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© 1986 Living Stream Ministry

Edição para a Língua Portuguesa


© 2009 Editora Árvore da Vida

Título do original em inglês:


Life-Study of Luke

ISBN 978-85-7304-373-0

Tradução: André R. Fonseca


Revisão de Tradução: Marco A. de Mello

1ª Edição — Agosto/2009 — 5.000 exemplares


ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM QUARENTA E UM
O MINISTÉRIO DO SALVADOR-HOMEM
EM SUAS VIRTUDES HUMANAS
COM SEUS ATRIBUTOS DIVINOS
DA GALILEIA PARA JERUSALÉM
(19)
Leitura Bíblica: Lc 18:9-30

Em 18:9-30 temos o ensinamento do Senhor


sobre a entrada no reino de Deus. O que é abordado
nesses versículos pode ser considerado a condição e
os requisitos para entrar no reino de Deus. Aqui o
Senhor menciona três passos: 1) humilhar-se diante
de Deus como pecador, percebendo a necessidade de
Sua propiciação (vs. 9-14); 2) ser como criancinha,
sem qualquer sentimento de preocupação (vs. 15-17);
3) seguir o Salvador vencendo o risco de ficar
ocupado pelas riquezas e por todas as outras coisas
materiais (vs. 18-30). Vamos considerar cada um
desses aspectos do ensinamento do Senhor.

HUMILHAR-SE
Em 18:9-14 vemos que, para entrar no reino de
Deus, precisamos humilhar-nos. No versículo 14 o
Senhor diz: “Todo o que a si mesmo se exalta, será
humilhado; mas o que a si mesmo se humilha, será
exaltado”. Não devemos pensar que somos alguém;
pelo contrário, devemos humilhar-nos e considerar-
nos como ninguém e nada.

A oração do fariseu
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ETUDO-VIDA DE LUCAS

Nos versículos 10-14 O Senhor conta uma


parábola de dois homens que “subiram ao templo
para orar: um, fariseu, e o outro, cobrador de
impostos” (v. 10). O Senhor sempre usava cobradores
de impostos e fariseus corno exemplos. Os versículos
11-12 relatam a oração do fariseu: “O fariseu, posto
em pé, orava consigo mesmo desta forma: Ó Deus,
graças Te dou porque não sou corno os demais
homens, roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda
corno esse cobrador de impostos; jejuo duas vezes
por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho”. A
palavra do fariseu no versículo 11, em que ele
agradece a Deus por não ser corno os demais homens,
não soa corno oração de modo nenhum; antes, soa
corno acusação aos outros. De modo semelhante, sua
palavra no versículo 12 sobre jejuar e pagar o dízimo
não soa corno oração, mas como arrogante jactância
para com Deus. Por isso, em sua oração, o fariseu
acusava os outros e se gabava junto a Deus.

A oração do cobrador de impostos


No versículo 13 vemos que um cobrador de
impostos desprezado, acusado e condenado orou de
forma a humilhar-se ao máximo: “O cobrador de
impostos, porém, estando em pé, de longe, não
queria nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia
no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim,
pecador!”. Essa palavra implica a necessidade de um
Redentor e também de propiciação. O cobrador de
impostos percebera como sua pecaminosidade
ofendia a Deus. Assim, pedia a Deus que lhe fosse
propício, que fosse apaziguado com relação a ele
mediante a propiciação, de modo que lhe fosse
misericordioso e concedesse graça.
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MENSAGEM QUARENTA E UM

Romanos 3:25 diz que Deus enviou Cristo Jesus


corno propiciatório (lit.) por meio da fé em Seu
sangue. A palavra grega para propiciatório é
hilastérion, diferente de hilasmós (propiciação) em 1
João 2:2 e 4:10, e hiláskomai (propiciar) em Hebreus
2:17. Hilasmós é aquilo que propicia, isto é, sacrifício
propiciatório pelos pecados. O Senhor Se ofereceu a
Deus como sacrifício por nossos pecados (Hb 9:28)
não só para nossa redenção, mas também para a
satisfação de Deus. Nele, corno nosso Substituto, por
meio de Sua morte vicária, Deus está satisfeito e
apaziguado. Daí Ele ser a propiciação entre Deus e
nós.
Hiláskomai (verbo) significa apaziguar,
reconciliando-se mediante a satisfação do outro, ou
seja,propiciar. Em Hebreus 2:17, o Senhor Jesus fez
propiciação por nossos pecados para reconciliar-nos
com Deus satisfazendo Suas justas exigências sobre
nós. O Senhor Jesus fez propiciação por nossos
pecados para apaziguar ajustiça de Deus, reconciliar-
nos satisfazendo a exigência da justiça de Deus.
Em Romanos 3:25 hilastérion é o propiciatório,
o lugar de propiciação. Assim, em Hebreus 9:5, essa
palavra é usada para a tampa da arca no Santo dos
Santos e, em Êxodo 25:16-22 e Levítico 16:12-16, a
Septuaginta também usa essa palavra para a
cobertura da arca. A lei dos Dez Mandamentos estava
na arca, expondo e condenando pelas suas justas
exigências o pecado do povo que ia contatar Deus.
Pela tampa da arca com o sangue da expiação
espargido sobre ela no dia da expiação, toda a
situação do lado do pecador estava plenamente
coberta. Por isso era sobre essa tampa que Deus
podia encontrar-se com o povo que quebrara Suas
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ETUDO-VIDA DE LUCAS

leis justas sem, governamentalmente falando,


qualquer contradição com Sua justiça, mesmo sob a
observação do querubim que carregava Sua glória
ofuscando a tampa da arca. O propiciatório ou
sacrifício expiatório, que prefigurava Cristo,
satisfazia todas as exigências da justiça e glória de
Deus. É a isso que Romanos 3:25 se refere. Assim, a
palavra hilastérion é usada para revelar que o Senhor
Jesus é o lugar de propiciação, o propiciatório. Como
sacrifício propiciatório, Ele foi feito plena propiciação
na cruz pelos nossos pecados e satisfez plenamente
as exigências da justiça e glória de Deus.
É significativo, portanto, que o cobrador de
impostos em Lucas 18:13 dissesse: “Deus, sê propício
a mim, pecador!”. Ele percebia que ofendera a Deus e
precisava que alguém fosse sua oferta para
propiciação de modo que Deus pudesse ser
apaziguado. Essa humilde pessoa percebera que nada
era senão pecador. Visto que fez uma oração baseada
na propiciação de Deus, ele” desceu justificado para
sua casa” (v. 14).

Humilhar-se e ser subjugado


A palavra do Senhor no versículo 14 sobre ser
justificado refere-se ao estágio inicial da salvação.
Toda pessoa salva deve humilhar-se tanto quanto o
cobrador de impostos. Na verdade, arrepender-se e
confessar os pecados é humilhar-se. Todos os salvos
são os que se humilharam e foram subjugados.
Quando jovem, eu era orgulhoso e arrogante,
nunca disposto a admitir que estava errado. Mas, um
dia, o Espírito me capturou e fui convencido,
humilhado e subjugado. A mim parecia que ninguém
era tão pecador quanto eu. Minha atitude foi
17
MENSAGEM QUARENTA E UM

exatamente a oposta do que tinha sido antes. Posso


testificar pela experiência que uma pessoa salva é
humilde, submissa. Precisamos humilhar-nos a tal
ponto que nos consideramos ninguém e nada.

SER COMO CRIANCINHAS


Depois de nos humilhar, precisamos ser como
criancinhas (vs. 15-17). Nos versículos 16-17 o Senhor
Jesus diz: “Deixai vir a Mim as crianças e não as
impeçais, porque das tais é o reino de Deus. Em
verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus
como uma criança, de modo algum entrará nele”. Por
não estar cheia de velhos conceitos e ocupada com
eles, uma criança pode facilmente receber novas
ideias. Assim, as pessoas precisam receber o reino de
Deus como algo novo, com coração desocupado,
como criança.
Todos nascemos no reino de homem e nele
estamos. A fim de entrar do reino de homem para o
reino de Deus, ser transferidos do reino humano para
o reino divino, precisamos aceitar algumas ideias
novas. Quem é capaz de recebê-las? Somente os que
são bebês, sem preocupações, são capazes de recebê-
las. Entretanto muitos salvos não querem ser como
bebês. Pelo contrário, gostam de se considerar
inteligentes e cultos, pensando que sabem tudo. Os
que têm essa atitude estão acabados no que diz
respeito a entrar no reino de Deus. Embora sejam
salvos, será difícil entrar no desfrute do jubileu. Um
requisito para entrar no reino de Deus é tornar-nos
como criancinhas.

RENUNCIARA TUDO E SEGUIR AO


SALVADOR-HOMEM
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ETUDO-VIDA DE LUCAS

Em 18:18-30 vemos que, se quisermos entrar no


reino de Deus, precisamos renunciar a tudo e seguir
o Salvador-Homem. Especificamente precisamos
renunciar às posses, aos bens materiais.

Herdar a vida eterna e ter a vida eterna


Lucas 18:18 diz: “Certo homem de posição
perguntou- lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a
vida eterna?”. Herdar a vida eterna é diferente de ter
a vida eterna. De acordo com o Evangelho de João,
ter a vida eterna é ser salvo com a vida incriada de
Deus de modo que vivamos por ela hoje e na
eternidade. Mas herdar a vida eterna é ter parte na
manifestação do reino da era vindoura. O homem de
posição em 18:18 aparentemente buscava a vida
eterna na era vindoura.
Em 18:19 o Senhor Jesus disse a esse homem de
posição: “Por que Me chamas bom? Ninguém é bom
senão um só, que é Deus”. Somente Deus é bom. Isso
salienta não só que o que fez a pergunta não é bom,
mas que também o Senhor Jesus é Deus, que é bom.
Se Ele não fosse Deus, também não seria bom.

A suprema exigência para entrar no reino de


Deus
No versículo 20 o Senhor prosseguiu dizendo ao
homem de posição: “Sabes os mandamentos: Não
adulteres, não mates, não furtes, não digais falso
testemunho, honra a teu pai e a tua mãe”. O homem
de posição respondeu: “Tudo isso tenho observado
desde minha juventude” (v. 21). Quando o Senhor
Jesus ouviu isso, disse-lhe: “Uma coisa ainda te falta:
Vende tudo o que tens e reparte-o aos pobres, e terás
17
MENSAGEM QUARENTA E UM

um tesouro nos céus; depois vem e segue-Me” (v. 22).


Aqui o Senhor chega a uma questão que Ele
enfatizara anteriormente: a renúncia às coisas
materiais. Por exemplo, em 14:33, o Senhor disse:
“Assim, pois, todo aquele dentre vós que não
renuncia a todos os seus bens, não pode ser Meu
discípulo”. Aqui vemos que seguir o Senhor exige que
O amemos acima de todas as coisas. Essa é a
suprema exigência para entrar no reino de Deus.
Em 18:22 o Senhor Jesus disse ao homem de
posição: “Uma coisa ainda te falta”. Esse homem de
posição pode ter observado os mandamentos da
velha lei, mas ainda lhe faltava uma coisa. Ele não
estava disposto a vender o que tinha, ter um tesouro
nos céus e seguir ao Senhor.
Lucas 18:23 diz: “Mas, ouvindo ele isso, ficou
muito triste, porque era riquíssimo”. Amar posses
materiais acima do Senhor entristece a pessoa, mas
os que amam a Cristo acima de todas as coisas são
cheios de alegria por perder suas posses (Hb 10:34).
Os versículos 24-25 dizem: “E Jesus, vendo que
ele ficara muito triste, disse: Quão dificilmente
entram no reino de Deus os que têm riquezas!
Porque é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de
uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus”.
O termo grego para “agulha” aqui é diferente do que
está em Mateus e Marcos. O termo aqui salienta uma
agulha de cirurgião. A palavra aqui indica a
impossibilidade de entrar no reino de Deus pela vida
natural.

A salvação e o reino de Deus


No versículo 26 vemos que os que ouviram a
palavra do Senhor disseram: “Então quem pode ser
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ETUDO-VIDA DE LUCAS

salvo?”. Os ouvintes, como a maioria dos cristãos


hoje, confundem salvação com o reino de Deus. A
palavra do Senhor ao homem de posição dizia
respeito a entrar no reino de Deus, mas os discípulos
pensavam que se referia à salvação. Eles tinham o
conceito natural e comum de ser salvo. Eles não se
agarravam à revelação do Senhor sobre entrar no
reino de Deus.
No versículo 27 o Senhor prosseguiu: “As coisas
impossíveis aos homens são possíveis a Deus”. Pela
vida humana é impossível entrar no reino de Deus,
mas é possível pela vida de Deus, a vida divina, que é
o próprio Cristo transmitido a nós de modo que
tenhamos o viver do reino. Podemos cumprir as
exigências do reino por Cristo, que nos fortalece para
fazer todas as coisas (Fp 4:13).
No versículo 28 Pedro disse ao Senhor: “Eis que
nós deixamos as nossas próprias coisas e Te
seguimos”. Pedro aqui, de forma jactanciosa, dizia:
“Senhor, deixamos tudo para Te seguir. Deixamos
barcos, redes e o mar da Galileia. Deixamos tudo
para trás e agora estamos Contigo a caminho de
Jerusalém. Senhor, que vamos ganhar com isso? Que
nos pagarás por deixar tudo, até mesmo nosso país,
para Te seguir? Até aqui, nada recebemos. Que nos
darás, Senhor?”.
Nos versículos 29-30 temos a resposta do
Senhor: “Em verdade vos digo que ninguém há que
tenha deixado casa, ou mulher, ou irmãos, ou pais,
ou filhos, por causa do reino de Deus, que não receba
em troca muitas vezes mais neste tempo, e no século
vindouro a vida eterna”. No versículo 29 o Senhor
diz: “por causa do reino de Deus”, mas Mateus 19:29
diz: “por causa do Meu nome”. Isso demonstra que o
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MENSAGEM QUARENTA E UM

Salvador é equivalente ao reino de Deus. Como vimos,


isso é também salientado pela palavra do Senhor em
Lucas 17:21, onde Ele diz aos fariseus: “eis que o
reino de Deus está no meio de vós”, referindo-se a Si
mesmo. O reino de Deus é o próprio Salvador. Onde
quer que o Salvador esteja, aí está o reino de Deus.
Em Lucas 18:30 o Senhor fala de receber a vida
eterna na era vindoura. Essa é a vida que os crentes
vencedores desfrutarão no reino vindouro. Entrar
nesse desfrute na era vindoura é entrar no reino
vindouro e participar em seu desfrute da vida eterna.
Quando Pedro fez a afirmação registrada no
versículo 28, ele ainda não estava no reino, mas
estava pelo menos pisando o limiar. Ele estava muito
próximo de entrar no reino; porém ainda estava um
pouco orgulhoso e precisava de uma palavra
adicional do Senhor.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM QUARENTA E DOIS


O MINISTÉRIO DO SALVADOR-HOMEM
EM SUAS VIRTUDES HUMANAS
COM SEUS ATRIBUTOS DIVINOS
DA GALILEIA PARA JERUSALÉM
(20)
Leitura Bíblica: Lc 18:31-19:10

Nesta mensagem abordaremos 18:31-19:10,


trecho que aborda três questões: o Senhor desvenda
Sua morte e ressurreição pela terceira vez (vs. 31-34),
cura um cego perto de Jericó (vs. 35-43) e salva
Zaqueu em Jericó (19:1-10).

O SENHOR DESVENDA SUA MORTE E


RESSURREIÇÃO
PELA TERCEIRA VEZ
Enquanto o Salvador-Homem fazia a longa
jornada da Gali1eia para Jerusalém, Ele falou aos
discípulos sobre muitas coisas. Em 18:31 Ele tomou
os doze à parte a fim de falar- lhes em particular.
Essa palavra proferida em particular aos discípulos
dizia respeito à Sua ida a Jerusalém para morrer.
Nos versículos 31-33 essa palavra é registrada
com alguns detalhes: “Eis que subimos para
Jerusalém, e se cumprirá tudo o que foi escrito por
intermédio dos profetas a respeito do Filho do
Homem; pois será Ele entregue aos gentios, e
escarnecido, ultrajado e cuspido; e, depois de o
açoitarem, matá-Lo-ão; ao terceiro dia ressuscitará”.
É significativo que no versículo 31 o Senhor não diga:
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MENSAGEM QUARENTA E DOIS

“Eis que subo para Jerusalém”; antes, Ele diz: “Eis


que subimos para Jerusalém”.
Essa foi a terceira vez que o Senhor Jesus
revelou Sua morte aos discípulos. A primeira foi em
Cesareia de Filipe, antes de Sua transfiguração (9:22).
A segunda foi na Galileia, depois de Sua
transfiguração (9:44-45). Dessa vez, a terceira, foi a
caminho de Jerusalém. Essa revelação era uma
profecia, totalmente estranha ao conceito natural dos
discípulos, e ainda assim cumprida literalmente em
cada detalhe.
Vimos que o Salvador-Homem já predissera Sua
morte e ressurreição duas vezes. Visto que a hora de
Sua morte havia chegado, Ele ia para Jerusalém. Essa
era Sua obediência a Deus até a morte (Fp 2:8), de
acordo com o conselho de Deus (At 2:23), para o
cumprimento de Seu plano redentor (Is 53:1 O). Ele
sabia que por meio de Sua morte seria glorificado em
ressurreição (Lc 24:25- 26) e Sua vida divina seria
liberada para produzir muitos irmãos para Sua
expressão (Jo 12:23-24; Rm 8:29). Em troca da
alegria que Lhe estava proposta, Ele desprezou a
vergonha (Hb 12:2) e voluntariamente se entregou
aos líderes dos judeus usurpados por Satanás para
ser condenado por eles à morte. Por causa disso,
Deus O exaltou aos céus, fê-Lo assentar à Sua direita
(Me 16:19; At 2:33-35), deu-Lhe o nome que está
acima de todo nome (Fp 2:9-10), fê-Lo Senhor e
Cristo (At 2:36) e O coroou com glória e honra (Hb
2:9).
Lucas 18:34 diz: “Mas eles nada entenderam
dessas coisas; e essa palavra era-lhes oculta, e não
sabiam o que se lhes dizia”. Podemos comparar a
palavra do Salvador-Homem aos discípulos sobre
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ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Sua morte a uma música maravilhosa tocada para


quem não a aprecia muito. Os discípulos não eram
capazes de apreciar a “música” “tocada” para eles
pelo Senhor. Eles não compreenderam nada do que
Ele dissera. Embora usasse palavras simples, eles não
podiam compreender o que Ele dizia.
Por que os discípulos não eram capazes de
assimilar a palavra do Senhor sobre Sua morte e
ressurreição? O motivo era que estavam totalmente
em outro reino, em seu próprio reino. Uma vez eles
estavam em seu próprio reino, não tinham coração
dedicado às coisas do reino de Deus.

A CURA DE UM CEGO PERTO DE JERICÓ


O fato de o Senhor desvendar Sua morte e
ressurreição pela terceira vez está relacionado com a
cura do cego perto de Jericó. Na verdade, Seus
discípulos estavam cegos e necessitados de cura. Não
conseguiam compreender o que o Senhor dizia sobre
Sua morte e ressurreição porque lhes faltava
percepção e sensibilidade. Por isso, depois da terceira
revelação de Sua morte e ressurreição, temos o caso
da cura de um cego.

Uma sequência de acordo com a moralidade


Lucas 18:35 diz: “Aconteceu que, ao aproximar-
se Ele de Jericó, estava um cego assentado à beira do
caminho, mendigando”. Aqui parece haver um
problema com respeito a Jericó. No capítulo dez, o
Senhor foi recebido na casa de Marta, e seu lar era
em Betânia. Em Sua jornada da Galileia para
Jerusalém, o Senhor teria vindo a Jericó antes de
chegar a Betânia, e depois teria ido de Betânia para
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MENSAGEM QUARENTA E DOIS

Jerusalém. Por que, então, Betânia é mencionada no


capítulo dez e Jericó claramente é mencionada no
dezenove? Será que isso significa que Ele veio a
Betânia e depois voltou a Jericó? Não; na verdade,
Ele fora recebido por Marta depois de ter passado
por Jericó. Mas no capitulo dez Lucas não se importa
com a geografia ou com a sequência histórica;
importa-se com o alto padrão de moralidade. Essa é
evidência categórica para mostrar que a narrativa de
Lucas não está de acordo com a sequência dos
eventos históricos, mas de acordo com a moralidade.

Vista e salvação
Já enfatizamos que o versículo 35 diz que o
Senhor se aproximou de Jericó. Os versículos
seguintes dizem que perto de Jericó o Salvador-
Homem curou um cego. Isso quer dizer que Ele
curou o cego antes de entrar em Jericó, mas, de
acordo com Mateus 20:29 e Marcos 10:46, a cura
ocorreu quando Ele saía de Jericó. A narrativa de
Lucas possui significado espiritual. A salvação de
Zaqueu em 19:1-9 veio logo depois de o cego
recuperar a vista. Isso indica que, para receber a
salvação, é preciso primeiro recobrar a vista para ver
o Salvador. Esses dois casos, que ocorreram em
Jericó um após o outro, devem ser considerados,
espiritualmente, como um caso completo. Um
pecador em trevas precisa recobrar a vista para
perceber que necessita de salvação (At 26:18).
O que é abordado em 18:35-19:10 mostra como
alguém pode preencher as condições reveladas nos
versículos 9-30 para entrar no reino de Deus:
primeiro, deve recuperar a vista por meio do
Salvador (vs. 35-43) e, em seguida, deve receber o
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ESTUDO-VIDA DE LUCAS

próprio Salvador como salvação dinâmica (19: l- 10).


Desse modo, o cego pôde ser como o cobrador de
impostos arrependido e como a criança livre de
preconceitos, e receber o Salvador; e Zaqueu pôde
renunciar a todas as suas riquezas e segui-Lo.

O cego representa os discípulos


Quando o cego próximo de Jericó ouviu que
Jesus passava, gritou: “Jesus, Filho de Davi, tem
misericórdia de mim!” (v. 38). “Jesus, Filho de Davi”
é o título real de Cristo para os filhos de Israel.
Somente os filhos de Israel tinham o privilégio de se
dirigir ao Senhor dessa forma.
Os versículos 40-41Continuam: “Então, parando
Jesus, mandou que lho trouxessem. E, tendo ele se
aproximado, perguntou-lhe: Que queres que Eu te
faça? Respondeu ele:
Senhor, que eu recupere avista”. A pergunta do
Senhor no versículo 41 mostra amor para com esse
necessitado. Isso expressa a humanidade do
Salvador-Homem a um ponto inimaginável. O
Senhor, então, disse ao cego: “Recupera a tua vista; a
tua fé te salvou” (v. 42). Literalmente a palavra grega
traduzida por “salvou” também pode significar curou.
No mesmo instante o homem recuperou a vista e
seguia o Senhor, glorificando a Deus (v. 43).
Depois que o Senhor revelou Sua morte e
ressurreição aos doze pela terceira vez, eles ainda
estavam cegos, Assim, foram representados pelo cego
perto de Jericó. O fato de o Senhor curar o cego
representa que Ele lidou com a cegueira dos doze
discípulos.
Aqui eu gostaria de dizer novamente que não é
fácil entender a Bíblia. Para se compreender as
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MENSAGEM QUARENTA E DOIS

Escrituras, não basta conhecer as letras pretas no


papel branco. Se quisermos compreender a Bíblia,
precisamos conhecer o espírito do livro específico
que estamos lendo. O encargo no espírito de Lucas
nessa parte do capítulo dezoito foi mostrar-nos que
todos os seguidores do Senhor, até mesmo os doze
escolhidos, estavam cegos. Os fariseus não eram os
únicos incapazes de ver a realidade espiritual do
reino de Deus. Podemos dizer que os doze eram os
principais carentes dessa capacidade. Três deles:
Pedro, Tiago e João, estiveram com o Senhor no
monte da transfiguração. Embora tivessem visto
muito no monte, na verdade, num sentido espiritual,
não viram nada porque estavam cegos. Por isso o
cego não era somente o que era homem perto de
Jericó; todos ao redor do Senhor também o eram.

Nossa necessidade de receber a cura do


Senhor
Estou preocupado com a situação dos crentes
hoje, inclusive a nossa. Alguns de nós podem ainda
estar espiritualmente cegos. Talvez precisemos orar:
“Ó Senhor, tem misericórdia de mim. Preciso de Ti
para curar minha cegueira. Senhor, quero receber
minha vista”.
Marcos 4:12 salienta que podemos ver e não
perceber, ouvir e não compreender. Uma vez que
essa pode ser nossa condição, precisamos orar para
que o Senhor tenha misericórdia de nós. Também
precisamos esvaziar-nos a fim de ver a realidade
espiritual do reino de Deus.
Os fariseus pensavam que viam muito e se
consideravam alguém. Na verdade, não eram
ninguém. Eram até mais vazios do que os cobradores
188
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

de impostos. De modo semelhante, embora os


discípulos seguissem o Senhor Jesus desde o início
de Seu ministério e vissem as coisas que nele
ocorreram, eles continuavam cegos. Como já
enfatizamos, podemos também ser espiritualmente
cegos. Alguns de nós têm estado no Senhor por anos
a fio. Subconscientemente podemos pensar que
sabemos muito, mas na verdade precisamos ver de
fato. Por isso precisamos da cura do Senhor. Em Sua
presença precisamos ter a profunda convicção de que
nada somos, nada sabemos e precisamos Dele para
dar-nos vista.
Em nossa leitura do Evangelho de Lucas,
podemos imaginar por que o caso da cura de um cego
perto de Jericó é registrado tão longe na narrativa.
Podemos pensar que esse caso pertence a um
episódio bem anterior no livro, talvez no setor que
relata o ministério do Senhor na Galileia. Todavia,
em Lucas 18, quando o Senhor estava muito próximo
de Jerusalém, temos a narrativa dessa cura. Esse
caso indica que os seguidores do Salvador-Homem
precisavam Dele para curar sua cegueira,

A SALVAÇÃO DE ZAQUEU EM JERICÓ


Em 19:1-10 temos o relato do Senhor salvando
Zaqueu em Jericó. O versículo 1 diz: “Tendo entrado
em Jericó, atravessava Ele a cidade”. Vimos que
Jericó era uma cidade de maldição (Js 6:26; 1 Re
16:34).
Lucas 19:2 diz: “Eis que havia ali um homem
chamado pelo nome de Zaqueu; era ele chefe dos
cobradores de impostos e era rico”. Os cobradores de
impostos coletavam os impostos arrecadados pelos
romanos. Quase todos abusavam do ofício, exigindo
18
MENSAGEM QUARENTA E DOIS

mais do que deviam mediante falsa acusação (Lc


3:12-13; 19:8). Pagar impostos aos romanos era
muito amargo para os judeus. Os que se envolviam
na cobrança eram desprezados pelo povo e reputados
como indignos de qualquer respeito (Lc 18:9- 10).
Eles sempre defraudavam as pessoas. Assim, eram
classificados como pecadores (Mt 9:10-11).
De acordo com Lucas 19:3-6, a fim de ver o
Senhor Jesus, Zaqueu, que era de baixa estatura,
subiu num sicômoro. Quando o Senhor chegou ao
lugar, olhou para cima e disse-lhe: “Zaqueu, desce
depressa, pois importa que eu fique hoje em tua casa”
(v. 5). Zaqueu desceu e recepcionou o Senhor,
jubiloso. Mas os que viram isso “murmuravam,
dizendo: Ele entrou para hospedar-se com um
homem pecador” (v. 7).
Em 19:8 Zaqueu disse: “Senhor, eis que dou aos
pobres a metade dos meus bens; e, se alguma coisa
tomei a alguém mediante falsa denúncia, restituo-a
quatro vezes mais”. Aqui vemos que, uma vez que um
pecador recebe o Salvador, o resultado dessa salvação
dinâmica é resolver a questão dos bens materiais e
clarificar a vida pecaminosa passada.
A expressão grega para “alguma coisa tomei” no
versículo 8 é a mesma palavra empregada em 3:14. É
uma maneira amena de dizer “extorqui”. Os
cobradores de impostos atribuíam valor mais elevado
a uma propriedade ou renda, ou aumentavam o
imposto dos que não podiam pagar, e, então,
praticavam a usura.
Zaqueu disse ao Senhor que, se tivesse tomado
qualquer coisa por meio de falsas acusações, ele
restituiria quatro vezes mais. Isso estava conforme os
requisitos da lei para restituição (Êx 22:1; 2Sm 12:6).
190
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Em Lucas 19:9 o Senhor Jesus prossegue


dizendo a Zaqueu: “Hoje veio a salvação a esta casa,
pois que também este é filho de Abraão”. Por mais
maligno que fosse esse cobrador de impostos, ele era,
não obstante, filho de Abraão, herdeiro escolhido da
herança prometida por Deus (GI3:7, 29).
No versículo 10 o Senhor diz: “Porque o Filho do
Homem veio buscar e salvar o que estava perdido”.
Isso salienta que a ida do Salvador a Jericó não fora
acidental, mas proposital. Ele foi a Jericó de
propósito para buscar esse único pecador perdido,
assim como Ele buscou a mulher pecadora em
Samaria (Jo 4:4).
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM QUARENTA E TRÊS


O MINISTÉRIO DO SALVADOR-HOMEM
EM SUAS VIRTUDES HUMANAS
COM SEUS ATRIBUTOS DIVINOS
DA GALILEIA PARA JERUSALÉM
(21)
Leitura Bíblica: Lc 19:1-27

Vamos considerar nesta mensagem 19:1- 2 7.


Esse trecho de Lucas aborda duas questões: a
salvação de Zaqueu em Jericó (vs. 1-10) e o
ensinamento do Senhor sobre fidelidade (vs. 11-27).

A SALVAÇÃO DE ZAQUEU
Um dos maiores pecadores
Lucas 19:1-2 diz: “Tendo entrado em Jericó,
atravessava Ele a cidade. Eis que havia ali um
homem chamado pelo nome de Zaqueu; era ele chefe
dos cobradores de impostos, e era rico”. Como chefe
dos cobradores de impostos, Zaqueu era um dos
maiores pecadores, um grande pecador. Ele se tomou
rico por meio de sua pecaminosidade como cobrador
de impostos.
Em sua confissão ao Senhor, relacionada com a
restituição e clarificação do passado, Zaqueu Lhe
disse: “Eis que dou aos pobres a metade dos meus
bens; e, se alguma coisa tomei a alguém mediante
falsa denúncia, restituo-a quatro vezes mais” (v. 8).
Podemos considerar as palavras “se alguma coisa
tomei” como eufemismo, uma maneira suave de se
referir a extorsão. Os cobradores de impostos
19
MENSAGEM QUARENTA E TRÊS

imputavam alto valor à propriedade ou aumentavam


o imposto daqueles incapazes de pagar e, então,
impunham altos juros. Essa era a maneira de
extorquir os outros. Como Zaqueu procurava restituir,
ele se referiu a essa extorsão. O que Zaqueu fez,
restituindo quatro vezes mais a quantia extorqui da,
era muito honesto. Entretanto ele ainda se referiu a
seus atos de extorsão de maneira eufemística. Visto
que ficou rico sendo pecador, Zaqueu agora queria
fazer plena restituição a fim de limpar seu passado
pecaminoso.

Buscava ver Jesus


Lucas 19:3-4 diz: “Procurava ele ver quem era
Jesus, e não podia, por causa da multidão, porque era
de pequena estatura. E correndo adiante, subiu a um
sicômoro a fim de vê-Lo, porque era de pequena
estatura”. Embora Zaqueu subisse a uma árvore para
ver o Senhor Jesus, é-nos dito não que ele viu o
Senhor, mas que o Senhor o viu: “Quando Jesus
chegou àquele lugar, olhando para cima, disse-lhe:
Zaqueu, desce depressa, pois importa que eu fique
hoje em tua casa” (v. 5). Foi o Senhor quem viu, e não
Zaqueu. Novamente vemos o alto padrão de
moralidade do Salvador-Homem ao salvar pecadores.
Nada foi feito pelo pecador; tudo foi feito pelo
Salvador, até mesmo ver. No versículo 6 é-nos dito
que Zaqueu “desceu a toda a pressa e O recebeu com
alegria”.

O Salvador-Homem ficou na casa de Zaqueu


Zaqueu com certeza era alguém isolado. Era
desprezado ao máximo pela comunidade judaica,
194
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

mais isolado ainda que um leproso. Principalmente


os fariseus, os campeões em hipocrisia na religião
judaica, não se importavam com ele. À sua ótica, ele
era mais impuro do que um leproso. Entretanto,
diante de uma grande multidão, o Salvador disse a
Zaqueu: “Hoje veio a salvação a esta casa”. Que
grande surpresa foi para Zaqueu e para todos na
multidão! A cidade inteira de Jericó deve ter ficado
abalada por isso. O versículo 7 diz: “Vendo isso, todos
murmuravam, dizendo: Ele entrou para hospedar-se
com um homem pecador”.
19
MENSAGEM QUARENTA E TRÊS

O resultado espontâneo do poder dinâmico


da salvação do Senhor
Nos versículos 1-7 não lemos que o Senhor falou
muito com Zaqueu. Zaqueu, porém, respondeu de
forma muito vigorosa, reconhecendo o Salvador
como seu Senhor:
“Zaqueu, levantando-se, disse ao Senhor: Senhor, eis
que dou aos pobres a metade dos meus bens” (v. 8).
Zaqueu pôde proferir essa palavra, embora não
tivesse ouvido o ensinamento do Salvador-Homem
sobre bens materiais.
A caminho da Galileia a Jerusalém o Salvador
falou sobre bens materiais várias vezes. A primeira
vez foi no capítulo doze. Quando alguém fora da
multidão Lhe pediu que dissesse a seu irmão que
dividisse a herança, Ele disse: “Tende cuidado e
guardai-vos de toda cobiça; porque a vida de um
homem não consiste na abundância dos bens que ele
possui” (12:15). Depois, em 14:33, o Salvador
prosseguiu: “Assim, pois, todo aquele dentre vós que
não renuncia a todos os seus bens, não pode ser Meu
discípulo”. Em Lucas 16 Ele falou aos discípulos
sobre o mamam da injustiça e depois fez uma
advertência aos ricos. No capítulo dezessete Ele falou
sobre bens materiais com relação ao arrebatamento
dos vencedores: “Naquele dia, quem estiver sobre o
eirado e tiver os seus bens em casa, não desça para
tirá-los; e, de igual modo, o que estiver no campo não
volte para as coisas que deixou atrás” (v. 31). Depois
disso, em 18:22, Ele disse ao homem de posição:
“Vende tudo o que tens e reparte-o aos pobres, e
terás um tesouro nos céus; depois vem e segue-Me”.
Em todos esses exemplos vemos que o Salvador-
196
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Homem falou repetidamente sobre bens materiais.


Zaqueu, é claro, não ouvira nada disso. Contudo,
reagindo à palavra do Senhor, disse que metade de
seus bens daria aos pobres.
Vimos que no versículo 8 Zaqueu prosseguiu
dizendo ao Senhor: “Se alguma coisa tomei a alguém
mediante falsa denúncia, restituo-a quatro vezes
mais”. O que Zaqueu fez aqui estava de acordo com
as exigências da lei da restituição (Êx 22: I; 2 Sm
12:6). Esse foi o resultado espontâneo do poder
dinâmico da salvação do Senhor.
No caso da salvação de Zaqueu em Jericó, vemos
que a salvação do Senhor é na verdade o próprio
Senhor. No versículo 5 Ele diz: “Importa que eu fique
hoje em tua casa”. Mas no versículo 9 Ele diz a
Zaqueu: “Hoje veio a salvação a esta casa”. Quando
juntamos esses versículos, vemos que “eu” no
versículo 5 é igual a “salvação” no versículo 9. Isso
indica que a salvação é na verdade o próprio Senhor.
Quando Ele vem, a salvação vem. Onde quer que Ele
fique, lá fica a salvação.

Um cativo sob opressão


Já enfatizamos que a forma como Zaqueu reagiu
ao Salvador-Homem foi causada pelo poder
dinâmico de Sua salvação. O Salvador-Homem tem
um poder dinâmico, que é o Espírito Santo. Ele
ministrou o jubileu pelo Espírito Santo. Em Lucas 4
Ele proclamou que o Espírito do Senhor estava sobre
Ele porque fora ungido para proclamar libertação aos
cativos. O Senhor fora designado e ungido para
proclamar o jubileu a todos os oprimidos.
À vista dos religiosos, principalmente dos
fariseus, Zaqueu era um pecador principal porque era
19
MENSAGEM QUARENTA E TRÊS

chefe dos cobradores de impostos, mas, aos olhos do


Salvador-Homem, ele era um cativo sob opressão.
Antes de ter subido à árvore para ver o Salvador,
Zaqueu pode ter refletido muito sobre como ser
liberto de sua condição pecaminosa. Como judeu, ele
deve ter sido condenado pela consciência por
trabalhar como cobrador de impostos a fim de
ajuntar tributos para os imperialistas romanos.
Assim, ele foi condenado por sua consciência como
traidor de seu país. Por isso ele pode ter tentado sair
de sua condição pecaminosa, mas era incapaz de
fazê-lo por ser cativo e oprimido.

Buscar e salvar o perdido


Lucas 19:10 diz: “Porque o Filho do Homem veio
buscar e salvar o que estava perdido”. Aqui vemos
que Zaqueu não só era pecador, mas também perdido.
O Salvador foi a Jericó de propósito para buscar e
salvar o perdido.
A busca do Senhor por Zaqueu em Lucas 19 pode
ser comparado à Sua busca pela mulher samaritana
em João 4. O Salvador disse a Zaqueu: “Importa que
eu fique hoje em tua casa”, e João 4:4 diz que “era-
Lhe necessário atravessar a província de Samaria”.
Era-Lhe necessário passar por Samaria a fim de
encontrar uma samaritana perdida. O Senhor foi lá
buscá-la e salvá-la. O mesmo aconteceu em Lucas 19.
O Senhor tinha de ficar na casa de Zaqueu a fim de
salvar sua pessoa perdida.

A salvação, o jubileu e o reino


Em 19:1-1 O vemos que, onde quer que o
Salvador-Homem estivesse, aí estava também a
198
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

salvação, porque Ele mesmo é salvação. Além disso,


quando essa salvação está presente, o reino de Deus
também está, e o reino de Deus é o jubileu. Por isso,
quando o Senhor entrou na casa de Zaqueu, isso foi
um jubileu não só para um indivíduo, mas para a
casa inteira. Quando o Senhor entrou em sua casa, a
salvação foi àquela casa.
Podemos dizer que o caso da cura do cego
próximo de Jericó e o caso da salvação de Zaqueu em
Jericó são um só. No primeiro caso, o cego recupera a
vista da parte do Salvador e, no segundo, Zaqueu
recupera o Salvador como salvação dinâmica. Isso
indica que primeiro recuperamos a vista da parte do
Salvador e depois O recebemos. Esse Salvador é
salvação, e salvação é o reino de Deus como o jubileu.
Agora podemos perceber que em 19:1-10 um pecador
principal é introduzido no jubileu da graça. Hoje ele
pode desfrutar o Salvador e o reino de Deus porque
está no reino de Deus e o desfruta como seu jubileu.

O ENSINO ACERCA DA FIDELIDADE


Lucas 19:11 diz: “Ouvindo eles essas coisas,
acrescentou Jesus uma parábola, visto estar Ele perto
de Jerusalém e julgarem eles que o reino de Deus
havia de manifestar-se imediatamente”. Essa
parábola adicional é espiritualmente continuação do
caso anterior de salvação. Ela descreve como os
salvos devem servir o Senhor a fim de herdar o reino
vindouro.

Um homem de nobre nascimento


O versículo 12Continua: “Disse pois: Certo
homem de nobre origem partiu para uma terra
19
MENSAGEM QUARENTA E TRÊS

distante, a fim de tomar posse de um reino e voltar”.


Esse homem de nobre nascimento representa o
Salvador, que possui a posição mais elevada, a
posição de Homem-Deus. A palavra “partiu”
representa a ida do Salvador aos céus depois de Sua
morte e ressurreição (24:51; 1Pe 3:22), e “voltar”
representa a volta do Salvador com o reino (Dn 7:13-
14; Ap 11:15; 2Tm 4:1).

A porção comum dada a cada escravo


No versículo 13 a parábola continua: “Chamando
dez servos seus, deu-lhes dez minas e disse-lhes:
Negociai até que eu venha”. Na parábola de Mateus
25:14-30 os servos receberam um número variado de
talentos segundo a habilidade de cada um; aqui a
parábola enfatiza a porção comum dada igualmente a
cada servo com base na salvação comum. Todavia a
questão abordada pelas duas parábolas é a mesma: a
fidelidade dos servos determinará a porção, isto é, o
galardão, que receberão no reino vindouro.
De acordo com o versículo 13 o homem de nobre
nascimento deu dez minas aos servos. Essa soma de
dinheiro é igual a cem dracmas, ou o salário de cem
dias.

Os judeus incrédulos
O versículo 14 diz: “Mas os seus cidadãos o
odiavam, e enviaram após ele uma embaixada,
dizendo: Não queremos que este reine sobre nós”. Os
cidadãos representam os judeus incrédulos. Sua
declaração de que não queriam que o Senhor reinasse
sobre eles foi cumprida em Atos 29.

Os bons escravos e o mau escravo


200
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Os versículos 15-17 prosseguem: “E aconteceu


que, quando ele voltou, depois de haver tomado
posse do reino, mandou chamar a si aqueles servos a
quem dera o dinheiro, a fim de saber o que eles
tinham ganhado, negociando. Apresentou-se o
primeiro e disse: Senhor, a tua mina rendeu dez
minas. Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom,
porque foste fiel no mínimo, terás autoridade sobre
dez cidades”. Ter autoridade sobre dez cidades
representa o reinar dos vencedores sobre as nações
(Ap 2:26; 20:4, 6).
Os versículos 18-19 dizem: “Veio o segundo,
dizendo: Senhor, a tua mina produziu cinco minas. A
este também disse: Sê tu também sobre cinco
cidades”. Isso indica que haverá diferenças na
extensão do galardão dos santos vencedores no reino
vindouro.
Os versículos 20-21 dizem: “E veio outro,
dizendo: Senhor, eis aqui a tua mina, que eu mantive
guardada num lenço; pois tinha medo de ti, porque
és homem severo: tiras o que não depositaste e ceifas
o que não semeaste”. A palavra “guardada” no
versículo 20 significa como os crentes infiéis mantêm
sua salvação de maneira ociosa em vez de usá-la
produtivamente. A palavra “tinha medo” no versículo
21 é negativa. Devemos ser positivos e intrépidos em
usar o dom do Senhor.
Os versículos 22-23 continuam: “Respondeu-lhe:
Servo mau, pela tua boca te julgarei. Sabias que eu
sou homem severo, que tiro o que não depositei e
ceifo o que não semeei; por que, pois, não puseste o
meu dinheiro no banco? e eu, ao vir, o receberia com
juros”. A obra do Senhor sempre parece começar do
zero. Aparentemente Ele exige que trabalhemos para
20
MENSAGEM QUARENTA E TRÊS

Ele sem nada, tirando o que Ele não depositou e


ceifando o que Ele não semeou. Isso não deve ser
desculpa para negligenciar o uso de nosso dom; pelo
contrário, deve forçar-nos a exercitar a fé para usar
nosso dom ao máximo.
Colocar o dinheiro no banco significa usar o dom
do Senhor para salvar pessoas e ministrar Suas
riquezas a elas. “Juros” no versículo 23 representa o
resultado lucrativo que ganhamos para a obra do
Senhor usando Seus dons.
Os versículos 24-26 continuam: “E disse aos que
estavam presentes: Tirai-lhe a mina, e dai-a ao que
tem as dez minas. Responderam-lhe: Senhor, ele já
tem dez minas. Digo-vos que a todo o que tem se lhe
dará; mas ao que não tem, até o que tem lhe será
tirado”. Esse tirar a mina significa que o dom do
Senhor será tirado dos crentes preguiçosos no reino
vindouro. Dar as minas a alguém que já tem dez
significa que o dom dos crentes fiéis será aumentado.
Todo cristão que obtém lucro na era da igreja obterá
mais dons na era vindoura do reino. Mas do que não
teve lucro na era da igreja até o dom que tem lhe será
tirado na era vindoura do reino.
No versículo 27 a parábola conclui: “Quanto,
porém, a esses meus inimigos, que não quiseram que
eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e matai-os na
minha presença”. Isso significa que todos os judeus
incrédulos que rejeitaram o Salvador perecerão.

A necessidade de servir fielmente


Precisamos compreender por que a parábola
adicional em 19:11-27 segue o caso de Zaqueu. O
motivo é que, depois de salvos, precisamos servir ao
Senhor fielmente. Vemos a mesma coisa no capítulo
202
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

dez, onde o caso de Marta e Maria segue a parábola


do bom samaritano. Isso indica que, depois da
salvação, precisamos servir. A mesma ideia ocorre
nos capítulos 14, 16 e 17. Agora, outra vez no capítulo
dezenove, vemos que depois da salvação precisamos
cuidar do serviço do Senhor.
Como vimos, essa parábola começa com uma
palavra sobre “certo homem de nobre nascimento”.
Sem dúvida, esse é o Homem-Deus. Ele com certeza
tinha nobre nascimento. Gosto da expressão “nobre
nascimento”. Nenhum de nós teve nobre nascimento.
O Senhor Jesus é o único cujo nascimento foi nobre
porque Seu nascimento foi o de um Homem-Deus.
A parábola em 19:11-27 lembra a de Mateus
25:14-30. Contudo em Mateus 25 o Senhor deu
talentos a Seus escravos segundo a capacidade de
cada um (Mt 25:14- 15), mas em Lucas 19:11-27 os
dons, as minas, são dadas igualitariamente, uma vez
que a parábola enfatiza a porção comum dada
igualitariamente a cada escravo, com base na
salvação comum. Porém cada parábola ressalta que,
depois de salvos, precisamos servir fielmente.
Precisamos usar o que nos foi dado. Recebemos a
vida divina com seus atributos e o Espírito Santo com
Seus dons. Como os que receberam os dons da vida
divina e o Espírito Santo, precisamos usar esses dons
como o “capital” para “fazer negócios” e ter “lucros”
para o Senhor.

Ter lucro e receber galardão


De acordo com 19:16-19, os que têm lucro
recebem galardão. O que ganha dez minas terá
autoridade sobre dez cidades, e o que ganha cinco
minas terá autoridade sobre cinco cidades. Isso é
20
MENSAGEM QUARENTA E TRÊS

uma indicação categórica de que os santos


vencedores serão galardoados com o poder
governante no reino vindouro. Esse galardão será
grande parte do seu desfrute da herança perdida
como seu jubileu. Governar sobre dez ou cinco
cidades é parte do desfrute do jubileu, parte do
desfrute do direito de primogenitura recuperado.
Como já enfatizamos, o jubileu hoje é um
antegozo e o da próxima era será um desfrute mais
pleno. Na era vindoura, os vencedores desfrutarão a
terra, herdando-a, como diz o Senhor em Mateus 5:5.
Herdar a terra e governar sobre cidades será nosso
desfrute do reino de Deus, Cristo e o jubileu.
Essa parábola também indica que alguns
perderão o galardão. Isso quer dizer que alguns dos
salvos genuínos não terão parte no jubileu que há de
vir. Na era do reino, não governarão sobre a terra.
O ensinamento entre os cristãos hoje ignora o
fato de que alguns dos salvos não participarão no
jubileu na era vindoura do reino. Lucas, porém,
enfatiza isso repetidas vezes, nos capítulos 14, 16, 18
e uma vez mais no 19. O Evangelho de Lucas
claramente revela que os salvos precisam ser fiéis em
servir ao Senhor. Senão, perderão o galardão no
reino vindouro. Alguns dos salvos perderão o
desfrute do jubileu na era do reino. Isso deve ser uma
advertência para nós e deve fazer-nos cuidadosos ao
servir o Senhor.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM QUARENTA E QUATRO


O SALVADOR-HOMEM
APRESENTOU-SE À MORTE
PARA REALIZAR A REDENÇÃO
(1)

Leitura Bíblica: Lc 19:28-48


Nas mensagens anteriores abordamos as três
primeiras seções do Evangelho de Lucas: a
introdução (1:1-4), a preparação do Salvador-Homem
em Sua humanidade com Sua divindade (1:54:13) e o
ministério do Salvador-Homem em Suas virtudes
humanas com Seus atributos divinos (4:14-19:27),
tanto na Galileia (4:14-9:50) como no caminho da
Galileia para Jerusalém (9:51-19:27). Agora
chegamos à quarta seção desse evangelho: o
Salvador-Homem apresentando-Se à morte para
redenção (19:28- 22:46). Depois que o Salvador
terminou Seu ministério em 19:27, chegou a hora de
Ele subir a Jerusalém a fim de apresentar-Se à morte
ordenada por Deus para o cumprimento da redenção
eterna.
A transfiguração do Senhor no cimo do monte
ocorreu já no fim do Seu ministério na Galileia. O
objetivo da transfiguração, conforme relata o
Evangelho de Lucas, era mostrar aos discípulos que,
para o desfrute do jubileu, há a necessidade da
transformação tipificada pela transfiguração. Depois
de completar Seu ministério na Galileia, o Salvador-
Homem começou a fazer a longa jornada da Galileia
para Jerusalém.
206
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

A SALVAÇÃO, O SERVIÇO
E O DESFRUTE DO JUBILEU
Enquanto fazia a jornada da Galileia para
Jerusalém, o Senhor teve muitas conversas com Seus
discípulos, nas quais certas coisas principais foram
abordadas. Primeiro, Ele lhes mostrou como receber
a salvação de Deus. Depois revelou-lhes como servir
a Deus. Receber a salvação de Deus é desfrutar Seu
jubileu hoje na era da graça. Servir a Deus nos
qualifica a entrar no reino vindouro para desfrutar o
jubileu na próxima era. Pelo menos cinco vezes no
Evangelho de Lucas, o Senhor fala sobre como segui-
Lo e servi-Lo de modo que estejamos qualificados a
entrar no reino vindouro e desfrutar o jubileu na
próxima era. Ele fala disso nos capítulos 14, 16, 17, 18
e 19, em que conta a parábola dos servos que
receberam dons com os quais servi-Lo (19:11-27).
Como servos que receberam dons do Senhor,
precisamos obter lucro para Ele a fim de estar
qualificados para herdar a terra e governar como reis.
Participar do jubileu vindouro no milênio, portanto,
será um galardão para os santos vencedores.
O ministério do Salvador-Homem foi levado a
cabo primeiro na Galileia. Ele começou com a
proclamação do jubileu da graça e continuou até Sua
transfiguração. A transfiguração do Senhor significa
que todos os Seus seguidores precisam ser
transformados a fim de partilhar o desfrute do
jubileu. Depois de completar Seu ministério na
Galileia, o Senhor a deixou e foi para Jerusalém. A
caminho da Galileia para Jerusalém, Ele
repetidamente ensinou Seus discípulos e seguidores
sobre como tomar a salvação de Deus, isto é, como
20
MENSAGEM QUARENTA E QUATRO

receber o reino de Deus que na verdade é o próprio


Salvador-Homem, a fim de entrar no desfrute do
jubileu hoje. O Senhor também os ensinou que, para
segui- Lo e servi-Lo, precisamos renunciar às coisas
materiais. Precisamos vencer todas as distrações e
estorvos a fim de amá-Lo ao máximo e servi-Lo
fielmente. Então estaremos qualificados para entrar
no reino na era vindoura e teremos a plena
participação do jubileu no milênio.
Todos precisamos ver que desfrutar Cristo como
o reino de Deus nesta era nos qualifica a desfrutá-Lo
como o jubileu na próxima era. Em outras palavras, o
desfrute atual de Cristo nos qualifica a desfrutá-Lo de
maneira adicional na era vindoura. Todavia milhares
e até milhões dos que creem no Senhor e receberam
Sua salvação não O desfrutam. O fracasso em
desfrutá-Lo hoje os desqualificará de desfrutá-Lo
como o jubileu na era vindoura. Precisamos ficar
impressionados com o fato de que o desfrute de
Cristo hoje nos qualifica a ter o desfrute do jubileu na
próxima era e até nos conduz a esse desfrute. Por isso
aprendamos a desfrutar Cristo na vida da igreja a fim
de estar qualificados a desfrutá-Lo na era do reino.
O jubileu proclamado pelo Senhor Jesus em
Lucas 4 tem três estágios:1) o estágio da graça nesta
era, 2) o estágio do reino na era vindoura, 3) o
estágio da Nova Jerusalém no novo céu e nova terra
pela eternidade. Esses são os três estágios do desfrute
do jubileu. O jubileu nesta era é um antegozo. O
jubileu na era vindoura será mais pleno do que o de
hoje. Por fim, na Nova Jerusalém, desfrutaremos o
jubileu ao máximo pela eternidade. Lá todos os
crentes desfrutarão Cristo como o jubileu. Pela
eternidade haverá um testemunho de que o Senhor
208
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Jesus é nosso jubileu, que Ele nos libertou do


cativeiro e nos introduziu no pleno desfrute do Deus
Triúno processado.

O SACERDOTE E AS OFERTAS
O Evangelho de Lucas pode ser dividido em sete
seções: a introdução: (1:1-4), a preparação do
Salvador-Homem em Sua humanidade com Sua
divindade (1:5- 4:13), o ministério do Salvador-
Homem em Suas virtudes humanas com Seus
atributos divinos (4:14-19:27), o Salvador-Homem
apresentando-Se à morte para redenção (19:28-
22:46), a morte do Salvador-Homem (22:47- 23:56),
Sua ressurreição (24:1-49) e Sua ascensão (24:50-
53). Nesta mensagem começaremos a considerar a
quarta seção desse livro: o Salvador-Homem
apresentando-Se à morte para redenção.
O Senhor Jesus fez a longa jornada da Galileia
para Jerusalém com o objetivo de ser levado à morte.
Ele sabia que em Jerusalém Ele Se apresentaria a
Deus no altar. No livro de Levítico as ofertas feitas no
altar prefiguram Cristo e, no cumprimento do Novo
Testamento, o altar é a cruz.
A Bíblia revela que Cristo não é somente as
ofertas, mas também o Sacerdote ofertante para fazer
os sacrifícios a Deus. Isso quer dizer que Ele é o
Sacerdote e as ofertas. Como Sacerdote ofertante, Ele
Se apresentou no altar, na cruz. A ideia de que Cristo
é tanto a oferta como o Sacerdote é revelada
claramente na Epístola de Hebreus. Em Hebreus,
vemos que Cristo é o Sumo Sacerdote que Se
ofereceu a Deus como o sacrifício eterno (Hb 9:11,14).
Agora, no Evangelho de Lucas, vemos que Cristo foi
da Galileia, o lugar onde fazia a obra, para Jerusalém,
20
MENSAGEM QUARENTA E QUATRO

o lugar onde seria levado à morte. Em Jerusalém, Ele


seria a oferta e o Sacerdote que a apresentou a Deus
na cruz.

A ENTRADA TRIUNFAL EM JERUSALÉM


O Senhor Jesus não foi preso pelos fariseus na
Galileia e depois levado por eles a Jerusalém para ser
morto. Antes, Ele foi a Jerusalém por iniciativa
própria. Além disso, não penetrou sorrateiramente
em Jerusalém como ladrão, mas entrou na cidade de
forma pública. Quando se aproximou da cidade,
preparou-Se para entrar como Rei. Todavia Ele não
entrou na cidade como Rei em esplendor, mas em
humildade. Em vez de montar um cavalo, montou
um jumentinho soberanamente aprontado para Ele.
Como esse jumentinho foi preparado para o uso
do Senhor é um mistério. O Senhor simplesmente
disse a dois dos discípulos: “Ide à aldeia que está
defronte de vós e ali, ao entrar, achareis preso um
jumentinho, no qual homem algum jamais montou;
desprendei-o e trazei-o” (19:30). O Senhor ainda
disse aos discípulos que, se lhes perguntassem por
que estavam desprendendo o jumentinho, eles
deviam dizer: “Porque o Senhor precisa dele” (v. 34).
Eles então levaram o jumentinho a Jesus “e,
lançando as suas vestes sobre o jumentinho, fizeram
com que Jesus montasse” (v. 35).
Pode parecer que a preparação do jumentinho
não foi grande coisa. Na verdade, essa preparação
misteriosa do jumentinho foi algo grandioso.
Somente o Criador do universo poderia fazê-lo. Sem
dívida o Senhor Jesus é o verdadeiro Rei. Ele falou
uma palavra breve aos discípulos sobre o jumentinho.
Quando eles tomaram Sua palavra e agiram baseados
210
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

nela, tudo aconteceu exatamente como Ele dissera


que seria.
Lucas 19:37-38 diz: “E quando já se aproximava
da descida do monte das Oliveiras, toda a multidão
dos discípulos começou a alegrar-se e louvar a Deus
em alta voz, por todos os milagres que tinham visto,
dizendo: Bendito o Rei que vem em nome do Senhor!
Paz no céu e glória nas maiores alturas!”. Os
discípulos que levaram o jumentinho ao Senhor
Jesus podem ter sido os primeiros a ficar
entusiasmados porque criam que a entrada triunfal
na capital visava tomar o controle do país.
De acordo com João 12, a ressurreição de Lázaro
foi um grande milagre que atraiu pessoas ao Senhor.
Esse milagre ocorreu um pouco antes da festa da
Páscoa, que era a hora de o Senhor Jesus como
Cordeiro de Deus ser levado à morte. Pouco antes de
ser morto, Ele ressuscitou Lázaro e esse milagre fez
com que muitos se ajuntassem a Seu redor. Lucas,
porém, não relata esse milagre.
Houve grande celebração quando o Senhor foi de
Betânia para Jerusalém. O templo em Jerusalém foi
construído no monte Moriá (mais tarde chamado
Sião), o lugar onde Abraão ofereceu Isaque, e Betânia
está localizada no sopé do monte das Oliveiras. Entre
esses dois montes, há um vale. Ele foi seguido por
uma longa parada de celebrações. Os participantes
dessa celebração estavam empolgados e até mesmo
fora de si de alegria. Os fariseus, que não eram
capazes de fazer nada sobre a situação, ficaram
grandemente surpresos e diziam uns aos outros: “Eis
aí vai o mundo após Ele” (Jo 12:19).

O LAMENTO SOBRE JERUSALÉM


21
MENSAGEM QUARENTA E QUATRO

Quando se aproximou de Jerusalém, o Senhor


Jesus não estava alegre. Antes, lamentou sobre a
cidade. Dentre todos na multidão, Ele deve ter sido o
único que lamentou; os demais celebravam,
regozijavam-se e gritavam louvores a Deus. Os
discípulos podem ter dito uns aos outros: “Que
celebração! Nosso Rei breve tomará o controle do
país. Somos Seus seguidores e participaremos de Seu
governo”. Esse pode ter sido o pensamento dos
seguidores do Senhor, mas certamente não foi o Seu.
“Quando chegou perto, vendo a cidade, chorou sobre
ela” (v. 41).
Em 19:42-44 vemos o que o Senhor disse
enquanto chorava sobre a cidade: “Se também tu
conhecesses neste dia o que é para a tua paz! Mas
agora isso está oculto aos teus olhos. Pois dias virão
sobre ti em que os teus inimigos levantarão uma
paliçada diante de ti, e te cercarão, e te apertarão por
todos os lados, e te arrasarão a ti e aos teus filhos
dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra,
porque não conheceste o tempo da tua visitação”. A
paz no versículo 42 será na restauração de Israel (At
1:6) depois da volta do Salvador. O verbo grego
traduzido por “arrasar” no versículo 44 também pode
traduzido como “derrotar”. Jerusalém foi arrasada,
derrotada até o chão em 70 d.C. por meio de Tito e
seu exército romano. A palavra “visitação” no
versículo 44 se refere à primeira vinda do Salvador
para visitá-los na graça do ano aceitável do Senhor
(Lc 2:10-14; 4:18-22).
Em Sua lamentação o Senhor parecia dizer: “Ó
Jerusalém, pobre Jerusalém! Queria que conhecesses
teus dias. Este é o dia de tua visitação, mas tu não a
reconheces. Não és grata pela visitação que te faço.
212
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Precisas perceber que, pouco depois de Eu morrer,


ressuscitar e ascender aos céus, um dia diferente virá
sobre ti, no qual serás arrasada até o chão”. Mais
tarde o exército romano destruiu a cidade de
Jerusalém. A narrativa de Josefo mostra em detalhes
essa terrível destruição.
No meio da celebração do Salvador-Homem
havia pesar em vez de alegria. Ele estava prestes a
fazer uma entrada triunfal em Jerusalém, mas foi
movido de compaixão pela cidade.

PURIFICAR O TEMPLO E ENSINAR NELE


Lucas 19:45-46 diz: “Entrando Ele no templo,
começou a expulsar os que ali vendiam, dizendo-lhes:
Está escrito: A Minha casa será casa de oração; vós,
porém, a fizestes covil de salteadores”. O Senhor
entrou no templo com o objetivo de purificá-lo. Você
sabe o que havia no templo? Estava cheio de mamam
e coisas materiais, de coisas para se comprar e
vender. Foi por isso que o Senhor o purificou.
Em Sua jornada da Galileia para Jerusalém, o
Senhor enfatizou a necessidade de vencer mamam e
os bens materiais. Ele até disse que, para segui-Lo,
precisamos renunciar a nossos bens e permanecer
longe dos efeitos entorpecedores das coisas materiais.
Visto que o que Ele requeria que Seus discípulos
renunciassem predominava no templo, Ele entrou
nele para purificá-lo.
O Senhor purificando o templo indica que, ao
apresentar- Se na cruz para Deus, isso era para
produzir um templo purificado. Isso quer dizer que
Sua morte tem o efeito de produzir a igreja como um
templo purificado, limpo. Nossa base para dizer isso
é a revelação clara no Novo Testamento, que revela
21
MENSAGEM QUARENTA E QUATRO

que o Senhor Jesus morreu para produzir muitos


grãos que seriam formados num único pão, que é o
Corpo (Jo 12:24; 1Co 10:17). Esse Corpo é a igreja (Ef
1:22-23) e a igreja é o templo de Deus (Ef 2:21; 1Co
3:16). Esse templo, em contraste com o covil de
salteadores, é uma casa purificada e limpa para a
habitação de Deus.
A entrada triunfal do Salvador-Homem em
Jerusalém não foi com o propósito de tomar o
controle do país. Ele entrou em Jerusalém para Se
apresentar a uma morte todo- inclusiva, à morte
ordenada por Deus. Essa morte não introduziria
apenas o jubileu, mas também produziria um lugar
purificado e limpo para Deus.
Quando jovem, eu só sabia que o Senhor entrou
em Jerusalém e purificou o templo; não sabia o
significado disso. Agora posso declarar
categoricamente que a verdadeira preocupação do
Senhor era cuidar do templo. Quando tinha doze
anos, Ele foi encontrado no templo (Lc 2:46) e,
quando Ele saiu a ministrar na idade de trinta anos,
Ele purificou o templo (J0 2:14-16). Porquanto estava
preocupado com os interesses do Pai, Ele disse a Seus
pais: “Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de
Meu Pai?”. (Lc 2:49). Isso indica que Ele se
importava com o templo, a habitação de Deus,
composto dos Seus escolhidos de acordo com Sua
eterna economia. Por isso o templo é o ponto central,
o foco, da economia de Deus. O Senhor estava
preocupado com isso quando tinha doze anos,
quando começou a ministrar na idade de trinta e
quando atingiu o fim de Seu ministério terreno. O
Salvador-Homem entrou em Jerusalém para Se
apresentar a Deus como a oferta todo-inclusiva, mas
214
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

antes disso Ele novamente expressou Seu cuidado


pelos interesses do Pai, pela habitação do Pai.
Em contraste com os discípulos, o Senhor Jesus
não se importava em ganhar um reino para Si. Sua
única preocupação era que o povo de Deus se
tornasse a habitação de Deus. De acordo com a plena
revelação do Novo Testamento, a preocupação do
Senhor em entrar em Jerusalém era produzir um
templo purificado para ser a habitação de Deus.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM QUARENTA E CINCO


O SALVADOR-HOMEM
APRESENTOU-SE À MORTE
PARA REALIZAR A REDENÇÃO
(2)
Leitura Bíblica: Lc 20:1-21:4

Lucas 19:2822:46 é uma seção concernente ao


Salvador-Homem apresentando-Se à morte para
redenção. Vimos que o Senhor entrou em Jerusalém
triunfalmente (19:28-40), lamentou sobre a cidade
(vs. 41-44) e purificou o templo e ensinou nele (vs.
45-48). Então, em 20:1-21:4, vemos que Ele passou
pelo exame dos principais sacerdotes, escribas e
anciãos (vs. 1-19), dos fariseus e dos herodianos (vs.
20-26) e dos saduceus (vs. 27-38). Ele confundiu os
examinadores (vs. 39-44), advertiu contra os escribas
(vs. 45-47) e elogiou a viúva pobre (21:1-4).
Depois que entrou em Jerusalém e visitou o
templo, o Senhor saiu da cidade e permaneceu em
Betânia. Então, de manhã, foi novamente ao templo.
Lucas 20:1 diz que Ele ensinava o povo no templo e
pregava as boas-novas. Ele ainda levava a cabo o
ministério de apresentar o jubileu aos necessitados.

MORRER NO LUGAR E HORA


PREORDENADOSPORDEUS
Enquanto o Senhor estava no templo a ensinar e
pregar, “sobrevieram os principais sacerdotes e os
escribas, juntamente com os anciãos, e Lhe
perguntaram: Dize-nos:
216
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Com que autoridade fazes essas coisas? ou quem é


que Te deu essa autoridade?” (20:1-2). Aqui vemos
que os líderes da comunidade judaica estavam
preparados para testá-Lo. Na verdade, esse teste não
foi iniciado por eles; foi iniciado pelo Salvador-
Homem. Ele sabia que, de acordo com a profecia,
tinha de ser morto na Páscoa como o Cordeiro de
Deus. As profecias no Antigo Testamento
especificavam tanto a época como o lugar em que Ele
haveria de morrer.
O Salvador-Homem ministrara por mais de três
anos na região desprezada da Galileia, longe do
templo santo e da cidade santa, o lugar onde Lhe era
necessário morrer para o cumprimento do plano
eterno de Deus. Como o Cordeiro de Deus (Jo 1:29),
Ele tinha de ser oferecido a Deus no monte Moriá,
onde Abraão ofereceu Isaque e desfrutou da provisão
divina na forma de carneiro como substituto para seu
filho (Gn 22:2, 9-14) e onde o templo foi construído
em Jerusalém (2 Cr 3:1). Era lá que Ele devia ser
entregue, segundo o conselho determinado pela
Trindade da Divindade (At 2:23), aos líderes judeus e
ser rejeitado por eles como os edificadores do edificio
de Deus (At 4:11). Também era lá que Ele tinha de ser
crucificado conforme o modo romano de punição (Jo
18:31-32; 19:6, 14-15) para cumprir a prefiguração
relativa à espécie de morte que haveria de ter (Nm
21:8-9; Jo 3:14). Além disso, aquele era o ano em que
o Messias (Cristo) seria cortado (morto) segundo a
profecia de Daniel (Dn 9:24-26). Ainda mais, como o
Cordeiro Pascal (1Co 5:7), Ele tinha de ser morto no
mês da Páscoa (Êx 12:1-11). Daí Ele ter de ir para
Jerusalém antes da Páscoa (Jo 12:1; Mc 14:1) a fim de
morrer ali no dia da Páscoa (Jo 18:28), na época e no
21
MENSAGEM QUARENTA E CINCO

lugar preordenados por Deus.


De acordo com a profecia no Antigo Testamento,
o lugar e a época da morte do Senhor estavam
definidos. Daniel 9:25-26a diz: “Sabe, e entende:
desde a saída da ordem para restaurar e para edificar
Jerusalém, até o Ungido, ao Príncipe, sete semanas e
sessenta e duas semanas: as praças e as
circunvalações se reedificarão, mas em tempos
angustiosos. Depois das sessenta e duas semanas
será morto o Ungido, e já não estará”. Aqui vemos
que o Messias, o Cristo, seria morto no fim da
sexagésima nona semana. O ano no qual o Salvador-
Homem subiu a Jerusalém para morrer foi o ano
exato profetizado em Daniel 9. Mais especificamente
ainda, o Senhor tinha de ser morto na Páscoa, isto é,
no décimo quarto dia do mês. Ele sabia que Lhe era
necessário estar em Jerusalém nessa época para
morrer na Páscoa. Além disso, de acordo com a
profecia sobre o cordeiro pascal, Ele precisava ser
examinado por quatro dias. Por isso Lhe era
necessário estar em Jerusalém pelo menos quatro
dias antes da crucificação.
Nos evangelhos vemos que o Senhor Jesus foi
muito cuidadoso para não ser morto nem antes nem
depois do tempo determinado. Se tivesse sido morto
antes da Páscoa, não haveria como a profecia se
cumprir. Nesse caso, Ele não teria sido o verdadeiro
Cordeiro da Páscoa, mas, uma vez que Ele o era,
preservou-Se até que chegasse a hora de ser oferecido
na cruz.
Assim como o Senhor devia ser morto numa
hora definida, também tinha de morrer num lugar
específico: o monte Sião, anteriormente chamado de
Moriá.
218
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Se tivermos compreensão apropriada da hora e


do lugar da crucificação do Senhor, saberemos por
que Ele foi cauteloso em Suas ações naqueles dias
decisivos em Jerusalém. Ele sabia que, se fosse morto
ainda que um dia antes, teria perdido o foco relativo
ao cumprimento da profecia do Antigo Testamento.
Por isso Ele foi muito cuidadoso ao voltar ao templo
cada dia. Seu propósito em voltar ao templo era
apresentar-Se aos judeus para eles O examinarem
completamente. Temos o relato desse exame em
20:1-21:4.

EXAMINADO PELOS PRINCIPAIS


SACERDOTES,
ESCRIBAS E ANCIÃOS
Em 20:1 vemos que, enquanto o Senhor ensinava
no templo e pregava as boas-novas, os principais
sacerdotes, os escribas e os anciãos foram até Ele. Os
sacerdotes eram os que serviam no templo, os
escribas tinham conhecimento completo da lei
mosaica e os anciãos eram autoridades entre os
judeus. Essas três categorias de pessoas constituíam
os líderes mais proeminentes na comunidade judaica.
Eles foram preparados para levar a cabo um exame
completo do Senhor como o Cordeiro pascal.
Lucas apresenta o exame do Senhor Jesus de um
ângulo diferente do que é encontrado em Mateus e
Marcos. A apresentação de Lucas é do ângulo do
mais alto padrão de moral idade. No capítulo vinte
temos um quadro do Salvador-Homem
comportando-se no mais alto padrão de moralidade.
É claro, em todos os capítulos anteriores vimos o alto
padrão de moralidade do Senhor produzido por Sua
essência divina com os atributos divinos e Sua
21
MENSAGEM QUARENTA E CINCO

essência humana com as virtudes humanas. Agora,


no capítulo vinte, temos um retrato mais detalhado
do mais alto padrão de moralidade do Salvador-
Homem.
Os principais sacerdotes, os escribas e os anciãos
disseram ao Senhor: “Com que autoridade fazes essas
coisas? ou quem é que Te deu essa autoridade?”
(20:2). Eles pensavam que podiam pegar o Senhor
fazendo-Lhe perguntas sobre a origem de Sua
autoridade. Como Aquele que era examinado, o
homem-Deus foi franco, genuíno, sábio e digno. Mas
os que O questionavam eram vis, sutis, traiçoeiros e
desonestos. Eles não foram com atitude adequada
nem espírito apropriado.
Ao responder à pergunta levantada pelos
principais sacerdotes, escribas e anciãos, o Salvador-
Homem foi sábio. Quando perguntado quem Lhe
dera autoridade, Ele não disse: “Meu Pai Me deu esta
autoridade”. Responder dessa maneira não seria
errado, mas seria carente de sabedoria. Em Sua
sabedoria o Senhor lhes disse: “Eu também vos farei
uma pergunta; dizei-me: O batismo de João era do
céu ou dos homens?” (vs. 3-4). Essa pergunta os
colocou num dilema e eles debateram si sobre isso,
dizendo: “Se dissermos: Do céu, Ele dirá: Por que
não crestes nele? Mas se dissermos: Dos homens, o
povo todo nos apedrejará; porque está convicto de
ser João um profeta” (vs. 5-6). Por fim, não tendo
sabedoria para lidar com a situação, nada puderam
fazer exceto mentir: “E responderam que não sabiam
donde era”. Sabendo que mentiam, o Senhor lhes
disse: “Nem Eu vos digo com que autoridade faço
essas coisas” (v. 8). Isso indica que o Senhor sabia
que os líderes judeus não Lhe diriam o que sabiam.
220
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Assim, Ele tampouco lhes diria o que lhes


perguntaram. Eles mentiram dizendo que não
sabiam, mas o Senhor lhes falou a verdade
sabiamente, expondo sua mentira e evitando sua
pergunta.
Nesse incidente podemos ver quão vis e
insidiosos eram os principais sacerdotes, os escribas
e os anciãos. Ao mesmo tempo, vemos quão puro,
sábio e digno é o Salvador-Homem. Que contraste
marcante!

EXAMINADO PELOS FARISEUS E


HERODIANOS
Depois que os principais sacerdotes, escribas e
anciãos foram derrotados pelo Salvador-Homem, os
fariseus e os herodianos O testaram (20:20-26). Os
fariseus, um grupo religioso, eram patriotas e fiéis à
comunidade judaica. Os herodianos ficavam do lado
do regime do rei Herodes e participavam com ele da
tentativa de levar os judeus a adotar os costumes
gregos e romanos. Eles se alinhavam com os
saduceus, mas se opunham aos fariseus. Aqui, porém,
juntaram-se aos fariseus para engodar o Senhor
Jesus. Eles trabalharam juntos na tentativa de
executar uma trama para apanhar o Salvador-
Homem numa armadilha.
De acordo com os versículos 21-22, os
herodianos e os fariseus questionaram o Senhor:
“Mestre, sabemos que falas e ensinas corretamente, e
não consideras a aparência dos homens, antes
ensinas o caminho de Deus em toda a verdade. É-nos
lícito pagar tributo a César ou não?”. Essa foi
pergunta foi realmente capciosa. Os judeus se
opunham a pagar tributos a César. Se o Senhor Jesus
22
MENSAGEM QUARENTA E CINCO

dissesse que era lícito fazer isso, ofenderia os fariseus,


mas, dissesse que não era lícito, daria aos herodianos,
que estavam do lado do governo romano, base para
acusá-Lo. Fazendo ao Senhor essa pergunta, eles se
expuseram como vis, desonestos e insidiosos.
Ao lidar com esse dilema, o Senhor foi outra vez
honesto, puro e sábio. Percebendo sua argúcia, Ele
lhes disse: “Mostrai-Me um denário. De quem é a
efígie e a inscrição que ele tem? Responderam: De
César. Então lhes disse: Daí, pois, a César o que é de
César, e a Deus o que é de Deus” (vs. 24-25). Dar a
César o que é de César é pagar tributo a César de
acordo com seu regulamento governamental. Dar a
Deus o que é de Deus é dar-Lhe o meio siclo de
acordo com Êxodo 30:11-16 e oferecer-Lhe todos os
dízimos de acordo com Sua lei.
Em 20:20-26 vemos dois padrões totalmente
diferentes de moralidade. Os fariseus e herodianos
eram vis, desonestos e insidiosos, mas o Salvador-
Homem era genuíno, franco, honesto e sábio.

EXAMINADO PELOS SADUCEUS


Em 20:27-38 o Salvador-Homem foi examinado
pelos saduceus. O versículo 27 diz: “Aproximando-se
alguns dos saduceus, que dizem não haver
ressurreição, perguntaram- Lhe”. Eles prosseguiram
apresentando ao Senhor um caso de um homem que
morreu deixando a esposa sem filhos: “Mestre,
Moisés nos deixou escrito: Se morrer o irmão de
alguém, tendo mulher, e não deixar filhos, o irmão
dele tome a mulher e suscite descendência a seu
irmão. Havia, pois, sete irmãos: o primeiro tomou
mulher e morreu sem filhos; o segundo e o terceiro
também a tomaram; igualmente os sete não
222
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

deixaram filhos, e morreram. Por fim morreu


também a mulher. Essa mulher, pois, na ressurreição,
de qual deles se tornará esposa? porque os sete a
tiveram por esposa” (vs. 28-33). Os saduceus
pensavam que eram sábios em apresentar essa
questão ao Senhor. Eles por certo foram muito sutis.
Nos versículos 34-36 o Senhor replicou: “Os
filhos deste século casam-se e dão-se em casamento;
mas os que são julgados dignos de alcançar aquele
século e a ressurreição dentre os mortos, nem casam,
nem se dão em casamento; pois não podem mais
morrer, porque são iguais aos anjos, e são filhos de
Deus, sendo filhos da ressurreição”. O Senhor aqui
indica que o casamento é algo desta era, mas os que
são dignos da era vindoura e da ressurreição dos
mortos serão iguais a anjos, e não haverá casamento
entre eles. Sem dúvida, os saduceus nunca
imaginaram que haveria essa era, uma era de
ressurreição.
Em 20:35 o Senhor fala dos que eram reputados
como dignos de obter a era vindoura e a ressurreição
dos mortos. A era vindoura do reino (13:28-29;
22:18) e a ressurreição da vida (Jo 5:29; Lc 14:14; Ap
20:4, 6) são as bênçãos e desfrutes eternos na vida
eterna para os crentes que são reputados como
dignos (Lc 18:29-30; Mt 19:28-29).
Em 20:37-38 o Senhor prosseguiu: “Mas que os
mortos ressuscitam, até mesmo Moisés o indicou no
trecho referente à sarça, quando chama ao Senhor o
Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó.
Ora, Deus não é Deus de mortos, e, sim, de vivos;
porque para Ele todos vivem”. Uma vez que Deus é o
Deus dos vivos e é chamado Deus de Abraão, Isaque
e Jacó, isso indica que os mortos Abraão, Isaque e
22
MENSAGEM QUARENTA E CINCO

Jacó serão ressuscitados. Senão, Deus seria Deus de


mortos. Mas o fato de Ele ser o Deus dos vivos
implica que um dia os três patriarcas ressuscitarão.
Com isso, vemos que o título divino: o Deus de
Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, implica a
verdade da ressurreição.
Na resposta do Senhor aos saduceus vemos Sua
sabedoria não só ao responder à sua pergunta sutil,
mas também compreendendo as profundezas da
Palavra de Deus. É preciso ter sabedoria para
compreender as profundezas do título divino. O
Salvador-Homem com certeza conhecia a Palavra de
Deus. Diferentemente dos saduceus, que eram muito
superficiais, Ele tinha a sabedoria para penetrar nas
profundezas da Palavra sagrada.
De acordo com o relato em Mateus e Marcos, a
pergunta feita pelos saduceus é seguida por uma
quarta pergunta, a pergunta levantada por um doutor
da lei sobre o grande mandamento na lei. O fato de
Lucas não registrá- Ia é mais uma evidência de que
sua preocupação é com o mais elevado padrão de
moralidade do Salvador-Homem. A questão sobre
qual mandamento é o maior de todos não envolve
moralidade. Esse, creio eu, é o motivo de Lucas não
incluir essa pergunta.
Lucas 20:39-40 simplesmente dizem:
“Respondendo alguns dos escribas, disseram: Mestre,
falaste bem. E não ousavam mais interrogá-Lo sobre
coisa alguma”. As perguntas insidiosas dos
opositores pechosos desmascararam a perversidade,
a sutileza e a maldade deles, que eram exatamente o
oposto da perfeição, da sabedoria e da dignidade do
Salvador-Homem. Isso evidenciou a perfeição
humana do Salvador com Seu esplendor divino, e os
224
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

fez calar-se em sua maquinação odiosa e em sua


conspiração instigada por Satanás.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM QUARENTA E SEIS


O SALVADOR-HOMEM
APRESENTOU-SE À MORTE
PARA REALIZAR A REDENÇÃO
(3)
Leitura Bíblica: Lc 20:1-21:4

A PERGUNTA ACERCA DE CRISTO


Em 20:1-38 o Salvador-Homem é examinado
pelos principais sacerdotes, escribas e anciãos (vs. 1-
19), pelos fariseus e herodianos (vs. 20-26), e pelos
saduceus (vs. 27- 38). Em 20:39-44 Ele confunde
todos os examinadores. Os escribas responderam e
disseram: “Mestre, falaste bem” (v. 39). É-nos dito
que “não ousavam mais interrogá-Lo sobre coisa
alguma” (v. 40). Em 20:41-44 o Senhor prosseguiu
perguntando aos examinadores sobre Cristo.
Em 20:1- 38 o Senhor foi rodeado pelos
principais sacerdotes, anciãos, fariseus, herodianos e
saduceus, que tentaram engodá-Lo fazendo
perguntas capciosas. Primeiro, os principais
sacerdotes, escribas e anciãos, representando a
autoridade da religião e do povo judeu, perguntaram-
Lhe sobre Sua autoridade (v. 2). Essa foi uma
pergunta de acordo com o conceito religioso.
Segundo, os fariseus fundamentalistas e os
herodianos políticos perguntaram- Lhe sobre política.
Terceiro, os saduceus questionaram-No sobre a
ressurreição. Depois de responder a todas as suas
perguntas sabiamente, o Senhor lhes fez uma
pergunta sobre Cristo. Essa é a pergunta das
226
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

perguntas. Suas perguntas estavam relacionadas com


religião, política e crenças. A pergunta Dele era a
respeito de Cristo, que é o centro de todas as coisas.
Eles sabiam sobre religião, política e crenças, mas
não atentavam para Cristo.
Nos versículos 41-44 o Senhor disse a Seus
examinadores: “Como dizem que o Cristo é filho de
Davi? Pois o próprio Davi diz no livro dos Salmos:
Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à Minha
direita, até que Eu ponha os Teus inimigos por
estrado dos Teus pés. Davi, pois, Lhe chama Senhor,
e como é Ele seu filho?”. Como Deus em Sua
divindade, Cristo é o Senhor de Davi. Como homem
em Sua humanidade, Ele é o Filho de Davi. Seus
examinadores tinham somente metade do
conhecimento bíblico sobre a Pessoa de Cristo, que
Ele era o Filho de Davi segundo a humanidade. Eles
não tinham a outra metade, sobre a divindade de
Cristo como o Filho de Deus. A intenção de Deus em
20:41-44 era ajudar Seus examinadores a ver que
Aquele que eles questionavam era na verdade o
Senhor.

O EXAME DO HOMEM-DEUS
Precisamos perceber que Aquele que foi
examinado aqui era o Homem-Deus. Sim, naquela
situação o Salvador-Homem era um homem, mas era
também Deus. Isso quer dizer que, como Deus, Ele
estava rodeado por opositores que O examinavam.
Quão tolos, cegos e ignorantes eles eram! Não
perceberam que Aquele que eles examinavam era o
próprio Deus.
Se tivermos essa compreensão, veremos que
paciencia o Homem-Deus exercitou ao ser
22
MENSAGEM QUARENTA E SEIS

examinado pelos principais sacerdotes, escribas,


anciãos, fariseus, herodianos e saduceus. Embora
fosse franco, reto e sábio, Ele não estava zangado
com eles. Ele era Deus, mas estava disposto a ser
examinado por Suas criaturas.
Precisamos ficar profundamente impressionados
com o fato de que Aquele que foi examinado era o
Homem-Deus. a próprio Criador de tudo estava
rodeado pelas criaturas e era examinado por elas de
maneira insidiosa e insultuosa. Ele, porém, era
paciente e de modo nenhum ficou zangado. Ele
respondeu-lhes adequada e sabiamente.
Nesse capítulo temos um quadro claro do mais
alto padrão de moralidade, que é expressa nas
virtudes humanas do Senhor com Seus atributos
divinos. Aqui vemos as riquezas das virtudes
humanas do Salvador-Homem com Seus atributos
divinos. Depois de questionado por Seus
examinadores, Ele tentou ajudá-las, criaturas Suas, a
perceber que Ele era homem e Deus, tanto filho do
homem como o Senhor Deus. Sua pergunta sobre
Cristo os fez calar.
Nessa tipologia o cordeiro pascal era examinado
por quatro dias antes de ser morto (Êx 12:3-6). O
Salvador-Homem, como o verdadeiro Cordeiro
pascal (1Co 5:7), foi examinado por quatro dias antes
de ser morto. Ele veio a Betânia seis dias antes da
páscoa (J o 12:1; Me 11:1) . No dia seguinte, entrou
em Jerusalém e voltou para Betânia (Jo 12:12; Me
11:11). No terceiro dia, foi a Jerusalém outra vez (Me
11:12-15) e começou a ser examinado pelos líderes
dos judeus de acordo com a lei judaica (Me 11:27-
12:37; 14:53-65; Jo 18:13, 19-24) e por Pilatos, o
governador romano, de acordo com a lei romana (Jo
228
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

18:28-19:6) até o dia da Páscoa, quando foi


crucificado (Me 14:12; Jo 18:28). Esse exame
insidioso e capcioso, de muitos ângulos, levou
exatamente quatro dias. a Salvador-Homem passou
por esse exame, provando que estava perfeitamente
qualificado para ser o Cordeiro exigido por Deus para
o cumprimento de Sua redenção, para que Deus
pudesse passar sobre os pecadores, tanto judeus
como gentios.

A ADVERTÊNCIA CONTRA OS ESCRIBAS


Em 20:46-47 o Senhor adverte Seus discípulos
acerca dos escribas: “Acautelai-vos dos escribas, que
gostam de andar com vestes talares, e amam as
saudações nas praças, as primeiras cadeiras nas
sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes; que
devoram as casas das viúvas e, como pretexto, fazem
longas orações; estes sofrerão juízo mais severo”.
Depois de confundir a boca de todos os Seus
opositores, o Salvador advertiu Seus discípulos sobre
a hipocrisia e maldades dos escribas. Isso indica que
eles foram condenados por Aquele em quem
procuravam de todas as maneiras encontrar defeito.
Que você teria feito se fosse um dos escribas?
Ousaria mostrar a cara? Não acho que eles
soubessem o que dizer. Nas palavras de Judas 19,
pareciam não ter espírito, eram vazios de espírito.

O ELOGIO À VIÚVA POBRE


Em 21:1-4 temos o Salvador-Homem elogiando a
viúva pobre. Ele viu os ricos colocar ofertas no
gazofilácio e “viu também certa viúva indigente
lançar ali duas pequenas moedas” (v. 2). A palavra
22
MENSAGEM QUARENTA E SEIS

grega traduzida por “indigente” é um termo mais


enfático do que pobre, indicando situação de penúria.
Nos versículos 3-4 o Senhor disse:
“Verdadeiramente vos digo que esta viúva pobre
lançou mais do que todos; porque todos estes
lançaram para as ofertas do que lhes sobejava; esta,
porém, da sua carência, lançou todo o sustento que
tinha”. O Salvador-Homem era Deus vivendo na
humanidade. Como tal, Ele se importava em ver
como o povo de Deus expressava sua lealdade em
ofertar a Ele. Dessa forma, Ele elogiou a lealdade da
viúva para com Deus. A observação do Salvador-
Homem é mais penetrante do que a do homem.
Lucas 21:1-4 não deve ser separado do capítulo
vinte. Na advertência contra os escribas e no elogio à
pobre viúva, Lucas outra vez nos mostra alto padrão
de moralidade. A moral idade dos escribas era muito
baixa, mas a da pobre viúva era muito elevada.
Por que Lucas colocou esses dois exemplos logo
após o exame dos opositores ao Salvador-Homem?
Ele fez isso porque o princípio governante de seu
evangelho é o mais alto padrão de moralidade. Esse
princípio controla o escrito desse livro. Por isso os
primeiros quatro versículos de Lucas 21 devem ser
considerados junto com o capítulo vinte, para que
tenhamos uma visão clara do mais alto padrão de
moralidade. Os que examinaram o Senhor tinham
baixo padrão de moralidade, mas, como quem se
comportava no mais alto padrão de moralidade, o
Salvador-Homem elogiou a viúva pobre porque ela
também vivia de acordo com alto padrão de
moralidade.

A POSIÇÃO TRÍPLICE DO SALVADOR-


230
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

HOMEM
De acordo com Êxodo 12, cada família devia
tomar o cordeiro sem defeito para a Páscoa (Êx 12:3-
5). Podemos dizer que o Senhor Jesus era o Cordeiro
pascal designado para morrer pela família da
humanidade. No Antigo Testamento o cordeiro tinha
de ser examinado para determinar se era sem defeito.
Em Lucas 20 os principais sacerdotes, escribas,
anciaos, fariseus e saduceus examinaram o
verdadeiro Cordeiro pascal, mas não perceberam que
Aquele que era examinando era o Cordeiro fornecido
por Deus para morrer por eles. Esse Cordeiro tinha o
mais alto padrão de moralidade. Nas palavras de
Êxodo 12, Ele era sem defeito; ou seja, era totalmente
perfeito, sem mácula, sem mancha. Por isso o termo
“sem defeito” equivale à expressão “o mais alto
padrão de moralidade”.
Reflitam sobre quem era Aquele que foi
examinado em Lucas 20. Ele era o Homem-Deus
como o Cordeiro pascal. Como tal, o Senhor tinha
posição tríplice: de Deus, de homem e de Cordeiro
pascal. Ele era o Cordeiro ordenado por Deus e
provido por Ele tanto para a família judia como para
a gentia. Ele era o único Cordeiro ordenado antes da
fundação do mundo. Assim, foi examinado não só
pelos fariseus, o grupo religioso, mas também pelos
herodianos, o grupo político. Isso significa que o
Cordeiro pascal foi examinado pelos judeus e pelos
gentios. Além disso, antes de morrer, foi examinado
não só pelo Sinédrio judeu, como também por Pilatos,
o governador romano, e por Herodes, o rei.
Como o Homem-Deus, o Senhor Jesus é único.
Ele tem a essência divina e a humana. A essência
23
MENSAGEM QUARENTA E SEIS

divina está em Sua humanidade. Deus constitui na


verdade um elemento essencial do ser do Senhor.
Assim, como o Cordeiro pascal, Ele era composto
essencialmente de dois elementos: o divino e o
humano. Como alguém humano e divino, Ele é o
Homem-Deus.
Esse Homem-Deus era o Cordeiro único,
universal, examinado pelas duas grandes famílias da
humanidade: a judia e a gentia. Esse exame provou
que esse Homem tinha o mais alto padrão de
moralidade. Também expôs a sutileza, a maldade e a
insídia dos que O testaram. Enquanto Seus
examinadores eram expostos, o Senhor era revelado
em Sua sabedoria, genuinidade e honestidade. O
exame relatado no Evangelho de Lucas manifesta a
perfeição desse Cordeiro pascal único.

TÉRMINO E GERMINAÇÃO
Vimos que o Senhor Jesus desvendou Sua morte
e ressurreição aos discípulos três vezes (9:22; 9:44-
45; 18:31-34). Por que o Salvador lhes desvendou Sua
morte e ressurreição? A resposta completa a essa
pergunta requer as quatorze epístolas de Paulo.
A morte do Senhor envolve o término de Seus
seguidores. Os seguidores do Salvador-Homem
estavam na velha criação, e era necessário que essa
velha criação fosse levada à cruz e tivesse um término.
Depois do término da cruz, há a germinação. Para a
germinação há a necessidade de ressurreição. Por
isso era necessário que o Senhor morresse e fosse
ressuscitado. Ele morreu para introduzir Seus
seguidores na terminação e ressurgiu para introduzi-
los numa nova vida.
Quando o Senhor desvendou Sua morte e
232
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

ressurreição aos discípulos, Ele parecia dizer-lhes:


“Se vocês permanecerem na velha criação, não
poderão desfrutar o jubileu. Para desfrutá-lo, vocês
precisam ser nova criação. Precisam ser recriados.
Para isso, primeiro precisam ser terminados e depois
precisam germinar. Dessa forma se tomarão nova
criação. O jubileu não é para a velha criação; é para a
nova criação. Se vocês quiserem participar do jubileu,
precisam ir Comigo à cruz”.
Em Marcos temos o conceito da substituição
universal, mas em Lucas temos o conceito de término
e germinação. Quando tivermos o término da velha
criação e a germinação dos redimidos para ser nova
criação, estaremos no jubileu.

RENUNCIAR ÀS POSSES TERRENAS


RECEBENDO O SALVADOR-HOMEM
COMO NOSSA SALVAÇÃO DINÂMICA
No Evangelho de Lucas o Salvador-Homem
enfatiza o tratamento com as riquezas e bens
materiais. Vemos essa ênfase no caso de Zaqueu, que
disse ao Senhor: “Eis que dou aos pobres a metade
dos meus bens; e, se alguma coisa tomei a alguém
mediante falsa denúncia, restituo-a quatro vezes
mais” (19:8). Zaqueu pôde renunciar a riquezas e
coisas materiais porque recebera o Salvador vivo
como sua salvação dinâmica. Isso indica que não é
por nossa velha criação que conseguimos renunciar
às coisas materiais. Mesmo que conseguíssemos fazê-
lo pela velha criação, nada significaria. O modo de
renunciar aos bens terrenos é receber o Salvador vivo
para ser nossa salvação dinâmica.
Zaqueu não ouviu as mensagens do Senhor sobre
dinheiro e bens materiais. Ele não estava presente
23
MENSAGEM QUARENTA E SEIS

quando o Senhor falou sobre isso nos capítulos 12, 14,


16, 17 e 18. Porém recebeu o Salvador-Homem como
sua salvação dinâmica. Por isso automática e
espontaneamente ele pôde dar metade dos seus bens
aos pobres.
Hoje os pecadores todos precisam do Salvador-
Homem infundido neles como o Espírito todo-
inclusivo. Quando o Senhor é infundido nas pessoas
dessa forma, Ele se torna sua salvação dinâmica.
O caso de Zaqueu ilustra a riqueza e a todo-
inclusividade do Evangelho de Lucas. Nestas
mensagens, não posso fazer mais do que lhe dar
alguns indícios de como estudar esse livro. Encorajo-
o a despender mais tempo para se aprofundar nas
riquezas desse evangelho.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM QUARENTA E SETE


O SALVADOR-HOMEM
APRESENTOU-SE À MORTE
PARA REALIZAR A REDENÇÃO
(4)
Leitura Bíblica: Lc 21:5-38

Lucas 19:28-22:46 é uma seção concernente ao


Salvador-Homem apresentando-Se à morte para
redenção. Em 21:5-22:46 o Senhor prepara os
discípulos para Sua morte. Em 21:5-36 Ele faz isso
falando-lhes das coisas por vir, coisas essas que
incluem a destruição do templo (vs. 5-6), as pragas
entre Sua ascensão e a grande tribulação (vs. 7-11), a
perseguição dos discípulos na era da igreja (vs. 12-19),
a grande tribulação e Sua vinda (vs. 20-27), e a
redenção dos discípulos e o arrebatamento dos
vencedores (vs. 28-36).
O Salvador-Homem veio a Jerusalém com o
objetivo de apresentar-Se à morte para redenção.
Depois de passar por um exame feito pelos
opositores, Ele usou algum tempo para preparar Seus
discípulos para Sua morte. Ele fez isso porque eram
ignorantes e despreparados. Por isso, naqueles
últimos dias em Jerusalém, o Senhor os preparou
para receber Sua morte e até mesmo para participar
dela. Essa preparação foi executada em dois passos
principais:1) dizendo aos discípulos sobre as coisas
por vir; 2) instituindo Sua ceia para que pudessem
participar de Sua morte (22:7-23).
Em 21:5-36 o Senhor deu uma profecia aos
236
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

discípulos na qual lhes desvendou as coisas por vir


durante a época entre Sua ascensão e Sua volta. A
primeira coisa revelada foi a destruição do templo.

A DESTRUIÇÃO DO TEMPLO
Lucas 21:5-6 diz: “E falando alguns a respeito do
templo, como estava ornado de belas pedras e de
ofertas consagradas, disse Jesus: quanto a essas
coisas que vedes, dias virão em que não ficará pedra
sobre pedra que não seja derrubada”. Porquanto os
discípulos se gabavam sobre o templo, o Senhor lhes
disse que o que contemplavam seria destruído. Ele
revelou que haveria uma destruição completa, um
arrasamento do templo. Essa destruição ocorreu
cerca de trinta anos depois da ascensão do Senhor.
Em cumprimento da profecia do Senhor, Tito, o
príncipe romano, destruiu Jerusalém com o exército
romano em 70 d.C.

AS PRAGAS ENTRE SUA ASCENSÃO


E A GRANDE TRIBULAÇÃO
Em 21:7-11 o Senhor fala sobre as pragas entre
Sua ascensão e a grande tribulação. Muitos leitores
da Bíblia não estão cientes dessa seção do Evangelho
de Lucas. Depois de anos de estudo e de consultar
muitos livros de referências, vimos que esses
versículos se referem às pragas, sofrimentos e
desastres que ocorrerão no longo período entre a
ascensão do Senhor e a vinda da grande tribulação.
Hoje ainda vivemos nesse período.

Guerras
No versículo 7 os discípulos questionaram o
23
MENSAGEM QUARENTA E SETE

Senhor: “Mestre, quando, pois, serão essas coisas? e


que sinal haverá quando essas coisas estiverem para
acontecer?”. Em Sua resposta o Senhor disse: “Vede
que não sejais enganados. Porque virão muitos em
Meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e: O tempo está
próximo; não vades após eles. Quando ouvirdes falar
de guerras e revoluções, não vos assusteis; pois é
necessário que primeiro aconteçam essas coisas, mas
o fim não será logo” (vs. 8-9). As guerras no versículo
9 se referem a todas as guerras do século I até o
presente. Elas são representadas pelo cavalo
vermelho do segundo selo em Apocalipse 6:3-4. “O
fim” é a consumação desta era (Mt 24:3; Dn 12:4,6-
7,9), que serão os três anos e meio da grande
tribulação.
Se estudarmos a história, veremos que antes da
ascensão do Senhor não havia tantas guerras, mas,
desde Sua ascensão, as guerras têm aumentado. Tem
havido uma guerra após a outra. A longa história de
guerras desde a ascensão até agora é o cumprimento
da palavra do Senhor em Lucas 21:9.
No versículo 10 o Senhor prossegue: “Levantar-
se-á nação contra nação, e reino contra reino”. A
palavra “nação” se refere a povos, aos gentios, e a
palavra “reino” refere- se impérios. Nação contra
nações se refere à guerra civil e reino contra reino se
refere à guerra internacional.

Terremotos, pestes e fomes


No versículo 11 o Senhor diz: “Haverá grandes
terremotos, e, em vários lugares, fomes e pestes;
haverá terrores, e grandes sinais do céu”. Desde a
época da ascensão de Cristo, os terremotos têm
aumentado. Através dos séculos tem havido mais e
238
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

mais terremotos, e eles se intensificarão no fim desta


era (Ap 6:12; 8:5; 11:13, 19; 16:18). Fomes são
principalmente o resultado da guerra. De acordo com
a história, guerras sempre acarretaram fome,
representada pelo cavalo negro do terceiro selo em
Apocalipse 6:5-6. Terremotos, pestes, fomes, terrores
e grandes sinais do céu continuarão a ocorrer.

A PERSEGUIÇÃO SOFRIDA PELOS


DISCÍPULOS
NA ERA DA IGREJA
Em 21:12-19 o Senhor fala sobre a perseguição
dos discípulos na era da igreja. Na era atual, que é a
era da igreja, cristãos fiéis sofrerão perseguição. No
versículo 12 o Senhor diz: “Antes, porém, de todas
essas coisas, deitarão as mãos em vós e vos
perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos
cárceres, levando-vos à presença de reis e
governadores, por causa do Meu nome”. Aqui o
pronome “vos” se refere aos discípulos como crentes
fiéis em Cristo. As “sinagogas” indicam perseguição
na terra judia e “reis e governadores” ressaltam a
perseguição em terras gentias. No versículo 13 o
Senhor diz que essa perseguição redundará em
testemunho para os discípulos.

O Senhor deu aos discípulos elocução


Nos versículos 14-15 O Senhor prossegue:
“Assentai, pois, em vossos corações de não
premeditar como haveis de responder em vossa
defesa; porque eu vos darei boca e sabedoria a que
não poderão resistir nem contradizer todos os que se
vos opuserem”. Aqui o Senhor diz que nosso coração
23
MENSAGEM QUARENTA E SETE

deve estar calmo e não ansioso. Tampouco devemos


preparar-nos de antemão para nos defender. Sempre
que estivermos prestes a sofrer perseguição, não
devemos ponderar de antemão o que dizer. Em vez
disso, devemos confiar no Senhor porque Ele nos
dará boca e sabedoria. É significativo que no
versículo 15 o Senhor diga: “porque eu vos darei boca
e sabedoria”, ao passo que 12:12 diz: “o Espírito
Santo vos ensinará, naquela hora, as coisas que
deveis dizer”. Além disso, Mateus 10:20 diz: “Visto
que não sois vós os que falais, mas o Espírito de
vosso Pai é quem fala em vós”. De acordo com o
registro de Marcos 13:11, o Senhor disse: “Porque não
sois vós os que falais, mas o Espírito Santo”. Esses
versículos indicam que o Pai, o Espírito e o Filho, o
Salvador-Homem, são um. Quando o Pai dá elocução,
isso quer dizer que o Espírito e o Filho dão elocução.

Odiados por todos por causa de Seu nome


Em Lucas 21:16-17 o Senhor prossegue: “E sereis
entregues até por vossos pais, irmãos, parentes e
amigos; e farão morrer alguns dentre vós. E sereis
odiados de todos por causa do Meu nome”. Aqui
vemos que até membros da família farão com que
sejam levados à morte por causa de sua fidelidade ao
Senhor Jesus. A palavra do Senhor aqui é
cumprimento de Sua palavra em 12:52-53: “Porque
daqui em diante estarão cinco divididos numa casa:
três contra dois, e dois contra três. Estarão divididos:
pai contra filho, e filho contra pai; mãe contra filha, e
filha contra mãe; sogra contra nora, e nora contra
sogra”. Através dos séculos muitas famílias foram
divididas nos períodos de perseguição.
240
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Pela perseverança ganhar a alma


Em 21:18 o Senhor diz: “Contudo, não se perderá
um só cabelo da vossa cabeça”. Isso indica que nada
dos fiéis sofrerá dano. Por isso sua pessoa com
certeza não perecerá.
O versículo 19 diz: “Pela vossa perseverança
ganhareis as vossas almas”. A palavra grega aqui
traduzi da por “ganhareis” significa que os crentes
fiéis em Cristo preservarão, salvarão, ganharão sua
alma. Embora sejam perseguidos e sofram no corpo e
na alma, esse sofrimento será uma salvação para sua
alma na era vindoura. Na próxima era, quando o
reino vier, sua alma será salva para desfrutar o
jubileu vindouro, e eles partilharão da alegria do
Senhor.
Em Mateus 25 o Senhor diz aos fiéis: “Entra no
gozo do teu Senhor” (vs. 21, 23). Esse é o convite para
participar na alegria do Senhor. Entrar no gozo do
Senhor será primeiramente um desfrute em nossa
alma. Os infiéis, porém, perderão sua alma na era
vindoura. Isso quer dizer que perderão o desfrute da
alegria do Senhor no reino milenar. Desse modo, a
palavra do Senhor sobre ganhar nossa alma pela
perseverança está relacionada com o desfrute do
jubileu na era vindoura do reino.

A GRANDE TRIBULAÇÃO E A VINDA DO


SENHOR
Lucas 21:20- 2 7 refere-se à grande tribulação e à
vinda do Senhor. Quanto tempo decorrerá no período
dos versículos 8-19 ninguém sabe, mas a profecia nos
versículos 20-27 será cumprida nos últimos três anos
e meio desta era, a época da grande tribulação (Mt
24
MENSAGEM QUARENTA E SETE

24:21), a segunda metade da última semana


profetizada em DanieI9:27. Esse período começará
com o estabelecimento da imagem do anticristo (o
ídolo) no templo (Mt 24:15) e terminará com a vinda
às claras de Cristo (Lc 21:27).
O versículo 20 diz: “Quando, porém, virdes
Jerusalém cercada de exércitos, então sabei que está
próxima a sua desolação”. Isso não se refere à época
de 70 d.e., quando as tropas romanas, lideradas por
Tito, cercaram Jerusalém e a destruíram. O versículo
20 se refere a algo que ocorrerá no futuro. O
anticristo trará seu exército a Jerusalém e a cidade
será cercada por ele. Alguns mestres da Bíblia não
têm tido muita clareza sobre a diferença entre o cerco
de Jerusalém em 70 d.C. e o cerco da cidade pelo
exército do anticristo em alguma época no futuro.
O Senhor diz que, quando virmos Jerusalém
cercada por exércitos, sabemos que sua desolação
está próxima. Então os que estiverem na Judeia
devem fugir para as montanhas, os que estiverem no
meio de Jerusalém deve sair e os que estiverem no
campo não devem entrar na cidade (v. 21). Todos os
que permanecerem em Jerusalém serão envolvidos
em seu sofrimento.
Os versículos 22-23 dizem: “Porque esses são
dias de vingança, para se cumprir tudo o que está
escrito. Ai das que estiverem grávidas e das que
amamentarem naqueles dias! porque haverá grande
angústia na terra, e ira contra este povo”. A “terra”
aqui não se refere a toda a terra; antes, refere-se à
terra da Palestina, à terra santa. “Povo” no versículo
23 denota os judeus. A terra judaica e o povo judeu
sofrerão sob a mão do anticristo. De acordo com o
versículo 24, eles “cairão ao fio de espada e serão
242
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

levados cativos para todas as nações; e Jerusalém


será pisada pelos gentios, até que os tempos dos
gentios se completem”.
Os versículos 25-27 dizem: “Haverá sinais no sol,
na lua e nas estrelas; e sobre a terra, angústia das
nações em perplexidade ante o bramido do mar e dos
vagalhões; homens desmaiando de medo e pela
expectativa das coisas que sobrevirão à terra
habitada; pois os poderes dos céus serão abalados.
Então verão o Filho do Homem vindo numa nuvem,
com poder e grande glória”. Essas calamidades
sobrenaturais no céu virão após a grande tribulação
no fim desta era. Isso será diferente da quarta
trombeta (Ap 8:12), que ocorrerá muito próximo da
grande tribulação.
O versículo 27 fala da vinda às claras do
Salvador-Homem. Esse é o aspecto às claras de Sua
segunda vinda.
A palavra do Senhor em Lucas 21:20-27 se refere
à grande tribulação, à destruição de Jerusalém pelo
anticristo e à volta do Salvador-Homem. Na
mensagem seguinte, vamos considerar a palavra do
Senhor sobre a redenção dos discípulos e o
arrebatamento dos vencedores.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM QUARENTA E OITO


O SALVADOR-HOMEM
APRESENTOU-SE À MORTE
PARA REALIZAR A REDENÇÃO
(5)
Leitura Bíblica: Lc 21:5-38

Em 21:5-22:46 o Salvador-Homem prepara os


discípulos para Sua morte. Como parte dessa
preparação, Ele lhes fala das coisas por vir (21:5-36).
Vimos que essas coisas incluem a destruição do
templo (vs. 5-6), as pragas entre a ascensão do
Senhor e a grande tribulação (vs. 7-11), a perseguição
dos discípulos na era da igreja (vs. 12-19) e a grande
tribulação e a vinda do Senhor (vs. 20-27). Nesta
mensagem prosseguiremos considerando o que Ele
diz sobre a redenção dos discípulos e o
arrebatamento dos vencedores (vs. 28-36).

NOSSA REDENÇÃO ESTÁ PRÓXIMA


Em 21:28 o Salvador-Homem diz: “Quando
essas coisas começarem a acontecer, endireitai-vos e
erguei as vossas cabeças, porque a vossa redenção se
aproxima”. Nesse versículo “redenção” com certeza
se refere à redenção de nosso corpo, isto é, à
transfiguração do corpo. Paulo fala dessa redenção
em Romanos 8:23: “Igualmente gememos em nosso
íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do
nosso corpo”. Em Filipenses 3 ele fala da
transfiguração de nosso corpo: “O Senhor Jesus
Cristo, o qual transformará o nosso corpo de
24
MENSAGEM QUARENTA E OITO

humilhação, para ser igual ao corpo de Sua glória”


(vs. 20-21). Por isso a redenção que está próxima não
é a redenção do espírito ou da alma, mas do corpo.
Experimentaremos essa redenção na volta do Senhor.

O SINAL DA FIGUEIRA
Em 21:29-31 o Senhor diz aos discípulos uma
parábola: “Vede a figueira e todas as árvores. Quando
já brotam, vendo-o, sabeis por vós mesmos que o
verão está próximo. Assim também vós, quando
virdes acontecer essas coisas, sabei que está próximo
o reino de Deus”. A figueira, representando a nação
de Israel, foi amaldiçoada em Mateus 21:19. Ela
passou por um longo “inverno”, do primeiro século
até 1948 d.C., quando a nação de Israel foi restaurada.
Aquilo foi seu ramo renovando-se e suas folhas
brotando.
Essa figueira é um sinal aos crentes do fim desta
era. A renovação da figueira (Mt 24:32) significa que
a vida voltou. O brotar das folhas em Lucas 21:30
simboliza atividades exteriores. Inverno representa o
período de seca, o período de tribulação, ao passo
que verão representa a era do reino restaurado (Lc
21:30-31), que começará na segunda vinda do Senhor.
No versículo 30 o Senhor fala de o verão estar
próximo e no versículo 31, de o reino de Deus estar
próximo. Todavia na Bíblia a palavra “próximo” não
quer dizer que algo acontecerá em alguns dias ou até
mesmo em muitos anos. Para o Senhor, um evento
que ocorrerá em dois mil anos pode ainda ser
considerado próximo, porque para Ele tempo e
espaço nada significam.
Quando ouvi sobre a reformação de Israel em
1948, fiquei empolgado. Disse para mim mesmo:
246
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

“Vejam, o fim da era tem de estar próximo. A nação


de Israel ficou sob o controle dos gentios desde a
época de Nabucodonosor. Israel agora foi reformado
como nação”. Eu pensava que provavelmente em
poucos anos o Senhor voltaria, mas trinta e seis anos
já se passaram e as “folhas” ainda estão brotando.
Embora Jerusalém tivesse voltado para os judeus em
1967, só podemos dizer que o tempo está “próximo”.
Em 21:32-33 o Senhor prossegue: “Em verdade
vos digo que de modo algum passará esta geração
sem que tudo aconteça. Passará o céu e a terra,
porém as Minhas palavras de nenhum modo
passarão”. A palavra “geração” no versículo 32 não é
de acordo com a idade ou a pessoa, como as gerações
em Mateus 1:17. Em vez disso, é a geração de acordo
com a condição moral do povo, como a geração em
Lucas 11:29-32 e Provérbios 30:11-14. “Tudo” no
versículo 32 se refere às coisas preditas nos
versículos anteriores. A palavra “sem” implica que
algumas coisas ainda não aconteceram. Por isso mais
tempo é necessário para que tudo aconteça.

ADVERTÊNCIA ACERCA DA DISSIPAÇÃO,


EMBRIAGUEZ E ANSIEDADES
Nos versículos 34-35 o Senhor diz: “Olhai por
vós mesmos, para não suceder que os vossos
corações fiquem sobrecarregados com dissipação,
com embriaguez e com as ansiedades da vida, e
aquele dia venha sobre vós repentinamente como um
laço. Pois sobrevirá a todos os que habitam sobre a
face de toda a terra”. A palavra grega traduzida por
“dissipação” indica ressaca de bebedeira. A frase
“dissipação e embriaguez” se refere a entregar-se ao
prazer de comer e beber.
24
MENSAGEM QUARENTA E OITO

A palavra do Senhor aqui é semelhante àquela


em 17:27: “Comiam, bebiam, casavam e davam-se em
casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e
veio o dilúvio e os destruiu a todos”. A geração de
Noé foi caracterizada pela entrega ao ego
concupiscente. Dissipação e embriaguez em 21:34 se
referem a se entregar ao ego concupiscente no
excesso do prazer de comer e beber. A palavra do
Senhor acerca de dissipação, embriaguez e
ansiedades da vida pode ser considerada a conclusão
de Sua mensagem sobre essas coisas relatadas nos
capítulos 12, 14 e 16-18.
Os que se entregam à concupiscência de comer e
beber e estão sobrecarregados com as ansiedades da
vida ficarão entorpecidos por seu prazer e ansiedade.
De repente, inesperadamente, “aquele dia” virá sobre
eles como laço, uma rede lançada sobre eles. Esse
laço virá sobre todos que habitam na face de toda a
terra.
Como alguém idoso, posso testificar que a
tendência ou a 'maré' no meio da humanidade
mudou muito com o passar dos tempos. Dissipação,
embriaguez e a ansiedade da vida nunca foram tão
prevalecentes quanto são hoje. Por um lado, as
pessoas lutam por prazer; por outro, sofrem
ansiedades. Dissipação, embriaguez e ansiedades
levam a várias doenças. Este país é muito grande,
mas vejam quantas pessoas lutam para se entregar às
concupiscências. Muitos competem com os outros
para ter melhores carros e casas. Mas, enquanto
lutam por prazer, sofrem com as ansiedades da vida.
Como resultado, aquele dia virá sobre eles como laço.

TER FORÇA PARA ESCAPAR E ESTAR DE PÉ


248
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

DIANTE
DO FILHO DO HOMEM
Em 21:36 o Senhor diz: “Vigiai, porém, a todo
tempo, rogando para que tenhais a força de escapar
de todas essas coisas que hão de acontecer, e estar de
pé na presença do Filho do Homem”. Ter força e
habilidade é prevalecer. A força e habilidade de
escapar da grande tribulação advêm da vigilância e
do rogo.
A palavra “escapar” em 21:36 indica ser tomado,
arrebatado, antes da grande tribulação (Mt 24:21),
que será severa provação sobre toda a terra habitada
(Ap 3:10; Lc 17:34-36). Ser assim arrebatado é ser
guardado “da hora da provação, que há de vir sobre
toda a terra habitada, para pôr à prova os que
habitam sobre a terra” (Ap 3:10). Além disso, “todas
essas coisas” são as coisas da grande tribulação. Estar
de pé diante do Filho do Homem corresponde à
posição daqueles em Apocalipse 14:1. Isso indica que
os vencedores arrebatados estarão em pé diante do
Salvador no monte Sião nos céus, antes da grande
tribulação (cf. Ap 12:5-6, 14).

ROGAR POR SER GUARDADO


DA HORA DE JULGAMENTO
No versículo 36 o Salvador-Homem nos
encarrega de ser vigilantes. Em vez de ficar
entorpecidos ou drogados, precisamos ser vigilantes.
Além disso, em todo tempo precisamos rogar. Isso
não é orar de forma geral; é orar de forma específica
a fim de prevalecer para escapar das coisas que estão
para acontecer. Corno já enfatizamos, prevalecer
dessa forma é ter a força e habilidade para escapar da
24
MENSAGEM QUARENTA E OITO

grande tribulação. Não devemos ser apanhados na


tendência do mundo de hoje. Pelo contrário,
precisamos escapar dela. A força e habilidade para
escapar advêm de ser vigilantes e de rogar. Se
orarmos de forma específica, prevaleceremos para
escapar de todas as coisas que estão para acontecer.
Vimos que escapar das coisas que estão para
acontecer é ser arrebatado antes da grande tribulação.
Também é ser guardado da hora da provação que
virá sobre o mundo inteiro para provar os que
habitam na terra. Assim, a palavra do Senhor em
21:36 é o cumprimento da promessa feita à igreja em
Filadélfia: “Porque guardaste a palavra da minha
perseverança, também eu te guardarei da hora da
provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para
experimentar os que habitam sobre a terra” (Ap 3:10).
“Provação” aqui sem dúvida denota a grande
tribulação, como indicam a quinta, a sexta e a sétima
trombetas com os sete cálices (Ap 8:13- 9:21; 11:14-
15; 15:1; 16:1-2). Essa provação pode também ser
incluída nas calamidades sobrenaturais do sexto selo
e das quatro primeiras trombetas.
Em Apocalipse 3:10 o Senhor promete à igreja
restaurada, a igreja em Filadélfia, que Ele a guardará
da hora da provação. Ele a guardará não só da
provação, mas também da hora da provação, porque
ela guardou a palavra de Sua perseverança. Essa
promessa do Senhor, igual à de Lucas 21:36, indica
que os santos que guardaram a palavra da
perseverança do Senhor serão arrebatados antes da
grande tribulação. Isso implica que os que não a
guardaram serão deixados na provação.

O ARREBATAMENTO DOS VENCEDORES


250
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Antes da grande tribulação o Salvador


provavelmente ainda estará no trono. Sua parousia
(presença) começará do trono, continuará com Sua
vinda aos ares e terminará com Sua vinda à terra. Em
Sua parousla haverá o arrebatamento da maioria dos
crentes aos ares (1Ts 4:15-17), o tribunal de Cristo
(2Co 5:10) e as bodas do Cordeiro (Ap 19:7-9).
Alguns crentes, porém, como as cento e quarenta e
quatro mil primícias em Apocalipse 14, serão
arrebatados ao trono de Deus e ficarão em pé com o
Salvador no monte Sião celestial. É isso que quer
dizer Lucas 21:36: “estar em pé na presença do Filho
do Homem”. Por isso ficar em pé diante do Filho do
Homem é ser arrebatado ao trono nos céus para ficar
em pé diante do Salvador. Após esse arrebatamento,
o Salvador deixará o trono com os que foram
arrebatados aos céus e descerá aos ares para cuidar
dos crentes que serão arrebatados mais tarde.
Tem havido muito debate entre os mestres
cristãos sobre o arrebatamento dos santos e a
segunda vinda do Senhor Jesus. Alguns dizem que o
arrebatamento será antes da tribulação, e outros
dizem que ocorrerá depois dela. De acordo com as
Escrituras, cremos não só no arrebatamento geral de
todos os santos, mas também no arrebatamento dos
vencedores. Sobre isso, encorajo todos a estudar as
mensagens que demos sobre Mateus 24 e o livro de
Apocalipse.
Precisamos juntar os versículos 34-36. Eles nos
ajudam a perceber que a tendência de queda hoje na
terra é muito forte. Na verdade essa tendência se
tomou uma maré que carrega tudo e todos. É
extremamente difícil para nós, como crentes em
Cristo, ficar de pé no meio dessa maré. Para ficar de
25
MENSAGEM QUARENTA E OITO

pé, precisamos ser vigilantes e orar diariamente de


forma específica, a fim de receber a força que advém
da vida de ressurreição em nós para resistir à
tendência, à maré, do mundo. Se formos fortalecidos
dessa maneira, não seremos apanhados pela
tendência desta era; antes, seremos cheios de Cristo e
seremos bóias. Como cristãos cheios de Cristo como
ar divino, seremos arrebatados para ficar de pé
diante do Filho do Homem.
Embora a palavra “arrebatamento” não seja
encontrada em 21:34-36, há forte indicação desse
item no versículo 36. Esse versículo fala
negativamente de escapar de todas as coisas que
estão para acontecer e positivamente de ficar de pé
diante do Filho do Homem. Onde estará o Filho do
Homem na época implícita no versículo 36? Ele
ainda estará no trono nos céus. Como, então,
poderemos ficar de pé diante Dele lá? A única
maneira é ser arrebatados, ser levados aos céus.
Na epístola à igreja em Filadélfia o Senhor
promete aos vencedores que eles serão guardados,
retirados, da hora da provação. Ele promete guardá-
los da hora da grande tribulação. Isso quer dizer que
serão arrebatados antes dos três anos e meio da
grande tribulação e não permanecerão na terra para
encontrar o anticristo.
Se seremos ou não arrebatados antes da grande
tribulação e levados para nos encontrar com Cristo
no trono, não depende Dele; depende de nossa
vigilância e oração de forma específica.
Constantemente precisamos ser vigilantes e rogar
para prevalecer a fim de escapar da grande tribulação.
Precisamos orar para ter a força e habilidade de
escapar das coisas que ocorrerão na terra.
252
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

A mulher de Lá é um exemplo de alguém que


não prevaleceu para escapar. Em 17:32 o Senhor diz:
“Lembrai- vos da mulher de Lá”. A mulher de Lá
tornou-se uma coluna de sal porque se demorou,
olhou de volta para Sodoma. Isso indica que ela
amava o mundo maligno que Deus estava prestes a
julgar e destruir. Não devemos ser como ela.
Devemos prevalecer para escapar, para ser
guardados da grande tribulação. Como já
enfatizamos, isso é ser arrebatado para ficar de pé
diante do Filho do Homem no monte Sião celestial.
Ele, então, começará Sua parousía conosco. Quando
Ele deixar o trono para voltar à terra, estaremos com
Ele. Quão empolgante será! Sem dúvida, os que
ficarem de pé diante do Filho do Homem no monte
Sião, nos céus, ficarão fora de si de alegria no Senhor.

ENSINAR DIARIAMENTE NO TEMPLO


Lucas 21:37-38 diz: “Ora, durante o dia Ele
ensinava no templo, mas à noite, saindo, pousava no
monte chamado Olival. E todo o povo madrugava
para ir ter com Ele no templo, a fim de ouvi-Lo”. O
ensinamento do Senhor registrado em 21:5-36 foi
dado no monte das Oliveiras. Então, como indicam
os versículos 37 - 38, o Senhor ensinava diariamente
no templo. Entretanto, à noite, Ele ficava no monte
das Oliveiras. Ensinando no templo cotidianamente,
Ele deixou tudo pronto para ser morto no dia da
Páscoa. Ele preparou a Si mesmo, os discípulos e o
ambiente para Sua crucificação. As pessoas que
vinham ao templo de manhã para ouvi-Lo não
sabiam o que acontecia. Mas Ele estava muito ciente
do que ocorria. Sabia que estava preparando a Si
mesmo, os discípulos, os opositores e o ambiente
25
MENSAGEM QUARENTA E OITO

para o cumprimento de Sua morte redentora.


ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM QUARENTA E NOVE


O SALVADOR-HOMEM
APRESENTOU-SE À MORTE
PARA REALIZAR A REDENÇÃO
(6)
Leitura Bíblica: Lc 22:1-23

Nesta mensagem, vamos considerar Lucas 22:1-


23. Entretanto, antes de chegar a esse trecho,
gostaria de falar um pouco mais sobre 21:5-36.

ASPECTOS DA PROFECIA DO SALVADOR-


HOMEM
Em 21:34-35 o Senhor diz: “Olhai por vós
mesmos, para não suceder que os vossos corações
fiquem sobrecarregados com dissipação, com
embriaguez e com as ansiedades da vida, e aquele dia
venha sobre vós repentinamente como um laço. Pois
sobrevirá a todos os que habitam sobre a face de toda
a terra”. Laço aqui não se refere ao dia da vinda do
Senhor; antes, é o dia da grande tribulação, a hora da
provação, que virá sobre toda a terra (Ap 3:10).
Assim, a grande tribulação virá como laço sobre
todos os que habitam a face de toda terra.
No versículo 24 o Senhor Jesus fala de tempos
dos gentios: “Cairão ao fio da espada e serão levados
cativos para todas as nações; e Jerusalém será pisada
pelos gentios até que os tempos dos gentios se
completem”. Tempos dos gentios aqui não se refere
ao tempo da graça, que é o tempo para a salvação dos
gentios, conforme indica Romanos 11:25. Em Lucas
25
MENSAGEM QUARENTA E NOVE

21:24 os tempos dos gentios representam o tempo


em que os gentios controlam a nação de Israel. Esse
controle começou com Nabucodonosor e será
completado quando o anticristo for destruído na
batalha de Armagedom, mencionada em Apocalipse
19.
O versículo 24 é difícil para os expositores da
Bíblia. O motivo dessa dificuldade é que certas
profecias na Bíblia sobre a destruição de Jerusalém
misturam dois ou três assuntos. O templo já foi
contaminado duas vezes, e o será outra vez no futuro.
Ele foi contaminado primeiro por Antíoco Epifânio,
representado pelo pequeno chifre em Daniel 8:8-9.
Antíoco prefigurava Tito, o príncipe romano que
contaminou o templo pela segunda vez em 70 d.C.
Assim, a profecia em Daniel 8 mistura a
contaminação do templo causada tanto por Antíoco
Epifânio como por Tito. Além disso, a profecia sobre
Tito no fim de Daniel 9 o mistura com Antíoco. Por
isso as profecias em Daniel sobre a destruição de
Jerusalém implicam na destruição causada por
Antíoco Epifânio, Tito e o anticristo.
Quando lemos Lucas 21:24, podemos pensar que
esse versículo descreve a destruição de Jerusalém
causada por Tito. Entretanto, se considerarmos o
contexto, veremos que o versículo 24 não se refere a
isso. O versículo 25 diz: “Haverá sinais no sol, na lua
e nas estrelas; e sobre a terra, angústia das nações em
perplexidade ante o bramido do mar e dos vagalhões”.
De acordo com a história, essas coisas não
aconteceram depois de Tito ter destruído Jerusalém.
Além disso, os versículos 26-27 prosseguem:
“Homens desmaiando de medo e pela expectativa das
coisas que sobrevirão à terra habitada; pois os
256
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

poderes dos céus serão abalados. Então verão o Filho


do Homem vindo numa nuvem, com poder e grande
glória”. É claro, essas coisas não aconteceram depois
que Tito destruiu Jerusalém. Por isso esses versículos
indicam que a destruição no versículo 24 deve
referir-se a uma futura destruição, à destruição
vindoura de Jerusalém sob domínio do anticristo.
Hoje Jerusalém está livre. Mas, quando o
anticristo se levantar contra Deus, ele vai capturá-la e
destruí-la. Lucas 21:24 fala dessa destruição futura.
Em 21:5-36 temos a profecia do Salvador-
Homem sobre as coisas por vir. Primeiro Ele revela
aos discípulos a destruição do templo (vs. 5-6).
Depois fala das calamidades que sobrevirão entre Sua
ascensão e a grande tribulação (vs. 7-11). Nesse
mesmo período, entre a ascensão do Senhor e a
grande tribulação, Seus seguidores serão perseguidos.
O Senhor fala dessa perseguição nos versículos 12-19.
Por isso, em 21:7-19, vemos que duas coisas
ocorrerão no mesmo período: calamidades e
perseguição.
Nos versículos 20-27 o Senhor fala sobre a
grande tribulação e Sua vinda e nos versículos 28-36,
da redenção dos discípulos e do arrebatamento dos
vencedores. Antes da hora da provação, a grande
tribulação, precisamos ser vigilantes, em todo tempo
orando para escapar “de todas essas coisas que hão
de acontecer, e estar de pé na presença do Filho do
Homem” (v. 36). Isso é ser arrebatado antes da
grande tribulação, ou seja, ser levado ao trono nos
céus. Enquanto as calamidades ocorrerem e a
perseguição acontecer, esperaremos para ser
arrebatados, mas, se quisermos ser arrebatados antes
da grande tribulação, precisamos ser vigilantes e
25
MENSAGEM QUARENTA E NOVE

atentar por nós mesmos, para que em tempo algum


nosso coração esteja sobrecarregado com dissipação,
embriaguez e ansiedades da vida, e aquele dia nos
sobrevenha de repente como um laço ':34).
Precisamos estar vigilantes para que nosso. coração
não esteja sobrecarregado com dissipação,
embriaguez e ansiedades da vida atual.
Lucas 21:5-22:46 é uma seção na qual o
Salvador-Homem prepara os discípulos para Sua
morte. Ele executa essa preparação de duas
maneiras: primeiro, fala a eles das coisas por vir
(21:5-36); segundo, institui Sua ceia para que eles
participem de Sua morte (22:7-23). Mesmo ao
instituir a ceia, ou o que podemos chamar de mesa do
Senhor, o Salvador-Homem preparava os discípulos
para Sua morte
redentora.

AS ATIVIDADES DE DEUS, SATANÁS E OS


OPOSITORES
Enquanto o Senhor preparava a Si e os
discípulos para Sua morte, os opositores, os líderes
na comunidade judaica, estavam ocupados
procurando uma oportunidade de prendê-Lo e matá-
Lo. A soberania do Senhor foi exercida aqui, porque
esse era o ano no qual o Messias tinha de ser cortado,
isto é o Salvador de antemão ordenado tinha de
morrer. Além' disso, o mês e dia exatos tinham sido
profetizados no Antieo Testamento. Era crucial,
portanto, que o Salvador fosse levado à morte no dia
exato profetizado e tipificado
no Antigo Testamento.
Não era fácil tudo ser arranjado para que o
Salvador-Homem fosse levado à morte na hora e
258
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

lugar exatos. Isso com certeza exigia o exercício da


soberania do Deus Triúno. O Filho preparou-Se para
morrer. O Espírito e o Pai também trabalhavam para
preparar o ambiente para que o Filho morresse na
cruz exatamente de acordo com o que fora
profetizado e tipificado no Antigo Testamento.
Em Lucas 22 vemos que, enquanto o Salvador-
Homem Se preparou para morrer, os opositores
estavam ocupados com sua conspiração, seu complô.
Ao mesmo tempo, o inimigo de Deus, Satanás,
também estava ocupado, especificamente usando
Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos designados
pelo Salvador-Homem. Satanás instigava a traição de
Judas ao Senhor Jesus. Ele injetou em Judas a ideia
de encontrar uma oportunidade de entregar o Senhor
na mão dos que queriam matá-Lo. Por isso nesse
capítulo vemos a conspiração dos opositores e o
trabalhar de Satanás. Por um lado, “os principais
sacerdotes e os escribas procuravam um modo de
eliminá-Lo” (v. 2). Por outro, “Satanás entrou em
Judas, chamado Iscariotes, que era do número dos
doze. Este foi tratar com os principais sacerdotes e
com os capitães de como Lho entregaria” (vs. 3-4).

A PÁSCOA SUBSTITUÍDA PELA CEIA DO


SENHOR
Em 22:7-23 o Salvador-Homem instituiu Sua
ceia em substituição da páscoa do Antigo Testamento.
No Antigo Testamento, a páscoa era muito
importante, algo que pode ser considerado igual à
criação de Deus. No Antigo Testamento temos
primeiro o relato da criação de Deus. Depois vemos
que o homem criado por Deus caiu e, por fim, desceu
ao Egito. Quando Deus estava para salvar Seu povo
25
MENSAGEM QUARENTA E NOVE

do cativeiro do Egito, ordenou a festa da Páscoa. A


páscoa foi a hora em que o povo de Deus foi salvo e
trazido de volta a seu direito perdido. A observância
da páscoa durou mais de mil e quinhentos anos,
desde a época de Êxodo 12 até a noite na qual o
Salvador-Homem teve a última páscoa com os
discípulos.
Lucas 22:7-23 é uma seção decisiva da Palavra
porque marca o fim da páscoa do Antigo Testamento.
Aqui vemos que o Salvador-Homem instituiu Sua
ceia, a mesa do Senhor, para substituir a páscoa do
Antigo Testamento. Com isso, vemos que a noite na
qual Ele instituiu a ceia foi um período de transição.
Uma transição ocorreu, da Páscoa do Antigo
Testamento para a ceia do Novo Testamento do
Senhor. Isso é de grande importância.
Em Lucas 22 precisamos ver a distinção entre a
páscoa e a mesa do Senhor. Os versículos 7-18 dizem
respeito à páscoa, e os versículos 19-20, à ceia do
Senhor. O versículo 7 diz: “Chegou o dia dos Pães
Asmos, em que se devia imolar a páscoa”. A Festa dos
Pães Asmos durava sete dias (Lv. 23:6). Era também
chamada de Páscoa (Mc 14:1). Na verdade, a Festa da
Páscoa era o primeiro dia da F esta dos Pães Asmos
(Êx 12:15-20).
Lucas 22:7 fala do dia no qual a páscoa era
imolada. No calendário judaico, que era de acordo
com suas Escrituras, um dia começava ao entardecer
(Gn 1:5). Na noite do dia da última Páscoa, o
Salvador-Homem primeiro comeu a festa da páscoa
com os discípulos e depois instituiu Sua ceia para
eles. Em seguida foi com eles ao Jardim de
Getsêmam no Monte das Oliveiras, onde foi preso e
levado ao sumo sacerdote e julgado pelo Sinédrio
260
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

tarde da noite. Na manhã do mesmo dia, foi entregue


a Pilatos para ser julgado por ele e sentenciado à
morte. Depois foi levado ao Gólgota e crucificado na
hora terceira (às 09hOO), permanecendo na cruz até
a hora nona (às 15hOO) (Me 15:16-41), para o
cumprimento da tipologia da Páscoa (Êx 12:6-11).
Em Lucas 22:15 o Senhor disse aos discípulos:
“Tenho desejado ardentemente comer convosco esta
páscoa, antes de sofrer”. As palavras gregas traduzi
das por “tenho desejado ardentemente” literalmente
significam “com anelo tenho anelado”. O Senhor
desejava comer a páscoa com os discípulos antes de
sofrer, ou seja, antes de ir à cruz. O comer e beber em
21:15-18 fizeram parte da celebração da última Festa
da Páscoa, antes da instituição da ceia do Senhor nos
versículos 19-20.

UMA FESTA EM TRÊS ESTÁGIOS


No versículo 16 o Senhor prossegue: “Pois vos
digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra
no reino de Deus”. O pronome “a” se refere à páscoa
no versículo 15, que se cumprirá plenamente no reino
vindouro de Deus, quando o Salvador banqueteará
com os vencedores (v. 30; 13:28-29).
Deus tem um plano completo para redimir os
Seus e introduzi-los no Seu jubileu. A Festa da
Páscoa é um sinal da redenção plena de Deus, a qual
é a introdução de Seus escolhidos no pleno desfrute
Dele mesmo. Esse desfrute é uma questão do jubileu
abordado no Evangelho de Lucas como o
cumprimento da profecia em Isaías e a tipologia em
Levítico 25. O jubileu é na verdade o desfrute de
Deus por meio de Sua redenção. A festa que
representava o jubileu era primeiro a da Páscoa no
26
MENSAGEM QUARENTA E NOVE

Antigo Testamento e depois a mesa do Senhor no


Novo Testamento.
A Festa da Páscoa não foi totalmente cumprida
no Antigo Testamento. A mesa do Senhor, que
também é uma festa, a substitui e continua, mas nem
mesmo essa festa neotestamentária foi totalmente
cumprida; ela será totalmente cumprida no reino
vindouro.
Se lermos a Bíblia com cuidado, veremos que
uma festa é mencionada tanto no Antigo como no
Novo Testamento. Ela começou em Êxodo 12 e
continuou por mais de quinze séculos até a noite na
qual o Senhor Jesus a substituiu por Sua mesa. Hoje,
na vida da igreja, o povo de Deus está presente nessa
festa neotestamentária. Contudo ela só será
cumprida completamente na festa do reino vindouro.
Isso quer dizer que a festa no reino será o
cumprimento da festa da Páscoa e da festa da mesa
do Senhor.
Aparentemente há três festas: a da Páscoa, a da
mesa do Senhor e a no reino. Na verdade, não são
três; é uma só festa em três estágios. Deus
estabeleceu uma festa por meio de Sua redenção para
nosso desfrute pleno do jubileu em três estágios: o do
Antigo Testamento, o do Novo Testamento e o do
reino.
Podemos dizer que a Páscoa era o jubileu do
Antigo Testamento. Quando ela foi instituída, os
israelitas oprimidos foram libertados do cativeiro no
Egito, da tirania de Faraó. Eles tinham sido cativos
em escravidão. Do lado negativo, a Páscoa os libertou
daquele cativeiro; do lado positivo, ela os introduziu
numa festa para desfrutar o cordeiro, símbolo de
Cristo como corporificação de Deus. Naquele dia eles
262
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

foram introduzidos no desfrute de Deus; desfrutaram


o cordeiro e a páscoa. Mais tarde, no deserto,
desfrutaram o maná. Depois de entrar na boa terra,
desfrutaram as riquezas da terra, que prefiguram
Cristo em Sua todo-inclusividade. Agora podemos
ver que a Páscoa os libertou do cativeiro e os
introduziu no desfrute de Deus. Entretanto eles, por
fim, perderam esse desfrute e foram levados
novamente ao cativeiro.
Em Lucas 4 o Salvador-Homem proclamou
outro estágio do jubileu: o do Novo Testamento, que
também tem um símbolo ou sinal: a mesa do Senhor.
A mesa do Senhor é um sinal do jubileu que nos
liberta do cativeiro e nos introduz no pleno desfrute
do Deus Triúno. Não é somente uma substituição da
Festa da Páscoa do Antigo Testamento; é também
continuação dela.
A festa do Novo Testamento, da mesa do Senhor,
será substituída e continuada pela festa no reino
vindouro; será a festa no terceiro estágio. A festa
vindoura, que substituirá e continuará a mesa do
Senhor, também será um símbolo do jubileu.
Naquela época os escolhidos e redimidos de Deus
serão libertados de todas as ocupações, cativeiros e
escravidões, e introduzidos no desfrute do Deus
Triúno na era do reino.

O CÁLICE DA PÁSCOA
Lucas 22:17 -18 diz: “E, tendo recebido um cálice,
havendo dado graças, disse: Tomai isto e reparti-o
entre vós; pois vos digo que, de agora em diante, de
nenhum modo beberei do fruto da videira, até que
venha o reino de Deus”. Determinados leitores desse
capítulo podem pensar que esse é o cálice da mesa do
26
MENSAGEM QUARENTA E NOVE

Senhor. Porém é o cálice da F esta da Páscoa, e não


da mesa do Senhor. No versículo 16 o Senhor e os
discípulos comeram a Páscoa e no versículo 17
beberam o cálice daquela festa. Os versículos 19-20
falam da mesa do Senhor. Precisamos fazer distinção
clara entre as duas festas em 22:7-23. Parece ser
proveitoso marcar nossa Bíblia para indicar que a
festa da Páscoa termina no versículo 18 e a ceia do
Senhor começa no versículo 19.

O PÃO E O CÁLICE DA MESA DO SENHOR


Lucas 22:19 diz: “E, tomando um pão, tendo
dado graças, o partiu e deu-lho, dizendo: Isto é o Meu
corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de
Mim”. O pão no versículo 19 não é o pão da Páscoa; é
o pão da mesa do Senhor. Além disso, nesse versículo
o Senhor disse: “Fazei isto em memória de Mim”.
Assim, não era em memória do que ocorrera em
Êxodo 12. Tomar o pão da mesa do Senhor é feito em
lembrança do Salvador-Homem.
O versículo 20 diz: “Semelhantemente, depois de
cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a nova
aliança em Meu sangue, que é derramado por vós”.
Outra vez, esse não é o cálice da Páscoa; antes, é a
nova aliança no sangue do Senhor.
Deus fez uma aliança com o Israel redimido em
Êxodo 24:3-8 (Hb 9:18-21), que se tomou o antigo
testamento, como base para Ele lidar com Seu povo
redimido na dispensação da lei. O Salvador-Homem
veio cumprir a redenção eterna de Deus para o povo
escolhido de Deus, por meio de Sua morte, segundo a
vontade de Deus (Hb 10:7, 9-10), e com Seu sangue
instituiu a nova aliança, uma aliança melhor (Hb 8:6-
13), que se tomou o novo testamento depois de Sua
264
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

ressurreição (Hb 9:16-17), como base para Deus ser


um com os Seus redimidos e regenerados na
dispensação da graça. Essa nova aliança substituiu a
antiga e simultaneamente mudou a antiga
dispensação de Deus para Sua nova dispensação. O
Salvador-Homem queria que os discípulos
soubessem disso e vivessem baseados nisso e de
acordo com isso após Sua ressurreição.

LEMBRAR-SE DO SALVADOR-HOMEM
Já enfatizamos que o Salvador-Homem instituiu
Sua ceia, a mesa do Senhor, depois que Ele e os
discípulos comeram a Festa da Páscoa. Ele iniciou a
ceia, que era para que os crentes se lembrassem Dele,
em continuação e substituição à Festa da Páscoa do
antigo testamento, que era para que os eleitos se
lembrassem da salvação do Senhor (Êx 12:14; 13:3).
Essa nova prática do Novo Testamento é em
memória do Salvador-Homem, comendo-se o pão,
que representa Seu corpo dado em favor de Seus
crentes (1Co 11:24), e bebendo-se do cálice, que
representa Seu sangue derramado em favor dos
pecados deles (Mt 26:28). O pão denota vida (Jo
6:35), a vida de Deus, a vida eterna, e o cálice denota
bênção (1Co 10:16), que é o próprio Deus como
porção dos crentes (Sl 16:5). Como pecadores, os
crentes deveriam ter tomado o cálice da ira de Deus
como sua porção (Ap 14:10). Mas o Salvador-Homem
o bebeu por eles (Jo 18:11), e Sua salvação se tomou
sua porção, o cálice da salvação (SI 116:13) que
transborda (Sl 23:5), cujo conteúdo é Deus como a
bênção todo-inclusiva dos crentes. Esse pão e esse
cálice são os elementos que constituem da ceia do
Salvador-Homem, que é uma mesa (1Co 10:21), uma
26
MENSAGEM QUARENTA E NOVE

festa, preparada por Ele para que Seus crentes se


lembrem Dele desfrutando-O como essa festa. Assim,
eles testificam de Sua rica e maravilhosa salvação a
todo o universo e mostram Sua morte redentora e
transmissora de vida (1Co 11:26).
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM CINQUENTA
O SALVADOR-HOMEM
APRESENTOU-SE À MORTE
PARA REALIZAR A REDENÇÃO
(7)
Leitura Bíblica: Lc 22:7-46

Na mensagem anterior enfatizamos que em


Lucas 22:7-20 temos tanto a Páscoa como a ceia do
Senhor. Nos versículos 7-18 há um registro sobre
comer a Páscoa e nos versículos 19-20, um registro a
respeito do Senhor instituindo Sua ceia para que os
discípulos participassem de Sua morte. Na Páscoa o
item principal desfrutado pelo povo escolhido por
Deus era o cordeiro - esse era seu alimento. Na mesa
do Senhor, porém, o item principal para nosso
desfrute como crentes do Novo Testamento não é o
cordeiro, e sim o pão. Isso é muito significativo, e
nesta mensagem precisamos considerar isso em mais
detalhes do que fizemos anteriormente.
Quando o Senhor Jesus foi oferecido a Deus para
nossa redenção, não foi oferecido como pão, mas
como Cordeiro. Entretanto o resultado não é o
Cordeiro, mas o pão. O Cordeiro era um elemento
isolado, mas o pão é algo corporativo. Não é possível
um simples grão de trigo formar um pão. O pão é um
elemento corporativo, algo composto e constituído de
muitos grãos. Na Festa da Páscoa não há a concepção
de festejar sobre algo corporativo em natureza, mas
na mesa do Senhor os símbolos, principalmente o
pão, têm característica muito significativa, que é a de
26
MENSAGEM CINQUÊNTA

um elemento corporativo, uma entidade corporativa.


É muito importante perceber isso.
O pão na mesa do Senhor indica algo que vem
depois da morte do Senhor; ele significa algo que
resulta do Senhor em Sua ressurreição. O que é
tipificado pelo pão não é algo antes da morte do
Senhor, mas algo depois de Sua morte e em Sua
ressurreição. Antes de Sua morte, o Senhor Jesus era
um Cordeiro individual, isolado, mas o que resulta de
Sua morte em ressurreição é uma entidade
corporativa. Essa entidade é o pão, que representa
uma entidade corporativa.
No Evangelho de Lucas, é claro, não vemos
muito desenvolvimento sobre o pão da mesa do
Senhor. Precisamos lembrar-nos, porém, que a
impressão de Lucas sobre isso vem da revelação de
Paulo. Sobre o pão, devemos ir de Lucas 22 até a
palavra de Paulo em 1Coríntios 10:7: “Porque nós,
embora muitos, somos unicamente um pão, um só
corpo; porque todos participamos do único pão”.
Aqui vemos que o pão representa não só o corpo
físico do Salvador; também simboliza Seu Corpo
místico, que é a igreja. Isso não é questão de um
indivíduo; é questão de um Corpo coletivo.
Todos somos um pão, um Corpo, porque todos
participamos de um único pão. Nossa participação
conjunta do único pão testifica que todos somos um.
Isso indica que nossa participação de Cristo faz de
todos nós Seu único Corpo. O próprio Cristo de quem
participamos constitui-se em nós um Corpo.
No Evangelho de Lucas a palavra “igreja” não é
usada. Entretanto há certos indícios, ou indicações,
da igreja nesse evangelho. Por exemplo, no capítulo
dez a hospedaria se refere à igreja. De modo
268
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

semelhante há um indício a respeito da igreja na


parábola do senhor da vinha no capítulo vinte. Os
líderes judeus são comparados a lavradores. De
acordo com 20:16 os lavradores são destruí dos e a
vinha é dada a outros. Esses “outros” são os crentes
do Novo Testamento, os componentes da igreja. Em
20:17-18 o Senhor prossegue referindo-se a Si mesmo
como a pedra de ângulo: “Que quer dizer, pois, o que
está escrito: A pedra que os construtores rejeitaram,
essa tornou-se cabeça de ângulo?”. Essa pedra de
ângulo com certeza é para a edificação da igreja. Essa
é outra indicação categórica de que a igreja é
mencionada nesse evangelho. Agora em Lucas 22 o
pão é relacionado com a igreja. De acordo com o
desenvolvimento em outro lugar no Novo
Testamento, o pão representa o Corpo de Cristo, a
igreja. Por isso o pão em 22:19 indica a igreja.
Antes de Sua morte, o Salvador-Homem era um
Cordeiro, mas, depois de Sua morte e em Sua
ressurreição, Ele se tornou um pão. Na Festa da
Páscoa no Antigo Testamento o desfrute era do
cordeiro, mas na festa do Novo Testamento o
desfrute é o pão. O Cordeiro se tornou um pão por
meio do processo de morte e ressurreição.
À mesa do Senhor, mostramos, exibimos, a
morte do Senhor, mas mostramos Sua morte em Sua
ressurreição. Sempre que nos chegamos à mesa do
Senhor, devemos manter em mente que não estamos
em Sua morte, mas em Sua ressurreição. Visto que
agora participamos do pão, na ressurreição do
Senhor mostramos Sua morte. Esse pão não inclui só
o próprio Senhor, mas também Ele conosco. Por isso
o pão não é mais o Cristo individual; é o Cristo
coletivo (1Co 12:12), incluindo o Senhor Jesus e os
26
MENSAGEM CINQUÊNTA

crentes.
Na instituição da mesa do Senhor, o pão é o
elemento principal. Na cruz vemos o Cordeiro, mas
na mesa vemos o pão. Quando estamos à mesa do
Senhor, precisamos perceber que o pão inclui a
Cabeça e o Corpo; isto é, inclui Cristo e todos os
crentes. Assim, é um pão completo, uma entidade
corporativa. Louvado seja o Senhor porque o
Cordeiro se tornou o pão! Mediante Sua morte e em
Sua ressurreição, o Cordeiro se tornou o pão. De
acordo com João 12:24, o Senhor caiu na terra e
morreu como grão de trigo; e depois, em ressurreição,
tornou-se um pão composto de muitos grãos. Esse
pão é inexaurível!
Depois de considerar a mesa do Senhor
repetidas vezes, por muitos anos, posso testificar que
o pão e o cálice são inexauríveis. Antes de o Senhor
Jesus ter ido à cruz, Ele era o Cordeiro
individualmente, mas, depois de passar pela morte e
surgir em ressurreição, tornou-se um pão que inclui
tanto Ele como nós. Além disso, o sangue que Ele
derramou na cruz tornou-se uma aliança, e essa
aliança tornou-se um cálice, uma porção que é o
próprio Deus como bênção para nosso desfrute. Deus
é aquinhoado a nós nesse cálice; Ele é nossa porção
para desfrutar. Nisso vemos o sentido da ceia do
Senhor instituída no capítulo vinte e dois. Somos
gratos ao Senhor por nos dar essa compreensão de
Sua ceia.

A FALTA DE COMPREENSÃO DOS


DISCÍPULOS
É pouco provável que Pedro, Tiago, João e os
outros discípulos compreendessem o sentido da ceia
270
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

do Senhor quando ela foi instituída. Pedro pode ter


dito a si mesmo: “O Senhor fala de um pão e depois
de Seu corpo? Que quer dizer? Como pode um pão
ser um corpo? Um pão é proveniente da vida vegetal
e um corpo é proveniente da vida animal. Como pode
a vida vegetal tornar-se vida animal? Não
compreendo”. Além disso, Tiago e João podem não
se ter importado com o pão, mas somente com
sentar-se à direita e à esquerda do Senhor. Tiago
pode ter dito para si mesmo: “Não me importo como
esse pão. Importo-me com o trono e se me sentarei
ou não à direita ou esquerda do Senhor”. Os
discípulos não tinham coração nem ouvidos para a
palavra do Senhor sobre o pão e o cálice.
Devemos aprender com os discípulos e ser
diferentes. Não devemos importar-nos com o trono
ou com o sentar à direita ou esquerda do Senhor;
antes, devemos importar-nos com o pão, o Corpo, a
vida da igreja, e devemos também nos importar com
o cálice, para o Deus Triúno ser nossa porção de
desfrute pela eternidade.

MORTE E RESSURREIÇÃO
Em Seu ministério, seja na Galileia ou a caminho
de Jerusalém, o Salvador-Homem enfatizou Sua
morte e ressurreição. Três vezes Ele desvendou Sua
morte e ressurreição aos discípulos (9:21-22, 44-45;
18:31- 34). Agora, com a instituição de Sua ceia, o
ponto mais importante enfatizado por Ele foi
novamente Sua morte e ressurreição. Foi por meio de
Sua morte e ressurreição que Ele aniquilou os
discípulos, enterrou-os, redimiu-os e os fez germinar.
Fazendo-os germinar, Ele os fez um com Ele para ser
o pão. Além disso, por meio de Sua morte e
27
MENSAGEM CINQUÊNTA

ressurreição, Ele introduziu todos nós no Deus


Triúno como nossa bênção. Por isso, por Sua morte e
ressurreição, o Salvador-Homem nos introduziu na
unidade Consigo como Seu Corpo e também no
desfrute do Deus Triúno e tudo o que Ele fez por nós.

SINAL DO JUBILEU
Ser um com o Senhor como o Corpo é questão de
vida e desfrutar o Deus Triúno é questão de bênção.
À mesa do Senhor temos o pão representando o
Corpo em vida e temos o cálice representando a
bênção do Deus Triúno. À mesa temos vida e bênção.
Aqui estamos livres do cativeiro e estamos no
desfrute do Deus Triúno. Esse é o sentido da mesa do
Senhor como sinal do jubileu.
272
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

EXPÔS JUDAS
Em 22:21-23 vemos que o Senhor enfatizou que
um dos discípulos O trairia: “Mas eis que a mão do
Me trai está Comigo à mesa. Porque o Filho do
Homem vai, segundo o que está determinado; mas ai
daquele homem por intermédio de quem Ele é
traído! E eles começaram a discutir entre si sobre
quem seria dentre eles o que estava para fazer isso”.
Quem O estava para trair era Judas, é claro. Depois
de ser exposto, Judas saiu (Jo 13:21-30) antes da ceia
do Sa1vador-Homem (Mt 26:20-26). Ele não
participou do corpo e do sangue do Salvador-Homem
porque não era crente verdadeiro Nele, mas filho da
destruição (Jo 17:12), considerado pelo Salvador-
Homem como diabo (Jo 6:70-71).
Lucas 22:21- 23 parece indicar que Judas saiu
depois da ceia do Senhor, mencionada em 22:19-20.
O registro de Marcos, porém, bem como o de Mateus,
mostra que Judas foi apontado pelo Senhor Jesus
como Seu traidor em Marcos 14:18-21, antes de Ele
ter instituído Sua ceia nos versículos 22-24. O
registro de Marcos está de acordo com a sequência
histórica, ao passo que o de Lucas está de acordo com
a sequência da mora1idade.
Você sabe por que o Senhor Jesus expôs Judas?
Ele o expôs para apressar a hora de ser entregue aos
opositores. Sabendo que estava próxima a hora de ser
crucificado, o Senhor fez Judas se apressar para traí-
Lo.

ENSINOU OS DISCÍPULOS ACERCA DE


HUMILDADE
E PREDISSE SEU TROPEÇO
27
MENSAGEM CINQUÊNTA

Em Lucas 22:24-38 o Salvador-Homem ensina


os discípulos acerca de humildade e prediz seu
tropeço. O versículo 24 diz: “Levantou-se também
entre eles uma contenda sobre qual deles parecia ser
o maior”. A palavra grega traduzida por “contenda”
significa inclinação para rixas, ânsia por contendas.
Esse versículo indica que os discípulos não tinham
coração ou ouvidos para se importar com o que o
Senhor dizia. Enquanto Ele falava sobre Seu corpo e
sangue, eles ponderavam sobre qual deles era o
maior. Sobre isso, houve contenda no meio deles.
Nos versículos 25-27 o Senhor disse aos
discípulos: “Os reis dos gentios senhoreiam sobre
eles, e os que sobre eles exercem autoridade são
chamados benfeitores. Mas vós não sereis assim; pelo
contrário, o maior entre vós torne-se como o mais
jovem; e aquele que dirige, como o que serve. Pois
quem é o maior: o que está reclinado à mesa, ou o
que serve? Não é o que está reclinado à mesa? Eu,
porém, estou no meio de vós como aquele que serve”.
A palavra do Senhor sobre servir é totalmente
contrária à mente natural que busca os próprios
interesses.
No versículo 28 o Senhor prosseguiu: “Mas vós
sois os que tendes permanecido Comigo nas Minhas
provações”. O Senhor parecia dizer aqui: “Não
pensem no trono, pensem em Minhas provações.
Estou prestes a ser crucificado. Vocês precisam
esquecer a grandeza e lembrar de que agora estão
Comigo em Minhas provações, em Meus
sofrimentos”.
Nos versículos 29-30 o Senhor continua: “Eu vos
confiro um reino, como Meu Pai Mo conferiu, para
que comais e bebais à Minha mesa no Meu reino; e
274
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

vos assentareis em tronos para julgar as doze tribos


de Israel”. A mesa aqui é a festa na parábola em
Mateus 22:1-4 e as bodas em Apocalipse 19:9 para os
santos vencedores. O Senhor queria que os discípulos
não se importassem com o trono ou com ser grande,
mas com o reino, o jubileu. Comer e beber à Sua
mesa em Seu reino será na era vindoura. Essa será a
hora de os discípulos pensarem no trono.
Em 22:31-34 o Senhor disse a Pedro que ele O
negaria.
Os versículos 31-32 dizem: “Simão, Simão, eis que
Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo.
Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não
desfaleça; e tu, quando te converteres, fortalece teus
irmãos”. De acordo com o versículo 33, Pedro disse:
“Senhor, estou pronto a ir Contigo tanto para a prisão
como para a morte”. O Senhor replicou: “Digo-te,
Pedro: Não cantará hoje o galo até que três vezes
tenhas negado que me conheces” (v. 34).
Nos versículos 35-37 o Senhor falou aos
discípulos acerca de comprar uma espada: “Quando
vos enviei sem bolsa, sem alforje e sem sandálias,
faltou-vos porventura alguma coisa? Nada, disseram
eles. E lhes disse: Agora, porém, quem tem bolsa,
tome-a, como também o alforje; e o que não tem
espada, venda a sua veste e compre uma. Pois vos
digo que importa que se cumpra em Mim isto que
está escrito: E com iníquos foi contado. Pois o que
Me diz respeito tem seu cumprimento”. Naquela
época, as pessoas portavam espada quando viajavam,
assim como levavam bolsa e alforje. O que o Salvador
disse não significa que queria que os discípulos se
armassem para resistir à prisão iminente (ver 49-51:
Mt 26:51-54); antes, indica que a atitude das pessoas
27
MENSAGEM CINQUÊNTA

em relação a Ele havia mudado.


Os discípulos não compreenderam a palavra do
Senhor sobre comprar uma espada. Pensaram que
estavam prestes a lutar com espadas. Esse foi o
motivo de terem Lhe dito:
“Senhor, eis aqui duas espadas” (v. 38b). Quando Ele
ouviu isso, disse-lhes: “Basta!” (v. 38). Isso indica
não que as duas espadas eram suficientes, mas que
sua conversa já era suficiente (ver 1 Re 19:4).
Alguns leitores do Novo Testamento têm
dificuldades para compreender Lucas 22:38.
Negligenciando a gramática, eles podem pensar que
o Senhor diz que as duas espadas já bastavam,
quando na verdade Ele dizia que a conversa dos
discípulos já bastava, que era suficiente. Aqui o
Senhor parecia dizer: “Não falem mais sobre isso.
Não quero falar-lhes mais porque não consegui ir até
o fundo, o fim do assunto. Quando falo com vocês
sobre Minha mesa, vocês não compreendem nada.
Quando falo sobre Me negar e sobre a sua
necessidade de se humilhar, vocês não compreendem.
Agora Me dizem que têm duas espadas. Chega de
conversa. Vamos a um lugar a fim de orar”.

OROU SOBRE OS SOFRIMENTOS DE SUA


MORTE
E INCUMBIU OS DISCÍPULOS DE ORAR
Em 22:39-46 o Salvador-Homem orou sobre os
sofrimentos de Sua morte e incumbiu os discípulos
de orar. Os versículos 39-40 dizem: “E, saindo, foi,
como de costume, para o Monte das Oliveiras; e os
discípulos também O seguiram. Chegando ao lugar,
disse-lhes: Orai, para que não entreis em tentação”.
O lugar mencionado no versículo 40 era o Getsêmani
276
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

(Mt 26:36). O Salvador-Homem incumbiu os


discípulos de orar de modo que estivessem
preparados para receber Sua morte.
De acordo com o versículo 42, o Senhor Jesus
orou: “Pai, se queres, afasta de Mim este cálice;
todavia, não se faça a Minha vontade, e, sim, a Tua”.
“Cálice” aqui se refere à morte do Salvador na cruz.
No versículo 42 o Salvador-Homem orou para
que a vontade do Pai fosse feita. O Deus Triúno
determinou em Seu plano divino na eternidade
passada que o Segundo da Trindade divina devia
encarnar-se e morrer na cruz a fim de cumprir Sua
redenção eterna para o cumprimento de Seu
propósito eterno (Ef 1:7-9). Assim, ao Segundo da
Trindade foi ordenado ser o Cordeiro de Deus (Jo
1:29) antes da fundação do mundo, ou seja, na
eternidade passada (1Pe 1:19-20), e, aos olhos de
Deus, como o Cordeiro de Deus, Ele foi morto desde
a fundação do mundo, isto é, desde a existência das
criaturas caídas de Deus (Ap 13:8). Depois da queda
do homem, cordeiros, ovelhas, bezerros e touros
foram usados como tipos para o povo escolhido de
Deus (Gn 3:21; 4:4; 8:20; 22:13; Êx 12:3-8; Lv. 1:2),
apontando para Aquele que haveria de vir como o
verdadeiro Cordeiro preordenado por Deus. Na
plenitude dos tempos, o Deus Triúno enviou o
Segundo da Trindade divina, o Filho de Deus, para
vir encarnado a fim de tomar um corpo humano (Hb
10:5), de modo que Ele fosse oferecido a Deus na cruz
(Hb 9:14; 10:12), para fazer a vontade do Deus
Triúno (Hb 10:7), isto é, substituir os sacrificios e
ofertas, que eram tipos, por Ele mesmo em Sua
humanidade como o único sacrificio e oferta para a
santificação dos escolhidos de Deus (Hb 10:9- 10).
27
MENSAGEM CINQUÊNTA

Em Sua oração aqui, logo antes de Sua crucificação,


Ele Se preparou para tomar o cálice da cruz. Ele
estava disposto a fazer essa única vontade do Pai
para o cumprimento do plano eterno do Deus Triúno.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM CINQUENTA E UM
A MORTE DO SALVADOR-HOMEM
(1)
Leitura Bíblica: Lc 22:47-23:25

Até este ponto no Estudo-Vida de Lucas,


abordamos quatro seções principais desse evangelho:
a introdução (1:1-4), a preparação do Salvador-
Homem em Sua humanidade com Sua divindade
(1:5-4:13), o ministério do Salvador-Homem em Suas
virtudes humanas com Seus atributos divinos (4:14-
19:27) e o Salvador-Homem apresentando-Se à
morte para redenção (19:28-22:46). Nesta mensagem
chegamos à quinta seção principal de Lucas: a morte
do Salvador-Homem (22:47-23:56), na qual vemos
que Ele foi aprisionado (22:47-65), julgado (22:66-
23:25), crucificado (23:26-49) e sepultado (23:50-56).
Depois de 22:46 tudo estava preparado para a
morte do Salvador-Homem. Tanto o lugar como a
hora estavam prontos. Era o ano, o mês e até o dia
exatos para Ele morrer.

PRESO
A morte do Salvador-Homem começou com Ele
sendo preso. Quando o Senhor Jesus foi ao Jardim
do Getsêmani, percebeu que seria preso lá.
Entretanto, assim como tomou a iniciativa de ir da
Galileia para Jerusalém, Ele tomou a iniciativa de ir
ao Getsêmani. É claro, os onze discípulos não sabiam
o que estava acontecendo. O Salvador-Homem,
porém, sabia o que estava fazendo e quais passos
27
MENSAGEM CINQUÊNTA E UM

estava tomando. Ele foi ao lugar onde seria entregue


aos que vinham para prendê-Lo e levá-Lo à morte.
Quando o Senhor Jesus foi preso, três tipos de
pessoas estavam ao redor Dele: os que O prenderam,
os discípulos e os que O julgaram. Os que prenderam
o Salvador-Homem eram os religiosos malignos. Eles
eram religiosos, mas não eram dignos de ser
comparados com os que eram meramente naturais
ou estavam na velha criação. Eles eram de fato
malignos, falsos e enganadores.
O segundo tipo de pessoas ao redor do Senhor
Jesus quando foi preso consistia de Seus seguidores.
Os discípulos tinham boa intenção, mas estavam
totalmente na esfera natural. Aqui não vemos sinal
nenhum de que estavam na esfera espiritual; antes,
estavam na velha criação. Em certo sentido,
participaram do pão e do cálice, mas depois disso
discutiram sobre quais deles eram os maiores. Com
isso, vemos quão naturais eram. Além do mais,
quando o Senhor Jesus lhes disse que tropeçariam,
Pedro se levantou para negar isso: “Senhor, estou
pronto para ir Contigo tanto para a prisão como para
a morte” (22:33). Ademais, quando o Senhor lhes
disse que se preparassem para enfrentar a situação,
pensavam que lhes era necessário comprar espadas
para lutar. Por isso o Senhor lhes disse: “Basta”
(22:38).
Uma vez que os discípulos estavam na vida
natural, não foram capazes de compreender o que o
Salvador-Homem lhes dizia. Quando o Senhor estava
para ser preso, “os que estavam ao redor Dele, vendo
o que ia suceder, perguntaram: Senhor, feriremos à
espada? Um deles feriu o servo do sumo sacerdote e
cortou-lhe a orelha direita” (22:49-50). Aqui vemos
280
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

que os discípulos logo resistiram. Pedro tomou a


dianteira em brandir a espada, mas o Senhor o
deteve, dizendo: “Deixai, basta. E, tocando-lhe a
orelha, o curou” (v. 51). As palavras “deixai, basta”,
podem significar “deixai que Me prendam agora”.
Depois que o Salvador-Homem foi preso, “Pedro
seguia-O de longe” (v. 54b). Isso é indicação de que
Pedro negaria o Senhor. Pedro então se sentou com
alguns outros junto ao fogo que estava aceso no meio
do pátio (v. 55). Essa é outra indicação de que ele
estava prestes a negar o Senhor. Os versículos 56 e 57
dizem: “Uma criada, vendo-o assentado ao lume,
fitando-o, disse: Este também estava com Ele. Ele,
porém, o negou, dizendo: Mulher, não O conheço”.
Depois de Pedro negar o Senhor duas vezes mais, um
galo cantou, “voltando-se o Senhor, olhou para Pedro.
Então Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como
lhe dissera: Hoje, antes que o galo cante, tu Me
negarás três vezes” (vs. 60-61). Pedro então saiu e
chorou amargamente (v. 62).
Sabemos pelos outros evangelhos que os outros
discípulos foram espalhados. Com isso vemos que os
seguidores do Salvador-Homem eram naturais; eles
estavam na velha criação. Não é de admirar que
tivessem de ser levados à cruz, aniquilados e
substituídos. Visto que estavam na velha criação, não
podiam desfrutar do jubileu. Sabendo do que
precisavam, o Senhor os levou Consigo à cruz para
ser aniquilados e substituídos.
Vamos considerar com mais detalhes os que
prenderam o Salvador-Homem. Enquanto Ele ainda
falava aos discípulos, Judas se aproximou Dele para
beijá-Lo (v. 47). “Jesus, porém, lhe disse: Judas, com
um beijo trais o Filho do Homem?” (v. 48). Depois de
28
MENSAGEM CINQUÊNTA E UM

ressaltar a Judas que ele estava entregando o Filho


do Homem beijando-O de maneira falsa, o Senhor
disse aos principais sacerdotes, oficiais do templo e
anciãos que tinham subido contra Ele: “Saístes com
espadas e cacetes como contra um salteador? Todos
os dias estando Eu convosco no templo, não
estendeste as mãos contra Mim. Mas essa é a vossa
hora e a autoridade das trevas” (vs. 52-53). Os
opositores que abandonavam e ofendiam a Deus,
temerosos do povo que dera calorosas boas-vindas ao
Salvador-Homem e estava alegre com Seu falar (Me
12:37), não ousavam prendê-Lo durante o dia ou em
lugar público como o templo. Em vez disso,
prenderam- No sutilmente a altas horas da noite,
como se prendessem um salteador (Lc 22:52). O
Senhor aqui parecia dizer- lhes: “Por que não Me
prenderam enquanto Eu ensinava no templo? Por
que vieram à noite, em vez de durante o dia, e por
que Me prendem em lugar isolado? Vocês Me
prendem dessa maneira porque temem o povo.
Sabem que, se tentassem prender-Me no templo, o
povo os apedrejaria. Entretanto agora é sua hora e a
autoridade das trevas”.
O Salvador-Homem não temia ser preso. Pelo
contrário, Ele foi ousado em enfrentar a situação e
até repreendeu a falsidade dos que O prenderam. Na
verdade, Ele não foi preso, mas Se entregou aos que
O prenderam. Se não tivesse feito isso, quem haveria
de prendê-Lo? De acordo com João 18:4, o Senhor
Jesus perguntou-lhes a quem buscavam. Quando Lhe
responderam que buscavam Jesus Nazareno, “Jesus
lhes disse: Sou Eu” (v. 5). O registro em João
prossegue dizendo-nos que, quando “Jesus lhes
disse:
282
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Sou Eu, recuaram e caíram por terra” (v. 6). Isso


indica que eles de fato não prenderam o Salvador-
Homem, mas que Ele voluntariamente permitiu-lhes
prendê-Lo.
Ao ler Lucas 22:47-23:56, precisamos perceber
quem foi preso, julgado e crucificado. Era o próprio
Deus, Deus num homem. Isso quer dizer que Deus
foi preso pelas Suas criaturas e até mesmo preso em
falsidade. Não deveria o Deus justo e reto julgá-los
imediatamente? Contudo, em vez de julgá-los, Ele os
tolerou. Ele aceitou ser preso a fim de cumprir a
redenção para Seus seguidores e para os que O
prenderam.
Em 22:63 é-nos dito que os homens que
prendiam o Salvador-Homem “O escarneciam e
davam-Lhe pancadas”. Então vemos que “vendando-
Lhe os olhos, perguntavam, dizendo: Profetiza:
Quem é que Te bateu? E muitas outras coisas diziam
contra Ele, blasfemando” (vs. 64-65). Aquele que
escarneciam, em quem batiam e contra quem
blasfemavam era o Homem-Deus; Aquele que sofria
isso era Deus num homem. Se mantivermos esse
ponto em mente ao ler esse capítulo, ficaremos
profundamente impressionados com o fato de que
Ele era o Homem-Deus que foi vendado e sofreu
blasfêmias.

JULGADO
Pelo Sinédrio
Em 22:66-23:25 o Salvador-Homem foi julgado
pelo Sinédrio judeu (22:66-71) e pelos governantes
romanos (23:1-25). “Quando se fez dia, reuniu-se a
assembleia dos anciãos do povo, tanto os principais
sacerdotes como os escribas, e O conduziram ao
28
MENSAGEM CINQUÊNTA E UM

Sinédrio deles, dizendo: Se Tu és o Cristo, dize-nos”


(vs. 22:66-67a). O Sinédrio era um conselho
composto dos principais sacerdotes, anciãos,
doutores da lei e escribas. Era a mais alta corte dos
judeus (At 4:5-6,15; 5:27, 34, 41).
Quando o Salvador-Homem foi questionado se
era o Cristo, “Ele lhes respondeu: Se vo-lo disser, de
nenhum modo crereis; e se vos perguntar, de
nenhum modo Me respondereis. Mas desde agora
estará o Filho do Homem assentado à direita do
poder de Deus” (vs. 67b-69). A resposta do Senhor
indica que Ele não só era o Filho do Homem na terra
antes de Sua crucificação, mas também que será o
Filho do Homem nos céus à mão direita de Deus
depois de Sua ressurreição (At 7:56) e também em
Sua volta nas nuvens. Sua resposta também indica
que Ele é o Cristo de Deus, Seu ungido. Senão, não
poderia assentar à destra do poder de Deus.
Lucas 22:70 diz: “Então Lhe disseram todos:
Logo, Tu és o Filho de Deus? E Ele lhes respondeu:
Vós dizeis que Eu sou”. O diabo já havia usado esse
mesmo recurso para tentar o Salvador (4:3,9).
As palavras gregas traduzidas por: “Vós dizeis
que Eu sou”, podem ser traduzi das por: “Vós dizeis
isso porquanto Eu sou”. Quando os que O julgavam
ouviram Sua resposta, disseram: “Que necessidade
ainda temos de testemunho? porque nós mesmos o
ouvimos da Sua boca” (v. 71). Eles ficaram
empolgados e, pensando que Ele blasfemava contra
Deus dizendo que era o Filho de Deus, condenaram-
No.

Pelos governantes romanos


Percebendo que, de acordo com a lei romana,
284
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

eles não tinham o poder para executar ninguém, os


líderes religiosos transferiram o Salvador-Homem a
Pilatos: “Levantando-se toda a multidão deles,
levaram-No perante Pilatos” (23:1). Pilatos era
procurador romano, agente de Tibério César na
Judeia, em 26-35 d.C. Pouco depois de ter
injustamente entregue o Senhor Jesus para ser
crucificado, sua gestão terminou abruptamente. Ele
foi banido e mais tarde cometeu suicídio.
Na soberania de Deus, o Salvador-Homem foi
julgado não só pelos líderes judeus como ovelha
diante dos tosquiadores (Is 53:7), mas também pelo
governador romano como criminoso diante dos
acusadores. Ele foi julgado dessa maneira para poder
salvar os pecadores com Sua vida como resgate (Me
10:45) não só pelos judeus, representados pelos
líderes de Israel, mas também pelos gentios,
representados pelo governador romano.
Os líderes judeus acusaram o Senhor perante
Pilatos: “Encontramos este homem, pervertendo a
nossa nação, proibindo pagar tributo a César, e
afirmando ser Ele mesmo o Cristo, Rei” (23:2). O
verbo grego traduzido por “perverter” também pode
ser traduzido por “desviar, desencaminhar” (v. 14).
Pilatos então Lhe perguntou: “És Tu o Rei dos
judeus? Respondeu-lhe Jesus: Tu o dizes” (v. 3). A
resposta do Senhor, de acordo com Alford, é para ser
compreendida como forte afirmativa.
Pilatos não foi capaz de encontrar nenhuma falta
no Salvador-Homem. “Disse Pilatos aos principais
sacerdotes e às multidões: Não acho culpa alguma
neste homem. Eles, porém, insistiam cada vez mais,
dizendo: Ele alvoroçou o povo, ensinando por toda a
Judeia, desde a Galileia, onde começou, até aqui” (vs.
28
MENSAGEM CINQUÊNTA E UM

4-5). Isso indica que toda a Judeia compreende a


Galileia e a região na qual Jerusalém estava. A
Galileia era parte do país dos judeus, que era
comumente chamada de Judeia.
Pilatos era político. Como oficial a serviço do
Império Romano, ele temia ofender o povo judeu no
meio do qual trabalhava. Não era fácil para qualquer
governador romano lidar com os judeus, e César
sempre se queixava da maneira que seus oficiais na
Judeia lidavam com eles. Visto que não queria
ofender os judeus, Pilatos agiu de maneira sutil.
Quando percebeu que o Senhor Jesus pertencia à
jurisdição de Herodes, “enviou-O a Herodes, que
naqueles dias também estava em Jerusalém” (v. 7).
Pilatos deve ter ficado muito contente por saber que
o Senhor era da Galileia, que estava sob a jurisdição
do Herodes. Pilatos, portanto, transferiu o problema
para Herodes.
Lucas 23:8 diz: “Herodes, vendo a Jesus,
sobremaneira se alegrou, pois havia muito tempo que
queria vê-Lo, por ter ouvido falar a Seu respeito; e
esperava ver algum sinal feito por Ele”. Herodes
questionou o Senhor e “com muitas palavras O
interrogava; Ele, porém, nada lhes respondia” (v. 9).
A palavra grega traduzida para “muitas” também
pode significar “numerosas”, “suficientes”. O fato de
o Senhor não responder a Herodes era um
cumprimento de Isaías 53:7.
Herodes pode ter ficado desapontado quando o
Salvador-Homem não respondeu a suas perguntas.
“Herodes, com seus soldados, tendo-O desprezado e
escarnecido, vestiu-O de uma veste aparatosa, e O
enviou de volta a Pilatos” (v. 11). Precisamos ficar
impressionados com o fato de que Aquele que foi
286
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

desprezado e escarnecido, que fora enviado de Pilatos


a Herodes e de volta outra vez, era o próprio Deus
num homem. O Senhor Jesus não era apenas
homem; Ele era o Homem-Deus, Deus completo e
homem perfeito. Entretanto Ele foi escarnecido.
Pilatos, Herodes e os soldados brincaram com Ele
como crianças divertindo- se com brinquedo.
Lucas 23:14-14 diz: “Tendo Pilatos convocado os
principais sacerdotes, os chefes e o povo, disse-lhes:
Apresentastes-me este homem como um que
perverte o povo; e eis que eu, tendo-O examinado na
vossa presença, nenhuma culpa achei neste homem,
das de que O acusais”. Aqui, “perverte” implica em
desviar o povo de sua lealdade civil e religiosa.
Pilatos ainda disse ao povo que nem Herodes
encontrara no Senhor Jesus algo digno de morte.
Depois declarou: “Portanto, após castigá-Lo, soltá-
Lo-ei” (v. 16). Quando Pilatos disse isso, “eles, porém,
gritaram todos juntos: Fora com este, e solta-nos
Barrabás!”. (v. 18).
Querendo soltar o Senhor Jesus, Pilatos
novamente chamou o povo (v. 20). “Eles, porém,
gritavam, dizendo: Crucifica-O! Crucifica-O! Pela
terceira vez lhes disse: Pois que mal fez este?
Nenhum motivo de morte achei Nele; portanto,
depois de O castigar, soltá-Lo-ei. Mas eles instavam
com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado. E
suas vozes prevaleceram” (vs. 21-23). A pena de
morte judaica era apedrejamento (Lv 20:2, 27; 24:14;
Dt 13:10; 17:5). A crucificação era uma prática pagã
(Ed 6:11), adotada pelos romanos somente para a
execução de escravos e criminosos hediondos.
Crucificar o Senhor Jesus não foi só um
cumprimento do Antigo Testamento (Dt 21:23;
28
MENSAGEM CINQUÊNTA E UM

GI3:13; Nm 21:8-9), mas também um cumprimento


da própria palavra do Senhor sobre a maneira de Sua
morte (Jo 3:14; 8:28; 12:32), que não poderia ser
cumprida por apedrejamento.
Lucas 23:24-25 diz: “Então Pilatos sentenciou
que se atendesse o pedido deles. Soltou aquele que
fora lançado na prisão por motim e homicídio, a
quem eles pediam; mas quanto a Jesus, entregou-O à
vontade deles”. A sentença proferida por Pilatos
expôs ao máximo as trevas e a injustiça da política
humana. Isso foi o cumprimento da profecia em
Isaías 53:5, 8 sobre o sofrimento do Salvador-
Homem.
As acusações dos líderes religiosos judeus
desmascararam a falsidade e o engano da religião, e o
juízo realizado pelos líderes romanos desmascarou as
trevas e a podridão da política. Ao mesmo tempo, o
Salvador-Homem foi novamente evidenciado em Sua
perfeição humana do mais alto padrão, com Seu
esplendor divino que a tudo sobrepuja. Esse foi o
sinal mais evidente de que Ele estava plenamente
qualificado para ser o Substituto dos pecadores, por
quem Ele tencionava morrer.
O juízo dos líderes judeus e dos governantes
romanos foi o último passo do exame do Salvador-
Homem. A primeira parte desse exame foi executada
no templo e a última parte foi consumada diante do
Sinédrio judeu e diante do governo romano. Depois
de todos os passos desse exame, o Salvador-Homem
foi considerado sem culpa. Por isso Ele foi vindicado.
Ele provou ser qualificado para morrer como o único
Substituto dos pecadores.

QUATRO FIGURAS
288
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

O retrato do Salvador-Homem
Em 22:47-23:25 precisamos ficar
impressionados com quatro figuras. A primeira é o
retrato do Salvador-Homem, do Homem-Deus.
Devido às pessoas ao redor, o retrato do Salvador-
Homem é muito claro. Nele vemos o Homem-Deus,
Aquele que é perfeito, digno e cheio do esplendor
divino e das virtudes humanas. Quando
consideramos a figura apresentada por Lucas do
Salvador-Homem desde a época em que Ele foi preso
até ser Ele sentenciado à morte por Pilatos, vemos o
retrato do Senhor Jesus como o Homem-Deus
perfeito e completo.
Sempre enfatizamos que, como Homem-Deus, o
Senhor Jesus é o Deus completo e homem perfeito.
Entretanto talvez não tenhamos apreciado antes o
retrato do Homem-Deus apresentado nesse trecho da
Palavra. Espero que, ao ler essa seção do Evangelho
de Lucas, todos os santos, principalmente os jovens,
tenham visão clara desse retrato do Homem-Deus.
O Senhor Jesus em 22:47-23:25 é retratado
como o Deus verdadeiro e homem real. Esse
Homem-Deus foi preso, escarnecido, blasfemado,
desprezado e julgado. Mas, enquanto passava por
tudo isso, Ele foi plenamente retratado como quem
tem o mais alto padrão de moralidade, as virtudes
humanas com o elevadíssimo esplendor divino. Aqui
não vemos só os atributos divinos do Salvador-
Homem, mas também Seu esplendor divino. Neste,
vemos o verdadeiro Deus e homem adequado. Ele foi
totalmente qualificado para ser o Substituto dos
pecadores pelos quais tencionava morrer. De acordo
com o registro de Lucas, Ele estava pronto para
28
MENSAGEM CINQUÊNTA E UM

morrer pelos pecadores.

O retrato dos discípulos


A segunda figura que vemos nesse trecho de
Lucas é o retrato dos seguidores do Salvador-Homem.
Pelo que vemos nessa figura, não conseguimos dar
crédito aos onze discípulos, principalmente a Pedro,
João e Tiago, em sua vida natural. Se pudesse ser
dado crédito, deveria ser às irmãs. Os onze foram
totalmente naturais; agiram como se não tivessem
espírito. Pedro, por exemplo, disse que nunca negaria
o Senhor. Foi ele que tomou uma espada e cortou a
orelha do servo do sumo sacerdote. Foi ele que negou
o Senhor três vezes. Quão natural ele era! Entretanto,
quando vemos essa figura dos discípulos do Senhor,
precisamos perceber que isso é um quadro de nós
também. Aqui temos um retrato do que todos somos
na vida natural.
290
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

A figura dos religiosos


A terceira figura que vemos é a dos religiosos.
Eles eram falsos, enganadores e cheios de pretensão.
Adoravam a Deus, ensinavam as pessoas sobre Deus
e aparentemente tentavam guardar os Dez
Mandamentos, mas não vieram prender o Senhor à
luz do dia, e sim de noite; não num lugar público,
mas reservado. Sabendo que O prenderiam dessa
forma, o Senhor deliberadamente foi ao Jardim do
Getsêmani, um lugar privado, de modo que
pudessem prendê-Lo de sua forma enganadora. Na
verdade, eles não O prenderam; Ele Se entregou a
eles para ser preso. Nessas pessoas religiosas nada
vemos senão falsidade e engano.

A figura dos governantes romanos


Por fim, temos uma figura do governo romano e
seus governantes. Com esses governantes romanos,
não havia justiça. Nessa figura, vemos as trevas e
corrupção na política romana.

MORTE, RESSURREIÇÃO E JUBILEU


Ao considerar essas figuras, podemos
compreender a situação no meio da qual o Homem-
Deus foi à cruz. Precisamos perceber que Ele não foi
levado, mas Ele foi à cruz. Na cruz Ele deu Sua alma
de propósito para cumprir uma morte todo-inclusiva.
Essa morte introduziu-O na ressurreição. Por meio
de Sua morte e ressurreição, o jubileu é cumprido.
Além disso, o Salvador-Homem introduziu Seus
seguidores com Ele na morte. Dessa forma, Ele os
aniquilou para que fossem substituídos e
germinassem. Depois em Sua ressurreição, eles
29
MENSAGEM CINQUÊNTA E UM

puderam desfrutá-Lo como seu jubileu. Além do


mais, em Sua ressurreição, os seguidores do Senhor
se tornaram Seu Corpo como Sua continuação, Sua
reprodução. Em ressurreição, eles são um com Ele
para desfrutar o Deus Triúno.
Não podemos ter uma compreensão da morte do
Senhor lendo apenas o Evangelho de Lucas. Antes,
devemos lembrar-nos, recebeu de Paulo sua
impressão sobre a morte e ressurreição do Senhor.
Por isso, a fim de ter compreensão perfeita da morte
e ressurreição do Salvador-Homem, precisamos das
epístolas de Paulo. Ao ler o evangelho de Lucas à luz
das epístolas de Paulo, principalmente o livro de
Hebreus, veremos que na era vindoura haverá um
desfrute mais pleno do jubileu, o descanso sabático.
Como já enfatizamos nas mensagens anteriores, o
desfrute do jubileu na era vindoura depende de nosso
desfrute do jubileu nesta era.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM CINQUENTA E DOIS


A MORTE DO SALVADOR-HOMEM
(2)

Leitura Bíblica: Lc 23:26-56


Nesta mensagem vamos considerar a
crucificação do Salvador-Homem (23:26-49). Nos
últimos dezenove séculos tem havido muitos estudos
de Sua morte. Com que propósito o Senhor Jesus
morreu e quem na verdade O levou à morte? Em
outras palavras, por que Ele morreu e quem O
matou? Até mesmo alguns eruditos judeus buscaram
respostas a essas perguntas. Mesmo cristãos
genuínos e fiéis, que de fato creem no Senhor Jesus,
podem não ter conhecimento completo do propósito
de Sua morte e de quem O matou. Preocupo-me com
o fato de que alguns entre nós, jovens e mais velhos,
não sabem quem matou o Senhor Jesus.
Como vocês responderiam a pergunta sobre
quem matou o Salvador-Homem? Alguns podem
dizer que nós O matamos; outros, que Deus O matou.
Outros talvez digam que o Senhor foi levado à morte
pela religião e pela política ou que foi morto por
nosso pecado. Não devemos tentar responder essa
pergunta pela imaginação. Antes, precisamos chegar
até o registro honesto e preciso das Escrituras,
principalmente o do Evangelho de Lucas. O próprio
Lucas diz “haver investigado tudo cuidadosamente
desde o começo” (1:3).
Quando lemos o relato nesse evangelho, vemos
que o Senhor Jesus foi posto na cruz pelo homem.
294
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Ele foi acusado pelos líderes religiosos, sentenciado à


morte pelos governantes romanos e então posto na
cruz pelos soldados romanos.

SOFREU A PERSEGUIÇÃO DOS HOMENS


Em 23:26-43 vemos que, na cruz, o Salvador-
Homem sofreu a perseguição de homens: foi
escarnecido e ridicularizado pelos líderes judeus e
pelos soldados romanos. “O povo estava ali, a olhar.
Também os chefes zombavam, dizendo: Salvou a
outros, salve-se a Si mesmo, se este é o Cristo de
Deus, o Eleito. Os soldados também O escarneciam,
chegando-se a Ele e oferecendo-Lhe vinagre” (vs. 35-
36).
O Senhor Jesus foi posto na cruz às nove horas
da manhã e ali permaneceu até as três da tarde. Isso
quer dizer que Ele ficou na cruz por seis horas, que
podem ser divididas em dois grupos de três horas: o
primeiro, das nove horas até meio-Dia; o segundo, de
meio-dia até três da tarde. Nas primeiras três horas,
o Salvador-Homem sofreu a perseguição de homens.
Os religiosos O ridicularizavam e os soldados
romanos escarneciam Dele. Até “um dos malfeitores
que estavam pendurados blasfemava contra Ele,
dizendo: Não és Tu o Cristo? Salva-Te a Ti mesmo e a
nós” (v. 39). Por isso, nas primeiras três horas na
cruz, o Senhor foi vítima da perseguição humana e
sofreu essa perseguição como mártir.

SOFREU O JUÍZO DE DEUS PELOS


PECADORES
PARA CUMPRIR A MORTE VICÁRIA POR
ELES
29
MENSAGEM CINQUÊNTA E DOIS

Em 23:44-49 vemos que, no segundo período de


seis horas na cruz, o Salvador-Homem sofreu o juízo
de Deus pelos pecadores para cumprir a morte
vicária por eles. Por isso, em 23:26-49, vemos dois
aspectos da morte do Senhor: o da perseguição do
homem e o do juízo de Deus. Primeiro, o Senhor
Jesus sofreu a perseguição do homem e sofreu-a
como mártir, não como o Redentor. Depois, como o
Redentor e não mais como mártir, sofreu perseguição
e o juízo de Deus por nós, pecadores.

Trevas sobre toda a terra


Lucas 23:44-45a diz: “Já era quase a hora sexta,
e houve trevas sobre toda a terra até a hora nova,
tendo desaparecido a luz do sol”. Em vez de “tendo
desaparecido a luz do sol”, em alguns manuscritos lê-
se “e o sol se escureceu”. A sexta hora mencionada no
versículo 14 era, de acordo com nossa maneira de
identificar a hora, doze horas, meio-dia.
De acordo com Mateus 27:45, houve trevas sobre
toda a terra da hora sexta até a hora nona, isto é, do
meio-dia às três da tarde. Quem fez com que trevas
viessem sobre a terra? É claro, o sumo sacerdote,
Pilatos e os soldados romanos não eram capazes de
fazer isso. O único que era capaz de fazer com que
houvesse trevas ao meio-dia era Deus.
Essas trevas eram indicação de que o Deus justo
viera para julgar o Senhor Jesus como nosso
Substituto e Redentor. Ele era o único, o Substituto
universal para a humanidade. Das nove horas até
meio-dia, Ele foi perseguido pelos judeus e romanos
como mártir. Do meio-dia até as três horas, porém,
Ele estava morrendo não como mártir, mas como o
Substituto pelos pecadores. Deus O reconheceu como
296
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

nosso Redentor, por isso veio para julgá-Lo. Isso


quer dizer que, nas últimas três horas em que esteve
na cruz, o Senhor foi julgado por Deus para o
cumprimento de nossa redenção. Foi nessa hora que
Deus O considerou nosso Substituto sofredor pelo
pecado (Is 53:10). Trevas vieram sobre toda a terra
porque nosso pecado, os pecados e todas as coisas
negativas foram julgadas. Deus até O abandonou (Mt
27:46) por causa de nosso pecado.
Na verdade, os perseguidores do Senhor não O
mataram. Enquanto estava sob a perseguição deles,
Ele ainda estava vivo. Depois que o Senhor sofreu
essa perseguição por três horas, Deus chegou para
levá-Lo à morte. As trevas que vieram sobre a terra
foram sinal da chegada de Deus. Lucas nos diz que as
trevas vieram sobre toda a terra, não somente sobre
Jerusalém ou o monte Sião. Deus fez com que a luz
do sol se escurecesse.

O véu do templo foi rasgado ao meio


Além disso, 23:45 diz: “Rasgou-se pelo meio o
véu do santuário”. Mateus 27:51 nos conta que o véu
do templo foi rasgado em dois “de cima a baixo”.
Esse rasgar do véu significa que a separação entre
Deus e o homem foi abolida por causa da carne
(representada pelo véu) do pecado, da qual Cristo
tinha a semelhança (Rm 8:3) e que fora crucificada
(Hb 10:20). “De cima a baixo” indica que o rasgar do
véu foi a ação de Deus do alto.
Em Lucas 23:44-45 vemos duas questões
cumpridas por Deus: trevas vindo sobre toda a terra
e o véu do templo sendo rasgado. Esses são sinais
provando que, desde a hora sexta até a hora nona,
isto é, do meio-dia às três da tarde, Deus veio para
29
MENSAGEM CINQUÊNTA E DOIS

julgar o Redentor, que morria como nosso Substituto.


Sua morte não era para Si mesmo; era para nós. Por
isso podemos chamá-la de morte vicária. Essa morte
foi cumprida por Ele em nosso favor na cruz e sob o
juízo de Deus.

O Salvador-Homem foi abandonado por Deus


Desde meio-dia até três horas da tarde, Deus
colocou todos os nossos pecados sobre o Senhor
Jesus. Nas palavras de Isaías 53:6: “O Senhor fez cair
sobre Ele a iniquidade de nós todos”. Trevas significa
que Deus colocou nosso pecados sobre Ele. Além
disso, 2Coríntios 5:21 diz que Deus O fez pecado por
nós. Assim, Deus não só colocou nossos pecados
sobre Ele, mas até fê- Lo pecado a nosso favor. Isso
ocorreu no segundo período de três horas.
Foi também nessas três horas que Deus
abandonou o Salvador-Homem (Me 15:34).
Porquanto o Senhor é o Filho amado do Pai, Deus
sempre se comprazia Nele, mas, por tê-Lo
considerado nosso Substituto, Aquele que levou
nossos pecados e foi feito pecado por nós aos olhos
de Deus, Ele O abandonou. Aos olhos de Deus,
naquelas horas, o Senhor era todo pecado.
Essa compreensão da morte do Senhor não é um
jogo de adivinhação. Pelo contrário, está de acordo
com o estudo do registro acurado da Bíblia.
Todos os nossos pecados foram colocados no
Salvador-Homem. A raiz de nossos pecados está no
pecado que por meio de Satanás entrou na
humanidade. Esse pecado habita em nós. Quando
nossos pecados foram colocados no Senhor Jesus, Ele
foi feito o próprio pecado que habita em nós. Por isso
tanto a raiz - o pecado que habita interiormente -
298
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

como o fruto - nossos pecados -, foram colocados


sobre Ele. Como tal, Ele foi julgado por Deus de
acordo com Sua justiça.
Primeira Coríntios 15:3 diz: “Cristo morreu pelos
nossos pecados”. Primeira Pedro 2:24 nos diz
“Carregando Ele mesmo em Seu corpo, sobre o
madeiro, os nossos pecados”. Esses versículos
indicam que Cristo levou nossos pecados e morreu
por eles. Hebreus 9:28 diz que Cristo “tendo se
oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados
de muitos”, e o versículo 26 no mesmo capítulo diz:
“se manifestou uma vez por todas, para aniquilar
pelo sacrifício de si mesmo o pecado”. O pecado e os
pecados foram solucionados por Sua morte uma vez
por todas. Por isso podemos chamá-la de morte
eterna, uma vez por todas.
Quando o Senhor Jesus levava nossos pecados e
foi feito pecado na cruz, Ele foi considerado por Deus
como o Cordeiro de Deus. “Eis o Cordeiro de Deus,
que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Nesse
versículo, o “mundo” se refere à humanidade, à raça
humana. O Cordeiro de Deus levou o pecado da
humanidade. O problema do pecado foi resolvido por
Sua morte vicária a nosso favor.
Um com Deus essencialmente,
mas abandonado por Deus economicamente
Quando o Senhor Jesus, o Homem-Deus,
morreu na cruz sob o juízo de Deus, Ele tinha Deus
em Si essencialmente como Seu ser divino. Todavia
Ele foi abandonado pelo Deus justo e julgado
economicamente. Vimos que Cristo foi concebido e
nasceu do Espírito Santo essencialmente. O Espírito
Santo era umas das essências de Seu ser. Quando
29
MENSAGEM CINQUÊNTA E DOIS

cresceu e viveu na terra, Ele tinha o Espírito Santo


em Si essencialmente. Mais tarde, quando foi
batizado, tinha o Espírito Santo como parte essencial
do Seu ser. Entretanto, quando foi batizado, o
Espírito Santo desceu sobre Ele economicamente.
Isso quer dizer que Ele tinha o Espírito Santo como
uma das essências de Seu ser essencialmente e
também que o Espírito Santo desceu sobre Ele
economicamente. Isso não quer dizer, é claro, que há
dois Espíritos Santos. Quer dizer que o único Espírito
Santo tem dois aspectos: o essencial e o econômico.
O aspecto essencial era para o ser, a existência do
Senhor Jesus, e o aspecto econômico era para Sua
obra, Seu ministério.
Agora precisamos ver que, quando o Senhor
Jesus morria na cruz por nossos pecados, Deus
estava Nele essencialmente. Por isso Aquele que
morreu pelos pecados era o Homem-Deus. Mas, até
certo ponto, o Deus justo, enquanto julgava esse
Homem-Deus, deixou-O economicamente. O fato de
Deus abandonar Cristo era uma questão econômica
relacionada com a execução do juízo divino.
ALGUNS DETALHES RELACIONADOS
COM A CRUCIFICAÇÃO DO SALVADOR-
HOMEM
Consideremos agora outros pontos abordados
em 23:26-49. O versículo 26 diz: “Quando O iam
levando, lançaram mão de Simão, certo cireneu, que
vinha do campo, e puseram a cruz sobre ele, para que
a levasse após Jesus”. Cirene era uma cidade colonial
grega, a capital da Cirenaica no norte da África.
Parece que Simão era judeu cireneu.
Grande multidão seguia o Salvador-Homem, e
300
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

mulheres O pranteavam e lamentavam (v. 27).


“Porém Jesus, voltando- Se para elas, disse: Filhas de
Jerusalém, não choreis por Mim; chora i antes por
vós mesmas e por vossos filhos. Porque eis que virão
dias em que se dirá: Bem-aventuradas as estéreis, e
os ventres que não geraram, e os seios que não
amamentaram. Porque, se com a árvore cheia de
seiva fazem isso, que acontecerá com a seca?” (vs. 28-
31). Uma “árvore cheia de seiva” representa a “árvore
verde”. Isso representa o Salvador-Homem, que vive
e é cheio de vida. A madeira seca representa as
pessoas amortecidas de Jerusalém, destituídas da
seiva da vida.
Os versículos 32-33 dizem: “E também eram
levados com Ele outros dois, que eram malfeitores,
para serem executados. Quando chegaram ao lugar
chamado Caveira, ali O crucificaram, bem como aos
malfeitores, um à direita e outro à esquerda”. Em
Mateus 27:33, esse lugar é chamado Gólgota, nome
hebraico (Jo 19:17), que quer dizer caveira (Me 15:22).
Seu equivalente em latim é Calvaria, ou Calvário.
Não quer dizer lugar de caveiras de homens, mas
simplesmente caveira.
Quando um dos criminosos blasfemou contra o
Salvador-Homem, “respondendo, porém, o outro,
repreendia-o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus,
estando na mesma condenação? Nós, com justiça,
porque recebemos o que os nossos feitos merecem;
mas este nada de mal fez” (Lc 23:40-41). A palavra
grega para “mal” também significa “fora de lugar”.
Esse criminoso então disse: “Jesus, lembra- te de
mim quando entrares no Teu reino” (v. 42). O Senhor
lhe disse: “Em verdade te digo: Hoje estarás Comigo
no paraíso” (v. 43). Esse registro de salvação, a
30
MENSAGEM CINQUÊNTA E DOIS

começar do versículo 40, encontra-se somente nesse


evangelho. Mostra a eficácia da morte vicária do
Salvador-Homem e o mais alto padrão moral de Sua
salvação.
Em 23:43 “paraíso” denota a seção agradável do
Hades, onde os espíritos de Abraão e de todos os
justos estão, aguardando a ressurreição (Lc 16:22-23,
25-26). O Senhor Jesus foi ao paraíso depois de
morrer e ficou lá até ressuscitar (At 2:24,27,31; Ef
4:9; Mt 12:40). Difere do paraíso em Apocalipse 2:7,
que será a Nova Jerusalém no milênio.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM CINQUENTA E TRÊS


A MORTE DO SALVADOR-HOMEM
(3)
Leitura Bíblica: Lc 23:26-56

A MORTE TODO-lNCLUSIVA
DO SALVADOR-HOMEM
Vimos na mensagem anterior que o Salvador-
Homem foi levado por Deus à morte como nosso
Substituto, como nosso Redentor. Agora precisamos
ver que o Senhor Jesus teve uma morte todo-
inclusiva. Sua morte na cruz não foi meramente
vicária; foi todo-inclusiva. Por ser o Salvador-
Homem alguém todo-inclusivo, na cruz Ele teve uma
morte todo-inclusiva. Vamos agora considerar vários
aspectos de Sua morte todo-inclusiva.

O Cordeiro de Deus
De acordo com o relato em todo o Novo
Testamento, quando o Salvador-Homem morreu na
cruz, Ele morreu como sete itens. Primeiro, como o
Cordeiro de Deus para lidar com o pecado e pecados.
João 1:29 diz: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo”. O mundo aqui denota a
humanidade. Em 1Coríntios 15:3, 1 Pedro 2:24 e
Hebreus 9:28, vemos que, como Cordeiro de Deus, o
Senhor Jesus morreu por nossos pecados. Além disso,
de acordo com 2Coríntios 5:21 e Hebreus 9:26, Sua
morte eliminou com o pecado. Por isso o pecado e os
pecados foram solucionados pelo Cordeiro de Deus,
304
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

que estava debaixo do juízo de Deus na cruz.

Um homem em carne
Quando morreu na cruz, o Salvador-Homem
também morreu como homem em carne. Como a
Palavra que estava com Deus e era Deus, Ele se
tornou carne (Jo 1:1, 14). Primeira Pedro 3:18 nos diz
que Ele foi “morto, sim, na carne”. Como homem em
carne, Ele tinha somente a semelhança, a forma de
homem caído; não tinha a natureza de homem caído.
Isso significa que Ele estava na semelhança da carne
do pecado (Rm 8:3), mas não tinha a verdadeira
natureza do pecado. Visto que o Salvador-Homem
morreu como homem em carne, Sua morte lidou com
a carne caída. Louvado seja o Senhor que o pecado,
os pecados e a carne caída foram eliminados pela
morte do Salvador-Homem!

Um homem na velha criação


O Senhor Jesus também morreu como homem
na velha criação. Esse é o motivo de Romanos 6:6
dizer que nosso velho homem foi crucificado com Ele.
Uma vez que o Senhor morreu na cruz como homem
na velha criação, nosso velho homem foi morto por
meio de Sua morte.

A serpente
Pode ser uma grande surpresa ouvir que o
Salvador-Homem morreu na cruz até mesmo como
serpente. “E do modo por que Moisés levantou a
serpente no deserto, importa que o Filho do Homem
seja levantado, para que todo o que Nele crê tenha a
vida eterna” (Jo 3:14-15). Aqui, o Senhor Jesus aplica
30
MENSAGEM CINQUÊNTA E TRÊS

a Si mesmo a prefiguração da serpente de bronze


levantada por Moisés no deserto (Nm 21:4-9).
Sem dúvida, o Senhor Jesus foi crucificado como
serpente em forma, a fim de lidar com Satanás, o
diabo, a velha serpente. Como seres humanos caídos,
todos fomos mordidos por ela. Você sabe quando
fomos mordidos? Fomos mordidos no Jardim do
Éden quando Adão foi mordido pela serpente e
envenenado por ela. Por isso, era necessário que
nosso Salvador fosse crucificado na forma de
serpente a fim de lidar com a velha serpente.
Justamente pelo fato de ter sido crucificado
como serpente é que o Senhor Jesus esmagou a
cabeça da velha serpente, o diabo (Gn 3:15). Dessa
forma, Ele julgou o príncipe do mundo. Sobre isso,
João 12:31 diz: “Chegou o momento de ser julgado
este mundo, e agora o seu príncipe será expulso”. Por
Sua morte na cruz, o Salvador-Homem destruiu o
diabo, que tinha o poder da morte (Hb 2:14). Por isso,
como Aquele que morreu como serpente sob o juízo
de Deus, o Salvador-Homem lidou como o diabo e
com seu mundo, o sistema satânico.

O Primogênito de toda criação


Quando morreu na cruz, o Senhor Jesus morreu
como o Primogênito de toda criação (Cl 1:15). Com
respeito à Sua humanidade, Cristo era o primeiro
item da criação de Deus. Quando morreu na cruz, Ele
o fez como esse primeiro item da velha criação.
Assim, por meio de Sua morte na cruz, toda a velha
criação foi eliminada.

O pacificador
306
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Em Efésios 2:14-15 vemos que Cristo morreu


como o Pacificador, Aquele que faz a paz: “Porque
Ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo
derrubado a parede da separação que estava no meio,
a inimizade, e aboliu na Sua carne a lei dos
mandamentos na forma de ordenanças, para que dos
dois criasse em Si mesmo um novo homem, fazendo
a paz”. Aqui vemos que Cristo morreu na cruz para
abolir todas as ordenanças no meio da humanidade.
Especificamente Ele morreu para remover a parede
entre judeus e gentios; havia também paredes entre
todas as nacionalidades e raças. Sem a remoção
dessas paredes, não haveria como ser um no Senhor
Jesus como Seu Corpo. Louvado seja o Senhor
porque todas as ordenanças foram abolidas pelo
Salvador-Homem na cruz! Agora, na vida da igreja,
temos pessoas de todas as raças, cores e
nacionalidades.

Um grão de trigo
Por fim, Cristo morreu na cruz como grão de
trigo: “Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão
de trigo não cair na terra e morrer, fica ele só; mas se
morrer, produz muito fruto” (Jo 12:24). O Senhor
morreu na cruz como grão de trigo a fim de liberar a
vida divina de Si.
O Novo Testamento revela que o Senhor Jesus
morreu na cruz como sete itens: o Cordeiro de Deus,
um homem em carne, um homem da velha criação, a
serpente, o Primogênito da criação, o Pacificador e o
grão de trigo. Isso não é meramente nossa palavra; é
o que a Bíblia revela. Precisamos proclamar que,
segundo a Palavra de Deus, o Salvador-Homem
morreu como esses sete itens.
30
MENSAGEM CINQUÊNTA E TRÊS

A morte de uma Pessoa todo-inclusiva


Cristo teve uma morte todo-inclusiva porque é
uma Pessoa todo-inclusiva. Por exemplo, se o rei de
certo país fosse morrer, morreria uma pessoa com
status duplo: homem e rei. Como nosso Substituto, o
Senhor Jesus tinha status sétuplo e por isso morreu
como o Cordeiro de Deus, homem em carne, homem
da velha criação, a serpente, o Primogênito de toda
criação, o Pacificador e grão de trigo. Essa Pessoa
todo-inclusiva sofreu uma morte todo-inclusiva.
Uma vez a morte do Senhor foi todo-inclusiva,
quando Ele morreu na cruz, muitas coisas foram
resolvidas. Pecado, pecados, a carne, o velho homem,
Satanás, o mundo, a velha criação e as ordenanças
foram solucionados. Além disso, a vida divina com as
riquezas divinas foram liberadas de dentro Dele. Sua
morte todo-inclusiva removeu todas as coisas
negativas e liberou todas as positivas.
Lucas 23:44-45 diz: “Já era quase a hora sexta, e
houve trevas sobre toda a terra até a hora nona,
tendo desaparecido a luz do sol; e rasgou-se pelo
meio o véu do santuário”. As trevas aqui estão
relacionadas com o pecado e o véu é um tipo da carne
do Senhor Jesus. Hebreus 10:20 fala de “um novo e
vivo caminho que Ele nos consagrou pelo véu, isto é,
pela Sua carne”. No véu que foi rasgado quando
Cristo morreu, havia querubins bordados, que
representam a criaturas vivas. Isso indica que em Sua
carne Cristo levou todas as criaturas. Quando o véu
do templo foi rasgado, os querubins bordados nele
também foram. Isso quer dizer que, quando a carne
de Cristo foi crucificada, todas as criaturas
carregadas por Ele o foram também. Por meio da
308
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

morte de Cristo, o pecado, os pecados, a carne e todas


as criaturas foram solucionados junto.

Uma vez por todas


A morte todo-inclusiva de Cristo foi realizada
uma vez por todas. Não há necessidade de Ele morrer
novamente. Sua morte todo-inclusiva é eterna. Se
virmos isso, nós O louvaremos porque o pecado, os
pecados, a carne, o velho homem, Satanás, o mundo,
a velha criação e as ordenanças foram todos
eliminados e as riquezas divinas foram liberadas e
transmitidas a nós. Agora, por meio da morte todo-
inclusiva do Senhor, somos o povo do jubileu.

SEPULTADO
De maneira dignificante
Lucas 23:50-56 fala do sepultamento do
Salvador-Homem. Os versículos 50-52 dizem: “E eis
que havia um homem, de nome José, que era
membro do Conselho, homem bom e justo (que não
havia consentido no desígnio e na ação dos outros),
de Arimateia, cidade dos judeus, e esperava o reino
de Deus. Este foi ter com Pilatos e pediu o corpo de
Jesus”. Depois de o Senhor ter cumprido Sua morte
todo-inclusiva, Sua situação de sofrimento logo
mudou para uma situação de honra. Ele foi sepultado
por José de Arimateia, homem rico de alta posição
(Mt 27:57). José desceu o corpo de Jesus, “envolveu-
o num pano de linho fino, e O depositou num túmulo
talhado em rocha, onde ninguém ainda havia sido
posto” (Lc 23:53). Isso foi para o cumprimento de
Isaías 53:9. Em honra humana de alto padrão
descansou o Senhor no dia de sábado, aguardando a
30
MENSAGEM CINQUÊNTA E TRÊS

hora de ressuscitar dentre os mortos.


O Salvador-Homem foi sepultado em linho com
uma mistura de mirra e aloés (Jo 19:39-40). Ele foi
desprezado na cruz, mas foi honrado em Seu
sepultamento. O Senhor Jesus foi sepultado de forma
dignificante.

Como Aquele que é todo-inclusivo


Quando foi sepultado, o Senhor Jesus o foi como
Aquele todo-inclusivo. Se conhecermos a verdade nas
Escrituras, perceberemos que fomos sepultados com
Ele. Com o Senhor Jesus fomos crucificados e depois
também sepultados.
Como homens crucificados e sepultados com o
Senhor Jesus, fomos aniquilados; fomos levados a
um fim total. Quando uma pessoa é sepultada, isso é
seu fim. O sepultamento é uma aniquilação final.
Como pessoas caídas, na carne e da velha criação,
fomos crucificados e sepultados. Fomos sepultados
com o Senhor e aniquilados em Seu sepultamento.
Em Sua tumba, todos os problemas se foram porque
o pecado, os pecados, a carne, o velho homem,
Satanás, o mundo, a velha criação e as ordenanças
foram eliminados. Depois dessa morte todo-inclusiva,
Ele foi sepultado de modo pacífico e honrado.
Precisamos perceber que fomos crucificados com
Cristo. Entretanto, sobre isso, ainda podemos ter
uma luta, mas, uma vez que tenhamos visto que
fomos também sepultados com Cristo, não há mais
qualquer luta. Sepultamento acarreta uma situação
pacífica. Os que são sepultados já não lutam. Visto
que fomos sepultados com Cristo, devemos
simplesmente permanecer no descanso.
Lucas 23:54-56 diz: “Era o dia da preparação, e
310
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

ia começar o sábado. As mulheres que tinham vindo


com Ele da Galileia, seguindo a José, viram o túmulo,
e como o corpo foi ali depositado. Então voltaram e
prepararam aromas e unguentos. E no sábado
descansaram, segundo o mandamento”. Esse foi um
verdadeiro descanso para todos os escolhidos de
Deus e até para todo o universo; o Salvador tinha
cumprido plenamente a redenção por todos eles.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM CINQUENTA E QUATRO


A RESSURREIÇÃO E ASCENSÃO
DO SALVADOR-HOMEM
(1)
Leitura Bíblica: Lc 24: l-53

Nesta mensagem começaremos a considerar


24:1-53, trecho do Evangelho de Lucas que aborda as
questões cruciais da ressurreição e ascensão do
Salvador-Homem. Sobre Sua ressurreição, cada um
dos quatro evangelhos tem o próprio ponto de vista.
Escrevendo segundo sua perspectiva, Lucas fala
especificamente do andar e falar do Salvador-
Homem com dois discípulos a caminho de Emaús (vs.
13-35).

ASPECTOS DA RESSURREIÇÃO
DO SALVADOR-HOMEM
Antes de chegar a Lucas 24, gostaria de dar uma
palavra sobre a ressurreição de Cristo. Depois que
viveu na terra por trinta e três anos e meio,
trabalhando em Seu ministério por três anos e meio,
o Senhor foi crucificado e sepultado. Se Ele tivesse
permanecido no túmulo, isso demonstraria que Deus
não justificara o ato e a pessoa do Salvador-Homem.
Todavia o Salvador-Homem ressuscitou.

Duas maneiras de falar da ressurreição de


Cristo
De acordo com o Novo Testamento, a
31
MENSAGEM CINQUÊNTA E QUATRO

ressurreição do Senhor é mencionada de duas


maneiras. Primeiro, é-nos dito que o Senhor Jesus
ressuscitou a Si mesmo, isto é, que Ele ressurgiu.
Falando de Sua vida, Ele disse: “Ninguém a tira de
Mim; pelo contrário, Eu espontaneamente a dou.
Tenho autoridade para a entregar e também para
reavê- Ia” (Jo 10:18). Em João 2:19 o Senhor disse
que Ele ressuscitaria Seu corpo em três dias. O
Senhor Jesus tinha o poder para morrer e ressuscitar
dentre os mortos. Por isso, em certo sentido, Ele
ressuscitou a Si mesmo. Por outro lado, o Novo
Testamento nos diz que Ele foi ressuscitado por Deus.
Sobre isso, o Senhor Jesus disse aos discípulos que
Ele seria “ressuscitado no terceiro dia” (Mt 16:21).
Em outro lugar, o Senhor disse de Si mesmo: “Mas ao
terceiro dia ressuscitará” (Mt 17:23). Atos 2:32 diz:
“A este Jesus Deus ressuscitou”, e Atos 3:15 fala do
Senhor como o Autor da vida “a quem Deus
ressuscitou dentre os mortos”. Além disso, em
Romanos 6:4 Paulo diz: “Cristo foi ressuscitado
dentre os mortos pela glória do Pai”. Por um lado, o
Senhor ressuscitou a Si mesmo; por outro, foi
ressuscitado dentre os mortos por Deus.

A vindicação da vida e da obra do Senhor


O fato de o Senhor ressuscitar a Si mesmo
mostra Seu poder de vida, a capacidade de Sua vida
de ressurreição; mas Deus ressuscitá-Lo dentre os
mortos foi um sinal de que Ele fora justificado e
vindicado por Deus. Deus O ressuscitou dentre os
mortos como prova de que Ele justificava o que o
Senhor era e o que fizera na terra.
O Salvador-Homem viveu de forma que os
outros achavam estranha. Sua maneira de viver era
314
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

totalmente diferente da religião, da cultura e da


sociedade. Ele viveu e trabalhou de forma muito
incomum. Se Deus não tivesse vindo para ressuscitá-
Lo dentre os mortos, isso significaria que Deus não O
justificara. Mas o fato de ressuscitá-Lo dentre os
mortos foi sinal de que O justificou e vindicou.
Romanos 4:25 diz que Cristo “foi entregue por
causa das nossas transgressões, e ressuscitou por
causa da nossa justificação”. A morte de Cristo
cumpriu e satisfez as justas exigências de Deus de
modo que podemos ser justificados por Deus por
meio de Sua morte (Rm 3:24). A ressurreição de
Cristo é prova de que Deus foi satisfeito com Sua
morte por nós.
Se Cristo tivesse morri do na cruz, tendo sido
julgado lá por Deus, mas não tivesse sido
ressuscitado dentre os mortos, não teria havido
justificação ou vindicação da parte de Deus. Isso teria
afetado nossa salvação porque, nesse caso, Sua morte
não teria sido seguida pela vindicação de Deus. Deus,
porém, julgou-O na morte e depois O ressuscitou. O
fato de Deus O ressuscitar foi Sua justificação e
vindicação do que Ele era e fizera. Com isso,
podemos ter a certeza de que Deus aceitou o que
Cristo fez por nós na cruz. Somos justificados por
Deus por causa da morte de Cristo e, em Cristo, o
ressuscitado, somos aceitos perante Deus.

Sinal de Seu sucesso


A ressurreição de Cristo foi também sinal do
sucesso de Sua realização. Suponha que Cristo tivesse
permanecido no túmulo depois de morto. Se fosse
assim, então o que Ele fez não teria sido um sucesso.
Mas a ressurreição do Salvador-Homem dentre os
31
MENSAGEM CINQUÊNTA E QUATRO

mortos é um claro sinal de Seu grande sucesso em


Sua realização universal.

Sua vitória
A ressurreição de Cristo foi também Sua vitória
sobre o mundo, Satanás, a morte, o Hades e a
sepultura. Essas cinco coisas fizeram com que o
Senhor Jesus fosse posto no túmulo, nas sair do
túmulo em ressurreição foi Sua vitória sobre ) mundo,
Satanás, a morte, o Hades e a sepultura. Como Pedro
disse em Atos 2:24: “Deus ressuscitou, rompendo os
grilhões da morte; porquanto não era possível fosse
Ele retido por ela”. Visto que Cristo está em
ressurreição (Jo 11:25), a morte não pôde retê-Lo, E
impossível a morte reter a ressurreição; esta vence a
morte.

Sua glorificação
A ressurreição de Cristo foi também Sua
glorificação. Ela O introduziu na glória (Lc 24:26;
1Co 15:43a; At 3:13a ;15a).
A natureza divina do Senhor, Seu ser divino, foi
escondida e confinada em Sua carne. Por meio da
morte, o confinamento de Sua humanidade, Sua
carne, foi quebrado e, em ressurreição, Ele foi
liberado como o próprio Deus com Sua natureza e
riquezas. Uma vez liberado do confinamento de Sua
carne em ressurreição, Ele foi glorificado. Esse foi o
motivo de. ter dito aos discípulos a caminho de
Emaús que era necessário que o Cristo sofresse e
entrasse em Sua glória (Lc 24:26). FOI por meio de
Sua ressurreição que Ele entrou na glória.

Sua transfiguração
316
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Além disso, a ressurreição de Cristo foi Sua


transfiguração no Espírito que dá vida (1Co 15:45).
Ele.era Cristo na carne, mas foi transfigurado no
Cristo pneumático, o Cristo que essencialmente é o
Espírito que dá vida. A ressurreição foi Sua
transfiguração verdadeira. Antes de morrer e
ressuscitar, Ele foi transfigurado no monte da
Transfiguração. Porém aquela transfiguração foi
temporária. A verdadeira transfiguração foi Sua
ressurreição, porque nesta Ele se tornou o Espírito
que dá vida, o Espírito que nos transmite vida.

A germinação da nova criação


A ressurreição de Cristo foi também a
germinação da nova criação. Assim como Sua morte
foi o término da velha criação, Sua ressurreição foi a
germinação da nova criação. O que Ele aniquilou na
morte, Ele germinou na ressurreição. Essa
germinação nos inclui: fomos regenerados por meio
de Sua ressurreição (1Pe 1:3). Assim, Sua
ressurreição é nossa germinação e regeneração.
Dessa forma, tornamo-nos a nova criação (2Co 5:17).
Somos pessoas regeneradas em Sua nova criação.

Gerar a igreja
Além disso, a ressurreição de Cristo gerou a
igreja como Seu Corpo, até mesmo como Sua
reprodução (Jo 12:24; 1Co 10:17). Por isso a igreja é a
reprodução de Cristo em ressurreição. Quando se
encarnou, Ele era um indivíduo, mas, ao ressuscitar,
tomou-se corporativo, um Cristo corporativo (1Co
12:12), o Cristo que é a Cabeça e o Corpo.
Precisamos compreender esses sete aspectos da
31
MENSAGEM CINQUÊNTA E QUATRO

ressurreição de Cristo. Ela foi a vindicação de Deus


da vida e da obra do Senhor; foi o grande sucesso do
Senhor em Sua realização universal; foi Sua vitória
sobre todos os inimigos; foi Sua glorificação; foi Sua
transfiguração num Espírito que dá vida
essencialmente; foi a germinação da nova criação; foi
a geração da igreja, o Corpo, como Sua reprodução.
Essas questões estão claramente reveladas em Atos e
nas epístolas. Todos precisamos conhecer a
ressurreição de Cristo a esse ponto.

A DESCOBERTA DA RESSURREIÇÃO
DO SALVADOR-HOMEM
No capítulo 24 Lucas nos dá um relato da
ressurreição de Cristo e, especificamente, de Suas
atividades em ressurreição. O versículo 1 diz: “No
primeiro dia da semana, alta madrugada, vieram elas
ao túmulo, trazendo os aromas que haviam
preparado”. Cristo ressurgiu no primeiro dia da
semana. Isso significa que Sua ressurreição trouxe
novo início com uma nova era para o reino de Deus.
Nesse versículo, “elas” se ré fere às mulheres
mencionadas no versículo 10 e em 23:55. A
ressurreição do Senhor foi cumprida, mas a
descoberta dela exigiu dos discípulos buscar o Senhor
em amor. Sabemos por 24:10 que as mulheres que
vieram ao túmulo cedo de manhã incluíam Maria
Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago, que era a
mãe do Salvador-Homem.
De acordo com os versículos 4-7, “dois varões se
puseram ao lado delas, com vestes deslumbrantes.
Ficando elas amedrontadas e inclinando o rosto para
o chão, eles lhes disseram: Por que buscais entre os
mortos Aquele que vive? Ele não está aqui, mas
318
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

ressuscitou. Lembrai-vos de como vos falou, estando


ainda na Galileia, dizendo que o Filho do Homem
devia ser entregue nas mãos de homens pecadores,
ser crucificado, e ressuscitar ao terceiro dia”. A
ressurreição do Salvador-Homem era a prova de que
Deus estava satisfeito com o que Ele realizara por
meio da morte e era a confirmação da eficácia de Sua
morte redentora e transmissora de vida (At 2:24;
3:15).
Voltando do túmulo, as mulheres “anunciaram
todas essas coisas aos onze e a todos os demais” (v. 9).
Mas “essas palavras lhes pareceram como um delírio,
e não acreditaram nelas”. A palavra grega traduzida
por “delírio” é usada em linguagem médica com
referência à fala desvairada decorrente de delírio (M.
R. Vincent). Entretanto a ressurreição de Cristo foi
investigada e confirmada por Pedro: “Pedro, porém,
levantando-se, correu ao túmulo. E, abaixando-se
para olhar, viu só os panos de linho; e retirou-se para
casa, maravilhando- se do que havia acontecido”(v.
12).

O SALVADOR-HOMEM RESSURRETO
APARECE A DOIS DISCÍPULOS
No caminho de Jerusalém a Emaús
Em 24:13-35 temos uma narrativa da aparição
do Salvador-Homem a dois discípulos: “Eis que, no
mesmo dia, dois deles estavam indo para uma aldeia,
cujo nome era Emaús, distante de Jerusalém
sessenta estádios. E conversavam um com o outro a
respeito de todas essas coisas que haviam sucedido”.
Um estádio equivale a cerca de 180 metros; portanto,
60 estádios equivaleriam a cerca de onze quilômetros.
Esse dois discípulos estavam totalmente
31
MENSAGEM CINQUÊNTA E QUATRO

desapontados, profundamente desencorajados. Uma


vez desencorajados, não ficaram em Jerusalém. Pelo
contrário, deixaram a cidade e foram para Emaús.
Lucas 24:15-16 diz: “Aconteceu que, enquanto
conversavam e discutiam, o próprio Jesus se
aproximou e ia com eles. Os seus olhos, porém,
estavam impedidos de O reconhecer”. O Salvador-
Homem aqui estava em ressurreição, caminhando
com os dois discípulos. Isso difere do Seu andar com
os discípulos antes de Sua morte (19:28).
O versículo 15 simplesmente diz que Jesus se
aproximou e ia com os dois discípulos. Não nos é dito
de onde Ele veio. Depois que o Salvador-Homem
entrou em ressurreição, Ele se tornou onipresente;
não conseguimos ficar longe Dele. Quando os
discípulos estavam em Jerusalém, Ele estava com
eles. Quando deixaram Jerusalém e foram para
Emaús, Ele caminhou com eles. É um fato que o
Cristo ressurreto está conosco onde quer que
estejamos. Se caminharmos numa direção para baixo,
nós O levaremos conosco. Em Lucas 24, os dois
discípulos levaram o Senhor com eles no caminho de
Jerusalém para Emaús.

Os discípulos não reconheceram o Salvador-


Homem
Em 24:1 7 o Salvador-Homem disse aos dois
discípulos: “Que palavras são essas que trocais um
com o outro enquanto caminhais? E eles pararam
entristecidos”. Então um dos discípulos Lhe disse:
“És Tu o único forasteiro em Jerusalém que não
sabes das coisas que nela sucederam nesses dias? Ele
lhe perguntou: Quais? Responderam-Lhe: As coisas a
respeito de Jesus, o Nazareno, que foi varão Profeta,
320
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

poderoso em obras e palavras diante de Deus e de


todo o povo” (vs. 18-19). Aqui vemos que, em sua
cegueira, eles pensavam que sabiam mais do que o
Salvador ressurreto. Os dois conheciam o Salvador
em carne (2Co 5:16), não em Sua ressurreição. Eles
conheciam Seu poder em obras e palavras, não o
poder de Sua ressurreição (Fp 3:1 O).

O Salvador-Homem abriu as Escrituras


e os olhos dos discípulos
Em 24:13-35 o Salvador-Homem abriu as
Escrituras e também os olhos dos discípulos. Ele lhes
disse: “Ó insensatos e tardos de coração para crer
tudo o que os profetas disseram! Não era necessário
que o Cristo sofresse essas coisas e entrasse na Sua
glória?” (vs. 25-26). A palavra grega traduzi da por
“insensatos” indica morosidade de percepção. No
versículo 26 “entrar na Sua glória” se refere à
ressurreição do Senhor (v. 46), que O introduz na
glória.
O versículo 27 nos conta que, “começando por
Moisés e por todos os profetas, explicou-lhes
claramente o que a Seu respeito constava em todas as
Escrituras”. “Todas as Escrituras” inclui a lei de
Moisés, os profetas e Salmos (v. 44). As Escrituras
são mencionadas outras duas vezes nesse capítulo. O
versículo 32 fala de abrir as Escrituras e o versículo
45 de compreender as Escrituras. Nas Escrituras, há
um registro pleno, uma revelação completa sobre
Cristo e Sua morte e ressurreição. Entretanto,
porquanto essas coisas não estavam abertas para os
seguidores do Senhor, Ele veio a eles a fim de abrir-
lhes a Palavra sagrada.
O Senhor também veio a eles com o objetivo de
32
MENSAGEM CINQUÊNTA E QUATRO

lhes abrir os olhos. Quando se aproximaram da


aldeia aonde iam e Ele fez como que ia para mais
longe, “eles O constrangeram, dizendo: Fica conosco,
porque é tarde e o dia já declina. E entrou para ficar
com eles” (vs. 28-29). As palavras gregas “já declina”
literalmente significam “já está quase findo”. E
aconteceu que, ao se reclinar à mesa, o Salvador-
Homem “tomando o pão, abençoou-o, e, tendo-o
partido, dava-o a eles. Então se lhes abriram os olhos,
e O reconheceram; mas Ele desapareceu da presença
deles” (vs. 30-31). O Salvador andou com eles (v. 15)
e ficou com eles (v. 29), mas foi somente quando Lhe
ofereceram pão e Ele o partiu que seus olhos se
abriram e O reconheceram. Eles precisavam que o
Salvador andasse e ficasse com eles, mas Ele
precisava que Lhe oferecessem o pão para poder
parti-lo e, assim, abrir-lhes os olhos a fim de vê-Lo.
Uma vez abertos seus olhos, eles O reconheceram.
Não somente os olhos desses dois discípulos
precisavam ser abertos, também os olhos de Pedro,
João e Tiago. Depois que os dois voltaram para
Jerusalém, Ele apareceu aos onze e àqueles reunidos
com eles (vs. 33, 36). Eles ficaram chocados com Sua
aparição. Nesse trecho da Palavra, o Salvador-
Homem abriu as Escrituras e também abriu os olhos
dos discípulos.

Desapareceu dos discípulos


Tão logo os olhos dos dois discípulos foram
abertos e eles O reconheceram, “Ele desapareceu da
presença deles”. Literalmente o grego aqui significa
“tornou-se invisível”. O Salvador ainda estava com
eles. Não os deixou, mas apenas tornou-se invisível.
Lucas não diz que o Senhor Jesus se foi; antes,
322
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

conta- nos que Ele desapareceu. Desaparecer não é o


mesmo que ir embora. Desaparecer é questão de se
ocultar. O Senhor não deixou os dois discípulos;
simplesmente fez com que Sua presença ficasse
invisível. A princípio, Sua presença era visível e
depois se tornou invisível. Quando a presença do
Salvador-Homem se tornou invisível, Ele
desapareceu, mas, quando Sua presença se tornou
visível, Ele apareceu.
Cristo já não está mais na carne. Em
ressurreição, Ele se tornou o Cristo pneumático, o
Espírito. Porém Ele ainda tem um corpo. Não
compreendemos como o Espírito pode ter um corpo.
Os dois discípulos em 24:13-35 aprenderam
muito em sua jornada. Eles não queriam esperar até
a manhã para retomar a Jerusalém. “Na mesma hora,
levantando-se, voltaram para Jerusalém” e
“contaram o que lhes acontecera no caminho, e como
fora por eles reconhecido no partir do pão” (vs. 33,
35). Eles haviam deixado Jerusalém desapontados,
mas voltaram grandemente encorajados.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM CINQUENTA E CINCO


A RESSURREIÇÃO E ASCENSÃO
DO SALVADOR-HOMEM
(2)

Leitura Bíblica: Lc 24: l-53


Nesta mensagem vamos continuar a considerar a
ressurreição do Salvador-Homem e depois
prosseguiremos considerando Sua ascensão. Vimos
que o caso da aparição do Senhor aos dois discípulos
na estrada para Emaús (vs. 13- 35) é útil e prático
para nossa experiência. É difícil dizer se os dois
voltaram para Jerusalém com o Senhor ou se Ele foi
com eles. Em qualquer caso, todos viajaram juntos.
Quando deixaram Jerusalém para Emaús, o Salvador
foi com eles. Do mesmo modo, quando voltaram para
Jerusalém, Ele voltou com eles.

APARECEU AOS DISCÍPULOS E OS


COMISSIONOU
Uma aparição misteriosa
Nos versículos 36-49 temos a aparição do
Salvador-Homem aos discípulos e Seu
comissionamento para eles. Lucas 24:36-37 diz:
“Falavam ainda essas coisas quando Ele mesmo se
pôs no meio deles e lhes disse: Paz seja convosco.
Eles, porém, assustados e amedrontados, julgavam
estar vendo um espírito”. Os discípulos, inclusive
Pedro, ficaram perturbados pela aparição do
Salvador-Homem. Eles não conseguiam
compreender como Ele podia de repente aparecer na
324
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

sala. A porta estava fechada e ninguém a abrirá.


Entretanto o Senhor apareceu com um corpo físico.
O Senhor Jesus disse aos discípulos: “Por que
estais perturbados? e por que surgem dúvidas em
vosso coração? Vede as Minhas mãos e os Meus pés,
que sou Eu mesmo; apalpai-Me e vede, porque um
espírito não tem carne nem ossos, como vedes que
Eu tenho” (vs. 38-39). Ele então Lhes mostrou Suas
mãos e pés. Aqui vemos o corpo ressurreto do
Salvador-Homem, o qual é espiritual (1Co 15:44) e de
glória (Fp 3:21).
A aparição do Senhor foi muito misteriosa e não
conseguimos compreendê-la totalmente. Ele entrou.
no recinto como o Espírito e ainda assim com um
corpo físico, tocável. As marcas dos cravos ainda
podiam ser vistas. O lugar em Seu lado que havia
sido perfurado com uma lança ainda podia ser visto e
tocado. Não só o corpo do Senhor era visível e tocável,
mas Ele era também capaz de comer. “E não
acreditando eles ainda, por causa da alegria, e
estando admirados, disse-lhes: Tendes aqui alguma
coisa que comer? Então Lhe apresentaram um
pedaço de peixe assado. E, tomando-o, comeu na
presença deles” (vs. 41-43). Não conseguimos
compreender como o Senhor Jesus, com corpo
espiritual, era ainda capaz de comer comida material.

Abriu-lhes a mente para compreender as


Escrituras
Assim como o Salvador-Homem abriu as
Escrituras aos discípulos a caminho de Emaús, Ele
agora abriu a Palavra àqueles reunidos no recinto.
Ele também abriu sua mente para compreender as
Escrituras: “Depois disse-lhes: São estas as palavras
32
MENSAGEM CINQUÊNTA E CINCO

que Eu vos falei, estando ainda convosco: que era


necessário que se cumprisse tudo o que de Mim está
escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.
Então lhes abriu a mente para entenderem as
Escrituras” (vs. 44-45). A Lei de Moisés, os Profetas e
Salmos são as três seções de todo o Antigo
Testamento, isto é, todas as Escrituras (v. 27). A
palavra do Salvador aqui revela que todo o Antigo
Testamento era uma revelação Dele e que Ele era seu
centro e conteúdo. O fato de Ele abrir a mente dos
discípulos indica que, para compreender as
Escrituras, nossa mente precisa ser aberta pelo
Senhor Espírito por meio de Sua iluminação (Ef 1:18).
No versículo 46 o Salvador-Homem prosseguiu
dizendo aos discípulos: “Assim está escrito que o
Cristo havia de sofrer e ressuscitar dentre os mortos
ao terceiro dia”. O Senhor aqui parecia dizer:
“Quando estávamos na Galileia, disse-lhes que Eu
morreria e depois ressuscitaria no terceiro dia. Mas
vocês não entenderam do que Eu falava. Agora abro a
Palavra a vocês e também abro seus olhos”.
Creio que, desde a hora dessa aparição do
Senhor, Pedro começou a ser transformado. Pelo
menos, ele começou a compreender a Palavra. Por
isso em Atos 1 Pedro pôde levantar-se no meio de
cento e vinte pessoas e interpretar as Escrituras da
forma correta. Em Atos 1 não vemos o Pedro natural
como em Lucas 22. Antes, vemos outro Pedro,
alguém regenerado e transformado. Essa foi a
situação de todos os discípulos em Atos 1.

Comissionou-os para proclamar o perdão de


pecados
A reunião do Salvador-Homem com os
326
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

discípulos em Lucas 24 foi a hora certa de Ele


comissioná-los para pregar o perdão de pecados.
Depois de enfatizar-lhes que estava escrito que Cristo
deveria sofrer e ressuscitar dentre os mortos no
terceiro dia, Ele lhes disse que “em Seu nome se
proclamasse arrependimento para perdão de pecados
a todas as nações, começando de Jerusalém. Vós sois
testemunhas dessas coisas” (vs. 47-48). Perdão de
pecados poderia ser proclamado somente depois de a
morte vicária do Salvador-Homem pelos pecados dos
pecadores ter sido cumprida e confirmada pela Sua
ressurreição (ver Rm 4:25).

A proclamação do jubileu
Proclamar o perdão de pecados é proclamar o
jubileu. Lucas 4 fala da libertação de cativos.
Proclamar o perdão de pecados é proclamar a
libertação de cativos da escravidão e cativeiro. O
Senhor Jesus parecia dizer aos discípulos: “Vocês
foram introduzidos em Minha ressurreição e no
jubileu. Agora precisam proclamar esse jubileu”.
O primeiro aspecto do jubileu, um aspecto do
lado negativo, é o perdão de pecados. De acordo com
os livros seguintes do Novo Testamento, o perdão de
pecados conduz os perdoados às riquezas do Deus
Triúno. Por isso o perdão de pecados nos introduz no
desfrute do Deus Triúno. Esse é o jubileu.

A necessidade de ser equipado com o Espírito


economicamente
O Evangelho de João, ao falar do Salvador-Deus,
enfatiza a vida para dar frutos (Jo 15:5). O Evangelho
de Lucas, que fala do Salvador-Homem, enfatiza o
32
MENSAGEM CINQUÊNTA E CINCO

perdão de pecados para proclamação. Dar frutos em


vida exige essencialmente o Espírito da vida recebido
por meio do sopro do Espírito (Jo 20:22). Proclamar
perdão de pecados exige economicamente o Espírito
de poder recebido por meio do batismo no Espírito
(At 1:5, 8).
Para proclamar o perdão de pecados, os
discípulos do Salvador-Homem precisavam ser mais
equipados. Essencialmente eles tinham o que
precisavam; economicamente, entretanto, ainda
havia uma carência. Desse modo, eles deviam esperar
em Jerusalém até que o Senhor derramasse sobre
eles a promessa do Pai, que era a promessa do
Espírito econômico. Essa promessa foi cumprida em
Atos 2, no dia de Pentecostes. Depois de Sua
ascensão e entronização, o Salvador-Homem
derramou o Espírito econômico sobre os discípulos,
que já tinham se tornado membros do Corpo de
Cristo essencialmente. O que fora cumprido pelo
Senhor em Sua ressurreição foi algo essencial. Os
discípulos ainda precisavam ser equipados com o
Espírito economicamente. Isso foi cumprido pelo
Senhor em Sua ascensão.
Em Lucas 24:49 o Senhor Jesus diz: “Eis que
envio sobre vós a promessa de Meu Pai; vós, porém,
permanecei na cidade, até que sejais revestidos de
poder vindo do alto”. A promessa aqui é a promessa
de Joel 2:28-29, cumprida no dia de Pentecostes (At
1:4-5, 8; 2:1-4, 16-18), para o derramamento como
poder do alto para o ministério dos crentes
economicamente. Isso é diferente do Espírito da vida,
que foi soprado nos discípulos (Jo 20:22) pelo
Salvador ressurreto no dia de Sua ressurreição para
Seu habitar interior de modo que pudesse ser vida
328
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

para eles essencialmente.


O Espírito em João 20:22 é o Espírito esperado
em João 7:39 e prometido em João 14:16-
17,26;15:26; 16:7-8, 13. Assim, o Senhor soprando o
Espírito Santo nos discípulos foi o cumprimento de
Sua promessa do Espírito Santo como o Consolador.
Esse cumprimento difere do de Atos 2:1-4, que foi o
cumprimento da promessa do Pai em Lucas 24:49.
Em Atos, o Espírito, como “vento impetuoso”, veio
como poder sobre os discípulos para sua obra (At
1:8). Em João 20:22, o Espírito como o sopro foi
soprado como vida nos discípulos para sua vida.
Soprando o Espírito nos discípulos, o Senhor Se
transmitiu a eles essencialmente como vida e como
tudo.
Quanto ao Espírito da vida, precisamos inspirá-
Lo como o sopro (Jo 20:22). Quanto ao Espírito de
poder, precisamos vesti-Lo como uniforme, tipificado
pelo manto de Elias (2 Re 2:9, 13-15). O primeiro,
como a água da vida, requer que o bebamos (Jo 7:37-
39); o último, como a água para batismo, requer que
sejamos imersos (At 1:5). Esses são dois aspectos do
único Espírito para nossa experiência .(1Co 12:13). O
habitar interior do Espírito da vida é essencial para
nossa vida e viver; o derramamento do Espírito de
poder é econômico para nosso ministério e obra.
Precisamos ficar impressionados com o fato de
que, alem de receber o Espírito da vida
essencialmente, os discípulos ainda precisavam que
“do alto sejais revestidos de poder”, para ser
fortalecidos pelo Espírito economicamente. O que
ocorreu em João 20 foi questão de vida
essencialmente, mas o que aconteceu em Atos 2 foi
questão de poder para ministrar economicamente. A
32
MENSAGEM CINQUÊNTA E CINCO

fim de ser revestido de poder, precisamos vestir o


Espírito como uniforme. Isso é tipificado pelo manto
de Elias. Por esse motivo, alguns mestres da Bíblia
chamam o Espírito de poder de Espírito manto”, o
Espírito como capa externa. Em 2 Reis, Eliseu
esperava receber o manto de Elias. Quando o recebeu,
ISSO foi indicação de que ele recebera o espírito de
Elias. Em Lucas 24:49 o Senhor tem uma ideia
semelhante, a ideia do Espírito manto. Ele disse aos
discípulos que esperassem até ser revestidos do
poder do alto.
Precisamos também perceber que o Espírito da
vida e o Espírito de poder são dois aspectos do único
Espírito para nossa experiência. Vemos os dois
aspectos em 1Coríntios 12:13. Por um lado, todos
fomos num só Espírito batizados num único Corpo;
por outro lado, a todos nós foi dado beber de um só
Espírito. Ser imerso em água é exterior, mas beber
água é interior. Além disso, beber do Espírito
interiormente é essencial e ser batizado no Espírito
exteriormente é econômico. O aspecto interior do
Espírito é para vida essencialmente, e o aspecto
exterior é para o ministério e obra economicamente.

A ASCENSÃO DO SALVADOR-HOMEM
Lucas 24:50-51 diz: “Então os levou para fora,
até Betânia, e, erguendo as mãos, os abençoou.
Aconteceu que, enquanto os abençoava, apartou-se
deles, e era elevado ao céu”. Isso ocorreu no monte
das Oliveiras (At 1:12). Enquanto o Salvador-Homem
falava aos discípulos, foi elevado ao céu. Ele ascendeu
ao mais elevado ponto no universo. Os discípulos
ficaram empolgados e voltaram a Jerusalém com
grande gozo (v. 52), aguardando ser equipados com o
330
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Espírito Santo economicamente.


Em seu evangelho Lucas mostra e apresenta-nos
principalmente cinco aspectos cruciais e excelentes
sobre o Salvador-Homem: Seu nascimento,
ministério, morte, ressurreição e ascensão. O
nascimento do Salvador-Homem foi proveniente de e
com o Espírito de Deus essencialmente. Esse
nascimento fê-Lo um Homem-Deus para ser o
Salvador-Homem (1:35). Seu ministério era pelo e
por meio do Espírito de Deus economicamente para
levar a cabo a economia divina em Seu jubileu (4:18-
19). Sua morte foi pelo Homem-Deus para cumprir a
redenção divina para o homem (23:42-43) e para
liberar a Si mesmo ao homem como o fogo de vida
para queimar na terra (12:49-50). Sua ressurreição
foi Deus vindicando a Ele e Sua obra, e foi ainda Seu
sucesso em todas as Suas realizações e Sua vitória
sobre o inimigo universal de Deus. Sua ascensão foi
Sua exaltação da parte de Deus. Em ascensão Ele foi
feito o Cristo de Deus e o Senhor de tudo (At 2:36),
para levar a cabo Seu ministério ce1estial na terra
como o Espírito todo- inclusivo derramado dos céus
sobre Seu Corpo composto de Seus crentes (At 2:4,
17-18), como relata Lucas em seus escritos
posteriores: Atos.

Coroado de glória e honra


Em Atos, nas epístolas e em Apocalipse, os
diversos aspectos da ascensão de Cristo são revelados.
A ascensão de Cristo era para Ele ser coroado de
glória e honra (Hb 2:9). Quando Ele ascendeu aos
céus, Deus deu-Lhe uma coroa, e essa coroa é Sua
glória e honra divinas.
33
MENSAGEM CINQUÊNTA E CINCO

Entronizado
Em ascensão Cristo foi assentado no trono do
governo de Deus. Em Sua ascensão Ele foi
entronizado. Sobre isso, Hebreus 12:2 diz que Cristo
está agora “assentado à destra do trono de Deus”.

Feito Senhor e Cristo


Em ascensão o Salvador-Homem foi feito o
Senhor de tudo e o Cristo de Deus. Isso é revelado em
Atos 2:36: “Esteja absolutamente certa, pois, toda a
casa de Israel de que a este Jesus que vós
crucificastes, Deus O fez Senhor e Cristo”.

Feito o Cabeça de todas as coisas


Em ascensão Cristo foi também feito o Cabeça de
todas as coisas para a igreja. Efésios 1:22 nos conta
que Deus “pôs todas as coisas debaixo dos Seus pés e,
para ser o Cabeça sobre todas as coisas, O deu à
igreja”.

Feito nosso Sumo Sacerdote


Em ascensão Cristo foi feito nosso Sumo
Sacerdote para ministrar a vida e o suprimento
celestiais das riquezas divinas a todos os crentes na
terra. Sobre isso, Hebreus 8:1-2 diz: “Ora, o essencial
das coisas que temos dito, é que possuímos tal sumo
sacerdote, que se assentou à destra do trono da
Majestade nos céus, como ministro do santuário e do
verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o
homem”.
Em ascensão o Salvador-Homem foi coroado,
entronizado e feito o Senhor de tudo e o Cristo de
Deus, o Cabeça sobre todas as coisas para a igreja e o
332
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Sumo Sacerdote nos céus, ministrando a vida


celestial e o suprimento de vida das riquezas divinas
a todos os Seus crentes. Esses são os aspectos
principais da ascensão de Cristo revelados em Atos,
nas epístolas e em Apocalipse.

Experimentar Cristo como vida e poder


Como os que creem em Cristo, estamos em Sua
ressurreição e ascensão. Em ressurreição temos vida;
em ascensão temos poder e autoridade. Em
ressurreição recebemos o Espírito essencial para
vida; em ascensão desfrutamos o Espírito econômico
para poder.
Quando alguns ouvem que como crentes
estamos na ressurreição e ascensão de Cristo, podem
dizer: “Não sinto que estou na ressurreição e na
ascensão de Cristo”. Se essa for sua situação, você
precisa que o Senhor lhe abra a Palavra e também
seus olhos. Quando o Senhor abre Sua Palavra e
nossos olhos, vemos que estamos em Cristo e Cristo
não mais está no túmulo, mas em ressurreição e
ascensão. Em ressurreição Ele é nossa vida; em
ascensão Ele é nosso poder. O Cristo ressurreto, isto
é, o Cristo pneumático, é nossa vida essencialmente;
o Cristo ascendido, isto é, o Cristo entronizado, é
nosso poder economicamente. Não precisamos sentir
ou perceber isso - simplesmente precisamos ver isso.
Ver produz crer. Quando vemos, cremos.
Mas como podemos ver? Vemos por meio de o
Senhor abrir a Palavra e nossos olhos. Louvado seja o
Senhor que Ele abriu Sua Palavra e nossos olhos!
Agora cremos não só em Sua morte, mas também em
Sua ressurreição e ascensão. Mais e mais
experimentaremos vida em Sua ressurreição e poder
33
MENSAGEM CINQUÊNTA E CINCO

em Sua ascensão.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM CINQUENTA E SEIS


A ENCARNAÇÃO DO SALVADOR-HOMEM
CUMPRE O PROPÓSITO DE DEUS
EM CRIAR O HOMEM
(1)
Leitura Bíblica:2Co 4:4b; Gn 1:26a, 27a; Fp 2:7b;
Gn 2:8-9; Jo 1:1, 14; Hb2:16-17; 1Tm3:16.

Neste ponto do Estudo-Vida de Lucas


precisamos de algumas mensagens que vão fornecer
um desenvolvimento a mais de quatro tópicos:1)
Cristo tornando-se um Homem-Deus, um homem
com Deus vivendo Nele; 2) o jubileu; 3) a
ressurreição de Cristo; 4) a ascensão de Cristo.
Abordamos essas questões de forma breve em
algumas mensagens anteriores, mas não as
abordamos adequadamente. Primeiro, vamos
considerar a humanidade de Cristo, Seu viver como o
homem-Deus. Assim, o título desta mensagem é “A
encarnação do Salvador-Homem cumpre o propósito
de Deus em criar o homem”.
É grandioso ver que a encarnação de Cristo está
ligada com o propósito de Deus em criar o homem.
Esse é um ponto que não abordamos totalmente
antes, embora o tenhamos considerado sucintamente.
Precisamos ficar impressionados com o fato de que a
encarnação de Cristo está intimamente ligada com o
propósito de Deus em criar o homem. Como veremos,
o propósito de Deus em criar o homem à Sua imagem
e segundo Sua semelhança foi que o homem O
receberia como vida e O expressaria em todos os Seus
33
MENSAGEM CINQUÊNTA E SEIS

atributos. Também veremos que a encarnação do


Salvador-Homem introduziu Deus no homem para
restaurar a humanidade danificada e perdida, e
expressar Deus em Seus atributos por meio das
virtudes humanas. Essas questões são profundas,
divinas e misteriosas, e nossas palavras são limitadas
ao falar delas.

O HOMEM DESIGNADO PARA SER UM COM


DEUS
Se tivermos uma visão todo-inclusiva de toda a
revelação nas Escrituras, do Antigo Testamento e do
Novo Testamento, veremos que Deus designou o
homem para ser um com Ele. Deus fez esse projeto
na eternidade passada. É grandioso que Deus tenha
designado o homem para ser um com Ele. É claro, na
Bíblia não conseguimos encontrar a palavra “projeto”
usada com respeito ao homem sendo um com Deus.
Entretanto, se tivermos uma visão todo-inclusiva da
revelação na Palavra sagrada, veremos que na
eternidade passada Deus designou o homem para ser
um com Ele.
Podemos usar o planejamento e a construção de
uma casa como ilustração do projeto de Deus sobre o
homem. Antes de edificar uma casa, precisamos de
um projeto. Semelhantemente na Bíblia temos o
projeto de Deus e Sua edificação. Em toda a Escritura
temos a revelação completa do edificio de Deus. Para
Sua edificação, Deus tinha um projeto. Ele projetou
ter o homem e este devia ser um com Ele.

O HOMEM CRIADO À IMAGEM DE DEUS


E SEGUNDO SUA SEMELHANÇA
336
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Baseado em Seu projeto, Deus criou o homem à


Sua imagem e segundo Sua semelhança: “Também
disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança [ ... ] Criou Deus, pois,
o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou”
(Gn 1:26a, 27a). Duas frases nesses versículos têm
perturbado os mestres da Bíblia: “à sua própria
imagem” e “conforme a nossa semelhança”. Que é a
imagem de Deus? Que é a semelhança de Deus? Qual
é a diferença entre imagem e semelhança? Por que
são usadas preposições diferentes com relação à
imagem e semelhança? Em outras palavras, por que a
Bíblia diz que o homem foi feito à imagem de Deus,
mas conforme Sua semelhança? Por que não diz que
o homem foi feito conforme a imagem de Deus e à
Sua semelhança? Se estudarmos as Escrituras
cuidadosamente, nós nos importaremos com a
diferença entre imagem e semelhança e também
perceberemos que é difícil explicar essa diferença.
33
MENSAGEM CINQUÊNTA E SEIS

Ser interior e forma exterior


Alguns mestres da Bíblia dizem que em Gênesis
1 imagem se refere a algo interior, e semelhança, a
algo exterior. Essa é a distinção feita por Mary E.
McDonough em O Plano de Deus para Redenção.
Perguntando o que quer dizer imagem e semelhança,
ela diz: “Essas duas palavras não são sinônimas. A
primeira se refere mais especialmente à parte
invisível do homem: o homem interior, ao passo que
a última indica a parte visível, isto é, o homem
exterior, ou corpo. O homem interior foi de alguma
forma criado como Deus; podemos reverentemente
dizer, segundo Seu padrão”.
No Estudo-Vida de Gênesis enfatizamos que o
homem foi criado à imagem de Deus interiormente e
conforme a semelhança de Deus exteriormente (ver
Estudo-Vida de Gênesis, mens. 6). Naquele Estudo-
Vida dissemos: “O homem foi criado não só à
imagem de Deus interiormente, mas também
conforme a semelhança de Deus exteriormente.
Todos os outros itens na criação são segundo a
'própria espécie'. O homem, entretanto, não é
segundo a espécie do homem, mas segundo a
semelhança de Deus. Como imagem indica o ser
interior de Deus, assim também semelhança tem de
indicar a forma exterior de Deus”. Podemos dizer que
em Gênesis 1:26- 27 imagem se refere ao ser interior
e semelhança se refere à expressão exterior. Nesta
mensagem, sem sair do que dissemos no passado,
consideraremos em mais detalhes o significado de
Deus criar o homem à Sua imagem.

A corporificação de Deus em Cristo


338
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Nas Escrituras a palavra “imagem” é usada para


se referir ao ser de Deus. Isso pode ser provado por
certos versículos no Novo Testamento. Segunda
Coríntios 4:4 diz que Cristo é a imagem de Deus,
Colossenses 1:15 nos diz que Cristo é “a imagem do
Deus invisível” e Hebreus 1:3 revela que Cristo é o
“esplendor de Sua glória e a expressão exata do Seu
Ser”. Cristo é a própria corporificação de Deus. Como
tal, Cristo é a imagem de Deus.

Conter Deus e tornar-se Sua duplicação


Além disso, de acordo com a Bíblia, a imagem de
Deus está relacionada com Sua duplicação. Em
Gênesis 1 “imagem” é para Deus ser duplicado, ser
“copiado” no homem. Isso quer dizer que o homem
foi criado de tal forma que se tomasse a duplicação
de Deus, Sua cópia. Deus criou o homem à Sua
imagem com a intenção de o homem se tornar Sua
duplicação.
Uma vez que Deus criou o homem para o
propósito de se tomar Sua duplicação, e uma vez que
esse propósito é indicado pelo uso da palavra
imagem, podemos também dizer que a palavra
imagem implica a capacidade de conter Deus. Se o
homem não tivesse a capacidade de conter Deus,
como poderia tomar-se a duplicação de Deus, Sua
cópia? Para ser cópia de Deus, ele tem de ter a
capacidade ou habilidade de conter o que Deus é.
Essa compreensão da imagem de Deus não
contradiz a definição dada no Estudo-Vida de
Gênesis. Com certeza a imagem de Deus se refere ao
ser interior de Deus. Não é contradição dizer ainda
que Deus criar o homem à Sua imagem significa que
o criou com a intenção de que se tomasse uma
33
MENSAGEM CINQUÊNTA E SEIS

duplicata de Deus e que a palavra imagem implica


que o homem tem a capacidade e habilidade para
tomar Deus em si e contê-Lo. O homem criado à
imagem de Deus foi criado para ser Seu recipiente.
Uma vez que o homem foi feito para ser o recipiente,
era necessário ter a capacidade de recebê-Lo como
conteúdo e contê-Lo.

A aparência de Deus para Sua expressão


Enfatizamos que o homem foi criado não só à
imagem de Deus, mas também conforme Sua
semelhança. A palavra “semelhança” se refere à
forma, ao modelo, à aparência. Primeiro, o homem
foi feito à imagem de Deus para ser Sua duplicata e
depois foi feito conforme a semelhança de Deus para
ter Sua aparência para Sua expressão.
Se o homem tivesse somente a semelhança de
Deus, mas não Sua imagem, ele teria somente a
aparência exterior, mas não a realidade interior.
Nesse caso a aparência, a expressão, seria vazia. A
imagem é a realidade interior da expressão exterior, e
a semelhança é a expressão ou a aparência exterior
da imagem.
Filipenses 2:7 é um versículo no Novo
Testamento relacionado com isso, no qual vemos que,
em Sua encarnação, Cristo se tomou “em semelhança
de homens”. Esse versículo não nos diz que Cristo
tinha a semelhança de Deus, mas a semelhança de
homens. Quando se tomou um homem, Ele tinha a
aparência, a expressão de homem. Entretanto isso
com certeza não era uma expressão vazia, destituída
de realidade, sem conteúdo. Pelo contrário, Cristo
tinha a realidade e a expressão da humanidade, sua
aparência. A realidade da humanidade era o
340
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

conteúdo da semelhança do homem que Cristo tinha.

O PROPÓSITO DE DEUS AO CRIAR O


HOMEM
Agradecemos ao Senhor por guiar-nos a
compreender melhor sobre a imagem e semelhança
de Deus. O homem foi criado à imagem de Deus e
conforme Sua semelhança para ser Sua duplicação a
fim de expressá-Lo. A duplicação é à imagem de Deus
e a expressão é conforme Sua semelhança.
Vimos que, de acordo com a Bíblia, Deus
designou o homem para ser um com Ele. Para ser um
com Deus, o homem tem de ter Sua imagem interior
e Sua semelhança exterior. Esse é o projeto de Deus,
no qual vemos Seu propósito. Qual era o propósito de
Deus ao criar o homem? Era fazer do homem Sua
duplicação para Sua expressão, de modo que este
fosse verdadeira e plenamente um com Deus.

A INTENÇÃO DE DEUS EM SER A VIDA


E O CONTEÚDO DO HOMEM
Em Gênesis 1:26-27 temos o recipiente, mas não
o conteúdo. O conteúdo é encontrado em Gênesis 2.
De acordo com o relato em Gênesis 2, depois de ter
criado o homem, Deus preparou um jardim e nele
colocou o homem. Duas árvores são mencionadas
pelo nome: a árvore da vida e a árvore do
conhecimento do bem e do mal. A intenção de Deus
era que o homem criado por Ele tomasse da árvore
da vida e vivesse. Mas, se o homem tomasse da
árvore do conhecimento do bem e do mal, morreria.
O homem comeu da árvore do conhecimento do bem
e do mal, e morreu.
34
MENSAGEM CINQUÊNTA E SEIS

Não conseguimos compreender o significado da


árvore da vida simplesmente por Gênesis 2. Lendo a
Bíblia inteira, vemos que ela é símbolo de Deus como
vida. Por exemplo, o Salmo 36:9 diz: “Em Ti está o
manancial da vida”. No Evangelho de João vemos
que, quando Jesus, o Filho de Deus, veio, a vida
estava Nele (Jo 1:4). O Senhor Jesus disse que Ele era
vida (Jo 11:25) e viera para que tivéssemos vida e a
tivéssemos em abundância (Jo 10:10). Em
Colossenses 3:4 Paulo diz que Cristo é nossa vida.
Além disso, 1 João 5:11-12 diz: “E o testemunho é este,
que Deus nos deu a vida eterna, e essa vida está no
Seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida”. Por
fim, Apocalipse fala claramente da árvore da vida,
com a qual toda a cidade da Nova Jerusalém será
nutrida na eternidade (Ap 22:1-2,14). Por isso,
considerando toda a Bíblia, vemos que a árvore da
vida simboliza Deus como a vida do homem. Sua
intenção era que o homem criado por Ele como
recipiente O tomasse como vida e conteúdo.

A IMAGEM DE DEUS E OS ATRIBUTOS


DIVINOS
Vamos agora considerar mais o que é a imagem
de Deus. O Novo Testamento nos diz que a imagem
de Deus é Cristo, mas ainda precisamos perguntar
como devemos descrever a imagem de Deus.
A Bíblia nos diz que Deus é amor e é luz (1Jo 4:8;
1:5).
Amor é a natureza da essência de Deus e luz é a
natureza de Sua expressão. A Bíblia também revela
que Deus é justo e santo. O adjetivo “justo” usado
com respeito a Deus se refere à maneira de Deus. A
maneira de Deus fazer as coisas é sempre justa; Ele
342
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

nunca faz nada injustamente. O adjetivo “santo” se


refere à natureza interior de Deus. Ele é justo em
Suas ações e santo em Sua natureza. Por isso Deus é
amor e luz, e é justo e santo. Essa é a descrição da
imagem de Deus.
Ao descrever a imagem de uma pessoa, não seria
acurado falar de sua altura, peso e cor do cabelo. Se
você quisesse descrever a imagem de uma pessoa,
precisaria dizer que tipo de pessoa ela é. Isso quer
dizer que você precisa descrever seus atributos como
pessoa, as características de sua personalidade e
temperamento. De modo semelhante, se quiséssemos
descrever a imagem de Deus, precisaríamos
descrever Seus atributos.
A imagem de Deus é descrita por essas quatro
palavras: amor, luz, justo e santo. Esses são os
atributos divinos. Assim, quando usamos o termo
“atributos divinos” referimo- nos a amor, luz, justiça
e santidade de Deus. Nosso Deus é amor e luz, e é
justo e santo. Isso não é uma descrição da
semelhança de Deus; é uma descrição do próprio ser
de Deus. Deus é amor, isto é, amor é Seu ser. Deus é
luz; isto é, luz é o Seu ser. Além disso, o ser de Deus é
justo em Seus atos e santo em Sua natureza. Essa é a
imagem, a descrição de nosso Deus. As quatro
principais características dessa descrição são os
atributos divinos.

O HOMEM CRIADO COM A CAPACIDADE


DE CONTER OS ATRIBUTOS DIVINOS
O homem foi feito à imagem de Deus. O homem
criado por Deus, portanto, tem amor, luz e a
capacidade de ser justo e santo. Embora sejamos
caídos, ainda temos em nossa condição caída amor e
34
MENSAGEM CINQUÊNTA E SEIS

luz, e a capacidade de ser retos e santos como Deus.


Deus criar o homem à Sua imagem significa que o
criou com a capacidade de ter Seu amor, luz, justiça e
santidade. O amor, luz, justiça e santidade humanos
são o que chamamos de virtudes humanas. Essas
virtudes foram criadas por Deus.
Deus criou o homem à Sua imagem de tal forma
que o homem tem a capacidade de conter o amor, a
luz, a justiça e a santidade de Deus. As virtudes
humanas foram criadas por Deus para conter Seus
atributos. Amor, luz, justiça e santidade humanos são
capacidades criadas para conter amor, luz, justiça e
santidade divinos.
Por toda parte as pessoas concordam que odiar é
contrário à consciência. Além disso, é também
contrário à nossa consciência mentir, roubar e fazer
coisas das trevas. Até mesmo uma pessoa não salva
pode ter o sentimento de que é injusto reter o troco
dado por engano num restaurante ou loja.
O ponto aqui é que o homem foi feito por Deus
para ter amor e luz, e para andar em justiça e ser
santo. O homem tem essas virtudes porque foi criado
à imagem de Deus, à imagem do amor, da luz, da
justiça e da santidade de Deus. As virtudes humanas
criadas por Deus são a capacidade de conter Seus
atributos. Deus criou o homem dessa forma com a
intenção de que ele O tomasse como a árvore da vida
para ser sua vida e conteúdo.

O FRACASSO DE ADÃO
EM TORNAR-SE UM HOMEM-DEUS
Se tivesse comido da árvore da vida e assim
tivesse tomado Deus em si como vida, Adão seria
pleno de Deus, e suas virtudes humanas teriam sido
344
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

preenchidas dos atributos de Deus. Então as virtudes


humanas teriam expressado os atributos de Deus. Se
Adão tivesse feito isso, com certeza teria se tomado
um homem-Deus. Não teria havido necessidade de
esperar milhares de anos para o Homem-Deus nascer
em Belém. Se Adão no jardim tivesse tomado da
árvore da vida, teria se tomado não só um homem
feito por Deus à Sua imagem e conforme Sua
semelhança, mas também seria um homem cheio de
Deus com Sua vida e com os atributos divinos
enchendo as virtudes humanas. Se Adão tivesse se
tomado essa pessoa, um homem-Deus, teria sido um
homem vivendo Deus.
Como sabemos, Adão falhou em cumprir o
propósito de Deus e estragou o projeto de Deus. Deus
fez Adão de acordo com Seu projeto, mas, porquanto
Adão comeu da árvore do conhecimento do bem e do
mal em vez da árvore da vida, ele estragou o projeto
divino. A humanidade criada por Deus foi danificada
e, em certo sentido, perdida. Todavia, como veremos
na mensagem seguinte, a encarnação do Salvador-
Homem cumpriu o propósito de Deus na criação do
homem.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM CINQUENTA E SETE


A ENCARNAÇÃO DO SALVADOR-HOMEM
CUMPRE O PROPÓSITO DE DEUS
EM CRIAR O HOMEM
(2)
Leitura Bíblica:2Co 4:4b; Gn 1:26a, 27a; Fp 2:7b;
Gn 2:8-9; Jo 1:1, 14; Hb2:16-17; 1Tm3:16.

Nesta mensagem vamos continuar considerando


a encarnação do Salvador-Homem, a qual cumpre o
propósito de Deus em criar o homem.

A INTENÇÃO DE DEUS NA CRIAÇÃO DO


HOMEM
Na mensagem anterior enfatizamos que Deus
designou o homem para ser um com Ele. Por ter
designado o homem dessa forma, Ele o criou à Sua
imagem e conforme Sua semelhança. Imagem se
refere ao ser interior, e semelhança, à aparência
exterior. Na verdade, Deus criou o homem à Sua
própria imagem com a intenção de que ele fosse Sua
duplicação. Além disso, para o homem se tornar uma
duplicação de Deus, ele precisa ter a capacidade de
conter o que Deus é. Por isso o homem foi feito à
imagem de Deus para ser Sua duplicação e conforme
Sua semelhança para ser Sua expressão.
O propósito de Deus ao criar o homem foi que
este fosse Sua duplicação a fim de expressá-Lo. Para
esse propósito ser levado a cabo, é necessário que o
homem receba Deus e O contenha como a árvore da
vida. Entretanto Adão, o homem criado por Deus,
346
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

falhou no propósito divino e estragou Seu projeto.


Milhares de anos mais tarde, o Salvador-Homem
veio para cumprir Seu propósito ao criar o homem.

O SEGUNDO HOMEM
Por meio da encarnação de Cristo, Deus no Filho
se tomou um homem. De fato, isso é grandiosíssimo!
Deus criara o homem com um propósito de acordo
com Seu projeto, mas o homem falhou com relação a
Seu projeto e o destruiu. Em vez de criar outro
homem, o próprio Deus veio para ser o segundo
Homem (1Co 15:47), e não o fez no Pai nem no
Espírito, mas no Filho.
A maneira de falar do Novo Testamento sobre a
encarnação é dizer que a Palavra, que é Deus, tomou-
se carne (Jo 1:1, 14) e Deus foi manifestado na carne
(1Tm 3:16). Uma vez que o primeiro homem falhou
com relação ao propósito de Deus e estragou Seu
projeto, o próprio Deus veio para ser o segundo
Homem. Aleluia pelo segundo Homem!

Concebido do Espírito Santo


e nascido de uma virgem humana
O Salvador-Homem, como o segundo Homem,
não foi criado; antes, foi concebido do Espírito Santo
e nascido de uma virgem humana. Ele foi concebido
do Espírito Santo a fim de ter a essência de Deus e
nasceu de uma virgem humana para ter a essência
humana. Por isso esse Homem era uma composição
de duas essências: a divina e a humana. Assim, Ele
era o mesclar de Deus com o homem. Visto que esse
ser Maravilhoso era uma composição de duas
essências: o mesclar de Deus com o homem, Ele era
34
MENSAGEM CINQUÊNTA E SETE

um Homem-Deus.

Teve uma vida humana plena da vida divina


Uma questão crucial sobre o Homem-Deus é que
Ele teve um viver humano cheio da vida divina como
seu conteúdo. Contrário ao que alguns podem pensar,
o Evangelho de Lucas não é mero livro de histórias.
Esse evangelho é uma revelação do Homem-Deus
que viveu uma vida humana cheia da vida divina
como seu conteúdo. Como Aquele que viveu essa vida,
o Salvador-Homem tinha a natureza divina com os
atributos divinos, ou seja, com o amor, luz, justiça e
santidade divinos, que foram expressos em Sua
natureza humana com todas as virtudes humanas.

O amor do Homem-Deus
Porquanto a natureza divina do Salvador-
Homem foi expressa em Sua natureza humana com
as virtudes humanas, é difícil dizer, quando Ele vivia
na terra, se quem amava os outros era Deus ou um
homem. Na vida do Salvador-Homem vemos o amor
de um Homem-Deus, o amor de quem viveu uma
vida humana cheia da vida divina. Porquanto o
Senhor viveu dessa forma, Seu amor era a virtude
humana do amor cheia do atributo divino do amor.
Certos casos relatados no Evangelho de Lucas
ilustram o fato de que, no amor do Salvador-Homem,
o atributo do amor divino é expresso na virtude de
amor humano. Vemos esse amor no caso do bom
samaritano (Lc 10:25-37), no da mulher pecadora na
casa de Simão, no do fariseu (7:36-50) e no do ladrão
na cruz que pediu ao Senhor Jesus que se lembrasse
dele (23:39-43). Em cada caso, o Senhor Jesus
348
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

exercitou um genuíno amor humano. Seu amor,


porém, não era meramente humano; era um amor
humano cheio do amor divino e também fortalecido,
elevado e enriquecido pelo amor divino.
Ao ler Lucas podemos não ver que no Salvador-
Homem temos o amor humano enchido, fortalecido,
elevado e enriquecido pelo amor divino. Os leitores
do Novo Testamento podem facilmente perceber que
o Senhor Jesus ama os outros. As crianças são até
ensinadas a cantar: “Jesus me ama, isso sei”. Mas
que tipo de amor Jesus tem? Seu amor é divino ou
humano? Seu amor não é somente humano nem
apenas divino; é o amor humano enchido, fortalecido,
elevado e enriquecido por e com o amor divino. Esse
maravilhoso amor é uma composição, uma mescla,
do amor divino com o amor humano. Esse amor era o
viver do Salvador-Homem, o viver do Homem-Deus.
O viver do Senhor era questão das virtudes humanas
enchidas, fortalecidas, elevadas e enriqueCldas pelos
atributos divinos.

Qualificado para ser o Salvador-Homem


Foi esse tipo de viver que qualificou o Senhor
Jesus a ser nosso Salvador-Homem. Ele salvou
pecadores por meio desse viver humano-divino, um
viver humanamente divino e divinamente humano. O
viver do Senhor Jesus não era somente humano nem
apenas divino; era humanamente divino e
divinamente humano. Seu viver era o poder dinâmico
pelo qual Ele salvou pecadores dignos de pena.
Se compreendermos isso, perceberemos que o
amor divino por si próprio não poderia salvar-nos. É
claro, o mero amor humano também não poderia nos
salvar. O amor que nos salva tem de ser uma
34
MENSAGEM CINQUÊNTA E SETE

composição do amor humano e divino. O mesclar


desses dois amores é um amor que salva.
Um viver em que a vida humana é plena da vida
divina e as virtudes humanas são fortalecidas e
enriquecidas pelos atributos divinos é o que
chamamos de o mais alto padrão de moralidade. No
Evangelho de Lucas vemos uma vida plena das
virtudes humanas fortalecidas, elevadas e
enriqueCldas pelos atributos divinos. Nesse viver
vemos a composição, o mesclar de Deus com o
homem. Esse viver é o poder salvador e a qualificação
do Senhor Jesus para ser nosso Salvador. Em Seu
status como homem-Deus, o Salvador-Homem é
qualificado para nos salvar.
Como sinceros cristãos seguindo o Senhor Jesus,
precisamos conhecê-Lo a ponto de vê-Lo como quem
viveu uma vida na qual as virtudes humanas
expressavam os atributos divinos. Nosso Salvador-
Homem é tal homem. Porquanto Ele viveu dessa
forma, Ele foi capaz e qualificado para nos salvar.
Esse Senhor, nosso Salvador-Homem, consumou
uma morte todo-inclusiva na cruz para nossa
redenção. Deus, então, O ressuscitou dentre os
mortos como homologação e confirmação para Sua
vida e obra. Esse Homem-Deus ressurreto ascendeu
aos céus, foi entronizado e coroado de glória e honra,
e foi feito o Cabeça de tudo. Oh! todos precisamos
conhecer essa Pessoa maravilhosa!

A RESTAURAÇÃO DA HUMANIDADE CAÍDA


POR MEIO DA ENCARNAÇÃO DE CRISTO
A encarnação do Salvador-Homem foi
principalmente para introduzir Deus no homem. Sua
encarnação foi também para restaurar, recuperar a
350
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

humanidade danificada. Deus fez Adão à Sua imagem


e conforme Sua semelhança, mas Adão caiu. Agora,
na humanidade caída, há o pecado - a natureza
maligna do diabo (Rm 7:17; 1Jo 3:8). Entretanto a
humanidade criada por Deus ainda permanece.
Quando Cristo, que é o próprio Deus, encarnou-se,
Ele restaurou a humanidade danificada e perdida.
Deus enviou Seu Filho à semelhança da carne do
pecado (Rm 8:3), ou seja, à semelhança da
humanidade caída.
Cristo se tornou carne não só para salvar o
homem, mas também para restaurar a humanidade
caída. Sim, Ele veio para salvar o homem, mas não o
salva e o deixa intato. O Senhor não vai salvar uma
pessoa caída sem restaurá-la.
Os cristãos procuram ir para o céu, mas qualquer
um que vá para o céu será uma pessoa restaurada,
transformada. Ser transformado é ser restaurado,
recobrado.

Dois tipos de humanidade


Quando estava na terra, o Senhor Jesus tinha
uma humanidade que fora restaurada do estado de
queda. Por meio da encarnação, Ele Se vestiu de uma
humanidade restaurada, recobrada. Quando o
Homem-Deus vivia nessa humanidade elevada, todos
ao Seu redor, inclusive os discípulos, viviam uma
humanidade caída, danificada. Sua humanidade não
era originalmente criada por Deus. Antes, era uma
humanidade danificada e deformada. Por exemplo,
depois que o Senhor Jesus disse aos discípulos que
Ele subiria para Jerusalém, seria morto e
ressuscitaria no terceiro dia, eles debatiam entre si
sobre quem era o maior. Aqui vemos dois tipos de
35
MENSAGEM CINQUÊNTA E SETE

humanidade: a elevada, restaurada e recobrada do


Senhor Jesus e a deformada, danificada e perdida
dos discípulos.

A restauração da humanidade dos discípulos


Por meio da morte e ressurreição do Salvador-
Homem, a humanidade caída dos discípulos foi
restaurada. Em Atos 12 vemos que os discípulos
tinham outro tipo de humanidade, uma humanidade
elevada e restaurada. Nos evangelhos eles discutiam
sobre quem era o maior, mas em Atos 1 puderam
orar com persistência e perseverança, unânimes por
dez dias. Só puderam fazer isso porque tinham outra
humanidade. A humanidade deles fora elevada,
restaurada e recobrada. Acabavam de ser salvos, mas
sua humanidade fora restaurada e recobrada por
meio da regeneração e transformação do Espírito.
Adão devia ter vivido no jardim do Éden o tipo
de vida que Pedro e João viveram nos primeiros
capítulos de Atos. Mas, porquanto Adão falhou
quanto ao propósito de Deus, Ele veio por meio da
encarnação ser o segundo Homem, que elevou,
restaurou e recobrou a humanidade deformada,
danificada e perdida. Por meio da restauração do
Salvador-Homem, Pedro, João e Tiago e os outros
discípulos tiveram parte em Sua humanidade. Que
maravilha!
Não devemos pensar que o Senhor Jesus desceu
de Sua glória meramente para salvar-nos e levar-nos
para o céu. Se fosse essa Sua intenção, então o céu
por fim ficaria cheio de pessoas com humanidade
deformada. Essa, porém, não é a intenção do Senhor.
Você acha que o ladrão que pediu ao Senhor que se
lembrasse dele em Seu reino seria levado ao céu
352
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

ainda com a natureza caída de ladrão? Com certeza


ninguém no céu terá a natureza do ladrão. Toda
pessoa levada ao céu será um ser humano restaurado.
A restauração de nossa humanidade só foi possível
pela encarnação de Deus para ser nosso Salvador-
Homem. A encarnação do Salvador-Homem foi para
o cumprimento do propósito de Deus na criação do
homem.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM CINQUENTA E OITO


O MAIS ALTO PADRÃO DE MORALIDADE
DO SALVADOR-HOMEM CONSTITUI
SUA QUALIFICAÇÃO E FATOR BÁSICO
PARA SUA SALVAÇÃO DINÂMICA
(1)

Leitura Bíblica: Lc 1:35; Mt 1:18, 20; Lc 1:31; Mt


5:20; Fp 3:9
Vimos nas mensagens anteriores que a
encarnação do Salvador-Homem visava cumprir o
propósito de Deus ao criar o homem. Nesta
mensagem prosseguiremos considerando o mais alto
padrão de moral idade do Salvador-Homem,
moralidade essa que constitui Sua qualificação e o
fator básico para Sua salvação dinâmica. A
moralidade do Salvador-Homem O qualifica a salvar-
nos. Além disso, é o fator básico para Sua salvação
dinâmica. Essas questões são muito difíceis de
explicar e buscamos no Senhor ajuda por meio de
Seu Espírito desvendador.

CONCEBIDO DA ESSÊNCIA DIVINA


COM OS ATRIBUTOS DIVINOS PARA O
CONTEÚDO
E A REALIDADE DAS VIRTUDES HUMANAS
O Salvador-Homem foi concebido da essência
divina, que na verdade é o próprio Deus com os
atributos divinos. Em outras palavras, a essência
divina é Deus com tudo o que Ele é. De acordo com a
Bíblia, o que Deus é é revelado principalmente em
35
MENSAGEM CINQUÊNTA E OITO

quatro aspectos: amor, luz, justiça e santidade. Deus


é amor (1Jo 4:8). Amor é Sua natureza intrínseca.
Deus é também luz (1Jo 1:5). Luz é Seu brilho, Sua
expressão. Amor se refere ao que Deus é
intrinsecamente em Si mesmo, e luz se refere à Sua
expressão. Santidade se refere à natureza de Deus, e
justiça à Sua maneira de fazer as coisas. De acordo
com a plena revelação das Escrituras, Deus é amor e
luz e é também santo e justo. Esses são os atributos
divinos, e o Salvador-Homem foi concebido por Deus
com esses atributos.
Os atributos divinos são para as virtudes
humanas. O Salvador-Homem foi concebido de Deus
com os atributos divinos para o conteúdo e a
realidade de Suas virtudes humanas.
Para compreender isso, será útil usar a
ilustração de uma luva. Se não está preenchida com a
mão, a luva ficará vazia. A mão é o conteúdo e a
realidade da luva. Somente quando a mão é posta na
luva, esta tem conteúdo e realidade. É a mão na luva
que a faz ter conteúdo. Além disso, quando a mão se
move, a luva também se move. A luva é projetada
para se encaixar na mão, mas não tem vida. A mão é
que faz a luva se mover. Quando se move, a mão na
luva será expressa por meio da luva.
Podemos dizer que somos uma “luva” projetada
para conter Deus como nosso conteúdo e realidade.
Cristo foi concebido de Deus com Seus atributos para
ser o conteúdo e a realidade da “luva” de Suas
virtudes humanas.

Para preencher as virtudes humanas vazias


Como Aquele que foi concebido da essência
divina com os atributos divinos para ser o conteúdo e
356
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

realidade de Suas virtudes humanas, Cristo preenche


as virtudes humanas vazias. O amor humano, por
exemplo, é uma casca que deve conter o amor divino.
Sem o amor divino, o amor humano é mera casca
vazia. O Salvador-Homem foi concebido de Deus com
os atributos divinos a fim de preencher Suas virtudes
humanas. Nele as virtudes humanas não são vazias;
em nós, porém, elas são vazias. O motivo de as
virtudes humanas não serem vazias em Jesus Cristo,
o Salvador-Homem, é que Suas virtudes humanas
estão preenchidas com os atributos divinos.

Para fortalecer e enriquecer as virtudes


humanas
Na era da inocência, antes de o pecado penetrar,
Adão era puro e inocente. Suas virtudes, todavia,
poderiam não ser fortes e ricas, mas no Senhor Jesus,
o segundo homem, as virtudes humanas são fortes e
ricas. No amor humano de Cristo, por exemplo, há
força. Visto que Seu amor humano é fortalecido,
enriquecido, ele não pode ser quebrado ou derrotado.
O amor do Senhor é rico porque foi preenchido com
o atributo divino do amor. Assim, Seu amor é uma
mescla, a composição do amor humano com o amor
divino.
Podemos não ter o conceito de que a encarnação
de Cristo era para preencher, fortalecer e enriquecer
as virtudes humanas. Eu não percebia isso anos atrás.
Por meio do Estudo-Vida de Lucas, fui
profundamente impressionado com o fato de que a
encarnação do Salvador-Homem fez com que as
virtudes humanas vazias fossem preenchidas,
fortalecidas e enriquecidas com os atributos divinos.
35
MENSAGEM CINQUÊNTA E OITO

Para santificar as virtudes humanas


Os atributos divinos também santificam as
virtudes humanas. Cristo ter-se encarnado significa
que Ele se tornou carne. Sobre isso João 1:1 e 14
dizem que a Palavra, que é Deus, tornou-se carne. À
época da encarnação do Senhor, a palavra “carne”
não significava algo positivo. Com relação à
encarnação de Cristo, a Bíblia diz que Ele veio na
semelhança da carne do pecado (Rm 8:3). Isso
significa que, quando se tornou carne, Ele veio na
semelhança da carne do pecado, mas não tinha a
natureza da carne do pecado. Isso é tipificado pela
serpente de bronze em Números 21, a qual tinha a
forma de serpente, mas não a natureza de serpente.
De igual modo, quando Cristo se tornou carne, Ele
tinha somente a aparência da carne de pecado; não
tinha a natureza da carne pecaminosa. Depois que
Cristo se tornou carne, era necessário que essa carne
fosse restaurada.
Lucas I:35 diz: “Respondeu-lhe o anjo: Virá
sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te
cobrirá com a sua sombra; por isso também o ente
santo que há de nascer será chamado Filho de Deus”.
Porquanto o que foi concebido em Maria era do
Espírito Santo, o que haveria de nascer dessa
concepção era o “ente santo”, algo intrinsecamente
santo. Esse ente santo, porém, nasceu na carne. O
“ente” era santo, mas a carne não. Todavia o ente
santo que nasceu em carne santificaria, restauraria a
carne. Cristo foi concebido da essência divina com os
atributos divinos para santificar as virtudes humanas.
A encarnação é um mistério. Por meio dela Deus
nasceu um ser humano para gerar um Homem-Deus.
358
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Não só foram a concepção e o nascimento do Senhor


um mistério, mas Seu viver humano por trinta e três
anos e meio também o foi. Aquele que viveu em
Nazaré, no lar de um carpinteiro, não era apenas
homem; era também Deus. Um Homem com Deus
Nele trabalhava como carpinteiro em Nazaré. Que
mistério!
A vida do Salvador-Homem na terra foi um
mistério e nossa vida cristã é igualmente um mistério.
A regeneração, sem dúvida, é um mistério. Por certo
é um grande mistério que Cristo vive em nós. Quem é
capaz de explicar esse grande mistério plenamente?
Às vezes fico a ponderar sobre a questão de Cristo
viver em mim. Tenho-me perguntado como pode ser
possível que Cristo, a corporificação de Deus, vive em
mim. Entretanto a Bíblia revela que o Deus Triúno se
encarnou, passou pelo viver humano, crucificação e
ressurreição, e agora vive em nós e é nossa vida.
Depois de estudar as Escrituras completamente,
estou convencido de que é um livro divino. Nenhum
outro escrito pode comparar-se com elas. Embora
seja um grande mistério que Cristo vive em nós, creio
no que a Bíblia fala a respeito disso.

Para expressar Deus nas virtudes humanas


Vimos que o Salvador-Homem foi concebido da
essência divina com os atributos divinos de modo
que esses atributos fossem o conteúdo e a realidade
de Suas virtudes humanas e preenchessem,
fortalecessem, enriquecessem e santificassem Suas
virtudes humanas. Agora precisamos ver que os
atributos divinos são para a expressão de Deus nas
virtudes humanas.
Os atributos divinos preenchem, fortalecem,
35
MENSAGEM CINQUÊNTA E OITO

enriquecem e santificam as virtudes humanas com o


propósito de expressar Deus nelas. De acordo com os
quatro evangelhos, tudo o que o Senhor Jesus fez em
Sua vida na terra foi a expressão de Deus em Suas
virtudes humanas. No Salvador-Homem os atributos
divinos foram introduzidos nas virtudes humanas
para a expressão de Deus.
360
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

NASCIDO DA ESSÊNCIA HUMANA


COM AS VIRTUDES CRIADAS POR DEUS
PARA O HOMEM
O Senhor Jesus nasceu da essência humana com
as virtudes humanas criadas por Deus para o homem
(Lc 1:31). Dizer que Ele nasceu da essência humana
significa que nasceu de homem, isto é, da
humanidade. Cristo nasceu da humanidade com as
virtudes humanas criadas por Deus para o homem.
Um dos aspectos principais de Deus ter criado o
homem foi a criação das suas virtudes. Se o homem
não tivesse virtudes, qual seria a diferença entre o
homem e os animais?
Qual é a diferença entre o homem e os animais?
E claro, uma importante diferença é que ele tem um
espírito. Mas outra diferença vital é que Deus o criou
com virtudes humanas. Os animais, pelo contrário,
não têm virtudes. Por exemplo, um cachorro pode ser
muito bom, mas não tem quaisquer virtudes. Nós,
porém, seres humanos, temos virtudes humanas. Por
isso a diferença entre o homem e os animais não é só
que o homem tem um espírito, mas também que ele
tem virtudes.
Quando se encamou, Cristo Se vestiu das
virtudes humanas. Ele nasceu da humanidade com as
virtudes humanas que Deus criou. De acordo com
Gênesis 1, Deus criou o homem à Sua imagem. A
frase “à Sua imagem” implica as virtudes humanas.
Isso quer dizer que as virtudes humanas são na
verdade a imagem de Deus para Sua expressão. Por
isso as virtudes humanas foram criadas por Deus
para o homem de modo que este pudesse expressá-
Lo.
36
MENSAGEM CINQUÊNTA E OITO

Em Sua encarnação o Salvador-Homem nasceu


de forma a ter as virtudes humanas. Ele foi concebido
de Deus para ter os atributos divinos e nasceu da
humanidade para ter as virtudes humanas. Nele os
atributos divinos preencheram as virtudes humanas e
as virtudes humanas continham os atributos divinos.
No Salvador-Homem, os atributos divinos e as
virtudes humanas são uma coisa só, isto, é, estão
mesclados como um só. No Salvador-Homem, os
atributos divinos estão nas virtudes humanas, e as
virtudes humanas contêm os atributos divinos.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM CINQUENTA E NOVE


O MAIS ALTO PADRÃO DE MORALIDADE
DO SALVADOR-HOMEM CONSTITUI
SUA QUALIFICAÇÃO E FATOR BÁSICO
PARA SUA SALVAÇÃO DINÂMICA
(2)
Leitura Bíblica: Lc 1:35; Mt 1:18,20; Lc 1:31; Mt
5:20; Fp 3:9

Na mensagem anterior vimos que o Salvador-


Homem foi concebido da essência divina com os
atributos divinos para o conteúdo e realidade de Suas
virtudes humanas (Lc 1:35; Mt 1:18,20). O Senhor
Jesus foi concebido dessa forma de modo que os
atributos divinos enchessem as virtudes humanas
vazias, pudessem fortalecê-las, enriquecê-las e
santificá-las e nelas expressasse Deus. Também
vimos que o Salvador-Homem nasceu da essência
humana com as virtudes humanas criadas por Deus
para o homem (Lc 1:31). Nele os atributos divinos e
as virtudes humanas estão mesclados. Os atributos
divinos preenchem Suas virtudes humanas e estas
contêm os atributos divinos.

RESGATAR AS VIRTUDES HUMANAS


DA QUEDA DO HOMEM
O Salvador-Homem nasceu da essência humana
com as virtudes humanas a fim de resgatar essas
virtudes da queda do homem. Antes de o Senhor
Jesus nascer, o homem se tornara caído. Por isso, à
exceção do Senhor Jesus as virtudes de todo ser
364
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

humano eram caídas. Isso foi verdade até com as


virtudes humanas de Maria e José. Não concordamos
com o ensinamento da Igreja Católica de que Maria
não tinha natureza pecaminosa (a doutrina de que
Maria não tinha pecado tornou-se ensinamento
oficial da Igreja Católica Romana em 1854). Esse
ensinamento não tem base nas Escrituras e não
cremos nele.
Nos evangelhos podemos ver a diferença entre as
virtudes humanas do Salvador-Homem e as de Maria
e José. Por exemplo, o registro em Lucas 2 indica que
as virtudes do Senhor são elevadas, puras e perfeitas.
Quando o Salvador-Homem tinha doze anos, disse a
Seus pais, que O procuravam: “Não sabíeis que devo
ocupar-Me das coisas de Meu Pai?” (2:49). Por outro
lado, “desceu com eles e veio para Nazaré; e era-lhes
submisso” (2:51). Isso era submissão em Sua
humanidade aos pais humanos. Quando lemos nessa
narrativa, vemos quão excelentes eram as virtudes
humanas do Senhor Jesus. As virtudes de Maria, por
outro lado, não eram assim tão excelentes. Ao
comparar esses dois tipos de virtudes humanas,
vemos que as do Senhor eram elevadas, ao passo que
as de Maria não eram fortalecidas, enriquecidas e
elevadas pelos atributos divinos. Vemos com isso que,
por certo, é necessário que as virtudes humanas
sejam resgatadas da queda.

RESTAURAR E RECOBRAR AS VIRTUDES


HUMANAS
DO DANO CAUSADO PELA QUEDA DO
HOMEM
O Salvador-Homem nasceu da essência humana
com as virtudes humanas também para restaurar e
36
MENSAGEM CINQUÊNTA E NOVE

recobrar as virtudes do homem do dano causado pela


sua queda. Por causa da queda, nossas virtudes
humanas foram danificadas. Por exemplo, a virtude
do amor foi danificada. Um irmão pode amar a
esposa muito num dia e no dia seguinte pode estar
descontente com ela e até pensar em divórcio. Esse é
um indício muito claro de que seu amor humano foi
danificado.
O amor que uma garota tem pela mãe também é
danificado. A filha pode ser muito amorosa com a
mãe em dado instante, mas esse amor é facilmente
quebrado e pode de repente mudar. Isso prova que o
amor humano de uma garota pela mãe é caído e
danificado.
As virtudes humanas de justiça e santidade
também foram danificadas pela queda. Nossa justiça
tem tantos “buracos” que pode ser comparada a uma
colmeia. Você consegue contar quantos buracos há
em sua justiça? Nosso amor, nossa luminosidade e
nossa santidade foram todos danificados.
A encarnação do Salvador-Homem não foi
somente para resgatar nossas virtudes da queda; foi
também para restaurá-las e recobrá-las do dano da
queda. Uma coisa pode ser resgatada sem ser
restaurada ou pode ser restaurada sem ser recobrada.
Nossas virtudes humanas precisam ser resgatadas,
restauradas e recobradas.

ELEVARAS VIRTUDES HUMANAS


AO MAIS ELEVADO PADRÃO
Além disso, o Salvador-Homem se encarnou a
fim de elevar as virtudes humanas ao mais alto
padrão, o padrão que combina com os atributos de
Deus para Sua expressão. Visto que nossas virtudes
366
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

foram danificadas e deformadas, não podiam


combinar com os atributos divinos, mas as virtudes
humanas elevadas conseguem combinar com os
atributos de Deus. O Salvador-Homem nasceu da
essência humana com as virtudes humanas a fim de
elevar essas virtudes a esse padrão, de modo que
combinem com os atributos de Deus para Sua
expressão.

PRODUZIR O MAIS ELEVADO PADRÃO


DE MORALIDADE PARA O PODER
SALVADOR
DA SALVAÇÃO DINÂMICA DO SALVADOR-
HOMEM
O fato de o Salvador-Homem ser concebido da
essência divina com os atributos divinos e nascer da
essência humana com as virtudes humanas produziu
o mais elevado padrão de moralidade. Essa
moralidade é para o poder salvador de Sua salvação
dinâmica. O resultado de os atributos divinos encher
as virtudes humanas vazias, fortalecê-las, enriquecê-
las e santificá-las, e nelas expressar Deus é o mais
alto padrão de moralidade. O Senhor Jesus se refere
a essa moralidade em Mateus 5:20: “Porque vos digo
que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos
escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos
céus”. O Senhor aqui nos encarrega de ter justiça
superior, que não é mera justiça objetiva, mas
subjetiva, o Cristo que habita em nós expresso de nós
como nossa justiça. É claro, o próprio Salvador-
Homem tinha essa justiça superior e esse é o mais
alto padrão de moralidade.
Paulo em Filipenses 3:9 fala do mais alto padrão
de moralidade: “E ser achado nele, não tendo justiça
36
MENSAGEM CINQUÊNTA E NOVE

própria, que procede de lei, senão a que é mediante a


fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada
na fé”. Paulo se esforçava para ser encontrado em
Cristo não com sua justiça, humana, mas tendo a
justiça de Deus. Isso indica que nós, cristãos,
precisamos viver uma justiça que é, na verdade, o
próprio Deus. Paulo aspirava ser encontrado em
Cristo tendo essa justiça superior, uma justiça do
mais alto padrão, isto é, a justiça de Deus.
Como podemos ter a justiça de Deus? Só
podemos tê-la tendo Deus vivendo em nós. Se Deus
não viver em nós, não conseguiremos vivê-Lo. Se não
O vivermos, não conseguiremos viver Sua justiça.
Para viver a justiça de Deus, precisamos ter o próprio
Deus a viver em nós. Essa é a justiça superior, a
justiça do mais alto padrão. A encarnação do
Salvador-Homem era para produzir esse mais alto
padrão de moralidade, e essa moralidade é para o
poder salvador de Sua salvação dinâmica.
Por causa da influência da tradição, muitos
cristãos têm uma concepção errônea sobre a salvação
do Senhor. Sua concepção é que nosso Salvador,
Jesus Cristo, veio apenas salvar-nos do inferno e
levar-nos para o céu. Essa compreensão da salvação é
muito inadequada. A maneira de o Salvador-Homem
salvar- nos é muito mais elevada do que isso.
De acordo com Sua maneira de salvar-nos, o
Salvador-Homem primeiro introduziu os atributos de
Deus nas virtudes do homem. Depois viveu uma vida
com as virtudes humanas preenchidas, fortalecidas,
enriquecidas e santificadas pelos atributos divinos.
Nesse viver há um poder salvador. O Senhor não nos
salva meramente estendendo a mão para resgatar-
nos do inferno; antes, quando nos salva, Ele entra em
368
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

nós com as virtudes humanas preenchidas com os


atributos divinos. Essa vida nos salva a partir de
nosso interior e eleva nossas virtudes humanas,
restaurando-nos, santificando-nos e transformando-
nos. Uma pessoa salva dessa maneira com certeza
não irá para o inferno; pelo contrário, irá para o lugar
onde Deus está.
Suponha, porém, que uma pessoa pudesse de
fato ser salva de acordo com o conceito natural de ser
apenas resgatado do inferno e levado para o céu. Se
Cristo simplesmente estendesse a mão para tirar-nos
do inferno e pôr-nos no céu, Deus não se agradaria.
Ele poderia dizer a essa pessoa: “Não estou contente
com o que você é. Sua pessoa Me ofende. Não quero
que você permaneça aqui no céu Comigo”.
Precisamos ver que a maneira de o Salvador-
Homem salvar-nos não é superficial. A fim de salvar-
nos, Ele, o próprio Deus, entrou no homem,
introduzindo os atributos de Deus nas virtudes do
homem. Enquanto estava na terra, teve a vida de um
homem-Deus, com os atributos divinos preenchendo
as virtudes humanas. Por fim, Ele morreu na cruz e
foi ressuscitado. Em Sua ressurreição, tornou-se o
Espírito que dá vida (1Co 15:45). Agora, como o
Espírito que dá vida, Ele entra em nós para
introduzir Deus em nosso ser e preencher nossas
virtudes com os atributos divinos. Dessa forma,
somos salvos dia após dia. Somos salvos à maneira
da restauração do Senhor, Sua transformação.

O MAIS ALTO PADRÃO DE MORALIDADE


CONSTITUI A QUALIFICAÇÃO E O FATOR
BÁSICO
PARA A SALVAÇÃO DINÂMICA DO
36
MENSAGEM CINQUÊNTA E NOVE

SALVADOR-HOMEM
O mais elevado padrão de moralidade constitui a
qualificação para a salvação dinâmica do Salvador-
Homem. Somente o Salvador-Homem tem essa
qualificação; ninguém mais, inclusive Confúcio e
Platão, é qualificado. No Evangelho de Lucas há
muitos casos a ilustrar que o padrão de moralidade
do Salvador-Homem O qualifica para a salvação
dinâmica. A melhor ilustração é a parábola do bom
samaritano (Jo:25-37). Esse samaritano viveu o mais
alto padrão de moralidade e salvou o caído por seu
padrão de moralidade.
O mais alto padrão de moralidade também
constitui o fator básico da salvação dinâmica do
Salvador-Homem. Vemos isso no caso de Zaqueu
(19:1-10). Por causa da salvação dinâmica do
Salvador-Homem, Zaqueu se tornou outra pessoa
logo após entrar em contato com Ele.
Quando foi à casa de Zaqueu, o Salvador-
Homem foi com o Espírito de poder (Lc 4:18) e com a
vida eterna indestrutível (Hb 7:16) para transmiti-la
a ele quando ele cresse Nele (Jo 3:15). O Espírito de
poder e a vida eterna foram conduzidos ao mais alto
padrão de Sua moralidade. Quando Ele, como o
Salvador-Homem, dinâmico olhou para Zaqueu e lhe
disse: “Zaqueu, desce depressa; porque convém que
Eu fique em tua casa hoje”, Zaqueu reagiu.
Podemos comparar Zaqueu a um brinquedo
elétrico que reage tão logo a eletricidade corre nele.
Que fez Zaqueu reagir como reagiu? Foi o Espírito
com a vida eterna, a eletricidade divina, proveniente
do Salvador-Homem que fluiu a ele. Sem o Espírito,
não teria havido como Ele, como a vida eterna, entrar
370
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

em Zaqueu. Sua humanidade no mais alto padrão de


moral idade era o “fio” condutor da “eletricidade” do
Espírito com a vida eterna. O Espírito com a vida
eterna como a eletricidade divina estava na
humanidade do Senhor de mais alto padrão. Quando
Ele olhou para Zaqueu e falou com ele, o Espírito
com Sua vida eterna entrou nele.
Nos anos de Seu ministério na terra, o Senhor
Jesus foi como um grande ímã puxando as pessoas a
Si. Atraídos por Ele, os discípulos deixaram tudo
para segui-Lo. Sabemos pelos evangelhos que
grandes multidões iam atrás Dele. Também fomos
atraídos a Ele por Sua Pessoa poderosa. O motivo de
gastar tanto tempo nas reuniões é que fomos atraídos
ao Salvador-Homem. Fomos atraídos por Seu
dinâmico poder salvador. O poder salvador dinâmico
do Salvador-Homem é constituído do Seu mais alto
padrão de moralidade no qual estão Seu Espírito
poderoso e a vida eterna.
O Deus Triúno é um mistério e a encarnação de
Cristo é também um grande mistério. Além disso, o
viver do Salvador-Homem na terra foi misterioso.
Primeiro, Ele foi um ímã que atraiu os seguidores.
Por fim, Ele entrou neles e fez de cada um um
mistério. Esse é o motivo por que nós, como crentes,
somos um mistério para os parentes e amigos. Eles
não compreendem o que fazemos dia após dia e por
que o fazemos. Na verdade, todos vivemos uma vida
misteriosa.
Somos um mistério e isso é totalmente devido ao
Salvador-Homem, o homem-Deus, cujos atributos
divinos preenchem Suas virtudes humanas para
produzir o mais alto padrão de moralidade. Como já
enfatizamos nesta mensagem, o mais alto padrão de
37
MENSAGEM CINQUÊNTA E NOVE

moralidade do Salvador-Homem constitui a


qualificação de Sua salvação dinâmica; também é o
fator básico dessa salvação. Que maravilha!
O que abordamos nesta mensagem não é mera
doutrina. Temos considerado uma Pessoa, o
Homem-Deus com o mais alto padrão de moral idade
como Seu poder salvador. Não devemos contentar-
nos com ensinamentos: precisamos do Salvador-
Homem com Sua salvação dinâmica. Encorajo-o a
levar ao Senhor a questão de o mais alto padrão de
moral idade do Salvador-Homem constituir Sua
qualificação e o fator básico para Sua salvação
dinâmica. Se levar isso ao Senhor em oração, creio
que Ele, como o Espírito, falará mais a você sobre
Seu mais alto padrão de moralidade.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SESSENTA
O VIVER DIVINO-HUMANO
DO SALVADOR-HOMEM
(1)
Leitura Bíblica: Hb 2:14a; 16-17a; Fp 2:6-8; Ia
1:1, 14; 5:30; 6:38

O título desta mensagem é “O viver divino-


humano do Salvador-Homem”. Você alguma vez
refletiu sobre essa questão? Alguma vez percebeu que,
quando o Senhor Jesus estava na terra, Seu viver era
divino-humano? Seu viver não era apenas de um
homem; antes, era o viver de um homem-Deus.

ALGUMAS PERGUNTAS SOBRE A


SALVAÇÃO DE DEUS
A necessidade da encarnação de Deus
Para salvar-nos, Deus teve de viver num homem
por trinta e três anos e meio. Você alguma vez pensou
nisso? Ao criar o universo, Deus usou somente seis
dias e no sétimo descansou. Por que, então, precisou
viver na terra num homem por tantos anos a fim de
salvar-nos? Não só o Senhor se tomou um homem,
mas viveu na terra como tal por trinta e três anos e
meio.
Pouco depois de ter sido salvo, comecei a refletir
sobre a maneira de Deus salvar-nos. Dizia para mim
mesmo: “Deus é todo-poderoso. Se quisesse, poderia
salvar-nos arrebatando-nos do inferno e levando-nos
para o céu. Por que se tornou um homem e viveu na
terra?”.
374
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

O viver humano do Senhor era genuíno. O viver


humano genuíno não é encontrado na classe alta,
mas nas classes média e baixa. O Senhor Jesus não
viveu Sua vida humana como parte da classe alta da
sociedade. Pelo contrário, foi um membro de uma
família pobre e trabalhou como carpinteiro, vivendo
na classe baixa da sociedade. Embora fosse
descendente real da família de Davi, Ele nasceu
numa família pobre e viveu no meio da classe baixa
por trinta anos. Na idade de trinta anos, Ele saiu para
ministrar e ministrou por três anos e meio.
Uma vez que Deus é todo-poderoso, por que não
nos salva da mesma forma que criou o universo? Em
Sua criação, Ele simplesmente teve de falar e
determinada coisa veio a existir. Por exemplo, Ele
disse: “Haja luz”, e houve luz (Gn 1:3). Sobre a
criação, o Salmo 33:9 diz: “Pois ele falou, e tudo se
fez; ele ordenou, e tudo passou a existir”. Uma vez
que Deus criou os céus e a terra dessa maneira, por
que Lhe era necessário viver na terra por trinta e três
anos e meio a fim de salvar-nos?

A aplicação da redenção de Cristo


Outra questão diz respeito à aplicação da
redenção de Cristo. O Salvador-Homem cumpriu a
redenção há mais de mil e novecentos anos. Por que
não aplicou logo essa redenção consumada a todos os
Seus escolhidos, não dando assim ao inimigo a
oportunidade de fazer tantas coisas malignas?
Considere a situação desde a época em que
Cristo cumpriu a redenção até agora. Sim, o
cristianismo se espalhou pelo mundo inteiro, mas na
verdade há pouca vida. Parece que nos dezenove
séculos passados Deus não realizou muito. Ele
37
MENSAGEM SESSENTA

trabalhou através dos anos, mas houve muita


oposição e ataques. Satanás, Seu inimigo, tem
atacado os escolhidos de Deus repetidas vezes. Por
que isso acontece? Por que o Senhor não aplica Sua
redenção imediatamente? Se fizesse isso, não teria
havido necessidade até mesmo do milênio. Depois da
aplicação da redenção, tudo se tornaria novo.
Haveria novo céu, nova terra e a Nova Jerusalém,
onde estariam todos os redimidos de Deus.
Você alguma vez refletiu sobre questões como
essas? Você alguma vez imaginou por que há uma
lacuna entre o cumprimento e a aplicação da
redenção? Posso testificar que penso nisso há mais
de cinquenta anos.
376
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

O viver humano do Senhor


No início de minha vida cristã, imaginei por que
Deus não nos salvou de maneira rápida, como em
Sua obra da criação. Quando perguntei a meu pastor
sobre isso, ele me disse que, porquanto somos seres
humanos, era necessário que nosso Salvador se
tornasse um homem. Na criação, é claro, não havia
necessidade de Deus se tornar um homem, mas na
salvação, com certeza era-Lhe necessário tornar-se
um homem.
Era mais fácil para Deus criar o homem do que
tornar-se um homem. Ao criar o homem, Deus não
teve dificuldade; Ele simplesmente fez a obra de
criação. Mas Ele Se envolveu com certas dificuldades
quando se tornou um homem. Em Sua criação, Deus
apenas fez certas coisas, mas em Sua salvação, Ele
não somente fez coisas: Ele se tornou um homem.
Ao considerar a encarnação de Deus para nossa
salvação, percebi que era lógico que Deus se tornasse
um homem a fim de salvar-nos, mas ainda não
compreendia por que Ele precisava viver na terra por
trinta e três anos e meio. Por que não se tornou um
homem, ficou na terra por pouco tempo, talvez um
mês, e depois foi à cruz para cumprir a redenção? Por
que precisou se tornar um bebê, crescendo dia após
dia? Lucas 2:40 diz: “Crescia o menino se fortalecia,
enchendo- se de sabedoria; e a graça de Deus estava
sobre Ele”. Aqui vemos que o Senhor Jesus cresceu
de modo normal. Ele não cresceu até a plena estatura
em pouco tempo. Além disso, em vez de pregar
somente alguns dias e depois morrer para nossa
redenção, o Senhor Jesus ministrou por três anos e
meio antes de ir à cruz para cumprir a redenção.
37
MENSAGEM SESSENTA

Nos quatro evangelhos temos um registro longo


da vida e ministério do Senhor. O Evangelho de
Mateus, por exemplo, contém vinte e oito capítulos.
Em vez de simplesmente contar que o Senhor Jesus
nasceu, morreu por nossa redenção e foi ressuscitado,
Mateus relata muitas outras questões. Nos
evangelhos vemos que o Salvador-Homem não
cresceu miraculosamente; pelo contrário, cresceu de
forma normal. Mas por que isso foi necessário?
Porque éramos caídos e pecadores, precisávamos que
o Senhor Jesus morresse por nós. Ele sofreu uma
morte vicária por nossa salvação, mas por que Ele
precisou sofrer tantas coisas em Seus trinta e três
anos e meio de vida?
Na verdade, somente nas últimas três horas na
cruz é que foram horas de sofrimento vicário. Nas
primeiras três horas, Ele não sofreu vicariamente. No
segundo período de três horas, Deus veio para julgar
o Salvador-Homem como nosso Substituto, e “houve
trevas sobre toda a terra até a hora nona” (Lc 23:44).
Por que, então, Ele precisava sofrer em Suas
primeiras três horas na cruz, uma vez que o
sofrimento era por nossos pecados?
Por anos a fio tentei encontrar respostas para
essas perguntas em livros, mas não consegui
plenamente: Respostas totalmente satisfatórias a
essas perguntas só vieram como resultado de mais de
cinquenta anos de estudo pessoal, direto da Palavra,
principalmente .nos últimos dez anos nos quais
elaboramos os Estudos-VIdas do Novo Testamento,
estudo que será completado com o livro de Atos.

A MANEIRA DE DEUS SALVAR-NOS


Vamos comparar duas maneiras possíveis de
378
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

salvar pessoas. Primeiro, suponham que Deus apenas


este?da Sua mão, tire um pecador do inferno e leve-o
aos céus. Essa maneira de salvar uma pessoa seria
fácil. A segunda maneira, a maneira adotada por
Deus, é muito mais difícil. Segundo Sua maneira,
Deus tornou-se um homem e Viveu uma vida
humana na terra.
Por meio de Sua encarnação, Deus trouxe os
atributos divinos às virtudes humanas, preenchendo,
restaurando, recobrando, santificando e
transformando-as. Pondere quanto tempo se requer
para que as virtudes do homem sejam elevadas e
transformadas dessa forma. Em Sua salvação, Deus
não apenas tira pessoas do inferno e as introduz no
céu; antes, para nossa salvação, o Deus Salvador se
tornou um homem e viveu o tipo de vida na terra que
O qualificou a salvar-nos. Esse tipo de vida também
se tornou o fator básico da salvação dinâmica do
Salvador-Homem. O procedimento que qualificou o
Salvador-Homem exigiu muito tempo.
O primeiro passo da salvação de Deus foi tornar-
se um homem, viver na terra, morrer na cruz e ser
ressuscitado. No segundo passo, o Salvador-Homem
entra nos salvos, vive e cresce em nós, repetindo Sua
vida em nós.
Não só o Senhor cresce gradualmente nos
crentes, mas também Se expande gradualmente por
todo o mundo. Em vez de Se expandir de repente em
todo lugar, Ele Se expande gradualmente de lugar em
lugar. A princípio, Seu expandir foi somente na área
do mar Mediterrâneo e depois para a América do
Norte e a China. Um dia, Ele entrou em mim e você.
Há cinquenta e nove anos, em 1925, o Salvador-
Homem entrou em mim. Daquela época em diante,
37
MENSAGEM SESSENTA

Ele vive e cresce em num.


Como haveremos de falar do Senhor salvando-
nos ao entrar e viver em nós? Podemos dizer que isso
é salvação em vida. Entretanto o termo “salvação em
vida” foi estragado por alguns mestres bíblicos que
na verdade não sabem corretamente o que isso quer
dizer (Rm 5:10). De acordo com a Bíblia, vida é o
próprio Deus entrando em nós para viver em nós.
Leva tempo ser salvos dessa maneira.

O VIVER DE UM HOMEM-DEUS
O Salvador-Homem passou por longo processo
não para salvar-nos tirando-nos do inferno, mas
executando Sua salvação dinâmica. O termo
“salvação dinâmica” significa que Deus se tornou um
homem e viveu uma vida de homem para expressar
Deus. Embora vivesse uma vida de homem, Ele não
expressou o homem; expressou Deus. Como o
Salvador-Homem viveu essa vida na terra, os anjos e
demônios podem testificar que Ele era um homem a
viver a vida humana para a expressão de Deus. Esse é
o viver divino-humano do Salvador-Homem. Os
quatro evangelhos nos falam Daquele que viveu a
vida de homem-Deus.
Em Lucas 2:40-52 vemos o Salvador-Homem
crescendo e se desenvolvendo. Quando atingiu doze
anos de idade, Ele foi com Seus pais a Jerusalém para
a Festa da Páscoa, de acordo com o costume (vs. 41-
42). Lucas também nos conta que Ele começou Seu
ministério quando tinha cerca de trinta anos (3:23).
Somente no Evangelho de Lucas é-nos dito o que
aconteceu ao Senhor Jesus nas idades de doze e
trinta anos. O motivo disso é que Lucas apresenta o
Senhor Jesus como um homem típico e genuíno. Em
380
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Lucas vemos que o Senhor era um homem real, um


homem normal, não era um mágico. O Senhor
cresceu de maneira normal, humana. Por fim, na
idade de trinta anos, Ele atingiu a maturidade para o
ministério divino. De acordo com o Antigo
Testamento, um levita tinha de ter trinta anos de
idade antes de poder entrar plenamente no
sacerdócio. Igualmente o Salvador-Homem estava
plenamente crescido quando inaugurou Seu
ministério.
O viver do Salvador-Homem era um viver de
homem-Deus. Quando estava na terra, o Senhor
Jesus viveu um homem-Deus. Esse viver é um fato
registrado na Bíblia. Somos gratos ao Senhor porque
podemos estudar a narrativa do viver de homem-
Deus do Senhor relatado nos evangelhos. Quanto
mais estudo os quatro evangelhos e mais mensagens
dou sobre eles, mais convencido fico de que o Senhor
Jesus de fato era o Homem-Deus.

UM HOMEM QUE EXPRESSA DEUS


Vimos que o Salvador-Homem não viveu
expressando o homem. Ele viveu uma vida de
homem, mas ainda assim essa vida expressava Deus.
Daí o viver do Senhor ter sido um viver de homem-
Deus. Ele viveu uma vida na qual Deus era expresso
por meio do homem.
Já usamos a ilustração da mão e da luva para
mostrar como Deus foi expresso por meio da
humanidade do Salvador-Homem. Uma luva contém
a mão e a expressa. Quando a mão na luva se move, a
luva também se move. Mas, quando a luva se move,
ela não expressa a luva, expressa a mão. Igualmente
o Senhor Jesus viveu na terra como homem, mas não
38
MENSAGEM SESSENTA

expressou o homem, expressou Deus. Ele viveu uma


vida que expressava Deus. Quando as pessoas a viam,
viam um homem genuíno. Mas o que viram Nele foi a
expressão de Deus. Eles não viram um homem
expressando o homem, mas um homem expressando
Deus.
Sobre a expressão de Deus no Senhor Jesus,
João diz: “Vimos a Sua glória, glória como do
Unigênito da parte do Pai” (Jo 1:14). Glória é a
expressão de Deus. Por isso, quando os discípulos
viram a glória do Senhor, viram a expressão de Deus.
O apóstolo João era um dos filhos do trovão (Me
3:17). Embora ousado e impetuoso, ele foi atraído ao
Salvador-Homem e a seguiu. Ele e seu irmão Tiago
foram o segundo grupo atraído ao Senhor Jesus (o
primeiro grupo era composto de Pedro e André).
Quando o Senhor chamou João e Tiago, eles estavam
“no barco em companhia de seu pai, consertando as
redes” (Mt 4:21). Mas foram atraídos ao Senhor e
deixaram o barco e seu pai e O seguiram (Mt 4:22).
Pelos três anos e meio seguintes, eles viram o viver
do Homem-Deus, embora não compreendessem o
que viam. Depois da ressurreição do Salvador-
Homem, porém, seus olhos foram abertos e eles
começaram a compreender o viver divino-humano do
Salvador-Homem.
Quando João escreveu seu evangelho, ele era
muito velho, provavelmente em seus noventa anos.
Ele testificou que Deus se tomara carne e que
contemplara Sua glória. Um Homem vivia e
caminhava com eles, e Nele eles viram a glória de
Deus. Quando Ele estava com eles em carne, não
compreenderam que o Senhor era um homem
vivendo uma vida humana para expressar Deus, mas,
382
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

depois de Sua ressurreição, vieram a perceber que


tinham visto Deus expresso em Jesus Nazareno.
Os evangelhos relatam a história do viver divino-
humano do Salvador-Homem. Essa história agora
precisa ser escrita em nosso ser. Na mensagem
seguinte veremos que o desejo de Deus é reproduzir
em nós o Salvador-Homem e Seu viver divino-
humano.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SESSENTA E UM

O VIVER DIVINO-HUMANO
DO SALVADOR-HOMEM
(2)
Leitura Bíblica: Hb 2:14a, 16-17a; Fp 2:6-8; Jo
1:1, 14; 5:30; 6:38

Nesta mensagem vamos ainda considerar o viver


divino-humano do Salvador-Homem.

O SALVADOR-HOMEM

Um homem genuíno com a verdadeira


natureza humana
e as virtudes humanas perfeitas para a
qualificação de ser
Salvador do homem
O Salvador-Homem é um homem genuíno com a
verdadeira natureza humana e as virtudes humanas
perfeitas. Aqui usamos três adjetivos para descrever
o Salvador-Homem em Sua humanidade: genuíno,
verdadeiro e perfeito. Como homem, o Salvador-
Homem é genuíno. Sua natureza é verdadeira; isto é,
Ele era um ser humano verdadeiro, não um fantasma.
Além disso, Suas virtudes humanas são perfeitas. A
fim de estar qualificado para ser o Salvador do
homem, o Senhor Jesus teve de ser um homem
genuíno com a verdadeira natureza humana e
virtudes humanas perfeitas. Porquanto Ele é genuíno
como homem, verdadeiro em Sua natureza humana e
perfeito em Suas virtudes humanas, Ele está
384
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

qualificado a ser o Salvador-Homem.

O Deus completo com a verdadeira natureza


divina
e os atributos divinos excelentes para
fortalecer e assegurar
Sua capacidade de salvar o Homem
O Salvador-Homem não era somente um homem
genuíno, mas também Deus completo. Como Deus
completo, Ele tinha a verdadeira natureza divina e os
atributos divinos excelentes.
Os teólogos ortodoxos e os mestres
fundamentalistas da Bíblia concordam que Cristo é
Deus completo. Entretanto alguns não admitem que
Ele é não somente o Filho de Deus, mas também o
Pai e o Espírito. Por um lado, ensinam que Cristo é
Deus completo; por outro, ensinam que Ele é
somente parte da Trindade. Assim, esses teólogos e
mestres caem em contradição. Se você disser que
Cristo é somente parte da Trindade, então Ele não é
Deus completo. Pelo contrário, é simplesmente parte
do Deus completo. O Deus completo não é somente o
Pai ou apenas o Espírito ou meramente o Filho. O
Deus completo é o Deus Triúno: o Pai, o Filho e o
Espírito.
Queremos enfatizar que o Salvador-Homem é
um homem genuíno e o Deus completo. Ele é um
homem genuíno com a verdadeira natureza humana
e com as virtudes humanas perfeitas, e é o Deus
completo com a verdadeira natureza divina e os
atributos divinos excelentes. Vimos que, com respeito
à Sua humanidade, o Salvador-Homem é genuíno,
perfeito e verdadeiro. Agora precisamos ver que, com
respeito à Sua divindade, Ele é completo, verdadeiro
38
MENSAGEM SESSENTA E UM

e excelente. Ele é Deus completo, tem a natureza


divina verdadeira e os atributos divinos excelentes.
Suas virtudes humanas são perfeitas, mas Seus
atributos divinos são excelentes; Seus atributos são
superiores, extraordinários.
A natureza divina e os excelentes atributos
divinos do Salvador-Homem fortalecem e garantem
Sua capacidade de salvar o homem. Em Sua
humanidade há a capacidade de salvar-nos, a
capacidade de salvação. Essa capacidade, porém, é
fortalecida e garantida por Sua divindade, Sua
capacidade de salvar-nos é assegurada por Sua
divindade.
Quando alguns ouvem que a natureza e os
atributos divinos do Salvador-Homem fortalecem e
garantem Sua capacidade de salvar-nos, talvez
digam: “Há algum versículo que diga isso na Bíblia?
Você leu algum livro que ensine isso?”. Tenho de
responder às perguntas com um não. Aparentemente
não há um único versículo na Bíblia que ensine isso,
e nunca li um livro que use essas expressões. Talvez
vocês imaginem por que tenho a ousadia de falar
dessa maneira. Minha resposta é que esse
ensinamento é o resultado de mais de meio século de
estudo da Bíblia. Especificamente é o resultado de
dez anos de Estudo-Vida do Novo Testamento,
estudo que em breve será completado com o livro de
Atos [o ano é 1984 - NT]. De acordo com a revelação
divina nas Escrituras, a natureza divina e os atributos
divinos do Salvador-Homem fortalecem e asseguram
Sua capacidade salvadora. A Bíblia como um todo
certamente revela que a divindade do Senhor
fortalece Sua capacidade salvadora, que está em Sua
humanidade.
386
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Primeira João 1:7 transmite a ideia de que a


divindade de Cristo fortalece e garante a capacidade
salvadora em Sua humanidade. Esse versículo diz: “O
sangue de Jesus, Seu Filho, nos purifica de todo
pecado”. Aqui o nome “Jesus” denota a humanidade
do Senhor, que é necessária para o derramamento do
sangue remissor, e o título “Seu Filho” denota a
divindade do Senhor, que é necessária para a eficácia
eterna do sangue redentor. Assim, “o sangue de Jesus,
Seu Filho” indica que esse sangue é o sangue
apropriado de um homem genuíno para redimir as
criaturas caídas de Deus com a certeza divina para
sua eficácia eterna, uma eficácia que é todo-
prevalecente no espaço e eterna no tempo.
De acordo com 1 João 1:7, o sangue derramado
pelo Salvador-Homem na cruz não foi somente o
sangue de Jesus, mas também o sangue do Filho de
Deus. Era o sangue de alguém com status duplo: de
homem e de Deus. O sangue de Jesus era o sangue
genuíno de homem verdadeiro exigido para nossa
redenção. A eficácia desse sangue é assegurada pela
divindade do Salvador-Homem. A divindade torna o
sangue de Jesus eterno. Fora da divindade de Jesus,
Sua redenção não poderia ser eterna.
A verdadeira divindade do Senhor com Seus
atributos excelentes fortalecem e garantem Sua
capacidade de salvar o homem. A humanidade O
qualifica para salvar-nos e a divindade Lhe dá poder
para salvar-nos. Sua divindade também assegura Sua
capacidade de salvar o homem.

O HOMEM-DEUS
Teve a natureza humana com suas virtudes
para conter e expressar Deus
38
MENSAGEM SESSENTA E UM

Como homem genuíno e Deus completo, o


Salvador-Homem é o Homem-Deus. Ele tem a
natureza humana com suas virtudes para conter
Deus e expressá-Lo. Ninguém jamais conteve tanto
de Deus quanto o Senhor Jesus. Com Suas virtudes
humanas, Ele continha Deus e O expressava. Nas
Olimpíadas os atletas tentam ao máximo mostrar sua
habilidade, mas o Homem-Deus não precisava
exercitar-se para mostrar Sua habilidade para conter
e expressar Deus. Ninguém pode comparar-se com
Ele em ter a natureza humana com suas virtudes para
conter e expressar Deus.

Teve a natureza divina com seus atributos


divinos
como Seu conteúdo e realidade para a
expressão de Deus
Como homem-Deus, o Senhor Jesus tem a
natureza divina com seus atributos divinos como Seu
conteúdo e realidade para expressar Deus. O
Homem-Deus tem a essência de Deus, Sua natureza e
Seus atributos. É um homem genuíno com a
verdadeira natureza humana e as virtudes humanas
perfeitas para expressar Deus. Entretanto, a fim de
expressar Deus, Ele tem de ter Deus como Seu
conteúdo e realidade. Novamente podemos usar a
ilustração da luva. A luva expressa a mão, mas para
isso ela tem de ter a mão como seu conteúdo e
realidade. O Homem-Deus é a “luva” e a “mão”,
porque Ele tem a humanidade como o recipiente e a
divindade como o conteúdo.
Hoje o Salvador-Homem ainda é homem e Deus.
Ele é homem como o recipiente e é Deus como o
conteúdo. Nele temos a verdadeira natureza humana
388
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

e a verdadeira natureza divina. Nele temos as


virtudes humanas perfeitas e os atributos divinos
excelentes. Essas duas categorias encontram-se Nele
e estão mescladas Nele para se tomar uma
composição. Assim, Ele é o Homem-Deus.
Entretanto nesse mesclar não há a produção de
uma terceira natureza, uma natureza que não é
totalmente humana nem completamente divina.
Além disso, depois que as essências das duas
naturezas, a divina e a humana, foram mescladas e se
tornaram uma composição, elas ainda permanecem
distintas. Isso quer dizer que, na mescla da divindade
com a humanidade no Salvador-Homem, não há
confusão das duas naturezas. Essa mescla é
misteriosa, esse homem-Deus é deveras um mistério.
Quando jovem, não recebi esse tipo de ajuda
para compreender o Senhor Jesus como o Homem-
Deus. Sou grato porque os jovens santos são capazes
de receber essa ajuda hoje. A geração jovem na
restauração do Senhor é muito abençoada em ouvir
essa palavra sobre o Homem-Deus, o Salvador-
Homem, com Sua natureza humana e Sua natureza
divina.
Muitos livros dizem que Jesus Cristo é o
Homem-Deus, mas quais deles interpretam o
Homem-Deus da forma que apresentamos nestas
mensagens do Estudo-Vida de Lucas? Que é o
homem-Deus? Ele é um homem genuíno com uma
natureza humana verdadeira e virtudes humanas
perfeitas, e é o Deus completo com a natureza divina
verdadeira e os atributos divinos excelentes. Ele tem
a natureza humana com suas virtudes para conter e
expressar Deus e também tem a natureza divina com
seus atributos para ser Seu conteúdo e realidade para
38
MENSAGEM SESSENTA E UM

a expressão de Deus. Esse é o Homem-Deus.

O VIVER DO HOMEM-DEUS
O viver de um homem genuíno, mas não pela
vida de homem
para expressar o homem em virtudes do
homem
Passemos agora a considerar o viver divino-
humano do Salvador-Homem. Esse é o viver de um
homem genuíno, mas não pela vida de homem:
mente, emoção e vontade do homem, para expressar
o homem nas virtudes humanas.
Dois versículos do Evangelho de João são úteis
para compreender isso. Em João 5:30 o Senhor Jesus
diz: “Eu nada posso fazer de Mim mesmo; conforme
ouço, julgo; e o Meu juízo é justo, porque não busco a
Minha própria vontade, e, sim, a vontade Daquele
que Me enviou”. Em João 6:38, Ele então diz:
“Porque Eu desCldo céu não para fazer a Minha
própria vontade, e, sim, a vontade daquele que Me
enviou”. Nesses versículos vemos que o Senhor Jesus
não fazia ou buscava a própria vontade.
Num sentido muito real, nossa vontade
representa todo o nosso ser. Sim, em certo sentido,
nosso ser é representado pela mente. A mente,
entretanto, só representa nosso ser em conceitos; a
vontade representa nosso ser, ou nossa alma, em
ações. Você pode ter pensado muitas coisas, mas
quantas você praticou? Talvez, de cem coisas sobre as
quais pensou, somente duas foram realizadas. O
ponto aqui é que a mente representa nosso ser
idealmente e a vontade o representa em atividade,
em ações.
O fato de o Senhor Jesus não buscar ou fazer a
390
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

própria vontade indica que, enquanto vivia como


homem, Ele não vivia pela própria mente, vontade e
emoção. Isso quer dizer que não via pela própria vida.
“Vida” aqui equivale a nosso ser, e nosso ser é
composto de mente, vontade e emoção. O Salvador-
Homem, o homem-Deus, viveu como homem, mas
não viveu pela própria mente, vontade e emoção.

O viver de um homem genuíno pela vida


divina
para expressar Deus em Seus atributos
O Senhor Jesus tinha um viver genuíno de
homem pela mente, vontade e emoção de Deus, para
expressá-Lo nos atributos divinos. O Senhor não
buscava a própria vontade, mas a de Deus. Ele não
veio para fazer a própria vontade, mas a de Deus.
Isso quer dizer que Ele veio para viver como homem,
não pela vida humana, mas pela vida divina. Ele
viveu pela mente, vontade e emoção de Deus para
expressá-Lo em Seus atributos, que estão contidos e
mesclados em Suas virtudes humanas.
No Evangelho de Lucas temos muitos exemplos
do viver divino-humano do Salvador-Homem. Veja o
caso do bom samaritano (10:25-37). No viver
humano do bom samaritano, Deus foi expresso. Deus
estava lá a fortalecê-lo. O amor expresso não era
simplesmente o amor humano do samaritano, mas
um amor humano fortalecido, energizado e
enriquecido pelo amor divino. Assim, era um amor
superior, extraordinário.
Pondere o caso de Zaqueu (19:1-10). Na vinda do
Salvador-Homem a Zaqueu e ao lidar com ele, vemos
algo divino. E difícil explicar o que vemos expresso
no homem Jesus. Nele há algo mais do que
39
MENSAGEM SESSENTA E UM

onisciência divina. Nele os atributos divinos


excelentes estão presentes a fortalecer Suas virtudes
humanas. O Senhor Jesus viveu de modo a ter Suas
virtudes humanas fortaleCldas pelos atributos
divinos.
Isso era verdade com o Senhor Jesus mesmo na
idade de doze anos. Quando tinha doze anos, Ele era
um menino humano, mas, ao ler a narrativa em
Lucas 2, vemos que nesse menino havia o elemento
divino. Os atributos de Deus foram expressos em Seu
viver humano.
O Senhor Jesus viveu uma vida humana genuína
e ainda assim em Sua vida vemos o elemento divíno e
também determinados fatores divinos. Essa vida não
expressava o homem, mas Deus. Essa é a vida e o
viver do Homem-Deus.

A mente, a emoção e a vontade do homem


tornam-se os órgãos para conter a vida de
Deus
No viver do Senhor Jesus, a mente, vontade e
emoção de homem se tornaram os órgãos para conter
a vida de Deus. Podemos comparar esses órgãos com
os dedos de uma luva. Assim como os dedos da luva
contêm os verdadeiros dedos, assim também a mente,
a vontade e a emoção do Salvador-Homem contêm a
vida de Deus. Os cinco dedos da luva não são os
verdadeiros dedos, mas contêm os cinco dedos da
mão humana. De modo semelhante, a mente,
vontade e emoção do Senhor são órgãos contendo a
mente, a vontade e a emoção de Deus. Esse foi Seu
viver de Homem-Deus.

As virtudes humanas tornam-se uma casca,


392
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

uma imagem,
para expressar os atributos divinos de modo
que Deus seja expresso no viver do homem
No viver divino-humano do Salvador-Homem,
as virtudes humanas se tornaram uma casca, uma
imagem, para expressar os atributos de Deus de
modo que Deus fosse expresso no viver do homem.
Com isso vemos que nossas virtudes humanas, como
amor, luminosidade, santidade e justiça, não passam
de uma casca, a imagem criada por Deus em Gênesis
1:26. Deus criou o homem à Sua imagem de modo
que fosse expresso no viver do homem.
Se virmos isso, teremos a resposta à pergunta
levantada na mensagem anterior sobre o motivo de
ser necessário ao Senhor Jesus viver na terra por
trinta e três anos e meio antes de morrer para
cumprir a redenção. Se Ele tivesse vivido na terra
somente pouco tempo, teria havido apenas uma
expressão momentânea dos atributos divinos em Seu
viver. Essa expressão breve pode ser comparada com
o arco- íris, que aparece por breve instante e depois
se desvanece. O Salvador-Homem viveu uma vida
humana plena por trinta e três anos e meio. Naqueles
anos Ele foi provado como alguém sem defeito ou
imperfeição. Ele não falhou de modo nenhum. Suas
virtudes eram a imagem para a expressão dos
atributos de Deus. Por isso Deus foi expresso em Seu
viver.

Constitui a qualificação do Salvador-Homem


e um protótipo para Seus crentes
O viver divino-humano do Senhor constituiu Sua
qualificação para ser o Salvador-Homem. Ao mesmo
39
MENSAGEM SESSENTA E UM

tempo, esse viver constituía um protótipo para Seus


crentes. Como veremos na mensagem seguinte, esse
protótipo visa à “produção em massa”, à reprodução
do homem-Deus nos crentes. Numa fábrica
despende- se muito tempo para produzir um
protótipo. Uma vez produzido, o protótipo então é
usado para a produção em massa. Do mesmo modo,
o viver divino-humano do Salvador-Homem
constituiu-O num protótipo para que Ele agora seja
reproduzido em nós. Louvado seja o Senhor pelo
protótipo e pela produção em massa!
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SESSENTA E DOIS

A REPRODUÇÃO DO HOMEM-DEUS
(1)
Leitura Bíblica: Jo 3:6b; 2Co 3:17-18; Fp 1:19b,
20b, 21a; 2:5-8; 3:9-10; 4:8,13

Nesta mensagem e na seguinte consideraremos a


reprodução do Homem-Deus. Como veremos, essa
reprodução requer que nasçamos de novo do Cristo
pneumático em nosso espírito para que sejamos
transformados pelo Cristo pneumático em nossa
alma e O vivamos como o Homem-Deus.

COMO O SENHOR SE TORNOU


O ESPÍRITO QUE DÁ VIDA
Depois de uma vida maravilhosa e excelente, o
Salvador-Homem foi à cruz e morreu. Então, em
ressurreição, Ele se tomou o Espírito que dá vida
(1Co 15:45). Como Cristo se tomou Espírito que dá
vida em Sua ressurreição? Note que não estamos
perguntando por que, mas como, de que forma, Ele
se tomou Espírito. A resposta é que o Salvador-
Homem se tomou Espírito que dá vida com uma
qualificação maravilhosa, todo-inclusiva. O Senhor
Jesus era Deus e homem. Por trinta e três anos e
meio, Ele viveu a vida de Homem-Deus, isto é, Ele
viveu a vida humana pela vida divina para a
expressão de Deus. Depois de viver esse tipo de vida,
Ele morreu na cruz como alguém todo-inclusivo.
Toda vez que algo vivo morre, sua morte
corresponde à sua natureza. Por exemplo, um cão
39
MENSAGEM SESSENTA E DOIS

tem a morte de cão. Semelhantemente a formiga tem


a morte de formiga e a mosca tem a morte de mosca.
Esse princípio também se aplica aos seres humanos.
Uma pessoa desconhecida pode ter uma morte
insignificante, mas uma grande pessoa tem uma
grande morte. O Senhor Jesus era todo-inclusivo, por
isso teve uma morte todo-inclusiva, depois da qual
foi ressuscitado por Deus. Foi nessas condições, com
essa qualificação, que Ele se tomou Espírito que dá
vida.

O EXTRATO DO CRISTO TODO-lNCLUSIVO


O Espírito que dá vida é na verdade um extrato
do Cristo todo-inclusivo. Como já enfatizamos em
outra publicação (ver O Cumprimento do
Tabernáculo e das Ofertas nos Escritos de João, cap.
1), um extrato pode ser definido como um líquido
extraído de uma planta ou de outra matéria orgânica,
o qual contém sua essência em forma concentrada.
Um sinônimo para extrato é “espírito”, que é a
essência de uma substância extraída de forma líquida.
O vinho, por exemplo, pode ser considerado extrato
ou espírito das uvas. Sempre que extraímos a
essência de uma substância, obtemos seu espírito.
Além disso, o extrato de algo sempre inclui sua
essência, seus elementos e sua substância. Suponha,
por exemplo, que tenhamos um extrato de laranja.
Ele compreenderá a essência, os elementos, a
natureza e a substância da laranja. De semelhante
forma, o Espírito todo-inclusivo que dá vida
compreende tudo o que Cristo é, tudo pelo qual Ele
passou e tudo o que Ele realizou, atingiu e obteve.
Muitos cristãos não percebem que o Espírito é
todo- inclusivo. Em Filipenses 1:19 Paulo fala da
396
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

“provisão do Espírito de Jesus Cristo”. Ele não fala da


provisão abundante do Espírito de Deus, mas do
Espírito de Jesus Cristo. Em Filipenses 1:19 o
Espírito de Deus se tomou o Espírito de Jesus Cristo.
Esse é “o Espírito” mencionado em João 7:39. Não é
apenas o Espírito de Deus antes da encarnação do
Senhor, mas o Espírito de Deus, o Espírito Santo com
divindade, depois da ressurreição do Senhor,
composto da humanidade, viver humano sob a cruz,
crucificação e ressurreição.
Qual é sua compreensão de Jesus e de Cristo?
Jesus é o Deus completo e homem genuíno. Ele é a
Palavra que se tomou carne. Em João 1:1-14 vemos
que a Palavra que estava no princípio com Deus e era
Deus tomou-se carne. Como Homem-Deus, Jesus era
o Deus completo com a verdadeira natureza divina e
os atributos divinos excelentes, e um homem genuíno
com a verdadeira natureza humana e as virtudes
humanas perfeitas.
Quem, então, é Cristo? Ele é o Jesus ungido por
Deus, que passou pelo processo de encamação, viver
humano, crucificação e ressurreição. Em ressurreição,
Ele se tomou extrato de Si mesmo, o qual é o Espírito
que dá vida. Visto que esse Espírito que dá vida é o
extrato do Cristo todo- inclusivo, Ele também é todo-
inclusivo.
O fato de Cristo se tomar o Espírito que dá vida
está relacionado com a reprodução do Homem-Deus.
Como pode o Homem-Deus ser reproduzido? A
resposta a essa pergunta é que o Homem-Deus é
reproduzido pelo Espírito todo-inclusivo. Vendo isso,
precisamos agora descobrir de que forma o Homem-
Deus é reproduzido pelo Espírito todo-inclusivo.
39
MENSAGEM SESSENTA E DOIS

A REGENERAÇÃO:
O PRIMEIRO PASSO DA REPRODUÇÃO
DO HOMEM-DEUS PELO ESPÍRITO TODO-
lNCLUSIVO
O primeiro passo da reprodução do Homem-
Deus pelo Espírito que dá vida todo-inclusivo é a
regeneração. O Senhor Jesus falou sobre a
regeneração a Nicodemos em João 3. Para esse
cavalheiro ético, culto e religioso, Ele disse:
“Importa- vos nascer de novo” (Jo 3:7). Nascer de
novo é nascer de outra essência, a essência divina. O
Senhor parecia dizer a Nicodemos: “Você nasceu da
essência humana e agora precisa nascer de novo de
outra essência: a essência de Deus. Nicodemos, você
precisa nascer de Deus”.

Nascer do Espírito
Nascer de Deus é nascer do Espírito. Que é
Espírito? O Espírito é o extrato de Deus. Na verdade,
esse extrato não é meramente de Deus, é também de
Jesus Cristo.
Se compararmos João 3:6 com João 3:14-15,
veremos que o Espírito aqui é o extrato de Jesus
Cristo. Em João 3:6, o Senhor Jesus diz: “O que é
nascido do Espírito é espírito”. Se quisermos ter a
vida divina, precisamos ser nascidos do Espírito. Em
João 3:14-15 o Senhor Jesus prossegue: “E do modo
por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim
importa que o Filho do homem seja levantado, para
que todo o que Nele crê tenha a vida eterna”. O
Senhor aqui se refere a Si mesmo como o Cristo
crucificado e ressurreto. Quem quer que creia Nele
terá vida eterna. Ter vida eterna é igual a nascer de
398
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

novo. Em outras palavras, nascer de novo é ter a vida


divina.
Que significa nascer de novo, nascer do Espírito?
Nascer do Espírito é receber a vida divina. Nesses
versículos de João 3, primeiro temos o Espírito e
depois o Filho do Homem crucificado e ressurreto.
Ao comparar esses versículos, vemos que aqui o
Espírito é o extrato de Jesus Cristo.
O Espírito de quem nascemos para ter vida
eterna é o extrato do Cristo crucificado e ressurreto.
A crucificação é uma “prensa” que produz um extrato.
Quando a prensa é aplicada à laranja, obtemos o suco
como extrato da laranja. Podemos comparar a
crucificação de Cristo a espremer uma laranja.
Quando Cristo estava na cruz, Ele foi “espremido”.
Depois de espremido na cruz, Ele saiu como o “suco”
do Espírito que dá vida todo-inclusivo. Além disso,
assim como a essência, os elementos, a natureza e a
substância de uma laranja estão em seu extrato,
também a essência, os elementos, a natureza e a
substância de Cristo estão no Espírito todo-inclusivo.
É por meio desse Espírito que Cristo, o Homem-Deus,
é reproduzido.

Receber o Espírito ao invocar o nome do


Senhor
Ao pregar o evangelho precisamos dizer aos
outros que Cristo é o Espírito que dá vida.
Precisamos dizer-lhes que Ele foi espremido na cruz
para se tomar o espírito. Agora, se os pecadores se
arrependerem, crerem Nele e O invocarem, receberão
o Espírito. Sempre que alguém invoca o Senhor Jesus,
recebe o Espírito. Esse Espírito é na verdade a
realidade de Jesus Cristo como o Espírito que dá vida
39
MENSAGEM SESSENTA E DOIS

todo-inclusivo.
Em Atos 2 temos o derramamento do Espírito.
No versículo 17 Pedro cita a palavra de Joel sobre o
derramamento do Espírito de Deus sobre toda carne
e diz que “todo aquele que invocar o nome do Senhor
será salvo” (At 2:21). Uma vez que Deus derramou
Seu Espírito, o que as pessoas precisam fazer para ser
salvas é invocar o nome do Senhor. Todo aquele que
invocar o nome do Senhor será salvo e ser salvo é na
verdade receber o Espírito.
Como já enfatizamos muitas vezes, o nome
denota a pessoa. Jesus é o nome do Senhor e o
Espírito é Sua pessoa. Por isso, quando invocamos o
nome do Senhor, recebemos Sua pessoa, o Espírito.
Isso é o que significa ser salvo.
Alguns cristãos se opõem à questão de invocar o
Senhor. Dizem falsamente que isso é mero gritar ou
vã repetição. Entretanto invocar o nome do Senhor
não é em vão. Quando o invocamos, invocamos o
nome do amado, todo-inclusivo, que está acima de
tudo. Deus Lhe deu um nome que está acima de todo
nome (Fp 2:9). Podemos testificar que, quando
invocamos Seu nome, o Espírito vem. Jesus é Seu
nome e o Espírito é Sua pessoa, o extrato de Seu ser.
A realidade do nome de uma pessoa é a própria
pessoa. Por esse motivo, quando chamamos o nome
de certa pessoa presente, ela responde. O princípio é
o mesmo com invocar o nome de Jesus. Sempre que
o invocamos, obtemos a pessoa. Uma vez que a
pessoa é o Espírito, quando invocamos o nome de
Jesus, recebemos o Espírito. Pela experiência,
sabemos que, quando cremos em Jesus e invocamos
Seu nome, o Espírito vem como a Pessoa todo-
inclusiva para ser nossa vida.
400
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

O Espírito regenerador
Para entrar em nós como o Espírito que dá vida,
o Senhor Jesus precisava passar por longo processo.
No Espírito que dá vida, o extrato todo-inclusivo de
Cristo, não há somente a essência do que Cristo é,
mas também o elemento do processo por meio do
qual Ele passou. O Senhor não veio apenas para
habitar entre os homens. Ele viveu na terra por trinta
e três anos e meio, experimentando muitas coisas.
Ele nasceu de uma virgem e cresceu de forma
humana, normal. Por fim, foi à cruz para ser
espremido a fim de liberar o Espírito como Seu
extrato.
Hoje o Espírito regenerador é o extrato do Cristo
todo- inclusivo. Como tal, Ele compreende o
elemento divino com os atributos divinos e o
elemento humano com todas as virtudes humanas.
Esse Espírito inclui o elemento da vida maravilhosa
do Senhor de expressar Deus. O Espírito também
inclui o elemento das virtudes humanas resgatadas,
restauradas, recobradas, aperfeiçoadas, melhoradas,
santificadas, fortalecidas, energizadas e elevadas.
Você alguma vez percebeu isso? O Espírito todo-
inclusivo que dá vida contém o elemento das virtudes
humanas elevadas do Salvador-Homem.

O mover do Espírito em nós


Tanto os crentes como os incrédulos têm um
conceito natural sobre como o Senhor Jesus nos salva.
Por exemplo, um cristão pode dizer: “Oh! tenho tanto
problema com meu temperamento! Nada posso fazer
sobre ele. Não tenho escolha senão perder a calma.
Senhor, ajuda-me!”. Depois de pedir ajuda ao Senhor,
40
MENSAGEM SESSENTA E DOIS

esse pode esperar que o Senhor estenda a mão dos


céus e o ajude.
Alguns cristãos na verdade não creem que Cristo
vive em nós; creem que Ele está apenas no trono no
terceiro céu. Entretanto até eles oram ao Senhor para
ajudá-los. Como pensam que o Senhor vai ajudá-los?
Sua compreensão do auxílio do Senhor pode ser não
só natural, mas até supersticiosa.
O Novo Testamento revela que o Cristo
crucificado, ressurreto e ascendido é o Espírito que
habita interiormente. Precisamos perceber isso
quando somos tentados a perder a calma. Você pode
dizer: “Senhor, ajuda-me”, ou pode simplesmente
dizer “Senhor!”. Se considerar sua experiência,
perceberá que, quando invoca o nome do Senhor,
algo se move em você e até se mistura com você. Esse
é o Espírito que dá vida movendo-se em você e se
misturando com seu espírito.
É claro, nada há de errado em pedir ao Senhor
que nos ajude, mas esse tipo de oração pode distrair-
nos do Espírito que habita em nós. Se orarmos dessa
forma, podemos esperar que o auxílio do Senhor
venha do terceiro céu e talvez sintamos que
precisamos esperar até que Seu auxílio chegue. Mas,
quando invocamos o nome do Senhor, percebendo
que Ele é o Espírito que dá vida em nós, nós O
sentimos mover-se em nós e Se mesclar a nós.
Experimentamos isso porque Aquele que se move em
nós e se mescla conosco é o Espírito que dá vida
como extrato do Cristo todo-inclusivo. Simplesmente
invocando o nome do Senhor podemos sentir o
extrato misterioso, todo-inclusivo a se mover em nós.

Os elementos do Espírito todo-inclusivo


402
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Como o extrato de Cristo o Espírito contém o


elemento do mais alto padrão de moralidade.
Quando o Espírito se move em nós, o elemento das
mais elevadas virtudes humanas também se move em
nós. O Senhor não nos salva de nosso temperamento
fazendo algum milagre como Aquele que ascendeu ao
trono nos céus. Pelo contrário, Ele nos salva
movendo-se em nós e mesclando-se conosco como
Aquele que habita em nosso interior. Se nos
voltarmos a Ele como Aquele que está em nosso
espírito e invocarmos Seu nome, Ele se moverá em
nós com todos os Seus elementos. Dessa forma Ele
nos salva.
O que estamos dizendo sobre o Senhor salvar-
nos mediante Seu mover em nós como o Espírito não
é superstição. Assim como tomar remédio não é
supersticioso, experimentar o mover do Espírito em
nós também não é. Quando alguém toma remédio,
este age nele para matar os germes. Isso não é um
matar exterior, uma tentativa de matar germes
fazendo algo exteriormente. Pelo contrário, é um
matar interior, um matar que resulta de tomar uma
dose prescrita de remédio. De modo semelhante, o
Espírito todo-inclusivo contém o elemento da morte
todo-inclusiva do Senhor e, por esse elemento, os
germes espirituais em nosso ser são aniquilados.
O Espírito que dá vida todo-inclusivo também
tem o elemento de germinação. O Espírito contém
esse elemento porque Nele há o elemento da
ressurreição de Cristo. Ressurreição vence toda
forma de morte. Uma vez que não consegue reter o
elemento de ressurreição, a morte não consegue reter
o Espírito. Aleluia pelo elemento de ressurreição no
Espírito todo-inclusivo!
40
MENSAGEM SESSENTA E DOIS

Quer entendamos ou não os elementos no


Espírito todo-inclusivo, não obstante é um fato que
esses elementos nasceram em nós por meio do
Espírito. Quando nascemos de nossos pais, nascemos
com os elementos humanos. Igualmente, no dia que
invocamos o nome do Senhor amado e todo-inclusivo,
o Espírito todo-inclusivo entrou em nós e nascemos
Dele. Agora, com todos os Seus elementos, Ele habita
em nós.

Nascidos do Cristo pneumático em nosso


espírito
O primeiro passo da reprodução do Homem-
Deus é que nascemos de novo do Cristo pneumático
em nosso espírito com Sua vida e natureza divinas.
Gosto do termo “Cristo pneumático”. Uma vez que o
Espírito em João 3:6 é o extrato do Cristo todo-
inclusivo, Ele na verdade é o Cristo pneumático.
Nesse versículo, o Senhor Jesus não fala de nascer de
novo do Espírito de Deus ou do Espírito Santo; Ele
fala de nascer do Espírito. O Espírito nos introduz no
Cristo pneumático.
Que é o Cristo pneumático? É o Cristo após a
ressurreição sendo o Espírito que dá vida. Nascemos
do Cristo pneumático em nosso espírito com Sua vida
e natureza divinas.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SESSENTA E TRÊS

A REPRODUÇÃO DO HOMEM-DEUS
(2)
Leitura Bíblica: Jo 3:6b; 2Co 3:17-18; Fp l:l9b,
20b, 21a; 2:5-8; 3:9-10; 4:8, 13
Vimos que, para a reprodução do Homem-Deus,
precisamos renascer do Cristo pneumático em nosso
espírito com Sua vida e natureza divinas. Nesta
mensagem vamos prosseguir vendo que para essa
reprodução precisamos também ser transformados
pelo Cristo pneumático em nossa alma e depois viver
Cristo como o Homem-Deus.

TRANSFORMADOS PELO CRISTO


PNEUMÁTICO
EM NOSSA ALMA
Depois que nascemos de novo, que nascemos do
Espírito em nosso espírito, precisamos ser
transformados. Precisamos ser transformados pelo
Cristo pneumático em nossa alma com Seus atributos
divinos para elevar, fortalecer, enriquecer e
preencher nossas virtudes humanas para Sua
expressão em nossa humanidade. Sobre isso, Paulo
diz em 2Coríntios 3:17 -18: “Ora o Senhor é o
Espírito; e onde está o Espírito do Senhor aí há
liberdade. E todos nós com o rosto desvendado,
contemplando, como por espelho, a glória do Senhor,
somos transformados de glória em glória, na Sua
própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”.
Tanto o “Espírito” no versículo 17 como “o Senhor
Espírito” no versículo 18 se referem ao Cristo
40
MENSAGEM SESSENTA E TRÊS

pneumático. O verbo “contemplar” também pode ser


traduzido por “refletir”. Quando O contemplamos e
refletimos, somos transformados à Sua imagem.
Além disso, o Senhor Espírito é na verdade o Espírito
em João 3:6. O Espírito em João 3:6 é para
regeneração e o Senhor Espírito em 2Coríntios 3:18 é
para transformação. Ser regenerado, renascido, é
uma vez por todas; ser transformado dura uma vida
inteira. Daí Paulo dizer que “somos transformados”.
A palavra “somos” também pode ser traduzi da por
“estamos sendo”, o que indica processo. Hoje
passamos pelo processo de ser transformados.

Salvação metabólica
É bem fácil entender o significado da
regeneração, mas não o da transformação. Em
2Coríntios 3:18 a Versão King James até usa a
palavra “mudados” em vez de “transformados”. O uso
de “mudados” nesse versículo não é adequado.
Embora transformação seja mudança, ela envolve
mais que mera mudança exterior. Transformação
envolve mudança metabólica, mudança interior em
vida. Essa mudança metabólica requer o operar em
nós do elemento da vida divina. Isso produz
mudança não só de aparência e de comportamento,
mas também em vida, natureza e essência intrínseca.
Não devemos pensar que o Senhor nos salva
meramente de forma objetiva. Não devemos esperar
que, quanto mais orarmos, mais o Senhor nos salvará
objetivamente dos céus. Pelo contrário, quanto mais
invocarmos Seu nome, mais Ele se moverá em nós
para acarretar mudança metabólica que afeta nosso
ser intrínseco. Isso significa que a salvação do Senhor
é uma salvação metabólica, não apenas uma salvação
406
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

de ação externa. E fácil fazer alguma coisa exterior,


mas salvar-nos metabolicamente leva tempo. O que é
revelado sobre a salvação divina no Novo Testamento
não é somente uma salvação de ação; é uma salvação
de metabolismo. Pela experiência, sabemos que essa
salvação metabólica é lenta, gradual e firme.

Para a expressão do Senhor em nossa


humanidade
Renascemos no espírito, mas somos
transformados na alma. A regeneração é com a vida e
natureza divinas, mas a transformação é com os
atributos divinos para elevar, fortalecer, enriquecer e
preencher nossas virtudes humanas para a expressão
do Senhor em nossa humanidade.
A regeneração e transformação são dois passos
no processo de reproduzir o Homem-Deus. O
Salvador-Homem, como o Homem-Deus, é o
protótipo único. Deus tenciona reproduzir, ou
produzir em massa, esse protótipo por meio da
regeneração e transformação. Essa reprodução
ocorre pela regeneração pelo Cristo pneumático em
nosso espírito e por meio da transformação pelo
mesmo Cristo pneumático em nossa alma. Por meio
desses passos, tornamo-nos a reprodução do
Homem-Deus, reprodução essa que é a produção em
massa do protótipo. Louvado seja o Senhor porque
fomos regenerados uma vez por todas e estamos
agora no processo de ser transformados!

VIVER CRISTO COMO O HOMEM-DEUS


Os que são a reprodução do homem-Deus devem
também .viver Cristo como o Homem-Deus (Fp
40
MENSAGEM SESSENTA E TRÊS

1:20b, 21a). Cristo viveu na terra como Homem-Deus


por trinta e três anos e meio. Hoje, nós, como Sua
reprodução, devemos vivê-Lo como o Homem-Deus.
Os cristãos sempre citam Filipenses 1:21 a: “Para
mim o viver é Cristo”. A vida de Paulo era viver Cristo.
Cristo era não somente sua vida interior, mas
também seu viver exterior. Ele vivia Cristo porque
Cristo vivia nele (Gl2:20). Ele era um com Cristo em
vida e em viver. Ele e Cristo tinham uma só vida e um
só viver. Eles viviam juntos como uma só pessoa.
Cristo vivia nele como a vida dele, e ele vivia Cristo
exteriormente como Seu viver.
É importante perceber que o Cristo em
Filipenses 1:21 é o Homem-Deus. Isso pode ser
provado pela palavra de Paulo em Filipenses 2:5:
“Tende em vós o mesmo sentimento (mente) que
houve também em Cristo Jesus”. Ele então prossegue
dizendo nos versículos seguintes que Cristo subsistia
na forma de Deus, mas não considerava o fato ser
igual a Deus algo a que devesse apegar-se; pelo
contrário, Ele Se esvaziou assumindo a forma de
escravo e tornando- se semelhante aos homens (vs.
6-7). No versículo 8 Paulo continua sua descrição
desse Homem-Deus: “Reconhecido em figura
humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se
obediente até a morte, e morte de cruz”. Com essa
descrição, vemos que o Cristo em Filipenses 1 é o
Homem-Deus em Filipenses 2. Por isso viver Cristo é
viver o Homem-Deus.

Pelo Espírito abundante de Jesus Cristo


Vivemos Cristo como o Homem-Deus pelo
suprimento abundante do Espírito de Jesus Cristo
(Fp 1:19). Vimos que o Espírito de Jesus Cristo não é
408
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

meramente o Espírito de Deus antes da encarnação


do Senhor, mas o Espírito de Deus, o Espírito Santo
com divindade, depois da ressurreição do Senhor,
composto de Sua encarnação, humanidade, viver
humano, crucificação e ressurreição. O Espírito de
Jesus é principalmente para a humanidade e viver
humano do Senhor. O Espírito de Cristo é
principalmente para a ressurreição do Senhor. Para
experimentar a humanidade do Senhor, ilustrada em
Filipenses 2:5-8, precisamos do Espírito de Jesus.
Para experimentar o poder da ressurreição do Senhor,
mencionado em Filipenses 3:1 0, precisamos do
Espírito de Cristo.

Tomar a mente de Jesus Cristo, o Homem-


Deus
Se quisermos viver Cristo como o Homem-Deus,
precisamos tomar Sua mente. Em Filipenses 2:5-8
Paulo nos encoraja a tomar a mente de Jesus Cristo,
o Homem-Deus, a qual estava em Cristo quando Ele
Se esvaziou assumindo a forma de escravo e Se
humilhou sendo encontrado em figura humana. Ter
essa mente exige que sejamos um com Cristo em
Suas partes interiores (Fp 1:8).
Em Filipenses 2:12-13 Paulo prossegue: “Assim,
pois, amados meus, como sempre obedecestes não só
na minha presença, porém muito mais agora na
minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com
temor e tremor; porque Deus é que efetua em vós
tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa
vontade”. A salvação no versículo 12 não é salvação
do inferno. A salvação do inferno não pode ser
desenvolvida por nós. A salvação aqui é subjetiva,
interior, e requer nossa cooperação com Deus.
40
MENSAGEM SESSENTA E TRÊS

Cooperamos por intermédio da obediência. Nossa


obediência é nossa cooperação.
Desenvolver a salvação é executá-la, levá-la à
conclusão extrema. Recebemos a salvação de Deus;
agora precisamos levá-la a cabo, levá-la à conclusão
extrema, pela constante e absoluta obediência com
temor e tremor. Recebemos essa salvação pela fé.
Agora precisamos levá-la a cabo pela obediência.
Receber salvação pela fé é uma vez por todas;
desenvolvê-la pela obediência dura a vida toda.
A palavra “porque” no versículo 13 dá o motivo
de obedecer sempre. Devemos obedecer porque Deus
opera em nós. Temos Deus a operar em nós o querer
e o realizar para levar a cabo nossa salvação. Não
desenvolvemos nossa salvação por nós mesmos, mas
Deus é que opera em nós para realizá-la. A única
coisa que precisamos fazer é obedecer a Deus como
Aquele que opera em nós o querer e o realizar para
Sua boa vontade.
Em Filipenses 2:14 Paulo diz: “Fazei tudo sem
murmurações nem contendas”. Murmurações
provêm da emoção e contendas são oriundas da
mente. Ambas nos frustram de experimentar e
desfrutar Cristo. Você pode dizer que não tem
murmurações nem contendas no viver diário? Talvez
tenha experimentado considerável mudança em vida,
mas ainda precisa ser salvo das murmurações e
contendas. Certamente precisamos ser salvos disso
pelo Cristo vivo, pelo Homem-Deus vivo.
Paulo era experimentado e escreveu a Epístola
aos Filipenses de acordo com sua experiência. Pela
experiência, ele sabia que podemos ser salvos de
muitas coisas, mas ainda não de murmurações e
contendas. Não somos salvos desses dois itens pelo
410
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

braço divino que nos alcança do terceiro céu. Que,


então, é eficaz para nos salvar dessas coisas? Somos
salvos delas pelo Cristo que habita em nós, pelo
Homem-Deus em nosso interior. Hoje esse Homem-
Deus que habita interiormente é o Espírito todo-
inclusivo que dá vida com provisão abundante. Pela
provisão abundante do Espírito de Jesus Cristo,
somos salvos interiormente de murmurações e
contendas. Isso está relacionado com viver Cristo.
Viver Cristo é viver o Homem-Deus, que é agora o
Cristo pneumático.

Resplandecer a palavra da vida como luzeiros


refletindo o brilho de Jesus Cristo, o Homem-
Deus
Quando vivemos Cristo como o homem-Deus,
devemos resplandecer “como luzeiros no mundo;
preservando a palavra da vida” (Fp 2:15b-16a). Isso é
resplandecer como luzeiros refletindo o brilho de
Jesus Cristo, o Homem-Deus. Quando cooperamos
com o Deus que opera em nós, obedecendo-O, o
Homem-Deus como Cristo pneumático com Sua
provisão abundante nos capacita a resplandecer a
palavra de vida como luzeiros. Em vez de apenas
ensinar ou pregar, resplandeceremos a palavra da
vida. Seremos luze iras a refletir o brilho do Homem-
Deus.

Ser achados em Cristo


Se vivermos Cristo como o Homem-Deus,
seremos achados em Cristo (Fp 3:9). Como
reprodução do Homem-Deus, Paulo desejava ser
encontrado em Cristo por todos os seus observadores.
41
MENSAGEM SESSENTA E TRÊS

Ele aspirava ter todo o seu ser imerso em Cristo e


saturado Dele de modo que todos os Seus crentes o
encontrassem plenamente em Cristo.

Com Ele como nossa justiça subjetiva


Uma condição para ser achados em Cristo é tê-
Lo como nossa justiça subjetiva, como nossa justiça
superior. Essa é a justiça mencionada pelo Senhor
Jesus em Mateus 5:20: “Porque vos digo que, se a
vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e
fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”. Justiça
aqui não se refere à justiça objetiva, que é o Cristo
que recebemos quando cremos Nele para ser
justificados diante de Deus (1Co 1:30; Rm 3:26).
Antes, refere-se à justiça subjetiva, que é o Cristo que
habita em nós, expresso de nós como nossa justiça.
Em Filipenses 3:9 Paulo chama isso de “justiça que
procede de Deus”. A palavra grega para “procede de”
significa “provém de” ou “é oriunda de”. Essa justiça
é na verdade o próprio Deus expresso de nós para ser
nossa justiça por meio da fé em Cristo. Essa justiça é
a expressão de Deus, que vive em nós. Por isso a
justiça superior é o próprio Deus expresso de nós.
Essa não é nossa justiça; é Deus como nossa justiça.

No poder de Sua ressurreição


Em Filipenses 3:10 Paulo disse: “Para o conhecer,
e o poder da sua ressurreição e a comunhão dos seus
sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte”.
Esse versículo indica que Paulo vivia Cristo no poder
de Sua ressurreição. Paulo tinha sido aniquilado e
sepultado. Então, na ressurreição de Cristo, ele
desfrutava o poder da ressurreição de Cristo.
412
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

O poder da ressurreição de Cristo é em Sua vida


de ressurreição, que O ressuscitou dentre os mortos
(Ef 1:19- 20). A realidade do poder da ressurreição de
Cristo é o Espírito (Rm 1:4). Conhecer esse poder
exige identificação com a morte de Cristo. Morte é a
base da ressurreição. Se quisermos experimentar o
poder da ressurreição de Cristo, precisamos ter uma
vida crucificada como a que Ele teve. Ser identificado
com a morte de Cristo proporciona a base para o
poder de Sua ressurreição ser ativado, de modo que
Sua vida divina seja expressa em nós.

Conformados à Sua morte


Em Filipenses 3:10 Paulo também fala de ser
conformado à morte de Cristo, o que significa tomar
Sua morte como o molde de nossa vida. O molde da
morte de Cristo se refere a Ele sempre levar à morte
Sua vida humana para viver pela vida de Deus (Jo
6:57). Nossa vida deve ser conformada a esse molde:
morrer para nossa vida humana para viver a vida
divina. Se quisermos ser achados em Cristo e vivê-Lo
como o Homem-Deus, precisamos ser conformados à
Sua morte.

Expresso em nossas virtudes humanas


Quando somos achados em Cristo vivendo-O
como o Homem-Deus, Ele é expresso em nossas
virtudes humanas. A palavra de Paulo em Filipenses
4:8 indica isso: “Finalmente, irmãos, tudo o que é
verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é
justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o
que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum
louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso
41
MENSAGEM SESSENTA E TRÊS

pensamento”. Todos os itens citados aqui são


virtudes humanas. Aqui ser verdadeiro é ser
verdadeiro eticamente, não em termos fatuais. Ser
respeitável é ser venerável, digno de reverência; é
também ser nobre e sério (1Tm 3:8, 11; Tt 2:2). A
palavra implica a ideia de dignidade, que inspira e
convida à reverência. Ser justo é ser correto diante de
Deus e dos homens. Ser puro é ser singelo na
intenção e na ação, sem qualquer mistura. A palavra
“amável” aqui significa ser concorde, de boa índole.
As palavras “de boa fama” são a tradução da palavra
grega que significa soar bem. Como é usada aqui, a
palavra implica ser de boa reputação, renomado,
atraente, cativante, gracioso. Nesse versículo “virtude”
é excelência, isto é, energia ética exibida em ação
vigorosa. A palavra “louvor” indica coisas dignas de
louvor, como companheira da virtude.
Os primeiros seis itens são classificados como
“tudo o que”; os dois últimos são classificados como
“se algum”. Isso indica que os dois últimos são a
somatória dos itens precedentes, em que há alguma
virtude ou excelência e algo digno de louvor. O que
queremos enfatizar é que são virtudes humanas nas
quais Cristo é expresso.
Fazer todas as coisas
Em Filipenses 4:13 Paulo diz: “Tudo posso
naquele que me fortalece”. Paulo era uma pessoa em
Cristo (2Co 12:2) e desejava ser achado em Cristo
pelos outros. Aqui ele declara que podia tudo em
Cristo, Aquele que o fortalecia.
Cristo fortalecer-nos significa que Ele nos faz
dinâmicos interiormente. Ele habita em nós (Cl 1:27).
Ele nos fortalece, faz-nos dinâmicos a partir de nosso
414
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

interior, não exteriormente. Por esse fortalecimento


interior, Paulo pôde tudo em Cristo. Em particular,
ele pôde ter todas as virtudes no versículo 8. Aqui ele
parece dizer: “Posso tudo Naquele que me fortalece.
Isso quer dizer que posso ser confiável e honrado.
Sou capaz de ser reto para com Deus e com os
homens, ser puro e ser amável e de boa fama. Em
Cristo temos todas as virtudes louvadas pelos outros”.
O livro de Filipenses fala da reprodução do
Homem-Deus. Quem quer que viva Cristo, o
Homem-Deus, é Sua reprodução. Quem quer que
viva Cristo é uma duplicata do Homem-Deus único,
uma reprodução do protótipo.
Em Lucas vemos como Cristo se encamou e
viveu a vida de um Homem-Deus. Em Filipenses
vemos como Ele é expresso de nós a fim de ter muitas
duplicatas de Si mesmo. Todos os cristãos devem ser
duplicatas do único Homem-Deus.
Como podemos ser essas duplicatas, essas
reproduções? Primeiro, precisamos renascer do
Cristo pneumático em nosso espírito e, depois, ser
gradualmente transformados pelo Cristo pneumático
em nossa alma. Então, espontaneamente, viveremos
Cristo, o Homem-Deus, pela provisão abundante de
Seu Espírito, tomando Sua mente e resplandecendo a
palavra da vida como luzeiros a refletir Seu brilho.
Seremos também achados em Cristo, tendo-O como
nossa justiça superior, no poder de Sua ressurreição,
e sendo conformados à Sua morte. Então O
expressaremos em todas as virtudes humanas criadas
por Deus para o homem. Com os atributos divinos do
Homem-Deus, essas virtudes são fortalecidas,
enriquecidas e preenchidas. Confio que o Espírito
falará mais a você a esse respeito.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SESSENTA E QUATRO


O JUBILEU
(1)
Leitura Bíblica: Lv 25:8-13, 23-24, 28, 39-41

Em 4:14- 30 vemos que o Salvador-Homem


começou Seu ministério proclamando o jubileu da
graça. No dia de sábado, na sinagoga em Nazaré, Ele
leu o livro de Isaías e proclamou o ano aceitável do
Senhor (4:16-21). Esse ano aceitável é a era da graça
do Novo Testamento, tipificada pelo ano do jubileu
(Lv. 25:8-17), o quinquagésimo ano, no qual todos os
escravos eram libertados e as heranças de todos os
homens eram-lhes restauradas. Com esta mensagem
passamos considerar algo mais sobre o jubileu. Nesta
mensagem e na seguinte, daremos uma definição do
jubileu.

A PROCLAMAÇÃO DA REDENÇÃO DE DEUS


A palavra “jubileu” é a forma aportuguesada da
palavra hebraica yobel, que denota toque de
trombeta, especificamente, o soar de uma trombeta
de prata. Assim, a palavra surgiu para representar o
instrumento em si e a festividade que ele anuncia.
Sobre isso, Levítico 25:9 diz: “Então no mês sétimo,
aos dez do mês, farás passar a trombeta vibrante: no
dia da expiação fareis passar a trombeta por toda a
vossa terra”.
Vimos que yobel se refere especificamente ao
soar de uma trombeta de prata. Em tipologia prata
significa redenção. Assim, o toque de uma trombeta
416
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

de prata indica o soar da redenção de Deus. A palavra


hebraica yobel, aportuguesada para jubileu, refere-se
ao soar de uma cometa, o instrumento em si, e por
fim à festividade anunciada pelo soar de uma
trombeta de prata. A ideia básica sobre o jubileu é o
soar da redenção de Deus. O soar da trombeta de
prata era a proclamação da redenção. Era uma
proclamação baseada na redenção de Deus e também
o soar dessa redenção.

A LIBERAÇÃO DAS PESSOAS E DAS POSSES


Esse soar, essa proclamação da redenção de
Deus, não foi o proclamar de qualquer mandamento
ou exigência; antes, foi a proclamação da liberdade,
da liberação. Levítico 25:10 diz: “Santificareis o ano
quinquagésimo, e proclamareis liberdade na terra a
todos os seus moradores; ano de jubileu vos será, e
tomareis, cada um à sua possessão, e cada um à sua
família”. Aqui vemos que a proclamação de liberação
ou liberdade estava relacionada com pessoas e suas
posses. Com relação a todo ser humano, precisamos
considerar a própria pessoa e suas posses. Por isso a
liberação proclamada pelo jubileu afetava os
israelitas e suas posses.

As necessidades econômicas do homem


O estudo de métodos políticos tem sido feito por
milhares de anos. Quem estuda política sabe que a
primeira coisa que um governante deve fazer é cuidar
de alimentar o povo. Em outras palavras, ele tem de
gerenciar bem a economia. Sem comida, as pessoas
se levantam contra os governantes.
Um importante item na eleição de qualquer
41
MENSAGEM SESSENTA E QUATRO

presidente dos EUA é se determinado candidato pode


proporcionar empregos e assegurar um padrão de
vida adequado. Um bom presidente deve ser capaz de
ir ao encontro dessas necessidades. Por exemplo,
Roosevelt tomou-se presidente durante a “Grande
Depressão”. Porquanto mudou a situação econômica
do país, ele é considerado por muitos como um
grande presidente. Alguns dizem que Roosevelt foi
grande não só em assuntos políticos, mas também
por elevar o padrão de vida do povo americano.
O que ressaltamos aqui é que qualquer político
ou estadista que quiser ser bem sucedido tem de
encontrar um meio de aperfeiçoar o viver das pessoas.
Quanto mais bem sucedido for um líder político,
mais tempo será capaz de permanecer no posto. Os
líderes políticos mais respeitados pelo povo são os
que têm a capacidade de aperfeiçoar o nível da vida
diária da população.
Por causa das necessidades econômicas do
homem, principalmente a necessidade de comida,
certos “ismos” foram idealizados. Esses “ismos”
incluem o comunismo, o capitalismo e o socialismo.
De acordo com o comunismo, os recursos
econômicos devem ser mantidos em comum: a terra
não deve pertencer a certos proprietários e a riqueza
social não deve pertencer aos capitalistas. O
comunismo ensina que alguma coisa deve ser feita
para equilibrar a riqueza. Em alguns países, os
impostos são usados como meio de equilibrar a
riqueza. Nesses países, uma pessoa pode até ganhar
muito dinheiro, mas muito dele deve ser dado para o
governo em impostos. O socialismo também se
preocupa com as necessidades econômicas do
homem. Estadistas e filósofos têm tentado ao
418
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

máximo encontrar meios de satisfazer as


necessidades de comida do homem. Porém, quanto
mais “ismos” inventam, mais o povo sofre.

A preocupação básica no jubileu


No jubileu retratado em Levítico 25, a ideia
central é corno cuidar do viver das pessoas. Em
outras palavras, a preocupação básica é o desfrute do
homem. O desfrute primário na vida humana é estar
pleno de boa comida. Alguém cujo estômago está
vazio não vai apreciar dinheiro ou riquezas materiais.
Pelo contrário, ele quer comida para encher o
estômago. Suponha que um rico que possua um carro
luxuoso esteja a morrer de fome. Você acha que ele
será capaz de desfrutar o carro? Não, ele de bom
grado trocaria o carro por comida. Humanamente
falando, o jubileu se preocupa em cuidar de nosso
comer, em encher nosso estômago.
Embora Deus seja muito diferente dos políticos
humanos e não tenha ensinado ao homem qualquer
“ismo”, podemos dizer que Ele é um “grande
estadista”. O jubileu foi ordenado por Deus corno o
estadista divino.
Deus ordenou que Seu povo recebesse a boa
terra de Canaã. Essa terra foi aquinhoada às doze
tribos de Israel. Posteriormente cada família recebeu
um quinhão de terra corno posse. A terra não era
principalmente para habitar ou se instalar, mas era
para tirar dela comida.
A necessidade de comida é maior do que a de
habitação. Alguém pode viver no deserto por longo
tempo sem casa, mas não consegue viver muito
tempo sem comer. A boa terra, portanto, foi dada ao
povo de Deus para sua alimentação. Esse é o motivo
41
MENSAGEM SESSENTA E QUATRO

de a Bíblia se referir a essa terra corno “urna terra


que mana leite e mel”.
A boa terra não foi chamada de terra de ouro.
Que terra seria ti da por boa se desse ouro, mas não
comida? Deus criou não a terra para o homem ter
ouro, mas para ter comida. Terra é para alimento.
Leite e mel significam que a boa terra é rica em
alimento. Alguns países podem ter trigo e milho, mas
não leite e mel. A boa terra mana leite e mel. O leite e
o mel são produzidos pela mescla de duas vidas: a
vegetal e a animal. Essa mescla da vida animal com a
vegetal representa as riquezas da terra.

A perda e a devolução da terra


Visto que Deus introduziu Seu povo na boa terra
e aquinhoou um lote dela a cada família, cada família
era rica na propriedade da terra. Mas suponha que os
membros de certa família não laborassem a terra.
Urna vez que não trabalharam na terra, ficaram
muito pobres. Pouco a pouco venderam a terra até
que todo o seu quinhão foi vendido. Assim, perderam
seu quinhão da boa terra.
Quando a terra era vendida em outro país que
não Israel, era vendida para sempre. Mas a
ordenação de Deus não permitia que a terra em
Israel fosse vendida permanentemente. No máximo
podia ser vendida por apenas cinquenta anos.
Levítico 25:23-24 diz: “Também a terra não se
venderá em perpetuidade, porque a terra é minha;
pois vós sois para Mim estrangeiros e peregrinos.
Portanto em toda a terra da vossa possessão dareis
resgate à terra”. Aqui vemos que a terra não era
vendida em perpetuidade; a terra que fora vendida
podia ser resgatada. O que adquirira a terra não tinha
420
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

o direito de mantê-la indefinidamente. Depois de


cinquenta anos no máximo ela podia ser resgatada.
Em Levítico 25 não lemos que a terra era
devolvida ao proprietário original, mas que a pessoa
voltava à terra. Sobre isso o versículo 28 diz: “Porém
no ano do jubileu sairá do poder deste e aquele
tomará à sua possessão”. Na verdade, a pessoa não
vendia a terra, vendia a si mesmo. Posteriormente
não era a terra que era devolvida ao vendedor; era o
vendedor que voltava à terra, à sua possessão.
Depois que os filhos de Israel receberam seu
quinhão da terra, alguns ficaram pobres e o
venderam, e outros se tornaram proprietários. Havia
a necessidade de algum tipo de “ismo” para que a
terra fosse redistribuída? Não, a ordenação de Deus
sobre a terra permitia que no quinquagésimo ano, o
ano do jubileu, os que perderam a posse de terra
podiam voltar a ela. Isso significa que no
quinquagésimo ano, cada família podia ficar rica
novamente. Aqui vemos que o princípio de equilíbrio
na distribuição de terra entre o povo foi escrito na
Bíblia trinta e cinco séculos atrás. O que encontramos
em Levítico 25 é muito melhor do que as teorias de
estadistas, políticos e filósofos.

A liberação dos que se venderam


Vimos que, em cada ser humano, o mais
importante é a própria pessoa e suas posses. Em
Levítico 25 vemos que era possível um israelita
vender suas posses e dessa forma perder seu quinhão
de terra. Agora precisamos ver que alguns se
tornaram tão pobres que até venderam a si mesmos.
“Também se teu irmão empobrecer, estando ele
contigo, e vender-se a ti, não o farás servir como
42
MENSAGEM SESSENTA E QUATRO

escravo. Como jornaleiro e peregrino estará contigo;


até ao ano do jubileu te servirá; então sairá de tua
casa, ele e seus filhos com ele, e tornará à sua família,
e à possessão de seus pais” (vs. 39-41). Esses
versículos indicam que, no ano do jubileu, alguém
que se vendera a outrem seria liberado. Por isso no
quinquagésimo ano não havia ninguém sem terra e
ninguém em escravidão. Todos tinham sua liberdade
e sua possessão. Isso quer dizer que tanto a terra
quanto aqueles que se tinham vendido eram
liberados. A proclamação do jubileu foi uma
proclamação da liberação das possessões das pessoas
e das pessoas em si. Esse é o jubileu.
Se todos os israelitas tivessem sido diligentes ao
laborar a terra, ninguém estaria em pobreza e
ninguém teria de vender sua terra ou a si mesmo.
Entretanto muitos perdiam suas possessões e a si
mesmos. Ele não tinham como voltar às possessões
ou às famílias, mas, quando chegava o ano do jubileu,
havia a liberação das possessões e do povo. Os que
tinham perdido as terras podiam voltar a elas; os que
tinham vendido a si mesmos podiam voltar à família.

O HOMEM CAÍDO NECESSITA DO JUBILEU


Antes de considerar mais sobre a definição do
jubileu, gostaria de aplicar o que já abordamos à
situação de hoje. Quando foi criado, o homem
recebeu uma possessão. A possessão do homem pela
criação foi o próprio Deus. Deus criou o homem para
ser Seu vaso para Sua expressão. Assim, Deus
tencionava dar-Se ao homem com sua possessão.
Mas o homem se tornou caído e, na queda, perdeu
Deus com sua possessão.
Por meio da queda, o homem também se vendeu.
422
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Em Romanos 7:14 Paulo diz: “Sou carnal, vendido à


escravidão do pecado”. Ser vendido dessa maneira é
ser vendido à escravidão. Qualquer que se venda para
ser escravo entra numa condição de escravidão. Hoje,
toda a humanidade está em escravidão,
principalmente a do pecado. O homem se vendeu à
escravidão do pecado, de Satanás e do mundo. Por
isso o homem caído perdeu Deus e a si mesmo.
Antes de ser salvos, tínhamos perdido Deus
como nossa possessão e também a nós mesmos.
Efésios 2:12 indica que o homem caído está sem Deus.
Em vez de Deus como sua possessão, o homem tem
pecado e vendeu-se à escravidão do pecado.
Fora da graça preservadora de Deus, até mesmo
cristãos podem perder Deus como sua possessão e
também vender-se à escravidão do pecado. No viver
diário, alguns cristãos têm pecado em vez de Deus.
Como os incrédulos, eles perderam Deus como sua
possessão e venderam-se ao pecado, aos prazeres e
aos divertimentos mundanos. Todos esses crentes,
bem como os incrédulos, precisam de um jubileu.
Quando o Senhor Jesus estava na terra, a raça
humana inteira perdera Deus como sua possessão e
se vendera à escravidão do pecado. Isso era verdade
com os judeus e com os gentios. O Senhor Jesus não
viveu no mundo gentio; viveu na terra judaica entre o
povo escolhido de Deus. De acordo com os quatro
evangelhos, nem mesmo os da terra judaica, a assim
chamada terra santa, tinham Deus como sua
possessão. Quem entre o povo na terra judaica tinha
Deus como sua possessão? No registro dos
evangelhos vemos que até Israel perdera Deus. Além
disso, todos os judeus, inclusive fariseus e rabinos,
tinham-se vendido ao pecado. Esse foi o motivo de o
42
MENSAGEM SESSENTA E QUATRO

Senhor Jesus repreender os fariseus com tanto vigor


em Mateus 23. Porquanto eles estavam na escravidão
do pecado, Ele proferiu ais sobre eles. Ele parecia
dizer: “Vocês, fariseus, escribas, anciãos e sumos
sacerdotes, venderam-se ao pecado. Vocês perderam
Deus como sua possessão e perderam a si mesmos.
LIBERTAÇÃO MARAVILHOSA
Em Lucas 4 o Senhor Jesus leu um trecho de
Isaías que era uma profecia não do jubileu em
tipologia, mas do jubileu verdadeiro: “O Espírito do
Senhor está sobre Mim, pelo que Me ungiu para
anunciar o evangelho aos pobres; enviou-Me para
proclamar libertação aos cativos, e restauração da
vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos,
para proclamar o ano aceitável do Senhor” (vs. 18-19).
Depois Ele declarou: “Hoje se cumpriu essa escritura
em vossos ouvidos” (v. 21). Ao ler esse trecho das
Escrituras, o Senhor havia soado a trombeta; Ele
proclamou o jubileu.
Você sabe o que é pregação do evangelho? É o
soar do jubileu, o toque de trombeta do jubileu. A
pregação do evangelho é a proclamação de nossa
libertação. Na verdade, essa não é a liberação de
nossa possessão a nós; é a liberação de nós para
nossa possessão e para nossa família. Antes
estávamos na família errada, a família de escravidão.
O soar do jubileu nos fala de retomar à família, à
família de Deus.
Agora podemos compreender o que é o jubileu é
a proclamação de uma libertação maravilhosa: a
liberação de nossa possessão para nós e a liberação
de nós mesmos para voltar a Deus, à família e à nossa
possessão.
424
ESTUDO-VIDA DE LUCAS
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SESSENTA E CINCO

O JUBILEU
(2)
Leitura Bíblica: Lv. 25:8-13, 23-24, 28, 39-41

Na mensagem anterior começamos a considerar


a definição do jubileu. Vimos que a palavra “jubileu”
é a forma aportuguesada da palavra hebraica yobel,
que significa o toque de uma buzina, especificamente
o sinal de uma trombeta de prata; assim, veio a
significar o instrumento em si e a festividade
anunciada dessa forma. Nesta mensagem
consideraremos mais além a definição do jubileu.

O SOAR DA TROMBETA NO DIA DA


EXPIAÇÃO
Para compreender o jubileu, precisamos ler
Levítico 25:8-10 com cuidado. O som da trombeta
proclamava o jubileu, mas naquele ano e naquele dia
do ano a trombeta do jubileu soou? Alguns podem
responder: “Uma vez que o jubileu era no
quinquagésimo ano, a trombeta do jubileu tem de ter
soado no primeiro dia do quinquagésimo ano”. Essa
resposta pode ser razoável, mas de acordo com o
conceito natural. Não devemos trazer nosso conceito
natural à leitura da Bíblia.
Se lermos o livro de Levítico cuidadosamente,
veremos que todo sétimo ano era um ano sabático,
no qual não havia semeadura, sega ou colheita. Às
pessoas não era permitido trabalhar e nem à terra era
permitido trabalhar. As pessoas e a terra deviam
426
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

gozar de um descanso. Esse descanso, esse sábado,


devia ocorrer a cada sete anos. Sobre os sábados,
Levítico 25:8 diz: “Contarás sete semanas de anos;
sete vezes sete anos: de maneira que os dias das sete
semanas de anos te serão quarenta e nove anos”.
Levítico 25:9 diz: “Então no mês sétimo, aos dez do
mês, farás passar a trombeta vibrante: no dia da
expiação fareis passar a trombeta por toda a vossa
terra”. Notem que esse versículo começa com a
palavra “então”. É difícil explicar o tempo indicado
por esse “então”. Quando era “então”? Era no
quadragésimo nono ano ou no quinquagésimo ano?
De acordo com Levítico 25:9, o jubileu era soado
no dia da expiação: o décimo dia do sétimo mês. A
trombeta do jubileu devia soar no dia da expiação
porque o jubileu é baseado naredenção. Sem
redenção não pode haver o jubileu. Por isso a
proclamação do jubileu tem de ser na época da
redenção. Em prefiguração o dia ou a hora da
redenção era tipificado pelo dia da expiação no
décimo dia do sétimo mês. O sétimo mês era o
primeiro mês da segunda metade do ano. Sobre o
soar da trombeta do jubileu, precisamos perguntar se
era o sétimo mês do quadragésimo nono ou do
quinquagésimo ano.
Levítico 25:10 nos diz: “Santificareis o ano
quinquagésimo, e proclamareis liberdade na terra a
todos os seus moradores: ano de jubileu vos será, e
tornareis, cada um à sua possessão, e cada um à sua
família”. Consagrar o quinquagésimo ano é santificá-
lo e proclamar liberdade por toda a terra é proclamar
libertação. Aqui vemos que essa liberdade, essa
liberação, envolve o retorno de todo homem à sua
possessão e de todo homem à sua família. Esse
42
MENSAGEM SESSENTA E CINCO

versículo não fala do retorno da possessão de um


homem, mas do retorno de um homem à sua
possessão.
Agora que lemos esses importantes versículos,
vamos estudar o relacionamento entre o soar da
trombeta do jubileu no décimo dia do sétimo mês e a
santificação do quinquagésimo ano como o ano do
jubileu. Levítico 25:9 indica que o quadragésimo
nono ano é dividido em duas seções de seis meses.
No meio do quadragésimo nono ano, a trombeta do
jubileu soava no dia da expiação. O quinquagésimo
ano começava 'seis meses mais tarde. Se a trombeta
do jubileu fosse soada no quinquagésimo ano, o
jubileu teria começado seis meses depois do início do
quinquagésimo ano. Essa, porém, não era a situação.
Contrário a nosso conceito natural, a trombeta do
jubileu não era soada no primeiro dia do primeiro
mês do quinquagésimo ano. Antes, era soada no
décimo dia do sétimo mês do quadragésimo nono
ano. O versículo 8 fala de quarenta e nove anos; o
versículo 9, do soar da trombeta no décimo dia do
sétimo mês; e o versículo 10, da consagração do
quinquagésimo ano. Com isso vemos que o soar era
no quadragésimo nono ano e a santificação, a
consagração, era no início do quinquagésimo ano.
Isso quer dizer que o soar da trombeta era uma
preparação, um passo preliminar para o jubileu.
Já enfatizamos que o dia da expiação tipifica o
tempo da redenção. O fato de a trombeta do jubileu
ser soada no dia da expiação e o quinquagésimo ano
ser santificado e a liberdade ser proclamada por toda
a terra indica que era necessário primeiro que Cristo
morresse e depois houvesse a proclamação da
liberação do povo. Em outras palavras, primeiro
428
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Cristo morreu e depois veio a genuína pregação do


evangelho. O evangelho não podia ser pregado a
menos que Cristo já tivesse morrido. Por isso a
proclamação, a pregação do evangelho, é baseada na
morte de Cristo. O soar do evangelho depende da
redenção de Cristo. Sem a redenção de Cristo, não
haveria base para a proclamação do jubileu.
De acordo com Levítico 25, o soar da trombeta
do jubileu ocorria seis meses antes do verdadeiro
início do ano do jubileu. O jubileu começava no
primeiro mês do quinquagésimo ano, mas o soar da
trombeta do jubileu ocorria no meio do
quadragésimo novo ano, seis meses mais cedo.
Quando aplicado à nossa experiência espiritual, isso
indica que a pregação do evangelho vem antes e o
jubileu a segue. Muitos podemos testificar que, em
nossa experiência de salvação, ouvimos a pregação
do evangelho bem antes de ser salvos. A pregação
chegou até nós muito tempo antes de termos entrado
no jubileu.
Se lermos Levítico 25:8-10 com cuidado,
veremos que o soar da trombeta sempre ocorria antes
do ano do jubileu. Isso quer dizer que o soar do
jubileu ocorria no sétimo mês do quadragésimo nono
ano como preparação para o jubileu, que começava
no início do ano seguinte. Começando no primeiro
mês do ano, o quinquagésimo ano era consagrado,
santificado, como o ano do jubileu.
Posso testificar que em meu caso o soar do
evangelho me veio pelo menos oito anos antes de eu
ter entrado no jubileu. Quando criança, ouvi a
pregação do evangelho, mas não experimentei o
jubileu até que tivesse atingido a idade de dezenove
anos.
42
MENSAGEM SESSENTA E CINCO

Muitos passamos por um período de preparo


para a salvação antes de recebê-la de fato. Você
passou por esse período de preparação antes de ter
entrado no desfrute da salvação, isto é, antes de ter
entrado no jubileu? Alguns casos, entretanto, são
extraordinários. São casos de santos que entraram no
jubileu na época em que ouviram pela primeira vez o
evangelho e souberam do Senhor Jesus. Mas não há
muitos casos assim. A maioria dos cristãos teve um
tempo de preparação primeiro e experimentou o
jubileu pouco depois de ter ouvido o evangelho pela
primeira vez.
A maioria de nós primeiro ouviu o evangelho
soando o jubileu. Então, algum tempo depois,
recebemos a salvação de Deus numa hora que era
consagrada, santificada, e entramos no jubileu.
Quando entramos no jubileu, voltamos a nossas
possessões e à nossa família; retomamos a Deus
como nossa possessão e à família, a casa de Deus.

PROCLAMAR LIBERAÇÃO
A terra vendida era liberada para seu
proprietário
Se quisermos entender a definição do jubileu,
precisamos ver que significa a proclamação da
liberação e liberdade. Primeiro, ele era a
proclamação da liberação da terra vendida a seu
proprietário. Sobre isso, Levítico 25:13 diz: “Neste
ano do jubileu tomareis cada um à sua possessão”.
Nesse versículo, vemos que de fato a liberação não é
a da terra ao possuidor, mas do possuidor à terra. De
acordo com a ordenação do Senhor, a terra não devia
ser vendida para sempre, mas podia ser redimida:
“Também a terra não se venderá em perpetuidade,
430
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

porque a terra é minha; pois vós sois para mim


estrangeiros e peregrinos. Portanto em toda a terra
da vossa possessão dareis resgate à terra” (Lv. 25:23-
24). Sobre a liberação da terra vendida, Levítico
25:28 prossegue: “Mas, se as suas posses não lhe
permitirem reavê-la, então a que for vendida ficará
na mão do comprador até o ano do jubileu: porém no
ano do jubileu sairá do poder deste e aquele tornará à
sua possessão”.

O escravo vendido era liberto de sua


escravidão
O ano do jubileu era uma proclamação não só da
liberação da terra vendida, mas também da
libertação do que se vendera à escravidão. Levítico
25:39-41 fala sobre isso:
“Também se teu irmão empobrecer, estando ele
contigo, e vender-se a ti, não o farás servir como
escravo. Como jornaleiro e peregrino estará contigo;
até ao ano do jubileu te servirá: então sairá da tua
casa, ele e seus filhos com ele, e tomará à sua família,
e à possessão de seus pais”.

NO QUINQUAGÉSIMO ANO
Depois de sete anos sabáticos
O jubileu era, é claro, no quinquagésimo ano. “O
ano quinquagésimo vos será jubileu” (Lv. 25:11a).
Esse ano vinha depois de sete anos sabáticos, isto é,
depois de sete vezes sete anos. Em prefiguração o
sábado se refere ao descanso. Assim, sete anos
sabáticos significam sete vezes sete descansos.
O ano do jubileu devia ser no primeiro ano de
um novo período de sete anos, ou um oitavo ano.
43
MENSAGEM SESSENTA E CINCO

Assim como o dia de Pentecoste era no


quinquagésimo dia, o primeiro dia depois de sete
semanas, também o jubileu era no quinquagésimo
ano, o primeiro ano depois de sete semanas, ou
sábados, de anos. Nas Escrituras o oitavo dia
representa ressurreição. O Senhor Jesus foi
ressuscitado no oitavo dia, que era o primeiro dia da
semana. O fato de o jubileu ocorrer no
quinquagésimo ano indica descanso sobre descanso
terminando em ressurreição. Agora, no jubileu do
Novo Testamento, entramos no descanso sobre
descanso terminando em ressurreição.
Alguns podem proclamar estar no jubileu, mas
não têm muito descanso nem estão em ressurreição.
Em vez de estar em ressurreição, estão na vida
natural. Enquanto ainda estivermos na vida natural,
não estaremos no jubileu. O jubileu vem depois de
sete anos sabáticos, no quinquagésimo ano. Isso quer
dizer que o jubileu vem depois do descanso e está em
ressurreição.
Se quisermos desfrutar do jubileu, precisamos
estar no quinquagésimo ano. Isso requer que todas as
coisas de nossa vida humana, por exemplo a
educação, precisam ser consideradas como itens dos
sete anos sabáticos passados. Então, quando
estivermos no quinquagésimo ano, estaremos no
jubileu.
Nos quarenta e nove anos antes do jubileu,
alguns israelitas vendiam as terras e a si mesmos.
Semelhantemente, em nossa experiência durante os
sete anos sabáticos passados, vendemos nossas
possessões e até mesmo a nós próprios. Mas, quando
o quinquagésimo ano chega, já não há nenhuma
venda; antes, tudo está em ressurreição. As velhas
432
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

coisas são passadas e tudo é novo. Nas palavras de


Paulo: “E assim, se alguém está em Cristo, é nova
criatura: as coisas antigas já passaram; eis que se
fizeram novas” (2Co 5:17).

No décimo dia do sétimo mês


Vimos que, de acordo com Levítico 25:9, a
proclamação do jubileu foi no décimo dia do sétimo
mês, o dia da expiação. Isso indica que o jubileu é
baseado na plena redenção de Cristo.

Não semear, segar ou colher,


mas comer da superprodução da terra
Sobre o ano do jubileu, Levítico 25:11 b-12 diz:
“Não semeareis, nem segareis o que nele nascer de si
mesmo; nem colhereis as uvas das vinhas não
podadas. Porque é jubileu, santo será para vós
outros: o produto do campo comereis”. Aqui vemos a
exigência bastante incomum de que no ano do
jubileu as pessoas não deviam semear, segar ou
colher, mas comer a superprodução da terra. Isso não
quer dizer que devemos desfrutar as riquezas de
Cristo sem trabalhar num emprego. Tal compreensão
está de acordo com o conceito natural. Aqui, a
palavra sobre não semear, segar ou colher significa
que não devemos laborar em Cristo de forma natural
ou pela força natural.
Em qualquer religião, as pessoas são encorajadas
a exercitar seus esforços em se comportar, em se
aperfeiçoar e em fazer o bem. Isso é “semear”, “segar”
e “colher”, mas, de acordo com a ordenação de Deus,
no jubileu do Novo Testamento devemos cessar
nosso labor e não confiar nele com respeito ao
43
MENSAGEM SESSENTA E CINCO

desfrute de Cristo. Em vez de laborar de maneira


natural por nosso semear, segar e colher, devemos
simplesmente desfrutar das riquezas de Cristo.

O ANO DO JUBILEU
Levítico 25:10 fala de consagrar o
quinquagésimo ano. Aqui vemos que o jubileu era
um ano santo, um ano consagrado a Deus e também
a nós. Em outro lugar, o ano do jubileu é chamado de
o ano aceitável do Senhor. De acordo com Lucas
4:18-19, o Senhor Jesus na sinagoga leu em Isaías
61:1-2: “O Espírito do Senhor está sobre Mim, pelo
que Me ungiu para anunciar o evangelho aos pobres;
enviou-Me para proclamar libertação aos cativos, e
restauração da vista aos cegos; para pôr em liberdade
os oprimidos, para proclamar o ano aceitável do
Senhor”. O ano aceitável foi o ano no qual o Senhor
aceitou Seu povo que estava perdido e que voltou
para Ele. Por isso, do lado do Senhor, o ano do
jubileu foi o ano de aceitação.
O ano do jubileu era santo e também aceitável.
Era um ano de proclamar liberdade a todo o povo e
era hora de liberdade, descanso, desfrute e satisfação.
Já enfatizamos em outras mensagens neste
Estudo-Vida que a proclamação do jubileu pelo
Senhor Jesus em Lucas 4 governa todo o Evangelho
de Lucas. Na verdade, toda a era do Novo
Testamento é o jubileu. A era do Novo Testamento é
um tempo de proclamar liberação a todos os que
perderam suas possessões e se venderam à
escravidão. Hoje a proclamação do evangelho é trazer
essas pessoas de volta a suas possessões e a suas
famílias, de volta para Deus e à sua família, à casa de
Deus.
434
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Nesta mensagem e na anterior, demos uma


definição do jubileu. A definição é baseada na
descrição dada em Levítico 25. Nas mensagens
seguintes veremos a aplicação desse jubileu no Novo
Testamento.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SESSENTA E SEIS

O JUBILEU
(3)
Leitura Bíblica: Lv 25:9-13, 39-41, 54: Sl 16:5;
90:1; Ef 2:12; At 26:18; Ef 1:14; Cl 1:12; Lc 15:12-23:
Rm 7:14b; Jo 8:34, 36; Rm 6:6-7; 8:2; Gl 5:1

Nesta mensagem prosseguiremos com a


definição do jubileu vista nas duas mensagens
anteriores sobre as bênçãos do jubileu. As bênçãos do
jubileu, porém, não são para nossa compreensão,
mas para nosso desfrute. Além de compreender o
jubileu, precisamos desfrutá-lo. Com certeza
precisamos das bênçãos do jubileu.
Na verdade, pregar o evangelho é o soar, o toque
do jubileu. Ao pregar o evangelho, proclamamos as
boas-novas. Essas boas-novas são que podemos
retomar às possessões perdidas e ser libertados da
escravidão, do cativeiro. Em nossa pregação do
evangelho, precisamos alardear o jubileu, proclamar
o retomo à possessão perdida e a libertação do
cativeiro.
De acordo com a tipologia em Levítico 25, o
jubileu tem duas bênçãos principais: o retomo à
possessão perdida e à liberação da escravidão.

O JUBILEU ILUSTRADO PELA PARÁBOLA


DO FILHO PRÓDIGO
Nas mensagens anteriores enfatizamos que,
embora sejamos criados por Deus, perdemos Deus
como nossa verdadeira possessão. Para ser mais
436
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

exato, na verdade não perdemos nossa possessão,


nós a abandonamos. A parábola do filho pródigo
ilustra isso. Quando deixou a casa do pai, ele também
abandonou sua herança. De modo semelhante,
quando deixamos Deus, abandonamos nossa
verdadeira possessão. Por isso no jubileu não é que
nossa possessão nos é devolvida; antes, nós é que
voltamos à possessão abandonada. A primeira
bênção do jubileu é o retomo de nossa possessão.
Além de perder nossa possessão, também nos
perdemos vendendo-nos à escravidão. Por isso
precisamos ser libertados. Essa é a segunda bênção
do jubileu. Se você ler Levítico 25 cuidadosamente,
verá que, por um lado, há a devolução da possessão
de alguém e, por outro, há o retomo à família.
Todos éramos pródigos, uma vez que
abandonamos o Pai e Sua casa. Como os que
abandonaram o Pai e Sua casa, certamente
abandonamos nossa herança. Por isso era necessário
que retomássemos ao Pai e à casa. Esse é o jubileu
ilustrado pela parábola do filho pródigo em Lucas 15.
O jubileu do Novo Testamento foi proclamado
pelo Senhor Jesus em Lucas 4:18-19. Ele fez soar a
trombeta do jubileu neotestamentário ao declarar: “O
Espírito do Senhor está sobre Mim, pelo que Me
ungiu para anunciar o evangelho aos pobres; enviou-
Me para proclamar libertação aos cativos, e
restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade
os oprimidos, para proclamar o ano aceitável do
Senhor”. Depois que foi proclamado, esse jubileu foi
experimentado por muitos cujos casos são
registrados no Evangelho de Lucas. Todos eles, por
isso, são ilustrações do jubileu do Novo Testamento.
Entre as muitas ilustrações do jubileu no
43
MENSAGEM SESSENTA E SEIS

Evangelho de Lucas, a melhor é o caso do filho


pródigo voltando ao pai, à casa do pai e à herança.
Depois que o pródigo gastou tudo, grande fome
sobreveio e ele começou a passar necessidade (Lc
15:14). Ele então “foi e se agregou a um dos cidadãos
daquela terra, e este o mandou para os seus campos a
apascentar porcos. Desejava ele fartar-se das
alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhe
dava nada”. Ao cair em si, disse: “Quantos
empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu
aqui pereço de fome! Levantar-me-ei e irei ter com
meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante
de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho;
trata-me como um dos teus empregados” (vs. 17-19).
Aqui vemos que o filho queria ser como os que
semeavam, segavam e colhiam (coisas proibidas no
ano do jubileu), tarefas exerCldas por seu esforço.
Sua intenção era dizer ao pai que, já que ele não era
mais digno de ser filho, gostaria de trabalhar como
empregado, mas conforme a tipologia em Levítico 25
no ano do jubileu não devia haver nenhuma
semeadura, sega ou colheita. Naquele ano não havia
labor na terra. Por isso o filho pródigo não devia
voltar ao pai para ser um trabalhador. Devia voltar ao
pai como quem retomava para desfrutar sua
possessão.
Quando o filho pródigo voltou, começou a dizer:
“Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou
digno de ser chamado teu filho” (v. 21). O pai, não
tendo ouvidos para ouvir essa baboseira,
interrompeu-o e disse aos escravos: “Trazei depressa
a melhor roupa e vesti-o com ela, e ponde- lhe um
anel na mão e sandálias nos pés; traze i também o
novilho cevado e matai-o; comamos e regozijemo-nos”
438
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

(vs. 22-23). Vocês sabem o que o novilho cevado


tipifica? Tipifica o Cristo rico como nossa herança.
Nas palavras de Colossenses 1:12, é Cristo como a
porção dos santos. Depois que o filho pródigo voltou,
ele, o pai e os da casa começaram a desfrutar a
herança. No caso do filho pródigo, temos uma figura
clara do jubileu do Novo Testamento. Uma conversão
genuína deve ser como a do filho pródigo retratado
nessa parábola.
Já enfatizamos que a primeira bênção do jubileu
é o retorno à possessão perdida. No jubileu, os que
perderam a herança retomaram à sua possessão. Isso
é tipificado em Levítico 25:9-13.
A primeira bênção principal do jubileu do Novo
Testamento é voltar à possessão que tínhamos
abandonado. Essa possessão não era qualquer coisa
material, era o próprio Deus.

A INTENÇÃO DE DEUS
EM SER A POSSESSÃO DO HOMEM
A verdadeira possessão do homem é Deus, e o
homem foi criado como vaso para conter Deus.
Gênesis 1:26 diz que o homem foi feito à imagem de
Deus e Romanos 9 revela que o homem foi criado
para ser um vaso. O homem foi criado como vaso
para conter Deus de modo que Ele pudesse enchê-lo
e Se expressar por meio do homem.
Veja uma garrafa, que é um vaso. Em si mesma,
ela é vazia. Qual é a possessão de uma garrafa? É seu
conteúdo. O princípio é o mesmo com qualquer tipo
de vaso: a possessão de um vaso é seu conteúdo. Se
um vaso não tem seu conteúdo, não tem sua
possessão. Um vaso ficar sem conteúdo, sem sua
possessão, significa estar vazio, e estar vazio é estar
43
MENSAGEM SESSENTA E SEIS

pobre.
O homem foi criado como vaso para conter Deus.
Se não contém Deus, isso quer dizer que o homem
não tem sua possessão. Sem Deus como seu conteúdo,
o homem permanece um vaso pobre, vazio. A
intenção de Deus é ser o conteúdo do homem, sua
possessão.
No âmbito das coisas materiais, se tivermos as
possessões necessárias, teremos terra para produzir
comida e casa para habitar. Diariamente precisamos
de alimento para comer e casa na qual habitar. Em
resumo, precisamos de terra e casa. Essas são as
necessidades básicas no viver do homem.
O Novo Testamento indica que Deus é nossa
verdadeira terra. Para Seu povo escolhido, os filhos
de Israel, Deus deu uma boa terra que manava leite e
mel. Com que propósito Ele lhes deu a terra? Deus a
deu a Seu povo para que pudessem ter alimento para
comer. Essa boa terra é um tipo de Deus em Cristo
como provisão para nossa alimentação. Comer é uma
necessidade espiritual e Cristo é a provisão que a
satisfaz.
No Salmo 90:1 vemos que Deus é também nossa
habitação: “Senhor, Tu tens sido o nosso refúgio de
geração em geração”. Você alguma vez percebeu que
Deus é nossa habitação? Até no Antigo Testamento é-
nos dito que Deus era a habitação de Seu povo
escolhido. Por isso Deus é nossa terra e também
nossa casa, nossa habitação
Salmo 16:5 diz: “O Senhor é a porção da minha
herança e do meu cálice”. Aqui vemos que o Senhor é
nossa porção para nossa herança e para nosso cálice.
Ele é nossa porção de duas maneiras: como alimento
para comer e como casa para habitar. De acordo com
440
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

os Salmos 90:1 e 16:5, Deus tenciona ser a possessão


do homem, ser sua terra e sua habitação.
Nossas necessidades diárias na vida humana
incluem quatro itens principais: vestes, alimento,
moradia e transporte. Desses quatro, alimento e
moradia são os mais importantes. Podemos ser
capazes de viver sem vestimentas e transporte
adequados, mas não conseguimos viver sem alimento
e moradia. Até mesmo um pássaro precisa de
alimento e ninho. A Bíblia revela que Cristo é nossa
veste verdadeira; Ele é a justiça que nos cobre. Além
disso, podemos dizer que Ele é também nosso
verdadeiro transporte. Em algum lugar, já
enfatizamos que Cristo é o verdadeiro “avião” que
nos leva a Deus Pai. Cristo é nossa vestimenta,
transporte, alimento e moradia.
No ano do jubileu, a preocupação não eram
vestes e transporte; antes, a preocupação eram
alimento e moradia. Por isso um homem podia voltar
à sua provisão, à sua terra, para comer e também à
sua família, isto é, à sua casa. Num sentido espiritual,
nossa terra é o próprio Deus e nossa moradia
também é Deus. Sua intenção é ser nossa possessão,
para comer e morar.

CRISTO COMO NOSSA COMIDA E


HABITAÇÃO
O Evangelho de João revela que o Senhor Jesus é
nossa comida e nossa habitação. Em João 6 vemos
que Ele é o pão verdadeiro, o pão da vida, o pão vivo
que desceu do céu (vs. 32-33, 35, 48, 50-51). Assim,
Ele é nosso pão celestial. O fato de o Senhor Jesus ser
também nossa habitação está implícito em Sua
palavra: “Permanecei em Mim” (Jo 15:4).
44
MENSAGEM SESSENTA E SEIS

Permanecer no Senhor quer dizer tomá-Lo como


moradia, como habitação. De acordo com o
Evangelho de João, devemos comer o Senhor e
também habitar Nele, porque Ele é nossa comida e
moradia.
A Bíblia é coerente. Embora fale de muitas coisas,
quando penetramos nas profundezas da Palavra,
vemos que ela revela, no Antigo Testamento e no
Novo Testamento, que o Deus Triúno é nossa comida
e moradia. Ele é comestível e é nossa verdadeira
habitação.
Pondere a situação dos sacerdotes no Antigo
Testamento. O sacerdócio tinha o tabernáculo para
habitar e os sacrifícios para comer. Os que serviam a
Deus como sacerdotes podiam comer os sacrifícios e
habitar no tabernáculo. O tabernáculo e os sacrifícios
são tipos de Cristo. Como sacerdotes de hoje,
devemos comer Cristo e habitar Nele.
Determinados cristãos não versados nas
Escrituras podem ficar perturbados quando ouvem
sobre comer Cristo. Talvez digam: “Vocês tencionam
comer Cristo? Isso é blasfêmia! Cristo é nosso
Redentor, Salvador, Mestre, Senhor e Deus. Como
pode você comê-Lo?”. Sim, o Senhor Jesus é nosso
Deus, Senhor, Mestre, Salvador e Redentor. Não
obstante, Ele próprio nos disse que é nossa comida.
Ele é comida para nós e é também a habitação na
qual moramos.
Você está na verdadeira experiência do jubileu?
Você sabe o que de fato significa estar no jubileu?
Primeiro, estar no jubileu é comer o Senhor Jesus.
Sem comê-Lo, você não está no jubileu. Ninguém
pode estar no jubileu de estômago vazio. Pode haver
a proclamação do jubileu, mas, se seu estômago
442
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

estiver vazio, você não se importará com essa


proclamação.
Posso testificar que estou de fato no jubileu
porque diariamente como o Senhor Jesus. Comendo-
O como meu alimento espiritual, desfruto o jubileu.
Para mim o jubileu é uma festa, uma hora para
comer o Senhor Jesus.
Se quiser estar no jubileu, você precisa comer o
Senhor. Precisa desfrutá-Lo. Quando chegamos a
Levítico 25 nas mensagens de Estudo-Vida, veremos
que o principal na experiência do jubileu é comer.
Além disso, para estar no jubileu precisamos ter
Cristo como nossa habitação, nossa morada. Quando
Cristo for nosso lar, teremos verdadeiro descanso.
Desfrutamos um verdadeiro sábado quando nos
alojamos em Cristo. Aleluia, Cristo é nossa comida e
nossa habitação!
Já enfatizamos que Deus criou o homem com a
intenção de que este O tomasse como sua possessão.
Depois de criar o homem, Deus o colocou num
jardim e em frente à árvore da vida. O jardim é para
moradia e a árvore da vida é para alimento. Aqui
vemos que o homem criado por Deus tinha duas
importantes necessidades: precisava que Deus fosse
sua comida e fosse seu jardim, sua habitação. Talvez
você nunca tenha ouvido antes que Deus deve ser
nosso jardim, mas onde Adão vivia? Ele não vivia
numa casa ou numa cidade, mas num jardim. O
jardim e a árvore da vida são símbolos de Deus como
desfrute do homem.

O HOMEM PERDEU DEUS POR CAUSA DA


QUEDA
Adão viveu algum tempo no jardim, mas não
44
MENSAGEM SESSENTA E SEIS

prosseguiu para desfrutar da árvore da vida. Em vez


disso, porém, Adão comeu da árvore do
conhecimento do bem e do mal e, dessa forma,
tornou-se caído. Por meio da queda, Adão perdeu
Deus. Seria melhor dizer que por meio da queda ele
deixou Deus. Em vez de tomar Deus como sua vida,
ele deixou Deus. Quando deixou Deus, ele
abandonou sua possessão.
No Novo Testamento é-nos dito claramente que
o homem caído está destituído de Deus. Efésios 2:12,
um versículo que descreve a verdadeira condição da
humanidade caída, diz que o homem está agora “sem
Deus no mundo”. Hoje, toda a humanidade caída
está sem Deus porque o homem O deixou.
Quando estava no jardim, Adão pôde proclamar
que tinha Deus. Sim, tinha Deus, mas não O tomou
como sua vida. Adão deixou e perdeu Deus. Por isso
todos os seus descendentes vivem na terra sem Deus.
Essa certamente era nossa situação antes de ser
salvos: vivíamos na terra sem Deus porque O
havíamos abandonado.

O JUBILEU DIVINO TROUXE O HOMEM


DE VOLTA A DEUS COMO SUA HERANÇA
O jubileu divino traz o homem de volta para
Deus como sua herança. No jubileu do Novo
Testamento, todos voltamos a Deus como nossa
possessão.
Não é fácil explicar essa verdade bíblica
acuradamente. Na verdade, não é o caso que
retomamos para Deus; antes, Deus nos devolveu para
Si mesmo como nossa possessão. Isso é retratado
pela tipologia em Levítico 25. O versículo 10 diz:
“Santificareis o ano quinquagésimo, e proclamareis
444
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

liberdade na terra a todos os seus moradores: ano de


jubileu vos será, e tomareis, cada um à sua possessão,
e cada um à sua família”. Aqui vemos não que a
possessão de um homem era devolvida a ele, mas que
ele voltava à sua possessão. A mesma coisa é
declarada em Levítico 25:13: “Neste ano do jubileu
tomareis cada um à vossa possessão”. Na tipologia do
jubileu, todos os que haviam vendido suas possessões
voltavam a elas, de modo que, no verdadeiro jubileu
do Novo Testamento, nós não voltamos a Deus; pelo
contrário, Deus nos devolveu a nossas possessões.
Isso quer dizer que, quando fomos salvos, Deus nos
devolveu à nossa possessão.
Consideremos agora novamente o exemplo do
filho pródigo. Parece que foi o filho pródigo que
retomou ao pai. Na verdade, de acordo com Lucas 15,
o Pai enviou o Filho como o Pastor para buscar o
filho pródigo perdido. Além disso, foi o Pai que
enviou o Espírito para encontrar o filho perdido. Por
isso o filho não voltou ao Pai de moto próprio. O Pai
enviou Seu Filho e Seu Espírito para fazer o filho
pródigo retomar.
Você acha que voltou para Deus? Pode ter esse
conceito, mas sua volta a Deus foi resultado da ação
de Deus para fazê-lo voltar a Ele. Deus fez com que
voltássemos a Ele como nossa possessão. Louvado
seja Ele porque fez com que voltássemos!
Colossenses 11:12 diz que o Pai nos qualificou
para partilhar da porção dos santos na luz, e Efésios
1:14 fala do penhor de nossa herança. Agora que
retomamos a Deus como nossa porção, temos Deus
em Cristo como nossa herança. Em Atos 26:18 Paulo
fala das pessoas caídas sendo trazidas de volta a Deus
como sua herança: “para lhes abrir os olhos e
44
MENSAGEM SESSENTA E SEIS

convertê-los das trevas para a luz e da potestade de


Satanás para Deus, a fim de que recebam eles
remissão de pecados e herança entre os que são
santificados pela fé em mim”. A herança divina aqui é
o próprio Deus Triúno com tudo o que Ele tem, tudo
o que Ele fez e tudo o que Ele fará por Seus redimidos.
O Deus Triúno está corporificado no Cristo todo-
inclusivo (C12:9), que é a porção aquinhoada aos
santos como sua herança. O Espírito Santo, que foi
dado aos santos, é um antegozo, o penhor e a
garantia dessa herança divina (Rm 8:23; Ef 1:14), que
partilhamos e desfrutamos hoje no jubileu
neotestamentário de Deus como antegozo e
partilharemos e desfrutaremos em plenitude na era
vindoura e pela eternidade. Na tipologia do jubileu
em Levítico 25:8-13, uma das principais bênçãos era
o retomo de cada homem à sua herança. No
cumprimento do jubileu em Atos 26:18, receber a
herança divina é também a bênção primária.
Crer no Senhor Jesus é ser devolvido a Ele como
nossa herança. Quando se arrepende para com Deus,
uma pessoa é devolvida a Ele como sua possessão.
Para pregar o evangelho dessa forma, precisamos ter
o desfrute adequado do jubileu do Novo Testamento.
Espero que todos o desfrutemos adequadamente.
Então, quando sairmos para pregar o evangelho,
pregaremos de forma a proclamar o jubileu. Diremos
aos outros que eles deixaram Deus como sua
possessão e que Ele os quer de volta. Podemos dizer a
certa pessoa: “Deus é sua verdadeira possessão, mas
você O deixou e perdeu. Agora Ele quer que você
volte para Ele. Você quer permitir que Ele o leve de
volta a Ele? A maneira de conduzi-lo de volta é
colocá-lo em Cristo. Cristo é o 'avião' que nos leva a
446
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Deus e este é o 'horário de embarque'. Você está


disposto a subir a bordo? Está disposto a crer em
Cristo para que Ele o leve de volta a Deus? Podemos
testificar a você que, tão logo creia no Senhor Jesus e
entre Nele, você será conduzido de volta a Deus como
sua possessão”.
Louvamos ao Senhor porque fomos conduzidos
de volta a Deus como nossa possessão! Também
voltamos à nossa família. Todos somos como o filho
pródigo, que voltou ao pai e à família e pôde então
desfrutar sua porção, sua herança. Agora que
voltamos a Deus, podemos desfrutá-Lo como nossa
possessão, porção e herança, e podemos também
desfrutar a verdadeira vida familiar na casa de Deus.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SESSENTA E SETE

O JUBILEU
(4)
Leitura Bíblica: Lv 25:9-13, 39-41, 54; SI 16:5;
90:1; Ef2:12; At 26:18; Ef 1:14; Cl 1:12; Lc 15:12-23;
Rm 7:14b; Jo 8:34, 36; Rm 6:6-7; 8:2; Gl 5:1

Nesta mensagem vamos continuar a considerar


as bênçãos do jubileu. Ressaltamos na mensagem
anterior que a primeira das duas bênçãos principais
do jubileu é que os que perderam sua herança voltam
à sua possessão (Lv 25:9-13). Deus tencionava ser a
possessão do homem (SI 16:5; 90:1), mas o homem O
perdeu por causa da queda (Ef 2:12). Todavia o
jubileu de Deus traz o homem de volta a Ele como
sua herança (At 26:18; Ef 1:14; CL1:12; Lc 15:12-23).
Vejamos agora a segunda bênção principal do jubileu.

LIBERTOS DA ESCRAVIDÃO
A segunda bênção do jubileu é que os que se
venderam como escravos estão libertos da escravidão
(Lv 25:39- 41, 54). De acordo com a tipologia em
Levítico 25, um israelita poderia empobrecer tanto
que precisava vender sua possessão. Ele então
poderia afundar-se mais na pobreza e até vender a si
mesmo. Tendo perdido a si mesmo, ele se tomava
escravo.
O que se vendera à escravidão podia tentar
redimir- se. Entretanto, se não conseguisse fazê-lo
antes do ano do jubileu, deveria ser libertado naquele
ano. “Se desta sorte se não resgatar, sairá no ano do
448
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

jubileu, ele e seus filhos com ele” (Lv 25:54). Isso


quer dizer que no quinquagésimo ano, no ano do
jubileu, o que se vendera como escravo estava liberto
de sua escravidão.
A figura em Levítico 25 é muito significativa,
pois indica que, desde a época da queda, o homem se
vendeu como escravo, especificamente escravo do
pecado. Embora tentasse redimir-se, ele não era
capaz de fazê-la. Nas dispensações da consciência, do
governo humano, da promessa e da lei, o homem não
foi capaz de se redimir. Mas então veio a dispensação
da graça, uma dispensação tipificada pelo
quinquagésimo ano, na qual o homem caído pode ser
libertado do cativeiro.
O Novo Testamento revela que o homem caído
foi vendido ao pecado como escravo. Em Romanos
7:14 Paulo declara: “Sou carnal, vendido à escravidão
do pecado”. Em João 8:34 o Senhor Jesus diz: “Todo
o que comete pecado é escravo do pecado”. O jubileu
de Deus liberta o homem caído do pecado. Por esse
motivo, o Senhor diz: “Se, pois, o Filho vos libertar,
verdadeiramente sereis livres”. Além disso, em
Romanos 6:6-7 Paulo nos diz: 'Sabendo isto, que foi
crucificado com ele o nosso velho homem, para que o
corpo do pecado seja destruído, e tão sirvamos o
pecado como escravos; porquanto quem morreu,
justificado está do pecado”. Então em Romanos 8:2
Paulo prossegue: “Porque a lei do Espírito da vida em
Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte”.
Além disso, de acordo Gálatas 5:1 o jubileu de Deus
também 10S liberta do cativeiro da lei.

O SIGNIFICADO DE O ANO DO JUBILEU


SER O QUINQUAGÉSIMO ANO
44
MENSAGEM SESSENTA E SETE

Vamos considerar novamente o sentido do ano


do jubileu ser o quinquagésimo ano. Levítico 25:8
diz: “Contarás sete semanas de anos, sete vezes sete
anos: de maneira que os dias das sete semanas de
anos te serão quarenta e nove anos”. De acordo com
o versículo 10, o povo devia santificar o ano
quinquagésimo e proclamar liberdade na terra a
todos os seus moradores: “ano de jubileu vos será, e
tornareis, cada um à sua possessão, e cada um à sua
família”. Podemos dizer que os sete anos sabáticos no
versículo 8, sete vezes sete anos, são também sete
“semanas” de anos (ver Dn 9:24-26). Na Bíblia, uma
semana, um período de sete dias, representa um
período completo. Por exemplo, no período de sete
dias Deus criou o universo e tudo nele, e depois
descansou. Por isso os sete dias de uma semana
indicam um período completo.
No sentido de que uma semana representa um
período completo, a nossa vida cristã pode também
ser considerada uma semana. A semana de nossa
vida cristã é tipificada pela festa dos pães asmos. Em
Êxodo 12 vemos que a festa dos pães asmos durava
sete dias. No Estudo-Vida de Êxodo ressaltamos que
os sete dias da festa dos pães asmos representam o
período inteiro de nossa vida cristã, desde quando
fomos salvos até o momento de nosso corpo ser
redimido.
O jubileu não veio no fim de uma semana
simples de anos, mas depois de um período de sete
semanas de sete anos. O ano posterior às sete
semanas de sete anos era, é claro, o quinquagésimo
ano, o primeiro ano da oitava semana de sete anos.
Na Bíblia o número oito significa ressurreição. O
Senhor Jesus foi ressuscitado no oitavo dia, o
450
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

primeiro da semana. Mantendo esse princípio, o


primeiro ano de cada nova semana, ou período de
sete anos, era um oitavo ano, que pode ser
considerado um ano de ressurreição. O ano do
jubileu era o sétimo “oitavo ano”. Isso quer dizer que
esse ano, o quinquagésimo, indica sete vezes
ressurreição.
O princípio de o jubileu ser o quinquagésimo ano
é o mesmo do dia do Pentecostes ser o
quinquagésimo dia. O dia do Pentecostes foi no
sétimo oitavo dia, assim como o ano do jubileu era no
sétimo oitavo ano. Depois de sete períodos de dias,
veio o dia do Pentecostes e, depois de sete períodos
de anos, veio o ano do jubileu.

APRECIAR O JUBILEU
Vamos agora aplicar isso à nossa experiência de
salvação. Assim como o ano do jubileu veio depois de
sete períodos completos de anos, muitos de nós
experimentaram salvação somente depois de passar
por muitos “períodos” na vida humana. Por um lado,
é muito bom ser salvo cedo na vida, na juventude;
por outro, há também um ponto bom de ser salvo
depois de passar por uma quantidade de períodos
longos na vida humana. Por exemplo, suponha que
um homem seja salvo aos cinquenta anos. Ele passou
por muitos períodos: juventude, faculdade,
casamento e desenvolveu-se na sua profissão. Tendo
passado por todos esses períodos, ele experimenta
um verdadeiro jubileu quando é salvo. Por anos,
conforme indicam as sete semanas de anos antes do
ano do jubileu, ele pode ter tentado redimir-se, mas
sem sucesso. Um dia ele ouve o soar do jubileu por
meio da pregação do evangelho e é salvo. Ele chega a
45
MENSAGEM SESSENTA E SETE

odiar, desprezar todos os períodos de sua vida. Agora


ele desfruta da liberação do jubileu.
Uma pessoa salva cedo na vida, talvez na idade
de doze anos, pode não ter muita percepção do
significado do jubileu. Para ela, parece haver pouca
diferença se há ou não jubileu, porque não passou
por muitos períodos na vida. Mas quem passou por
muitos períodos com certeza apreciará o jubileu.
Em certo sentido, quanto mais cedo uma pessoa é
salva, melhor. Certamente não devemos adiar a
pregação do evangelho. Meu ponto aqui é que,
quando uma pessoa é salva mais tarde na vida, tem
maior desfrute do jubileu do que a que é salva
quando criança. Suponha que um garoto seja salvo
na idade de seis anos. Uma vez que não passou nem
por um ou dois períodos na vida humana, ele não
consegue ter muito apreço pelo jubileu. Mas quem
passou por muitos períodos terá muito apreço pelo
que é ser salvo.
Não me interpretem mal nem pensem que
encorajo alguém a esperar para ser salvo. Os que são
salvos em idade mais tenra têm a oportunidade de
aprender mais da Bíblia e experimentar e desfrutar
mais do Senhor. Com esse ponto de vista, é melhor
que a pessoa seja salva em idade precoce. Todavia os
que são salvos mais tarde na vida têm a oportunidade
de ter grande desfrute do jubileu.
Suponha que certa pessoa nunca tenha vendido
sua possessão ou a si mesmo à escravidão. Quando
ouve o soar do jubileu, ela não terá nenhuma alegria
porque o jubileu nada significa para ela. Contudo
uma pessoa que tenha perdido a possessão e a si
mesmo se rejubilará no ano do jubileu. Quanto mais
tiver perdido, mais desfrutará o soar do jubileu.
452
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Anos atrás, encontrei um irmão cuja experiência


ilustra o ponto que ressaltamos sobre o desfrute do
jubileu. Ele tinha sido fumante de ópio por mais de
quarenta anos antes de ser salvo. Um dia foi salvo e
libertado do vício. Aquilo foi um verdadeiro jubileu
para ele.
Esse irmão sempre carregava duas fotos de si:
uma como fumante de ópio e outra como cristão. O
fumante de ópio era doentio e desnutrido; o cristão
era saudável e forte. Ao testificar, ele mostrava as
duas fotos e perguntava às pessoas de qual elas
gostavam mais. É claro, elas sempre preferiam a foto
do cristão. Depois, ele explicava o significado das
fotos, que uma era antes de ser salvo e a outra, depois
de se tornar cristão. Ele ficou contente ao dar-me um
verdadeiro testemunho do jubileu.
Quem é salvo muito jovem não consegue
testificar do jubileu como fez o irmão que fora
fumante de ópio. Porquanto um jovem não passa por
períodos completos na vida nos quais tenta redimir-
se, ele não tem muito a dizer sobre a alegria do
jubileu. Por isso ser salvo mais tarde na vida não
constitui uma boa coisa, mas é uma boa coisa o
desfrute do jubileu.
O ano do jubileu, o quinquagésimo ano, só pode
vir depois de sete semanas de anos. Só pode vir
depois da completação dos períodos da vida humana.
Isso quer dizer que o jubileu tem uma bênção que
ninguém pode alcançar pelo próprio esforço. Alguns
podem tentar, período após período, retomar à sua
possessão e redimir-se da escravidão, mas por si
mesmos não conseguem retomar ou ser redimidos. O
jubileu provém somente de Deus. Deus nos devolve
às possessões e nos liberta do cativeiro.
45
MENSAGEM SESSENTA E SETE

Fui salvo com dezenove anos. Antes de ter


recebido o Senhor Jesus, tentei ser bom. Fui criado
no cristianismo e ensinaram-me a Bíblia. Eu sabia
que devia ser bom, mas, não importava quanto
tentasse, não conseguia ser bom. Até tentei me
converter a Deus, mas não fui capaz. Um dia, porém,
experimentei o jubileu. Deus chegou e introduziu-
me no desfrute do jubileu. Naquele dia, tive o rico
desfrute do jubileu. Fui devolvido por Deus a Ele
mesmo como minha possessão e fiquei liberto de
minha escravidão.

DUAS GRANDES BÊNÇÃOS DO EVANGELHO


Vimos que as duas principais bênçãos do jubileu
são: ser devolvido à possessão e ser libertado da
escravidão. No Novo Testamento essas são as duas
grandes bênçãos do evangelho. O evangelho declara
que Deus nos devolveu a Si como nossa possessão e
nos libertou do cativeiro, da servidão, principalmente
da escravidão do pecado. O cativeiro do pecado é o
pior tipo de servidão. Os que vivem em pecado estão
amarrados de muitas maneiras. Mas, quando uma
pessoa é libertada do pecado, também é libertada de
muitas coisas. Quando fomos libertados do pecado,
também fomos libertados da escravidão da lei.
Pela misericórdia do Senhor, posso testificar que
desfruto Deus como minha possessão, como minha
comida, casa, vestes e transporte. Também posso
testificar que fui libertado do cativeiro. Estou livre da
escravidão do pecado e do cativeiro da lei e da
religião. Louvado seja o Senhor pelas bênçãos do
jubileu!
Precisamos aplicar esse entendimento à nossa
leitura do Evangelho de Lucas. Se lermos Lucas com
454
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

essa compreensão, esse evangelho se tornará um


novo livro para nós. Nas parábolas e casos nele
registrados, veremos as bênçãos do jubileu.
Perceberemos que o jubileu proclamado pelo
Salvador-Homem no capítulo quatro de Lucas é um
princípio que governa todos os capítulos seguintes.
Todos precisamos aprender a desfrutar o jubileu.
Quando o desfrutarmos, seremos capazes de sair a
proclamá-lo. Faremos soar a trombeta do evangelho
e diremos aos outros que agora é hora de Deus
aceitá-los, que agora é a hora de ser devolvidos a
Deus como sua possessão e ser libertados de todo
tipo de escravidão, cativeiro e servidão. Os que foram
devolvidos a Deus e libertados do cativeiro estão
livres para desfrutar Deus. Proclamar isso é soar a
trombeta do jubileu, anunciar o jubileu da economia
neotestamentária de Deus. Que todos desfrutemos as
bênçãos do jubileu e então o expressemos como
evangelho.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SESSENTA E OITO

O JUBILEU (5)
Leitura Bíblica: Lv 25:10-12,19-22; Mt 11:28; Fp
4:5-7, 9: Lc 15:23; 1Co 5:8; Ef 3:8; Fp 1:19; 2Co 12:9;
13:13

Nas mensagens anteriores abordamos a


definição e as bênçãos do jubileu. Agora vamos
começar a considerar o viver do jubileu. Por viver do
jubileu queremos dizer o tipo de vida que se vive no
jubileu. Como veremos, essa é uma vida de descansar
na boa terra (Lv 25:10-12; Mt 11:28; Fp 4:5-7, 9) e de
desfrutar suas riquezas (Lv 25:19-22; Lc 15:23; 1Co
5:8; Ef3:8; Fp 1:19; 2Co 12:9; 13:13).

O RESULTADO DA QUEDA DO HOMEM


Antes de considerar esses dois aspectos de viver
no jubileu, gostaria de falar um pouco mais sobre a
queda do homem. A Bíblia revela claramente que o
homem tomou- se caído. Conforme o propósito
divino, o homem foi feito para conter Deus e
expressá-Lo. Para o homem cumprir esse propósito,
era necessário que ele tomasse Deus como sua vida e
depois continuasse a desfrutá-Lo como sua provisão
de vida. Somente tomando Deus como vida e
desfrutando-O como sua provisão vital, pode o
homem viver uma vida que expressa Deus. Como
sempre enfatizamos em outras mensagens, essa é a
clara revelação na Bíblia como um todo.
Em vez de cumprir o propósito de Deus, o
homem criado por Ele foi seduzido por Seu inimigo e
45
MENSAGEM SESSENTA E OITO

afastado de Seu propósito. O homem pecou contra


Deus e se tomou caído.
Os incrédulos, é claro, não têm compreensão
clara da queda do homem e seu resultado. Muitos
cristãos até, que estão cientes da queda do homem,
não têm compreensão adequada do resultado, ou da
consequência da queda. Por isso precisamos ficar
impressionados com o fato de que o resultado da
queda do homem envolve duas coisas:1) perder Deus;
2) cair em cativeiro, escravidão, servidão. Por toda a
história humana, o homem ficou sem Deus e esteve
em cativeiro. Por milhares de anos ele está em
escravidão, tendo perdido Deus como sua possessão.
Isso é verdade com todo e qualquer povo, raça, país e
nação.

Os sofrimentos na vida humana


Os que lutam para desfrutar a vida,
principalmente os jovens, podem sonhar que um dia
haverá o céu na terra, que virá a hora quando haverá
uma utopia. Já acalentei certa vez esse tipo de sonho,
mas acordei dele e percebi que a vida humana está
cheia de todos os tipos de sofrimento. Os casados têm
problemas, mas os solteiros podem ter a mesma
quantidade de problemas, se não mais. No tocante a
problemas e sofrimentos, é difícil dizer se é melhor
ser casado ou solteiro. Porquanto os crentes estão
ansiosos por aprender como ter vida conjugal feliz,
livros sobre matrimônio são populares nas livrarias
cristãs. Com certeza, toda pessoa casada, conhecendo
os problemas da vida conjugal, gostaria de saber
como ter um matrimônio feliz. Os jovens, porém, não
sabem quantos problemas pode haver numa vida
conjugal. Menciono isso para dar um exemplo dos
458
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

sofrimentos na vida humana.


Outro exemplo é o problema causado pelas
riquezas. Os que desejam ser ricos talvez não
percebam que as riquezas podem causar encrencas.
Conheço certo irmão que ficou bastante rico nos
últimos vinte anos, mas suas riquezas causaram-lhe
grande sofrimento. Por causa dos problemas e
sofrimentos acarretados pela riqueza, muitos ricos
não têm vida longa. Ficam exaustos e fracos por suas
riquezas.
Li recentemente um artigo nos jornais sobre um
chinês que foi certa vez reitor de uma faculdade na
China. Ele agora tem cem anos. Quando atingiu essa
idade, muitos de seus antigos alunos deram uma
festa de aniversário, na qual ele disse que agradecia a
Deus por não ser rico porque, se fosse, nunca teria
vivido para atingir a idade de cem anos. De acordo
com essa maneira de compreender as coisas, a falta
de riquezas foi um fator importante para viver até os
cem anos.
O que ressaltamos é que a vida humana é uma
vida de sofrimento. Tanto as riquezas como a
pobreza causam sofrimento. Os pobres podem ter
ansiedades, mas os ricos podem tê-las ainda mais.
Outro tipo de sofrimento humano é aquele
experimentado pelos líderes dos países. O presidente
ou chefe de estado pode ter de arcar com um fardo
muito pesado, um fardo muito maior do que de uma
pessoa comum. Quem não tem boa saúde não deve
buscar um alto posto político porque a pressão sobre
ele será grande. Essa é outra ilustração de que a vida
humana é uma vida de sofrimento.

A busca por descanso e desfrute


45
MENSAGEM SESSENTA E OITO

Você sabe o que significa sofrer? Sabe o


significado de sofrimento? O verdadeiro significado
de sofrimento tem dois aspectos: não ter descanso e
não ter desfrute.
Deus criou o homem com o apetite, o desejo de
ter descanso e desfrute. Deus o criou com esses
desejos porque Sua intenção era que o homem O
buscasse continuamente. Por isso todo ser humano
busca descanso e desfrute.
Descanso requer satisfação. Se uma pessoa não
tem satisfação, não consegue ter descanso. Pela
experiência, sabemos que conseguimos descansar
somente quando estamos satisfeitos. Além disso,
satisfação advém do desfrute. Assim, sem desfrute
não temos satisfação e, se não temos satisfação, não
temos descanso. Todos estão famintos e sedentos por
descanso e desfrute. Estar sem descanso e desfrute é
sofrer.
O motivo de um irmão desejar casar-se é que ele
busca descanso e desfrute. Ele pensa que não
consegue encontrar descanso em nenhuma outra
pessoa senão em sua esposa. Ele considera o
casamento algo que lhe proporcionará descanso e
desfrute. De semelhante modo, uma irmã deseja um
marido porque pensa que a vida conjugal será um
“sofá” no qual ela pode descansar.
Por que precisamos de casamento? Porque
queremos descanso, satisfação e desfrute. Entretanto
quanto descanso, satisfação e desfrute verdadeiro
você experimenta na vida conjugal? Muitos podem
testificar que na vida conjugal o sofrimento pode ser
maior do que o descanso e a satisfação, e os
problemas podem ser maiores do que o desfrute. a
sofrimento na vida conjugal pode ser causado até
460
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

pela janela do quarto, se deve ficar aberta ou fechada.


Marido e mulher podem ter uma discussão sobre
uma questão como essa. Embora as pessoas se casem
porque precisam de descanso, satisfação e desfrute, o
verdadeiro descanso, satisfação e desfrute não são
encontrados na vida conjugal.
Já vimos que os ricos, bem como os pobres, têm
sofrimentos na vida. Por exemplo, alguém com
grande soma na poupança pode ficar preocupado
com a inflação. Embora tenha milhares de dólares no
banco, ele ainda pode ficar ansioso sobre dinheiro.
Em toda área da vida humana, a coluna “débito”
pode ser maior que a coluna “crédito”. Isso quer dizer
que, seja qual for a escolha que consideremos fazer
sobre certa questão, o resultado pode ser mais débito
do que crédito. Quer sejamos casados ou solteiros,
ricos ou pobres, o débito pode ser maior do que o
crédito.
O destino de toda pessoa não salva, quer casada
ou solteira, rica ou pobre, é o inferno. É por isso que
as pessoas precisam da salvação de Deus; é por isso
que precisam do evangelho. Sem a salvação de Deus,
uma pessoa vai para baixo, para o inferno, não
importa qual seja a situação. Os educados e cultos e
os que não têm nem educação nem cultura vão todos
para baixo, para o inferno. Por ir para baixo, não
conseguem ter descanso. Como precisam ouvir a
pregação do evangelho, o soar do jubileu!
A humanidade caída perdeu Deus e está em
cativeiro. Pondere sobre a situação dos filhos de
Israel no Egito. Todos os israelitas estavam sob
cativeiro. Pode parecer que Faraó, o rei do Egito, era
superior, mas ele também estava em cativeiro. Tanto
os israelitas como os egípcios haviam perdido Deus e
46
MENSAGEM SESSENTA E OITO

estavam em cativeiro. De modo semelhante, a


humanidade caída hoje está em cativeiro. Os ricos e
os pobres, os cultos e os iletrados, os casados e os
solteiros, estão todos em cativeiro. Somente quando
temos Deus não estamos mais em cativeiro, porque
Ele é nossa libertação, nossa liberação.
Visto que o homem caído perdeu Deus e está em
cativeiro, ele não tem o verdadeiro descanso ou
desfrute. Esse é o resultado, a consequência da queda
do homem.

COMO DEUS SALVA O HOMEM


DA CONSEQUÊNCIA DA QUEDA
Certos tipos no Antigo Testamento mostram
como Deus salva o homem da consequência da queda.
O primeiro deles é a Festa da Páscoa.

A Festa da Páscoa
Quando os filhos de Israel estavam no Egito,
estavam em cativeiro. Não tinham descanso,
satisfação e desfrute, mas Deus chegou para resgatá-
los, salvá-los de sua situação caída. Deus salvou Seu
povo pela Páscoa.
Na Bíblia a Páscoa é chamada de festa. A Festa
da Páscoa era a primeira das sete festas anuais
observadas pelos filhos de Israel (Lv 23). A palavra
“festa” implica feriado, um tempo de descanso,
satisfação e desfrute. Um feriado é um dia sem
trabalho, um dia de deleite. Em todos os países,
quando há um feriado, as pessoas cessam de
trabalhar e têm um tempo de descanso, satisfação e
desfrute. A Festa da Páscoa era a hora dos filhos de
Israel. Era a hora de o povo escolhido por Deus
462
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

descansar do seu labor e desfrutar Deus como sua


satisfação.

Vida no deserto
Deus tirou os filhos de Israel do Egito através do
mar Vermelho e deserto adentro. Nos anos em que
esteve no deserto, o povo não tinha qualquer
atividade ou labor. Que, então, fizeram por quarenta
anos? Podemos dizer que tiveram um feriado muito
longo. Por quarenta anos não trabalharam; pelo
contrário, descansaram com Deus. Não semearam
nem segaram, mas simplesmente colhiam o maná.
Além disso, o que colhiam não era o resultado do seu
labor, mas algo presenteado por Deus. Por isso os
filhos de Israel descansaram com Deus e desfrutaram
Sua dádiva. É um caso único na história que um povo,
atingindo mais de dois milhões de pessoas,
subsistisse quarenta anos sem qualquer atividade
industrial ou agrícola. Nesses quarenta anos os filhos
de Israel descansaram com Deus dia após dia.
Ao considerar a história dos filhos de Israel no
deserto, vemos que na verdade eles não sabiam como
descansar com Deus ou desfrutar Seus dons. Eles
ainda tentaram laborar, isto é, fazer algo por si
mesmos. Esse labor ofendia a Deus. Depois de entrar
no deserto, os filhos de Israel não deviam ter feito
nada exceto louvar o Senhor, desfrutá-Lo e descansar
com Ele. Entretanto eles ainda lutavam por fazer algo
por si mesmos. Sempre que laboravam dessa
maneira, causavam problemas.

A boa terra
Depois de um feriado de quarenta anos no
46
MENSAGEM SESSENTA E OITO

deserto, os filhos de Israel foram introduzidos na boa


terra. Deus deu uma porção da terra para cada
família e o povo descansou em seu quinhão. Eles
viviam naquela porção, desfrutando-a e recebendo
satisfação dela.
A boa terra é um tipo de Deus como nossa
porção. Sobre Deus ser nossa porção, o Salmo 16:5
diz: “O Senhor é a porção da minha herança e do meu
cálice”. Por isso a real porção da terra em que
descansamos e com que ficamos satisfeitos é Deus
mesmo. Deus é a verdadeira terra que mana leite e
mel. É claro, por fim, esse Deus é Jesus Cristo e
posteriormente o Espírito que dá vida. O próprio
Deus, que é Jesus Cristo e o Espírito que dá vida, é
nossa boa terra que mana leite e mel. Posso testificar
que meu Cristo mana leite e mel. Cristo é nossa
porção; é nosso descanso, satisfação e desfrute.

A necessidade do jubileu como repetição da


Páscoa
Muitos dos filhos de Israel, porém, não viveram
na terra de modo a descansar e desfrutar. Antes,
viveram de forma a tornar-se pobres. Primeiro
venderam sua terra e posteriormente se venderam.
De novo experimentaram os dois resultados da queda
do homem: perda do desfrute e cativeiro. Isso tornou
necessário que Deus estabelecesse o ano do jubileu,
segundo a tipologia em Levítico 25.
Na verdade o jubileu era uma repetição da
Páscoa. Pela Páscoa, os filhos de Israel foram
libertados do cativeiro para entrar no descanso e
desfrute. Alguns, porém, depois de entrar no desfrute
de Deus, tornaram-se pobres novamente e perderam
tudo. Assim, houve a necessidade do jubileu como a
464
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

repetição da Páscoa.
No ano do jubileu havia a proclamação de
liberdade: “Santificareis o ano quinquagésimo, e
proclamareis liberdade na terra a todos os seus
moradores: ano de jubileu vos será, e tornareis, cada
um à sua possessão, e cada um à sua família” (Lv
25:10). Essa liberdade era uma liberação; denotava a
libertação do cativeiro.
De acordo com Levítico 25:10, no ano do jubileu
uma pessoa podia ser devolvida à sua possessão e à
própria família. Que significa isso? Significa a volta
ao descanso, à satisfação e ao desfrute, um retorno à
condição e estado no qual as pessoas tinham sido
trazidas pela Páscoa. A Páscoa os introduziu numa
condição e estado em que podiam possuir Deus como
sua boa terra para seu descanso e desfrute, mas eles
perderam essa possessão e caíram em cativeiro
novamente. Sua condição tornou-se como a dos
filhos de Israel no Egito. Por isso havia a necessidade
do jubileu como a repetição da Páscoa para
proclamar liberdade a todos os que haviam perdido
sua possessão e que estavam em cativeiro. No ano do
jubileu, as pessoas podiam ser devolvidas à sua
possessão e à sua família a fim de ter descanso,
satisfação e desfrute. Essa é a figura retratada na
tipologia em Levítico 25.
Como veremos mais plenamente na mensagem
seguinte, esse tipo é uma figura do que deve ser a
vida cristã. A vida cristã é uma vida de liberdade,
libertação e liberação, uma vida cheia de descanso,
satisfação e desfrute.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SESSENTA E NOVE

O JUBILEU (6)
Leitura Bíblica: Lv 25:10-12,19-22; Mt 11:28; Fp
4:5-7,9: Lc 15:23; 1Co 5:8; Ef3:8; Fp 1:19; 2Co 12:9;
13:13

Vamos continuar a considerar o viver do jubileu,


isto é, o tipo de vida que se vive no jubileu. Já
ressaltamos na mensagem anterior que essa é uma
vida de descanso e desfrute das riquezas na boa terra.
Nossa vida cristã deve ser cheia de liberdade,
libertação e liberação, uma vida cheia de descanso,
satisfação e desfrute.

VIDA DE DESFRUTE
Lucas 15:23 indica que a vida cristã deve ter
desfrute: “Trazei também o novilho cevado e matai-o;
comamos e regozijemo-nos”. O resultado da volta do
filho pródigo à casa do pai foi que ele e todos os da
casa podiam comer, beber e se regozijar. Isso indica
que devemos comer Cristo como o novilho cevado,
beber o Espírito que dá vida e nos regozijar no
desfrute do Deus Triúno e nas riquezas da casa do
Pai.
Quando prosseguimos para 1Coríntios 5:8,
vemos que a vida cristã é uma festa: “Por isso
celebremos a festa, não com o velho fermento, nem
com o fermento da maldade e da malícia; e, sim, com
os asmos da sinceridade e da verdade”. Essa festa se
refere à dos pães asmos como a continuação da
Páscoa (Êx 12:15-20). Essa festa durava sete dias, um
466
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

período completo que simboliza toda a vida cristã,


desde o dia da conversão até o dia do arrebatamento.
Essa é a longa festa que devemos guardar com pães
asmas, que são Cristo como nossa nutrição e desfrute.
Somente Ele é o suprimento de vida da sinceridade e
verdade, absolutamente puro, sem mistura e cheio de
realidade. Essa festa é uma hora de desfrute. Toda a
vida cristã deve ser uma festa e um desfrute de Cristo
como o rico suprimento de vida. Por isso em
1Coríntios 5:8 Paulo insta a que celebremos a festa
com Cristo como o pão asma.
Uma festa não é hora de trabalhar; antes, é hora
de comer, desfrutar, ter satisfação e descanso. Na
vida cristã, Cristo deve ser nosso alimento, desfrute,
satisfação e descanso.
Em Efésios 3:8 Paulo diz: “A mim, o menor de
todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos
gentios o evangelho das insondáveis riquezas de
Cristo”. Paulo não pregava doutrinas, mas as
riquezas de Cristo. As riquezas de Cristo são o que
Ele é para nós, como luz, vida, justiça e santidade,
para nossa experiência e desfrute. Essas riquezas são
insondáveis e imperscrutáveis. A vida cristã é
desfrutar as riquezas insondáveis de Cristo.
Em Filipenses 1:19 Paulo fala da provisão
abundante do Espírito de Jesus Cristo. A vida cristã é
desfrutar essa provisão abundante.
Em 2Coríntios 12:9 vemos que Paulo
experimentou e desfrutou a graça de Cristo: “Então
ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder
se aperfeiçoa na fraqueza”. Então, em 2Coríntios
13:13, ele prossegue: “A graça do Senhor Jesus Cristo,
e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo
sejam com todos vós”. Com certeza, os três itens
46
MENSAGEM SESSENTA E NOVE

citados nesse versículo são para nosso desfrute. A


graça do Senhor é o próprio Senhor como vida para
nós para nosso desfrute; o amor de Deus é o próprio
Deus como a fonte da graça do Senhor, e a comunhão
do Espírito é o próprio Senhor como a transmissão
de Sua graça com o amor de Deus para que tomemos
parte. O resultado do desfrute da graça do Senhor, do
amor de Deus e da comunhão do Espírito é satisfação,
e o resultado desse desfrute e satisfação é descanso.
Todos os cristãos devem ter esse desfrute, satisfação
e descanso.
Contudo apenas uma pequena minoria de
cristãos desfruta diariamente a graça de Cristo, o
amor de Deus e a comunhão do Espírito. Onde
estamos com respeito a esse desfrute? Muitos
estamos em labor e cheios de ansiedade e
preocupação. Além disso, temos muitas expectativas
ou sonhos. Por fim, visto que esses sonhos não se
realizam, ficamos desapontados e temos sofrimento.
Muitos entre nós laboram, preocupam-se, sonham e
sofrem dia a dia. Alguns talvez sonhem em ser ricos,
mas esse sonho leva à decepção e sofrimento. A vida
humana é cheia de laborar, preocupar- se, sonhar e
sofrer.
Alguns crentes que ainda laboram, preocupam-
se, sonham e sofrem podem dizer: “Eu pensava que a
vida seria melhor depois que me tornei cristão, mas
continua a mesma coisa. Qual, então, é o propósito
de ser cristão?”. Por causa de perguntas como essas,
muitos cristãos são atraídos para o ensinamento da
prosperidade, o qual ensina que os cristãos podem
tornar-se ricos e bem sucedidos. Porém é um fato que
a maioria dos cristãos labora, preocupa-se, sonha e
sofre. Além disso, a maioria, quer seja um sucesso ou
468
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

um fracasso, está indo para baixo.

OS TRÊS TIPOS DE LABOR NA VIDA


HUMANA
Se lermos a Bíblia com cuidado, veremos que há
três tipos de labor na vida humana, não incluindo o
emprego para ganhar a vida. O primeiro tipo é o
labor de ser bom, ter bom comportamento e
aperfeiçoar o caráter. Nesse labor, as pessoas lutam
para ser humildes, pacientes e amorosas. Na Bíblia,
principalmente no Novo Testamento, trabalhar
significa praticar tais coisas. Mas ninguém pode ser
salvo pelas obras (Ef2:8-9). Isso significa que
ninguém pode ser salvo pelas obras tentando
aperfeiçoar seu comportamento e caráter, e guardar a
lei e ser bom, paciente, bondoso e honesto. Esse tipo
de esforço é um verdadeiro labor e no Novo
Testamento é chamado de trabalho.
De acordo com a Bíblia, o segundo tipo de labor
é preocupar-se, ficar ansioso. Que trabalho difícil é
laborar sob ansiedade! Se você quiser fazer seu
trabalho dia após dia, sem ter ansiedade, deve ser
uma pessoa saudável. Você, porém, pode despender
mais horas cada dia com preocupações do que com o
trabalho. Você pode dizer que nunca teve ansiedade
ou preocupação até hoje? Dia após dia, todos ficam
ansiosos. Você pode ficar ansioso com a saúde, o
emprego ou muitas outras coisas. Eu, é claro, não sou
exceção. Aprendi pela experiência que a única
maneira de escapar da ansiedade é desfrutar o
Senhor. Sempre que não desfruto Cristo, tenho
ansiedades. Cristo é o oposto da ansiedade. No
Estudo-Vida de Filipenses demos muitas mensagens
intituladas “Uma vida cheia de paciência, mas sem
46
MENSAGEM SESSENTA E NOVE

ansiedade”.
O terceiro tipo de labor revelado na Bíblia é o
sofrimento. Sofrer é um labor muito difícil. Quando
desfrutamos Deus no jubileu, não deve haver
sofrimento. Paulo, por exemplo, sofreu com um
“espinho na carne” (2Co 12:7). Sobre esse espinho,
ele rogou ao Senhor três vezes que o removesse dele
(v. 8). Entretanto, em vez de remover o espinho, o
Senhor lhe disse: “Minha graça te basta”. O Senhor
parecia dizer- lhe: “Não, Eu não removerei o espinho,
porque Minha graça é suficiente. Se você Me
desfrutar, não terá sofrimento”.
Dizer que não temos sofrimento quando
desfrutamos o Senhor não quer dizer que as
circunstâncias ao redor serão melhores. Pelo
contrário, em muitos casos, elas mudam para pior.
Veja a situação de Paulo e Silas em Atos 16: foram
lançados na prisão em Filipos. Poderíamos esperar
que essa prisão fosse grande sofrimento para eles;
contudo, eles não estavam sofrendo ali, mas
desfrutavam o jubileu. Eles cantavam e louvavam o
Senhor. Embora na prisão, eles tinham desfrute,
satisfação e descanso.

UM CONCEITO ERRÔNEO
Como crentes não devemos ter o conceito de que,
uma vez que somos salvos, amamos o Senhor Jesus,
damos- Lhe tudo ou queremos dar-Lhe tudo, nossa
situação será próspera. Nenhum cristão deve ter esse
conceito. Se essa for nossa filosofia de vida cristã,
precisamos abandoná-la. Esse ponto de vista está
absolutamente errado.
Muitos dos que serviram o Senhor foram
martirizados. João Batista, por exemplo, o precursor
470
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

do Novo Testamento, foi decapitado. Quando João


enviou dois de seus discípulos a pedir ao Senhor que
fizesse algo por ele, o Senhor indicou que nada faria
(Mt 11:2-5). O Senhor também disse: “Bem-
aventurado é aquele que não achar em Mim motivo
de tropeço” (Mt 11:6). Aqui o Senhor indicava a João
que não faria nada para salvá-lo do martírio; antes,
Ele o deixaria na prisão para ser levado à morte.
Pedro e Paulo foram igualmente martirizados.
Você acha que ser mártir é questão de
sofrimento? Na verdade, quem sofre não está
qualificado para ser mártir. O martírio é uma
experiência do jubileu. Uma mártir, uma missionária
britânica morta na década de 1930 na China, disse
enquanto era levada à morte: “A face de todo mártir é
como a face de anjo e o coração de um mártir é o
coração de leão”. Estêvão certamente não sofreu
quando foi martirizado. Quando estava prestes a ser
apedrejado, sua face brilhava como a face de anjo (At
6:15). Em vez de sofrer, Estêvão desfrutava o Senhor.

AMAR OUTRAS COISAS ALÉM DE DEUS


Se sentirmos que sofremos em certa situação,
isso indica que ainda amamos outras coisas além de
Deus. Se amarmos única e totalmente Deus, não
seremos atribulados por nenhum tipo de situação.
Esse é o motivo de o Senhor Jesus ter indicado que
precisamos amá-Lo mais do que aos pais, irmãos,
irmãs ou filhos (Mt 10:37; Lc 14:26). Se sentirmos
que é sofrimento perder os pais, filhos, esposa ou
marido, isso quer dizer que não amamos unicamente
a Deus. Isso quer dizer que colocamos nosso amor
em algo ou alguém além de Deus. Se amarmos
unicamente a Deus, dando nosso amor inteiramente
47
MENSAGEM SESSENTA E NOVE

a Ele e nada tendo com que dividi-lo, não ficaremos


perturbados por nada que nos aconteça.
Suponha que você perca a casa. Isso seria
sofrimento para você? Você ainda seria capaz de
louvar o Senhor, mesmo com a perda de sua casa? Se
perder a casa for sofrimento e se você não quiser
louvar o Senhor por isso, significa que você ama sua
casa tanto quanto a Deus, talvez mais que a Deus. Se
você não amasse sua casa, não sofreria por perdê-la;
antes, diria: “Aleluia! Minha casa se foi, mas meu
Deus não. Ele vale mais para mim agora do que antes.
Quando eu tinha boa casa, Deus não valia tanto para
mim, mas agora que a perdi Deus vale muito mais
para mim”.
Como pai de muitos filhos e avô de muitos netos,
sei que cada pai quer que seus filhos tenham sucesso.
Talvez você queira que seus filhos sejam apóstolos,
presbíteros, diáconos ou diaconisas, ou que sejam
médicos, advogados ou especialistas de informática,
mas como se sentiria se nenhum deles fosse apóstolo,
presbítero, diácono ou diaconisa, ou se nenhum
estivesse numa profissão respeitada? Você ficaria
feliz ou desapontado? Recentemente ouvi alguém
louvar o Senhor porque seu filho tinha se tomado
médico. Nunca vi, porém, um pai louvar o Senhor
porque seu filho teve nota baixa.
O objetivo dessas ilustrações é que até mesmo
cristãos sequiosos podem não ter uma vida de jubileu.
Antes, porquanto amam outras coisas além de Deus,
eles sofrem em vez de ter desfrute, satisfação e
descanso.
Todos devemos fazer nosso trabalho; porém não
devemos trabalhar no sentido de lutar para ser bons,
preocupando- nos, sonhando e sofrendo. Devemos
472
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

ser capazes de dizer:


“Eu só amo meu Deus. Ele é minha porção. Nada e
ninguém além Dele é minha porção. Um carro novo,
casa boa, boa promoção, o melhor salário, tudo isso
não é a verdadeira porção para mim”.

SEM ANSIEDADE NO JUBILEU


Se vivermos no jubileu, não teremos ansiedade.
Sobre a ansiedade, o Senhor Jesus diz: “Não andeis
ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de
comer ou beber; nem pelo vosso corpo quanto ao que
haveis de vestir [...] qual de vós, por ansioso que
esteja, pode acrescentar um côvado ao curso de sua
vida? [...] Portanto, não vos inquieteis com o dia de
amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta
ao dia o seu próprio mal” (Mt 6:25, 27, 34). Não há
necessidade de tomar emprestada a ansiedade de
amanhã e suportá-la hoje. Cada dia tem seu mal.
Alguns santos, porém, sejam jovens ou velhos,
tomam emprestadas ansiedades não só de amanhã,
mas dos anos por vir. Isso quer dizer que alguns não
estão ansiosos apenas com o amanhã, mas com o que
acontecerá nos anos vindouros. Alguns avós podem
até estar ansiosos com a terceira geração. Eles na
verdade tomam emprestada a ansiedade de uma
futura geração e laboram debaixo dela já hoje.
Você sabe por que estamos ansiosos com o hoje e
o amanhã? Porque Deus não tem espaço total em nós.
Ainda damos um “canto” de nosso ser para outras
coisas, e esse canto nos causa problemas. Mas, se
dermos todo o espaço de nosso coração a Deus, não
ficaremos ansiosos ou atribulados por nada que nos
aconteça. Se em nosso coração não houver espaço
para nada e ninguém além de Deus, Ele sempre será
47
MENSAGEM SESSENTA E NOVE

nosso desfrute, satisfação e descanso. A situação


pode mudar, mas Ele permanece o mesmo.
É muito difícil dar todo o espaço em nosso ser a
Deus porque somos caídos e temos natureza caída.
As próprias células e fibras de nosso corpo e toda a
nossa alma, incluindo mente, vontade e emoção, são
caídas longe de Deus, de Seu desfrute e do descanso
Nele. Buscamos muitas outras coisas além Dele.
Qualquer coisa, seja boa ou má, que não seja o
próprio Deus pode ser fonte de ansiedade. Apenas
Deus é desfrute, satisfação e descanso. Não importa
quão boa seja outra coisa, ela não pode ser nosso
desfrute, satisfação e descanso.
474
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

UMA VIDA QUE VIVE DEUS


A vida do jubileu, isto é, a vida que se vive no
jubileu, é uma vida que vive Deus. Quando alguns
ouvem isso, podem dizer: “Não é essa a vida
vitoriosa? Não é essa uma vida santa, do Espírito?”.
Sim, a vida do jubileu é vitoriosa e santa, e é uma
vida do Espírito, mas, embora tenhamos ouvido
muitas mensagens sobre viver no Espírito, ainda não
vivemos muito no jubileu. Pelo contrário, temos o
labor de lutar para nos aperfeiçoar, o labor da
ansiedade, de sonhar e de sofrer. Que labor é lutar
para ser bom! É mais difícil ainda laborar para se
preocupar, ter ansiedades. É também um labor
sonhar, ter expectativas. Todo tipo de expectativa é
um sonho. Por fim, há o labor de sofrer. Quando
temos sofrimento, não conseguimos ter desfrute,
satisfação e descanso.
Como podemos ser libertos de todo esse labor? A
única maneira é ser libertados para tomar o Deus
Triúno como nossa porção. Se invocarmos o nome do
Senhor Jesus, o Espírito todo-inclusivo nos
proporcionará Sua provisão abundante. Então
desfrutaremos Deus em Cristo como a boa terra que
mana leite e mel, e teremos desfrute, satisfação e
descanso. Todos precisamos desse jubileu.
O Evangelho de Lucas nos guia para a vida do
jubileu. O Salvador-Homem nos salva do cativeiro
para o jubileu. Ele nos salva para a liberdade,
desfrute, satisfação e descanso do jubileu de Deus.
Todo o ensinamento do Novo Testamento sobre
a vida cristã envolve o jubileu. Quando o reino vier,
desfrutaremos um jubileu maior do que o que
desfrutamos hoje. Então, na eternidade, na Nova
47
MENSAGEM SESSENTA E NOVE

Jerusalém com o novo céu e a nova terra, teremos o


maior jubileu. Desfrutaremos Deus em plenitude
como nossa satisfação e descanso. Hoje temos
somente um antegozo desse jubileu.
O dia inteiro devemos desfrutar Deus como
nosso gozo, satisfação e descanso. Não devemos lutar,
preocupar-nos, sonhar ou sofrer. Até mesmo na
situação mais difícil, ainda podemos desfrutar o
Senhor. Se dermos todo o espaço em nós para Deus e
O desfrutarmos, nem mesmo o martírio nos será
sofrimento. Em vez de luta, ansiedades, sonhos e
sofrimentos, teremos o Deus Triúno processado
todo- inclusivo como nosso desfrute, satisfação e
descanso. A graça de Cristo, o amor de Deus e a
comunhão do Espírito serão nossos. Esse é o desfrute
do jubileu.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS
MENSAGEM SETENTA

A RESSURREIÇÃO DO SALVADOR-HOMEM
(1)
Leitura Bíblica: At 2:24; 3:15; Rm 4:25; At 10:41;
Jo 10:15, 17-18; Hb 2:14; 1Co 15:52-54; Jo 13:31-32;
17:1; Lc 24:26; Jo 12:24

Nas mensagens anteriores, consideramos em


detalhes duas questões muito importantes: a
encarnação do Salvador-Homem e o jubileu. Agora,
neste Estudo-Vida, queremos abordar dois outros
pontos vitais: a ressurreição do Salvador-Homem e
Sua ascensão.
De acordo com a Bíblia, três itens relacionados
com o Salvador-Homem têm especial importância:
Sua morte, ressurreição e ascensão. Junto com a
Pessoa do Senhor, esses pontos são claramente
revelados na Bíblia. Porém não foram abordados
adequadamente pela maioria dos mestres cristãos.
A Pessoa de Cristo é, certamente, um grande
mistério, que está relacionado com a Trindade divina
e envolve a Trindade. Isso quer dizer que, quando
consideramos a Pessoa de Cristo, não conseguimos
ignorar a Trindade divina.
A obra redentora todo-inclusiva de Cristo inclui
Sua encarnação. Sua obra redentora começou com a
encarnação e foi completada na ressurreição. Tudo o
que Cristo fez em Seus trinta e três anos e meio na
terra foi parte de Sua obra redentora. Creio que neste
Estudo-Vida já abordamos a encarnação de Cristo
integralmente. Nas mensagens de Estudo- Vida de
47
MENSAGEM SETENTA

Marcos e de Lucas, falamos bastante sobre o viver


humano de Cristo. Por fim, fomos levados ao fim da
obra redentora de Cristo com os três pontos vitais e
cruciais: Sua morte, ressurreição e ascensão.

O STATUS SÉTUPLO DO SALVADOR-


HOMEM
EM SUA MORTE
Vimos que, quando morreu na cruz, o Salvador-
Homem tinha um status com sete aspectos. Isso quer
dizer que Ele morreu como o Cordeiro de Deus (Jo
1:29), um homem em carne, um homem na velha
criação, a serpente (Jo 3:14), o Primogênito de toda a
criação (Cl 1:15), o Pacificador (Ef 2:15) e um grão de
trigo (Jo 12:24).
Um modo simples de nos lembrar dos aspectos
do status sétuplo do Salvador-Homem em Sua morte
é nos lembrar dos três aspectos mencionados no
Evangelho de João. Primeiro, é-nos dito que Cristo
era o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo;
segundo, que foi tipificado pela serpente de bronze;
terceiro, que era o grão de trigo que caiu na terra e
morreu. O Cordeiro de Deus tirou nosso pecado;
Aquele tipificado pela serpente de bronze destruiu a
velha serpente, Satanás; o grão de trigo liberou a vida
divina. Aleluia, o pecado foi tirado, Satanás foi
destruído e a vida divina foi liberada!
Tendo visto esses aspectos do Evangelho de João,
podemos passar a considerar os quatro aspectos
restantes. Cristo morreu na cruz como o Primogênito
de toda a criação. Nesse aspecto do Seu status, Ele
levou toda a velha criação com Ele à cruz. Ele
também morreu como homem, o último Adão,
levando o velho homem à cruz. Além disso, foi
478
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

crucificado como homem na carne. Segunda


Coríntios 5:21 diz que Ele foi feito pecado por nós. O
pecado está relacionado com a carne. Por isso
Romanos 8:3 diz que Deus enviou Seu Filho na
semelhança da carne e no tocante ao pecado. Na cruz
Ele condenou o pecado na carne. Por fim, Cristo
morreu como o Pacificador, Aquele que aboliu as
ordenanças da cultura e viver humanos. Assim, na
cruz Cristo era o Cordeiro, a serpente, o grão de trigo,
um homem em carne feito pecado por nós, o último
Adão, isto é, um homem na velha criação, o
Primogênito da criação e o Pacificador. Nesse status
sétuplo, Ele morreu como nosso Redentor.
Assim como consideramos o status sétuplo do
Salvador-Homem em Sua morte, também
precisamos ver diversos pontos sobre Sua
ressurreição e ascensão. É difícil encontrar um livro
que fale do status sétuplo do Senhor em Sua morte.
Igualmente é difícil encontrar um impresso que
aborde todos os itens que veremos sobre Sua
ressurreição e ascensão. Muitos desses itens são
negligenciados nos ensinamentos de hoje. Por isso na
restauração do Senhor temos o encargo de abordá-los.
Nada do que compartilhamos nessas mensagens é
produto de nossa imaginação. Antes, cada item
advém da Palavra divina. Tudo o que vimos sobre a
morte, ressurreição e ascensão de Cristo advém de
um estudo diligente da Palavra sob a luz divina.
Quando consideramos a ressurreição do
Salvador-Homem, precisamos humilhar-nos e nos
esvaziar de preocupações. Por exemplo, precisamos
perceber que a ressurreição de Cristo nada tem a ver
com as coisas da Páscoa, como ovos coloridos.
Com relação à ressurreição do Senhor, há dois
47
MENSAGEM SETENTA

aspectos principais: o objetivo e o subjetivo. Nos dois


aspectos há vários itens. Nesta mensagem e na
seguinte, abordaremos o aspecto objetivo da
ressurreição de Cristo. Depois, passaremos a
considerar o aspecto subjetivo, isto é, o aspecto da
ressurreição do Senhor em que algo precisa ser
trabalhado em nosso ser.

DEUS VINDICA E APROVA O SALVADOR-


HOMEM
E SUA OBRA REDENTORA TODO-
lNCLUSIVA
O primeiro item do aspecto objetivo da
ressurreição do Salvador-Homem é que ela foi a
vindicação e aprovação de Deus para com o Salvador-
Homem e para com Sua obra redentora todo-
inclusiva. Pela ressurreição, Deus vindicou e aprovou
o Salvador-Homem; Deus também vindicou e
aprovou Sua obra redentora. Em outras palavras,
Deus vindicou a Pessoa e obra do Salvador-Homem.
Cada um de nós tem a questão da pessoa e da
obra. Nossa pessoa é o que somos, e nossa obra é o
que fazemos. A crítica dos outros está sempre
relacionada com a pessoa ou com a obra.
Essa com certeza foi a situação com o Senhor
Jesus. De acordo com os quatro evangelhos, houve
muita crítica, principalmente por parte dos líderes
judeus, da Pessoa e dos atos de Cristo. Sobre Sua
Pessoa, alguns disseram que era samaritano (Jo
8:48), que estava fora de Si, isto é, mentalmente
doente (Me 3:21) e era possuído pelo demônio (Jo
8:49). Além disso, Suas obras foram condenadas
pelos fariseus como blasfêmia a Deus. Os líderes
religiosos com certeza negaram, rejeitaram e
480
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

condenaram o Salvador-Homem. Eles O


sentenciaram à morte e O crucificaram. Essa foi a
atitude dos líderes da nação judaica, aqueles entre os
quais Cristo nascera, vivera e trabalhara.
Os líderes religiosos consideravam o Salvador-
Homem pior que um criminoso e assassino, pior que
Barrabás. Eles condenaram tanto o Senhor como Sua
obra; rejeitaram Sua Pessoa e Seus atos. A rejeição ao
Salvador-Homem chegou a tal ponto que O
sentenciaram a ser levado à cruz.
Suponha que o Salvador-Homem não tivesse
ressuscitado. Suponha que Seu corpo fosse deixado
no túmulo. Se fosse assim, os líderes judeus teriam
vencido a questão. Todavia Deus O ressuscitou e
dessa forma O vindicou. Essa vindicação foi
extraordinária. Depois que o Senhor foi crucificado e
sepultado, Deus O ressuscitou dentre os mortos.

Ressuscitado por Deus


No livro de Atos é-nos dito muitas vezes que
Deus ressuscitou o Senhor Jesus. Por exemplo,
referindo-se ao Senhor Jesus, Atos 2:24 diz: “Ao qual,
porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da
morte”. Atos 2:32 diz: “A este Jesus Deus ressuscitou,
do que todos nós somos testemunhas”. Atos 3:15 fala
de “o Autor da fé, a quem Deus ressuscitou dentre os
mortos” e 4:10 fala de “Jesus Cristo, o Nazareno,
[ ... ] a quem Deus ressuscitou dentre os mortos”.
Outros versículos em Atos que falam de Deus
ressuscitar Jesus dentre os mortos são 5:30; 10:40;
13:30,33-34,37; 17:31 e 26:8. O motivo disso ser
repetido com tanta frequência é que Atos inteiro é
um livro de testemunhos sobre a ressurreição de
Cristo. O testemunho dos apóstolos foi sobre a
48
MENSAGEM SETENTA

ressurreição do Salvador-Homem. Deus vindicou


Cristo, ressuscitando-O.

A vindicação de Deus
A Pessoa e obra do Salvador-Homem foram
rejeitadas e condenadas. Os líderes religiosos
pensaram que O haviam exterminado e agora
poderiam descansar contentes. Deus, porém, veio
para ressuscitar o Senhor Jesus. Ele não discutiu
como os líderes religiosos; não teve uma conferência
para negociar com eles. Antes, Deus parecia dizer:
“Não quero falar com vocês, tolos. Farei uma coisa:
ressuscitarei Aquele que vocês crucificaram. O fato
de Eu ressuscitá-Lo é Minha vindicação Dele e de Sua
obra, mas é uma vergonha para quem O condenou”.
O Senhor Jesus foi o ponto de virada da história
humana. O que ele fez afetou o mundo todo. Por
meio da ressurreição, Deus, o Supremo Juiz,
vindicou o Salvador-Homem e Sua obra redentora.

Aprovação de Deus
A ressurreição de Cristo não foi só a vindicação
de Deus, mas também Sua aprovação Dele e de Sua
obra. Ao ressuscitar o Senhor Jesus, Deus parecia
dizer à nação judia com seus líderes: “Eu aprovo o
que vocês condenam. Vocês dizem que Jesus
blasfemou contra Mim, mas Eu aprovo o que Ele fez,
o que disse e o que foi. Vocês pensavam que
poderiam levá-Lo à morte. Na cruz, Ele sofreu a
perseguição de vocês e depois consumou Minha
redenção. Eu aprovo Sua obra redentora. Ele
consumou a redenção que planejei na eternidade
passada. Não só vindico a Ele e Sua obra, como
482
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

também os aprovo”.
De acordo com João 10 o Senhor Jesus entregou
Sua vida e a retomou pelo mandamento de Deus.
Deus ordenou que Ele entregasse Sua vida. Por isso
Deus veio para vindicar e aprovar o Senhor Jesus e
Sua obra. Novamente Deus parecia dizer: “Se não
aprovasse Jesus de Nazaré, Eu O teria deixado no
Hades. Depois de sepultado, Ele foi ao Hades, mas
Eu O ressuscitei do Hades e do túmulo para
proclamar a vocês que aprovo o que Ele fez e O
vindico”. Assim, ressuscitando o Senhor Jesus, Deus
silenciou os que condenaram o Salvador-Homem.

Uma prova de nossa justificação por Deus


A ressurreição de Cristo, como vindicação de
Deus, é prova de que Deus nos justificou. Romanos
4:25 diz que Cristo “foi entregue por causa das nossas
transgressões, e ressuscitou por causa da nossa
justificação”. A morte de Cristo satisfez plenamente
as justas exigências de Deus, de modo que podemos
ser justificados por Ele por meio da morte de Cristo
(Rm 3:24). Sua ressurreição é prova de que Deus está
satisfeito com Sua morte por nós e que somos
justificados por Deus por causa de Sua morte. Nele, o
Ressuscitado, somos aceitos por Deus. Por isso
Romanos 4:25 diz que Cristo foi ressuscitado por
causa de nossa justificação.
Suponha que Cristo tivesse morri do por nós e
nossos pecados, e tivesse sido sepultado, mas não
tivesse sido ressuscitado por Deus. Se fosse assim,
você ainda poderia crer que Sua morte foi aceita por
Deus? Você poderia crer que Sua morte satisfez as
exigências de Deus e cumpriu Seu desejo? Não
poderíamos crer nisso se Cristo ainda estivesse no
48
MENSAGEM SETENTA

túmulo. Entretanto o Salvador-Homem não está no


túmulo. Deus O ressuscitou dos mortos e Ele voltou
em ressurreição. Essa é uma prova categórica de que
Deus aceitou Sua morte por nós, que Sua morte
satisfez as exigências divinas e cumpriu tudo o que
Deus queria que Ele fizesse por nós.
Vamos usar como ilustração o pagamento de um
débito. Suponha que você deva a alguém grande
soma e não é capaz de pagar. Mas um amigo rico seu
intervém para pagar por você, depois lhe dá o recibo
como prova do pagamento. Quando vê o recibo com a
assinatura do credor indicando que o débito foi
totalmente pago, você fica contente, sabendo que foi
liberado da dívida.
Como pecadores, estávamos em débito com
Deus, mas Cristo morreu na cruz por nossos pecados.
Como podemos saber que Deus nos perdoou? Pelo
fato de ter ressuscitado Cristo dentre os mortos. A
ressurreição de Cristo é para nossa justificação.
Como sabemos que Deus nos justificou, que nos
aceitou? Pelo fato de Deus ter ressuscitado Cristo
dentre os mortos. A ressurreição de Cristo é a prova
de que Deus nos justificou. A ressurreição de Cristo é
prova categórica de que as exigências de Deus foram
satisfeitas pela morte de Cristo e Ele O aceitou como
nosso Redentor. A ressurreição de Cristo é o recibo, a
prova de que nosso débito foi pago. Louvado seja o
Senhor pelo “recibo” do Cristo ressurreto!
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SETENTA E UM

A RESSURREIÇÃO DO SALVADOR-HOMEM
(2)
Leitura Bíblica: At 2:24; 3:15; Rm 4:25; At 10:41;
Jo 10:15, 17-18; Hb 2:14; 1Co 15:52-54;Jo 13:31-32;
17:1; Lc24:26;Jo 12:24

Nesta mensagem continuaremos a considerar o


aspecto objetivo da ressurreição do Salvador-Homem.
Vimos que a ressurreição do Senhor foi prova de que
Deus vindicou e aprovou Cristo e Sua obra redentora
todo-inclusiva. Agora precisamos ver que a
ressurreição de Cristo foi também o sucesso do
Salvador-Homem em todas as Suas realizações.

O SUCESSO DO SALVADOR-HOMEM EM
TODAS AS
SUAS REALIZAÇÕES
As pessoas sempre se gabam de seu sucesso, mas
não importa quão bem sucedida uma pessoa seja na
vida, ela perde tudo quando morre. Isso quer dizer
que a morte é o fim do sucesso de alguém.
Essa com certeza foi a situação do rico na
parábola em 12:16-21. Ele disse a si mesmo:
“Derrubarei os meus celeiros e construirei outros
maiores, e ali recolherei todo o meu trigo e os meus
bens. E direi à minha alma: Alma, tens em depósito
muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe,
regala-te” (vs. 18-19). Deus, porém, lhe disse:
“Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que
tens preparado, para quem será?” (v. 20). O rico foi
486
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

bem sucedido, mas, quando morreu, seu sucesso se


foi.

O Senhor ressuscitou dentre os mortos


O sucesso do Salvador-Homem em Suas
realizações foi provado por Sua ressurreição dentre
os mortos. Por um lado, o Novo Testamento diz que
Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos (At 3:15);
por outro, também diz que Cristo ressurgiu (At 10:41).
Sobre o Senhor como homem, o Novo Testamento
nos diz que Deus O ressuscitou dentre os mortos (Rm
8:11), mas, considerando-O como Deus, o Novo
Testamento declara que Ele mesmo ressurgiu (Rm
14:9). Deus ressuscitou Cristo como prova de Sua
vindicação e aprovação do Senhor e Sua obra, mas,
como prova do Seu sucesso em Suas realizações, o
Senhor Jesus ressurgiu dentre os mortos.
Em Atos 10:41 Pedro diz que os discípulos
comeram e beberam com Cristo “depois que
ressurgiu dentre os mortos”. Depois da crucificação e
sepultamento do Senhor, Pedro e os demais ficaram
profundamente desapontados. Talvez tenham dito
um ao outro: “Que fazer? Agora que o Senhor foi
crucificado .. e sepultado, não conseguimos fazer
nada. Tudo está acabado”. O motivo de os discípulos
se sentirem assim é que nada aniquila mais o sucesso
de alguém do que o sepultamento. O Senhor Jesus,
porém, não permaneceu no túmulo. No terceiro dia,
Ele ressurgiu e apareceu aos discípulos.
Quando o Senhor Jesus apareceu aos discípulos,
como registra Lucas 24, Ele lhes disse: “Tendes aqui
alguma coisa que comer? Então Lhe apresentaram
um pedaço de peixe assado. E, tomando-o, comeu na
presença deles” (vs. 41-43). Aqui o Senhor parecia
48
MENSAGEM SETENTA E UM

dizer: “Gostaria de comer com vocês. Vocês têm algo


de comer? Gostaria também de cuidar da fome de
vocês”.
De acordo com o Novo Testamento, o Senhor
Jesus apareceu aos discípulos no dia de Sua
ressurreição para fazer duas coisas principais:
primeiro, soprar neles o Espírito (Jo 20:22); segundo,
comer com eles (Lc 24:41- 43). Incapaz de se
esquecer do que aconteceu no dia da ressurreição,
Pedro disse aos da casa de Comélio que o Senhor
Jesus ressurgiu e os discípulos comeram e beberam
com Ele. Eles tiveram uma festa com o Salvador-
Homem ressurreto. Sua ressurreição foi clara
evidência de Seu sucesso. Por causa disso não houve
necessidade de os discípulos ficarem desapontados.
488
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

O Senhor entregou Sua vida


Em João 10 vemos que na verdade o Senhor
Jesus não foi morto; antes, Ele entregou Sua vida.
Em João 10:15 Ele disse: “Dou a Minha vida pelas
ovelhas”. Então, em 10:17- 18, Ele continua: “Por isso
o Pai Me ama, porque Eu dou a Minha vida para a
reassumir. Ninguém a tira de Mim; pelo contrário,
Eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a
entregar e também para reavê-la. Esse mandamento
recebi de Meu Pai”. Quando apareceu aos discípulos
depois de ressurgir, Ele pode ter dito algo assim:
“Minha ressurreição é a prova de Meu sucesso. Não
fui morto; Eu entreguei Minha vida. Se Eu não
estivesse disposto a entregá-la, ninguém seria capaz
de Me fazer nada. Eu a entreguei conforme a
ordenação de Meu Pai, e depois de três dias a retomei.
O Pai ordenou-Me entregá-la por vocês e Eu o fiz. Ele
então Me ordenou ressurgir e Eu ressurgi. Agora,
como prova de Meu sucesso, estou aqui com vocês”.

Sinal de Seu grande sucesso


De fato, o Senhor Jesus não foi morto; Ele
entregou Sua vida. Depois Ele ressurgiu e reassumiu
Sua vida. Assim, Sua ressurreição foi o sucesso do
Salvador-Homem em todas as Suas realizações. Ele
nada fez em vão. Tudo o que fez foi selado e
confirmado pela ressurreição. Se tivesse feito tantas
coisas durante a vida, mas não tivesse ressurgido
dentre os mortos, Sua permanência no túmulo teria
sido sinal de fracasso; porém Seu ressurgir é a
evidência de Seu grande sucesso em tudo o que fez.
Deus O ressuscitou para vindicação e aprovação, mas
o próprio Senhor ressurgiu como sinal de Seu
48
MENSAGEM SETENTA E UM

sucesso.

A VITÓRIA DO SALVADOR-HOMEM SOBRE


A MORTE,
SATANÁS, O HADES E A SEPULTURA
A ressurreição do Salvador-Homem foi também
Sua vitória sobre a morte, Satanás, o Hades e a
sepultura (At 2:24). Satanás, morte, Hades e
sepultura formam um grupo. O Salvador-Homem
não foi somente vindicado por Deus e provado para
ser um sucesso em Suas realizações, mas foi vitorioso
sobre a morte, Satanás, o Hades e a sepultura, tudo o
que consiste grande preocupação e problema para
nós. O Salvador-Homem venceu a morte e destruiu
Satanás (Hb 2:14). As chaves da morte e do Hades
estão agora em Sua mão (Ap 1:18), e Ele é vitorioso
sobre a sepultura.
Segunda Timóteo 1:10 diz que Cristo “destruiu a
morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade,
mediante o evangelho”. Cristo destruiu a morte,
tornando-a ineficaz, por meio de Sua morte que
destrói o diabo (Hb 2:14) e ressurreição que engole a
morte (1Co 15:52-54). O evangelho nos transmite a
revelação de que Cristo destruiu a morte e trouxe-nos
vida indestrutível e eterna.
Cristo foi manifestado para destruir a morte e
introduzir vida eterna, indestrutível. Ele não só
derrotou a morte; Ele a destruiu. Por meio de Sua
ressurreição, a morte se tomou ineficaz; ela perdeu
seu poder, até mesmo seu gosto. Cristo pôde destruí-
la porque destruiu o diabo, o que tem o poder da
morte. É claro, ao vencer Satanás e destruir a morte,
Ele também derrotou o Hades e a sepultura. Por isso
a ressurreição de Cristo declara que Ele é vitorioso
490
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

sobre a morte, Satanás, o Hades e a sepultura. Eles já


não são um problema. Por isso a ressurreição de
Cristo não foi somente a vindicação de Deus e o
sucesso do Senhor, mas também Sua vitória sobre a
morte, Satanás, o Hades e a sepultura. Cristo, por
meio de Sua ressurreição, tomou esse grupo de coisas
ineficaz.

A GLORIFICAÇÃO DO SALVADOR-HOMEM
Além disso, a ressurreição do Salvador-Homem
foi Sua glorificação (Jo 13:31-32; 17:1; Lc 24:26).
Porquanto essa questão é difícil de compreender e
definir, seria útil usar a ilustração do grão de trigo.
Quando é semeado na terra, o grão “morre”, mas ao
mesmo tempo cresce. Se não for semeado no solo, o
grão de trigo não vai morrer nem crescer, mas uma
semente colocada no solo, por fim, é glorificada por
meio do crescimento.
O princípio é o mesmo com outras sementes
como, por exemplo, uma semente de cravo. Como o
grão de trigo, a semente de cravo morre no solo, mas
posteriormente cresce, ressurge da terra e floresce. O
flores cimento de uma flor de cravo é sua glorificação.
Por isso a semente de cravo é plenamente glorificada
no flores cimento da flor de cravo.
De acordo com Sua palavra em João 12:24, o
Senhor Jesus era um grão de trigo que caiu na terra e
morreu, mas, enquanto morria no solo, Ele também
crescia. Por fim, em ressurreição, Ele “floresceu” e
gerou muitos grãos, que são Sua glorificação.
O trigo que cresce no campo é a glorificação de
todos os grãos de trigo semeados ali. Espigas de trigo
maduras são descritas como “espigas douradas de
cereal”. Está chegando a hora quando no universo
49
MENSAGEM SETENTA E UM

haverá um “campo” cheio de espigas douradas de


cereal. Deus então será capaz de dizer: “Satanás, olhe
para este campo. Essa é a glorificação de Meu Filho,
Jesus Cristo”. Mesmo hoje, na vida da igreja
adequada, podemos ter uma miniatura dessa
glorificação.

A casca do Salvador-Homem foi quebrada por


meio da morte
Como grão de trigo, o Senhor Jesus tinha uma
“casca” humana. Para Ele ser glorificado (Jo 12:23),
foi necessário que Sua vida divina fosse liberada de
dentro da casca de Sua humanidade para produzir
muitos crentes em ressurreição (1Pe 1:3). Por meio
de Sua morte na cruz, a casca de Sua humanidade foi
quebrada.

A vida divina do Salvador-Homem foi


liberada
Quando a casca da humanidade do Senhor foi
quebrada na cruz, a vida divina Nele foi liberada em
ressurreição. A liberação da vida e natureza divinas
de dentro do Senhor como grão de trigo foi Sua
glorificação, pela qual Ele orou em João 17:1: “Pai, é
chegada a hora; glorifica a Teu Filho, para que o
Filho Te glorifique a Ti”.
Quando o Senhor Jesus se encarnou, Ele Se
revestiu da humanidade. Isso quer dizer que não era
mais meramente Deus porque, por meio da
encarnação, tornou-se o Homem-Deus, tendo
divindade e humanidade. Além disso, era necessário
que Sua humanidade fosse introduzi da na divindade.
A introdução da humanidade do Senhor em Sua
492
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

divindade foi Sua glorificação. De acordo com a


revelação do Novo Testamento, quando ressuscitou
dentre os mortos, o Senhor Jesus ressuscitou com
Sua divindade e com Sua humanidade. Isso quer
dizer que ressuscitou como o Homem-Deus. Essa
ressurreição da humanidade do Senhor foi Sua
glorificação.
O homem Jesus foi glorificado por meio de Sua
ressurreição. Não só foi o Filho de Deus glorificado
ao ser liberado de dentro da casca da humanidade do
Senhor, mas o homem Jesus foi também glorificado.
Ele foi glorificado quando Sua humanidade foi
introduzida na divindade. Aleluia, agora há um
homem na glória!
Quando alguns ouvem que o homem Jesus agora
está na glória, podem entender que isso quer dizer
que Ele está nos céus. Todavia Lucas 24:26 indica
que Ele entrou na glória mesmo antes da ascensão.
Enquanto estava a caminho de Emaús, Ele disse:
“Não era necessário que o Cristo sofresse essas coisas
e entrasse na Sua glória?”. Isso se refere à Sua
ressurreição, que O introduziu na glória (1Co 15:43;
At 3:13a,15a). A ressurreição do Salvador-Homem foi
Sua entrada na glória. Por isso a glorificação significa
não só que o Filho de Deus foi liberado de Sua casca
humana, mas também que Sua humanidade foi
introduzida na divindade. Você alguma vez ouviu
uma mensagem dizendo-Lhe que seu Salvador foi
glorificado quando Sua humanidade foi introduzi da
na divindade? Os cristãos sempre ouvem que Cristo
tem glória principalmente porque é grandioso.
Todavia a Bíblia revela que o Senhor Jesus tornou-se
homem de condição social inferior. Em Sua
ressurreição, Sua humanidade de condição inferior
49
MENSAGEM SETENTA E UM

foi introduzida na divindade e essa foi Sua


glorificação. Ele não só tinha honra, dignidade e
glória; Sua ressurreição foi Sua glorificação.

O nascimento do Primogênito de Deus


A glorificação do Salvador-Homem foi também
Seu nascimento como Primogênito de Deus. Atos
13:33 revela que, para o homem Jesus, a ressurreição
foi um nascimento. Ele foi gerado por Deus em Sua
ressurreição para ser o Primogênito de Deus entre
muitos irmãos (Rm 8:29). Ele era o Unigênito de
Deus desde a eternidade (Jo 1:18; 3:16). Depois da
encarnação e por meio da ressurreição, Ele foi gerado
por Deus em Sua humanidade para ser o Primogênito
de Deus.
Desde a eternidade, Cristo era o Unigênito de
Deus. Porém no Novo Testamento é-nos dito que, no
dia de Sua ressurreição, Ele foi gerado por Deus. Isso
foi até profetizado no salmo 2:7. Em ressurreição,
Deus gerou Jesus para ser Seu Primogênito.
A palavra “primogênito” indica que haverá
outros filhos. Hebreus 2:10 fala de muitos filhos e
Romanos 8:29, de muitos irmãos. Em ressurreição, o
Senhor veio a Seus irmãos, que compunham Sua
igreja, e declarou-lhes o nome do Pai (Hb 2:12).
Por meio da encarnação, o Unigênito de Deus
revestiu- Se de humanidade e tomou-se o Homem-
Deus. Então, em ressurreição, esse Homem-Deus
nasceu de Deus para ser Seu Primogênito.
É importante perceber que, antes da encarnação,
o Unigênito de Deus não tinha a natureza humana,
somente a divina. Todavia, em ressurreição, o
Primogênito de Deus tem a natureza humana e a
divina. Como crentes em Cristo, somos todos filhos
494
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

de Deus e irmãos do Primogênito. Por meio da


encarnação, temos a natureza divina (2Pe 1:40).
Embora sejamos seres humanos, agora temos a
natureza divina. Embora o Senhor Jesus seja divino,
Ele também tem a natureza humana. Por isso tanto o
Senhor Jesus como nós somos o mesmo no sentido
de que tanto Ele como nós temos a natureza humana
e a divina. Louvamos ao Senhor porque, em
ressurreição, Ele nasceu de Deus para ser Seu
Primogênito. Sua ressurreição foi a liberação da vida
e natureza divinas e, por meio dessa liberação, Ele foi
gerado o Primogênito de Deus.
Somos gratos ao Senhor por nos mostrar todos
os itens relacionados com o aspecto objetivo da
ressurreição do Salvador-Homem. Sua ressurreição
foi a vindicação e aprovação de Deus, foi a evidência
de Seu sucesso, foi Sua vitória sobre a morte, Satanás,
Hades e a sepultura, e foi Sua glorificação. Por meio
de Sua ressurreição, a morte foi aniquilada, Satanás
foi derrotado e a humanidade foi introduzida na
divindade. Louvado seja o Senhor por Sua
ressurreição! Que o Senhor nos dê novos hinos e
cânticos escritos de acordo com a luz que Ele nos deu
pela Palavra de modo que O louvemos de maneira
mais rica, elevada e plena.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SETENTA E DOIS

A RESSURREIÇÃO DO SALVADOR-HOMEM
(3)
Leitura Bíblica:1Co 15:45b; Jo 14:16-20; 12:24b;
1Pe 1:3; Ef20-23

Nas duas mensagens anteriores abordamos o


aspecto objetivo da ressurreição do Salvador-Homem.
Com esta mensagem, chegamos ao aspecto subjetivo
de Sua ressurreição.

A TRANSFIGURAÇÃO DO SALVADOR-
HOMEM
EM ESPÍRITO QUE DÁ VIDA
PARA ENTRAR EM SEUS CRENTES
O primeiro item do aspecto subjetivo da
ressurreição do Salvador-Homem é que ela foi Sua
transfiguração no Espírito que dá vida a fim de entrar
em Seus crentes (1Co 15:45b; Jo 14:16-20). A
ressurreição de Cristo como Sua transfiguração é
difícil de explicar porque envolve a Trindade divina.

Um ensinamento errôneo sobre o Deus


Triúno
Deus é triúno. Os ensinamentos tradicionais
sobre a Trindade têm dado a impressão de que o Pai,
o Filho e o Espírito - os três da Divindade - são
separados. De acordo com essa compreensão,
quando o Filho veio à terra, o Pai foi deixado no
trono no céu. Sabemos pelo Evangelho de João que,
496
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

quando o Filho estava para morrer, disse aos


discípulos que pediria que o Pai enviasse o Espírito,
que chegou no dia do Pentecostes. Entretanto alguns
supõem que, quando Espírito veio no Pentecostes, o
Filho permaneceu com o Pai no trono. Por isso, de
acordo com esse ensinamento, que é muito
superficial e longe de ser exato, quando o Filho veio
como homem, Ele deixou o Pai no trono. O Filho
então viveu na terra por trinta e três anos e meio,
morreu, ressuscitou e ascendeu aos céus. Depois
disso, o Pai enviou o Espírito Santo no dia de
Pentecostes. Quando o Espírito Santo veio, Ele
deixou o Pai e o Filho nos céus. Esse tipo de
ensinamento dá uma impressão muito errônea sobre
o Deus Triúno.

O Filho veio com o Pai


O Novo Testamento revela que, quando o Filho
veio, veio com o Pai. Sobre isso, João 8:29 diz: “E
Aquele que Me enviou está Comigo, não Me deixou
só, porque Eu faço sempre o que Lhe agrada”.
Quando o Filho estava na terra, não estava sozinho
porque o Pai estava com Ele: “Não estou só, porque o
Pai está Comigo” (Jo 16:32). O Senhor Jesus até disse
aos discípulos que Ele estava no Pai e o Pai estava
Nele: “Crede-Me que estou no Pai, e o Pai está em
Mim” (Jo 14:11a). O fato de o Filho estar no Pai e o
Pai estar no Filho é questão de coinerência, uma
palavra que precisamos conhecer para expressar a
verdade mais profunda sobre o Deus Triúno revelada
nas Escrituras.
Uma vez que o Filho veio com o Pai e o Pai
estava no Filho, não é correto dizer que o Filho
deixou o Pai no trono nos céus quando veio à terra.
49
MENSAGEM SETENTA E DOIS

Na verdade, é herético ensinar que o Filho veio sem o


Pai. No Evangelho de João vemos que o Filho foi
enviado “de com” o Pai, isto é, não só do Pai, mas
também com Ele. Em João 6:46 o Senhor Jesus
disse: “Não que alguém tenha visto o Pai, salvo
Aquele que vem de Deus: este O tem visto”. A
preposição grega “de” nesse versículo é pará, ao lado
de, cujo sentido é “de com”. O Senhor Jesus não
apenas procede do Pai, mas também está com o Pai.
A mesma ideia está em João 7:29; 16:27 e 17:8. Visto
que o Filho foi enviado de com o Pai, este veio
quando o Filho veio. Além disso, quando o Filho
estava na terra, o Pai não só estava com Ele, mas
também Nele, como o Filho estava no Pai.

O Filho e o Espírito
Além disso, o Espírito Santo foi envolvido na
concepção do Senhor Jesus. Assim, o nascimento de
Cristo foi diretamente do Espírito Santo, porque Sua
mãe, Maria, ficou “grávida pelo Espírito Santo”,
porque o que foi gerado nela era do Espírito Santo
(Mt 1:18, 20). Então, na idade de trinta anos, quando
o Salvador-Homem começou a ministrar, o Espírito
desceu sobre Ele (Lc 3:22). Em Seu ministério, o
Senhor pregou o evangelho pelo Espírito. Em Lucas
4:18, é-nos dito que Ele leu essas palavras de Isaías:
“O Espírito do Senhor está sobre Mim, pelo que Me
ungiu para anunciar o evangelho aos pobres”. A
pregação do Filho foi a obra do Espírito. O Filho
nunca fez nada por Si mesmo. Ele até expulsou
demônios pelo Espírito de Deus (Mt 12:28).

Não separação, mas coinerência


498
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Se colocamos juntos todos esses versículos sobre


o Filho, o Pai e o Espírito, vemos que, quando Jesus
Cristo esteve na terra, Ele era o Deus Triúno. Não só
o Filho estava lá, mas o Pai e o Espírito também
estavam. Assim, Ele é a corporificação da Divindade
(CL2:9). Por isso devemos abandonar a ideia de que
somente o Filho veio à terra, deixando o Pai e o
Espírito nos céus. O que ensinamos sobre o Pai, o
Filho e o Espírito é baseado na pura palavra da Bíblia,
e ela não pode ser derrotada.
Em João 14:8 Filipe, nosso representante, disse:
“Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta”.
Surpreso com esse pedido, o Senhor replicou: “Filipe,
há tanto tempo estou convosco, e não Me tens
conhecido? Quem Me vê a Mim, vê o Pai; como dizes
tu: Mostra-Me o Pai? Não crês que Eu estou no Pai, e
que o Pai está em Mim? As palavras que Eu vos digo
não as falo por Mim mesmo; mas o Pai, que
permanece em Mim, faz as Suas obras” (vs. 9-10). O
Senhor aqui parecia dizer: “Por que você me pede
que lhe mostre o Pai? Não sabe que, se você Me vê, vê
o Pai? Você vê o Pai quando Me vê porque Eu estou
no Pai e o Pai está em Mim. Não pense que estou
separado do Pai ou que o Ele está longe de Mim. Esse
é um conceito errado. Já que estou no Pai e o Pai está
em Mim, onde quer que Eu esteja, Ele está também”.
Filipe calou-se com a resposta do Senhor. Isso
Lhe deu oportunidade para falar mais. Em João
14:16-17 Ele prosseguiu: “E Eu rogarei ao Pai, e Ele
vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para
sempre convosco, o Espírito da realidade, que o
mundo não pode receber, porque não O vê, nem O
conhece; vós O conheceis, porque Ele habita
convosco e estará em vós”. Quando falou essas
49
MENSAGEM SETENTA E DOIS

palavras, Ele estava no meio dos discípulos, mas não


estava neles. Ele parecia dizer-lhes: “Agora estou no
meio de vocês e com vocês, mas a intenção do Deus
Triúno é entrar em vocês. Não é adequado que Eu
esteja com vocês: preciso estar em vocês”. Por isso
Ele disse que pediria ao Pai que lhes desse outro
Consolador, o Espírito da realidade, que estaria neles.
Neste ponto alguns podem dizer: “Você não nos
disse que, uma vez que o Filho está no Pai e o Pai está
no Filho, o Filho e o Pai não podem ser considerados
como separados? Mas em João 14:16 o Filho diz que
Ele pediria ao Pai que lhes desse outro Consolador.
Isso não indica que o Filho e o Pai são separados?”.
Não, isso não indica que o Filho e Pai estão
separados. Já vimos que o próprio Senhor disse que
Ele está no Pai e o Pai está Nele. Isso é questão de
coinerência. Por isso o que temos no pedido do Filho
ao Pai não é separação, mas coinerência.

O outro Consolador, o Espírito da Realidade


É significativo que em João 14:16 o Senhor fale
de outro Consolador. A palavra “outro” indica que o
Senhor, Aquele que fala, é um Consolador. Se não
fosse um Consolador, Ele não teria dito que pediria
ao Pai que enviasse outro. Se lermos os versículos 16-
20 com cuidado, veremos que, por fim, o segundo
Consolador é na verdade o primeiro como o Espírito.
No versículo 17 o Senhor diz que o Espírito da
realidade estaria nos discípulos, mas no versículo 18
Ele prossegue: “Não vos deixarei órfãos, virei a vós”.
O “Ele” (o Espírito da realidade) no versículo 17 se
toma o “Eu” (o próprio Senhor) no versículo 18. Isso
indica que, depois de Sua ressurreição, o Senhor se
tomou o Espírito da realidade, conforme é
500
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

confirmado por 1Coríntios 15:45b. Além disso, o


Senhor fala de outro Consolador no versículo 16 e
depois diz no versículo 20: “Naquele dia vós,
conhecereis que Eu estou em Meu Pai, e vós em Mim,
e Eu em vós”. Aqui o Senhor novamente revela que
Ele próprio estaria nos discípulos como o Espírito.
Se alguns de nós estivessem presentes quando o
Senhor proferiu essas palavras, poderiam ter
discutido com o Senhor Jesus: “Senhor, não sabemos
do que falas. Acabaste de dizer que pedirias ao Pai
que enviasse outro Consolador, o Espírito da
realidade, que estaria em nós. Por que agora dizes
que Tu estarás em nós?”. Se algum dos presentes
tivesse tentado discutir com Ele dessa forma, Ele
poderia ter dito: “Vocês precisam perceber que o
próprio Consolador que denominei de 'outro
Consolador' sou na verdade Eu mesmo em
ressurreição. Já lhes disse que estou no Pai e Ele está
em Mim. O mesmo ocorre Comigo e com o Espírito.
O Espírito está em Mim e Eu estou no Espírito.
Quando Eu venho, o Pai vem e, quando o Espírito
vem, Eu venho”.

O Deus Três em Um
O Pai, o Filho e o Espírito constituem um único
Deus, o Deus Triúno. A palavra “triúno” significa
três-um. Assim, Deus é o Deus “três em um”. Visto
que é triúno, três em um, não devemos pensar que o
Pai, o Filho e o Espírito podem ser separados.
Precisamos sempre lembrar-nos que os Três: o Pai, o
Filho e o Espírito são um só. Entretanto, enquanto
são um, são três ao mesmo tempo.

A consumação extrema do Deus Triúno


50
MENSAGEM SETENTA E DOIS

Na ressurreição de Cristo, o Espírito veio como a


consumação extrema do Deus Triúno. Quando o
Filho veio em encarnação, veio com o Pai e pelo
Espírito. Depois disso, o Filho deu mais um passo ao
passar pela morte e entrar em ressurreição. Esse é o
processo que chamamos de transfiguração do
Salvador-Homem. Passando por esse processo de
transfiguração, o Filho, que veio em encarnação com
o Pai e pelo Espírito, tomou-se o Espírito como a
consumação extrema do Deus Triúno. Não devemos
pensar que, quando o Espírito veio, veio sozinho,
deixando o Filho e o Pai no trono no céu. Não,
quando o Espírito veio, veio como a consumação do
Deus Triúno. Isso quer dizer que, quando o Espírito
veio, o Filho e o Pai vieram com Ele. Os três: o Pai, o
Filho e o Espírito, vieram juntos como o Espírito.

Os elementos introduzidos no Espírito que dá


vida
por meio da transfiguração do Salvador-
Homem
Além disso, quando Deus veio por meio da
encarnação, algo Lhe foi acrescentado: o elemento da
humanidade. Antes da encarnação, o Filho de Deus
era meramente divino, não tinha a natureza humana.
Mas, quando veio por meio da encarnação, foi-Lhe
acrescentada a humanidade. Desse modo, Ele se
tomou um Homem-Deus, uma Pessoa divina e
humana.
Esse Homem-Deus experimentou o viver
humano na terra por trinta e três anos e meio. Depois
Ele foi à cruz e teve uma morte todo-inclusiva. Vimos
que o Salvador-Homem morreu com status sétuplo:
o Cordeiro de Deus, uma serpente na forma, um grão
502
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

de trigo, o último Adão, o Primogênito de toda a


criação, um homem na semelhança de carne do
pecado e o Pacificador. Por causa do status sétuplo
do Senhor em Sua morte, essa foi uma morte todo-
inclusiva.
Depois que esse Homem-Deus passou por essa
morte todo-inclusiva, entrou em ressurreição. Sua
ressurreição foi Sua transfiguração: Ele Se
transfigurou no Espírito que dá vida para entrar nos
crentes. Essa transfiguração incluía diversos
elementos: humanidade, viver humano e a morte
todo-inclusiva de Cristo. Todos esses elementos
foram introduzidos no Espírito que dá vida todo-
inclusivo que se tomou a consumação do Deus
Triúno. Assim como a encarnação acrescentou
humanidade a Deus, a ressurreição do Salvador-
Homem introduziu todos esses elementos no Espírito
que dá vida.
Alguns podem argumentar que nada pode ser
acrescentado a Deus, mas eu lhes pediria que
olhassem o que está retratado no Novo Testamento.
Quando Deus se tomou uni homem, a humanidade
não Lhe foi acrescentada? A encarnação foi um
processo que introduziu Deus na humanidade e
acrescentou humanidade a Deus. De igual modo, a
ressurreição como transfiguração do Salvador-
Homem também foi um processo que introduziu os
elementos da humanidade, viver humano e a morte
todo-inclusiva do homem-Deus com Seu status
sétuplo no Espírito que dá vida como a consumação
do Deus Triúno.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS
MENSAGEM SETENTA E TRÊS

A RESSURREIÇÃO DO SALVADOR-HOMEM
(4)
Leitura Bíblica:1Co 15:45b; Jo 14:16-20; 12:24b;
1Pe 1:3; Ef 1:20-23

Esta mensagem é a continuação da mensagem


anterior, em que começamos a considerar o aspecto
subjetivo da ressurreição do Salvador-Homem. A
primeira questão que vimos relativa a esse aspecto
subjetivo é que Sua ressurreição foi Sua
transfiguração no Espírito que dá vida a fim de entrar
nos crentes (1Co 15:45b; Jo 14:16-20).

O PROCESSO DE RESSURREIÇÃO
A ressurreição do Salvador-Homem foi um
processo iniciado logo após o nascimento do Senhor.
Não devemos pensar, portanto, que Sua ressurreição
começou no terceiro dia após a crucificação.
Se considerarmos o Novo Testamento como um
todo, perceberemos que a ressurreição começa com a
morte. Pelos trinta e três anos e meio do viver
humano do Senhor na terra, Ele experimentou morte
- morte para Si mesmo e para todas as coisas além de
Deus. Assim, a vida que Ele viveu foi uma vida sob o
operar da morte.
Em Lucas 12:50 o Salvador-Homem indicou que
estava constrangido e desejava ser liberado: “Tenho,
porém, um batismo com que ser batizado; e como Me
angustio até que se realize!”. A palavra grega
traduzida por “angustiar- se” pode também ser
50
MENSAGEM SETENTA E TRÊS

traduzida como “constringir-se”. O Salvador-Homem


estava constrito em Sua carne, da qual Se revestira
por meio da encarnação, por isso precisava morrer,
ser batizado na morte fisica, a fim de que Seu ser
divino ilimitado e infinito com Sua vida divina
pudesse ser liberado Dele. O ponto aqui é que Ele
vivia uma vida sob o operar da morte para Si mesmo
e esse tipo de viver está relacionado com o processo
de ressurreição.
Como ilustração de que a ressurreição começa
com a morte, vamos considerar outra vez a palavra
do Senhor sobre Si mesmo como grão de trigo: “Em
verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo não
cair na terra e morrer, fica ele só; mas se morrer,
produz muito fruto” (Jo 12:24). Quando um grão de
trigo é semeado, ele morre, mas, enquanto morre, ele
também cresce. O estranho é isto: se não morrer, o
grão não cresce. Suponha que um grão de trigo seja
colocado numa mesa e deixado lá. Esse grão não vai
morrer e também não vai crescer. Para que cresça,
ele precisa ser posto no solo para morrer. Ele cresce
morrendo. Sem morrer, o grão de trigo nunca
crescerá.
Agora precisamos ver que a ressurreição de um
grão de trigo não começa quando o trigo brota do
solo. Quando um grão brota dessa forma, alguém
pode dizer: “Veja! Podemos ver a ressurreição do
grão de trigo”. Não é errado dizer que o brotar de um
grão é questão de ressurreição, mas o que
ressaltamos aqui é que a ressurreição de um grão de
trigo não começa com seu brotar; começa muito
antes disso. A ressurreição de um grão de trigo
começa com sua morte.
Pela ilustração do morrer e crescer de um grão
506
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

de trigo, podemos ver que, enquanto morria, Cristo


ressurgia. Quando começou a ressurreição de Cristo?
Não devemos dizer que começou três dias depois de
Sua crucificação. De acordo com a figura de um grão
de trigo morrendo e crescendo, a ressurreição de
Cristo começou enquanto Ele morria. Ele Se
comparou com um grão de trigo caindo no solo para
morrer de modo que muitos grãos fossem gerados. O
Senhor Jesus, como o grão de trigo, crescia, brotava e
ressurgia até mesmo enquanto morria

MORRER PARA VIVER


Agora que temos o princípio de que o processo
da ressurreição do Salvador-Homem começou
enquanto Ele morria, precisamos perguntar quando
o Senhor Jesus morreu. Ele morreu somente no dia
do Pentecostes? O Novo Testamento indica que Ele
começou a morrer logo depois que nasceu. Em Seus
anos na terra, Ele morria para viver. Cada momento
de cada dia, Ele morria. Isso quer dizer que enquanto
vivia no lar de um pobre carpinteiro, Ele morria. O
processo de Sua ressurreição começou quando Ele
morria.
É significativo que o Senhor Jesus tenha dito:
“Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11:25). Ele não
disse que é a vida e a ressurreição; primeiro disse que
é a ressurreição e depois a vida. Por que a
ressurreição vem primeiro em João 11:25? A
ressurreição é mencionada primeiro nesse versículo
porque, em toda a Sua vida, o Senhor Jesus morria e
ressuscitava.
Quando o Senhor Jesus disse a Marta que seu
irmão ressuscitaria, ela replicou: “Eu sei que ele há
de ressurgir na ressurreição, no último dia” (Jo
50
MENSAGEM SETENTA E TRÊS

11:24). Marta aqui prolongou a ressurreição para um


futuro distante, para uma época logo antes do
milênio. Por isso o Senhor Jesus lhe disse: “Eu sou a
ressurreição e a vida”. O Senhor indicava que Ele é a
ressurreição agora, a ressurreição no presente. Ele
não disse: “Eu serei a ressurreição”, mas disse: “Eu
sou a ressurreição”. O Senhor pôde dizer isso porque,
enquanto vivia na vida humana, Ele ressurgia por
meio da morte.
Quando a morte do Senhor começou? Começou
logo depois que nasceu. Quando Sua ressurreição
começou? Começou com Seu morrer. O Salvador-
Homem morria para viver; Ele viveu morrendo.
A vida do Senhor na terra por trinta e três anos e
meio foi de morrer para viver, uma vida de viver
morrendo. Por fim, Sua morte foi completada na cruz
e Sua ressurreição foi completada no terceiro dia
depois da crucificação. Houve um início de Sua morte
e também uma completação dela. De modo
semelhante, houve um início de Sua ressurreição e
uma completação dela. Encorajo vocês a levar esse
ponto ao Senhor em oração.
Louvado seja o Senhor por Ele ser um Salvador-
Homem que morre para viver e também um
Salvador-Homem que vive morrendo! Enquanto
vivia, Ele morria e, enquanto morria, Ele vivia.
Podemos até dizer que, enquanto morria, Ele
ressurgia. Seus trinta e três anos e meio na terra
foram um longo processo de morte e também de
ressurreição. Com Ele, ressurreição e morte andavam
juntas.
De acordo com minha opinião, podemos pensar
que o Senhor Jesus devia ter dito a Marta: “Você não
sabe que Eu sou a vida? Um dia morrerei e então Eu
508
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

serei a ressurreição”. Entretanto o Senhor disse que


era a ressurreição e a vida. O fato de Ele ser a
ressurreição prova que era também vida. Se não
estivesse ressurgindo, Ele não teria sido capaz de
viver.
Depois que nasce, uma pessoa começa a viver ou
a morrer? Na verdade, tão logo um ser humano nasce,
ele começa a morrer. A morte, portanto, não vem por
acidente. Pelo contrário, ela vem como um processo.
Para alguns, esse processo é breve; para outros, é
muito longo, mas, seja qual for o caso, todos os
incrédulos estão no processo de morrer.
Qual é nossa situação como crentes? Estamos
morrendo ou vivendo? Hoje nós, crentes, morremos
para viver e vivemos morrendo. Os incrédulos
somente têm o processo de morrer, mas nós temos o
morrer e o viver. Na verdade, quanto mais morremos,
mais somos ressuscitados.

RESSURREIÇÃO COMO UM PROCESSO


DE TRANSFIGURAÇÃO
Na mensagem anterior enfatizamos que, por
meio da encarnação, a humanidade foi acrescentada
a Deus. Em outras palavras, por meio do processo de
encarnação, Deus revestiu-Se de humanidade. De
igual modo, no processo de ressurreição certos
elementos foram colocados no Espírito, elementos
esses que incluem o viver humano e a morte todo-
inclusiva do Senhor. Por isso a ressurreição foi um
processo de transfiguração no qual esses elementos
foram colocados no Espírito todo-inclusivo que dá
vida. Esse é o Espírito que entrou nos crentes.

O DEUS TRIÚNO HABITA EM NÓS


50
MENSAGEM SETENTA E TRÊS

Para compreender a ressurreição do Salvador-


Homem como Sua transfiguração em Espírito que dá
vida, precisamos reler João 14:10-20 com cuidado.
Em João 14 vemos que, quando o Filho veio, o Pai
estava Nele. Além disso, quando o Espírito vem, o
Filho está com Ele. Assim, o Espírito vem como a
consumação do Deus Triúno. Isso quer dizer que o
Espírito vem como o Deus Triúno. Quando o Espírito
vem, o Deus Triúno também vem.
Na Bíblia a palavra hebraica para Espírito é
ruach; a palavra grega é pneúma. As duas palavras
denotam espírito, sopro, ar. Podemos dizer que o
Deus Triúno processado é como o ar: tão acessível
para nós quanto inalar. Agora podemos compreender
por que Romanos 10:8 diz que a palavra não está
longe de nós, mas muito próxima, na boca e no
coração. Quando reconhecemos isso e reagimos
invocando o Senhor Jesus, Ele entra em nós.
Quando o Senhor está em nós, o Espírito, o Filho
e o Pai também estão. O ar espiritual que inalamos é
na verdade o Deus Triúno. Às vezes, quando pondero
sobre isso, fico fora de mim mesmo de alegria no
Senhor.
Você sabe onde o Deus Triúno está? Ele está
agora em nós! Isso está de acordo com a palavra do
Senhor em João 14. Ele disse que pediria ao Pai para
nos dar outro Consolador, o Espírito da realidade,
que estaria em nós, mas, por fim, o Senhor disse que
Ele próprio estaria em nós (v. 20). Com a revelação
em João 14, vemos que o Deus Triúno agora habita
em nós.

O DEUS TRIÚNO DISPENSADO AO HOMEM


TRIPARTIDO
510
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Em nosso estudo da Bíblia precisamos prestar


muita atenção a trechos como João 14:10-20.
Devemos prestar muito mais atenção a versículos
como esses do que a versículos que falam sobre o
marido amar a mulher e a mulher submeter-se ao
marido. O que temos em João 14:10-20 ultrapassa
em muito nosso conceito natural, que é facilmente
ocupado por ensinamentos sobre amor, submissão e
humildade. Em João 14, entretanto, o Senhor nada
diz sobre ser humilde, sobre a mulher submeter-se ao
marido e o marido amar a mulher. Aqui Ele fala
sobre Si mesmo, sobre o Pai e sobre o Consolador.
Por isso precisamos prestar muita atenção a essa
revelação.
Antes de ser salvo, estudei os escritos de
Confúcio, que tinha muito a dizer sobre a submissão
da mulher ao marido. Na verdade, enquanto a Bíblia
ensina a esposa a ter submissão unilateral, Confúcio
ensina submissão trilateral. Quando li a Bíblia pela
primeira vez depois de salvo, ainda estava sob a
influência desses ensinamentos, mas posteriormente
aprendi a prestar atenção ao que a Bíblia revela sobre
o Deus Triúno dispensando-Se ao homem tripartido.
Esse é o tema principal de todo o meu ministério.
Esse é o ponto central de todas as minhas mensagens
nas conferências e treinamentos. Encorajo todos os
santos a dar atenção à questão crucial do Deus
Triúno dispensando-Se ao homem tripartido e falar
disso a outros.
Você sabe o que é revelado em João 14:10-20?
Aqui temos uma revelação do Deus Triúno
dispensado ao homem tripartido. Sobre isso, João
14:20 diz: “Naquele dia vós conhecereis que Eu estou
em Meu Pai, e vós em Mim, e Eu em vós”. Nesse
51
MENSAGEM SETENTA E TRÊS

versículo, o “vós” é o homem tripartido e o “Eu” é o


Deus Triúno. Por isso “Eu em vós” indica que o Deus
Triúno está no homem tripartido. É claro, a fim de
ver isso em plenitude, precisaríamos de um estudo
completo do Novo Testamento.
Para o Deus Triúno estar no homem tripartido,
era necessário que passasse por certos processos:
encarnação, viver humano, morte e ressurreição.
Tendo passado por esses processos, o Deus Triúno já
não está apenas no trono, mas também em nós. Que
maravilha! A ressurreição do Salvador-Homem foi
Sua transfiguração no Espírito que dá vida e, como
esse Espírito, Ele habita agora em nós.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SETENTA E QUATRO


A RESSURREIÇÃO DO SALVADOR-HOMEM
(5)
Leitura Bíblica:1Co 15:45b;Jo 14:16-20; 12:24b;
1Pe 1:3; Ef 1:20-23

Nesta mensagem consideraremos mais o aspecto


subjetivo da ressurreição do Salvador-Homem.
Vimos que Sua ressurreição foi Sua transfiguração no
Espírito que dá vida afim de entrar nos crentes (1Co
15:45b;Jo 14:16-20). Agora veremos que Sua
ressurreição também envolveu a germinação e a
propagação.

O SALVADOR-HOMEM GERMINOU
EM NOVA CRIAÇÃO PARA TRANSMITIR
A VIDA DIVINA AOS CRENTES PARA
REGENERÁ-LOS
Em João 12:24 o Senhor Jesus diz que, se um
grão de trigo cair no chão e morrer, dá muito fruto.
Isso é questão de germinação por meio da
ressurreição. Sobre isso Pedro diz:
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo que [ ... ] nos regenerou para uma viva
esperança mediante a ressurreição de Jesus Cristo
dentre os mortos” (1Pe 1:3). Quando Cristo foi
ressuscitado, nós, Seus crentes, fomos todos
incluídos Nele. Assim, fomos ressuscitados com Ele
(Ef2:6). Em Sua ressurreição, Ele nos transmitiu a
vida divina e nos fez o mesmo que Ele em vida e
natureza.
514
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Os mortos ouvem o evangelho e germinam


Na mensagem anterior enfatizamos que todos os
seres humanos caídos estão morrendo. Uma pessoa
começa a morrer desde o nascimento. Embora
digamos que as pessoas estão morrendo, a Bíblia
revela que os pecadores já estão mortos. Efésios 2:1,5
diz que, como pecadores, estávamos mortos em
ofensas e pecados. Colossenses 2:13 também fala que
estávamos mortos em ofensas. Nesses versículos
Deus parece dizer: “Vocês podem pensar que os seres
humanos vivem. Vocês estão errados. Os seres
humanos caídos não vivem: eles estão mortos”.
Em João 5:25 vemos que, quando pregamos o
evangelho, na verdade pregamos aos que estão
espiritualmente mortos: “Em verdade, em verdade
vos digo que vem a hora, e já chegou, em que os
mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a
ouvirem, viverão”. Aqui vemos um ponto positivo: os
espiritualmente mortos ainda têm ouvidos para ouvir
a voz do Filho de Deus. Isso quer dizer que os mortos
em espírito ainda são capazes de ouvir o evangelho.
Por um lado, a Bíblia nos diz que os seres humanos
caídos estão mortos; por outro, diz que até mesmo os
espiritualmente mortos podem ouvir o evangelho. É
misericórdia e soberania de Deus que os mortos
tenham ouvidos para ouvir o evangelho.
Quando uma pessoa espiritualmente morta ouve
o evangelho, pode dizer: “Eu creio em Jesus, eu O
amo”. Ela então invoca o nome do Senhor Jesus, a
vida divina lhe é transmitida e ela germina para se
tornar nova criação.

Tornam-se nova criação


51
MENSAGEM SETENTA E QUATRO

Antes de germinar por meio da ressurreição do


Salvador-Homem, estávamos na velha criação, mas
desde nossa germinação começamos a ser a nova
criação. A velha criação não tem a vida e natureza
divinas, mas a nova criação, que consiste nos crentes
que nasceram de novo, de Deus (Jo 1:13; 3:15; 2Pe
1:4), têm a vida e a natureza divinas. Por isso somos
nova criação (2Co 5:17; G16:15) não segundo a velha
natureza da carne, e sim a nova natureza da vida
divina.
Quando a velha criação germina com a vida
divina, torna-se a nova criação. Nós, os crentes em
Cristo, que germinamos por meio de Sua ressurreição,
somos a nova criação. A velha criação não tem Deus
nela, mas a nova criação começa com a entrada de
Deus em nós para nos germinar. Louvado seja o
Senhor por termos germinado! Essa germinação é a
transmissão de vida aos crentes, por meio da qual
fomos regenerados. Por isso a germinação é a
transmissão de vida divina aos crentes para sua
regeneração. O segundo ponto relacionado com o
aspecto subjetivo da ressurreição do Salvador-
Homem é germinar a nova criação para transmitir a
vida divina aos crentes a fim de regenerá-los.
Talvez não tenhamos percebido o que nos
aconteceu quando fomos regenerados. Agora vemos
que, ao ser regenerados, fomos germinados.
Podemos dizer que essa germinação foi a injeção
divina. A vida divina foi “injetada” em nós à época
em que cremos em Cristo e fomos regenerados, e essa
injeção foi nossa germinação. Aleluia, a vida divina
foi injetada, infundida em nosso ser! Essa infusão foi
nosso renascimento, nossa regeneração.
516
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

A PROPAGAÇÃO DO SALVADOR-HOMEM
PARA
PRODUZIR A IGREJA COMO SUA
REPRODUÇÃO
A ressurreição do Salvador-Homem foi também
Sua propagação para produzir a igreja como Sua
reprodução. Por Sua ressurreição, o Salvador-
Homem pôde multiplicar- Se e assim ter Sua
propagação.
Como ilustração da propagação do Senhor por
meio da ressurreição, veja um grão de trigo que cai
na terra e morre. Depois que cai na terra e morre, ele
cresce e se transforma em muitos grãos. Os muitos
grãos são a multiplicação do único grão, e essa
multiplicação é sua propagação.
De acordo com João 12:24, o Senhor Jesus é o
grão de trigo que caiu no chão e morreu a fim de ser
multiplicado. Por meio de Sua morte e ressurreição,
Ele com certeza foi multiplicado e se propagou. Essa
propagação visa produzir Sua reprodução, e a
reprodução de Cristo é a igreja. Por isso a
ressurreição do Senhor é Sua propagação para
produzir a igreja como Sua reprodução.

QUATRO QUESTÕES RELACIONADAS


COM A GERAÇÃO DA IGREJA
Se estudarmos Efésios 1:20-23 em detalhes,
veremos que esses versículos revelam que a
propagação de Cristo produz a igreja como Sua
reprodução. Efésios 1:20-21 diz: “O qual exerceu Ele
em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e
fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais,
acima de todo principado, e potestade, e poder, e
51
MENSAGEM SETENTA E QUATRO

domínio, e de todo nome que se possa referir não só


no presente século, mas também no vindouro”. O
pronome relativo “o qual” no início do versículo 20 se
refere à “suprema grandeza do seu poder” falada no
versículo 19. O supremo poder de Deus que operou
em Cristo primeiro ressuscitou-O dentre os mortos.
Esse poder venceu a morte, a sepultura e o Hades,
onde os mortos são mantidos. Devido ao poder de
ressurreição de Deus, a morte e o Hades não
conseguiram reter Cristo (At 2:24).
Segundo, o poder de Deus que operou em Cristo
O fez assentar à destra de Deus nos lugares celestiais
bem acima de tudo. A destra de Deus, onde Cristo
está assentado pelo supremo poder de Deus, é o lugar
mais honrado, com a suprema autoridade. Os
“lugares celestiais” no versículo 20 se referem não só
ao terceiro céu, o lugar mais elevado no universo,
onde Deus habita, mas também ao estado e
atmosfera dos céus, no qual Cristo foi assentado pelo
poder de Deus.
De acordo com o versículo 21, Cristo foi
assentado muito acima de todo poder, autoridade,
potestade, soberania e todo nome. Poderes referem-
se ao escalão mais elevado; autoridade refere-se a
todo tipo de poder oficial (Mt 8:9); potestade refere-
se ao poder da autoridade; soberanias referem-se à
preeminência que o poder estabelece. O Cristo
ascendido foi assentado pelo grande poder de Deus
acima de todos os poderes, autoridades, potestades e
soberanias em todo universo.
Além disso, Cristo está assentado acima de todo
nome que é dado não só nesta era, mas também na
vindoura. Aqui, “todo nome” refere-se não só a
títulos de honra, mas também a tudo que tem nome.
518
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Cristo foi assentado bem acima de tudo, não só das


coisas desta era, mas também da vindoura.
Efésios 1:22Continua: “E pôs todas as coisas
debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as
coisas, o deu à igreja”. Terceiro, o grande poder de
Deus que operou em Cristo sujeitou todas as coisas
sob Seus pés. Estar acima de tudo é uma coisa; ter
todas as coisas sujeitas sob os pés de Cristo é outra. A
primeira trata da transcendência de Cristo; a última
trata da sujeição de todas as coisas a Ele.
Quarto, o grande poder de Deus que operou em
Cristo deu-O para ser a Cabeça de todas as coisas à
igreja. O encabeçamento de Cristo sobre todas as
coisas é um dom de Deus para Ele. Foi mediante o
supremo poder de Deus que Cristo recebeu o
encabeçamento em todo o universo. Foi como
homem, em Sua humanidade com Sua divindade,
que Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, foi
assentado nos lugares celestiais, teve todas as coisas
sujeitas a Si e foi- Lhe dado ser a Cabeça sobre todas
as coisas.
No versículo 22 temos o significado da frase “à
igreja”. Essa frase implica transmissão. Tudo o que
Cristo, a Cabeça, alcançou e obteve é transmitido à
igreja, Seu Corpo. Nessa transmissão, a igreja
partilha com Cristo tudo o que Ele alcançou: a
ressurreição dentre os mortos, ser assentado em Sua
transcendência, a sujeição de todas as coisas sob Seus
pés e o encabeçamento sobre todas as coisas.
Em Efésios 1:20-22 vemos quatro questões
relacionadas com a geração da igreja: ressuscitar
Cristo dentre os mortos, assentá-Lo em Sua
transcendência, sujeitar todas as coisas sob Seus pés
e dá-Lo para ser a Cabeça sobre todas as coisas. O
51
MENSAGEM SETENTA E QUATRO

resultado, a consequência, dessas quatro questões é a


igreja, conforme indica a frase “à igreja” no versículo
22.
Os cristãos de hoje sempre falam da igreja de
forma muito elementar, até mesmo infantil. Muito
poucos crentes já viram que a igreja resulta do que o
supremo poder de Deus realizou em Cristo e com
Cristo. O poder de Deus O ressuscitou dentre os
mortos. Depois, esse grande poder O assentou em
Sua transcendência, sujeitou todas as coisas sob Seus
pés e deu-O para ser a Cabeça sobre todas as coisas.
O resultado disso é a geração da igreja. Isso quer
dizer que a igreja é o resultado do processo que
envolve ressuscitar Cristo, assentá-Lo, sujeitar todas
as coisas sob Seus pés e dá-Lo para ser a Cabeça de
todas as coisas.
Com uma compreensão superficial da igreja,
alguns cristãos até falam da igreja como um edifício
material com telhado inclinado e torre. Entretanto,
de acordo com o Novo Testamento, a igreja
reconhecida por Deus é o resultado de quatro coisas
realizadas por Cristo. Como já enfatizamos, essas
quatro coisas são Sua ressurreição, o fato de estar
assentado em Sua transcendência, a sujeição de todas
as coisas sob Seus pés e o fazê-Lo Cabeça sobre todas
as coisas. A igreja é o resultado do processo
envolvendo essas quatro coisas, um processo que
começou com a ressurreição do Salvador-Homem.
Porquanto esse processo começou com a ressurreição
de Cristo, Sua ressurreição é para a geração da igreja
como Sua reprodução.

AS VERDADES MAIS PROFUNDAS NA


BÍBLIA
520
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Os pontos que abordamos nesta mensagem


envolvem algumas das verdades mais profundas na
Bíblia. Espero que todos os santos em nosso meio,
principalmente os jovens, não permaneçam com a
superficialidade comum entre os cristãos hoje. Todos
os santos precisam entrar nas verdades mais
profundas na Bíblia.

A PLENITUDE DE CRISTO PARA SUA


EXPRESSÃO
Hoje o Salvador-Homem em Sua ressurreição é
o Espírito que dá vida para fazer de nós, os
escolhidos de Deus, Sua reprodução. Essa
reprodução é a igreja, Seu Corpo, para expressá-Lo
como Sua plenitude. Esse é o resultado extremo da
ressurreição de Cristo. Efésios 1:22-23 fala da “igreja,
a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo
enche em todas as coisas”. O Corpo não é uma
organização, mas um organismo constituído de todos
os crentes regenerados para a expressão e atividades
da Cabeça. O Corpo de Cristo é Sua plenitude,
resultante do desfrute de Suas riquezas (Ef 3:8). Por
meio do desfrute das riquezas de Cristo, tornamo-nos
Sua plenitude para expressá-Lo. Cristo, que é o Deus
infinito sem limites, é tão grandioso que enche tudo
em todas as coisas. Esse Cristo grandioso precisa da
igreja para ser Sua plenitude para Sua expressão
completa.

O PONTO CRUCIAL
Já consideramos três pontos relacionados com o
aspecto subjetivo da ressurreição do Salvador-
Homem. Sua ressurreição é Sua transfiguração no
52
MENSAGEM SETENTA E QUATRO

Espírito que dá vida para entrar nos crentes, é Sua


germinação da nova criação a fim de transmitir a
vida divina aos crentes para regeneração deles e é
Sua propagação a fim de gerar a igreja como Sua
reprodução. O ponto crucial é que, em ressurreição,
Cristo se tornou o Espírito que dá vida. Porém alguns
mestres da Bíblia se opõem a essa verdade, dizendo
que o Espírito que dá vida em 1Coríntios 15:45 não é
o Espírito Santo. Os que negam que o Espírito que dá
vida nesse versículo é o Espírito Santo, o Espírito
vivificante, distorcem a Palavra de Deus. Paulo não
diz apenas: “O último Adão se tornou Espírito” (lit.).
Antes, diz: “O último Adão se tornou Espírito que dá
vida”. O Espírito que dá vida, a vida divina, tem de
ser o Espírito do próprio Deus, mas sobre isso os que
são carentes de luz até criticam o que a Bíblia ensina.
Que deplorável!
Precisamos testificar que, de acordo com as
Escrituras, Cristo em ressurreição é o Espírito que dá
vida. Recebemos do Senhor o encargo de proclamar
isso. Quanto mais os outros se opõem a isso, mais
proclamamos a verdade de que Cristo é agora o
Espírito que dá vida. Louvado seja o Senhor por Sua
transfiguração, germinação e propagação a fim de
gerar a igreja como Sua reprodução! Agora Ele é o
Espírito que dá vida e nós somos Sua reprodução.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SETENTA E CINCO

A RESSURREIÇÃO DO SALVADOR-HOMEM
(6)
Leitura Bíblica:1Co 15:45b; Jo 14:16-20,26;
12:24b; 1Pe 1:3; 2Co 5:17

Nas mensagens anteriores abordamos o aspecto


objetivo e o subjetivo da ressurreição do Salvador-
Homem. Sobre o aspecto subjetivo, vimos que Sua
ressurreição foi Sua transfiguração no Espírito que
dá vida para entrar nos crentes, foi Sua germinação
da nova criação para transmitir a vida divina nos
crentes para Sua regeneração, e foi Sua propagação a
fim de gerar a igreja como Sua reprodução. Esta
mensagem é a conclusão das séries de mensagens
sobre o aspecto subjetivo da ressurreição de Cristo. O
ponto conclusivo é que a ressurreição do Salvador-
Homem resulta em Seu viver em nós. O resultado da
transfiguração, da germinação e da propagação do
Salvador-Homem é que Ele vive nos crentes.

O VIVER DO SALVADOR-HOMEM EM SEUS


CRENTES
Germinar os crentes
Por meio da ressurreição, o Salvador-Homem foi
transfigurado no Espírito que dá vida. Ele então
entrou em nós, a velha criação, para nos germinar de
modo que nos tornássemos a nova criação. Esse
termo: “a nova criação”, é usado por Paulo em
2Coríntios 5:17: “E assim, se alguém está em Cristo, é
nova criatura (nova criação): as coisas antigas já
52
MENSAGEM SETENTA E CINCO

passaram; eis que se fizeram novas”. A velha criação


inclui os céus, a terra, bilhões de itens e a
humanidade, mas a nova criação só inclui os
escolhidos e redimidos de Deus. O povo de Deus
estava antes na velha criação, mas, quando Cristo
como o Espírito que dá vida entrou em nós, fomos
germinados com o Deus Triúno para nos tornar a
nova criação.
Essa germinação depende de um “germe”, e o
germe com o qual o Cristo ressurreto nos germinou é
o Deus Triúno. Esse termo não é agradável aos
ouvidos, não obstante é verdade que o Deus Triúno é
o germe com o qual o Cristo pneumático nos
germinou. Aleluia, todos fomos germinados com o
“germe divino”! É fato que, como os que foram
germinados com o Deus Triúno, nós temos esse
germe divino em nós. Uma vez germinados pela
ressurreição do Salvador-Homem, fomos
regenerados (1Pe 1:3).

A reprodução do Cristo pneumático


O fato de o Salvador-Homem germinar a nova
criação constitui Sua propagação, Sua multiplicação.
Nos evangelhos temos o Cristo único, mas em João
20, depois de insuflar nos discípulos o Espírito que
dá vida como fôlego, houve pelo menos cento e vinte
e um “Cristos”. De acordo com Atos 1, esses cento e
vinte e um (cento e vinte discípulos mais o Senhor
Jesus) tiveram longa reunião de oração que durou
dez dias. Em Atos 1, cento e vinte e um Cristos se
reuniram para orar. Então, no dia de Pentecostes,
outros três mil foram germinados. O Cristo,
primeiramente único, tornou-se cento e vinte e um
Cristos e depois três mil cento e vinte e um Cristos.
524
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Essa germinação é na verdade a reprodução do Cristo


pneumático em Sua ressurreição.
No dia de Pentecostes, Cristo vivia em três mil
cento e vinte de Seus membros. O Cristo que neles
vivia era o Cristo pneumático, o Cristo que é o
Espírito que dá vida. Esse Cristo pneumático é o
próprio Cristo em ressurreição.
Aqui devemos falar não do Cristo ressurreto,
mas do Cristo em ressurreição. O próprio Cristo é a
ressurreição, cuja realidade é o Espírito que dá vida.
Na verdade, o Espírito que dá vida é a ressurreição.
Cristo em ressurreição é a própria ressurreição, a
qual é o Espírito que dá vida.
O Espírito que dá vida é a realidade da
ressurreição. Se você não estiver Nele, não estará em
ressurreição, mas, se estiver Nele, você estará em
ressurreição.
52
MENSAGEM SETENTA E CINCO

O Cristo em ressurreição vive em nós


João 14:16-20 revela que o Cristo em
ressurreição agora vive em nós. Nos versículos 16-17
o Senhor Jesus diz: “E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos
dará outro Consolador, a fim de que esteja para
sempre convosco, o Espírito da realidade, que o
mundo não pode receber, porque não O vê, nem O
conhece; vós O conheceis, porque Ele habita
convosco e estará em vós”. De acordo com o versículo
16, o Senhor Jesus rogaria ao Pai que desse aos
discípulos outro Consolador. O Filho foi o primeiro
Consolador. Por isso o primeiro Consolador rogou ao
Pai que enviasse outro Consolador, o Espírito da
realidade, que estaria em nós. Então, no versículo 18,
o Senhor prossegue: “Não vos deixarei órfãos, virei
para vós”. Quando juntamos com o versículo 17, isso
indica que “Ele” (o Espírito da realidade) no versículo
17 toma-se o “Eu” (o próprio Senhor) no versículo 18.
Isso indica que, depois da ressurreição, o Senhor
tomou- se o Espírito da realidade. Então, referindo-
se ao dia de Sua ressurreição, o Senhor diz em João
14:20: ''Naquele dia, vós conhecereis que Eu estou
em Meu Pai, e vós em Mim e Eu em vós”. O Senhor
aqui diz claramente: “Eu em vós”, revelando que Ele
mesmo estaria em nós.
Quando o Senhor vive em nós, Ele não cessa de
estar no Pai. Por um lado, em João 14:20, Ele diz:
“Estou em Meu Pai”; por outro, diz: “Eu em vós”. O
Senhor certamente não diz: “Quando entro em vós,
não mais estou no Pai”. Antes: o Senhor parece dizer:
“Quando Eu entrar em vós, entrarei com o Pai. Eu
não só estou no Pai, mas também o Pai está em Mim.
Por isso, quando Eu estiver em vós, o Pai, que está
526
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

em Mim, também estará em vós”.


Essa compreensão do versículo 20 é provada
pela palavra do Senhor no versículo 23: “Se alguém
Me ama, guardará a Minha palavra; e Meu Pai o
amará, e viremos a ele e faremos com ele morada”.
Aqui o Pai e o Filho fazendo morada em nós equivale
à frase “Eu em vós” no versículo 20. Quem está em
nós? O “Eu” que está em nós não é só o Filho, mas o
Filho com o Pai. E quanto ao Espírito? Em João
14:26 o Senhor Jesus fala do Consolador, o Espírito
Santo, a quem o Pai enviaria em Seu nome. O Filho
veio no nome do Pai (Jo 5:43) porque o Filho e o Pai
são um (Jo 10:30). Agora vemos que o Espírito é
enviado no nome do Filho porque o Espírito e o Filho
são um também (2Co 3:17). Esse é o Deus Triúno: o
Pai, o Filho e o Espírito, alcançando-nos como o
Espírito. Assim, quando o Espírito vem, o Filho e o
Pai também vêm.
Quando juntamos esses versículos, vemos que
quem está em nós não é simples. Sem dúvida, é o
Filho, mas é o Filho no qual o Pai está, e também o
Filho que vem com o Espírito. Por isso por fim vemos
que o “Eu” em João 14:20 é o Deus Triúno.

Ver o Senhor porque Ele vive em nós


Em João 14:19 o Senhor Jesus diz: “Ainda por
um pouco e o mundo não Me verá mais; vós, porém,
Me vereis; porque Eu vivo, vós também vivereis”. Se
o Senhor tivesse permanecido no túmulo, não teria
vivido e os discípulos não O teriam visto novamente.
Mas esse versículo indica que, uma vez que Ele vive,
nós O vemos. Ele disse que ressuscitaria e viveria e
que também nós viveremos. Que isso quer dizer?
Para compreender esse versículo, precisamos estudar
52
MENSAGEM SETENTA E CINCO

o Novo Testamento todo. A palavra do Senhor: “vós,


porém, Me vereis; porque Eu vivo, vós também
vivereis” significa: “Eu viverei em vós para fazer-vos
viver”. Aqui, o Senhor Jesus nos diz que, depois de
Sua ressurreição, Ele viveria em nós.
Neste ponto deixem- me perguntar-lhe: você viu
o Senhor Jesus? Alguns podem responder a essa
pergunta dizendo que O viram nos santos, nos
crentes. Quem responde dessa forma não tem a
compreensão adequada de João 14:19. O Senhor não
diz nesse versículo: “Vocês Me contemplam porque
Me veem em outros crentes”. No entanto a palavra do
Senhor indica que nós O vemos porque Ele vive em
nós. Nós vivemos porque Ele vive. Isso significa que
vivemos porque Ele vive em nós para fazer-nos viver.
Ao responder à pergunta sobre ver ou não o
Senhor, devemos dizer: “Vi o Senhor porque Ele vive
em mim”. Por exemplo, um irmão vê a esposa porque
ela vive com ele, mas Aquele que agora vemos não só
vive conosco, mas também em nós. Ele vive em nós
cada momento, por isso O vemos.
O coro de um hino bem conhecido diz assim:
“Jesus, Jesus / Agora vivo está! / Comigo vai e fala a
mim / Em meu peregrinar. / Jesus, Jesus /
Transmite salvação; / Sim, sei que vivo está porque /
Vive em meu coração” (Hino 241, em Hinos,
publicado por esta Editora).
Esse é um bom hino e eu o aprecio. O coro diz
que sabemos que Cristo vive porque Ele anda e fala
conosco. Mas isso não é tão bom quanto dizer que
sabemos que Ele vive porque vive em nosso coração.
A segunda parte do coro desse hino diz que sabemos
que Ele está vivo porque: “Vive em meu coração”.
Sabemos que o Senhor vive não apenas porque Ele
528
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

anda e fala conosco, mas porque vive em nós.


Como sabemos que Cristo vive? Você deve
responder essa pergunta dizendo: “Sei que Ele vive
porque vive em mim”. De modo semelhante, se nos
perguntam se vimos o Senhor Jesus, devemos dizer:
“Sim, eu O vi porque Ele vive em mim. Mesmo
enquanto você me faz essa pergunta, Ele vive em
mim. Porquanto Ele vive em mim, eu O vejo. Agora
mesmo, enquanto falo, posso vê-Lo. Enquanto falo a
você, Ele fala a mim. Sou simplesmente um
transmissor, falando tudo o que Ele me fala”.
A palavra do Senhor: “Porque Eu vivo, vós
também vivereis” com certeza foi plenamente
cumprida no dia de Pentecostes. Quando Pedro se
levantou com os onze, aquilo foi Cristo em
ressurreição. O falar de Pedro foi também Cristo em
ressurreição. Se alguém perguntasse a Pedra onde
Cristo estava, ele poderia ter dito: “Cristo está aqui.
Você não me vê? Se me vê, vê Cristo, porque Ele vive
em mim”.

A NOSSA EXPERIÊNCIA
DE CRISTO EM RESSURREIÇÃO
O Cristo que é ressurreição
Com relação à nossa experiência de Cristo em
ressurreição, podemos usar o termo “o Cristo
pneumático”. Embora não gostemos de falar do
Cristo espiritual, gostamos da expressão “o Cristo
pneumático”. Essa expressão indica que Cristo é o
Espírito que dá vida. O Cristo pneumático é na
verdade o próprio Espírito que dá vida não de forma
doutrinária, mas experimental. Através dos séculos,
muitos mestres cristãos disseram que, em nossa
experiência, Cristo é idêntico ao Espírito. Em
52
MENSAGEM SETENTA E CINCO

doutrina isso é difícil de explicar; mas, na experiência,


sabemos que Cristo é o Espírito a viver em nós.
De acordo como Novo Testamento, Cristo e o
Espírito vivem em nós. Afinal temos dois ou um a
viver em nós? A melhor resposta a essa pergunta é
dizer que quem vive em nós é o Cristo pneumático, o
Cristo que é o Espírito que dá vida.
Os cristãos sempre dizem: “Nosso Cristo está
vivo; temos um Cristo vivo”. Muitos, porém, não
percebem que esse Cristo vivo é o Cristo em
ressurreição e o Cristo que está em ressurreição. Em
João 11:25, o Senhor Jesus disse: “Eu sou a
ressurreição”. Aqui vemos que o próprio Cristo é a
ressurreição. O próprio Cristo que está agora em
ressurreição é a ressurreição.

Andar em ressurreição
O Novo Testamento nos encarrega de andar pelo
Espírito (GI 5:16, 25), o que simplesmente significa
andar em ressurreição. Para experimentar isso,
precisamos negar a nós mesmos para que Cristo viva
em nós. Se morrermos, Cristo vive; Cristo vive em
nós por nosso morrer.

Morrer para que Cristo viva em nós


Agora que Cristo vive em nós, estamos
intimamente envolvidos com Ele. Podemos dizer que
Ele e o crente se tornam uma “semente”. Você é a
casca e Ele é a vida na casca. A casca precisa morrer
de modo que a vida interna possa viver. Por isso,
quando morremos, Cristo vive. Morremos para vivê-
Lo e Ele vive por meio de nosso morrer.
Essa palavra sobre o viver de Cristo em nós
530
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

como resultado de nosso morrer pode ser chamada


de “lógica celestial” ou “filosofia celestial”. Esse tipo
de filosofia é muito melhor que qualquer filosofia
natural, humana. Nossa filosofia é que morremos
para que Cristo viva em nós. De acordo com essa
lógica celestial, Cristo vive por meio de nosso morrer.
Cristo viver em nós por meio de nosso morrer é
questão de ressurreição. Paulo diz: “Para o conhecer
e o poder da Sua ressurreição” (Fp 3:10). Não
conseguimos conhecê-Lo sem conhecer o poder de
Sua ressurreição porque o próprio Cristo que
vivemos hoje é ressurreição. Ressurreição é o Cristo
pneumático, que é o Espírito que dá vida.

Andar de acordo com o Espírito


como a realidade da ressurreição
Há mais de quarenta anos, o irmão Nee nos
contou que a realidade da ressurreição é o Espírito.
Embora ele não explicasse muito o que significa dizer
que o Espírito é a realidade da ressurreição, fiquei
profundamente impressionado por sua palavra.
Também fiquei perturbado com ela e disse a mim
mesmo: “Como podemos dizer que o Espírito é a
realidade da ressurreição?”. Depois de anos de
estudo e experiência, posso testificar que a
ressurreição, o Cristo pneumático e o Espírito que dá
vida são um. Cristo é a ressurreição e a ressurreição é
o Espírito que dá vida.
Porquanto o Espírito é a realidade da
ressurreição, precisamos andar de acordo com o
Espírito. Quando o fazemos, andamos em
ressurreição. Quando andamos pelo Espírito que dá
vida, andamos com o Cristo vivo e esse Cristo vivo é o
Cristo em ressurreição.
53
MENSAGEM SETENTA E CINCO
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SETENTA E SEIS

A ASCENSÃO DO SALVADOR-HOMEM
(1)
Leitura Bíblica: Hb 2:9; 12:2; At 2:36

Com esta mensagem começamos uma série


sobre a ascensão do Salvador-Homem. Primeiro
daremos uma descrição de Sua ascensão. Depois
consideraremos seus aspectos objetivo e subjetivo.

A POSSE DO SALVADOR-HOMEM
EM SEU CARGO CELESTIAL
A ascensão do Salvador-Homem constitui a
posse de Seu cargo celestial por meio do processo de
criação, encarnação, viver humano, crucificação e
ressurreição como Deus e homem, como o Criador e
a criatura, e como o Redentor, o Salvador e o Espírito
que dá vida, para executar a administração de Deus e
levar a cabo Sua economia (dispensação) do Novo
Testamento.
Se quisermos entender a ascensão do Salvador-
Homem, precisamos ver que ela constitui a posse de
Seu cargo celestial. Essa posse exigiu um longo
processo que começou com a criação e continuou
com a encarnação, viver humano, crucificação e
ressurreição. Esse processo envolveu o Salvador-
Homem como Deus, homem, Criador, criatura,
Redentor, Salvador e. Espírito que dá vida. O Senhor
Jesus foi empossado para executar a administração
de Deus e levar a cabo Sua economia do Novo
Testamento. No aspecto objetivo, a ascensão do
53
MENSAGEM SETENTA E SEIS

Senhor O fez ser coroado com glória e honra (Hb 2:9)


e entronizado para a administração de Deus (Hb
12:2), e fez Dele o Senhor para possuir tudo e o Cristo
para levar a cabo o comissionamento de Deus.
Você alguma vez ouviu falar que Cristo teve uma
posse e que essa posse foi Sua ascensão? Alguns
podem responder dizendo que a palavra “posse” não
pode ser encontrada na Bíblia. É claro que está
correto dizer que essa palavra não está nas Escrituras,
mas o fato da posse do Salvador-Homem está lá sem
dúvida. A expressão “o Deus Triúno” igualmente não
está na Bíblia, mas é um fato que a Bíblia revela o
Deus Triúno. Por exemplo, Mateus 28:19 fala de
batizar crentes “em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo”. De igual modo, o Novo Testamento
revela o fato da posse de Cristo. Considere Atos 2:36:
“Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de
Israel de que a esse Jesus que vós crucificastes, Deus
o fez Senhor e Cristo”. Nesse versículo, a palavra “fez”
pode ser compreendida como “empossou”. Assim, a
posse de Cristo está em Atos 2:36. Se lermos os
versículos anteriores, veremos que a ascensão do
Senhor é mencionada. Em Sua ascensão, Deus
empossou Jesus Cristo em Seu ministério celestial.
Isso quer dizer que, em Sua ascensão, em Sua posse,
Deus O fez Senhor e Cristo.

O STATUS DO SALVADOR-HOMEM
COMO AQUELE QUE ASCENDEU
Como o que foi empossado em Seu cargo
celestial por meio de Sua ascensão, o Salvador-
Homem tem uma posição maravilhosa. Ele é Deus e
homem, é o Criador e a criatura. Alguns teólogos
concordam que Cristo é Deus, homem e o Criador,
534
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

mas negam que Ele é também uma criatura. Contudo


Colossenses 1:15 diz que Cristo é o Primogênito de
toda criação, indicando que, com respeito à Sua
humanidade, Ele é uma criatura. Mas devido à
heresia de Árius, que foi condenado no Concílio de
Niceia em 325 AD, muitos relutam em dizer que,
conforme Colossenses 1:15, Cristo é uma criatura.
Nesse versículo, é-nos dito que Cristo é a imagem de
Deus, o Primogênito de toda criação. Se esse
versículo não estivesse na Bíblia, não ousaríamos
dizer que Cristo é o Criador e a criatura. Porém esse
versículo é a base para se dizer que Cristo é a criatura
bem como o Criador.
Se dizemos que Cristo é Deus e homem,
podemos também dizer que Ele é o Criador e a
criatura, porque Deus é o Criador e o homem é
criatura. Entretanto alguns teólogos dizem que Cristo
é Deus e homem, e então que Ele é somente o
Criador, não a criatura. Que ridículo! O homem não é
criatura? Hebreus 2:14 indica que o Senhor Jesus
tinha sangue e carne. Sangue e carne não são coisas
criadas? Se disser que Cristo é criatura, você na
verdade negará que Ele veio em carne. Negar que
Cristo veio em carne é uma heresia condenada em 1
João 4.
Anos atrás, alguns em Hong Kong proclamavam:
“Nosso Cristo é o Criador; Ele não é criatura”.
Quando ouvi a respeito disso, disse aos santos: “Está
muito errado dizer que Cristo é o Criador, mas não é
criatura. Se disser que Cristo não é criatura, dirá
também que Ele não se tomou um homem. Mas, uma
vez que Cristo se tomou um homem, Ele também se
tomou criatura porque o homem é criatura”. Nosso
Cristo, a quem Deus empossou no ofício celestial, é
53
MENSAGEM SETENTA E SEIS

Deus e homem. Ele é a criatura bem como o Criador.


Além disso, Ele é o Redentor, o Salvador e o Espírito
que dá vida. Que maravilhoso status Ele tem! Que
qualificação Ele possui!
Muitos cristãos não percebem que tipo de status
e qualificações Cristo tem como o ascendido. Posso,
porém, testificar que, sempre que O contato, percebo
que Ele é Deus, homem, o Criador, criatura, o
Redentor, o Salvador e o Espírito que dá vida.
Porquanto tenho essa percepção sobre o Senhor, às
vezes fico fora de mim de alegria quando O contato.
Posso até dizer que às vezes fico “eletrificado” pelo
Espírito quando penso no que Cristo é.
Você alguma vez ponderou que Cristo não é
Deus em parte, mas o Deus total? Ele não é só Deus
Filho, mas também Deus Pai e Deus Espírito. Assim,
Cristo é o Deus total, o Deus Triúno. Além disso, Ele
é um homem tripartido. Por isso, como o Deus
Triúno e o homem tripartido, Ele é o Deus total e um
homem perfeito. Que todos aprendamos a dizer: “O
meu Salvador é o Deus Triúno e um homem
tripartido. Ele é o Criador e também criatura. Ele é o
Redentor e o Espírito que dá vida, e esse Espírito que
dá vida é a consumação do Deus Triúno”. Quanto
mais percebermos isso, mais ficaremos “eletrizados”
e fora de nós de alegria no Senhor.

A EXECUÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DE
DEUS
E A REALIZAÇÃO DE SUA ECONOMIA
DO NOVO TESTAMENTO
Como Aquele que passou pelo processo de
criação, encarnação, viver humano, crucificação e
ressurreição, o Salvador-Homem com Seu status
536
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

maravilhoso foi empossado em Seu cargo celestial


para executar a administração de Deus e levar a cabo
Sua economia do Novo Testamento. Cristo está agora
no trono para administrar o universo inteiro. Ele é o
único Administrador, o Rei dos reis e o Senhor dos
senhores. Todos os governos da terra estão debaixo
Dele. Ele é o Administrador para executar a
administração divina e também levar a cabo a
economia neotestamentária de Deus. Sua
administração está relacionada com o universo, mas
Seu ato de levar a cabo a economia de Deus do Novo
Testamento é propagar a Si mesmo para Sua
reprodução a fim de edificar a igreja, Seu Corpo, que
resultará na Nova Jerusalém. Que maravilha!
O que abordamos até aqui é uma palavra
introdutória sobre a ascensão do Salvador-Homem.
Vejamos agora o aspecto objetivo da ascensão de
Cristo.

O ASPECTO OBJETIVO
DA ASCENSÃO DO SALVADOR-HOMEM
Coroado de glória e honra
Em Sua ascensão, o Salvador-Homem foi
coroado de glória e honra. Hebreus 2:9 diz: “Vemos,
todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito
menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento
da morte, foi coroado de glória e de honra”. Aqui,
glória e honra são consideradas uma coroa. Glória é o
esplendor relacionado com a pessoa de Jesus; honra
é a preciosidade relacionada com Seu valor (1Pe 2:7).
Aqui podemos também ressaltar que a dignidade do
Senhor está relacionada com Sua posição (2Pe 1:17).
Como o ascendido que foi coroado de glória e honra,
Cristo está num estado de glória e tem posição de
53
MENSAGEM SETENTA E SEIS

honra.
É sempre uma honra para uma pessoa ter
posição elevada. Por exemplo, o diretor de uma
escola tem posição elevada e ela constitui sua honra.
Um faxineiro, pelo contrário, não tem qualquer
posição ou honra. Cristo é glorioso em estado e
honrado em posição. Ele está acima de todas as
coisas e governos: essa é a Sua honra. Ele recebeu
essa glória e entrou nela. Essa glória e honra
constituem a coroa da qual Ele foi coroado.

Entronizado para a administração de Deus


Outra questão relacionada com o aspecto
objetivo da ascensão de Cristo é que Ele foi
entronizado para a administração de Deus. Sobre
isso, Hebreus 12:2 diz que Cristo agora está
“assentado à destra do trono de Deus”. Por esse
versículo podemos ter a impressão de que, próximo
do trono de Deus, à Sua direita, há outro trono.
Entretanto no livro de Apocalipse vemos que há
apenas um trono de Deus e de Cristo. Em Apocalipse
3:21 o Senhor diz que assentou com Seu Pai em Seu
trono. Além disso, Apocalipse 22:1 fala de um “rio da
água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono
de Deus e do Cordeiro”. Apocalipse 22:3 diz ainda
que na cidade santa, a Nova Jerusalém, “estará o
trono de Deus e do Cordeiro”. Apocalipse 22:1- 3 não
fala de tronos, um para Deus e outro para o Cordeiro,
mas do trono de Deus e do Cordeiro. Assim, é apenas
um trono para Deus e para o Cordeiro.
De que forma Deus e Cristo estão assentados no
único trono? Apocalipse 21 é útil nessa questão. O
versículo 23 diz: “A cidade não precisa nem do sol,
nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de
538
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Deus a iluminou, e o Cordeiro é sua lâmpada”. Aqui


vemos que o Cordeiro, Cristo, como a lâmpada,
brilha com Deus como a luz para iluminar a cidade
com a glória divina, a expressão da luz divina. Cristo,
o Cordeiro, é a lâmpada e Deus é a luz na lâmpada.
Porquanto a luz está na lâmpada, ela não pode ser
separada da lâmpada. Podemos ver com isso como
Deus e Cristo estão assentados no único trono. Assim
como a luz está na lâmpada, assim também Deus está
em Cristo. Uma vez que Deus está em Cristo
assentado no trono, Deus e Cristo assentam-se sobre
um único trono nos céus.
O fato de que Deus em Cristo está assentado no
trono significa que Deus administra todo o universo
em Cristo e por meio Dele, assim como a lâmpada
brilha do interior da lâmpada e através dela. Com
isso podemos ver que Cristo está entronizado com
Deus. Deus está no trono e esse próprio Deus está no
Salvador-Homem entronizado. Quando
consideramos isso, vemos que a entronização do
Salvador-Homem envolve a Trindade divina.
Cristo foi entronizado em ascensão. Sua
ascensão foi Sua entronização. O Salvador-Homem,
como Aquele que ascendeu, foi coroado de glória e
honra, e foi entronizado para a administração de
Deus.

Foi feito o Senhor para possuir tudo


O Salvador-Homem, em Sua ascensão, foi feito o
Senhor para possuir tudo (At 2:36). Ele é agora o
Senhor para possuir todo o universo, os escolhidos de
Deus e todas as coisas, questões e pessoas positivas.
Cristo é o Senhor não só dos escolhidos por Deus,
mas também dos anjos e de todos os que estarão no
53
MENSAGEM SETENTA E SEIS

milênio e no novo céu e nova terra. Por isso Ele é o


Senhor dos céus, da terra e de tudo e todos que Ele
redimiu. O Salvador-Homem foi feito Senhor de tudo
para possuir tudo.

Foi feito Cristo para levar a cabo o


comissionamento de Deus
Atos 2:36 revela que em Sua ascensão o
Salvador-Homem foi feito não só o Senhor, mas
também o Cristo. Ele foi feito o Cristo como o Ungido
de Deus (Hb 1:9) para levar a cabo o
comissionamento divino.
Nesta mensagem, demos uma palavra
introdutória sobre a ascensão do Salvador-Homem e
enfatizamos seu aspecto objetivo. Na mensagem
seguinte veremos como podemos experimentar Sua
ascensão e depois consideraremos seu aspecto
subjetivo.
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SETENTA E SETE

A ASCENSÃO DO SALVADOR-HOMEM
(2)
Leitura Bíblica: Hb 2:9; 12:2; At 2:36

Na mensagem anterior, vimos que a ascensão do


Salvador-Homem foi Sua posse em Seu ofício
celestial por meio do processo de criação, encarnação,
viver humano, crucificação e ressurreição. O
Salvador-Homem foi empossado como Deus e
homem, como o Criador e criatura, e como o
Redentor, o Salvador e o Espírito que dá vida para
executar a administração de Deus e levar a cabo Sua
economia neotestamentária. Considerando o aspecto
objetivo da ascensão de Cristo, vimos que nela Ele foi
coroado de glória e honra (Hb 2:9), entronizado para
a administração de Deus (Hb 12:2) e feito o Senhor
para possuir tudo e o Cristo para levar a cabo o
comissionamento divino (At 2:36)

NOSSO RELACIONAMENTO
COM O CRISTO ASCENDIDO
Quando alguns ouvem sobre o aspecto objetivo
da ascensão de Cristo, podem dizer: “Sim, em Sua
ascensão o Salvador-Homem foi empossado no cargo
celestial. Isso é maravilhoso, mas parece ser algo
elevado demais e distante demais para mim. Que isso
tem a ver comigo?”. Ao responder a essa pergunta,
precisamos perceber que o próprio Cristo em
ressurreição, o Cristo pneumático, vive em nós. De
acordo com João 20:22, em Sua ressurreição, Ele
542
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

voltou aos discípulos para Se insuflar neles, mas de


acordo com Marcos 16, Lucas 24 e Atos 1, o Senhor
ascendeu aos céus de modo que algo mais ocorresse.
Se Seu relacionamento conosco cessasse ao Se
insuflar em nós, seria difícil Ele exercer qualquer
coisa para o cumprimento da economia
neotestamentária de Deus. Depois de Se insuflar nos
discípulos, ainda era necessário que fosse empossado
em Seu cargo celestial.
Podemos usar a eleição e posse do Presidente
república como ilustração. O Presidente não começa
a exercer a presidência logo depois da eleição. Não,
ele precisa esperar até o dia da posse, o dia em que é
empossado no cargo. Então, depois da posse, ele
pode começar a realizar sua administração como
Presidente. De modo semelhante, depois da
ressurreição do Salvador-Homem, Ele ainda precisa
ser empossado em Sua ascensão. Por cinquenta dias
depois que Se insuflou nos discípulos, eles ficaram
quietos. Mas depois que o Senhor ascendeu aos céus
e foi empossado em Seu posto, muitas coisas
começaram a acontecer, a partir do dia de
Pentecostes.
Precisamos perceber o significado da ascensão
do Salvador-Homem. Além de Sua ressurreição, há
também Sua ascensão. Agora o próprio Cristo que
vive em nós e opera por meio de nós não só está em
ressurreição, mas também em ascensão. Em
ressurreição Ele está cheio de vida e poder, mas
ainda precisa de autoridade em ascensão. Depois de
Sua ascensão, o Senhor tem não só vida e poder em
ressurreição, mas também autoridade em ascensão.
Sem a posse adequada, um governo oficial não
pode ter autoridade. A autoridade vem por meio da
54
MENSAGEM SETENTA E SETE

posse. Uma vez empossada em determinado posto, a


pessoa tem a autoridade do cargo. Precisamos ver
que, como crentes, temos o Senhor a viver em nós, o
qual não tem só vida e poder em ressurreição, mas
também autoridade em ascensão. O próprio Cristo
em ressurreição e ascensão vive e habita em nós: vive
em nós como vida e habita em nós como autoridade.
Por isso somos um com Ele em ressurreição e
ascensão. Como resultado, temos vida e poder em
ressurreição e autoridade em ascensão.

APRECIAR A RESSURREIÇÃO E ASCENSÃO


DO SALVADOR-HOMEM
Podemos não ter muito apreço pelo que revelam
as Escrituras sobre a ressurreição e ascensão do
Salvador-Homem. Recentemente, em minha
comunhão com o Senhor, percebi que todos
precisamos de Sua misericórdia. Podemos nunca ter
penetrado nas profundezas das verdades reveladas
na Bíblia. Antes, podemos lê-la sempre de modo
muito superficial. Não passamos da superfície para
ver o que está nas profundezas. Por exemplo,
podemos apreciar a palavra do Senhor em Mateus
11:28: “Vinde a Mim todos os que labutais e estais
sobrecarregados, e Eu vos darei descanso”. Quando
lemos esse versículo, podemos dizer: “Obrigado,
Senhor. Sou um dos que labutam, um dos
sobrecarregados. Senhor, venho a Ti e Te peço que
me dês descanso”. Podemos compreender até um
versículo como João 3:16 de maneira superficial.
Nesse versículo, o Senhor diz: “Porque Deus amou ao
mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito,
para que todo o que Nele crê não pereça, mas tenha a
vida eterna”. Ao lê-lo, podemos prestar atenção
544
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

somente ao fato de que Deus ama o mundo. Todavia


talvez não estudemos o que significa crer. Podemos
não refletir sobre o que é vida eterna, ou o que
significa ter vida eterna. Podemos não perceber que
vida eterna é na verdade o Deus Triúno. Ter vida
eterna, portanto, é desfrutar e experimentar o Deus
Triúno e participar Dele. No entanto talvez tenhamos
pouca ou nenhuma compreensão disso.
Ler a Bíblia de maneira superficial pode ser
comparado a deslizar no gelo que cobre um lago
profundo: o que desliza não quebra o gelo para ver o
que há sob a superficie. Quando lemos a Bíblia,
podemos “deslizar” sobre o “gelo”, a superficie da
Palavra. Não rompemos a superfície, não descemos
às profundezas nem vemos o que é revelado lá.
Por causa da superficialidade na leitura da Bíblia,
pouquíssimos cristãos conhecem as questões
pertinentes à ressurreição, ascensão e à descida do
Espírito. Por isso temos encargo de que todos vej
amos que o Cristo que agora vive e opera em nós está
em ressurreição com vida e poder e também em
ascensão com autoridade. Cristo em ressurreição e
ascensão agora vive, trabalha e opera em nós.
Precisamos ficar impressionados com o fato de
que a relação de Deus conosco não pára com Sua
ressurreição, mas prossegue com Sua ascensão.
Muitas coisas aconteceram como resultado de Sua
ascensão. Já enfatizamos que, como Deus, homem, o
Criador, criatura, o Redentor, o Salvador e o Espírito
que dá vida, Ele foi coroado e entronizado. Ele foi
empossado em Seu cargo celestial para administrar o
universo inteiro e executar a economia
neotestamentária de Deus. Essa administração e
execução são não só com vida e poder, mas também
54
MENSAGEM SETENTA E SETE

com autoridade. Ele está agora em nós, em Sua


ressurreição e em Sua ascensão. Todos precisamos
percebê-Lo até esse ponto.

RECONHECER O STATUS E O CARGO DO


SALVADOR-
HOMEM QUANDO O CONTATAMOS
Se tivermos essa percepção do Salvador-Homem
quando O contatarmos, nosso contato com Ele será
diferente. Nossa percepção do Senhor faz grande
diferença em nosso contato com Ele. Isso pode ser
ilustrado pelo contato com as pessoas. Se você não
conhecer o status e qualificações de uma pessoa, isso
vai influenciar sua maneira de contatá-la. Por
exemplo, se você não souber que certo homem é o
diretor da escola, mas considerá-lo o faxineiro, isso
com certeza vai influenciar sua maneira contatá-lo.
Mas, se você souber que ele é o diretor, sua maneira
de contatá-lo será diferente. Sempre faz diferença
contatar os outros quando sabemos seu status,
qualificações, posição e cargo. De semelhante modo,
se soubermos qual é o status e cargo do Salvador-
Homem, isso afetará nosso contato com Ele.
Hoje muitos crentes oram ao Senhor e O
contatam de maneira nem um pouco adequada. Eles
não têm muito apreço pelo status, posição e
qualificação do Senhor. Não têm muita compreensão
do processo pelo qual Ele passou a fim de ser
empossado em Seu cargo celestial.
Antes de ser empossado em Sua ascensão, o
Salvador-Homem passou pelo processo de criação,
encarnação, viver humano, crucificação e
ressurreição. A criação veio a existir por meio Dele.
Sobre isso, João 1:3 diz: “Todas as coisas foram feitas
546
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

por intermédio Dele, e sem Ele nada do que foi feito


se fez”. Além disso, Colossenses 1:16 diz: “Pois nele
foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra,
as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam
soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo
foi criado por meio dele e para ele”. Cristo também
passou pela encarnação: como a Palavra, que é Deus,
Ele se tornou carne (Jo 1:1, 14). Mediante a
encarnação, Ele introduziu o Deus criador em Sua
criatura, na humanidade, Ele viveu na terra por
trinta e três anos e meio e precisamos conhecê-Lo em
Seu viver humano. Por fim, foi à cruz por meio da
qual entrou na morte e fez uma viagem nas regiões
da morte. Em seguida, em ressurreição, Ele venceu a
morte e a destruiu (2Tm 1:10). Visto que ela não pôde
retê-Lo (At 2:24), Ele saiu da morte e entrou em
ressurreição. Depois de Sua maravilhosa ressurreição
e em ressurreição, Ele ascendeu ao mais elevado
lugar no universo: os céus.
Em ascensão, o Salvador-Homem foi coroado de
glória e honra. Em ascensão, Ele também foi
entronizado para ser o Administrador sobre todo o
universo. Além disso, em ascensão, Ele foi feito o
Senhor de tudo e o Cristo para levar a cabo o plano
eterno de Deus a fim de Se propagar sobre a terra,
para gerar um Corpo a fim de ajustá-lo à Sua
expressão. Agora, quando O contatamos, devemos
contatá-Lo como tal. Quando O contatamos,
precisamos ter a percepção do que Ele é, percepção
de Seu status, posição e cargo.
Somos gratos ao Senhor por não mais “deslizar”
sobre a superficie da Palavra. Em Sua misericórdia,
Ele rompeu através do “gelo” e abriu as profundezas
das Escrituras para nos mostrar todos esses tesouros.
54
MENSAGEM SETENTA E SETE

NOVAS EXPRESSÕES PARA COMUNICAR A


VERDADE
Recentemente ouvi algumas palavras de apreço,
proferidas por certos cristãos sobre a exposição da
Bíblia entre nós. Alguns deles, porém, não se sentem
bem quando usamos alguns neologismos, não usados
por outros no ensino das verdades da Bíblia. Admito
que nos últimos trinta anos introduzimos diversos
termos e expressões novas, a fim de comunicar as
verdades enterradas na Palavra de Deus. Entretanto
não inventamos nenhum ensinamento; antes, apenas
descobrimos o que a Bíblia revela. Não podemos
aperfeiçoar nem devemos alterar as verdades divinas,
mas, pela graça do Senhor, podemos e devemos
aperfeiçoar e ajustar as descobertas das verdades
mais profundas comunicadas pela Palavra Sagrada.
As verdades que descobrimos na Palavra sempre
precisam de novos termos para expressá-las.
Entretanto isso não é algo incomum, porque essa é a
situação na cultura humana. Novos termos e
expressões são sempre necessários para denotar
novas descobertas. Por exemplo, alguns séculos atrás,
será que tínhamos as palavras “computador”,
“vitamina” e “raio X”? Não, não tínhamos esses
termos porque essas coisas não haviam sido
descobertas, mas, tão logo algo novo é descoberto, há
a necessidade de uma expressão ou termo para
designá-la. O princípio é o mesmo ao se usar novos
termos e expressões para comunicar as verdades na
Bíblia. “Deus Triúno” e “Trindade” foram expressões
novas usadas pelos primeiros mestres das verdades
bíblicas para denotar a Divindade triúna. Alguns
aspectos mais profundos da verdade sobre a
548
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

economia neotestamentária de Deus, que o Senhor


nos tem mostrado nesses últimos anos, exigem novas
expressões.
Vamos usar a palavra “economia” como
ilustração. Não é provável que recentemente, há vinte
ou vinte e cinco anos, essa palavra tenha sido usada
com frequência nos escritos cristãos. Em vez da
palavra economia, muitos mestres usavam a palavra
“dispensação”, que tem causado muita confusão. Que
é dispensação? Alguns pensam que é um mero
período de tempo. Na verdade, de acordo com a
Bíblia, o sentido verdadeiro, genuíno e básico de
dispensação é economia - a administração doméstica
de Deus para Se trabalhar em Seus filhos. A
economia de Deus é questão do Deus Triúno
dispensando-Se ao homem tripartido. Usamos a
expressão “economia de Deus” apenas como
ilustração de que a restauração do Senhor prossegue.
No avanço da restauração do Senhor, precisamos
usar certos termos e expressões para comunicar a
verdade.
Louvamos o Senhor pelo que Ele nos mostrou na
Palavra sobre a ascensão do Salvador-Homem.
Quanto mais refletimos sobre Sua ascensão, mais
estamos nos céus porque estamos em Sua ascensão.
Nosso Cristo hoje não só é Aquele por meio de quem
tudo foi criado, Aquele que Se encarnou, que viveu na
terra, que morreu na cruz por nossos pecados e
ressurgiu dentre os mortos. Hoje, o nosso Cristo é
Aquele que, depois de passar pelo longo processo de
criação, encarnação, viver humano, crucificação e
ressurreição, ascendeu às maiores alturas e está nos
céus. Em Sua ascensão, Ele foi coroado e entronizado,
e foi feito o Senhor e o Cristo para possuir todas as
54
MENSAGEM SETENTA E SETE

coisas e para levar a cabo o comissionamento de


Deus, de modo que a economia de Deus, Seu plano
eterno, seja cumprido na terra entre nós e por meio
de nós nesta era. Que maravilha ter esse Cristo em
ascensão!
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SETENTA E OITO

A ASCENSÃO DO SALVADOR-HOMEM
(3)
Leitura Bíblica: Ef 1:22,10; Cl1:l8; Ef 1:23; 3:19b;
Hb 4:14; 7:26, 22; 8:6; 9:15-16; Ap 1:13; 2:1

Nesta mensagem chegamos ao aspecto subjetivo


da ascensão do Salvador-Homem. É mais fácil falar
do aspecto subjetivo da ascensão do Salvador-
Homem do que do aspecto objetivo. Sobre a ascensão
do Senhor ser subjetiva para nós, sinto que me falta
elocução para expressar o que o Senhor nos tem
mostrado.

UMA TRANSMISSÃO DO CRISTO


ASCENDIDO À IGREJA
Vimos que em ascensão Cristo foi coroado de
glória e honra e entronizado para a administração de
Deus. Isso quer dizer que Ele partilha o trono de
Deus para ser o único Administrador no universo.
Por meio da ascensão, Cristo foi também empossado
a fim de ser o Senhor para possuir tudo e ser o Cristo
para levar a cabo o comissionamento divino. Uma vez
que todos esses pontos são objetivos, como podemos
provar que a ascensão de Cristo está relacionada
conosco de forma subjetiva? A prova está no fato de
que há uma transmissão do Cristo ascendido a nós.
Usei a palavra “transmissão” com relação à ascensão
de Cristo pela primeira vez há vinte e dois anos,
durante uma mensagem na qual tentava falar sobre
Efésios 1:19-23. O versículo 22 diz que Deus deu
552
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Cristo “para ser o cabeça sobre todas as coisas [...] à


igreja”. A frase “à igreja” indica uma transmissão do
Cristo ascendido à igreja, Seu Corpo.

CABEÇA SOBRE TODAS AS COISAS PARA A


IGREJA
A segunda parte de Efésios 1:22 diz: “Para ser o
cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja”. Esse
trecho tem sido um problema para os tradutores da
Bíblia. Há três maneiras principais de se traduzir
essa frase. A primeira é a maneira seguida pela
Versão King James e a Nova Tradução de 1. N.
Darby; também é a tradução na Versão Restauração.
A Versão King James diz: “deu-o para ser o cabeça
sobre todas as coisas à igreja”, e a versão de Darby
diz: “deu-O [para ser] cabeça sobre todas as coisas à
assembleia”. A Versão Restauração, em inglês, diz:
“Deu-Lhe [o fato de] ser a Cabeça sobre todas as
coisas para a igreja”.

Um presente de Deus a Cristo


De acordo com essa tradução, Deus deu Cristo
para ser alguma coisa à igreja. Isso não significa que
Deus deu Cristo à igreja como presente; isso significa
que Deus deu a Cristo um presente: o encabeçamento
sobre todas as coisas. De acordo com essa
compreensão, um grande presente foi dado a Cristo
por Deus, e esse grande presente foi o
encabeçamento sobre todas as coisas.

“À igreja”
O fato de Deus dar a Cristo o encabeçamento
sobre todas as coisas é para a igreja. “À igreja”, como
55
MENSAGEM SETENTA E OITO

já ressaltamos, implica transmissão. O que Deus deu


a Cristo é para a igreja, é transmitido a ela. A igreja
partilha disso. Isso corresponde à palavra “Seu poder
para com os que cremos” no versículo 19. A frase
“para com os que cremos” é uma chave porque
também indica transmissão. O poder de Deus nos
céus é para nós, isto é, é transmitido a nós.
A transmissão da eletricidade da usina até nossa
casa é uma ilustração da transmissão do poder de
Deus dos céus à igreja. A corrente de eletricidade
corre da usina por meio de fios até nossa casa. Essa
corrente elétrica é a transmissão. Quando as luzes
estão acesas, sabemos que essa transmissão está
acontecendo. Se formos ao medidor, veremos clara
indicação de que a corrente elétrica está passando,
que há transmissão de eletricidade da usina a nossa
casa.
De igual modo, há uma transmissão da corrente
celestial da eletricidade divina, da “usina” no terceiro
céu à igreja. Como a igreja, somos o “prédio” ao qual
a eletricidade divina é transmitida. Por isso o poder
de Deus é para nós. Isso quer dizer que a eletricidade
divina é transmitida dos céus a nós.
Efésios 1:19 diz que a transmissão do poder de
Deus a nós é “segundo a eficácia da força do seu
poder”. A frase “segundo” indica que um condutor é
necessário para a transmissão da eletricidade divina.
Esse condutor pode ser comparado aos trilhos sobre
os quais uma locomotiva se movimenta. Sem os
trilhos, uma locomotiva não tem como se
movimentar adequadamente. De modo semelhante, a
eletricidade celestial, divina, é transmitida a nós de
acordo com um “condutor” ou “trilho”.
Conforme é usada no versículo 19, a frase
554
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

“segundo” também indica modelo ou padrão,


mostrando-nos como esse grande poder é
transmitido a nós. O poder de Deus é transmitido
segundo a eficácia da força do Seu poder. Paulo aqui,
aparentemente exaurindo o vocabulário da língua
grega, fala de poder, eficácia e força. Ele usa todas
essas palavras para comunicar algo da vastidão do
poder de Deus para nós. O poder de Deus é-nos
transmitido segundo uma eficácia, e essa eficácia é da
força do Seu poder.

O poder de Deus exercido em Cristo


Em Efésios 1:20 Paulo continua: “O qual exerceu
ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e
fazendo sentar à sua direita nos lugares celestiais” A
que se refere “o qual”? Refere-se a “poder” no
versículo 19. No versículo 20 Paulo fala do poder que
Deus exerceu em Cristo.
Desse versículo até o 22, vemos que Deus
exerceu esse poder em Cristo mediante quatro
passos:1) ressuscitando-O dentre os mortos; 2)
fazendo-O sentar à Sua direita nos lugares celestiais;
3) sujeitando todas as coisas sob Seus pés; 4) dando-
Lhe o fato de ser a Cabeça sobre todas as coisas para
a igreja. O passo final da obra de Deus em Cristo com
Seu grande poder foi dar-Lhe o fato de ser a Cabeça
sobre todas as coisas, e o que Deus deu a Cristo foi
para a igreja.

DUAS OUTRAS TRADUÇÕES


Uma segunda maneira de traduzir Efésios 1:22
não usa as palavras “para ser”. De acordo com essa
maneira de traduzir o versículo, devia-se ler: “deu-O,
55
MENSAGEM SETENTA E OITO

cabeça sobre todas as coisas à igreja”. O versículo


deveria então significar que Deus deu algo à igreja.
Que Deus deu à igreja? Deu Cristo à igreja como a
Cabeça sobre todas as coisas. Uma versão que segue
essa maneira é o Concordant Literal New
Testament: “Dá-O, como Cabeça sobre tudo, à
eclesia”. Wuest, em sua tradução expandida, diz a
mesma coisa: “A Ele, Ele deu como Cabeça sobre
todas as coisas à Igreja”. Dean Alford também
interpreta esse versículo querendo dizer que Deus
deu Cristo à igreja como a Cabeça, e essa Cabeça está
sobre todas as coisas. Essa segunda maneira de
traduzir esse versículo poderia indicar que, depois de
Deus ter ressuscitado Cristo dentre os mortos, tê-Lo
feito assentar nos céus e ter sujeitado todas as coisas
sob Seus pés, Ele O deu então à igreja como a Cabeça
sobre todas as coisas. Isso não seria lógico de acordo
com a sequência. Os três passos de ressuscitar Cristo,
assentá-Lo nos céus e sujeitar todas as coisas sob
Seus pés são grandes passos. Conforme a segunda
maneira de traduzir o versículo, esses grandes passos
são seguidos por um passo menor: dar Cristo à igreja.
A terceira maneira de traduzir Efésios 1:22 diz
que Deus deu, designou ou fez Cristo o Cabeça sobre
todas as coisas para a igreja. Essa é a tradução na
versão chinesa e também na Versão Berkeley.
Segundo essa tradução, Deus ressuscitou Cristo
dentre os mortos, assentou-O nos céus, sujeitou tudo
sob Seus pés e depois O designou como a Cabeça de
todas as coisas para a igreja.
O significado da terceira maneira de traduzir
esse versículo é mais elevado do que a segunda e
inferior à primeira. Dessas três maneiras de traduzir
Efésios 1:22, a segunda é a inferior.
556
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Depois de considerar essa questão com cuidado,


ainda prefiro seguir a primeira. Deus ressuscitou
Cristo dentre os mortos, assentou-O nos céus,
sujeitou todas as coisas sob Seus pés e por fim deu-
Lhe um grande presente. Vincent diz que a palavra
“dar” no versículo 22 não quer dizer designar ou
fazer; antes, quer dizer dar algo como presente. Por
isso esse versículo diz que Deus deu algo a Cristo.
Que Deus Lhe deu? Deu-Lhe o encabeçamento sobre
todas as coisas. Depois de ressuscitá-Lo dentre os
mortos, fazê-Lo assentar nos céus e sujeitar todas as
coisas sob Seus pés, Deus deu-Lhe o grande presente
do encabeçamento sobre todas as coisas.
Essa maneira de traduzir Efésios 1:22 é lógica,
significativa e correta. O homem condenou Cristo e
sentenciou-O à morte, mas Deus chegou para
ressuscitá-Lo, para fazê-Lo assentar nos céus,
sujeitar todas as coisas sob Seus pés e dar-Lhe o fato
de ser a Cabeça sobre todas as coisas. O
encabeçamento sobre todas as coisas foi o presente
dado a Cristo por Deus.

A TRANSMISSÃO DO CRISTO ASCENDIDO À


IGREJA
A melhor tradução da segunda parte de Efésios
1:22 é: “deu-Lhe o fato de ser a Cabeça sobre todas as
coisas para a igreja”. Se Paulo tivesse concluído
Efésios 1 dizendo que Deus deu a Cristo o fato de ser
a Cabeça sobre todas as coisas, a ascensão de Cristo
nada teria tido a ver com a igrej a. Paulo, porém,
acrescentou a importante frase “à igreja”. Como já
enfatizamos, essa frase implica transmissão. Tudo o
que Cristo, a Cabeça, alcançou e obteve é transmitido
à igreja, Seu Corpo.
55
MENSAGEM SETENTA E OITO

Precisamos ver que a frase “à igreja” indica que


tudo o que Cristo é em ascensão é transmitido à
igreja. Já que a transmissão divina não é uma vez por
todas, a igreja deve recebê-la continuamente. A
eletricidade pode ser instalada num prédio uma vez
por todas, mas a transmissão da eletricidade
acontece o tempo todo. De igual modo, Deus
ressuscitou Cristo, assentou-O nos céus, pôs tudo sob
Seus pés e deu-Lhe o grande presente de ser a Cabeça
sobre todas as coisas. Agora, tudo o que Cristo é em
ascensão é transmitido à igreja. Essa é a transmissão
contínua à igreja do Cristo ascendido com o pleno
significado de Sua ascensão.
Se há problema com a transmissão de
eletricidade da usina ao prédio, o problema em geral
não é com a usina, mas é com o prédio, isto é, com o
receptor. Igualmente, nunca há problema com a
usina celestial, porém com a igreja sempre há o
problema de receber a transmissão divina. Quase
sempre temos problemas que estorvam a
transmissão da eletricidade divina a nós. Essa
transmissão não é capaz de penetrar muitos cristãos
de hoje. Na verdade, poucos cristãos estão dispostos
a se abrir plenamente para receber essa transmissão
contínua.

Assentados com Cristo nos lugares celestiais


Por meio da transmissão divina do Cristo
ascendido à igreja, a ascensão do Salvador-Homem
está definitivamente relacionada conosco. Não pode
haver dúvidas de que estamos ligados a Ele em Sua
ascensão. Por esse motivo, Efésios 2:6 nos diz que
estamos assentados com Cristo Jesus nos lugares
celestiais. Por anos a fio não consegui entender como,
558
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

nas palavras de Efésios 2:6, podemos estar


assentados nos céus. Descobri que a eletricidade é
excelente ilustração para ajudar-nos a compreender
isso. A eletricidade que funciona em nossa casa está
também na usina. Isso significa que a eletricidade
está na usina e em nossa casa ao mesmo tempo. De
modo semelhante, por meio da transmissão divina,
somos unidos a Cristo nos céus. Isso não é
superstição; é um fato maravilhoso. Q poder que está
na usina celestial também está em nós.

A realidade da transmissão divina


Embora não consigamos ver esse poder, ele é
uma realidade. Não conseguimos ver o poder que
mantém os planetas em suas posições no sistema
solar, mas isso sem dúvida é um fato. Não devemos
dizer: “A ascensão de Cristo é algo muito distante de
mim. Não consigo entendê-la e não consigo ver a
transmissão divina”. Tampouco você consegue ver o
poder que mantém os planetas girando ao redor do
sol, mas ainda assim acredita nele. Precisamos crer
que no âmbito divino, espiritual, há um poder que
nos transmite tudo o que Cristo alcançou e obteve em
ascensão. O que Cristo alcançou e obteve em
ascensão está além da medida, mas tudo isso é agora
transmitido à igreja. Uma vez que somos receptores
desimpedidos e estamos dispostos a nos abrir, essa
transmissão ocorre continuamente.

Experimentar a transmissão divina


Agora devemos ser capazes de ver a conexão ou a
relação entre nós e a ascensão de Cristo. Há um
poder, uma corrente divina, correndo do Cristo
55
MENSAGEM SETENTA E OITO

ascendido à igreja, assim como a eletricidade flui da


usina para o prédio. Não devemos somente crer na
transmissão divina, devemos experimentá-la dia a
dia. Posso testificar que, por experimentar a
transmissão, nada pode derrotar-me, estorvar-me ou
reter- me. Luz, vida, suprimento e poder sustentador
chegam a mim continuamente por causa dessa
transmissão divina.
Você sabe onde a igreja deve estar hoje? Deve
estar na transmissão do Cristo exaltado e ascendido.
Cristo foi ressuscitado dentre os mortos e assentado à
destra de Deus nos céus. Todas as coisas foram
sujeitas sob Seus pés e foi-Lhe dado o
encabeçamento sobre todo o universo. Agora, tudo o
que Ele alcançou e obteve nesses quatro passos dados
por Deus a Seu respeito é transmitido à igreja. Essa
transmissão é indicada pela frase: “para com os que
cremos” em Efésios 1:19 e “à igreja” no versículo 22.
Nessa transmissão, a igreja partilha com Cristo todas
as Suas realizações: a ressurreição dentre os mortos,
estar assentado em Sua transcendência, a sujeição de
todas as coisas sob Seus pés e o encabeçamento sobre
todas as coisas. Louvado seja o Senhor pela
transmissão a nosso ser de Cristo, que está em
ressurreição e em ascensão!
Cristo não só está em nós, mas Sua ressurreição
e ascensão também estão. Como o Espírito
processado, todo- inclusivo, habitando em nosso
interior, Cristo habita em nós hoje com Sua
humanidade, divindade, viver humano, morte,
ressurreição e ascensão. Tudo isso é transmitido a
nós.
Sobre a experiência da transmissão divina, todos
fomos estorvados pelos ensinamentos distorcidos da
560
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

teologia tradicional. Muitos cristãos nunca ouviram


falar das coisas relativas à ascensão de Cristo.
Especificamente eles não têm qualquer ideia sobre a
transmissão divina. Os ensinamentos tradicionais
deram a muitos de nós uma educação inadequada, a
qual nos impediu de experimentar Cristo em Sua
ressurreição e ascensão. Insto com vocês que se
esvaziem a fim de receber algo mais novo e mais
profundo da revelação divina nas Escrituras.
O Novo Testamento revela que nosso Cristo está
em ressurreição e ascensão. Tudo o que Ele obteve e
alcançou em Sua ressurreição e ascensão é agora
transmitido a nós pelo Espírito todo-inclusivo que dá
vida. Simplesmente precisamos abrir-nos e dizer:
“Senhor, estou aqui. Eu Te amo e me dou a Ti.
Senhor, esvazio todo o meu ser por Ti”. Se orar dessa
forma, você experimentará e desfrutará essa
transmissão divina.

O OBJETIVO DA TRANSMISSÃO DIVINA:


ENCABEÇAR TODAS AS COISAS EM CRISTO
A administração eterna de Deus
A transmissão divina revelada em Efésios 1 tem
um grande objetivo: o encabeçamento de todas as
coisas em Cristo. Sobre isso, Efésios 1:10 diz: “De
fazer convergir Nele, na dispensação da plenitude
dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as
da terra”. [Em grego o verbo convergir é encabeçar.]
A palavra grega traduzida por “dispensação” pode ser
também traduzida por “economia”. A economia, ou
dispensação, que Deus propôs em Si mesmo é
encabeçar todas as coisas em Cristo na plenitude dos
tempos. Os tempos aqui se referem às eras. A
plenitude dos tempos acontecerá quando o novo céu
56
MENSAGEM SETENTA E OITO

e nova terra vierem depois de completadas todas as


dispensações de Deus em todas as eras.
Já enfatizamos categoricamente que Deus fez de
Cristo o Cabeça de todas as coisas. Mediante todas as
dispensações de Deus em todas as eras, todas as
coisas serão encabeçadas em Cristo no novo céu e
nova terra. Isso será a administração e a economia
eternas de Deus.
Atualmente todo o universo se corrompe e se
deteriora. Veja a situação da raça humana. Ninguém
é capaz de encabeçar as nações. Deus, porém, está
encabeçando todas as coisas em Cristo, a única
Cabeça. Mas precisamos saber que, para encabeçar
todas as coisas, essa única Cabeça precisa de um
Corpo, que é a igreja. A igreja é o Corpo por meio do
qual Deus encabeça todas as coisas em Cristo.

Por meio de um homem universal


Efésios 1:10 fala de uma dispensação da
plenitude dos tempos. Isso indica que na plenitude
das dispensações de Deus, o encabeçamento de todas
as coisas estará completado. Esse encabeçamento é
realizado por Deus mediante um homem universal. O
Cabeça desse homem é Cristo e o Corpo desse
homem é a igreja. Esse homem universal,
compreendendo o Cabeça e o Corpo, é o meio pelo
qual e a esfera na qual Deus está encabeçando todas
as coisas no universo inteiro.
Porquanto Deus está encabeçando todas as
coisas por meio de um homem universal, constituído
de Cristo, o Cabeça, e a igreja, o Corpo, nós, como
membros do Corpo, precisamos manter a unidade
debaixo do encabeçamento. A sutileza do inimigo é
dividir os membros do Corpo de Cristo. Entretanto
562
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

nós nos posicionamos para um testemunho da


unidade dos crentes. Na restauração do Senhor, nós
nos posicionamos como um. Louvado seja Ele porque
aqui há um testemunho de unidade! Essa unidade é o
instrumento, o canal e a esfera que Deus está usando
para encabeçar todas as coisas em Cristo.

O gemido da criação
Sobre o encabeçamento de todas as coisas em
Cristo e por meio da igreja, gostaria de pedir-lhes que
olhem Romanos 8:19-22: “A ardente expectativa da
criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a
criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente,
mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança
de que a própria criação será redimida do cativeiro
da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de
Deus. Porque sabemos que toda a criação a um só
tempo geme e suporta angústias até agora”. Aqui
vemos que toda a criação geme e suspira por causa de
sua corrupção. A criação espera, ansiosamente
aguardando, a manifestação dos filhos de Deus.
Naquela época todas as divisões e separações serão
removidas e todas as coisas, não só a humanidade,
serão encabeçadas em Cristo.
Primeiro, Cristo encabeça os crentes. Depois, por
meio de Seu Corpo, Ele encabeçará todas as coisas.
Isso é maravilhoso. Embora o encabeçamento de
todas as coisas em Cristo e por meio da igreja esteja
muito longe de nossa compreensão, é sem dúvida um
fato. Por isso precisamos crer que, cedo ou tarde,
Deus cumprirá isso.

Não impossível para Deus


56
MENSAGEM SETENTA E OITO

Quando alguns ouvem sobre o encabeçamento


posterior de todas as coisas em Cristo por meio da
igreja, Seu Corpo, podem perguntar quando isso
acontecerá. Nós, é claro, não sabemos: a Bíblia
somente nos fala “na dispensação da plenitude dos
tempos” (Ef 1:10).
De acordo com a visão do homem, o
encabeçamento de todo o universo parece ser uma
impossibilidade. Alguém pode dizer: “Vocês falam
sobre o encabeçamento de todas as coisas num único
cabeça? Isso é impossível”. Para o homem, isso é
impossível, mas não o é para Deus. Com Ele, nada é
impossível (Me 10:27).
Embora não saibamos quanto tempo levará até a
dispensação da plenitude dos tempos, quando todas
as coisas estarão encabeçadas em Cristo, temos a
certeza de que Deus o consumará. Tudo o que Deus
fala ocorrerá. Ele nos disse que está encabeçando
todas as coisas em Cristo, a Cabeça da igreja, e fará
isso sem dúvida.
ESTUDO- VIDA DE LUCAS

MENSAGEM SETENTA E NOVE

A ASCENSÃO DO SALVADOR-HOMEM
(4)
Leitura Bíblica: Ef 1:22,10; Cl 1:18; Ef 1:23;
3:19b; Hb 4:14; 7:26, 22; 8:6; 9:15-16;Ap 1:13; 2:1

Nesta mensagem daremos uma conclusão sobre


o aspecto subjetivo da ascensão do Salvador-Homem.
Já vimos que, em Sua ascensão, a Cristo foi dado ser
a Cabeça sobre todas as coisas para a igreja de modo
que todas as coisas sejam encabeçadas Nele (Ef 1:22,
10). Agora prosseguiremos para ver que o Cristo
ascendido é a Cabeça da igreja e também o Sumo
Sacerdote nos céus.

A CABEÇA DA IGREJA, SEU CORPO,


PARA EXPRESSAR DEUS EM SUA
PLENITUDE
Em Sua ascensão Cristo foi feito a Cabeça da
igreja, Seu Corpo, para expressar Deus em Sua
plenitude. Colossenses 1:18 diz: “Ele é a cabeça do
corpo, da igreja”. De acordo com Efésios 1:23, Seu
Corpo é a plenitude Daquele que a tudo enche em
todas as coisas. Em Efésios 3:19 Paulo fala de ser
“tomados de toda a plenitude de Deus”. Toda essa
plenitude habita em Cristo (CI1:19; 2:9). Habitando
em nós, Cristo transmite Suas insondáveis riquezas a
nosso ser, de modo que por fim estaremos plenos de
toda a plenitude de Deus. Isso nos torna a expressão
de Deus, que é o que a igreja deve ser.
566
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

A unidade da Cabeça e do Corpo


Como a Cabeça da igreja, Seu Corpo, Cristo
certamente está ligado ao Corpo. Assim como num
corpo físico cabeça e corpo são um, assim também
Cristo, a Cabeça, e a igreja, Seu Corpo, estão ligados e,
portanto, são um. Seria absurdo pensar que a cabeça
não está relacionada com o corpo. Igualmente seria
um engano pensar que, como a Cabeça, Cristo está
longe do Corpo. Alguns, porém, pensam que Cristo
está longe de nós, os membros de Seu Corpo. De
acordo com esse conceito, a Cabeça está nos céus e o
Corpo, na terra. Para quem tem esse conceito, parece
que há enorme distância entre a Cabeça nos céus e o
Corpo na terra. Como, então, a Cabeça e o Corpo
estão ligados? Essa compreensão da Cabeça e do
Corpo é absurda.
Em ascensão Cristo foi feito a Cabeça da igreja.
Como podemos dizer que a Cabeça está nos céus e a
igreja, o Corpo, está na terra, bem distante da
Cabeça? De acordo com a Bíblia, a Cabeça não está
sozinha nos céus, sem Seu Corpo, e o Corpo não está
na terra sem a Cabeça. O Corpo sem a Cabeça seria
uma monstruosidade.
Sem dúvida a Bíblia revela que Cristo, a Cabeça,
ascendeu aos céus. Nós, é claro, estamos na terra.
Então onde estão a Cabeça e o Corpo, no céu ou na
terra? A Cabeça e o Corpo são um e formam um
homem universal, mas esse homem universal está no
céu ou na terra? Se disser que a Cabeça está no céu e
o Corpo está na terra, estará totalmente errado. Se
for essa a situação, o que liga a Cabeça e o Corpo?
Alguns podem dizer que a Cabeça e o Corpo estão
ambos no céu e na terra, mas o que isso quer dizer?
56
MENSAGEM SETENTA E NOVE

Quer dizer que às vezes estamos no céu e que outras


vezes estamos na terra?
Para responder a pergunta sobre a localização da
Cabeça e do Corpo, precisamos perceber que isso não
envolve espaço e tempo. Com coisas materiais,
existem esses elementos, mas com coisas divinas não
há o elemento espaço nem tempo. Cristo é a Cabeça
da igreja, Seu Corpo, e isso certamente não é material,
mas é totalmente divino. Com essa questão divina,
não há espaço nem tempo. Por isso precisamos ver
que na vida divina e no Espírito divino, nós, os
crentes, somos um com Cristo.
O Corpo é um com a Cabeça na vida divina e no
Espírito divino. Sobre a Cabeça e o Corpo, não
devemos considerar espaço nem tempo, porque aqui
esses elementos não se aplicam. Como membros do
Corpo na vida divina e no Espírito divino, não
estamos separados pelo espaço ou tempo. Estamos
todos agora no Corpo.
Devemos enfatizar que com coisas materiais
temos os elementos de espaço e tempo, mas não os
temos com as coisas divinas. Por exemplo, o Senhor
Jesus disse:
“Ninguém subiu ao céu, senão Aquele que do céu
desceu: o Filho do homem, que está no céu” (Jo 3:13).
O Senhor aqui diz que, embora tivesse descido do céu,
ainda estava no céu. Isso significa que, enquanto
estava na terra, Ele ainda estava no céu. De acordo
com o corpo físico, Ele estava na terra quando
proferiu essas palavras, mas, de acordo com Seu ser
divino, que não envolve espaço nem tempo, Ele
estava no céu.
Na vida da igreja não devemos considerar a
Cabeça e o Corpo do ponto de vista físico. Antes,
568
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

precisamos considerá-los do ponto de vista divino.


De acordo com o ponto de vista divino, somos um
com o Cristo ascendido e Sua ascensão também é
nossa (Ef 2:6). Aqui, em ascensão, nós O
expressamos em Sua plenitude.

A plenitude de Cristo para Sua expressão


Efésios 3:19 fala de sermos cheios até toda a
plenitude de Deus e 1:23 diz que a igreja, Seu Corpo,
é a plenitude Daquele que a tudo enche em todas as
coisas. Sempre enfatizamos que essa plenitude é o
resultado, a consequência, do desfrute das riquezas
de Cristo (Ef 3:8). Por meio desse desfrute, tomamo-
nos Sua plenitude para expressá-Lo. Quando
desfrutamos Cristo, há um resultado. O resultado do
desfrute de Cristo é a plenitude, e essa plenitude é a
vida apropriada da igreja. Na vida da igreja, que é a
plenitude de Cristo, a igreja expressa Cristo. Essa
expressão de Cristo na igreja está na natureza e
esfera divinas.
Podemos ver então que a ascensão de Cristo tem
muito a ver conosco. É em ascensão que somos um
com Ele. Além disso, em ascensão, e não apenas em
Sua ressurreição, Ele é nossa Cabeça e nós somos Seu
Corpo. O Novo Testamento não diz que foi na
ressurreição de Cristo que Deus O fez Cabeça da
igreja. Antes, a Bíblia revela que foi em ascensão que
Deus fez Cristo a Cabeça da igreja, Seu Corpo.

O SUMO SACERDOTE NOS CÉUS


Em Sua ascensão Cristo foi também feito o Sumo
Sacerdote nos céus. Hebreus 4:14 diz que temos
“Jesus, o Filho de Deus, grande sumo sacerdote que
56
MENSAGEM SETENTA E NOVE

penetrou os céus”. O Senhor veio de Deus a nós por


meio da encarnação e depois voltou de nós a Deus
mediante a ressurreição e ascensão para ser nosso
Sumo Sacerdote, a fim de nos sustentar na presença
de Deus e cuidar de todas as nossas necessidades (Hb
2:17 -18; 4:15). Por isso Hebreus 7:26 diz: “Com
efeito, nos convinha um sumo sacerdote, assim como
este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos
pecadores, e feito mais alto do que os céus”. Em
ascensão Cristo passou pelos céus; agora Ele não só
está no céu (Hb 9:24), mas também mais alto do que
os céus, muito acima de todos os céus (Ef 4:10). Em
ascensão Ele foi empossado em Seu cargo sacerdotal.
Quando Ele estava na terra, não levou a cabo Seu
ministério sacerdotal como faz agora nos céus.

Cuida das igrejas


É significativo que em Apocalipse Cristo não seja
desvendado primeiro como Administrador, mas
como Sacerdote. Apocalipse 1:13 diz: “No meio dos
candeeiros, um semelhante a filho de homem, com
vestes talares”. Por um lado, Cristo é o Sumo
Sacerdote a interceder nos céus pelas igrejas (Hb
7:25-26; Rm 8:34); por outro, é o Sumo Sacerdote
andando entre as igrejas para cuidar delas. Em
Apocalipse 1:13, Cristo é descrito como o Sumo
Sacerdote, conforme mostra Sua veste, uma veste
talar, isto é, a vestimenta sacerdotal (Êx 28:33-35).
A primeira visão de Cristo em Apocalipse,
registrada no capítulo 1, é do Sumo Sacerdote vestido
de uma veste sacerdotal. Como o Sumo Sacerdote,
Cristo caminha entre os candelabros e cuida deles,
principalmente do seu brilhar ao aparar as mechas
das lâmpadas. Então, no capítulo oito, Cristo é
570
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

revelado como o Sacerdote a oferecer o incenso no


altar de ouro: “Veio outro anjo e ficou de pé junto ao
altar, com um incensário de ouro, e foi-lhe dado
muito incenso para oferecê-lo com as orações de
todos os santos sobre o altar de ouro que se acha
diante do trono” (v. 3). Por isso, no capítulo um,
Cristo é revelado como o Sacerdote cuidando dos
candelabros e, no capítulo oito, é desvendado como o
Sacerdote oferecendo incenso para Deus. Então, é
claro, no capítulo cinco, Ele é revelado como o
Administrador sobre todo o universo. Para o
universo, Cristo não é o Sacerdote, é o
Administrador; mas, para a igreja, é o Sumo
Sacerdote. Como quem ascendeu aos céus, Ele agora
vive, trabalha e ministra como Sacerdote.
57
MENSAGEM SETENTA E NOVE

Sustenta-nos e mantém-nos
No Antigo Testamento, o sumo sacerdote tipifica
Cristo como nosso Sumo Sacerdote. De acordo com o
livro de Êxodo, o sumo sacerdote levava o nome das
doze tribos de Israel nos ombros e no coração:
“Tomarás duas pedra de ônix, e gravarás nelas os
nomes dos filhos de Israel; seis de seus nomes numa
pedra, e os outros seis na outra pedra, segundo a
ordem do seu nascimento [ ... ] e Arão levará os seus
nomes sobre ambos os seus ombros, para memória
diante do Senhor” (Êx 28:9-10, 12). O nome das doze
tribos também foi gravado nas doze pedras postas no
peitoral de ouro usado pelo sumo sacerdote: “As
pedras serão conforme os nomes dos filhos de Israel,
doze segundo os seus nomes: serão esculpidas como
sinetes, cada uma com o seu nome, para as doze
tribos [ ... ] assim Arão levará os nomes dos filhos de
Israel no peitoral do juízo sobre o seu coração,
quando entrar no santuário para memória diante do
Senhor continuamente” (Êx 28:21, 29). Os nomes
gravados nas pedras de ônix e nas pedras do peitoral
significam que o sumo sacerdote sustentava os
nomes do povo escolhido de Deus diante Dele. Hoje,
Cristo é nosso Sumo Sacerdote e nós estamos em
Seus ombros e em Seu peito. Ele está nos céus como
o Sumo Sacerdote sustentando-nos e mantendo-nos.
Como nosso Sumo Sacerdote, Cristo também
cuida de nós. Ele é “misericordioso e fiel sumo
sacerdote nas coisas referentes a Deus” (Hb 2:17), um
Sumo Sacerdote capaz de compadecer-se de nossas
fraquezas (Hb 4:15).
Embora Cristo como o Sumo Sacerdote cuide de
nós, todos temos nossos conceitos e sentimentos
572
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

sobre como Ele deve fazê-lo. Por exemplo, todos


queremos ser saudáveis e ter longa vida. Podemos
nem mesmo ficar satisfeitos em viver cem anos. Se
atingirmos a idade de cem anos, podemos desejar ter
cento e vinte. Frequentemente, porém, a maneira de
o Senhor cuidar de nós é diferente da que desejamos.
Por isso podemos queixar-nos e dizer: “Senhor, por
que parece que não cuidas de minha saúde? Estou
doente e oro pela cura. Senhor, onde está Teu poder?
Onde está Tua cura? Senhor, por que não me ouves?”.
O Senhor pode não responder a uma oração pela cura.
Em Seu cuidado por uma pessoa, Ele pode permitir
que ela morra de sua doença. Não sabemos o que é
bom para nós, mas o Senhor sabe. Ele sabe o que é
necessário para nossa vida na terra.
Todos temos nossas preferências sobre nosso
viver. Podemos desejar ser saudáveis e ter muitas
coisas materiais, mas o Senhor pode permitir que
sejamos pobres e privar- nos de muitas coisas. De
semelhante modo, podemos desejar ter filhos que
amem e sirvam o Senhor. Os que têm filhas podem
esperar que elas se casem com os melhores irmãos
nas igrejas. Contudo a situação sobre os filhos pode
tornar-se bem diferente do que desejávamos. Se
orarmos ao Senhor a respeito disso, Ele pode dizer:
“Você não sabe o que é melhor para você. Eu sei que
essa é a maneira que deve ser”.
Talvez você pense que coisas como essas nada
têm a ver com a ascensão de Cristo. Todavia Sua
ascensão com certeza está relacionada com essas
coisas. A ascensão do Senhor inclui Seu sacerdócio.
Como quem ascendeu, Ele é o Sumo Sacerdote a
sustentar-nos, manter-nos e cuidar de nós. Porém o
que é bom para nós não é questão de nossa
57
MENSAGEM SETENTA E NOVE

interpretação, mas Dele. Por exemplo, você pode


comprar um novo carro esperando que dure muitos
anos. Mas a opinião do Senhor sobre a questão é que
seu carro deva durar muito pouco tempo. Se você
viesse até mim e dissesse: “Comprei um carro novo e
depois de poucas semanas já está uma ruína. Por que
isso aconteceu? O Senhor não sabia que eu teria um
acidente e o carro seria destruído? Se sabia disso, por
que me permitiu comprá-lo? Por que não me
deteve?”. Eu, é claro, não posso explicar por quê. Só o
Senhor sabe o motivo: Ele é o Sumo Sacerdote.
Normalmente quando recebo cartas dos santos
perguntando sobre sua situação, ponho-as de lado. O
motivo disso é que não sou o Sumo Sacerdote e não
sei o que está no coração Dele sobre os santos. Nada
posso dizer por Ele nesses assuntos. Se eu tentasse
falar algo, na verdade não ajudaria os santos. Há
cinquenta anos, tinha muito que dizer quando
perguntado sobre tais questões. Tinha muito que
dizer porque nada sabia, portanto falava muitas
coisas de forma presunçosa. Agora, porém, tendo
mais experiência do Senhor e mais conhecimento
Dele, tenho muito pouco, se é que tenho algo, a dizer.
Posso, porém, dizer isto: o cuidado do Senhor
por nós é sempre positivo. Um dia nós O veremos e O
adoraremos. Alguns de nós poderão dizer-Lhe
“Senhor Jesus, perdoa- me por ter-me queixado a Ti
sobre minha situação. Agora sei que a vontade de
Deus para mim é boa”. Nosso Sumo Sacerdote toma
conta de nós todos muito bem.
574
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Cuida do desejo de Deus


O Cristo ascendido cuida não só de nós e de
nosso bem-estar, mas também do desejo de Deus.
Esse Sumo Sacerdote cuida mais da necessidade de
Deus do que da nossa. Deus quer candelabros. Por
isso o Senhor estabelece candelabros e limpa as
lâmpadas para a expressão de Deus (Ap 1:13; 2:1).
Esse trabalho inclui a edificação dos santos e a
edificação da igreja. O Senhor está agora edificando
um testemunho vivo de Jesus.

O Executor do Novo Testamento


Como Sumo Sacerdote nos céus, o Senhor é o
Fiador e Mediador da melhor aliança e o Executor do
Novo Testamento. Hebreus 7:22 diz: “Jesus se tem
tomado fiador de superior aliança”. Cristo ter-se
tomado fiador de superior aliança é baseado no fato
de ser o Sumo Sacerdote. Hebreus 8:6 nos diz: “É ele
também o Mediador de superior aliança”. Além disso,
Hebreus 9:15-16 diz: “Por isso mesmo ele é o
Mediador da nova aliança a fim de que, intervindo a
morte para remissão das transgressões que havia sob
a primeira aliança, recebam a promessa da eterna
herança aqueles que têm sido chamados. Porque
onde há testamento é necessário que intervenha a
morte do testador”.
No versículo 15 temos a palavra “aliança” e no 16,
a palavra “testamento”. Em grego, a mesma palavra é
usada para aliança e testamento. Uma aliança é um
acordo com algumas promessas para cumprir certas
coisas entre as pessoas conveniadas, ao passo que um
testamento é uma vontade com certas coisas
cumpridas, legadas ao herdeiro. A nova aliança
57
MENSAGEM SETENTA E NOVE

consumada com o sangue de Cristo não é meramente


uma aliança, mas um testamento com todas as coisas
cumpridas pela morte de Cristo e legadas a nós.
Deus primeiro deu a promessa de que faria uma nova
aliança (Jr 31:31-34). Cristo então derramou Seu
sangue para ratificar a aliança (Lc 22:20). Uma vez
que há fatos cumpridos prometidos nessa aliança, ela
também constitui um testamento. Esse testamento
foi confirmado e validado pela morte de Cristo e
agora é executado por Cristo em Sua ascensão.
Nosso Sumo sacerdote estabelece candelabros e
limpa as lâmpadas. Ao fazê-lo, Ele também executa o
Novo Testamento para nós. O Novo Testamento tem
muitos legados, todos os quais são bênçãos divinas
legadas às igrejas.
Na Bíblia a palavra “testamento” é igual à
expressão moderna “últimas vontades” de uma
pessoa. O Novo Testamento, portanto, é uma nova
vontade para nossa herança. Essa nova vontade é
legar as bênçãos divinas, inclusive a Pessoa de Cristo
e Sua obra redentora todo- inclusiva. Quem
sancionou essa nova vontade é Jesus Cristo, que
morreu por sua sanção. Agora, tudo o que Ele
sancionou nos foi legado e está acessível para nós.
A sanção de um testamento e tudo o que é legado
nele requer a morte do testador. Uma vez que o
testador morre, os legados no testamento se tomam
acessíveis aos herdeiros. Louvado seja o Senhor
porque Cristo morreu para sancionar o testamento e
Ele está agora nos céus como o Executor vivo do
testamento que nos legou! Como Ele executa esse
testamento? Ele executa o novo testamento
estabelecendo as igrejas como os candelabros e
limpando as lâmpadas.
576
ESTUDO-VIDA DE LUCAS

Neste exato momento, o Cristo ascendido está


estabelecendo os candelabros e limpando as
lâmpadas. Posso testificar que diariamente estou sob
Seu limpar porque tenho muita coisa que precisa ser
limpa. Também percebo que Ele anda entre as igrejas,
que está estabelecendo os candelabros de ouro.
Fazendo isso, Ele executa, cumpre, o novo
testamento de forma real. Toda bênção no Novo
Testamento é um legado aplicado a nós pelo Cristo
vivo, ressuscitado e ascendido. Isso é Cristo em Sua
ascensão. Louvado seja Ele porque podemos
desfrutá-Lo dessa forma!
O ministério de Cristo como o Sumo Sacerdote
nos céus tem um destino: a Nova Jerusalém; ela será
a consumação da obra de Cristo em Sua ascensão.
Tudo o que Cristo agora opera em Sua ascensão será
consumado na Nova Jerusalém vindoura.

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