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ISSN 2177-3548
[1][2][3][4] Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho- Unesp campus Bauru | Título abreviado: Terapia analítico-comportamental para ansiedade e
depressão | Endereço para correspondência: Laboratório de Aprendizagem, Desenvolvimento e Saúde (LADS), Edifício CASCA 4, Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho, Av. Engº Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01 – Vargem Limpa – Bauru–SP – CEP: 17033-360 | Email: bolsoni@fc.unesp.br | DOI: 10.18761/
PAC.2018.N2.02
Nota: Este artigo é derivado de uma pesquisa de mestrado da primeira autora, financiada pela
FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) Processo 2015/ 10230-9,
e de uma pesquisa de iniciação científica, do segundo autor, financiada pelo CNPq (Conselho
Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico); ambas sob orientação da quarta autora.
Atualmente, casos de ansiedade e depressão têm a proporção de pessoas com ansiedade foi de 4,6%
apresentado aumento na população, tanto em âm- entre as mulheres e 2,6% entre os homens, em ní-
bito nacional, quanto internacional. Relatório pu- veis globais. Os comportamentos ansiosos apre-
blicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS, sentam a função, geralmente, de se esquivar ou fu-
2017), abrangendo transtornos depressivos e trans- gir de situações com valor aversivo, de forma que
tornos ansiosos presentes com alta frequência na evita o “aversivo”, e produz reforçadores negativos
população, informa que houve aumento no núme- (Zamignani & Banaco, 2005).
ro de pessoas com diagnóstico de tais transtornos. Em relação ao Brasil, a situação segue a tendência
No caso de pessoas com diagnóstico de depressão, mundial, sendo os transtornos mentais mais preva-
houve aumento de 18,4%, entre 2005 e 2015. Já em lentes na rede de atenção primária (Gonçalves et al.,
relação a pessoas com diagnóstico de ansiedade, em 2014). Quando aparecem em comorbidade, isto é, a
2005 eram 264 milhões, enquanto 2015 refletiu um presença de dois ou mais transtornos mentais simul-
aumento de 14,9% considerando o período dos dez taneamente (Araújo, Ronzani & Lourenço, 2010), há
anos anteriores. (Organização Mundial da Saúde pior prognóstico para o tratamento, sendo quadros
[OMS], 2017). de maior duração e com mais comprometimentos,
O Transtorno Depressivo Maior (TDM) é a dada a severidade dos sintomas e prejuízo funcional
condição clássica dos denominados transtornos (Araújo et al., 2010; Johanson, Carlbring, Heedman,
depressivos de acordo com o Manual Diagnóstico Paxling, & Andersson, 2013; Newby et. al., 2013;
e Estatístico de Transtornos Mentais-5 (DSM-5, Starr, Hammen, Connolly, & Brennan, 2014).
APA, 2013), compreendendo sintomas de humor Na literatura existem estudos sobre tratamen-
deprimido, alteração no apetite, e interferência na to de quadros de comorbidade de ansiedade e de-
disposição para a realização das atividades diárias, pressão. Desses estudos, destaca-se um conduzido
entre outras. Mulheres são mais acometidas por de- com mulheres com infertilidade (Faramarzi et al.,
pressão que homens, sendo a incidência de aproxi- 2008), outros em abordagem TCC (Van Beek et al.,
madamente 5,1% entre mulheres e 3,6% entre ho- 2013; Newby et al, 2013) e resultados da aplicação
mens (OMS, 2017). Do ponto de vista da Análise da terapia denominada Mindfulness, Compassion-
do Comportamento, sintomas de depressão estão Mindfulness Therapy (Herman, Siu Man, Chan,
relacionados ao pouco contato com estímulos refor- Lam, & Lau, 2013). Os resultados apontaram que
çadores, de forma que o indivíduo depressivo emite houveram reduções significativas na depressão e
comportamentos funcionais com baixa frequência, ansiedade. Contudo, essas pesquisas apresentavam
por consequência, não atinge o acesso aos reforça- medidas de resultado, apenas, e não avaliavam a
dores. (Abreu & Abreu, 2017). A ativação compor- interação entre terapeuta e cliente nesse proces-
tamental, intervenção já consolidada como baseada so, evidenciando uma lacuna na literatura, que se
em evidência para casos de pessoas com diagnósti- acentua em relação a tais estudos na abordagem
co de depressão, consiste em identificar atividades Analítico-Comportamental, foco deste trabalho.
com valor reforçador e traçar metas a curto e a lon-
go prazo envolvendo a interação da pessoa em tais
atividades, para se comportar de forma a ter acesso Terapia Analítico-comportamental
a esses reforçadores (Sturmey, 2009).
Em relação aos transtornos de ansiedade é Destaca-se que a despeito de haver poucas evidên-
imprescindível observar que embora sentir medo cias sobre a Terapia Analítico-Comportamental de
e ansiedade possa ter função adaptativa, no caso maneira geral nos estudos brasileiros (Leonardi
da patologia, há a diferenciação pelo excesso & Meyer, 2015), há evidências que a Ativação
(APA, 2013). Os critérios diagnósticos do DSM- Comportamental é eficaz no tratamento de depres-
5 (APA, 2013) para o Transtorno de Ansiedade são (Abreu & Abreu, 2017) e que a técnica de expo-
Generalizada incluem ansiedade e preocupação sição e prevenção de resposta é a recomendada no
excessivas, inclusive com dificuldade em controlar tratamento de transtorno de ansiedade (Zamignani
a preocupação. Segundo a OMS (2017), em 2015, & Banaco, 2005).
Psicólogos que norteiam sua prática clínica de entre os anos de 2005 a 2015 quanto à estudos de
acordo com a Análise do Comportamento prati- intervenção com pessoas que apresentavam qua-
cam a Terapia Analítico-Comportamental (TAC). dros clínicos de ansiedade, depressão e em comor-
Segundo Meyer et al. (2010), a TAC, pode ser bidade, verificou-se que eram poucas as pesquisas
definida da como “... uma forma de prestação de que avaliaram medidas de resultados e processos
serviços que utiliza o arcabouço teórico da análise simultaneamente, não sendo encontrados estudos
do comportamento e o conhecimento de pesqui- conduzidos com base na TAC. De maneira ge-
sas básicas e aplicadas para a solução de proble- ral, garantindo particularidades, as intervenções
mas humanos” (p. 172). Os psicólogos analistas do mostraram-se efetivas, ainda que parte das pes-
comportamento, além das diversas técnicas que soas não tenham superado os sintomas clínicos
têm conhecimento, devem se atentar também para (Chagas, Guilherme & Moriyama, 2013; Dougher
a relação construída com o cliente (de-Farias, 2010) & Hackbert, 2003; Faramarzi et al., 2008; Van Beek
e ter por principal instrumento de avaliação e inter- et al., 2013; Newby et al., 2013; Herman et al.,
venção a análise funcional (Abreu & Abreu, 2017). 2013). Diante desses achados, torna-se importan-
Em relação às pesquisas em psicologia clínica te e relevante o estudo de efeitos de intervenções
no âmbito analítico- comportamental, é importante analítico-comportamentais com essa população de
que o (a) pesquisador (a) se atente para a análise interesse, para verificar a aplicabilidade, eficácia e
das relações funcionais, ou a singularidade do fe- eficiência da mesma, possibilitando descrever a in-
nômeno a ser estudado, campo do estudo do su- teração entre cliente e terapeuta.
jeito único (Matos, 1990). Dessa forma, os estudos
de caso único (n=1) podem ser considerados ca-
racterísticos da análise do comportamento, expe- Interação Terapêutica
rimental e aplicada (Shaughnessy, Zechmeister &
Zechmeister, 2012). Matos (1990) destacou que no A interação entre terapeuta e cliente é um tópico
trabalho norteado pela Análise do Comportamento fundamental a ser trabalhado ao dissertar sobre
não se pode afirmar que tratamos como iguais os psicologia clínica (Shinohara, 2000). Segundo Alves
participantes de uma pesquisa, haja vista que são e Isidro-Marinho (2010), a interação terapêutica se
diferentes entre si. Para Koerner (2018) coletar da- apresenta como modo de auxílio, uma vez que com
dos regularmente, portanto monitorar o progresso o conhecimento teórico irá auxiliar o cliente a en-
de cada um dos clientes, em cada sessão, é muito frentar as dificuldades que caracterizam as queixas
importante para prevenir fracasso e abandono. clínicas. Dessa forma, ao tratar do tema processo
Destacando-se, assim, que pesquisa em clínica pre- psicoterapêutico, é importante citar a análise da
cisa fazer uso de medidas de resultado e de proces- interação terapêutica, caracterizada pelos com-
so e garantir a singularidade de cada participante. portamentos de cliente e terapeuta em interação
Ao trabalhar com sujeito único (N=1) pode-se (Zamignani & Meyer, 2007).
respeitar o caráter singular e processual do compor- Interação terapêutica é definida por Zamignani
tamento (Andery, 2010), conduzindo medidas antes, e Meyer (2007) como “um processo de modelagem
durante e depois da intervenção, ou com a introdu- mútua, em um fluxo contínuo de interações.” (p.
ção da variável independente, de maneira que possi- 252). Ou seja, pode-se afirmar que a interação te-
bilite a análise do processo ocorrido com o compor- rapêutica trata dos comportamentos do terapeuta e
tamento do participante ao longo do estudo (Matos, cliente em ambiente de sessão, e do alcance que um
1990; Andery, 2010). Nesse delineamento, os dados exerce sobre o outro, ao longo do processo terapêu-
são tratados considerando o participante de forma tico (Braga & Vandenberghe, 2006).
individual, de forma que o controle utilizado para o Ruiz-Sancho, Frojan-Parga e Calero-Elvira
participante da pesquisa é ele mesmo (Matos, 1990; (2013) realizaram análise de 19 casos clínicos, aten-
Andery, 2010; Shaughnessy et. al, 2012). didos por terapeutas com formação em análise do
A partir de busca realizada no portal de pe- comportamento, sendo a hipótese inicial de que o
riódicos científicos da CAPES (busca avançada), comportamento do terapeuta sofria influência do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido per- sendo o atendimento individual, com sessões se-
mitindo o uso dos dados das intervenções para fins manais ao longo de nove meses de um ano letivo.
de pesquisa. O trabalho foi aprovado pelo Comitê As participantes eram recebidas na recepção pela
de Ética (1.185.009). estagiária responsável pela intervenção, a duração
de cada sessão foi em torno de 50 minutos. P1 e P2
Participantes totalizaram 30 sessões de atendimento cada em um
Participaram deste estudo duas mulheres com sin- ano letivo. Nas intervenções foram utilizados pro-
tomas de ansiedade e depressão, usuárias de uma cedimentos diversos (tais como análise funcional,
clínica-escola de uma universidade pública no cen- modelagem por aproximação sucessivas, reforça-
tro-oeste paulistano. As clientes são denominadas mento diferencial, tarefas de casa, modelação e role
de P1 e P2; sendo que P1 fazia uso de medicação playing) de forma a ensinar o autoconhecimento,
há 14 anos, enquanto P2 fazia uso de medicação o responder a regras que descrevessem contingên-
há 10 anos, mantendo o quadro sintomático de cias, o ensino de comportamentos que aumentas-
ansiedade e depressão quando iniciaram a terapia. sem a ativação comportamental, incluindo o treino
Também participaram da pesquisa duas graduan- de habilidades sociais e de outros repertórios que
das do último ano do curso de Psicologia que cur- produzissem reforçadores no ambiente de traba-
savam o estágio curricular em Psicologia Clínica lho, familiar e social (Abreu & Abreu, 2017) e de
– Abordagem Comportamental. exposição e prevenção de respostas (Zamignani &
A idade das participantes variou entre 41 e 47 Banaco, 2005).
anos e elas apresentavam queixas relacionadas aos
sintomas dos transtornos de ansiedade e de depres- Instrumentos para mensuração de
são, que foram confirmados com a aplicação do resultados
BAI (Beck Anxiety Inventory - Inventário de an- As participantes da pesquisa responderam aos se-
siedade de Beck) e BDI (Beck Depression Inventory guintes instrumentos:
- Inventário de Depressão de Beck) (Cunha, 2001).
Ambas tinham filhos e as idades dos filhos eram 24 Roteiro de Entrevista Clínica. É um instrumento
e 26 anos para P1 e 16 anos para P2. Além disso, qualitativo composto por perguntas abertas, desen-
as duas eram casadas e exerciam trabalho remune- volvido para identificar queixas e estabelecer obje-
rado fora de casa (P1, manicure e P2, técnica de tivos, auxiliando na composição da formulação de
farmácia), local onde também tinham funções as caso de cada participante. Contém perguntas como
quais demandavam interação social. As clientes fa- o que motivou a procura pelo atendimento, quais
ziam uso de medicação da classe dos antidepressi- queixas estão presentes, buscando identificar an-
vos e ansiolíticos (Sertralina para P1 e Sertralina e tecedentes e consequentes, histórico da queixa e
Amitriptilina para P2). Além disso, há semelhança classes de respostas. A utilização deste roteiro fun-
na história de vida das duas clientes, por exemplo, damenta, então, a elaboração de análises funcionais
relataram dificuldades de relacionamento com o e também investiga repertórios de entrada que são
pai, cuja interação foi permeada por práticas edu- recursos.
cativas negativas durante a infância e adolescência.
Inventário de Ansiedade de Beck. Desenvolvido
Procedimento de intervenção por Beck e Steer (1990) e validado para a população
As participantes, que haviam se inscrito para aten- brasileira por Cunha (2001) consiste em uma esca-
dimento em uma clínica-escola e passado por la respondida por meio do auto relato, composta
triagem, foram chamadas para a participação na por descrições de sintomas de ansiedade, a partir
pesquisa por atingir aos critérios de inclusão de do DSM, sendo que para cada item há quatro alter-
apresentar sintomas que abrangiam tanto quadro nativas que subentendem graus crescentes de an-
de ansiedade quanto de depressão e não estarem siedade. O respondente deve assinalar a alternativa
passando por atendimento psicológico naquele que mais representa o nível de desconforto com
momento. Todas passaram por intervenção TAC, cada sintoma. Para obter o escore total, somam-se
as pontuações de todos os itens, resultando na clas- E), tomando como base o seu repertório. A partir
sificação de nível mínimo, leve, moderado ou grave de um crivo de correção, são atribuídos valores a
para transtorno de ansiedade. Esse teste é utilizado cada uma das respostas. Na folha de correção, esses
para diagnosticar transtornos de ansiedade, com valores são associados a habilidades sociais especí-
foco no Transtorno de Ansiedade Generalizada. ficas (tais como manter conversação e recusar pedi-
dos abusivos) e podem ser comparados com os da
Inventário de Depressão de Beck. Desenvolvido média da população. A cada valor (de 0 a 4), pode
por Beck e Steer (1993) e validado para a população ser atribuído um escore em cada questão. Os esco-
brasileira por Cunha (2011), consiste em uma es- res podem ser somados para obter um escore total
cala respondida por meio do auto relato, composta ou escores fatoriais que representam dimensões das
por afirmações descritivas de sintomas de depres- habilidades sociais, tais como enfrentamento e au-
são, com base no DSM, sendo que para cada item toafirmação com risco e autocontrole da agressivi-
há quatro alternativas que subentendem graus cres- dade. Em resumo, é um instrumento que mensura
centes de depressão, cujos escores variam de zero a e avalia habilidades sociais presentes no repertório
três. O respondente deve assinalar todas as alter- do respondente. As normas de referência não fo-
nativas que julgar coerentes para si. Para obter o ram utilizadas porque são apropriadas apenas para
escore total é necessário somar os escores individu- universitários.
ais dos itens, considerando somente as pontuações
dos itens de maior valor em cada item, resultando Instrumentos para mensuração de
na classificação de nível mínimo, leve, moderado processos
ou grave para transtorno depressivo. Esse teste é Os seguintes instrumentos foram utilizados para a
utilizado para diagnosticar transtorno depressivo, categorização dos dados observados nas sessões:
principalmente o Transtorno Depressivo Maior.
Protocolo de Observação Comportamento do
Patient Health Questionnarie. Desenvolvido Terapeuta e do Cliente. A análise da interação
por Spitzeret al. (1999) e por Kroenke, Spitzer terapêutica se deu por meio do recurso auditivo.
e Williams (2001) é validado para participantes Dessa forma, foram utilizados arquivos de áudio
do sexo feminino por Osório, Mendes, Crippa e com a gravação das intervenções. Para o estudo das
Loureiro (2009). Consiste em um instrumento categorias foi utilizado o Protocolo de Observação
de auto relato baseado diretamente nos critérios (Zamignani, 2007), com as definições das catego-
diagnósticos para Desordem de Depressão Maior rias comportamentais relacionadas ao Eixo I: com-
do DSM-IV. A partir de perguntas sobre a frequ- portamento verbal do Terapeuta e do Cliente, além
ência da ocorrência de sintomas de ansiedade e de categorias inclusas pela pesquisadora baseada
depressão, com alternativas que que subentendem no Treino de Habilidades Sociais desenvolvido por
graus crescentes de depressão, possibilita tanto o Bolsoni–Silva (2009). Também foi utilizado o sof-
rastreamento de sinais e sintomas do Transtorno tware The Observer XT 7.0 para a categorização das
Depressivo Maior (nome atual) como a classifica- sessões. As categorias de comportamentos são clas-
ção de níveis de gravidade, leve, moderada e grave, sificadas de acordo com a função que exercem na
sendo que quanto maior o escore, mais indicadores relação terapêutica. Para as terapeutas, variam des-
de problemas. de solicitação de relato até aprovação. Para as clien-
tes, variam de relato até estabelecer relações.
Inventário de Habilidades Sociais (IHS- Del
Prette). Desenvolvido por Del Prette e Del Prette Protocolo de Observação Temas. Foram analisadas
(2001), consiste em um instrumento de auto rela- também as categorias referentes ao tema de sessão,
to composto por asserções descritivas de situações cujo Protocolo de Observação (Zamignani, 2007;
e ações, para as quais o respondente deve assina- Bolsoni Silva, 2009), com as categorias de tema in-
lar uma probabilidade de ocorrência (variando de clusas no Eixo II, e inclusos os temas incluídos no
nunca a sempre, de acordo com as legendas, de A a Treino de Habilidades Sociais desenvolvido por
Bolsoni Silva (2009). De modo geral, as categorias de lio do protocolo. Após a análise da concordância, as
temas se referem ao tipo de comportamento aborda- observadoras se reuniram e discutiram aspectos do
do (fazer críticas, comunicação etc.) e/ou ao contex- protocolo, seguindo a análise de mais 15 minutos
to em que ocorrem (filhos, cônjuge, trabalho). de uma sessão, totalizando quatro tentativas segui-
das de reuniões até alcançar o percentual indicado.
Protocolo de Observação Procedimentos de Após discussão sobre as categorias, as observado-
Intervenção. Foi elaborado a partir de Del Prette ras analisaram os áudios separadamente buscando
e Almeida (2012) e consta as seguintes categorias o índice de concordância de ao menos 80%, obtida
de análise: Análise Funcional, Role-Playing, Modelo, através da aplicação da equação: (eventos concor-
Reforçamento Diferencial de Comportamento Alvo, dantes / eventos concordantes + eventos discordan-
Instrução, Entrevistas e Instrumentos Padronizados tes) x 100.
e Auto Revelação. Ao atingir índice satisfatório, foram sorteadas
20% do total de sessões a serem analisadas (quatro
Procedimento de coleta de dados sessões, duas de cada participante) a fim de atingir
Os dados foram coletados em uma clínica escola de o índice de concordância satisfatório de consenso
uma universidade pública do centro-oeste paulista. entre as observadoras. As sessões sorteadas e os
Foram coletadas as medidas comportamentais Pré- índices atingidos foram: P1 (2ª sessão – 91%; 25ª
teste (início do tratamento), medida intermediária sessão – 90%) e P2 (3ª sessão – 83%; 17ª sessão –
(após quatro meses do início do tratamento) e Pós- 88%). Foram incluídas nos resultados as sessões
teste (nove meses após o início do tratamento). A analisadas por uma das observadoras, descartando
medida de Seguimento foi coletada dois meses após a análise da mesma sessão elaborada pela outra ob-
o Pós-teste. As duas terapeutas estagiárias partici- servadora. A sessão que foi analisada de forma se-
param de supervisões presenciais semanais com a parada de 15 em 15 minutos foi descartada. O índi-
mesma professora do Departamento de Psicologia, ce alcançado foi avaliado em termos de frequência
além de redigirem relatórios semanais que eram das categorias de comportamento e tema de sessão.
corrigidos pela mesma supervisora, de modo que a Depois disso, a pesquisadora terminava de cate-
integridade e a regularidade do tratamento fossem gorizar as sessões faltantes. Ao término das catego-
mantidas. rizações, os dados foram analisados de acordo com
o momento da intervenção: momento inicial (três
Análise de concordância sessões iniciais), momento intermediário (quatro
A análise dos áudios das sessões foi realizada pela sessões) e momento final (três sessões finais).
pesquisadora e por uma observadora. Em primeiro
momento, a pesquisadora elaborou o Protocolo de Procedimentos de tratamento e análise
Observação para Categorias, seguindo uma discus- de dados
são com a observadora, estudante de mestrado e Os resultados obtidos através da aplicação e res-
Terapeuta Analítico-Comportamental, que sugeriu posta dos instrumentos foram analisados através
algumas modificações. Em um primeiro momento da comparação dos níveis de sintomas ansiosos/
ambas as observadoras estudaram os protocolos e, depressivos (obtidos através da correção, seguindo
na sequência, as categorias foram inseridas no sof- a norma dos respectivos instrumentos BAI, BDI e
tware The Observer XT 7.0, seguida da inclusão dos PHQ-9) antes da intervenção, ao longo da interven-
áudios para análise. Importante destacar que a ca- ção e ao término da mesma, sendo considerados
tegoria procedimentos de intervenção foi inserida como resultados de produto da intervenção com-
na seção denominada “modificadores” do Observer portamental. O Roteiro de Entrevista Clínica foi
XT, de modo que foi analisada em par com as cate- estudado a partir da análise de conteúdo, de for-
gorias de comportamento do terapeuta. Após, hou- ma que foi possível descrever as queixas iniciais de
ve análise de 15 minutos de uma sessão selecionada cada cliente, além de descrever as queixas similares
aleatoriamente, via sorteio, com as observadoras apresentadas pelas duas clientes e os objetivos atin-
analisando os áudios separadamente, com o auxí- gidos ao final da intervenção terapêutica.
Desenvolveu a auto-regra de não ser uma boa mãe Déficit em habilidades educativas parentais
Tabela 2. Indicadores de saúde mental das participantes nas diferentes fases do delineamento, de acordo
com os instrumentos BAI, BDI e PQH-9.
P1 P2
NC - Não Clínico
C - Clínico
P1 12 16 15 13
FATOR 1 (11 itens)
P2 6 6 14 12
P1 14 21 10 16
FATOR 2 (7 itens)
P2 16 12 15 12
P1 2 12 7 17
FATOR 3 (7 itens)
P2 8 13 17 16
P1 3 6 8 8
FATOR 4 (3 itens)
P2 3 3 8 4
P1 7 5 8 5
FATOR 5 (3 itens)
P2 6 7 8 6
P1 38 60 48 61
ESCORE TOTAL
P2 39 41 62 50
As Tabelas 2 e 3 apresentam índices de saúde de acordo com BDI e PHQ-9, ao longo do tratamen-
mental das duas participantes nas diferentes fases to e se confirmando no Seguimento, visto que apon-
da pesquisa. tou escores não clínicos na avaliação do Pós-teste ao
Considerando a Tabela 2, P1 passou de nível Seguimento.
moderado de ansiedade no Pré-teste para nível leve P2 iniciou o tratamento com níveis modera-
ao longo da Medida Intermediária e Pós-teste, de dos de ansiedade e depressão, e indicadores de de-
forma que passou de clínica para não clínica. No pressão maior leve no Pré-teste, de acordo com os
Seguimento, a participante apresentou níveis míni- instrumentos BAI e BDI, os sintomas de ansieda-
mos de ansiedade; P1 apresentou nível moderado de de e depressão passaram a leve, e de acordo com o
depressão e indicadores de presença de depressão PHQ-9, os indicadores de depressão maior leve se
maior severa no Pré-teste, sendo o quadro revertido mantiveram no Seguimento, embora o escore tenha
diminuído ao longo do processo terapêutico; assim, escores baixos no início da intervenção, os quais
a cliente apresentou escore clínico no Pré-teste e dobraram de valor após intervenção, com manu-
Pós-teste, passando a não clínico no Pós-teste e tenção no Seguimento, por exemplo, o item 07 -
Seguimento, nos três instrumentos. apresentar-se para outra pessoa, incluso no Fator
De acordo com a Tabela 3 verificou-se que 1, que obteve maiores escores no Pós-teste e foi
P1 já tinha bom repertório de habilidades sociais mantido no Seguimento. Já os Fatores 4 (Auto –
nos Fatores 1 (Enfrentamento e Auto-afirmação Exposição a desconhecidos e situações novas) e 5
com risco) e 2 (Auto – afirmação na expressão de (Autocontrole da agressividade), com baixos esco-
sentimentos positivos), os quais se mantiveram res no início, tiveram pouco aumento nas demais
altos no decorrer das avaliações; destaca-se que medidas e no Seguimento os escores foram iguais
para esses fatores houve aumento na avaliação ou próximos ao Pré-teste. O escore total da P2 no
intermediária (metade do período letivo), mas Seguimento foi de 50.
os escores reduziram no Pós-teste e Seguimento As tabelas que seguem descrevem os resulta-
ficando com valores próximos à linha de base, dos relacionados à interação terapêutica tratados
contudo, interessante ressaltar que houve avan- estatisticamente, contendo as médias de ocorrên-
ço no item 28 - Elogiar familiares, pertencente cias de todas as categorias, em termos de frequ-
ao Fator 2, evidenciando um ganho ao longo do ência (Tabela 4) e duração (Tabela 5), e os valores
processo terapêutico, já que se comunicar de de p do teste Mann-Whitney que verificou a exis-
forma não agressiva, assertiva foi um dos obje- tência de diferenças estatísticas entre as díades,
tivos iniciais, cumpridos. Para P1 os fatores 3 e quanto às categorias de análise. Categorias em ne-
4, Conversação e Desenvoltura Social e Auto- grito destacam as diferenças estatísticas (p<0,05)
Exposição a desconhecidos e situações novas, entre as díades.
tinham maior grau de dificuldade com escores De acordo com as Tabelas 4 e 5, verifica-se que,
baixos no Pré-teste, os quais aumentaram no de- para a P1, as categorias do terapeuta mais frequen-
correr na intervenção, com manutenção ou ainda tes foram facilitação, solicitação de relato, solicitação
melhora no Seguimento, por exemplo, o aumento de reflexão e aprovação e enquanto duração foram
do escore em vários itens inclusos no Fator 3, a informação, solicitação de relato, solicitação de refle-
saber: 17. Encerrar conversação, 37. Pedir favores xão e aprovação. Já para a P2 a frequência foi maior
a colegas, 36. Manter conversação, 22. Recusar para facilitação, solicitação de relato, solicitação de
pedidos abusivos e 19. Abordar autoridade, fato reflexão, empatia, informação e aprovação; quanto a
que também pode evidenciar um ganho obtido duração todas as categorias ocorreram com escores
a partir do treino de habilidades sociais, que se altos, muito superiores às da P1 (informação, soli-
concentrou em ensinar a comunicação assertiva, citação de relato, solicitação de reflexão, aprovação,
pois a cliente descreve que melhorou a comuni- recomendação, empatia). As comparações estatísti-
cação com o filho, relatou que conseguia solicitar cas demonstraram que as categorias do comporta-
mudanças de comportamento de forma assertiva mento de terapeuta diferenciaram as clientes, seja
e o filho atendia ao pedido, por exemplo, para em frequência, seja em duração com maiores mé-
arrumar seu quarto. O Fator 5 (Autocontrole da dias para P2.
agressividade) apresentava escore médio no iní- Quanto aos comportamentos das clientes, desta-
cio da intervenção, o qual teve pouca variação nas cam-se tanto em frequência quanto em duração, os
demais medidas. O escore total no Seguimento comportamentos de relato, estabelece relações, me-
foi de 61. lhora, autocontrole/autoconhecimento e queixas e di-
P2 apresentava bom repertório do Fator 2 ficuldades. Tanto em frequência quanto em duração a
(Auto-afirmação na expressão de sentimentos ocorrência foi diferente para as clientes em relato, me-
positivos), cujos valores tiveram pouca altera- lhora e autocontrole/autoconhecimento. No entanto,
ção no decorrer das avaliações. Os Fatores 1 e 3 diferente do visto no comportamento do terapeuta,
(Enfrentamento e Auto-afirmação com risco e os relatos de melhora e de autocontrole/autoconheci-
Conversação e Desenvoltura Social) apresentaram mento foram mais frequentes para P1 que para P2.
Tabela 4 . Médias e valores de p de acordo com o teste de Mann-Whitney para a comparação das díades
em termos de frequência
Categorias da Média Média Valor Categorias Média Média Valor Procedimentos Média Média Valor Temas Média Média Valor
terapeuta P1 P2 de p da cliente P1 P2 de p P1 P2 de p P1 P2 de p
Relações Filhos
Facilitação 23,5 53,5 0,045 Relato 15,2 28,7 0,002 Análise funcional 11,8 26 0,005 1,9 0 0,001
Enteados
Solicitação de Estabelece Relações
11,9 24 0,011 4,6 6,5 0,494 Ref. diferencial 2,3 4 0,231 1,7 0,1 0,005
relato relações Cônjuge
Solicitação de Conversações
7,3 11,3 0,074 Melhora 2,5 0,3 0,004 Instrução 0,7 0,5 0,584 1,5 0,4 0,062
reflexão Cônjuge
Autocontrole/
Conversações
Aprovação 4 5,3 0,674 autoconheci- 2,4 0,7 0,013 Modelo 0,4 0,7 0,375 1,3 0 0,001
Filhos
mento
Queixas e Trabalho
Informação 2,3 5,7 0,027 1,4 2,2 0,209 Instrumentos 0,1 0 0,317 1,2 0,8 0,618
dificuldades Estudo Carreira
Conversações
Empatia 1,4 6,5 0,001 Solicitação 0,7 0,9 0,233 Role-playing 0 0,4 0,068 0,7 0,5 0,831
Trabalho
Sentimento
Recomendação 1,4 4 0,03 Concordância 0,3 0,4 0,358 Auto-revelação 0 0,8 0,03 Negativo 0,7 0,1 0,021
Cônjuge
Outras
Sentimento
Interpretação 1,4 8 0,001 vocalizações 0,3 0,2 0,615 0,2 0 0,146
Negativo Filhos
cliente
Outras Fazer e
Silêncio
vocalizações 0,6 3,5 0,008 0,1 0,9 0,234 Recusar Pedido 0,2 0,2 1
cliente
terapeuta Cônjuge
Queixas/
Silêncio
0,1 0,2 0,542 Oposição 0 0,1 0,317 Sintomas 0,1 0,5 0,121
terapeuta
Psiquiátricos
Conversações
Reprovação 0 0,1 0,317 Amigos/ 0,1 0 0,317
Colegas
Sentimento
Positivo
0,1 0 0,317
Amigos/
Colegas
Sentimento
Negativo 0,1 0 0,317
Trabalho
Fazer e
Recusar Pedido 0,1 0,1 1
Filhos
Relação tera-
0 0,3 0,147
pêutica
Sentimentos,
julgamentos
0 0,3 0,067
e tendência à
ação
Relações
Outros 0 0,2 0,317
Familiares
Conversações
0 0,1 0,317
Familiares
Comunicação
Amigos/ 0 0,2 0,317
Colegas
Tabela 5. Médias e valores de p de acordo com o teste de Mann-Whitney para a comparação das díades
em termos de duração
Categorias da Média Média Valor Categorias Média Média Valor Média Média Valor Média Média Valor
Procedimentos Temas
terapeuta P1 P2 de p da cliente P1 P2 de p P1 P2 de p P1 P2 de p
Relações
Análise fun-
Informação 77,9 518,9 0,015 Relato 2944 1509 0,016 65,8 709,6 0,000 Filhos 538,7 35,3 0,004
cional
Enteados
Solicitação de Estabelece Conversações
55,1 175,2 0,001 197,4 205,4 0,94 Ref. diferencial 22,8 93,7 0,094 419,3 670,1 0,716
relato relações Trabalho
Trabalho,
Solicitação de
52,7 413 0,003 Melhora 122,5 4,44 0,006 Instrução 13,8 54,4 0,967 Estudo e/ou 371,7 260,9 0,679
reflexão
Carreira
Autocontrole/
Relações
Aprovação 36,6 153,6 0,023 autoconheci- 90,4 21,2 0,01 Instrumentos 5 0 0,317 330,4 128,1 0,024
Cônjuge
mento
Queixas e Conversações
Recomendação 28,1 292,1 0,014 74,4 63,6 0,44 Modelo 2,6 35 0,192 276,7 0 0,001
dificuldades Filhos
Conversações
Interpretação 26,2 350,8 0,000 Solicitação 13,5 8,2 0,383 Role-playing 0 30,6 0,068 254,9 0 0,002
Cônjuge
Outras Sentimento
Empatia 13,6 206,3 0,000 vocalizações 12,9 3 0,427 Auto-revelação 0 37,9 0,031 Negativo 174,9 91,5 0,088
cliente Cônjuge
Fazer e
Outras
Silêncio Recusar
vocalizações 11,1 160,5 0,002 5,1 11,2 0,304 29,3 164,8 0,914
cliente Pedido
terapeuta
Cônjuge
Conversações
Silêncio tera-
5 1,6 0,627 Concordância 3,1 0,9 0,358 Amigos/ 20,4 0 0,317
peuta
Colegas
Sentimento
Reprovação 0 5,2 0,317 Oposição 0 1 0,317 19,1 0 0,147
Negativo Filhos
Sentimento
Negativo 13,8 0 0,317
Trabalho
Fazer e
Recusar 11,5 36,4 0,942
Pedido Filhos
Sentimento
Positivo
3,9 0 0,317
Amigos/
Colegas
Queixas/
Sintomas 2,8 306,3 0,091
Psiquiátricos
Relação tera-
0 39,2 0,147
pêutica
Sentimentos,
julgamentos
0 129 0,068
e tendência à
ação
Relações
Outros 0 369,5 0,031
Familiares
Conversações
0 89,2 0,317
Familiares
Comunicação
Amigos/ 0 19,8 0,317
Colegas
Crítica
0 190,7 0,317
Trabalho
Pode-se afirmar que P1 e P2 iniciaram o proces- como verificado em Orti et al. (2015) no atendi-
so terapêutico com um quadro de comportamen- mento a mães de escolares com problemas de in-
tos considerados ansiosos e depressivos, de acordo ternalização.
com o relato e pelos escores obtidos nos instrumen- A categoria Reprovação (terapeuta) não apare-
tos aplicados na fase de Pré-teste. Ao considerar o ceu na díade 1, e a sua ocorrência na díade 2 foi
histórico de tratamento anterior, constatou-se que bastante pontual e inexpressiva. Isso converge com
já estavam em tratamento medicamentoso há pelo o princípio de minimizar a estimulação aversiva
menos sete anos e ainda apresentavam os sintomas, do contexto terapêutico, garantindo uma escuta
concordando com a literatura encontrada quanto predominantemente não-punitiva, tanto quanto
aos comprometimentos funcionais (Johanson et al., for possível (Zamignani & Meyer, 2007). A baixa
2013; Starr et al., 2014) e destacando dificuldades frequência e duração de respostas de oposição, por
em relação ao prognóstico das pessoas com ansie- parte das duas clientes, contribuem para demons-
dade e depressão (Araújo et al., 2010 ; Newby et trar essa dimensão não-punitiva do tratamento
al.; 2013). Importante destacar que as participan- para as clientes.
tes continuaram o tratamento com a medicação ao A descrição das interações terapeutas-clientes
longo do processo terapêutico, variável que já se associada às queixas e resultados obtidos quanto
apresentava na fase de Pré-teste em paralelo com às superações, permite hipotetizar que as terapeu-
os sintomas apresentados. tas emitiram respostas contingentes aos compor-
Considerando pertinente avaliar medidas tamentos das clientes (Ruiz-Sancho e cols., 2013;
de processo, além das de resultado (Braga & Silveira & Kerbauy, 2000) e à formulação dos casos
Vandenberghe, 2006; Shinohara, 2000; Zamignani (Abreu & Abreu, 2017). Quanto às práticas de in-
& Meyer, 2007) foram conduzidas descrições e tervenção utilizadas, a análise funcional e o refor-
análises quanto aos comportamentos das clientes, çamento diferencial foram os destaques para essa
terapeutas e procedimentos. Os dados quanto à cliente, evidenciando que a análise funcional é o
P1 indicaram que as categorias Relato e Estabelece principal recurso de avaliação e de intervenção do
Relações predominaram, em termos de frequência e terapeuta comportamental (Abreu & Abreu, 2017).
duração, e que a categoria Melhora destacou-se em Ao analisar os dados relacionados à P2, pôde-
duração, de forma que o próprio relato da partici- -se observar que as categorias Relato, Estabelece
pante foi ao encontro dos escores obtidos através Relações e Queixas e Dificuldades predominaram
das correções dos instrumentos. As categorias da no comportamento da participante, em termos de
terapeuta que se apresentaram com maior frequên- frequência e duração, destacando-se a categoria
cia foram facilitação, solicitação de relato, solicitação Queixas e Dificuldades. As categorias da terapeuta
de reflexão e aprovação; já em termos de duração, as 2 que se apresentaram com maior frequência foram
categorias recomendação, informação e aprovação Facilitação e Solicitação de Relato, e as categorias
também foram destaques. As categorias comporta- Solicitação de Reflexão, Recomendação, Informação,
mentais de terapeutas e clientes concordaram, em Interpretação e Sumarização se destacaram em ter-
parte, com Garcia et al. (2017) que também veri- mos de duração. Análise funcional e reforçamento
ficaram, em universitários com fobia social (duas diferencial do comportamento alvo foram as que
mulheres e um homem), ser os comportamentos mais ocorreram em frequência e duração (Abreu
de facilitação e concordância do terapeuta os mais & Abreu, 2017).
frequentes. Em Garcia et al. (2017) também o tema Ao analisar os resultados de frequência e dura-
mais trabalhado foi sobre relações interpessoais, ção das categorias de comportamentos das terapeu-
especialmente nas interações com parceiros amo- tas, observou-se que houve maior diversidade de
rosos. Na presente investigação destacaram-se tam- categorias da terapeuta 2, favorecendo a hipótese de
bém solicitação de reflexão e aprovação quanto ao que o repertório de entrada da P2, com maior difi-
repertório das terapeutas e de comportamentos de culdades, exigiu maior diversidade no manejo desta
relato, de estabelecimento de relações, de melhora e terapeuta. O estudo de Orti et al. (2015) também
de autoconhecimento/autocontrole das clientes, tal verificou que a ocorrência de respostas do terapeu-
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