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29/06/2021 Quase 1 ano após explosão em Beirute, Líbano afunda em catástrofe econômica - 28/06/2021 - Mundo - Folha

ORIENTE MÉDIO
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Quase 1 ano após explosão em Beirute, Líbano


afunda em catástrofe econômica
Depois de diminuir 20% no ano passado, PIB deve encolher 9,5% em 2021; libra
libanesa perdeu 90% de seu valor em relação ao dólar em menos de dois anos

28.jun.2021 às 23h15


EDIÇÃO IMPRESSA
(https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2021/06/29/)

Diogo Bercito (https://www1.folha.uol.com.br/autores/diogo-bercito.shtml)

WASHINGTON Quando o porto de Beirute explodiu


(https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/08/grande-explosao-atinge-beirute-capital-do-libano.shtml),
em
agosto de 2020, o mundo todo se virou para a cidade e lamentou sua
destruição. Depois, esqueceu-se daquele pobre lugar. No meio-tempo, porém,
o Líbano tem vivido uma crise de proporções ainda maiores do que a
explosão: a catástrofe de sua economia.

O PIB (produto interno bruto) deve encolher 9,5% neste ano, segundo o
Banco Mundial. Em 2020, já tinha diminuído 20%. A libra libanesa perdeu
90% de seu valor em relação ao dólar em menos de dois anos. Os preços
subiram, e os salários estagnaram —como consequência, mais de metade da
população vive agora abaixo da linha da pobreza e com a perspectiva de a
situação piorar ainda mais.

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O porto de Beirute, destruído após explosão em agosto de 2020, fotografado em maio deste
ano
- Dylan Collins - 27.mai.21/AFP

No início de junho, o Banco Mundial publicou um relatório alertando para o


risco de, no ritmo atual, o país viver uma das piores crises econômicas do
mundo desde meados do século 19. Entre outros fatores, a previsão leva em
conta a velocidade da redução do PIB per capita —que foi de 40% entre 2018
e 2020.

Os postos de gasolina são um exemplo do drama vivido pelos libaneses. A


inflação e o corte de subsídios têm feito motoristas se amontoarem para
conseguir abastecer seus carros após horas de espera. Os vídeos que
circulam nas redes sociais causam desalento. Em um deles, um homem
defende seu veículo segurando uma cobra na mão. Em outro, um ancião
empurra seu carro sem combustível até a bomba.

“O futuro parece bastante sombrio”, diz Mohanad Hage Ali, pesquisador do


centro de estudos Carnegie. “Chegamos a uma estrada sem saída. Vamos ter
de mudar, de um jeito ou de outro, e vivemos em uma região do mundo em

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que as coisas às vezes terminam de um modo violento.” Há notícias, nesse


sentido, de que o Exército libanês também pena para abastecer seus
veículos. Um colapso das forças de segurança, em um país repleto de
armamentos, teria um efeito catastrófico.

Não há apenas uma explicação para a crise libanesa. Um dos principais


fatores é a dívida pública que seus líderes têm empurrado com a barriga
desde o fim da guerra civil, que durou de 1975 a 1990. O país basicamente
toma empréstimos para pagar empréstimos. O Líbano deve hoje o
equivalente a 174% de seu PIB, ou seja, bem mais do que produz em um ano.
Somam-se a isso duas tragédias inesperadas, pioradas por um governo frágil:
a pandemia da Covid-19, que paralisou a economia, e a explosão do porto de
Beirute, que deixou 207 mortos e um dano de bilhões de dólares.

A situação é agravada, ainda, por uma classe política que parece incapaz —ou
desinteressada— em sujar os sapatos. O gabinete do premiê Hassan Diab
renunciou (https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/08/seis-dias-apos-explosao-em-beirute-premie-do-libano-
anuncia-renuncia-do-governo.shtml) logo após a explosão, e até agora não houve consenso

entre partidos para formar um novo governo definitivo. “Estão se recusando


a agir”, diz Hage.

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Para o analista, uma das razões para a letargia política é o fato de que os
líderes de diferentes facções estão de olho nas eleições do ano que vem.
Temem formar um governo, tomar decisões impopulares e prejudicar, assim,
as chances nas urnas. “Há um entrave político enquanto a população morre
por falta de comida, remédio e gasolina.”

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Essa crise afeta os milhares de brasileiros de origem libanesa que vivem no


país (https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/08/devastado-porto-de-beirute-tem-um-significado-historico-para-o-
brasil.shtml), em especial na região do vale do Beqaa. É o caso de Saosan Hussein

Saleh, 41, que nasceu no Brasil e migrou para o vilarejo de Sultan Yacoub em
2000. Ela faz parte de uma cooperativa de 12 mulheres que vendem
salgadinhos brasileiros congelados. As sócias têm pelejado para não fechar as
portas.

Os ingredientes que usam são quase todos importados, como leite e frango.
Com o colapso da libra libanesa, ficaram impagáveis. O vilarejo tem
eletricidade apenas quatro horas ao dia. No restante, depende de geradores
—que por sua vez dependem de combustível, também em falta. Hoje, a
Cooperativa de Sultan Yacoub —nome da empresa— produz 10% de sua
capacidade. Sobrevive da engenhosidade das sócias e da ajuda de ONGs.
“Estamos desesperadas”, diz ela.

“O que está acontecendo não é apenas uma crise econômica, mas também
social”, afirma Fadi Ahmar, professor da Universidade Libanesa. “Nós
estamos à beira de um colapso total do país.” Ele afirma que, nos últimos
anos, a infraestrutura do Estado e suas indústrias desmoronaram.

Ahmar culpa a corrupção pela situação à qual o Líbano chegou. O dinheiro


que a comunidade internacional entregou para o país, para ajudá-lo, acabou
no bolso dos políticos —até o ponto em que os credores não quiseram mais
emprestar. O professor culpa ainda a milícia radical Hizbullah, que levou o
Líbano a conflitos com Israel e com insurgentes na vizinha Síria.

Também devido à influência política dessa organização —considerada


terrorista pelos EUA—, o Líbano tem penado em conseguir negociar auxílio
econômico na beira do precipício, afirma.

“Não vejo uma saída”, diz Hage, o pesquisador do centro Carnegie. “A julgar
pelas ações que a classe política libanesa tomou no passado, imagino que
eles vão esperar sentados até a economia entrar em choque, forçando a
comunidade internacional a tomar uma atitude.”

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