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Valney Viana
Bàbálawo Ogbé Òtúwá
Contato: blogorunmilaifa@gmail.com
www.orunmila-ifa.com.br
Youtube: Blog Orunmila-ifa
Feito em nome de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
Owó lẹ bá fẹ́ẹ́ ní láyé
Ẹni tí ẹ ó maa bí nìyan
Ọmọ lẹ bá fẹ́ẹ́ ní láyé
Ẹni tí ẹ ó maa bí nìyẹn
Àikù lẹ bá fẹ́ẹ́ ní láyé
Ẹni tí ẹ ó maa bí nìyẹn
Ire gbogbo lẹ bá fẹ́ẹ́ ní láyé
Ẹni tí ẹ ó maa bí nìyẹn
Ọrúnmìlà afèdè-fẹ̀yọ̀
Ẹ̀tà-Ìsòdè
Ifá re'lé Olókun
Kò dé mọ́
Ó ní ẹni tí ẹ bá ti rí
Ẹ sá maa pèé ní Bàbá
Se você está em busca de prosperidade na terra
Esta é a pessoa para a qual você deve perguntar
Se você quer filhos
Esta é a pessoa a quem você deve procurar
Se você está em busca de vida longa
Esta é a pessoa a quem você deve perguntar
Órunmilá, ele que fala em diferentes idiomas e línguas
Ela-ìsòdè
Ifá foi para a casa de Olokun
E nunca retornará
Ele diz que qualquer um que você veja
Por favor, procure-o como a um Pai
Sumário
Avisos importantes
A mudança na ortodoxia de ifá
Versos que definem como Ifá vê a personalidade da Mulher
Osuhunleyo (Osúhunlẹ́yọ̀) a esposa de Àgbonnìrègún
A Traição de Apetebi
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e a paciência
O sofrimento de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) em Iwo
O sofrimento de Orunmila em Iwo
As tarefas da Apetebi
Versos que ligam o poder de Óxun (Ọ̀ṣun) e ajé (Àjẹ́)
Óxun (Ọ̀ṣun) e o poder feminino
A origem do nome Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí)
Ọ̀ṣun a esposa de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà)
Óxun (Ọ̀ṣun) recebe o oráculo de Olódùmarè
Óxun (Ọ̀ṣun) perde o saco da sabedoria para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
Oxé otuwa – Óxun (Ọ̀ṣun) de vira contra os orixá (Òrìṣà)
Comentário sobre esses versos
Versos que definem o poder feminino em ifá
Odù recebe o poder do axé (àṣẹ) de Olódùmarè
Odù A mítica esposa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
Igbadu
Análise das informações dos versos
Ògbóni e Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) o equilíbrio da relação masculino-feminino
Uma religião dividida
A mulher e o axé (àṣẹ)
A ligação de Odù com Ìyá Nlá e Onilé (Onílẹ̀)
Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) e a paz social
O que é a sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́)?
Mulheres não podem ser sacerdotes em Ifá
Iniciação de mulheres no Ifá cubano
O que a mulher pode fazer em ifá?
RESUMO DO LIVRO
Avisos importantes
O contexto das tradições religiosas afro-brasileiras é bastante amplo, sendo
composto de várias tradições. O Candomblé, também, não é apenas uma
tradição religiosa, é um nome comum que cobre 3 tradições totalmente
diferentes em relação a raiz religiosa.
Este livro trata da raiz religiosa Yorùbá, seja para Ifá ou para o culto de Orixá
(Òrìṣà). Em relação ao culto de Orixá (Òrìṣà) eu estou ligado a Candomblé
Nago ou Ketu e quando eu cito “Candomblé” é sobre esse que eu me refiro.
Padronizar nomes na matriz afro-brasileira é bem complicado, mas é
importante.
Desta maneira, entendam que, este é um livro de teologia ligado a religião
Yorùbá, trazida por Ifá e localizada no Brasl, para o culto de Orixá, através
do Candomblé Ketu. As informações que estão aqui e são parte da teologia
geral da religião e elas dificilmente são influenciadas pelo culto de Orixá
(Òrìṣà) que uso como referência, mas, existe essa possibilidade.
Informo aos leitores que já está em elaboração a segunda edição deste livro,
na qual será incluída Ajé (Àjẹ́). A atualização do livro é feita de graça pela
loja do Kindle.
A mudança na ortodoxia de ifá
O poder feminino tem uma enorme importância em Ifá. A importância é tão
grande que deve ser considerado como um poder básico e estrutural, sem o
poder feminino não existe o poder do Bàbáláwo.
Ifá é equilíbrio, isso está documentado no Odù Òdí Méjì. Equilíbrio é a
palavra que define Ifá e certamente define também essa religião, mas,
estamos falando de Ifá e Ifá é equilíbrio em tudo.
Neste sentido, apesar a enorme importância do poder feminino, Ifá é
composto por homens. É o poder masculino que atua em Ifá, não existe lugar
em Ifá para uma mulher substituir ou fazer o que um Bàbáláwo faz.
Ifá é um culto religioso masculino. Sem blablabla, é isso mesmo, um culto
masculino. Já participei de várias discussões sobre isso e de um lado tem
apenas os argumentos de que tem que ter igualdade, que não pode fazer essa
diferença e bla, bla, bla.... Só que, isso não é sociedade civil, é religião e
religião tem dogmas, tradições, fundamentos e razões que tem origem na sua
fundamentação.
Religião é, em seu princípio, as palavras de deus para nós. O sentido de uma
religião é expressar as orientações de deus sobre comportamento, valores e
ética e, também, o conhecimento do supernatural, através do qual deus no
suporta.
Esse pequeno parágrafo tem uma densidade de informação muito grande e eu
preciso explicar uma a uma.
Religiões tem origem em deus. Sim, deus cria as religiões e faz isso no
mundo todo todo em sucessivas eras de tempo. Ao longo de toda a existência
humana houveram religiões que nasceram naturalmente, é um fenômeno
humano e não pode ser atribuído a criação humana, a invenção humana, isso,
atribuir ao homem a criação de deus e da religião é a mais profunda
ignorância. A corrente humanista, a partir do trabalho do círculo de Viena
trouxe essa visão de deus ser fruto da imaginação humana devido a sua total
falta de argumentos.
A pessoa tem que ser um tolo ou um idiota para acreditar que ao longo de
toda a história humana, em todas as partes do mundo, com povos que nunca
se conheceram, a humanidade criou religiões como uma idéia artificial, uma
coincidência coletiva e atemporal.
Pessoas que, baseada nos fatos e na história, na demonstração do fato pelo
contexto externo que se apresenta (que são as religiões sendo criadas por
todos os povos ao longo de milênios) e, ainda, todas elas mantendo uma
persistente consistência teológica, que ainda assim acreditam que isso foi
invenção e coincidência, pode ser, com justiça, considerado um perfeito
idiota.
Religião é a estruturação das informações de deus para nós. Temos uma vida
de independência e total livre arbítrio, viver é uma aventura humana de almas
perenes, que existirão após o fim dessa vida humana. Live arbítrio não é
apenas uma expressão simples, ela é muito complexa nas suas consequências
e define a nossa relação com deus. Assim, neste contexto de total live arbítrio
da aventura humana, deus escolheu se comunica com a gente através da
religião. A religião é baseada na crença em deus e é uma opção da vida
humana, ninguém é obrigado a ter adotar uma religião e desta maneira a crer
em deus. O ateísmo é uma manifestação normal do livre arbítrio.
A religião, por sua vez, é a expressão da existência de deus e através dela da
comunicação da palavra e da orientação de deus. Mesmo em um contexto de
livre arbítrio deus nos deu a opção de aprendermos através das suas palavras
que estão na religião, como devemos proceder em nossa aventura humana e
aprendermos qual o tipo de suporte podemos contar vindos de deus.
Muitas religiões foram criadas porque os povos são diferentes e deus precisa
se comunicar com cada povo da forma como essas pessoas entendem a sua
vida em sociedade. Cada religião representa uma especialização desta
comunicação.
Através da religião, deus expressa, sempre, o comportamento, os valores, a
ética e a moral. Deus nos orienta a ser pessoas de honra e caráter e esse é o
conteúdo primário das religiões. As pessoas que não querem ser orientadas e
dirigidas pelo melhor caráter, sempre vão reagir às religiões, sempre vão
achar que elas são “castradoras”.
Deus não se interessa com o que vamos alcançar em nossa vida, com nossos
objetivos. Isso é problema nosso. Deus se preocupa em COMO vamos viver e
como vamos atingir os nossos objetivos.
Livre arbítrio implica em independência de deus, podemos ser e fazer o que
quiseremos, não somos obrigados a fazer nada que deus queira para nós e não
seremos punidos com isso, não nessa vida. Essa independência é a base do
livre arbítrio, mas isso, significa também que não existe interferência de deus
em nossos problemas.
Contudo existe um suporte de deus para nós, não estamos sozinhos e dentro
de um escopo definido de objetivos previamente definidos com deus,
podemos esperar alguma ajuda de deus. Para isso existe o supernatural que
nos rodeia. As religiões nos ensinam como usar esse supernatural com ética e
bons resultados.
Deus suporta essa nossa vida, existe uma aliança entre deus e nós para
sermos felizes em nossa aventura humana e esse suporte se dá através do
supernatural que faz parte do mundo natural.
Mas o suporte de deus para nós será feito de forma restrita, ligado aos nossos
objetivos de vida e condicionado ao nosso bom comportamento, ao nosso
caráter.
A grande, a enorme questão é que as pessoas, hoje em dia, estão
absolutamente mimizentas, não sabem ouvir um não, não sabem seguir
regras, não sabem seguir hierarquias, não sabem seguir tradições e nem
sabem o que é ortodoxia. Toda vez isso é uma discussão “podre”.
Em Ifá a presença da mulher é muito restrita, mas, muito restrita mesmo. Sou
sincero sobre isso. O culto majoritariamente feminino é o culto de Orixá
(Òrìṣà). É neste culto, Candomblé por exemplo, que a mulher tem lugar,
importância e relevância, ficando os homens para segundo plano. O culto
feminino é o egbé (Ẹgbẹ́) Imulé (Ìmùlẹ̀).
A participação sacerdotal de homens no culto de Orixá (Òrìṣà) é tardio e
apenas um desvio. As casas tradicionais que são a raiz do culto de Orixá
(Òrìṣà), não permitiam homem no sacerdócio. Isso foi resultado de casa
filhas, casa de iniciados que se separam da casa principal e passaram a
ordenar sacerdotes junto com sacerdotisas. A razão para isso foi econômica,
essas pessoas não tinham outra atividade econômica que não fosse a religião
e abriram isso para ganhar dinheiro.
Apesar de isso ser uma realidade, os sacerdotes vão ter que conviver com
realidade de não terem um útero e o útero é a base da comunicação orun-aiye.
Observem que me refiro a importância sacerdotal. Não existem cultos para
homens ou mulheres, religiões e cultos são para todos, mas, a função
sacerdotal em cada culto é exercida de maneiras diferentes.
Atualmente, a ortodoxia deste tema, mulher em Ifá, se perdeu. Há 20 anos,
quando esse assunto era discutido, com clareza, o que todos nós sabíamos era
que, não havia mulher em Ifá, que havia uma rara referência a existência de
Iyanifá, mas, que, somente mulheres que não menstruassem mais poderiam
ser e, pior, não usariam Ikins jamais e somente poderiam consultar Ifá caso
em um raio de quilômetros não houvesse um Bàbáláwo para a tender à pessoa
que necessitava. Essa era a verdade.
Eram tantas regras que poucas mulheres se interessavam por isso. Somente
mulheres de Bàbáláwo, de famílias muito tradicionais, se interessavam, visto
que tudo era definido para que ela fosse apenas um elemento de decoração e
jamais atuasse.
Desta maneira, na prática, apesar de não existir a figura de Iyanifá, havia a
figura da Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) que tinha dois tratamentos distintos em função do
Ifá Cubano ou do Ifá Nigeriano.
Para o Ifá Nigeriano, a Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) é a apenas a mulher do Bàbáláwo.
É isso o que está nos versos e era assim que eles procediam. Como mulher do
Bàbáláwo ela dorme com ele, faz filhos e limpa a casa de Ifá dele. Seguindo a
tradição Nigeriana, o homem não tem nem que sustentar a mulher, cabe a
mulher trabalhar por sua conta para se sustentar. Existe um pequeno
compromisso do homem com os filhos.
Esta é a sociedade deles. O respeito dos homens pela mulher é esse, pelos
nossos padrões do novo mundo, é nenhum respeito e os nigerianos sempre
foram conhecidos por isso. Desta maneira a Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) é quem limpa
a casa dele e cuida dos filhos dele.
No caso cubano houve uma variação e os cubanos inventaram a Apetebi
(Apẹ̀tẹ̀bí) como um cargo que as mulheres ganham em Ifá sem precisar serem
mulheres do Bàbáláwo. Os cubanos deram alguma importância, certamente
devido a imposição da sociedade no novo mundo, mas, mesmo assim, no dia
a dia, a Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) é só uma empregada do Bàbáláwo. Limpa a casa
dele e faz comida para ele, Orixá (Òrìṣà) e ebó (ẹbọ). Ela existir ou não é um
detalhe muito pequeno e com nenhuma relevância na atividade de Ifá.
A diferença entre os cubanos e os africanos é que os nigerianos dormem com
a mulher e para os cubanos elas apenas limpam a casa deles e cozinham para
eles. Se é isso o que quer então vai gosar de ser Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) que não
possui designação sacerdotal.
Essa realidade histórica e atual da mulher em Ifá, não me foi contada, eu vi
isso assim como estou descrevendo e vejo isso assim hoje.
Desta maneira, seja pelo lado cubano ou pelo lado Nigeriano, eu não sei, de
verdade porque mulheres querem ser de Ifá, é uma posição que não enriquece
sua dignidade feminina em um culto que não lhes pertence.
Lamento se algumas pessoas se ofendem com essa descrição que eu dei, mas
isso expressa apenas a história e os fatos. Alguns podem mentir e glamurizar
a realidade, mas, isso não vai mudar a realidade.
Hoje em dia, diferente de 20 anos atrás, as coisas estão mudadas,
principalmente pelo lado Nigeriano. O poder do dinheiro muda todas as
regras e nigerianos querem é ganhar dinheiro.
Pressionados pelas oportunidades do mercado dos EUA, pelos dólares de
iniciar mulheres, eles abriram as portas para mulheres em Ifá e ignoraram
todas as regras que haviam antes. Tenho dúvidas se ignoraram ou nunca
souberam.
Desta maneira este aqui é um tema difícil, porque não se trata mais de o que é
certo ou errado e sim do que interessa e o que não interessa mais ser tratado.
Os nigerianos não querem mais saber qualquer coisa diferente do que fazem
hoje. As mulheres que foram iniciadas como Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) ou Iyanifá
não querem saber nada diferente do que falaram para elas. Os Bàbáláwo que
ganham dinheiro as iniciando não querem nada que atrapalhe o seu negócio.
Quem quer saber o que é certo?
Entretanto, o poder feminino em Ifá é grande demais e importante demais
para que eu ignore esse tema importante, mesmo sabendo que isso não
interessa mais a ninguém, as pessoas querem apenas ganhar seu dinheiro.
É importante observar que nessa religião existem cultos masculinos e
também femininos. O culto de Iya Nla é feminino, o culto de Orixá é
feminino, o culto de egungun é masculino assim como o de Ifá. Apesar disso
em todos esses cultos existe a presença de pessoas de ambos os sexos, mas,
em cada culto a proeminência sacerdotal está ligada a um dos sexos.
Este livro não trata de iniciação de mulheres. Isso é um tema colateral. O
tema aqui é entender o que significa o poder feminino nesta religião e o que
significa o poder feminino em Ifá.
Para tratar desse assunto, vou listar aqui uma série de textos, versos e
histórias de Ifá que mostram a visão de Ifá para a figura da mulher. Não vou
inventar nada, vou mostrar o que está em Ifá.
Chamo a atenção que esta é uma seleção minha. Claro que consultei fontes e
vou deixar isso bastante explícito, mas, eu selecionei o que considerei
relevante.
Existe um livro antigo chamado Apetebi, do Ifayemi. Não vi este livro em
Português de maneira que pouca gente deve ter lido. Ele também fez uma
seleção e também coloca seus comentários, como faço aqui. É uma outra
fonte de referência. Eu não copiei este livro e até mesmo não gostei dele, mas
o estou citando. As histórias do livro estão muito resumidas, perdem o brilho.
O livro é bem antigo, pelo menos, o que eu tenho e reflete a visão da
sociedade deles sobre o tema.
O tratamento da mulher pela sociedade e por conseguinte pela religião é
muito típico deles, não é fácil de entender e não vou tentar fazer isso aqui.
Por um lado, elas são importantes e temidas, mas, por outro lado não recebem
o devido respeito.
Nos textos de Ifá esta situação ou paradoxo é bem típico. Se a gente lê as
histórias e os versos vai observar claramente o tratamento indiferente dado a
mulher. É como está no texto seguinte, “… tome leve para você...” como algo
que pode trocar de propriedade.
Essa atitude também é observada na forma como os africanos quem vêm para
o Brasil, os tais Bàbáláwo, fazem aqui.
Nos textos de Ifá as mulheres sempre representam atitudes ruins. Isso é muito
emblemático. Em Ifá, nos versos, determinados “objetos” tem sempre o
mesmo sentido. Assim o carneiro sempre é traidor, a tartaruga inteligente e a
mulher traiçoeira ou condutora de atitudes ruins.
Eu vejo muitas mulheres interessadas em Ifá, mas, gente, numa boa, estão no
culto errado.
Hoje em dia, em função do comércio, as pessoas estão fazendo coisas para
mulheres que não deveriam fazer. Como eu disse, os Nigerianos
principalmente, querem é ganhar dinheiro e assim, fora da terra deles fazem
coisas que jamais fariam, ou melhor, fazem para estrangeiros coisas que não
fariam para os nativos. A questão Iyanifá é parte disso. Eles não estão
interessados no que é certo ou errado. Junta duas coisas, a primeira é eles não
acreditarem que estrangeiros tenha Orixá (Òrìṣà) como eles. Eles têm certeza
que Orixá (Òrìṣà) é uma coiso só deles assim como essa religião é só deles.
Seguindo esse entendimento, este desprezo pela religião e si ao fazerem
coisas em estrangeiros eles não acham que estão fazendo nada de errado,
porque sabem que aquilo é só um placebo. Como eu disse aqui, tem umas
mulheres tolas que acham que receberam alguma coisa sendo feitas Iyanifa.
Isso é apenas comércio de Nigeriano. Nada mais.
Os cubanos não são muito diferentes, colocam as mulheres como Apetebi e
ponto. Fazem comida, limpam a casa e preparam ebós. Mulheres, o seu culto
é o culto de Orixá (Òrìṣà), vocês podem ser muito mais do que serem
empregadas de luxo do Bàbáláwo.
Mas vamos aos textos. Depois faço mais comentários. Espero sinceramente
que as pessoas que estão lendo esses comentários entendam que estou aqui
mostrando uma realidade e não fazendo apologia chauvinista.
Mas, uma coisa que eu já percebi é que as pessoas adoram se enganar, ou
melhor, para conseguir o que querem elas se enganam.
Versos que definem como Ifá vê a personalidade da Mulher
Esse livro segue minha abordagem que tratar o tema de forma teológica. Este
conteúdo não são historinhas de crianças para encher o tempo. Assim, para
entender a religião é preciso analisar os versos e mitos.
É através da leitura, análise, interpretação e entendimento que obtemos
informações sobre a teologia. Claro que esse processo permite variações de
entendimento, isso ocorre nesta religião e em qualquer outra, mas, sem ler os
versos e mitos não se aprende religião.
A seguir vou mostrar versos e mitos em grupos para ficar mais fácil entender
a confusa visão de Ifá sobre a mulher. O primeiro grupo mostra como Ifá
traduz nos versos a personalidade da mulher, como a mulher é retratada.
Tenho que chamar a atenção para um aspecto linguístico. A linha yorùbá é
muito simples e eles não tem palavras prontas para expressar sentimentos
complexos e ideias filosóficas mais densas, assim como temos no português
vindos do latim. Para eles expressarem um sentimento eles precisam contar
uma história longa que coloque você naquela situação de modo a transmitir
esse sentimento. Por isso sempre tem muitas histórias e por isso que elas têm
que ser lidas com atenção, caso contrário você não entende o sentimento que
eles querem expressar.
Nota do autor
Ayo Salami, traz no seu livro Yoruba Theology and tradition - The Worship
uma visão interessante que separa Orunmila de Agbonniregun. Segundo ele,
eles seriam irmãos e enquanto um rodava as cidades o outro ficava em casa.
Existem diferentes escolas Yorùbá, que variam pela região. Se isso está no
livro dele é porque faz parte da tradição dele, por mais distinto que possa
parecer para nós que estamos acostumados com outra visão.
Mas isso, de serem ou não irmãos, assim como outras coisas é apenas um
detalhe. Não estamos tratando de história e nem que arqueologia.
O objetivo dessa história é mostrar a origem do nome dado a esposa de um
Bàbáláwo e também mostrar a forma como a cultura Yorùbá vê a mulher. O
irmão de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) se desfaz da mulher como se estivesse se
livrando de um móvel de casa, ou um eletrodoméstico estragado. Isso é parte
da cultura deles.
A Traição de Apetebi
Eu tenho muito orgulho de publicar alguns textos neste Blog. Existem textos
aqui que refletem bases profundas da religião, dogmas ou fundamentos
importantes. No meio de tanta besteira, coisa inventada, frivolidades e
superficialidades que se fala e escreve, alguns textos devem nos remeter a
uma análise séria. Este aqui é um deles.
Para entender o modo de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) deve-se conhecer este texto.
Não é uma coisa isolada. De tudo que li de versos a atitude de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) é sempre a mesma.
Esta história faz parte do Odù Ogbè Oligun. Foi extraído da obra de
Osamaro Ibie, composta de vários livros e que recomendo que seja adquirida.
As tarefas da Apetebi
Esta é uma história muito interessante para mostrar o que Ifá reserva para as
mulheres e mais um exemplo do caráter que Ifá atribui às mulheres.
Essas histórias são metáforas, a gente tem ter atenção nos detalhes, nos
comportamentos, nas reações, etc..
No fim do texto eu faço os comentários finais
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) diz que - “muito cedo vamos amarrar
contas do ide de Ifá”
Eles responderam que - “nós também nos adornar nossos braços
com as pulseiras de latão de Oxun”
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) pergunta se apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) cuida do
santuário de Ifá santuário ou se ela não o faz. Eles responderam
que apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) cuida do santuário de Ifá
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) declara que - “Se apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) cuida
do santuário de Ifá, Ela vai ser abençoado com uma vida em seu
ventre”
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) diz que - “muito cedo vamos amarrar
contas IDE”
Eles responderam que - “nós também nos adornar com pulseiras
de latão Osun”
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) pergunta se apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) cuida de Ifá
santuário Ou ela não o faz
Eles responderam que - “apetebi cuida de Ifá santuário”
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) declara que - “Se apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) cuida
de Ifá santuário”
- “Ela vai ser abençoado com uma vida em seu útero”
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) diz que “muito cedo vamos amarrar contas
do ide”
Eles responderam que - “nós também vamos nos adornar com as
pulseiras de latão de Oxun”
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) pergunta se apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) cuida do
santuário de Ifá ou se ela não o cuida
Eles responderam que apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) cuida do santuário de Ifá
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) declara que - “Se apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) cuida
do santuário de Ifá”
- “Ela vai ser abençoado com um mensageiro para todos os
propósitos em suas mãos”
Estas foram as declarações de Ifá para Jebutu que era a esposa
de Agbonniregun, quando chorando em lamentação de sua
incapacidade de ter um filho.
Ela foi aconselhada a oferecer sacrifícios.
Jebutu era a esposa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) por vários anos. Ela
não teve filhos. Todas as mulheres que ele se casou depois dela
tinham sido abençoadas com filhos. Ela foi, porém, a única entre
as esposas de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) que estava fazendo tudo o
esperado de uma boa apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí).
Ela costumava cuidar de todos os visitantes, cozinhar para eles,
preparar sempre o santuário Ifá, limpar o local com total
dedicação. Ela estava sendo ridicularizada pelas outras esposas há
algum tempo por causa disso. Mas essas ações delas nunca a
dissuadiram de fazer o que ela sabia que era certo e apropriado.
Um dia, porém, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) teve alguns visitantes que
eram Bàbáláwo . Jebutu, como de costume, teve o cuidado com
eles e arrumado o santuário Ifá para eles. Quando ela estava
para o quintal, uma de suas esposas mais novas de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) comentou que elas deviam permitir que Jebutu para
continuasse cuidando dos alimentos para os visitantes, enquanto
as esposas restantes continuavam a cuidar das crianças de seus
maridos.
Este comentário feito para Jebutu a dexiou tão triste que ela
explodiu em lágrimas de tristeza. Em agonia, ela ergueu os olhos
para o céu e disse:
Odidere (papagaio), o pássaro do alto mar de Aluko (Maroon
Touraco Musaphagidae),
o pássaro da lagoa
Se nós falharmos de vermos um ao outro outra vez
Não deixe de fazer aquilo que nós já conversamos
Estou cansada e esgotada
Por favor, escutai as minhas orações hoje
Porque eu estou cansada e exausta.
Enquanto ela estava dizendo isso, um dos visitantes Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà), que tinha ido para o quintal para atender o chamado
da natureza a ouviu. Depois de muita persuasão, ela narrou todo
o seu calvário para ele. Ele a levou para o meio de todos os Awo.
Todos eles tiveram pena dela. E aí então, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
consultou Ifá. Foi quando Ifá declarou que desde Jebutu tinha
cuidado do santuário Ifá, ela será abençoada com três coisas:
uma vida em seu útero, uma vida em suas costas e um mensageiro
para todos os propósitos em suas mãos. Ninguém sabia o que
estes três bênção significavam.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) respondeu que a gravidez é a bênção de
uma vida no ventre de uma mulher, uma criança é a bênção de
uma vida de costas e dinheiro é a bênção de um mensageiro para
todos os propósitos em suas mãos.
Foi assim que ficou grávida Jebutu, tornou-se uma mãe orgulhosa e uma
mulher rica devido à sua perseverança.
NOTAS DO AUTOR:
Esses versos são bem representativos da visão que Ifá um culto masculino
reserva para a mulher. Claro que é uma visão Nigeriana, mas mesmo a visão
cubana é idêntica, com pequena variação.
Como eu sempre digo e repito. Ifá é um culto masculino. Ao longo dos
inúmeros textos que eu publiquei aqui, os mais relevantes para se entender a
visão de Ifá para as mulheres, vimos um desfile de versos que mostram que
Ifá reserva para as mulheres tarefas domésticas. Uma apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) serve
a um Bàbáláwo e sua atividade é manter limpa a sua casa e assentamentos.
Os Nigerianos a veem como a mulher de fato do Bàbáláwo , ele dorme com
ela. Os cubanos inventaram o cargo de apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí), deram uma pompa
qualquer, mas, no fundo é a mesma coisa. O que Ifá reserva para a mulher é
através de Oxun, o seu poderoso oráculo e isso diz respeito a todas as
mulheres e não a apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) em particular.
Espero que vocês tenham observado nos demais textos, mas, neste em
particular que as histórias de Ifá sempre reservam para a mulher atitudes de
pouca índole e traiçoeiras. A visão da personalidade da mulher é pequena e
mesquinha.
Assim seja na atribuição de tarefas práticas como também às atitudes que a
mulher espelha nos versos, a visão reservada à mulher é muito ruim. Por isso
eu digo e repito, Ifá é um culto masculino.
Aqui no novo mundo, apenas por motivações comerciais se inventou a figura
de Iyanifa. Iyanifa é uma sacerdotiza de Ifá, uma mulher que recebe o
conhecimento, terá a capacidade de jogar, mas, somente irá fazer isso se não
houver nenhum babalawo disponível. Além disso ela nunca poderá ver Odù.
Essa figura não existe no Ifa cubano, apenas no Nigeriano. No Ifá cubano a
mulher será Apetebi. E ponto final.
Na África Iyanifa é um cargo muito raro. Reservado apenas a mulheres de
famílias de tradicionais familias de Babalawo, casadas com um Babalawo.
São muito raras porque isso significa muita dedicação e nenhum privilégio.
Aqui para o novo mundo, onde a mulher tem uma figura mais independente
eles encontraram isso como uma forma de ampliar o seu comércio de
falsidades. Principalmente nos EUA, mas também aqui no Brasil a gente vai
ver mulheres que acham que são alguma coisa porque foram “iniciadas”
como Iyanifa. Esqueçam, elas não são nada, são apenas mais uma vítima do
comercio nigeriano. Eles, os nigerianos, fazem isso aqui, porque, lá na terra
deles, com seu povo onde são cobrados para terem seriedade els não fazem.
Lá eles seguem as regras restritas que tem.
Aqui, no novo mundo, é terra de Malboro, lugar para ganhar dinheiro de
branco.
Minha visão não é negativa em relação a este assunto, O caminho da mulher
em Ifá está ligado a Oxun e ao eerindinlogun. É nesta atividade que a mulher
encontra o seu lugar nobre e isso esta muito bem descrito no longo texto que
eu fiz sobre o eerindinlogun e Ifa.
Não gosto de ver gente enganada, assim, mulheres não se iludam com essa
conversa de Apetebi. É história da carochinha. No caso Nigeriano, eles não
dão valor nenhum. No caso do cubano é só para inglês ver. Como sempre
este Blog representa a minha opinião e o culto onde a mulher tem valor e
relevância é no culto de Orixá.
Versos que ligam o poder de Óxun
(Ọ̀ṣun) e ajé (Àjẹ́)
Óxun (Ọ̀ṣun) é considerada a Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) original e sua importância
em Ifá é enorme.
A ligação de Óxun (Ọ̀ṣun) com Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) é muito forte e isso não
têm a ver com ela ser sua mulher, está relacionado com o poder feminino,
principalmente a representação de Óxun (Ọ̀ṣun) como a líder das ajé (Àjẹ́) e
possuidora do poder do axé (àṣẹ) e de desfazer tudo o que quiser.
Os versos de Ifá deixam isso claro para o Bàbáláwo, seu poder tem restrições
frente às mulheres e de acordo com os versos um Bàbáláwo nunca as enfrenta
diretamente ele busca aplacar sua ira ou contar com a ajuda de outros.
Conforme está no verso Olódùmarè diz aos Orixá (Òrìṣà) masculinos que eles
devem envolver Óxun (Ọ̀ṣun), o poder feminino em tudo o que fazem, que
não podem fazer sozinhos e, mais, que ela deve ser consultada a respeito dos
problemas.
Sai de Olódùmarè a informação que é Óxun (Ọ̀ṣun) que tem o poder da força
de vida, do axé (àṣẹ) e que foi ele Olódùmarè que deu isso a ela. Essa
abordagem, que está no verso oxé (Ọ̀ṣẹ́) Òtúwá coloca o poder masculino dos
Orixá (Òrìṣà) como o que faz as coisas, a execução, os atos, as liturgias, mas,
reserva a mulher, ao poder feminino a fonte do axé (àṣẹ) no mundo.
Esse é o tipo de equilíbrio que Ifá traz como mensagem.
É importante entender também que Óxun (Ọ̀ṣun) tem controle sobre os seus
quatro principais mensageiros, os terríveis Ajogun, Boríborí (o superador),
Ẹ̀gbà (paralisia), Èṣe (dano grave) e Atómú (capaz e forte captor). Eles são
aprendizes de Óxun (Ọ̀ṣun) que Óxun (Ọ̀ṣun) usa para oferecer equilíbrio ao
mundo e às pessoas, com um contexto de destruição e construção, ferocidade
e atenção, desorganização e organização, fortuna e desfortuna.
conseguido usar os búzios e contou sobre todos os itens do presente que ela
obteve através de Ifá.
Olódùmarè disse para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) para dar a Óxun (Ọ̀ṣun) 16 Odù
semelhantes à adivinhação por Ifá.
- “Ela pode usar estes Odù e búzios para o tratamento de clientes que vieram
para ela, enquanto você estiver fora da cidade”.
Assim, a adivinhação com 16 búzios começou com Ọ̀ṣun, conforme está
descrito em versos similares de Wande abimbolá descritos na postagem sobre
o éérindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún). Esta história aqui é de Ayo Salami.
Notas:
É importante em Ifá a inteligência e perspicácia em entender a analisar os
versos e histórias. Além disso um conhecimento geral da religião e de mais
versos torna a compreensão muito maior.
Observem que esta história, narrada aqui, mas já transcrita anteriormente,
Fixa a relação de Ọ̀ṣun com Ifá e do oráculo dos búzios com Ifá. Além disso
abre a possibilidade de um tipo de iniciação especial, que permite a mulheres
se utilizarem de Ifá através de búzios.
Elas serão Elegan (Ẹlẹ́gán), não terão a capacidade ou formação de um
Bàbáláwo mas poderão exercer o seu papel. Esta aplicação é bem diferente da
atribuição comum dada a uma Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) que fica encarregada apenas
de limpeza e cozinha. Mas de nenhuma forma torna as mulheres equivalentes
aos homens no culto.
Uma interpretação mais ortodoxa poderia inclusive dizer que como Óxun
(Ọ̀ṣun) realizou as coisas através do Ifá de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), seu marido.
Esta função mais completa poderia estar reservado a esposas de Bàbáláwo,
que se utilizariam do Ifá do marido e não de mulheres independentes de
Bàbáláwo exercendo Ifá.
Dessa maneira Ifá reserva para a mulher uma posição relevante, mas
secundária, junto a seu marido o Bàbáláwo. Não existe em Ifá nenhum verso
onde a mulher sozinha atua em Ifá.
NOTAS DO AUTOR
Vou destacar de forma bem objetiva o que o Odù Okanransode ensina:
Oxun (Ọ̀ṣun) foi a primeira a ter acesso à sabedoria de Ifá. Ela
encontrou o saco de sabedoria e olhou para ele, assim ela obteve
antes de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) a sabedoria de Ifá. Devido a sua
teimosia, falta de fé ou preguiça ela perdeu o saco para Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) que assim teve a posse dele por todo o tempo e a
sabedoria e poder que Olódùmarè prometeu. Mas não se pode
ignorar o acesso que Oxun (Ọ̀ṣun) teve a Ifá.
Óxun (Ọ̀ṣun) foi viver com Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e este lhe deu
mais sabedoria de Ifá.
Esse Odù nos dá também uma excelente explicação de porque
somente homens tem acesso pleno a sabedoria de Ifá. Óxun (Ọ̀ṣun)
se tivesse acesso teria omitido isso dos homens, Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) observando isso limitou o acesso de Oxun (Ọ̀ṣun) ao
conhecimento de Ifá. Essa interpretação deve ser estendida aos
homens em geral e as mulheres também, e não especificamente a
Óxun (Ọ̀ṣun) e Órunmila (Ọ̀rúnmìlà). Óxun (Ọ̀ṣun) é a essência
feminina e um Odù é uma metáfora. Assim isso explica o papel de
Bàbáláwo e de Apetebi.
Outra lição é o mal destino que teve a ambição ou ganância no uso
da sabedoria de Ifá. O desejo de Óxun (Ọ̀ṣun) era se enriquecer
com essa sabedoria. Isso foi penalizado, assim a sabedoria de Ifá
jamais deve ser usada para enriquecer ninguém.
Outro aspecto foi o preço a ser pago para se tornar sábio. Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) pagou o preço e se tornou sábio, Óxun (Ọ̀ṣun) não quis
pagar e não obteve êxito na sua busca. A sabedoria exige
sacrifícios de bens.
Apesar disso tudo é inegável o vínculo de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) com Óxun
(Ọ̀ṣun) ou seja de Óxun (Ọ̀ṣun) com Ifá. Mesmo depois desse episódio Óxun
(Ọ̀ṣun) e Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) ficaram mais próximos.
Unindo os versos de Okanransode com o de Ogbè-Ọ̀sá fica demonstrado e
clara e evidente ligação entre Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e o éérindinlogun
(ẹẹ́rìndínlógún).
Creio que esse Odù é bastante o suficiente para colocar esse equilíbrio entre
forças no qual o poder de Olódùmarè dado a ajé (Àjẹ́) se encontra com o
poder do homem depositado em Eégún.
Eégún é a representação do homem, o poder do homem, visto que a mulher
não é também representada em Eégún. Lembro a todos que a figura de Eégún
e do culto de Eégún é para mostrar a todos nós que a vida é contínua, que a
alma não morre, que vivemos para sempre e podemos reencarnar. Esta é
umas das razões da religião ter Eégún, seja pelo sentido de valorizar o
vínculo familiar contínuo e perene como por demonstrar que vida e um ciclo
sem fim.
Somente Eégún pode conter o poder de ajé (Àjẹ́). Essa é uma informação que
poucos têm. Além disso, existe um velho dito popular que fala que somente
Olódùmarè pode salvar o homem de uma esposa vingativa. É a mulher que
prepara a comida, as oferendas e isso é o caminho para o orun (Ọ̀run). Esses
dois exemplos mostram como é grande e terrível a força da mulher.
É uma sociedade patriarcal e se engana quem acha que isso foi diferente,
mas, as mulheres são dotadas de capacidades especiais para quebrar esse
domínio. Acredito que isso ficou, também, claro nas histórias que mostrei.
O assunto mulher não está restrito a teologia e Ifá e para falar sobre ele é
preciso entender alguns conceitos importantes sobre a sociedade Yorùbá e
outras estruturas da religião. Eu acredito que a maior parte dos erros de
entendimento aqui no Brasil e na diáspora, são advindos de nós não
entendermos de forma ampla a sociedade original e seus valores e também as
outras estruturas religiosas que completam o todo.
O equilíbrio do poder masculino-feminino na sociedade fica evidente quando
analisamos a estrutura dos cultos de Ògbóni e Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́), que são
coisas muito locais deles.
Ẹdan é o símbolo máximo da sociedade Ògbóni e representa uma figura
masculina e uma feminina unidas por uma corrente. Essa união é a
simbologia dos Ògbóni.
Ilé (Ilẹ̀) a terra, deve trazer paz, felicidade, estabilidade social e
sobrevivência, é a terra que dá poder a Ògbóni mas também alimenta ajé
(Àjẹ́) que é a ira de Ilé (Ilẹ̀).
As sociedades Ògbóni e Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) estão unidas no seu aspecto social,
muito mais do que uma estrutura religiosa é uma estrutura da sociedade
yorùbá e por esta razão não foram transportadas pela diáspora. O seu
significado é a busca de equilíbrio e pacificação do espírito feminino
representado por Ilé (Ilẹ̀).
Mesmo nas sociedades masculinas de Eégún e Orò a mulher tem cargos.
Observe que Eégún é o culto festivo e alegre e Orò representa sempre o poder
sombrio de Eégún, Orò é a manifestação de Eégún no seu aspecto punitivo
para a sociedade. É Orò que executas as mulheres feiticeiras, ajé (Àjẹ́) que
usam seu poder para o malefício.
Ilé (Ilẹ̀), a grande mãe Ògbóni em seu aspecto sombrio, se transforma em
Ọ̀gẹ́rẹ́, a manifestação irascível e vitimizadora, que traz morte a seus filhos.
Esta é a visão ambivalente da sociedade frente a terra. Ela mostra o potencial
explosivo da relação homem-mulher em uma sociedade masculina e a
necessidade de exercer a diplomacia.
Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) surge da visão Ògbóni de omón iya (Ọmọ ìyá), os filhos da
mesma mãe e tem o objetivo de sensibilizar a mãe natureza Ìyá Nlá aos
problemas dos filhos e da sua responsabilidade maternal.
O objetivo é fazer os membros da comunidade a amarem e interagirem um
com o outro como filhos da mesma mãe. A manifestação de Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́)
através do seu festival é feita para pedir saúde, vida-longa, prosperidade,
muitos filhos, evitar doenças, mortalidade infantil e evitar desastres. O
objetivo do culto que pode ser através de um grande festival ou de eventos
menores e até mesmo para apenas uma família, tem a finalidade de promover
a paz e o bem estar social. Pessoas de todos os cultos de orixá (Òrìṣà)
participam.
Os cultos de Ògbóni e Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) são assim mais uma manifestação do
equilíbrio dos poderes masculino e feminino.
Ninguém entende aqui o que é ajé (Àjẹ́) porque para entende ajé (Àjẹ́) tem
que se compreender uma dimensão muito maior de sua atuação. Não se trata
apenas de feiticeiras e sim do poder feminino no equilíbrio do mundo.
A feitiçaria em sí, o malefício é combatido pela sociedade.
Os Ògbónii são dedicados a Ìyá Nlá como Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́), o culto está nesse
respeito e, principalmente no temor a Ìyá Nlá. Mas o Ògbóni tem outros
objetivos na sociedade, orientados ao ordenamento e punição, controle do
comportamento social, isso, não existe na sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́).
Ògbóni é um conselho de anciões, está ligado a governabilidade e em manter
a lei, ordem e o código de conduta. O culto a Òró, uma manifestação noturna
de Egúngún, também está relacionado a eles, junto com a caça as mulheres,
ajé (Àjẹ́) que usam a feitiçaria como malefício.
Assim Ògbóni também busca o equilíbrio na relação masculino-feminino mas
de uma forma distinta, contudo, é a Ìyá Nlá que eles temem.
Mas, em religião tudo tem motivo, nada é por a caso e por esta razão que as
coisas e a vida sorri para uns e não para outros.
Este livro faz parte de uma série de livros que vão compilar a teologia, a
cosmogonia, a cosmologia e a teodicéia da religião Yoruba.
Nada neste conteúdo passou por processo criativo, tudo é baseado em Ifá,
está documentado em versos ou faz parte da oralidade. Todas as fontes
disponíveis foram usadas para consolidar e organizar o conhecimento da
teologia.