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A Configuracao Foral Castelhana Nos Secu
A Configuracao Foral Castelhana Nos Secu
Abstract
In this paper we are going to present one of the stages of the research The Body and the
Medieval Iberian Law. Pain that Redeems Man and Salvation of the Soul by Blood: A
Comparative History Through Corporal Punishment in Fueros Juzgo and Real, as well as some
partial conclusions about how the Castilian juridical policy was built between the XII and XIII
centuries. We are going to analyze the typology of the common fueros of periods of border and
rear and therefore the political pretensions of Alfonso X, towards the implementation of the
realengo as one of the attempts to consolidate his power.
Palavras-chave
Política jurídica – Tipologia dos fueros – Realengo
Key-words
Juridical policy – Typology of fueros - Realengo
*
UGF, licenciado e bacharelando em História, bolsista de Iniciação Científica PIBIC/UGF sob orientação da Profa.
Marta de Carvalho Silveira.
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Ao analisarmos a dinâmica jurídica entre as etapas de fronteira e retaguarda da
Reconquista, não devemos ter em mente uma concepção fechada e linear desse processo, do
mesmo modo que quando nos referimos a documentos jurídicos com matéria mais centrífuga que
outros, não pretendemos transformar tal afirmativa numa verdade. O que pretendemos salientar,
de fato, é a constatação de uma certa tendência à centrifugação contida no discurso jurídico
inerente àqueles documentos, levando em conta as especificidades das etapas em que se
encontram.
O panorama jurídico castelhano nos séculos XII e XIII teve como local de efervescência
as cidades, que alcançaram um grau de desenvolvimento, tanto no âmbito de áreas urbanizadas,
quanto na demografia urbana, acentuado se comparado com os períodos anteriores. Um indício
deste fenômeno pode ser percebido a partir da alteração nos tamanhos das muralhas que
protegiam as cidades, que se expandiam cada vez mais. Tal fato indicava o aumento do perímetro
urbano, conjuntamente com o aparecimento de novas regiões urbanizadas, os burgos (LE GOFF,
1992:4). Outro indício encontra-se no crescimento das populações urbanas do Ocidente
expressado pela existência de 55 cidades com mais de 10.000 habitantes cada, onde 6 destas
encontravam-se na Península Ibérica (FRANCO JR, 2001:19-31). Neste sentido, a importância
política destes focos urbanos foi potencializada ao passo que se transformavam em alvo de
interesse por parte do poder real castelhano, que no século XIII tentou edificar uma política
menos fluída, levando em consideração o entrave propiciado pela concessão foral anterior, como
segue:
“[...] o rei Fernando III, [...] mandou traduzir o LI para o recém-criado castelhano e o
deu à cidade de Córdoba, sob o nome de FJ, a fim de que servisse como base de
unidade jurídica às diversas comunidades que habitavam aquela parte do território
peninsular” (BEJDER, 2008:8).
Esta tradução do Liber Iudiciorum, que por sua vez, era “um códice de leis escrito em
latim, formulado em 654, pelos visigodos, sob forte influência do direito romano” (BEJDER,
2008:8) pode ser considerada como a principal matriz jurídica do Fuero Juzgo, que foi uma das
principais influências para a elaboração do Fuero Real. Outra produção de natureza jurídica
daquele século foi o código das Siete Partidas, “Elaborado pouco tempo depois do Fuero Real
(1255), é um texto escrito em castelhano que abarca numerosos ramos do direito medieval tanto
do ponto de vista legal e prático como doutrinal” (LIMA, 2006:167-196). Seguiu a mesma linha
de atuação do Fuero Juzgo e Real, que consistiam num “corpo de leis que intentava dar unidade
legislativa a um reino fracionado por diversos fueros particulares” (LIMA, 2006:167-196).
Considerando o binômio fundamental do processo de Reconquista como sendo: conquista
militar e ocupação do território, podemos considerar, que a fase durante o reinado de Fernando
III, se deu, prioritariamente pela conquista militar, ao passo que a fase seguinte, se deu pela
ocupação do território. Entende-se aqui por “ocupação do território” (povoamento, ou mesmo
replobación), não somente a fixação de população proporcionada por conquistas militares, mas
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sim, a ocupação num sentido mais amplo, no que se refere à detenção do controle político sobre
determinada região. A repoblación dava-se através da concessão de privilégios políticos a
membros da nobreza militar ou senhores de terras. Este processo foi a grande mola propulsora
das tensões que ocorreram no reino de Castela, no âmbito jurídico e se apresentou em duas
etapas: de fronteira e de retaguarda (etapa dos privilégios e etapa do realengo, respectivamente).
Na etapa de fronteira, os privilégios tornaram-se latentes através da fomentação de um
direito local, que consistia em ordenamentos jurídicos de aplicação limitada a uma vila ou cidade.
Esta instância do direito possuía como manifestações, por um lado as Cartas Pueblas, em seu
momento inicial; e por outro os Fueros Municipales em seu momento de transição. Ao passo que
o segundo momento, de retaguarda, orientava-se para uma atitude jurídica mais rígida em relação
a esse tipo de concessão local, tornando-se necessária, por parte do poder central, a concessão de
segundos fueros, como foi o caso da concessão do Fuero Real em algumas regiões (MONTAÑA
CONCHIÑA, 1999). Porém, antes de adentrarmos nessa discussão, tornar-se-á necessário, um
esclarecimento acerca da implementação e das diretrizes da política de concessão de privilégios,
que por sua vez apresentava-se de maneira “[...] mucho más compleja de lo que a primera vista
parece [...]”(MONTAÑA CONCHIÑA, 1999).
Neste primeiro momento podemos perceber a utilização das Cartas Pueblas, que
consistiam em documentos que poderiam ser fomentados pelo próprio rei (forma embrionária da
condição realenga), por um senhor laico ou mesmo por um eclesiástico; as quais possuíam como
matéria jurídica uma série de direitos que norteavam os privilégios e exceções, através dos quais
eram reconhecidas oficialmente as populações protagonistas do processo de replobación
(DOMENÉ SÁNCHEZ, 2009:101-142). O principal objetivo da utilização deste tipo de
documento jurídico foi, com efeito, a necessidade de atrair população para as terras
reconquistadas. Estas Cartas, por sua vez, tinham um caráter jurídico aberto, não somente no
sentido de concederem privilégios à parcela da população mais abastada e fundadora vila ou
cidade, mas pelos benefícios de habitarem uma região juridicamente reconhecida, extensivos a
todos os protagonistas da replobación.
“Debió ser entonces, entre los días 10 y 28 de abril de 1230, cuando el rey otorgara a
la recién conquistada ciudad de Badajoz la casi obligada carta puebla. Una carta
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puebla, a veces llamado fuero [...] solia recoger tres aspectos esenciales: la relación
jurídica y fiscal que tendrían en el futuro los nuevos plobadores con el rey (realengo) o
señor (señorio), la delimitación del término municipal y el régimen de tenencia, reparto
y explotación de las tierras” (DOMENÉ SÁNCHEZ,2009:101-142).
Sendo assim, podemos concluir que a política foral do período de fronteira representava
por um lado, a formalização das relações entre o señorio e a população local, e por outro lado
uma ligação, ainda que frágil, entre o centro de poder e àquela periferia, no sentido de uma dupla
necessidade, uma vez que para a ocorrência da ocupação do território, era necessário a concessão
inicial de privilégios políticos para a atração de empreiteiros privados isolados ou mesmo de
grupos, ambos com condições mínimas de efetivarem os objetivos. Ou seja, essa política foral,
fundamentada basicamente através da concessão de privilégios políticos iniciais, possuía uma
dupla face, porque ao passo que servia como uma espécie de “isca” lançada pelo poder central,
representava, ao mesmo tempo, um mecanismo de fortalecimento do poder local, instalado
naquelas regiões.
“Junto a esta articulación de los centros habitados y de poder, los privilegios forales
apoyaban la llegada de plobación, que de forma individual o colectiva se iba a ir
asentado en los nuevos territorios controlados militarmente” (MONTAÑA
CONCHIÑA, 1999).
Podemos entender que este seria um momento de abertura política necessária para dar
dinâmica ao processo de Reconquista. Nesta etapa, o objetivo era conseguir o assentamento da
população, impulsionado pela concessão dos fueros, que apresentavam-se, como as Cartas
Pueblas, em forma de privilégios “[...] que se adapta perfectamente a las demandas de la nueva
sociedad” (DOMENÉ SÁNCHEZ, 2009:101-142). Entretanto, torna-se importante afirmarmos o
funcionamento desses Fueros Municipales, levando em conta que desde a primeira metade do
século XIII, em algumas regiões, os fueros das vilas e cidades mais influentes eram mantidos de
fato: “Así lo confirma el mantenimiento durante unos años del fuero de Coria concedido por
Alfonso IX em 1227 y confirmado por Fernando III em 1231 a la villa de Salvaleón” (DOMENÉ
SÁNCHEZ, 2009:101-142).
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Como continuidade dessa política foral, podemos observar a etapa de retaguarda, que
advinha com níveis consideráveis de estabilização das regiões de fronteira. Ao considerarmos
idéia das periferias como fronteiras onde ocorrem intensas transformações (LE GOFF, 2002:201-
216), devemos ter em mente a noção de que o panorama político supracitado, certamente tomaria
outros rumos com o desenrolar de seu processo de alargamento. A Reconquista de novas regiões
as transformava em novas fronteiras, em detrimento às antigas, que se tornariam zonas
intermediárias, uma vez que, também, não podemos considerá-las como zonas centrais. Para que
determinada região sofresse a mutação de zona de fronteira para zona intermediária, seria
necessária a ocorrência de um processo de estabilização política, de acordo com as perspectivas
centralizadoras, porém, não o bastante para poderem ser consideradas realengas.
Outro aspecto relevante quando consideramos a transformação de uma fronteira numa
região de retaguarda, seria a inversão da tendência da política foral dos privilégios, em direção a
uma política foral mais rígida, com tendências mais centrípetas, tornando-se necessária à
equalização política das regiões intermediárias. Ou seja, com a concessão de privilégios às
autoridades locais, se engendrava o povoamento das novas fronteiras, ocorrendo uma certa
estabilização na região. Como produto, tanto da abertura de novas, como da estagnação
momentânea do movimento de Reconquista, a coroa reorientava sua política foral num sentido
mais centralizador. Esses fueros eram concedidos com a intenção fundamental de substituir as
Cartas Pueblas, impregnadas de forças centrífugas (privilégios), que representavam um
empecilho para o sonho do realengo castelhano.
Doravante, no que se refere aos Fueros Municipales, podemos identificá-los como uma
continuação jurídica das Cartas Pueblas, uma vez que, ao exemplo de Badajoz, “Después de la
carta puebla y para organizar la vida de los habitantes [...]”(DOMENÉ SÁNCHEZ, 2009:101-
142), ocorreu a aprovação de um Fuero Extenso para a cidade, elaborado e proposto pelo
Conselho Municipal. Em relação a esses fueros podemos defini-los como extensos, levando em
conta o seu conteúdo normativo mais amplificado no sentido volumétrico e de matéria jurídica
propriamente dita, em relação aos Fueros Breves. Esses documentos também podem representar
a manifestação do localismo jurídico, uma vez que poderiam ser fomentados pelo senhor laico,
por um eclesiástico local ou pelo próprio Conselho municipal, como no caso comentado, porém,
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também pelo rei em forma de concessão. Em seu conteúdo possuíam uma jurisdição que
reafirmava os privilégios concedidos anteriormente a um determinado município, instruções
sobre como administrar a justiça e aspectos referentes à condição de cidade e não mais um
povoamento embrionário, como no caso das Cartas Pueblas. Ou seja, com o desenvolvimento
das regiões de fronteira as relações sócio-políticas tendiam a ganhar um caráter mais complexo,
sendo necessário que as perspectivas jurídicas acompanhassem estas formas mais complexas das
sociedades.
Fonte Primária
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