outras ações, desta forma
minimizando o impacto negativo da adoção da atividade florestal” (AQUINO et al., 2011:113,
grifo nosso). Ao mesmo tempo, a maioria das famílias “manejadoras” não conhecem de fato o que é
o manejo florestal, em uma relação alienada para com o mesmo, como já mencionado
anteriormente.

Segundo relatório recentemente lançado pela Plataforma de Direitos Humanos, Economicos,


Sociais, Culturais e Ambientais (Plataforma Dhesca Brasil) sobre a realidade da economia verde no
Acre, os problemas relacionados ao manejo florestal perpassam todo o território dos seringueiros.
Dentre os principais impactos estão i) a ausência de regularização da propriedade da terra para as
comunidades; ii) redução do território para práticas tradicionais e de subsistência e proibição de
formas de formas de manejo dos agroecossistemas, como a utilização de fogo para
abertura/renovação dos roçados; iii) obstrução das “estradas de seringa”, caminho por onde os
seringueiros chegam às árvores para extrair o látex; iv) baixa remuneração e atraso nos pagamentos;
v) insegurança sobre o futuro da regeneração da floresta; vi) baixa participação da comunidade na
elaboração do inventário e no planejamento do manejo (FAUSTINO; FURTADO, 2014).

Há, ainda, a alteração das relações de poder no território, o que, juntamente com as
alterações produtivas, materializa uma nova territorialidade (RAFESTIN, 1993), onde as relações
sociedade-espaço são agora mediadas por uma pequena elite local. No caso particular do Projeto
Agroextrativista (PAE) Cachoeira, referência no êxito do MFC, estudos que defendem esse
mecanismo produtivo (STONE-JOVICICH, 2007; LIMA et al., 2008;) apontam para a
proeminência de um pequeno grupo familiar:
Os membros desse grupo tinham uma forte relação de parentesco e, em geral,
estavam atentos e tinham acesso privilegiado a informações e oportunidades.
Assim, eles tiveram melhores rendimentos e receitas, mesmo com os baixos
volumes de madeira extraídos e receitas abaixo das expectativas. (STONE-
JOVICICH, 2007:28)

Figura 01. Manejo Florestal Comunitário na Resex Chico Mendes a) Pátio de explanada; b) resíduo
da extração das toras de madeira.

Apesar de todos esses problemas, o manejo florestal segue sendo uma das principais apostas
do governo estadual para o dito “desenvolvimento sustentável”. A partir de nossos estudos a campo
e bibliográfico, entendemos que, longe de ser uma ingênua crença neste processo produtivo, ou uma
legítima tentativa de aprimorá-lo como alternativa real, essa definição estatal está fortemente
atrelada aos interesses do capital nacional e internacional organizado no setor de madeiras.

Conforme podemos constatar na figura 02, houve um aumento consistente do volume de


madeira explorada no estado, em especial a partir de 2010, quando os licenciamentos para
concessões empresariais foram francamente impulsionados pelo governo estadual. Veremos, mais
adiante, que esse aumento responde às demandas de exportação, mediadas por um processo de
oligopolização do beneficiamento madeireiro no estado.

Figura 02. Volume autorizado para exploração madeireira em tora (m³) – 2003 a 2012

Fonte: EMBRAPA;FAEAC (2013).


Outro dado relevante diz respeito aos tipos de manejos florestais que originam as madeiras
comercializadas. Embora haja toda a propaganda do governo estadual sobre o desenvolvimento das
iniciativas comunitárias, em uma construção ideológica de suporte às causas populares, a realidade
aponta que esse processo escamoteia uma vigorosa consolidação do setor empresarial madeireiro no
estado. Conforme pode-se observar na figura 03, o volume licenciado em sistemas comunitários é
irrisório se comparado aos processos empresarial e individual. Esses dois últimos navegam
tranquilos nos canais construídos sob os ombros das comunidades tradicionais.

Figura 03. Volume autorizado para exploração madeireira em tora (m³), por regional e modalidade,
em 2012

Fonte: EMBRAPA; FAEAC (2013).

Embora defendamos essa tese de que o MFC cumpre o papel de escamoteador do manejo
florestal empresarial, é errado entende-lo como processo distinto. Ao contrário, os últimos anos tem
demonstrando um profundo grau de integração entre esses processos, todos culminando no
atendimento do mercado internacional de madeiras tropicais.

Para comprovar essa afirmação, é necessário reconstruir o sistema produtivo e organizativo


do MFC. Nos primeiros anos de implantação do MFC (com FEA, PAE Cachoeira, Porto Dias e
outros), os agentes externos às comunidades possuíam forte papel mediador. Por meio de uma
parceria entre CTA, Governo Estadual, WWF e Embrapa, criou-se, em 2001, o Grupo dos
Produtores Florestais Comunitários. A partir deste grupo, em 2005, o Governo Estadual facilitou a
criação da Cooperfloresta (Cooperativa dos Produtores Florestais Comunitários) (STONE-
JOVICICH et al., 2007), que atualmente é a principal agente do MFC no estado do Acre.

O trabalho de Segatto (2012) aponta para o licenciamento de 50 mil m³ por ano em nome da
Cooperfloresta. Apesar de estar sob o “manto” do sistema cooperativista, a relação com as famílias
“manejadoras” é bastante limitada, impositiva e, do ponto de vista financeiro, nebuloso
(CARVALHO, 2009; NEGRET, 2010). Segundo Segatto (2012), o valor pago às famílias é de cerca
de R$ 60,00 por m³ de madeira em tora. Em nossas entrevistas com seringueiros da RESEX Chico
Mendes, onde a Cooperfloresta acaba de iniciar o MFC, o valor pago é de R$ 50,00/m³.

Entretanto, reportagem investigativa do AC 24horas (2011), demonstra que o valor do m³


desdobrado em pranchas chega a US$ 3.330,00, promovendo um grande lucro para as empresas que
comercializam a madeira em tora e para as madeireiras que a beneficia. Esses valores foram
verificados por nós em entrevistas a marceneiros do Polo Madeireiro de Xapuri.

O elo da Cooperfloresta com o mercado internacional de madeiras tropicais é a empresa


Triunfo Amazônia, oriunda do Mato Grosso do Sul. Esta empresa foi atraída pelos benefícios
concedidos pelo governo estadual e se instalou no Parque Industrial de Rio Branco em 2003. Cerca
de 60% da produção da empresa é exportada, principalmente para a Europa, correspondendo a 70%
do PIB de exportação do Acre. (CASTRO; FERNANDES; CARVALHO, 2012). Outros 30% são
destinados aos estados do sul e sudeste do país, ficando apenas 10% no comercio estadual.
Segundo os autores, para garantir sua matéria-prima, a empresa adquiriu um total de 7.497 ha no
município de Sena Madureira, de onde extrai 40% da madeira consumida. Outros 30% advêm dos
contratos com a Cooperfloresta, 25% vem áreas privadas de fazendeiros e 5% da madeireira Ouro
Verde, de Xapuri.

Esse é, portanto, um claro processo de subordinação dos territórios seringueiros aos


interesses capitalistas nacional e internacional. Recebendo valores irrisórios, as famílias
possibilitam um novo flanco de expansão do capital, o qual, ao mesmo tempo que aufere taxas de
lucro consideravelmente altas, se territorializa nas comunidades camponesas.

Mesmo do ponto de vista especifico da cadeira produtiva da madeira, esse processo não
demonstra deixar saldos positivos para os municípios atingidos. O estudo de Araújo (2011) é
contundente em apontar como o MFC não beneficia o comercio local em Xapuri, uma vez que as
marcenarias da cidade não são beneficiarias dos produtos oriundos do MFC. Essa matéria prima
possui preço proibitivo para essas pequenas empresas familiares, e os produtos dela resultantes
também são de pouca assimilação nas camadas médias e populares da região.

Conclusões

O SISA é construído no bojo da emergência da crise ambiental, apresentando-se como


principal iniciativa governamental para a equacionar a questão. Baseando no princípio de
desenvolver uma “economia verde”, o SISA está ancorado em uma profunda reorganização do
espaço agrário acreano, em suas dimensões fundiárias, produtivas e simbólicas. Por meio de
refinados processos burocrático-administrativos, é o motor oficial por onde transforma-se natureza
em capital financeiro.

Embora tenha essa dimensão líquida, do capital financeiro, o SISA também se territorializa.
Neste artigo buscamos desenvolver os elementos específicos do manejo florestal, uma das frentes
de atuação do SISA. Há outras frentes, que precisam ser melhor estudadas, como o plantio
comercial de seringueiras, a consolidação da cadeia produtiva da castanha, os mecanismos de
compensação ambiental e de pagamentos de serviços ambientais e a recém-criada cadeia produtiva
do peixe.
Chegou-se à conclusão que as políticas de mercantilização e financeirização da natureza –
tais como sequestro de carbono e pagamentos de serviços ambientais – produzem dois movimentos
distintos de territorialização do capital: i) imobilizam/controlam a gestão dos territórios
camponeses, subordinando o modo de vida camponês às metas de emissão de gases efeito estufa; ii)
modernizam os territórios camponeses a partir de sistemas de integração campesinato-indústria, em
diferentes cadeias produtivas, ao mesmo tempo em que modernizam a tecnologia e os meios de
produção do latifúndio arcaico acreano, fundamentalmente pecuaristas e seringalistas. Esse
processo tem gerado profundos conflitos internos às comunidades camponesas e indígenas e,
fundamentalmente, destas com projetos tanto de imobilização/controle do território, quanto de
expansão do agronegócio e do latifúndio.
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