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Marcos Arino

Bàbálawo Ìká Ògúndá

Valney Viana
Bàbálawo Ogbé Òtúwá

Ifá e o poder feminino


A mulher na teologia e nos Odù de Ifá

Contato: blogorunmilaifa@gmail.com
www.orunmila-ifa.com.br
Youtube: Blog Orunmila-ifa
Feito em nome de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
Owó lẹ bá fẹ́ẹ́ ní láyé
Ẹni tí ẹ ó maa bí nìyan
Ọmọ lẹ bá fẹ́ẹ́ ní láyé
Ẹni tí ẹ ó maa bí nìyẹn
Àikù lẹ bá fẹ́ẹ́ ní láyé
Ẹni tí ẹ ó maa bí nìyẹn
Ire gbogbo lẹ bá fẹ́ẹ́ ní láyé
Ẹni tí ẹ ó maa bí nìyẹn
Ọrúnmìlà afèdè-fẹ̀yọ̀
Ẹ̀tà-Ìsòdè
Ifá re'lé Olókun
Kò dé mọ́
Ó ní ẹni tí ẹ bá ti rí
Ẹ sá maa pèé ní Bàbá
Se você está em busca de prosperidade na terra
Esta é a pessoa para a qual você deve perguntar
Se você quer filhos
Esta é a pessoa a quem você deve procurar
Se você está em busca de vida longa
Esta é a pessoa a quem você deve perguntar
Órunmilá, ele que fala em diferentes idiomas e línguas
Ela-ìsòdè
Ifá foi para a casa de Olokun
E nunca retornará
Ele diz que qualquer um que você veja
Por favor, procure-o como a um Pai
Sumário
Avisos importantes
A mudança na ortodoxia de ifá
Versos que definem como Ifá vê a personalidade da Mulher
Osuhunleyo (Osúhunlẹ́yọ̀) a esposa de Àgbonnìrègún
A Traição de Apetebi
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e a paciência
O sofrimento de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) em Iwo
O sofrimento de Orunmila em Iwo
As tarefas da Apetebi
Versos que ligam o poder de Óxun (Ọ̀ṣun) e ajé (Àjẹ́)
Óxun (Ọ̀ṣun) e o poder feminino
A origem do nome Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí)
Ọ̀ṣun a esposa de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà)
Óxun (Ọ̀ṣun) recebe o oráculo de Olódùmarè
Óxun (Ọ̀ṣun) perde o saco da sabedoria para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
Oxé otuwa – Óxun (Ọ̀ṣun) de vira contra os orixá (Òrìṣà)
Comentário sobre esses versos
Versos que definem o poder feminino em ifá
Odù recebe o poder do axé (àṣẹ) de Olódùmarè
Odù A mítica esposa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
Igbadu
Análise das informações dos versos
Ògbóni e Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) o equilíbrio da relação masculino-feminino
Uma religião dividida
A mulher e o axé (àṣẹ)
A ligação de Odù com Ìyá Nlá e Onilé (Onílẹ̀)
Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) e a paz social
O que é a sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́)?
Mulheres não podem ser sacerdotes em Ifá
Iniciação de mulheres no Ifá cubano
O que a mulher pode fazer em ifá?
RESUMO DO LIVRO
Avisos importantes
O contexto das tradições religiosas afro-brasileiras é bastante amplo, sendo
composto de várias tradições. O Candomblé, também, não é apenas uma
tradição religiosa, é um nome comum que cobre 3 tradições totalmente
diferentes em relação a raiz religiosa.
Este livro trata da raiz religiosa Yorùbá, seja para Ifá ou para o culto de Orixá
(Òrìṣà). Em relação ao culto de Orixá (Òrìṣà) eu estou ligado a Candomblé
Nago ou Ketu e quando eu cito “Candomblé” é sobre esse que eu me refiro.
Padronizar nomes na matriz afro-brasileira é bem complicado, mas é
importante.
Desta maneira, entendam que, este é um livro de teologia ligado a religião
Yorùbá, trazida por Ifá e localizada no Brasl, para o culto de Orixá, através
do Candomblé Ketu. As informações que estão aqui e são parte da teologia
geral da religião e elas dificilmente são influenciadas pelo culto de Orixá
(Òrìṣà) que uso como referência, mas, existe essa possibilidade.
Informo aos leitores que já está em elaboração a segunda edição deste livro,
na qual será incluída Ajé (Àjẹ́). A atualização do livro é feita de graça pela
loja do Kindle.
A mudança na ortodoxia de ifá
O poder feminino tem uma enorme importância em Ifá. A importância é tão
grande que deve ser considerado como um poder básico e estrutural, sem o
poder feminino não existe o poder do Bàbáláwo.
Ifá é equilíbrio, isso está documentado no Odù Òdí Méjì. Equilíbrio é a
palavra que define Ifá e certamente define também essa religião, mas,
estamos falando de Ifá e Ifá é equilíbrio em tudo.
Neste sentido, apesar a enorme importância do poder feminino, Ifá é
composto por homens. É o poder masculino que atua em Ifá, não existe lugar
em Ifá para uma mulher substituir ou fazer o que um Bàbáláwo faz.
Ifá é um culto religioso masculino. Sem blablabla, é isso mesmo, um culto
masculino. Já participei de várias discussões sobre isso e de um lado tem
apenas os argumentos de que tem que ter igualdade, que não pode fazer essa
diferença e bla, bla, bla.... Só que, isso não é sociedade civil, é religião e
religião tem dogmas, tradições, fundamentos e razões que tem origem na sua
fundamentação.
Religião é, em seu princípio, as palavras de deus para nós. O sentido de uma
religião é expressar as orientações de deus sobre comportamento, valores e
ética e, também, o conhecimento do supernatural, através do qual deus no
suporta.
Esse pequeno parágrafo tem uma densidade de informação muito grande e eu
preciso explicar uma a uma.
Religiões tem origem em deus. Sim, deus cria as religiões e faz isso no
mundo todo todo em sucessivas eras de tempo. Ao longo de toda a existência
humana houveram religiões que nasceram naturalmente, é um fenômeno
humano e não pode ser atribuído a criação humana, a invenção humana, isso,
atribuir ao homem a criação de deus e da religião é a mais profunda
ignorância. A corrente humanista, a partir do trabalho do círculo de Viena
trouxe essa visão de deus ser fruto da imaginação humana devido a sua total
falta de argumentos.
A pessoa tem que ser um tolo ou um idiota para acreditar que ao longo de
toda a história humana, em todas as partes do mundo, com povos que nunca
se conheceram, a humanidade criou religiões como uma idéia artificial, uma
coincidência coletiva e atemporal.
Pessoas que, baseada nos fatos e na história, na demonstração do fato pelo
contexto externo que se apresenta (que são as religiões sendo criadas por
todos os povos ao longo de milênios) e, ainda, todas elas mantendo uma
persistente consistência teológica, que ainda assim acreditam que isso foi
invenção e coincidência, pode ser, com justiça, considerado um perfeito
idiota.
Religião é a estruturação das informações de deus para nós. Temos uma vida
de independência e total livre arbítrio, viver é uma aventura humana de almas
perenes, que existirão após o fim dessa vida humana. Live arbítrio não é
apenas uma expressão simples, ela é muito complexa nas suas consequências
e define a nossa relação com deus. Assim, neste contexto de total live arbítrio
da aventura humana, deus escolheu se comunica com a gente através da
religião. A religião é baseada na crença em deus e é uma opção da vida
humana, ninguém é obrigado a ter adotar uma religião e desta maneira a crer
em deus. O ateísmo é uma manifestação normal do livre arbítrio.
A religião, por sua vez, é a expressão da existência de deus e através dela da
comunicação da palavra e da orientação de deus. Mesmo em um contexto de
livre arbítrio deus nos deu a opção de aprendermos através das suas palavras
que estão na religião, como devemos proceder em nossa aventura humana e
aprendermos qual o tipo de suporte podemos contar vindos de deus.
Muitas religiões foram criadas porque os povos são diferentes e deus precisa
se comunicar com cada povo da forma como essas pessoas entendem a sua
vida em sociedade. Cada religião representa uma especialização desta
comunicação.
Através da religião, deus expressa, sempre, o comportamento, os valores, a
ética e a moral. Deus nos orienta a ser pessoas de honra e caráter e esse é o
conteúdo primário das religiões. As pessoas que não querem ser orientadas e
dirigidas pelo melhor caráter, sempre vão reagir às religiões, sempre vão
achar que elas são “castradoras”.
Deus não se interessa com o que vamos alcançar em nossa vida, com nossos
objetivos. Isso é problema nosso. Deus se preocupa em COMO vamos viver e
como vamos atingir os nossos objetivos.
Livre arbítrio implica em independência de deus, podemos ser e fazer o que
quiseremos, não somos obrigados a fazer nada que deus queira para nós e não
seremos punidos com isso, não nessa vida. Essa independência é a base do
livre arbítrio, mas isso, significa também que não existe interferência de deus
em nossos problemas.
Contudo existe um suporte de deus para nós, não estamos sozinhos e dentro
de um escopo definido de objetivos previamente definidos com deus,
podemos esperar alguma ajuda de deus. Para isso existe o supernatural que
nos rodeia. As religiões nos ensinam como usar esse supernatural com ética e
bons resultados.
Deus suporta essa nossa vida, existe uma aliança entre deus e nós para
sermos felizes em nossa aventura humana e esse suporte se dá através do
supernatural que faz parte do mundo natural.
Mas o suporte de deus para nós será feito de forma restrita, ligado aos nossos
objetivos de vida e condicionado ao nosso bom comportamento, ao nosso
caráter.
A grande, a enorme questão é que as pessoas, hoje em dia, estão
absolutamente mimizentas, não sabem ouvir um não, não sabem seguir
regras, não sabem seguir hierarquias, não sabem seguir tradições e nem
sabem o que é ortodoxia. Toda vez isso é uma discussão “podre”.
Em Ifá a presença da mulher é muito restrita, mas, muito restrita mesmo. Sou
sincero sobre isso. O culto majoritariamente feminino é o culto de Orixá
(Òrìṣà). É neste culto, Candomblé por exemplo, que a mulher tem lugar,
importância e relevância, ficando os homens para segundo plano. O culto
feminino é o egbé (Ẹgbẹ́) Imulé (Ìmùlẹ̀).
A participação sacerdotal de homens no culto de Orixá (Òrìṣà) é tardio e
apenas um desvio. As casas tradicionais que são a raiz do culto de Orixá
(Òrìṣà), não permitiam homem no sacerdócio. Isso foi resultado de casa
filhas, casa de iniciados que se separam da casa principal e passaram a
ordenar sacerdotes junto com sacerdotisas. A razão para isso foi econômica,
essas pessoas não tinham outra atividade econômica que não fosse a religião
e abriram isso para ganhar dinheiro.
Apesar de isso ser uma realidade, os sacerdotes vão ter que conviver com
realidade de não terem um útero e o útero é a base da comunicação orun-aiye.
Observem que me refiro a importância sacerdotal. Não existem cultos para
homens ou mulheres, religiões e cultos são para todos, mas, a função
sacerdotal em cada culto é exercida de maneiras diferentes.
Atualmente, a ortodoxia deste tema, mulher em Ifá, se perdeu. Há 20 anos,
quando esse assunto era discutido, com clareza, o que todos nós sabíamos era
que, não havia mulher em Ifá, que havia uma rara referência a existência de
Iyanifá, mas, que, somente mulheres que não menstruassem mais poderiam
ser e, pior, não usariam Ikins jamais e somente poderiam consultar Ifá caso
em um raio de quilômetros não houvesse um Bàbáláwo para a tender à pessoa
que necessitava. Essa era a verdade.
Eram tantas regras que poucas mulheres se interessavam por isso. Somente
mulheres de Bàbáláwo, de famílias muito tradicionais, se interessavam, visto
que tudo era definido para que ela fosse apenas um elemento de decoração e
jamais atuasse.
Desta maneira, na prática, apesar de não existir a figura de Iyanifá, havia a
figura da Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) que tinha dois tratamentos distintos em função do
Ifá Cubano ou do Ifá Nigeriano.
Para o Ifá Nigeriano, a Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) é a apenas a mulher do Bàbáláwo.
É isso o que está nos versos e era assim que eles procediam. Como mulher do
Bàbáláwo ela dorme com ele, faz filhos e limpa a casa de Ifá dele. Seguindo a
tradição Nigeriana, o homem não tem nem que sustentar a mulher, cabe a
mulher trabalhar por sua conta para se sustentar. Existe um pequeno
compromisso do homem com os filhos.
Esta é a sociedade deles. O respeito dos homens pela mulher é esse, pelos
nossos padrões do novo mundo, é nenhum respeito e os nigerianos sempre
foram conhecidos por isso. Desta maneira a Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) é quem limpa
a casa dele e cuida dos filhos dele.
No caso cubano houve uma variação e os cubanos inventaram a Apetebi
(Apẹ̀tẹ̀bí) como um cargo que as mulheres ganham em Ifá sem precisar serem
mulheres do Bàbáláwo. Os cubanos deram alguma importância, certamente
devido a imposição da sociedade no novo mundo, mas, mesmo assim, no dia
a dia, a Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) é só uma empregada do Bàbáláwo. Limpa a casa
dele e faz comida para ele, Orixá (Òrìṣà) e ebó (ẹbọ). Ela existir ou não é um
detalhe muito pequeno e com nenhuma relevância na atividade de Ifá.
A diferença entre os cubanos e os africanos é que os nigerianos dormem com
a mulher e para os cubanos elas apenas limpam a casa deles e cozinham para
eles. Se é isso o que quer então vai gosar de ser Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) que não
possui designação sacerdotal.
Essa realidade histórica e atual da mulher em Ifá, não me foi contada, eu vi
isso assim como estou descrevendo e vejo isso assim hoje.
Desta maneira, seja pelo lado cubano ou pelo lado Nigeriano, eu não sei, de
verdade porque mulheres querem ser de Ifá, é uma posição que não enriquece
sua dignidade feminina em um culto que não lhes pertence.
Lamento se algumas pessoas se ofendem com essa descrição que eu dei, mas
isso expressa apenas a história e os fatos. Alguns podem mentir e glamurizar
a realidade, mas, isso não vai mudar a realidade.
Hoje em dia, diferente de 20 anos atrás, as coisas estão mudadas,
principalmente pelo lado Nigeriano. O poder do dinheiro muda todas as
regras e nigerianos querem é ganhar dinheiro.
Pressionados pelas oportunidades do mercado dos EUA, pelos dólares de
iniciar mulheres, eles abriram as portas para mulheres em Ifá e ignoraram
todas as regras que haviam antes. Tenho dúvidas se ignoraram ou nunca
souberam.
Desta maneira este aqui é um tema difícil, porque não se trata mais de o que é
certo ou errado e sim do que interessa e o que não interessa mais ser tratado.
Os nigerianos não querem mais saber qualquer coisa diferente do que fazem
hoje. As mulheres que foram iniciadas como Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) ou Iyanifá
não querem saber nada diferente do que falaram para elas. Os Bàbáláwo que
ganham dinheiro as iniciando não querem nada que atrapalhe o seu negócio.
Quem quer saber o que é certo?
Entretanto, o poder feminino em Ifá é grande demais e importante demais
para que eu ignore esse tema importante, mesmo sabendo que isso não
interessa mais a ninguém, as pessoas querem apenas ganhar seu dinheiro.
É importante observar que nessa religião existem cultos masculinos e
também femininos. O culto de Iya Nla é feminino, o culto de Orixá é
feminino, o culto de egungun é masculino assim como o de Ifá. Apesar disso
em todos esses cultos existe a presença de pessoas de ambos os sexos, mas,
em cada culto a proeminência sacerdotal está ligada a um dos sexos.
Este livro não trata de iniciação de mulheres. Isso é um tema colateral. O
tema aqui é entender o que significa o poder feminino nesta religião e o que
significa o poder feminino em Ifá.
Para tratar desse assunto, vou listar aqui uma série de textos, versos e
histórias de Ifá que mostram a visão de Ifá para a figura da mulher. Não vou
inventar nada, vou mostrar o que está em Ifá.
Chamo a atenção que esta é uma seleção minha. Claro que consultei fontes e
vou deixar isso bastante explícito, mas, eu selecionei o que considerei
relevante.
Existe um livro antigo chamado Apetebi, do Ifayemi. Não vi este livro em
Português de maneira que pouca gente deve ter lido. Ele também fez uma
seleção e também coloca seus comentários, como faço aqui. É uma outra
fonte de referência. Eu não copiei este livro e até mesmo não gostei dele, mas
o estou citando. As histórias do livro estão muito resumidas, perdem o brilho.
O livro é bem antigo, pelo menos, o que eu tenho e reflete a visão da
sociedade deles sobre o tema.
O tratamento da mulher pela sociedade e por conseguinte pela religião é
muito típico deles, não é fácil de entender e não vou tentar fazer isso aqui.
Por um lado, elas são importantes e temidas, mas, por outro lado não recebem
o devido respeito.
Nos textos de Ifá esta situação ou paradoxo é bem típico. Se a gente lê as
histórias e os versos vai observar claramente o tratamento indiferente dado a
mulher. É como está no texto seguinte, “… tome leve para você...” como algo
que pode trocar de propriedade.
Essa atitude também é observada na forma como os africanos quem vêm para
o Brasil, os tais Bàbáláwo, fazem aqui.
Nos textos de Ifá as mulheres sempre representam atitudes ruins. Isso é muito
emblemático. Em Ifá, nos versos, determinados “objetos” tem sempre o
mesmo sentido. Assim o carneiro sempre é traidor, a tartaruga inteligente e a
mulher traiçoeira ou condutora de atitudes ruins.
Eu vejo muitas mulheres interessadas em Ifá, mas, gente, numa boa, estão no
culto errado.
Hoje em dia, em função do comércio, as pessoas estão fazendo coisas para
mulheres que não deveriam fazer. Como eu disse, os Nigerianos
principalmente, querem é ganhar dinheiro e assim, fora da terra deles fazem
coisas que jamais fariam, ou melhor, fazem para estrangeiros coisas que não
fariam para os nativos. A questão Iyanifá é parte disso. Eles não estão
interessados no que é certo ou errado. Junta duas coisas, a primeira é eles não
acreditarem que estrangeiros tenha Orixá (Òrìṣà) como eles. Eles têm certeza
que Orixá (Òrìṣà) é uma coiso só deles assim como essa religião é só deles.
Seguindo esse entendimento, este desprezo pela religião e si ao fazerem
coisas em estrangeiros eles não acham que estão fazendo nada de errado,
porque sabem que aquilo é só um placebo. Como eu disse aqui, tem umas
mulheres tolas que acham que receberam alguma coisa sendo feitas Iyanifa.
Isso é apenas comércio de Nigeriano. Nada mais.
Os cubanos não são muito diferentes, colocam as mulheres como Apetebi e
ponto. Fazem comida, limpam a casa e preparam ebós. Mulheres, o seu culto
é o culto de Orixá (Òrìṣà), vocês podem ser muito mais do que serem
empregadas de luxo do Bàbáláwo.
Mas vamos aos textos. Depois faço mais comentários. Espero sinceramente
que as pessoas que estão lendo esses comentários entendam que estou aqui
mostrando uma realidade e não fazendo apologia chauvinista.
Mas, uma coisa que eu já percebi é que as pessoas adoram se enganar, ou
melhor, para conseguir o que querem elas se enganam.
Versos que definem como Ifá vê a personalidade da Mulher
Esse livro segue minha abordagem que tratar o tema de forma teológica. Este
conteúdo não são historinhas de crianças para encher o tempo. Assim, para
entender a religião é preciso analisar os versos e mitos.
É através da leitura, análise, interpretação e entendimento que obtemos
informações sobre a teologia. Claro que esse processo permite variações de
entendimento, isso ocorre nesta religião e em qualquer outra, mas, sem ler os
versos e mitos não se aprende religião.
A seguir vou mostrar versos e mitos em grupos para ficar mais fácil entender
a confusa visão de Ifá sobre a mulher. O primeiro grupo mostra como Ifá
traduz nos versos a personalidade da mulher, como a mulher é retratada.
Tenho que chamar a atenção para um aspecto linguístico. A linha yorùbá é
muito simples e eles não tem palavras prontas para expressar sentimentos
complexos e ideias filosóficas mais densas, assim como temos no português
vindos do latim. Para eles expressarem um sentimento eles precisam contar
uma história longa que coloque você naquela situação de modo a transmitir
esse sentimento. Por isso sempre tem muitas histórias e por isso que elas têm
que ser lidas com atenção, caso contrário você não entende o sentimento que
eles querem expressar.

Osuhunleyo (Osúhunlẹ́yọ̀) a esposa de


Àgbonnìrègún
A seguinte história foi obtida do Bàbáláwo Ayo Salami
Na vida de Àgbonnìrègún e Orunmila (Ọ̀rúnmìlà), há tantas coisas que se
encontra difícil de explicar. Uma delas é a questão da Osuhunleyo
(Osúhunlẹ́yọ̀). Em alguns versos de Ifá, Osuhunleyo (Osúhunlẹ́yọ̀) é referida
como a esposa de Àgbonnìrègún. Em muitos outros, ela era a esposa de
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà). Osuhunleyo (Osúhunlẹ́yọ̀) era a esposa de
Àgbonnìrègún mas tornou-se a esposa de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) mais tarde.
Um dia, durante uma das visitas habituais de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) para dar
conta de sua viagem feita por longos destinos, ele conheceu uma mulher
chorando pela porta da casa de. Ele consolou-a, mas não podia esperar para
descobrir o motivo de sua tristeza. Ele não poderia também abrir a discussão
com seu irmão Àgbonnìrègún, pois não fazia parte dos assuntos que ele veio
discutir.
Mas, no segundo dia, ele a encontrou no mesmo local enrolada e lamentando-
se. Movido por suas lágrimas, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) teve que quebrar o
protocolo (de discutir exclusivamente os acontecimentos de sua viagem e
notícias em casa), pedindo que a questão da mulher chorar fosse discutida.
- Por quê? Oluwo Àgbonnìrègún perguntou.
- É porque eu notei que ela tem chorado por dois dias consecutivos agora –
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) respondeu.
- Ah, se é por causa do que a mulher, eu não sei o que dizer
Seu caso é peculiar. Quando me casei com ela, ela não estava menstruada.
Consultei Ifá e ofereci sacrifício, e ela começou a menstruar.
Por um longo tempo, ela ainda não poderia engravidar, eu consultei
novamente e ela ficou grávida. Mas os bebês que ela tem tido não foram
sobrevivendo. Na verdade, o último morreu há três dias, e esta é a razão para
ela chorar, Àgbonnìrègún explicou.
Se for esse o caso, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) respondeu, por que você não
executar uma akose sob o Odù ose ogunda para a mortalidade infantil para
parar?
Isso pode não ser necessário, responder rapidamente Àgbonnìrègún.
Eu tenho tantas coisas para fazer que são mais importantes do que cuidar
dela.
Àgbonnìrègún então chamou Osuhunleyo (Osúhunlẹ́yọ̀), que ainda estava do
lado de fora chorando. Assim que ela entrou, Àgbonnìrègún agarrou-a pelo
pulso e entregou-a a Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) .
- Olúwo! Ele disse
Leve-a, da cabeça aos pés. Case-se com ela como esposa e enfermeira das
crianças. Todas as coisas que você quer que eu faça parar as crianças pararem
de morrer, faça você por ela.
E assim Osuhunleyo (Osúhunlẹ́yọ̀), a ex-mulher de Àgbonnìrègún tornou-se
a esposa de seu irmão Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) .
Isto é o motivo pelo qual as esposas dos Bàbáláwo, então, vieram a ser
chamar de Osuhunleyo (Osúhunlẹ́yọ̀). O outro nome para eles apetebi
(Apẹ̀tẹ̀bí). Osuhunleyo (Osúhunlẹ́yọ̀) na maioria dos casos, é o nome dado a
mulheres que foram casadas antes, mas, dadas a um Bàbáláwo para se casar,
provavelmente, depois que ela se divorciou do marido ou depois que o
marido morreu.
Depois de ser dada para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) as crianças de Osuhunleyo
(Osúhunlẹ́yọ̀) não morreram mais.

Nota do autor
Ayo Salami, traz no seu livro Yoruba Theology and tradition - The Worship
uma visão interessante que separa Orunmila de Agbonniregun. Segundo ele,
eles seriam irmãos e enquanto um rodava as cidades o outro ficava em casa.
Existem diferentes escolas Yorùbá, que variam pela região. Se isso está no
livro dele é porque faz parte da tradição dele, por mais distinto que possa
parecer para nós que estamos acostumados com outra visão.
Mas isso, de serem ou não irmãos, assim como outras coisas é apenas um
detalhe. Não estamos tratando de história e nem que arqueologia.
O objetivo dessa história é mostrar a origem do nome dado a esposa de um
Bàbáláwo e também mostrar a forma como a cultura Yorùbá vê a mulher. O
irmão de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) se desfaz da mulher como se estivesse se
livrando de um móvel de casa, ou um eletrodoméstico estragado. Isso é parte
da cultura deles.

A Traição de Apetebi
Eu tenho muito orgulho de publicar alguns textos neste Blog. Existem textos
aqui que refletem bases profundas da religião, dogmas ou fundamentos
importantes. No meio de tanta besteira, coisa inventada, frivolidades e
superficialidades que se fala e escreve, alguns textos devem nos remeter a
uma análise séria. Este aqui é um deles.
Para entender o modo de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) deve-se conhecer este texto.
Não é uma coisa isolada. De tudo que li de versos a atitude de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) é sempre a mesma.
Esta história faz parte do Odù Ogbè Oligun. Foi extraído da obra de
Osamaro Ibie, composta de vários livros e que recomendo que seja adquirida.

Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e a paciência


Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) diz que, para seguir seus caminhos é preciso aprender a
arte da paciência e da perseverança. Ele diz que medicamentos e feitiços
podem falhar, mas a eficácia da paciência é tão constante como a existência
do céu e da terra.
Paciência, diz ele, exige paciência, é claro, mas também a capacidade de
resistir à tentação de vingar um mal fazer.
Se alguém está ofendido com as ações dos outros, não é esperado para reagir
através de vingança, mas, deixar isso para o julgamento das divindades que o
protegem e nos assistem a todos, que certamente intervirão do lado da justiça.
Por qualquer motivo, as pessoas são motivadas a ficarem irritadas o mais
frequente e rápido possível. Contudo este temperamento, não devem ser
autorizados a estender por mais do que uma sono, porque o calor da água
fervida não dura do crepúsculo ao amanhecer.
Embora Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) nunca perdoe aqueles que seduzem sua esposa,
ele não deixa de ser impassível em sua atitude para esta sedução. Qualquer
pessoa que seduz sua esposa, assim como a mulher que se permite ser
seduzida pagará caro no final, por sua transgressão.
Ewure, a esposa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) gostava de dizer-lhe que ela tinha
muitos admiradores, muito mais atraente do que ele mesmo. Um dia, a esposa
desafiou-o que um admirador há muito flertava com ela, e que, se ele não
permitir que ela "coabita-se” com o homem, ela iria deixá-lo para se casar
com o homem.
Alaminagun, Ajaminagun, Emietiri, Eyiteemaari looni yiojutire, miilo adifa
fun Apetebi Orunmila nijo toun lofe ale. Esse é o nome do Awo que fez
divinação para a esposa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) quando ela queria flertar
com um amante.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), quando foi confrontado com o ultimato de permitir que
sua esposa a flertar com outro ou deixá-lo, ele lhe disse que ela estava livre
para convidar seu amante para a sua casa, em vez de arriscar o perigo de
perder a sua vida por se envolver em infidelidade secreta.
A esposa perguntou se existia algum homem que fosse capaz de desafiar a
vermelhidão dos seus olhos para seduzir sua esposa. Ele, contudo, respondeu
que ela tinha sua sua total permissão para trazer o amante para a casa. Ela,
então, vestiu-se e foi para a casa de seu amante, e convidou-o para sua casa
matrimonial.
O homem nunca suspeitou que ela era a esposa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), sua
Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí). Ao chegar na casa o amante foi convidado por Orunmila
(Ọ̀rúnmìlà) para aproveitar a comida que havia preparado para ele. Ele
também arrumou sua cama e acenou para sua mulher para ela deitar na cama
com o amante, enquanto ele foi dormir em outro quarto.
Depois de deitar-se, a mulher acariciou o amante para fazer amor com ele.
Depois de hesitar por um longo tempo, o homem se recusou a ter relações
sexuais com ela, porque ele não sabia quais eram as intenções do marido.
Antes do amanhecer. o amante fugiu, mas não antes de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
ter ido buscar a água do rio para sua mulher e seu amante tomarem seus
banhos. Tendo feito isso, ele saiu para visitar seus amigos.
Quando Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) percebeu que era por medo de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) de que o amante a quem ela tanto gostava recusou-se a fazer
amor com ela, ela saiu de manhã para trançar seu cabelo com um
determinado penteado chamado SHUUKU, tendo dois grampos
perpendiculares usados em tecelagem. Depois disso ela saiu de casa para se
estabelecer com o amante, como havia ameaçado. Ela passou exatamente três
anos com o amante tempo durante o qual Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) não fez nada.
Enquanto isso, as outras divindades estavam começando a ridicularizar
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) por sua falta de coragem de lutar de volta, depois de
que um companheiro seu tinha seduzido sua esposa. O sedutor acabou por ser
Sapana, a divindade das epidemias. No terceiro aniversário de sedução de sua
esposa, Ògún veio até ele e acusou-o de ser um idiota e imbecil. Ele retrucou
perguntando a Ògún se ele estava irritado, como resultado da ação de sua
esposa. Ògún respondeu dizendo que se qualquer divindade o tivesse
ofendido de forma semelhante ele reagiria com a ferocidade de um leão
ferido. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) então pediu Ògún para lutar em seu nome, se ele
sentiu que sua raiva era irresistível.
Ògún perguntou a Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) qual seria sua recompensa? Se ele
forçasse sua esposa a voltar para ele. E, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), respondeu que
ele o compensaria com um galo.
Na noite seguinte, Ògún esperou a mulher cair em sono profundo. Ele então
foi para o quarto da mulher e bateu na cabeça dela com uma marreta.
Imediatamente ela desenvolveu uma dor de cabeça. A dor de cabeça se tornou
tão grave que a mulher entrou em coma e Sapana foi para a adivinhação,
naquela mesma noite. Foi solicitado a ele para dar um galo para o ex-marido
da mulher Órunmila (Ọ̀rúnmìlà). Na manhã seguinte, ele deu uma galo a
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) que o deu para Ògún para compensá-lo pelo trabalho
que tinha feito.
A mulher ficou bem, mas ela não voltou para a casa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Poucos dias depois, Xangô (Ṣàngó), a divindade do trovão veio a incomodar
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) perguntando porque ele não usava seus poderes para ter
sua esposa de volta?
Mais uma vez, ele disse a Xangô (Ṣàngó) que ele só se tornaria irritado se
Xangô (Ṣàngó) também se mostrasse que ele também estava irritado. Xangô
(Ṣàngó) confirmou que ele não estava apenas irritado, mas profundamente
envergonhado de que uma divindade júnior poderia tratar Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) com uma ofensiva tão mesquinha e ainda ter impunidade.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) disse o que Xangô (Ṣàngó) poderia para fazer para
demonstrar sua raiva. Perguntado sobre qual seria sua remuneração se ele
conseguisse trazer de volta a mulher, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) confirmou que ele
compensaria Ṣàngó com um galo. Com isso, Xangô (Ṣàngó) partiu para casa
de Sapana.
No meio da noite, a chuva começou a ameaçar e as nuvens estavam
carregadas. Esposa de Xangô (Ṣàngó), Oya colocava a luz na forma de raios
para Ṣàngó poder identificar seu alvo. Sango entrou na casa de Sapana e
rugiu no peito da mulher e assim ela teve um ataque cardíaco que
imediatamente fez ela ficar inconsciente. Uma vez mais, Sapana foi para uma
adivinhação, apressadamente, e foi-lhe dito para enviar um segundo galo
segundo seu o ex-marido da mulher. Sapana foi com o galo para Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà), que por sua vez o deu para Xangô (Ṣàngó).
Uma vez mais, a mulher ficou bem, mas, ela não retornou para a casa de
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà). As divindades ferozes tinham esgotado as suas
capacidades sem realizar seus objetivos. Era hora de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
reagir, ainda que por procuração.
Ele, então, convidou Exú (Èṣù), seu árbitro favorito, e prometeu a ela uma
galinha para ele trazer de volta Apétebi (Apẹ̀tẹ̀bí) apenas para com isso salvar
a sua dignidade divina. Prometeu-lhe dar um bode, depois que a mulher infiel
voltasse à sua casa.
Depois de comer a galinha, Exú (Èṣù) se mudou para o quarto da mulher nas
primeiras horas da manhã. Ele amarrou as mãos e os pés, garganta e peito, e
bateu na sua cabeça. Ela entrou em coma. Quando Sapana acordou de manhã,
ele observou que sua esposa ainda estava aparentemente dormindo. Era luz
do dia e ela ainda não estava de pé. Ele, então, foi para o seu quarto, apenas
para encontrá-la inconsciente. Ele fez de tudo para acordá-la, mas ela não
podia nem falar.
Naquele momento Sapana entendeu que estava lutando uma batalha sem
chance de vitória. Ele juntou suas coisas e foi à casa da mãe de Apetebi
(Apẹ̀tẹ̀bí) e pediu para que ela fosse à sua casa e pegasse o corpo inerte de
sua filha. Depois disso ele correu para a floresta onde permanece até hoje.
De sua parte a mãe vendo a condição de sua filha correu para Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà), para ele salvar a vida de sua filha. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) pediu a
ela um Bode o qual ele Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) deu para Exú (Èṣù).
Depois do sacrifício Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) recuperou a consciência porque Exú
(Èṣù) tirou dela todos os laços que havia dado. Tão logo ela ficou bem para
ficar de pé ela se ajoelhou frente a Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e pediu perdão por
tudo de errado que ela tinha feito.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) apontou seu cajado em direção a ela. Ele disse que ela
havia com seus atos, desgraçado a honra dele, a sua masculinidade e a sua
autoridade divina, ao ter desafiado a sua autoridade como marido. Ela levou 3
anos para desfazer sua transgressão e somente quando ela estava entre a vida
e a morte ela se arrependeu.
Por esta razão ela sempre vai ficar nesta posição que está agora na sua frente,
com joelhos e mãos no chão. Os 2 grampos de cabelo que ela usou quando
saiu de casa vai ficar para sempre na sua cabeça como chifres.
Com essa proclamação, Ewure, pediu pelo perdão de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
chorando “moobee, moobee, moobee”. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) a transfigurou
em um cabrito chamado Ewure (cabrito em yoruba). O seu choro permanece
até hoje como o berro do cabrito.
Notas do autor
Órunmila aconselha perseverança em tudo o que seus seguidores fazem. Eles
não devem por sua própria vontade vingar qualquer mal feito a eles por
outros. Ele não quer que seus seguidores a se envolver em atos diabólicos
especialmente aqueles destinados à destruição de outras pessoas. Ele
aconselha em um poema que aqueles que tomam as almas dos outros também
vão pagar com suas próprias almas ou com as de seus filhos e netos
Ele insiste que ele estará em uma posição melhor para proteger seus filhos, se
eles não tomarem as leis da natureza em suas próprias mãos.
É um texto muito duro com a visão da mulher. Nas histórias de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) é sempre a mulher quem o trai.

O sofrimento de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) em


Iwo
Orumilá (Ọ̀rúnmìlà) diz que quando ele está com pressa, sua velocidade de
ação não é tão rápida quanto o ritmo em que a menor formiga anda ou os
movimentos mais rápidos de caracol. Ele diz que mesmo quando ele está se
movendo e uma árvore cai para obstruir seu avanço, ele ficará com a árvore
caída, até que ela apodreça antes de prosseguir em sua jornada.
Se por outro lado, uma pedra bloqueia seu movimento: ele vai esperar até que
a folhagem seja descamada aos montões e se acumule até a altura da pedra,
antes de atravessar a pedra usando essa ponte fornecida pela pilha de folhas.
Mesmo quando ele decide reagir, ele não o faz diretamente. Ele apela a uma
das divindades mais agressivas, como Esu, Ogun, Omolu ou Xango, fazendo-
lhes sacrifícios e exortando-os a agir em seu nome.
Orumilá (Ọ̀rúnmìlà) diz que se ele reage muito cedo, ele vai fazê-lo em três
anos e somente quando sua paciência se esgotou, mas quando ele finalmente
decide reagir, ele o faz de forma muito impiedosa.
Ogbe suru fornece a ilustração mais clara de como Orumilá (Ọ̀rúnmìlà) opera
neste contexto:
Era uma vez, uma princesa que viveu em Iwo e cuja beleza foi tão cativante
que todos os homens de Iwo não foram considerados elegíveis suficiente para
ela. Seu pai, o Oba de Iwo tinha dito que não iria forçá-la a desposar
ninguém, exceto com um homem escolhido por ela mesma.
Quando o povo de Ifé ouviu de sua fama e beleza, eles decidiram competir
pela mão dela em casamento. Ògún foi o primeiro a fazer uma tentativa.
Ògún foi para iwo e ante a visão da princesa, ficou completamente nervoso, e
ele prometeu fazer de tudo para conquistá-la
Quando Ògún professou amor para ela, ela aceitou-o sem qualquer hesitação.
Ela, no entanto, insistiu que ela tinha de viver com seu pretendente na casa de
seu pai, sugestão que Ògún prontamente concordou.
Ela entreteu Ògún elaboradamente nos primeiros sete dias. No terceiro dia da
chegada de Ògún a iwo, ela pediu Ògún lhe dizer o que era proibido para ele
a fim de diminuir a margem de atrito entre eles.
Antes de Ògún deixar Ifé para ir para Iwo, ele havia sido avisado para fazer o
sacrifício de seu anjo da guarda e Exu (Èṣù), a fim de voltar para casa vivo de
sua missão. Ògún se gabou de que uma vez que nenhuma batalha já havia
desafiado sua força e bravura que não vê a justificação em fazer todos os
preparativos do sacrifício quando ele estava indo se encontrar com uma
mulher. Ele não fez o sacrifício.
Em resposta à pergunta da princesa Ògún lhe disse que a ele era proibido o
óleo de palma (Adin) e a menstruação. Em outras palavras, ele está proibido
de ver a menstruação de qualquer mulher. Assim que os sete dias de
hospitalidade se foram, a princesa viu a sua menstruação chegar. Ela, então,
preparou uma refeição com óleo de palma (adin) para Ògún para comer.
Quando ela deu a comida para Ògún para comer, ela deliberadamente se
sentou em seu santuário sem segurar o seu fluxo menstrual.
Quando Ògún se sentou para apreciar a refeição, ele descobriu que a sopa foi
preparada com óleo de palma. Quando ele levantou a cabeça em fúria para
consultar a ela sobre isso ele viu que havia também descarga menstrual em
seu santuário, em fúria Ògún levantou-se para golpeá-la e ela rapidamente
correu para o apartamento de seu pai por socorro. Quando o pai viu Ògún
perseguindo a sua filha, o Oba usou seu AXÉ para conjurar-lhe para parar e
rapidamente ordenou Ògún transfigurar na marreta usada pelos ferreiros, que
ele é até hoje. Esse foi o fim da tentativa de Ògún para ganhar a princesa de
Iwo para sua esposa.
Depois de esperar em vão por Ògún para voltar com a princesa de Ifé, seu
irmão júnior Osayin decidiu avançar para Iwo para a dupla missão de
procurar Ogún e, se possível, de ganhar a princesa para si mesmo. Antes de ir
para Iwo ele também foi aconselhado a fazer o sacrifício de seu anjo da
guarda e para oferecer um bode a Exú (Èṣù). Ele também disse que como o
proprietário de todos os medicamentos diabólicos que existiam, seria
degradante para ele fazer qualquer sacrifício para qualquer outra divindade.
Ele então partiu para iwo.
Ao chegar a Iwo, ele foi rapidamente apresentado à princesa que ofereceu a
ele a recepção inicial e hospitalidade que ela havia previamente tratado Ògún.
No terceiro dia de chegada Osanyin, ela também pediu a ele para revelar a ela
o que era proibido para ele, a fim de minimizar o risco de atrito. Em resposta,
Osanyin queria saber se ela já conhecia Ògún. Ela confirmou que sim, mas
que, em vista da recepção pobre que ela deu para ogun, ele se sentiu muito
envergonhado de voltar para casa e decidiu procurar uma nova morada longe
de Ifé e iwo. Em um tom de bajulação ela disse a Osanyin que os olhos de
Ògún eram demasiados terríveis para seu gosto e que ele Osanyin de fala
mansa, era o seu tipo de homem. Com isso, Osanyin foi desarmado e
começou a revelar-lhe que ele era proibido de comer o óleo de palma e
menstruação. Ela assegurou a Osanyin, confiante como fez Ògún antes dele,
que ela apenas fez a pergunta a fim de evitar o risco de qualquer mal-
entendido entre eles.
Logo após o término da lua de mel a princesa começou a sua menstruação.
Ela, então, preparou um guisado com óleo de palma para Osanyin para
comer. Ela também foi para sua cama para manchá-la com seu fluxo
menstrual. Quando Osanyin estava prestes a começar sua refeição favorita,
ele descobriu que ela foi preparada com óleo de palma (adin).
Ele então abandonou a comida, lembrando-lhe que ele lhe proibiu o óleo de
palma em seu alimento. Ela pediu desculpas a ele, abraçando-o e
persuadindo-o a ir a seu quarto para o romance. Mas logo que ele estava
prestes a deitar na cama, viu descarga menstrual e acusou-a de tentar matá-lo!
Quando ele tirou sua varinha para amaldiçoar a princesa, ela voltou correndo
para o apartamento de seu pai e o pai parou Osanyin com seu machado. O
Oba ordenou Osanyin transfigurar em um pote de água, que é o que ele é, até
hoje.
Depois de esperar em vão por Ògún e Osanyin voltar para casa, o povo de Ifé
intimou Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) para ir em busca deles. Ele então convidou
seus AWOS para adivinhação e disseram-lhe que Ògún e Osanyin não eram
mais vivos. Ele foi avisado de que antes de ir para iwo, ele deve fazer
sacrifício para seu Ifa e dar bode para Exú (Èṣù). Ele foi avisado de que o
tratamento muito pobre lhe aguardava em iwo, e que ele preparasse sua
mente para nunca para esgotar sua paciência até o fim. Ele fez o sacrifício e,
em seguida, partiu para iwo
Em chegando lá, ele começou a dançar na porta de entrada para a cidade, e as
pessoas se reuniram para recebê-lo. Posteriormente, a princesa veio e
professou o amor a ele. Ele retornou o seu amor e concordou em viver com
ela na casa de seu pai. Ela estendeu a hospitalidade habitual para Orunmila
(Ọ̀rúnmìlà), e acabou perguntando-lhe o que a ele era proibido. Antes de
concordar em responder a sua pergunta, ele perguntou pelo paradeiro de seus
irmãos mais velhos, que vieram mais cedo para iwo para pedir a sua mãos em
casamento.
Ela disse que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) que o primeiro era muito agressivo para o
seu gosto, enquanto o segundo era muito diabólico para o seu conforto. Foi
por isso que ela recusou suas insinuações e, como resultado de suas
decepções, eles decidiram nunca mais voltar para visitar Ifé ou pisar na terra
de iwo. Ela presume que eles tinham ido para fundar novas casas em outras
cidades. Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) não acreditou na história, mas foi o suficiente
para colocá-lo em guarda.
Finalmente, ele revelou a ela que ele era proibido de comer rato, peixe,
galinha, cabra, azeite de dende, vinho de palma e a menstruação das
mulheres, aliás, exceto pelo último item, todos os outros eram os alimentos
básico de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà)
Poucos dias depois, a mulher começou a sua menstruação e ela preparava a
comida com ratos para Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e sentou-se diretamente em seu
santuário Ifa. Quando Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) viu o rato na sua comida, ele
perguntou por que ela deu a ele o que ele proibiu. Ela explicou que era
porque não havia carne em casa. Após uma profunda reflexão, Orunmila
(Ọ̀rúnmìlà) lhe disse, a essência do casamento é o compartilhamento de dores
e prazeres mútuos. É por conta de sua amada que se come o que se proíbe.
Por que eu deveria ter medo da morte, quando eu tenho a rainha da beleza do
meu lado. Com essas observações amorosas, ele abraçou a mulher e decidiu
comer o rato para agradá-la. Depois de ter comido, como ela se levantou de
onde ela se sentava em seu santuário, para recolher os pratos, Orunmila
(Ọ̀rúnmìlà) viu que o pano branco adornando o seu santuário, tinha sido
manchada com descarga menstrual, mais uma vez, ela pediu desculpas a ele,
alegando que a descarga veio inesperadamente. Ele perdoou prontamente e
saiu para lavar a roupa suja.
A princesa ficou intrigada. Um após o outro, a mulher deu-lhe, cada um o que
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) lhe disse que ele proibiu, mas ele se recusou a perder o
seu temperamento. Depois de esgotar a lista de alimentos proibidos Orunmila
(Ọ̀rúnmìlà), e ele não perder seu temperamento, a princesa de iwo decidiu,
em um ato completamente nova provocação, ela convidou um amante de fora
para vir visitá-los sob o pretexto de ser uma pessoa de sua relação. Na noite,
o amante fez amor com ela diante dos olhos de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà). Isso foi
exatamente três anos após Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) estava morando com ela.
Na manhã seguinte, Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) foi buscar água para o amante ter o
seu banho. Como ele estava prestes a sair, Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) sugeriu que
ele se juntasse a sua mulher para que esta o acompanhasse.
Já era tempo para ele reagir.
Assim que eles estavam fora da cidade, ele invocou Exú (Èṣù) para intervir.
Exú (Èṣù) usou a sua própria cabeça para constituir uma pedra no caminho, e
o amante, que estava na frente, bateu o pé sobre ela, e caiu. Ao mesmo
tempo, Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) apontou o Uranke para ele e ele transfigurou-o
em um caracol, que ele rapidamente quebrou e usou para limpar o corpo da
mulher da poluição que ela recebeu do intruso
Quando voltou para casa, a princesa, que tornou-se muito assustado com a
coragem deste pretendente infinitamente paciente e foi para seu pai para
proclamar que ela havia encontrado o marido que ela concordava em se casar.
Seu pai rapidamente convidou Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e sua filha e ambos
professavam que eles estavam dispostos a tornar-se homem e mulher.
No mês seguinte, ela ficou grávida. foi nessa fase que Orunmila (Ọ̀rúnmìlà)
buscou a permissão de seu pai-de-lei para voltar à sua cidade natal, ifé com
sua esposa. Ele concordou prontamente. Em chegar em sua casa em Ife, ele
intrOdùziu a esposa como iya ile iwo - o que significa o prOdùto de meus
sofrimentos em Iwo. Esta é a origem ou a palavra iorubá "iyawô", que
significa uma esposa.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) então compôs uma música especial em louvor a
perseverança, e fez uma festa de júbilo para o sucesso de sua missão de três
anos sobre a Iwo.
Essa experiência também foi para confirmar uma filosofia fundamental Ifá
que se um homem revela o que ele proíbe a sua esposa, é exatamente o que
ela vai fazer com ele quando ela planeja desfazer dele.
A pessoa que não proíbe nada apenas prolonga a sua vida. É por isso que
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) não proíbe nada para seus Babalawo.
NOTAS DO AUTOR
Mais um texto onde é a mulher quem é traiçoeira e que traz problemas a
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà). Longe de ser uma exceção, isso é uma regra em Ifá.
O texto a seguir também faz parte do Odù Ogbe Oligun. Este texto é muito
importante por 2 aspectos.
O primeiro é que é um texto famoso de Ifá e relata a origem do nome Iyawo,
que é largamente utilizado no Candomblé. Talvez poucos saibam que tem
origem em Ifá com Orunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Segundo que ele endereça uma coisa muito chata principalmente no Ifá
cubano. Os cubanos são muito esquisitos. Eles inventaram uma mímica
associada a cerimônias que fazem. Existe um tratado de mímica que ensina
que gestos devem ser feitos em Odùs específicos. Para mim aquilo é coisa de
T.O.C.
Além disso adoram proibições. Assim fulano de Odù tal não pode fazer tal
coisa o outro não pode fazer aquilo, etc... são centenas de proibições.
No Candomblé ao invés das pessoas se preocuparem com o bem do outro
ficam mais preocupados em proibir coisas. Claro que proibições fazem parte
de dogmas e liturgias, mas, o importante é o que a gente realiza.
Conheço um Pai de Santo no Rio de Janeiro que faz uma lista de proibições
para clientes que sentam na mesa dele. A pessoa pode nem ser de
Candomblé, foi lá apenas para jogar e ela sai passando proibições que
deveriam valer apenas para membros da casa e principalmente Iyawos. Mas
ele vai além, a pessoa é abian e já ganha as mesmas proibições de Iyawo,
como se tivesse feito Orixá, ou seja, ela não tem direito a nada e já tem
direito as proibições. Sabe, se você não tem alguma coisa de bom para falar
então é melhor ficar quieto.
Mas, voltando ao Ifá dos cubanos eles também adoram isso.
Gente, sem sentido. Um Bàbáláwo não tem restrições. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
não tem restrições e não dá restrições para seus Babalawo. Onde já se viu um
Babalawo com restrições que o impeçam de fazer o que tem que fazer? Ainda
mais uma pessoa que fica mais tempo sozinha do que acompanhada!
Mas, esse meu ponto de vista é explicado aqui. Assim, leiam até o final.
Posso dizer e afirmar que nunca vi em versos de Odù, Orumilá (Ọ̀rúnmìlà)
com restrições ou sendo penalizado por isso. Mas estou falando de versos de
Odù e não os pataki.

O sofrimento de Orunmila em Iwo


A história a seguir foi obtida em Popoola. E um pouco diferente da anterior
porque alivia a barra das mulheres.
Iya era filha do Oniwoo de Iwo. Ela era muito bonita e também muito
trabalhadora. Ela era também muito querida por Oniwoo. Em função disso
Oniwoo resolveu tomar papel ativo na sua escolha de seu marido. Oniwoo
queria garantir que qualquer pessoa que fosse se casar com sua amada filha
deveria ser paciente e não deveria ser provocado facilmente.
Ele, portanto, definiu diferentes testes para pretendentes em potencial. Todos
eles falharam. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) foi então para alguns de seus alunos para
consultar Ifá e determinar se ele iria ou não se casar com Iya a filha de
Oniwoo. Ele também queria saber se a relação deles daria bons frutos e se
ambos seriam felizes.
Os estudantes asseguraram-lhe que a relação seria muito gratificante para ele,
se ele fosse se casar. Entretanto foi aconselhado a ser muito paciente e não
deveria nunca ser provocado. Ele foi informado de que o pai de Iya definirá
muitos testes para ele para determinar sua resistência e o nível de sua
paciência. Ele foi, então, aconselhado a oferecer sacrifício com um galo, óleo
de dendê e dinheiro.
Ele obedeceu e partiu em sua viagem. Quando Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) chegou
ao palácio de Oniwoo, ele foi calorosamente recebido e pediram para ser
dado a ele um quarto para dormir. Estranho para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), o
quarto foi chiqueiro do porco de Oniwoo. No alto topo era onde as galinhas
de Oniwoo eram mantidos.
Durante três dias, Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) foi mantido dentro desta sala, sem
comida ou água. O quarto fedia insuportavelmente e as galinhas defecavam
no corpo de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà). Ao longo do calvário de três dias, nem por
uma vez ele pediu assistência de qualquer pessoa. Ele nunca saiu, ele nunca
pediu comida ou água para beber e ele nunca pediu água para limpar seu
corpo.
No quarto dia, Oniwoo convocou Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) para o seu palácio,
quando o viu, ele estava cheio de fezes e estava fedendo muito. Ele perguntou
a Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) como havia sido a sua estadia em seu quarto.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) respondeu que o quarto foi como um segundo palácio
para ele.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) foi, então, convidado a mudar-se para outra sala ao lado
da cozinha. O calor e a fumaça eram asfixiante. Ele ficou dentro do quarto
por mais três dias sem comida ou bebida.
No quarto dia, ele foi convocado para o palácio na presença de Oniwoo. Ele
perguntou a Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) como havia sido sua estadia em seu quarto.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) respondeu que o quarto foi muito agradável. Oniwoo
ordenou que a Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) deveria ser dado alimento pela primeira
vez. Ele comeu a comida.
No próximo quarto dado a ele estava cheio de água podre, vermes e insetos.
Ele não conseguiu dormir os três dias que passou no interior do quarto.
Quando ele foi convidado a sair do quarto ele tinha picadas de insetos por
todo o corpo. Quando Oniwoo perguntou como havia sido a sua estadia no
quarto, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) respondeu afirmativamente.
Durante três meses, Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) foi passando de uma prova para
outra. Ele suportou tudo sem reclamar.
Os próximos três meses, foram testes físicos, tais como o corte de árvores de
grande porte em tempo recorde, a limpeza de grandes extensões de terra e
transporte de cargas pesadas de um lugar para outro. Todos estes ele fez sem
reclamar.
Depois disso, Oniwoo convocou Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) para se encontrar com
ele e tomar o seu banho e usar uma nova roupa que lhe fora presenteada por
Oniwoo.
Antes de voltar ao tribunal palácio, ele descobriu que em todos os lugares e
todo mundo estavam em clima festivo. Todo mundo estava cantando,
dançando. Oniwoo pediu para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) sentar-se ao lado dele.
Ele o fez. Oniwoo então entregou Iya a ele para levar para casa como esposa.
Oniwoo elogiou a resistência Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e também a sua paciência,
e a calma e gentileza que ele teve para passar pelos sofrimentos que foi
submetido. Ele, então, pediu Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) cuidar de Iya para ele, já
que ele havia mostrado que era capaz de cuidar bem de uma mulher.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) estava cheio de alegria que ele tinha finalmente
conseguiu o que vários outros tinham falhado. Ele, então, disse que a partir
daquele dia, todas as mulheres a se casarem com um homem ou àqueles já
casados deveriam ser chamado Iya-iwo ou lyawo (o sofrimento em Iwo). Ele,
então, chamou sua esposa de Ere Iya-iwo (o ganho para o seu sofrimento na
Cidade iwo). Desde esse dia, todas as esposas passaram a ser conhecidas
como lyawo.

As tarefas da Apetebi
Esta é uma história muito interessante para mostrar o que Ifá reserva para as
mulheres e mais um exemplo do caráter que Ifá atribui às mulheres.
Essas histórias são metáforas, a gente tem ter atenção nos detalhes, nos
comportamentos, nas reações, etc..
No fim do texto eu faço os comentários finais
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) diz que - “muito cedo vamos amarrar
contas do ide de Ifá”
Eles responderam que - “nós também nos adornar nossos braços
com as pulseiras de latão de Oxun”
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) pergunta se apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) cuida do
santuário de Ifá santuário ou se ela não o faz. Eles responderam
que apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) cuida do santuário de Ifá
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) declara que - “Se apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) cuida
do santuário de Ifá, Ela vai ser abençoado com uma vida em seu
ventre”
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) diz que - “muito cedo vamos amarrar
contas IDE”
Eles responderam que - “nós também nos adornar com pulseiras
de latão Osun”
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) pergunta se apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) cuida de Ifá
santuário Ou ela não o faz
Eles responderam que - “apetebi cuida de Ifá santuário”
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) declara que - “Se apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) cuida
de Ifá santuário”
- “Ela vai ser abençoado com uma vida em seu útero”
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) diz que “muito cedo vamos amarrar contas
do ide”
Eles responderam que - “nós também vamos nos adornar com as
pulseiras de latão de Oxun”
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) pergunta se apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) cuida do
santuário de Ifá ou se ela não o cuida
Eles responderam que apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) cuida do santuário de Ifá
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) declara que - “Se apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) cuida
do santuário de Ifá”
- “Ela vai ser abençoado com um mensageiro para todos os
propósitos em suas mãos”
Estas foram as declarações de Ifá para Jebutu que era a esposa
de Agbonniregun, quando chorando em lamentação de sua
incapacidade de ter um filho.
Ela foi aconselhada a oferecer sacrifícios.
Jebutu era a esposa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) por vários anos. Ela
não teve filhos. Todas as mulheres que ele se casou depois dela
tinham sido abençoadas com filhos. Ela foi, porém, a única entre
as esposas de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) que estava fazendo tudo o
esperado de uma boa apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí).
Ela costumava cuidar de todos os visitantes, cozinhar para eles,
preparar sempre o santuário Ifá, limpar o local com total
dedicação. Ela estava sendo ridicularizada pelas outras esposas há
algum tempo por causa disso. Mas essas ações delas nunca a
dissuadiram de fazer o que ela sabia que era certo e apropriado.
Um dia, porém, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) teve alguns visitantes que
eram Bàbáláwo . Jebutu, como de costume, teve o cuidado com
eles e arrumado o santuário Ifá para eles. Quando ela estava
para o quintal, uma de suas esposas mais novas de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) comentou que elas deviam permitir que Jebutu para
continuasse cuidando dos alimentos para os visitantes, enquanto
as esposas restantes continuavam a cuidar das crianças de seus
maridos.
Este comentário feito para Jebutu a dexiou tão triste que ela
explodiu em lágrimas de tristeza. Em agonia, ela ergueu os olhos
para o céu e disse:
Odidere (papagaio), o pássaro do alto mar de Aluko (Maroon
Touraco Musaphagidae),
o pássaro da lagoa
Se nós falharmos de vermos um ao outro outra vez
Não deixe de fazer aquilo que nós já conversamos
Estou cansada e esgotada
Por favor, escutai as minhas orações hoje
Porque eu estou cansada e exausta.
Enquanto ela estava dizendo isso, um dos visitantes Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà), que tinha ido para o quintal para atender o chamado
da natureza a ouviu. Depois de muita persuasão, ela narrou todo
o seu calvário para ele. Ele a levou para o meio de todos os Awo.
Todos eles tiveram pena dela. E aí então, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
consultou Ifá. Foi quando Ifá declarou que desde Jebutu tinha
cuidado do santuário Ifá, ela será abençoada com três coisas:
uma vida em seu útero, uma vida em suas costas e um mensageiro
para todos os propósitos em suas mãos. Ninguém sabia o que
estes três bênção significavam.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) respondeu que a gravidez é a bênção de
uma vida no ventre de uma mulher, uma criança é a bênção de
uma vida de costas e dinheiro é a bênção de um mensageiro para
todos os propósitos em suas mãos.
Foi assim que ficou grávida Jebutu, tornou-se uma mãe orgulhosa e uma
mulher rica devido à sua perseverança.
NOTAS DO AUTOR:
Esses versos são bem representativos da visão que Ifá um culto masculino
reserva para a mulher. Claro que é uma visão Nigeriana, mas mesmo a visão
cubana é idêntica, com pequena variação.
Como eu sempre digo e repito. Ifá é um culto masculino. Ao longo dos
inúmeros textos que eu publiquei aqui, os mais relevantes para se entender a
visão de Ifá para as mulheres, vimos um desfile de versos que mostram que
Ifá reserva para as mulheres tarefas domésticas. Uma apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) serve
a um Bàbáláwo e sua atividade é manter limpa a sua casa e assentamentos.
Os Nigerianos a veem como a mulher de fato do Bàbáláwo , ele dorme com
ela. Os cubanos inventaram o cargo de apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí), deram uma pompa
qualquer, mas, no fundo é a mesma coisa. O que Ifá reserva para a mulher é
através de Oxun, o seu poderoso oráculo e isso diz respeito a todas as
mulheres e não a apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) em particular.
Espero que vocês tenham observado nos demais textos, mas, neste em
particular que as histórias de Ifá sempre reservam para a mulher atitudes de
pouca índole e traiçoeiras. A visão da personalidade da mulher é pequena e
mesquinha.
Assim seja na atribuição de tarefas práticas como também às atitudes que a
mulher espelha nos versos, a visão reservada à mulher é muito ruim. Por isso
eu digo e repito, Ifá é um culto masculino.
Aqui no novo mundo, apenas por motivações comerciais se inventou a figura
de Iyanifa. Iyanifa é uma sacerdotiza de Ifá, uma mulher que recebe o
conhecimento, terá a capacidade de jogar, mas, somente irá fazer isso se não
houver nenhum babalawo disponível. Além disso ela nunca poderá ver Odù.
Essa figura não existe no Ifa cubano, apenas no Nigeriano. No Ifá cubano a
mulher será Apetebi. E ponto final.
Na África Iyanifa é um cargo muito raro. Reservado apenas a mulheres de
famílias de tradicionais familias de Babalawo, casadas com um Babalawo.
São muito raras porque isso significa muita dedicação e nenhum privilégio.
Aqui para o novo mundo, onde a mulher tem uma figura mais independente
eles encontraram isso como uma forma de ampliar o seu comércio de
falsidades. Principalmente nos EUA, mas também aqui no Brasil a gente vai
ver mulheres que acham que são alguma coisa porque foram “iniciadas”
como Iyanifa. Esqueçam, elas não são nada, são apenas mais uma vítima do
comercio nigeriano. Eles, os nigerianos, fazem isso aqui, porque, lá na terra
deles, com seu povo onde são cobrados para terem seriedade els não fazem.
Lá eles seguem as regras restritas que tem.
Aqui, no novo mundo, é terra de Malboro, lugar para ganhar dinheiro de
branco.
Minha visão não é negativa em relação a este assunto, O caminho da mulher
em Ifá está ligado a Oxun e ao eerindinlogun. É nesta atividade que a mulher
encontra o seu lugar nobre e isso esta muito bem descrito no longo texto que
eu fiz sobre o eerindinlogun e Ifa.
Não gosto de ver gente enganada, assim, mulheres não se iludam com essa
conversa de Apetebi. É história da carochinha. No caso Nigeriano, eles não
dão valor nenhum. No caso do cubano é só para inglês ver. Como sempre
este Blog representa a minha opinião e o culto onde a mulher tem valor e
relevância é no culto de Orixá.
Versos que ligam o poder de Óxun
(Ọ̀ṣun) e ajé (Àjẹ́)
Óxun (Ọ̀ṣun) é considerada a Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) original e sua importância
em Ifá é enorme.
A ligação de Óxun (Ọ̀ṣun) com Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) é muito forte e isso não
têm a ver com ela ser sua mulher, está relacionado com o poder feminino,
principalmente a representação de Óxun (Ọ̀ṣun) como a líder das ajé (Àjẹ́) e
possuidora do poder do axé (àṣẹ) e de desfazer tudo o que quiser.
Os versos de Ifá deixam isso claro para o Bàbáláwo, seu poder tem restrições
frente às mulheres e de acordo com os versos um Bàbáláwo nunca as enfrenta
diretamente ele busca aplacar sua ira ou contar com a ajuda de outros.

Óxun (Ọ̀ṣun) e o poder feminino


Conforme mostrado no Odù Ọ̀ṣẹ́ Òtúwá Óxun (Ọ̀ṣun) recebeu o poder
absoluto de interferir em qualquer coisa que era feita no mundo pelos Orixá
(Òrìṣà). Tudo que eles faziam dava errado ou não funcionava.
Esse poder, manifesta nesse ọmọ Odù, mas isso apenas reflete o que está no
Odù Ọ̀sá Méjì conforme veremos a frente. O verso que listo a seguir mostra
esse poder de interferir de Óxun (Ọ̀ṣun) e carateriza uma das faces do poder
feminino.
Kọ́mú-n-kọ́rọ̀
Seu adivinho na cidade de Ado
Ọ̀rùn-mu-dẹ̀dẹ̀ẹ̀dẹ̀-kanlẹ̀
Seu adivinho no reino ijesa
O-caranguejo-está-dentro-do-rio
E-rasteja-em-solo-extremamente-frio
Todos eles adivinharam para os dezesseis principais divindades
No dia em que eles estavam descendendo do órun (Ọ̀run)
Para o Àiyé
Eles chegaram ao mundo,
Eles limparam o bosque Oro,
Eles limparam o bosque Opa.
Eles planejaram,
Eles nunca consultaram Óxun (Ọ̀ṣun).
Eles tentaram manter o mundo,
Não havia ordem no mundo.
Eles se levantaram imediatamente
E foi para Olódùmarè
Olódùmarè os cumprimentou
E perguntou sobre sua décima sétima pessoa.
Olódùmarè perguntou a eles "Por que você não costuma
consultá-la?"
Eles responderam: “Foi porque
Ela era apenas uma mulher entre nós. "
Olódùmarè disse: “Não, não deveria ser assim!
Óxun (Ọ̀ṣun) é uma mulher viril. ”
Olódùmarè disse,
“Bonbon, seu adivinho em Iragberi,
É aprendiz de adivinhação de Óxun (Ọ̀ṣun).
Egba, seu adivinho em Ilukan,
é um aprendiz de adivinhação de Óxun (Ọ̀ṣun)
Ese, que é seu adivinho
Em ijebu Ere,
É aprendiz de adivinhação de Óxun (Ọ̀ṣun)
Atomu, seu adivinho na cidade de Ikire,
é um aprendiz de adivinhação de Óxun (Ọ̀ṣun).
Essas divindades,
Eles permitem que uma pessoa negocie,
Eles permitem que uma pessoa obtenha ganhos,
Mas eles não permitem
A pessoa que levará o ganho para casa. ”
Olódùmarè disse,
“O que você ignorava
É o que você sabe agora.
Volte para o mundo e consulte Óxun (Ọ̀ṣun) em tudo que você
embarcar,
O que quer que você coloque suas mãos em
Continuará a prosperar. ”
Quando eles entraram no mundo Eles agora continuaram a
chamar Óxun (Ọ̀ṣun)
E elogiar Óxun (Ọ̀ṣun) assim:
Aquele que tem uma loja de latão em uma grande prateleira;
Aquele que generosamente apazigua seus filhos com bronze.
Minha mãe, aquela que aceita corais como oferendas rituais.
Ota! Omi! Edan!
Awura! Olu! Agbaja!
O conselheiro sempre presente em suas reuniões de tomada de
decisão!
Ladekojii! a Mãe Graciosa, Osun!

Conforme está no verso Olódùmarè diz aos Orixá (Òrìṣà) masculinos que eles
devem envolver Óxun (Ọ̀ṣun), o poder feminino em tudo o que fazem, que
não podem fazer sozinhos e, mais, que ela deve ser consultada a respeito dos
problemas.
Sai de Olódùmarè a informação que é Óxun (Ọ̀ṣun) que tem o poder da força
de vida, do axé (àṣẹ) e que foi ele Olódùmarè que deu isso a ela. Essa
abordagem, que está no verso oxé (Ọ̀ṣẹ́) Òtúwá coloca o poder masculino dos
Orixá (Òrìṣà) como o que faz as coisas, a execução, os atos, as liturgias, mas,
reserva a mulher, ao poder feminino a fonte do axé (àṣẹ) no mundo.
Esse é o tipo de equilíbrio que Ifá traz como mensagem.
É importante entender também que Óxun (Ọ̀ṣun) tem controle sobre os seus
quatro principais mensageiros, os terríveis Ajogun, Boríborí (o superador),
Ẹ̀gbà (paralisia), Èṣe (dano grave) e Atómú (capaz e forte captor). Eles são
aprendizes de Óxun (Ọ̀ṣun) que Óxun (Ọ̀ṣun) usa para oferecer equilíbrio ao
mundo e às pessoas, com um contexto de destruição e construção, ferocidade
e atenção, desorganização e organização, fortuna e desfortuna.

A origem do nome Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí)


Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) é um outro nome para as esposas dos Bàbáláwo. Os
acontecimentos que envolveram o surgimento do nome estão registrados em
um verso sob o Odù Obara Ogunda (Ọ̀bàrà ègún tán). O versículo diz assim:
Ọ̀bàrà ègún tán
A maldição está encerrada
Fechando a porta com firmeza contra qualquer maldição futura
Eles são os que consultaram Ifá para o pilão
Eles são também os que consultaram Ifá Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
No dia em que estava embarcando em uma viagem de adivinhação
para a casa de Àsedó
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) recebeu uma mensagem de que ele devia embarcar em
uma viagem a uma cidade chamada Àsedó. O rei da cidade o havia
convidado para vir e fazer adivinhação para ele e para todos os habitantes. Na
verdade, ele deveria ir e ficar com eles por um tempo como seu sacerdote-
chefe de Ifá.
Como de costume, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) , antes de começar a viagem, foi ao
encontro com os seus sacerdotes que fizeram adivinhação para ele Nenhum
outro Odù de Ifá foi visto que não Ọ̀bàrà Ògúndá.
Os Bàbáláwo interpretaram os versos e disseram que ele estaria indo em uma
viagem para um lugar distante.
- “Há muita boa sorte para você no caminho e no local para onde vai. Mas
você deve oferecer sacrifício de modo que sua prosperidade tenha um
aumento monumental em sua vida”, assim os Bàbáláwo previram.
- "Quais são as coisas que eu devo oferecer? Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) perguntou.
Centenas de ratos, centenas de peixes, aves e animais, disseram os Bàbáláwo.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) ofereceu o sacrifício e todas as coisas correram bem.
Pouco depois, ele partiu para a terra de Àsedó. Ele já tinha viajado muito
quando o céu ficou preto e as nuvens pesados de chuva. “Onde eu vou me
abrigar? Eu não passei por qualquer aldeia, e a cidade que eu estou indo para
é ainda uma longa distância”. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) começou a correr na
esperança de encontrar uma casa de fazenda para o abrigo. Enquanto ele
corria, ele sentiu cheiro de fumaça e tentou rastrear a sua fonte. Ele, então,
viu uma pequena cabana e correu em direção a ela. Antes de cobrir metade da
distância, a chuva começou e ele estava encharcado dentro de segundos, mas
conseguiu chegar até a casa. Quando ele entrou, ele encontrou uma mulher
muito bonita, iluminada somente pelo fogo do forno. Ela cumprimentou-o
calorosamente e rapidamente tirou a carga da cabeça de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
. De onde você vem para ter pego por este tipo de chuva?
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) explicou a ela que ele estava indo para a cidade de
Àsedó onde ele havia sido convidado pelo rei. Ela logo terminou sua
culinária e ambos comeram com satisfação.
- “Onde estão os outros?” Orunmila perguntou, notando que ninguém mais
tinha aparecido no meio da densa floresta.
- “Eu sou a única aqui, eu logo deixaria a casa para ir para a cidade ”, disse
ela. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) .
Vendo isso como uma oportunidade, cortejou-a e desde que a noite já estava
caindo e a chuva não o acalmava resolveu ficar com ela até o dia seguinte.
Durante a noite, eles fizeram amor apaixonadamente. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
acordou cedo no dia seguinte para sair. Ele já estava tentando fazer perguntas
pertinentes sobre ela e como eles poderiam encontrar novamente, quando ele
percebeu manchas brancas em sua pele e seus dedos perplexo!
- “Ela é uma leprosa”. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) interrompeu a sua história e,
segurando sua bolsa debaixo da axila, saiu correndo e foi para a cidade de
Àsedó, sem sequer perguntar o nome da mulher.
Quando Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) chegou a Àsedó, ele começou a executar
trabalhar com Ifá para o rei os habitantes de toda a cidade. Como ele estava
realizando adivinhação e eles estavam oferecendo sacrifícios; os doentes
eram curados, as estéreis foram se tornando mães e as crianças foram
crescendo.
Em alguns casos, Ifá falou sobre suas filhas, que deviam ser dadas a um
Bàbáláwo como esposas. As moças foram dadas em casamento a Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) .
Enquanto isso a mulher leprosa não sabia que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) tinha
visto sua pele leprosa. Poucos meses após o seu encontro, ela descobriu que
estava grávida e ela não tinha feito sexo com nenhum outro homem.
Ela esperou notícias Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) por mais de dois anos. Ela já
estava decepcionada e com raiva. Todas as manhãs, ela colocava água na
frente de si mesma e fazia uma chuva maldições sobre o homem que a
engravidou.
Enquanto isso Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) ficou na terra de Àsedó por muitos anos
com suas novas esposas sem que qualquer uma delas ficasse grávida. Ele
tentou todos os meios para isso e não adiantou.
É a mim mesmo que todas as mulheres têm vindo nesta cidade para ter filhos
e todas elas ficam grávidas. Por que as minhas esposas são estéreis? Ele ficou
tão envergonhado com isso que decidiu visitar um outro sacerdote Ifá.
Quando o Odù de Ifá foi lido para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) , ele foi informado
de que a incapacidade de suas esposas para engravidar foi devido a algum
negócio inacabado em algum lugar.
- “Há uma certa pessoa que está chovendo maldições sobre sua cabeça”, o
Awo disse a Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
- “E, a menos que a situação seja resolvida e as maldições removidas as suas
esposas não engravidarão”, concluiu ele.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) não se lembrava da mulher leprosa, havia sido tão
rápido e a tanto tempo, mas, ofereceu os sacrifícios prescritos pelo Bàbáláwo.
Ele ofereceu cada uma das prescrições de IFA 16 vezes. Através dos meios
de OlOdùmarê que ninguém pode explicar, o sacrifício moveu a mulher de
dentro da floresta densa, um dia depois de completar todos os sacrifícios, e
ela foi para a cidade, segurando a mão da menina que ela tinha tido com
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
- “Ele me disse que estava indo para a cidade de Àsedó. Deixe-me ir procurá-
lo, pelo menos, eu serei capaz de reconhecê-lo ”, pensou ela.
O mesmo sacrifício também fez sua vinda para coincidir com o dia em que o
rei estava organizando uma festa para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) por que estava
prestes a partir para Òkè Ìgẹ̀tí, em Ilé Ifẹ̀. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) caminhava ao
lado do rei, acompanhado por centenas de outros sacerdotes a quem ele havia
ensinado e iniciado para Ifá na cidade de Àsedó, os habitantes da cidade
estavam dançando.
De longe, a mulher leprosa viu Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) acenando para toda
aquela gente feliz. Ela reconheceu Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) como o pai de sua
filha. Ela abriu caminho através da multidão até que ela ficou diante de
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) .
- “O que você fez para mim é muito ruim ”, disse ela, ao bloquear o caminho
de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) .
- “Esta criança é o resultado da nossa relação sexual há dois anos”.
Memórias passaram pela mente de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e ele rapidamente
ligou a mensagem de seu Bàbáláwo com o encontro que teve com a mulher.
Ele baixou a cabeça em pensamento. Os guardas avançaram para afastar a
mulher, mas, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) os parou.
- “Por favor, levem na e limpem a para mim. É uma longa história ”, disse ele
para o desespero de todos.
Foi assim que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) levou a mulher, incluindo a criança a
Òkè Ìgẹ̀tí. Na chegada, ele chamou todos os Bàbáláwo de Ilé Ifẹ̀ para ajudá-lo
a curar a mulher.
- “Ela é minha mulher e isso é uma vergonha para mim e para a minha filha
pequena”, disse Orunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Dentro de um piscar de olhos os Bàbáláwo trouxeram diferentes tipos de
medicamentos, akose, e muitas outras preparações. Tome esta para si. Essa é
a filha da mulher cuja lepra você ajudou a curar. Ela é sua nova esposa, a
partir de agora, ele disse a eles, um após o outro. Eles são os Ọmọ ìyá tí a pa
ẹ̀tẹ̀ bi (filhos resultantes da cura da hanseníase).
Este é o início do Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) outro nome, dado às esposas de
Babalawôs.
Nota do autor
Esta história, além de explicar a origem do nome traz informações
importantes. Observem que nada pode fazer Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) através de
Ifá para resolver as maldições que a mulher jogava sobre ele.
Isso é a identificação da mulher como ajé (Àjẹ́). As referências do poder de
ajé (Àjẹ́) estão escondidas dentro dos versos de Ifá, elas não aparecem
explicitamente, você deve observar quando Ifá está mostrando ao Bàbáláwo
como é o comportamento e fundamentos de ajé (Àjẹ́).
Observem também a forma como ela mandava essas maldições, usando água,
de manhã, isso é uma clara referência a Óxun (Ọ̀ṣun) como líder das ajé (Àjẹ́)
e vão ao encontro dessa mistura da figura de Óxun (Ọ̀ṣun) com a de Iyami
Osoronga.
Como por exemplo é mostrado no Odù Oxé Otuwa, não adianta nada contra o
poder de ajé (Àjẹ́), as coisas ocorrem errado e não de descobre o problema. A
solução não foi um contra-feitiço, Ifá permitiu que ele encontrasse a mulher
se solucionasse o problema da forma correta.
Toda mulher é uma bruxa e basta ela falar e desejar para amaldiçoar alguém.
Como eu sempre ouço e repito para muitas pessoas, o pior feitiço é o feitiço
da língua. Não tem trabalho no chão que supere as pragas ditas,
principalmente por mulheres. Manifesta-se aqui a ligação com Óxun (Ọ̀ṣun) e
com o poder de ajé (Àjẹ́) que toda mulher tem.
Ifá ensina a quem sabe aprender.

Ọ̀ṣun a esposa de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà)


Talvez uma mulher de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) que merece muito destaque é
Óxun (Ọ̀ṣun). Lembro a todos que a presença de orixá (Òrìṣà) nos versos de
Ifá é muito rara. Os versos são compostos por Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), exu e
um monte de pessoas comuns.
Mas existem alguns que são presentes. Óxun (Ọ̀ṣun) é um desses. Por um
longo tempo, ela foi casada com Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e, através dela, muitas
práticas que foram abençoados por Olódùmarè se tornaram
institucionalizadas. Existe no texto sobre éerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún),
grande referência a importância de Ọ̀ṣun e sua ligação com Ifá.
Foi Ọ̀ṣun que trouxe um programa de iniciação especial chamado “IFA
Elegan (Ifá Ẹlẹ́gán)”. Isto foi o resultado do fato de que Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà), seu marido, era uma pessoa que viajava frequentemente. Era
Óxun (Ọ̀ṣun), sua esposa que estaria em casa para tratar as pessoas e atender
às suas necessidades, tanto médica como espiritual.
Isso tem duas implicações decisivas, Óxun (Ọ̀ṣun) tinha que fazer alguma
coisa para salvar a vida das pessoas e, ao mesmo tempo, manter a
consistência de regra e retidão de procedimento que a casa de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) era conhecida.
Entre as pessoas que vieram ao seu encontro estavam os interessados em
serem iniciados para Ifá. Mas, desde que Óxun (Ọ̀ṣun) é uma mulher ela está
proibida de ver Odù . A entidade sagrada do oráculo de Ifá não pode ser vista,
exceto se a pessoa é um homem, se ele é iniciado e que lhe seja dado o
antídoto para reduzir o efeito da energia que “Ile Odù ” pode ter ao verter sua
energia em cima dele.
De acordo com o Bàbáláwo Ifayemi, uma pessoa que é iniciada sem ver Odù
será uma Ẹlẹ́gán. Este é o principal modo de iniciação para mulheres, mas
homens também sê-lo, dependendo do Odù que recebem. Se a pessoa vê Odù
então ela será Olodù.
Existe ainda um outro tipo de iniciação, chamada Agbàmátẹ̀, que são aqueles
que recebem os Ikin sem necessariamente adquirir conhecimento de Ifá.
Podem estar envolvidos em liturgias, mas não serão sacerdotes completos.
Ọ̀ṣun também seria lembrada pelos passos que ela tomou durante uma longa
ausência de seu marido para salvar as vidas de alguns vizinhos. Tornou-se
necessário para ela falar com o Ifá de seu marido sobre os problemas que as
pessoas tinham.
O verso de Ifá diz que Ọ̀ṣun levou quatro peças de búzios do Ifá de seu
marido, orou sobre elas e pediu as bênçãos do espírito de seu marido para
entrar nos búzios. Nesta época ela ainda não sabia como divinar usando os
Ikin.
Ela, então, usou os Ibo para perguntar qual era o problema, doença,
esterilidade ou aborrecimento que a pessoa trazia para ela. Um após o outro,
ela testaria todas as coisas que ela viu seu marido escolher para cada caso.
Uma vez que o Ibo e os búzios diziam “sim”, ela pediria a pessoa para trazer
os itens específicos, colocá-los todos em cima de Ifá de seu marido e dizer
para a pessoa ir embora. E assim eles ficavam curados. Então Ọ̀ṣun continuou
por muito tempo fazendo isso até o retorno de seu marido.
Quando Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) retornou ele via na sua sala muitas nozes de
kola, no quintal, viu cabras de diferentes tamanhos e sexos, as galinhas eram
incontáveis.
- “Quem possui tudo isso? ” Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) perguntou surpreso.
- “Eles são todos os presentes de Ifá que coletei usando estes búzios”.
Óxun (Ọ̀ṣun) respondeu o marido mostrando os búzios que ela estava usando.
Ela também contou os sucessos que ela tinha alcançado.
Na próxima vez que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) visitou Olódùmarè para dar
relatório do que estava acontecendo na Terra , ele narrou o que Ọ̀ṣun havia
i

conseguido usar os búzios e contou sobre todos os itens do presente que ela
obteve através de Ifá.
Olódùmarè disse para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) para dar a Óxun (Ọ̀ṣun) 16 Odù
semelhantes à adivinhação por Ifá.
- “Ela pode usar estes Odù e búzios para o tratamento de clientes que vieram
para ela, enquanto você estiver fora da cidade”.
Assim, a adivinhação com 16 búzios começou com Ọ̀ṣun, conforme está
descrito em versos similares de Wande abimbolá descritos na postagem sobre
o éérindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún). Esta história aqui é de Ayo Salami.
Notas:
É importante em Ifá a inteligência e perspicácia em entender a analisar os
versos e histórias. Além disso um conhecimento geral da religião e de mais
versos torna a compreensão muito maior.
Observem que esta história, narrada aqui, mas já transcrita anteriormente,
Fixa a relação de Ọ̀ṣun com Ifá e do oráculo dos búzios com Ifá. Além disso
abre a possibilidade de um tipo de iniciação especial, que permite a mulheres
se utilizarem de Ifá através de búzios.
Elas serão Elegan (Ẹlẹ́gán), não terão a capacidade ou formação de um
Bàbáláwo mas poderão exercer o seu papel. Esta aplicação é bem diferente da
atribuição comum dada a uma Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) que fica encarregada apenas
de limpeza e cozinha. Mas de nenhuma forma torna as mulheres equivalentes
aos homens no culto.
Uma interpretação mais ortodoxa poderia inclusive dizer que como Óxun
(Ọ̀ṣun) realizou as coisas através do Ifá de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), seu marido.
Esta função mais completa poderia estar reservado a esposas de Bàbáláwo,
que se utilizariam do Ifá do marido e não de mulheres independentes de
Bàbáláwo exercendo Ifá.
Dessa maneira Ifá reserva para a mulher uma posição relevante, mas
secundária, junto a seu marido o Bàbáláwo. Não existe em Ifá nenhum verso
onde a mulher sozinha atua em Ifá.

Óxun (Ọ̀ṣun) recebe o oráculo de Olódùmarè


A transcrição desse Odù está no artigo "The Bag of wisdom - osun and the
origin of ifá divination" de Wande Abimbola.
A cada 16 anos
Olódùmàrè usava chamar os adivinhos da terra para um
teste.
Para saber se eles estavam dizendo mentiras para os
habitantes da terra.
Ou se eles estavam dizendo a verdade
Este teste consistia em chamar Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e
outros olhadores da terra
Olódùmàrè diria o que ele ira ver neles.
Quando eles chegaram
Olódùmàrè pediu para eles consultarem o oráculo para
ele.
Quando Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) terminou a consulta
Olódùmàrè perguntou: Quem é o próximo?
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) disse que a próxima pessoa vinha a
ser sua companheira
O qual era uma mulher
Olódùmàrè então perguntou:
Ela também é uma advinha, uma olhadora?
O qual Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) respondeu, “Sim, isto é
verdade”
Olódùmàrè então pediu a ela para consultar o oráculo
para ele
Quando Oxun (Ọ̀ṣun) examinou Olódùmàrè,
ela viu tudo em sua mente
Mas ela não disse para ele tudo o que viu
Ela mencionou a essência
Mas ela não disse as raízes do problema assim como faz
Ifá
Olódùmàrè então perguntou a Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) o que
era aquilo?
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) então explicou a Olódùmàrè
como ele honrou Oxun (Ọ̀ṣun) com o owó ẹyọ
mẹ́rìndínlógún
Olódùmàrè disse, “Está tudo certo”
Ele disse que mesmo sabendo que ela não lhe contara tudo
o que sabia
Ele daria a sua autoridade para ela
Ele adicionou “De hoje para sempre,
até mesmo quando o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún
não disse tudo detalhadamente
Qualquer um que desacreditar dele
sofrerá as consequencias imediatamente
Isso não precisará esperar até o dia seguinte
Este é o motivo pelo qual as previsões do owó ẹyọ
mẹ́rìndínlógún ocorrem rapidamente
Esta foi a forma como o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún recebeu o
seu Àṣẹ diretamente de Olódùmàrè
NOTAS DO AUTOR
Esses versos mostram claramente que é Óxun (Ọ̀ṣun) a dona o oráculo de
búzios e que é inegável a relação entre o oráculo de búzios e o oráculo de ifá,
com como a sua máxima confiabilidade.
O oráculo de Óxun (Ọ̀ṣun) foi abençoado por Olódùmarè e o oráculo dos
búzios é ligado a Ifá e Órunmila (Ọ̀rúnmìlà). Desta maneira o oráculo de
búzios é Ifá visto a ligação de Óxun (Ọ̀ṣun) com Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) de
quem ela recebeu o oráculo. Este oráculo é baseado em Odù Méjì e por esta
razão Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) diz que Ifá têm mais detalhes, porque, através de
Ifá o Bàbáláwo acessa o significado de todos os 256 Odù e não somente dos
16 principais.
Apesar disso, uma consulta pode ser feita facilmente através dos 16 Odù
principais. Não existe prejuízo.

Óxun (Ọ̀ṣun) perde o saco da sabedoria para Órunmila


(Ọ̀rúnmìlà)
Um outro verso contido no Odù Okanransode, que foi transmitido pelo
Babalawo Ifátóògùn, famoso sacerdote de Ìlobùú, conta a história do saco da
sabedoria. Olódùmàrè jogou na terra o saco da sabedoria e pediu a todos os
orixa (Òrìṣà) que procurassem por ele. Ele garantiu que o orixa (Òrìṣà) que o
encontrasse seria o mais sábio de todos eles. Olódùmàrè mostrou como era o
saco para todos os orixa (Òrìṣà) para que eles reconhecessem quando o
vissem. Uma vez que Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e Oxun (Ọ̀ṣun) eram íntimos eles
decidiram procurar juntos.
Uma pessoa velha amarou um um fio de contas, mas ele se
abriu
Um sábio amarrou um fio de conta e el ficou frouxo
Somete uma pessoa que apoia suas costas em ikins
irá amarrar um fio de contas que irá durar
Ifa foi consuktado para Orunmila (Ọ̀rúnmìlà)
quando ele e Oxun (Ọ̀ṣun) foram procurar pela sabedoria
Foi Olódùmàrè que chamou as 401 divindades (da direita)
e as 201 divindades (da esquerda)
para se reunierem no Orun (Ọ̀run)
Quando elas chegaram lá
Ele disse que queria dar para elas profunda sabedoria e
poder
Ele disse que que qualquer um poderia ver isto
que ele iria dar para o Ori deles
E esta seria a pessoa mais sábida na terra
Ele disse que 19 dias a frente
Ele jogaria o saco da sabedoria na terra
Mas se isso seria na floresta
ou seria no campo
Ou seria no rio
ou seria em uma cidade
ou seria em uma estrada
Ele não diria onde extamente seria
Olódùmàrè mostrou então a todos o saco da sabedoria
Ele disse “É isso”
Olhem bem
E observem bem.
Quando eles chegaram de volta a terra
alguns deles iniciaram a fazer sacrificios
Alguns fizeram remédios
Alguns planejaram a sua propria estratégia
Todos disseram “Essa coisa, serei eu quem vai achar”
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e Oxun (Ọ̀ṣun) costumavam fazer
coisas juntos
Eles estavam sempre um na companhia do outro
Ambos adicionaram 2 búzios a 3
e foram consultar Ifá
Eles perguntaram aos babalawo para verificarem sobre
ambos
“A coisa que os orixa (Òrìṣà) estão procurando poderiam
ser ambos eles as pessoas que a encontrariam?”
Os babalawo pediram a Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e Oxun
(Ọ̀ṣun) que fizessem um sacrifício
Com os grandes alakas que eles estavam usando
Cada um deles deveria oferecer um cabrito
e um rato domético
Bem como 201 ọ̀kẹ́ cheios de búzios para cada um deles
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) disse a Oxun (Ọ̀ṣun) que eles
deveriam fazer o sacrifício
Mas Oxun (Ọ̀ṣun) disse m “por favor, deixe me descançar”
Vá fazer o sacrificio com o seu alaka
Qual a relação disso com o que estamos procurando?
Oxun (Ọ̀ṣun) se recusou a fazer o sacrifício
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) cujo outro nome era Àjànà,
pegou o seu alaka e ofereceu em sacrificio
Ele também usou um rato doméstico e dinheiro para o
sacrifício
Eles então procuraram pelo saco da sabedoria mas não
acharam
Todos os outros orixa (Òrìṣà) tmbém não encontraram
Eles procuraram em Ẹ̀gá ajá
Ele foram longe até Ẹ̀sà adìẹ
alguns foram ainda até Ìkọ Àwúṣẹ̀
alguns procurara também em Ìdòròmù Àwúṣẹ̀
Onde o dia vira noite
Mas ele não encontraram
Um dia um rato doméstico foi até o alaka que Oxun (Ọ̀ṣun)
usava
E fez um buraco no bolso
No dia seguinte eles se consideraram prontos
e procuraram o saco da sabedoria mais uma vez
Então Oxun (Ọ̀ṣun) o encontrou!
Ela exclamou “Han-in este é o saco da sabedoria!”
Ela colocou então no bolso do seu alaka
Ela então foi embora apressada
Como ela estava atravessando florestas mortas e subindo
por troncos
repentinamente o saco caiu do seu bolso
pelo buraco que o rato tinha feito
Oxun (Ọ̀ṣun) estava chamando Orunmila (Ọ̀rúnmìlà)
Dizendo “Orunmila (Ọ̀rúnmìlà), cujo outro nome é Àjànà
Venha rápidp, venha rápido
Eu vi o saco da sabedoria
Quando Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) estava indo ele viu o saco
da sabedoria no chão
Ele então colocou no bolso do seu próprio Alaka
Quando ele chegou em casa
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) disse: Oxun (Ọ̀ṣun) deixe-me ver o
saco
mas Oxun (Ọ̀ṣun) disse que ela jamais mostraria para um
homem
Mas se um homem precisasse ver
Ele teria que dar lhe 200 ratos
200 peixes
200 passaros
200 animais
e um monte de dinheiro
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) implorou por muito tempo para ver o
saco
mas ela não permitiu
Ele então retornou para a sua própria casa
Quando Oxun (Ọ̀ṣun) tentou pegar o saco no seu bolso
de maneira que ela o visse mais uma vez
Ela colocou a sua mão no bolso
e sua mão entrou dentro do buraco feito no fundo do bolso
Então Oxun (Ọ̀ṣun) foi encontrar Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) na
sua casa
Ela começou a implorar a ele
Ela começou a agradar Orunmila (Ọ̀rúnmìlà)
Assim foi então como Oxun (Ọ̀ṣun) foi para a casa de
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà)
para viver com ele como marido
De maneira que ele pudesse ensinar para ela um pouco de
sabedoria
Nos tempos antigos, quando uma pessoa se casava
Não era obrigatório para a esposa ir para a casa do
marido viver com ele
Assim foi como os casais passaram a viver juntos
Quando Oxun (Ọ̀ṣun) tirou o seu alaka
ela colocou àṣẹ na sua boca e disse
daquele dia em diante nenhuma mulher ia vestir um alaka
como os homens
Ela então jogou o seu alak no lixo
Depois de muitos pedidos de Oxun (Ọ̀ṣun)
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) pegou um pouco de sabedoria e deu
para ela
Este é o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún)
O qual Oxun (Ọ̀ṣun) faz uso
O saco de sabedoria é Odù Ifá,
os remédios e todas as demais profundas sabedorias do
povo Yoruba

NOTAS DO AUTOR
Vou destacar de forma bem objetiva o que o Odù Okanransode ensina:
Oxun (Ọ̀ṣun) foi a primeira a ter acesso à sabedoria de Ifá. Ela
encontrou o saco de sabedoria e olhou para ele, assim ela obteve
antes de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) a sabedoria de Ifá. Devido a sua
teimosia, falta de fé ou preguiça ela perdeu o saco para Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) que assim teve a posse dele por todo o tempo e a
sabedoria e poder que Olódùmarè prometeu. Mas não se pode
ignorar o acesso que Oxun (Ọ̀ṣun) teve a Ifá.
Óxun (Ọ̀ṣun) foi viver com Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e este lhe deu
mais sabedoria de Ifá.
Esse Odù nos dá também uma excelente explicação de porque
somente homens tem acesso pleno a sabedoria de Ifá. Óxun (Ọ̀ṣun)
se tivesse acesso teria omitido isso dos homens, Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) observando isso limitou o acesso de Oxun (Ọ̀ṣun) ao
conhecimento de Ifá. Essa interpretação deve ser estendida aos
homens em geral e as mulheres também, e não especificamente a
Óxun (Ọ̀ṣun) e Órunmila (Ọ̀rúnmìlà). Óxun (Ọ̀ṣun) é a essência
feminina e um Odù é uma metáfora. Assim isso explica o papel de
Bàbáláwo e de Apetebi.
Outra lição é o mal destino que teve a ambição ou ganância no uso
da sabedoria de Ifá. O desejo de Óxun (Ọ̀ṣun) era se enriquecer
com essa sabedoria. Isso foi penalizado, assim a sabedoria de Ifá
jamais deve ser usada para enriquecer ninguém.
Outro aspecto foi o preço a ser pago para se tornar sábio. Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) pagou o preço e se tornou sábio, Óxun (Ọ̀ṣun) não quis
pagar e não obteve êxito na sua busca. A sabedoria exige
sacrifícios de bens.
Apesar disso tudo é inegável o vínculo de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) com Óxun
(Ọ̀ṣun) ou seja de Óxun (Ọ̀ṣun) com Ifá. Mesmo depois desse episódio Óxun
(Ọ̀ṣun) e Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) ficaram mais próximos.
Unindo os versos de Okanransode com o de Ogbè-Ọ̀sá fica demonstrado e
clara e evidente ligação entre Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e o éérindinlogun
(ẹẹ́rìndínlógún).

Oxé otuwa – Óxun (Ọ̀ṣun) de vira contra os


orixá (Òrìṣà)
Os versos abaixo são uma parte do Odù Oxé otuwa onde é mostrado o que
Óxun (Ọ̀ṣun) fez contra os demais orixás (Òrìṣà) que a extavam desprezando
como uma igual.
… Orunmila diria a essa pessoa que
é a Orò que ela devia adorar.
E ela seria conduzida à floresta de Orò.
Eles seguiram essas práticas durante muito tempo. Enquanto realizavam
as diversas oferendas, eles não chamavam Oxun.
Cada vez que iam à floresta de Eégun,
ou à floresta de Orò,
ou à floresta de Ifá.
ou à floresta de ooxa,
a seu retorno, os animais que eles tinham abatido,
fossem cabras,
fossem carneiros,
fossem ovelhas,
fossem aves,
entregavam-nos a Oxun para que ela os cozinhasse.
Preveniram-na que quando ela acabasse de preparar os alimentos,
não devia comer nenhum pouco, porque deviam ser
levados aos Malè, la onde as oferendas são feitas.
Oxun começou a usar o poder das mães ancestrais —
- e a estender sobre tudo o que ela fazia
esse poder de ìyá-mi-àjé, que tornava tudo inútil.
Se se predissesse a alguém que ele ou ela não fosse morrer,
essa pessoa não deixava de morrer.
Se fosse proclamado que uma pessoa não sobreviveria,
a pessoa sobrevivia.
Se se previsse que uma pessoa daria a luz um filho,
a pessoa tornava-se esteril.
Um doente a quern se dissesse que ele ficaria curado
não seria jamais aliviado de sua doença.
Essas coisas ultrapassavam seu entendimento,
porque o poder de Olódúmarè jamais tinha falhado.
Tudo o que Olódúmarè lhes havia ensinado eles o aplicavam,
mas nada dava resultado.
Que era preciso fazer?
Quando se congregaram numa reunião,
Orunmila sugeriu que,
já que eles eram incapazes de compreender o que se estava passando
por seus próprios conhecimentos,
não havia outra solução senão consular Ifá novamente. Em
conseqüência, Orunmila trouxe seu instrumento adivinhatório,
depois consultou Ifá.
Contemplou longamente a figura do Odù que apareceu
e chamou esse Odù pelo nome de óxétua,
Ele o olhou em todos os sentidos.
A partir do resultado definitivo de sua leitura,
Orunmila transmitiu a resposta a todos os outros Odù-àgbà.
Estavam todos reunidos e concordaram que não havia outra solução
para todos eles,
os Orixá -irumale, senão encontrar um homem sábio e instruido que
pudesse ser enviado a Olódúmarè
para que mandasse a solução do problema
e o tipo de trabalho que devia ser feito para o restabelecimento da
ordem,
a fim de que as coisas voltassem a normalizar-se, e
nada mais interferisse em seu trabalho.
Diziam que tudo o que acontecesse,
Orunmila, deveria ir até a Olódúmarè.
Orunmila ergueu-se. Serviu-se de seu conhecimento para utilizar a
pimenta,
serviu-se de sua sabedoria para tomar nozes de obi,
despregou seu òdùn (tecido de rafia) e o prendeu no seu ombro,
puxou seu cajado do solo,
um forte redemoinho o levou, e
ele partiu até os vastos espaços do outro mundo para encontrar
Olódúmarè.
Foi la que Orunmila reencontrou Exu òdàrà.
Exu já estava com Olódúmarè.
Exu fazia sua narração a Olódúmarè. Explicava que
aquilo que estava estragando o trabalho deles na terra
era o fato de eles não terem convidado a pessoa que constitui a décima
sétima entre eles.
Por essa razão, ela estragava tudo.
Olódúmarè compreendeu.
Assim que Orunmila chegou, apresentou seus agravos a Olódúmarè.
Então Olódúmarè lhe disse que deveriam ir e
chamar a décima sétima pessoa entre eles
e leva-la a participar de todos os sacrifícios
a serem oferecidos.
Porque, além disso,
não havia nenhum outro conhecimento que Ele lhes pudesse ensinar
senão as coisas que Ele já lhes havia dito.
Quando Orunmila voltou a terra,
reuniu todos os Orixá
e lhes transmitiu o resultado de sua viagem.
Chamaram Óxun e lhe disseram que ela deveria segui-los
por todos os lugares onde deveriam oferecer sacrifícios,
mesmo na floresta de Eégún.
Óxun recusou-se:
ela jamais iria com eles.
Começaram a suplicar a Óxun e ficaram prostrados um longo tempo.
Todos começaram a homenageá-la e a reverenciá-la.
Óxun os maltratava e abusava deles.
Ela maltratava Orixá (òrìṣà nlá)
maltratava Ògún,
maltratava Orunmila
maltratava Osayin (Ọ̀sányìn),
maltratava Oranfe (Ọranfe),
ela continuava a maltratar todo mundo.
Era o sétimo dia, quando Óxun se apaziguou.
Então eles lhe disseram que viesse.
Ela replicou que jamais iria,
disse, entretanto, que era possível fazer uma outra coisa
já que todos estavam fartos dessa história.
Disse que se tratava da criança que levava no seu ventre. Somente se
eles soubessem como fazer para que ela desse a luz uma criança do
sexo masculino,
isso significaria que
ela permitiria então que ele a substituísse
e fosse com eles.
Se ela desse a luz uma criança do sexo feminino,
podiam estar certos de que essa questão
não se apagaria em sua mente.
Ficariam ai pedaços, pedaços e pedaços.
E eles deveriam saber com certeza que
esta terra pereceria;
deveriam criar uma nova.
Mas se ela desse a luz um filho-homem,
isso queria dizer que, evidentemente, o próprio Olódúmarè os tinha
ajudado.
Assim apelou-se para Orixá lá e para todos os outros Orixá para saber o
que deveriam fazer para que a criança fosse do sexo masculino.
Disseram que não havia outra solução
a não ser que todos utilizassem o poder — Axé (àṣẹ) —
que Olódúmarè tinha dado a cada um deles; cada dia repetidamente
deveriam vir, para que a criança nascesse do sexo masculino.
Todos os dias iam colocar seu àṣẹ — seu poder —
sobre a cabeça de Óxun,
dizendo o que segue. "Você Óxun!
Homem ele devera nascer, a criança que você traz em si!"
Todos respondiam "assim seja", dizendo
“tó!” acima de sua cabeça...
Assim fizeram todos os dias, até que chegou
o dia do parto de Óxun….
NOTAS DO AUTOR
Apesar de todo o poder dos orixá (Òrìṣà), juntos, bastou Óxun (Ọ̀ṣun) tomar a
decisão de prejudicá-los para que nada mais desse certo. Mais uma vez fica
evidente o enorme poder que existe na mão de Óxun (Ọ̀ṣun) e das mulheres.
Eu vejo Óxun (Ọ̀ṣun) como o poder feminino fundamental, o poder que
equilibra o mundo.
Se alguém não ouviu isso, entenda que, a palavra que define essa religião é
EQUILÍBRIO. Apesar da posição da mulher ser secundária em Ifá, ela é
justamente a origem do poder máximo sobre a terra, isso ficará claro quando
eu apresentar os versos de Odù a esposa mítica de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Contudo aprendam com Ifá, percebam o grande poder feminino e sua
superioridade sobre tudo o que se faz. No cosmo yorùbá o poder feminino se
equilibra com o poder masculino.
As pessoas que não sabem, aprendam que na sociedade yorùbá é a mulher
que trabalha no mercado, no comércio. A mulher trabalha para se sustentar e
o local dela é o mercado, o mercado é um local dela.
A razão disso é simples, os homens cuidam da produção. Mulheres na
sociedade yorùbá não fazem trabalhos braçais, são os homens que o fazem,
assim em uma sociedade rural, o homem trabalha no campo e na produção de
coisas e é a mulher que trabalha no comércio.

Comentário sobre esses versos


Os versos que escolhi por serem muito representativos mostram 2 aspectos
bem distintos. O primeiro que sem dúvida Ifá vê a mulher com grande poder,
isso é normal visto que nos capítulos de Osa Meji e Ofun Meji, essa condição
é bem caracterizada, mas se atentem que, seguindo o que está em Osa Meji é
um poder a ser temido. Nos versos seguintes vocês vão entender isso.
Assim a visão do poder feminino causa temor ao Babalawo.
O segundo aspecto é que nos versos de Ifá a mulher é muito objetivada. Ela é
que trai o marido. Ela mente, engana é invejosa e gananciosa. A questão de
ser um objeto o ser conquistado ou usado é muito comum, talvez sejam
poucos os casos onde a mulher seja um exemplo de caráter e atitude.
Estou chamando a atenção sobre isso porque no fim essa é a visão que o
Babalawo cria sobre a mulher, principalmente os africanos. Não é
necessariamente culpa deles e sim da sociedade onde eles vivem. Alguns vão
dizer que essa visão é um absurdo que eles não são assim, etc, blablabla. Não
tenho nenhum interesse em estudar a sociedade Yoruba ou nigeriana, mas, o
pouco que sei vai ao encontro dessa visão de Ifá.Vejam os filmes de
Nolywood.
Versos que definem o poder
feminino em ifá
O poder do Bàbáláwo em Ifá depende do poder feminino. Isso é parte o
equilíbrio fundamental de Ifá. O sacerdote de Ifá será sempre masculino,
mas, o poder que recebe de Olódùmarè é baseado no poder feminino.
Conforme veremos claramente documentado em versos a seguir, o poder de
axé (àṣẹ) do Bàbáláwo, representado pelo Igbadu é na verdade a
representação espiritual de um útero feminino, que o Bàbáláwo recebe. A
razão disso é que Odù a esposa mítica recebeu o útero de Olódùmarè como o
seu poder, seja para gerar filhos como para transportar o axé (àṣẹ).
O útero é o único caminho entre o órun (Ọ̀run) e o Àiyé e é por onde o axé
(àṣẹ) transita. Leiam com atenção os versos a seguir e no final vou encerrar
com análises e comentários. Os versos a seguir são longos, mas, são
necessário, são versos de Odù e permitem entender o segredo da relação do
poder feminino com Ifá.

Odù recebe o poder do axé (àṣẹ) de


Olódùmarè
Osá (Ọ̀sá) Méjì é rico.
Potente grito.
Barulho de sino (ajija) chega ao além.
Ifá é consultado para Odù,
no dia em que ela vem do órun (Ọ̀run) para o Àiyé
Ifá é consultado para Òbàrisà,
no dia em que ele vem do órun (Ọ̀run) para o Àiyé
Ifá é consultado para Ògún,
no dia em que ele vem do órun (Ọ̀run) para o Àiyé
Estes três chegam.
Entres eles somente Odù é mulher.
Odù diz, tu Olódùmarè.
Ela diz, assim vão eles no Àiyé.
Ela diz, quando chegarem lá, como ficará?
Olódùmarè diz, eles irão para o Àiyé, bom será o Àiyé.
Ele diz, tudo o que eles quiserem fazer então, ele diz, ele lhes
dará o poder, então tudo ficará bem.
Ogún caminha na dianteira.
Quando Ogún caminha na frente deles, Òbàrisà segue. Quando
Òbàrisà segue, Odù vem após.
Quando Odù vem após, ela volta atrás.
Ela diz, tu Olórun
Ela diz, o Àiyé para onde eles assim vão.
Ela diz, Ògún,
ela diz, tem o poder dos combates, ela diz, ele tem o sabre, ele
tem o fuzil,
ela diz, ele tem todas as coisas para fazer a guerra.
Ela diz, Òbàrisà, ela diz, ele também tem o poder.
Ela diz, com o poder que ele tem, ela faz tudo o que quiser.
Ela diz, é mulher entre eles, ela é Odú.
Ela diz, que poder é o seu?
Olódùmarè diz, qual é teu poder?
Ele diz, tu serás chamada, para sempre, mãe deles.
Ele diz, porque quando todos os três partistes, ele diz, tu a única
mulher retomaste.
Ela diz, a ti, esta mulher, é dado o poder, que faz dela mãe deles.
Ele diz, tu, tu susterás a terra.
Olódùmarè lhe confere este poder.
Ao Ihe conferir o poder, ele lhe confere o poder do pássaro, ele
lhe dá o poder de eleye (ẹlẹyẹ) (proprietária do pássaro).
Quando ele lhe deu o poder de eleye (ẹlẹyẹ) , Olódùmarè diz, está
bem. Ela diz, esta cabaça de eleye (ẹlẹyẹ) que ele lhe deu, ele diz,
conhecerá ela seu emprego no Àiyé?
Ele diz, que ela conheça seu emprego no Àiyé.
Odu diz, ela o conhecerá.
Ela recebe o pássaro de Olódùmarè.
Então ela recebe o poder que ela utilizará com ele.
Ela parte.
Ela está na iminência de partir.
Olódùmarè a chama para que ele volte novamente.
Ele diz, está bem.
Ele diz, retorna.
Ele diz, tu Odú, ele diz, retorna.
Ele diz, quando ela chegar à terra, ele diz, como irás utilizar teus
pássaros, e as forças que ele lhes deu?
Ele diz, como irá ela utilizá-los?
Odú diz, todos aqueles que não lhe tiverem dado ouvidos, ela diz,
ela os combaterá com os pássaros.
Ela diz, aqueles que não vieram pedir-lhe uma indicação,
(aqueles) que assim fizeram,
que não ouvirem tudo aquilo que ela disser,
ela diz, ela os combaterá.
Ela diz, aquele que dela se aproximar para pedir ter dinheiro, ela
diz, ela lhe dará.
Ela diz, aquela que pedir-lhe para gerar
ela diz, ela o concederá.
Ela diz, se tivesse dado dinheiro a alguém,
se, em seguida, ele se mostrasse impertinente para com ela,
ela diz que o tomaria de volta.
Ela diz, se tivesse dado um filho a uma pessoa,
se, em seguida, ela se mostrasse impertinente para com ela,
ela diz que o tomaria de volta.
Ela diz, tudo aquilo que ela fizer por alguém,
se, em seguida, ele se mostrasse impertinente para com ela,
ela diz que ela o tomaria de volta.
Olódùmarè diz, está bem.
Ele diz, nada mau.
Ele diz, utiliza com calma o poder que te conferi.
Se ela o utilizasse com violência, ele o tomaria de volta, e de
todos os homens que te seguirão, faço de ti a mãe deles.
Toda coisa que agradar-lhes fazer, é coisa que deverão anunciar
a ti, Odú.
A partir de então Olódùmarè conferiu o poder à mulher, porque
aquele que então recebeu o poder se chamava Odù.
Ele dá às mulheres o poder de dizer tudo aquilo que lhes agradar.
Sozinho o homem nada poderá fazer na ausência da mulher.
Odù chega ao Àiyé.
Quando chegam juntos à terra,
em todas as florestas que vêem, que eles chamam a floresta de
Eégún,
a mulher entra nelas
Aquela que eles chamam a floresta de Orò, a mulher entra nela.
Naquele tempo não havia proibição alguma
para que a mulher não ousasse entrar em floresta alguma.
ou para que uma mulher não ousasse entrar em nenhum pátio dos
fundos.
Se eles querem adorar Eégún, se querem adorar Orò, se querem
adorar todos os òrisà, a mulher os adora naquele tempo.
Quando assim realizam o culto,
Ah! a antiga (àgbà) exagerou, ela caiu em desgraça.
Ifá é consultado para Odù, quando Odü chega à terra.
Ei! dizem eles, tu Odu, eles dizem, ela deve agir com calma, que
ela tenha paciência, que não seja imprudente.
Odù diz, por quê?
Eles dizem, por causa do poder que Olódùmarè te deu, eles
dizem, para que as pessoas não saibam a razão disso.
Odù diz (Ora essa!)
Ela diz, não é nada disso.
Ela diz, eles não são capazes de conhecer o motivo.
Ela diz, somente ela foi junto de Olódùmarè.
Receber o poder não foi na presença dos outros que chegaram à
terra com ela, não foi de modo algum na presença deles.
Quando assim falaram a Odù
disseram-lhe que ela faça oferendas
Odu diz, de modo algum!
Ela diz, ela não fará oferendas.
A oferenda para que a mulher receba o poderio junto a
Olódùmarè, ela a fez. Mas ela não deve rejubilar-se
exageradamente.
Ela é capaz de utilizar essas coisas durante muito tempo.
As pessoas não podem estragar aquilo que ela tem nas mãos.
As pessoas não podem conhecer os motivos de sua força.
Ela não fará oferendas.
Ela parte.
Ela põe para fora (a roupa de) Eégún.
Ela faz Orò sair para fora.
Todas as coisas, não existem coisas que ela não faça, naquele
tempo.
Òbàrisà vem, ele diz, hein!
Ele é aquele a quem Olódùmarè confiou a terra.
Esta mulher enérgica quer tomar a terra, e o pátio dos fundos
(lugar do culto) de Eégún, e o pátio dos fundos de Orò, e o pátio
dos fundos de todos os òrisà.
(Ele) não ousa entrar em nenhum deles.
Ah! esta mulher vem tomar a terra.
Òbàrisà vai consultar (um) babaláwo.
O babaláwo a quem ela vai consultar,
E Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) quem é consultado por ele naquele dia,
E exatamente Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) que ele vai consultar.
Ele diz que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) examine, que diz o oráculo?
Eis a mensagem enviada por Olódumarè:
Sustentará ele o mundo em suas mãos?
Ele transmite a mensagem com sucesso.
Ninguém pode tomar o mundo em suas mãos.
O mundo não será estragado.
Como será ele capaz de ser vitorioso?
Ele consulta Ifá.

Eles dizem que Òrisà deve fazer oferendas.


Eles dizem que então ele deve ser paciente.
Naquele tempo Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) escolhe a oferenda de
caracóis.
Ele escolhe um chicote.
Ele escolhe 8 shillings.
Òrisà faz a oferenda.
Quando Òrisà fez a oferenda.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) consulta para Òrisà.
Ele diz, esta terra se tornará sua, ele diz, mas ele deve ter
paciência.
Ele diz, se ele tiver paciência,
ele diz, a adoração se tornará sua.
Ele diz, aquela que enfeixa o poder da mulher, ele diz, ela vai
exagerar.
Quando ela tiver exagerado,
ele diz, ela se tomará tua serva, Òrisà,
ela virá submeter-se a ti.
Òrisà compreende, ele terá paciência.
Todos os hábitos, os bons, os maus,
que Odú mostra na terra,
com o poder que Olódúmarè lhe conferiu.
Se ela diz a alguém para não olhar seu rosto, se ele olha o rosto,
ela o deixa cego.
Se ela diz que o olhar de alguém na pessoa dela é mau,
se ela diz que essa pessoa tenha dor de cabeça, ela terá dor de
cabeça,
se ela diz que essa pessoa tenha dor de barriga, ela terá dor de
barriga.
Todas as coisas que Odú diz, naquele tempo, se realizam.
Quando chegou o tempo, Odú diz, tu Òrisà, ela diz, quando eles
chegaram juntos à terra, ela diz, que ela e ele vão a um único
lugar.
Ela diz, se estivermos em um único lugar, ela diz, tudo aquilo que
ela quisesse fazer, ela diz, ela teria a oportunidade de deixar-te,
Òrisà, ver tudo aquilo que ele fará.
Ela diz, porque com ele, e Ògún, caíram juntos do céu.
Ela diz, mas eles escolheram Ògún para ser guerreiro.
Aquele que queria fazer-lhes a guerra,
Ògún triunfará sobre ele.
Odú com Òrisà devem morar em um único lugar.
Ao lugar para onde vêm juntos, eles moram em um único local.
'O caracol que Òrisà ofereceu,
Òrisà o pega, adora sua cabeça com ele.
Òrisà adora sua cabeça com o caracol no lugar onde ele mora.
Quando Òrisà terminou a adoração, então bebe a água (contida
na concha) do caracol. Quando ele bebeu a água da (concha) do
caracol.
Ele diz, tu Odú, também queres beber?
Diz Odú, não tem importância.
Odú recebe a água de caracol para beber.
Quando Odú bebeu a água de caracol, o ventre (o humor) de Odú
se acalma.
No lugar onde seu humor se acalma, ela diz, ah! ela diz, tu Òrisà,
ela diz, ela conhece através dele uma coisa deliciosa de se comer.
Ela diz, a água do caracol é doce, o caracol também é doce?
Quando terminou de comer, ela diz, isto é bom.
Nunca lhe deram coisa tão boa de se comer quanto o caracol.
Ela diz, o caracol é o que se deve dar a ele para comer.
Ela diz, exatamente o caracol que tu, Òrisà, comes, ela diz,
devemos dar a ele.
Estes versos são muito importantes e fazem parte do corpo literário de Ifá no
Odù osá (Ọ̀sá) Méjì. A mensagem que está nesse Odù é bastante similar a que
está em outro Odù, já citado aqui, oxé (Ọ̀ṣẹ́) Òtúwá. Isso ocorre muito em Ifá,
Odù diferente com mensagens similares ou a mesma mensagem em mais de
um Odù. A repetição é importante devido a combinação com outras
mensagens no mesmo contexto.
No caso do oxé (Ọ̀ṣẹ́) Òtúwá existe a referência ao Orixá (Òrìṣà) Óxun
(Ọ̀ṣun) e aqui ao inrumolé (Irúnmọlẹ̀) Odù. Isso também é comum na
teologia, não devemos nos fixar em nomes e sim nos contextos e na ampla
mensagem. As referências a Orixá (Òrìṣà) são importantes porque elas
sempre estão ligadas a nós, sempre que tratamos de uma relação entre as
forças do divino e as pessoas os Orixá (Òrìṣà) representam deus, Olódùmarè.
Em mensagens estruturais, de contexto teológico mais amplo a presença de
outros inrumolé (Irúnmọlẹ̀) que não são Orixá (Òrìṣà) é mais comum.
Seja em oxé (Ọ̀ṣẹ́) Òtúwá como em osá (Ọ̀sá) Méjì o significado é o mesmo
para o poder feminino. Aqui em osá (Ọ̀sá) como é um verso Méjì, o contexto
é o poder feminino de uma forma mais ampla.
O verso então descreve que Odù era a única mulher entre os quatro que
criaram o mundo (mais uma versão da criação) e que ela, vai a Olódùmarè
para pedir o seu poder. Olódùmarè lhe dá o poder máximo de ter o axé (àṣẹ) e
de ser a mãe da humanidade.
Olódùmarè lhe confere este poder.
Ao Ihe conferir o poder, ele lhe confere o poder do pássaro, ele lhe dá o poder de eleye
(ẹlẹyẹ) (proprietária do pássaro).
Quando ele lhe deu o poder de eleye (ẹlẹyẹ) , Olódùmarè diz, está bem. Ela diz, esta
cabaça de eleye (ẹlẹyẹ) que ele lhe deu, ele diz, conhecerá ela seu emprego no Àiyé?
Mas quando ela está prestes a partir Olódùmarè questiona como ela usará o
seu poder:
Ela está na iminência de partir.
Olódùmarè a chama para que ele volte novamente.
Ele diz, está bem.
Ele diz, retorna.
Ele diz, tu Odú, ele diz, retorna.
Ele diz, quando ela chegar à terra, ele diz, como irás utilizar teus pássaros, e as forças
que ele lhes deu?
Ele diz, como irá ela utilizá-los?
Odú diz, todos aqueles que não lhe tiverem dado ouvidos, ela diz, ela os combaterá com
os pássaros.
Ela diz, aqueles que não vieram pedir-lhe uma indicação,
(aqueles) que assim fizeram,
que não ouvirem tudo aquilo que ela disser,
ela diz, ela os combaterá.
Ela diz, aquele que dela se aproximar para pedir ter dinheiro, ela diz, ela lhe dará.
Ela diz, aquela que pedir-lhe para gerar
ela diz, ela o concederá.
Ela diz, se tivesse dado dinheiro a alguém,
se, em seguida, ele se mostrasse impertinente para com ela,
ela diz que o tomaria de volta.
Ela diz, se tivesse dado um filho a uma pessoa,
se, em seguida, ela se mostrasse impertinente para com ela,
ela diz que o tomaria de volta.
Ela diz, tudo aquilo que ela fizer por alguém,
se, em seguida, ele se mostrasse impertinente para com ela,
ela diz que ela o tomaria de volta.
Olódùmarè diz, está bem.
Ele diz, nada mau.
Ele diz, utiliza com calma o poder que te conferi.
Se ela o utilizasse com violência, ele o tomaria de volta, e de todos os homens que te
seguirão, faço de ti a mãe deles.
Observem que Odù antecipa a forma como vai proceder e Olódùmarè
concorda com suas ações. Odù estabelece uma atitude punitiva para com as
pessoas e Olódùmarè, deus, não se opõe ou incomoda. O que isso significa?
Que deus é mau? Que não quer nos proteger da ira de Odù?
Não isso é uma indicação teológica importante, trata-se do componente do
chamado mal teológico e do equilíbrio que faz parte desta religião. Se você
não entende ainda o conceito de equilíbrio, aprenda. Essa religião diz que o
equilíbrio é a força fundamental que nos rodeia. O axé (àṣẹ) é um
componente de 2 lados, bom e maus, quente e frio, etc.. tudo aqui se
equilibra. Isso é explicado no corpo literário de Ifá do Odù Odi Méjì.
Desta maneira, Olódùmarè deu a Odù o poder de ajudar as pessoas e ela
declara isso, pode dar prosperidade, fartura, filhos, etc.. Mas se as pessoas
não forem corretas e respeitosas ela também poderá tirar deles o que ela deu.
Poder de dar tem o equilíbrio do poder que tira. O mal teológico, o mal que
vem de divindades e não dos humanos é o que traz equilíbrio a balança da
vida. Se você ganha deve retribuir e ser generoso, deve ser principalmente
agradecido. É isso que está em Ifá.
O mal teológico é a ação que traz equilíbrio a esta equação de vida. Odù
recebe o pássaro, representante de ajé (Àjẹ́) e desta maneira é ajé (Àjẹ́) o
elemento de controle do mal teológico, comumente chamado nas religiões de
o diabo.
Mas Olódùmarè estabelece uma condição importante para Odù, ela poderia
exercer o seu poder de dar e tirar como quisesse, mas jamais poderia ser
violenta, senão o perderia. Isso caracteriza definitivamente o mal teológico,
que é feito como elemento de equilíbrio, diferente do mal humano que é feito
através da emoção.

Odù A mítica esposa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)


A história a seguir compilada a partir de versos é uma das mais importantes
para Ifá, como vou explicar no final. Eu não transcrevi os versos originais,
farei um resumo dos versos na forma de uma história continua, fica mais fácil
de entender, mas, ler os versos é obrigatório para o Bàbáláwo, porque as
informações estão neles. Essa é a versão de Verger.
Que tu pises no mato.
Que eu pise no mato.
Que pisemos juntos no mato.
Ifá é consultado para Odù.
Eles dizem Odù veio do além para a terra.
Quando ela chegou à terra,
eles dizem, tu Odù, esta é tua partida.
Olódùmarè lhe dá um pássaro.
Ela pega esse pássaro para ir à terra.
Aragamago é o nome que Olódùmarè dá a esse pássaro.
Aragamago é o nome que tem esse pássaro de Odù.
Ele diz, tu Odù,
ele diz, toda tarefa para a qual ela o enviaria, ele a cumpriria.
Ele diz, ao lugar onde agradasse a ela enviá-lo, ele iria.
Ele diz, se fosse para fazer o mal,
ele diz, se fosse para fazer o bem,
ele diz, todas as coisas que ela gostasse de dizer a ele para fazer, ele
faria. Odù leva esse pássaro para a terra.
Odù disse que ninguém a poderia olhar.
Ela diz que não a olhem,
se um inimigo de Odù a olhasse,
ela lhe romperia os olhos (ela o cegaria)
com o poder desse pássaro ela lhe romperia os olhos.
Se um outro inimigo seu quisesse espiar o que contém a cabaça desse
pássaro, esse pássaro Aragamago lhe romperia os olhos.
E assim que ela utiliza esse pássaro.
Ela o utiliza até chegar à casa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) vai consultar seus Bàbáláwo.
Vai consultar: “Se ensinarmos a inteligência a alguém, sua inteligência
será inteligente”.
“Se ensinarmos a estupidez a alguém, sua estupidez será estúpida”.
Os Bàbáláwo da casa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) consultam ifá para
saber o dia em que ele
tomará Odù como sua mulher. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) é assim, tomará
Odù como sua mulher.
Os Bàbáláwo de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) dizem ei!
Eles dizem, Odù que tu queres tomar como mulher, eles dizem, um
poder está em suas mãos.
Eles dizem, (para) esse poder Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) fará uma oferenda
ao chão, por causa de toda a sua gente.
Eles dizem (para que) com seu poder ela não mate e coma, porque o
poder dessa mulher é maior do que o de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Eles dizem a Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) que faça rapidamente essa oferenda
sobre o chão.
Eles dizem as coisas que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) preparará sobre o chão.
Eles dizem que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) tenha um rato òkété.
Dizem que ele tenha um rato.
Dizem que ele tenha um peixe.
Dizem que ele tenha um caracol.
Dizem que ele tenha azeite de dendê.
Dizem que ele tenha 8 shillings.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) faz a oferenda.
Quando Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) fez a oferenda, eles consultam ifá para
ele.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) leva (a oferenda) para fora.
Ao chegar Odù, ela encontra a oferenda na rua.
Ah! o que veio fazer esta oferenda no chão?
Ah! diz Exu (Èṣù), Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) fez essa oferenda ao chão,
porque quer desposar a ti, Odù.
Odù diz, nada mau.
Todos aqueles que Odù leva atrás dela são as coisas más.
Ela diz que todos eles comem.
Odù também abre no chão a cabaça de Aragamago, seu pássaro.
Ela diz que ele come.
Odù entra na casa.
Quando ela entrou na casa, Odù chama Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Ela diz, tu Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) Ela diz, ela chegou.
Ela diz, seus poderes são numerosos,
ela diz, mas ela não deixará que eles te combatam.
Ela diz, que ela não quer brigar contigo, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Ela diz, mesmo que alguém pedisse sua ajuda, lhe dissesse que te
combatesse,
ela diz, ela não te combaterá,
pois Odù diz, eles não farão Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) sofrer.
Porque se eles quisessem fazer Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) sofrer,
Odù com seu poder e o poder de seu pássaro combateria essas pessoas.
Quando Odù acabou de falar,
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) disse, nada mau.
Então eles vão chegar.
Quando chegou o momento, Odù diz, tu Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), ela diz,
aprende depressa minha proibição (de Odù).
Ela diz, ela quer dizer-lhe qual é sua proibição.
Ela diz, ela não quer que as outras mulheres dele, olhem o rosto dela.
Ela diz, que ele diga a todas as suas outras mulheres, ela diz, que não
olhem o rosto dela.
Aquela que olhasse seu rosto, veria sua batalha.
Ela diz, que ela não quer que ninguém olhe seu rosto.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) diz, nada mau.
Então ele chama todas as suas mulheres.
Ele as previne.
As mulheres de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) não olharão o rosto dela.
Odù diz a Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) que,
ela diz, ela vem contigo fazer com que seu fardo se torne benfazejo.
Ela diz, que ela consertará todas as coisas.
Ela diz, tudo aquilo que ele quisesse estragar, ela não consertará.
Ela diz, se ele conhece sua proibição,
ela diz, tudo aquilo que é seu completamente ficará bom.
Então aquele que as quisesse estragar, ela não deixará que nada seja
estragado.
Se Odù quiser estragar,
ela diz, ela não (o) deixará (agir),
então ele mesmo será estragado.
Ela diz, nenhuma àjé é capaz de estragar uma coisa de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà).
Ela diz que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) não brinca com ela.
Ela diz, todas as suas coisas, completamente, ficarão boas.
Ela diz que não brigará com Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Não brigará com sua gente.
Ela diz que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) sabe as tarefas que ele quer mandar
que ela faça.
Ela diz, se ele envia uma mensagem para fazer alguém sofrer, se ele
quiser enviá-la, ela entregará (a mensagem).
O poder de seu pássaro,
se alguém quisesse fazer Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) sofrer,
ainda que somente beliscá-lo, Odù brigaria
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) diz hein! tu Odù.
Ele sabe que tu és importante.
Ele sabe que tu és superior a todas as mulheres do mundo.
Jamais ele brincará contigo.
Todos os seus filhos que são Bàbáláwo, previne-os para que jamais
ousem brincar contigo, porque Odù é o poder dos Bàbáláwo.
Ele diz, se o Bàbáláwo possui ifá, ele diz, ele também tem Odù.
Ele diz, o poder que então Odù lhe dá diz que,
todas as mulheres que estão junto dele não ousem olhar o rosto dela.
A partir desse dia, todos os Bàbáláwo, sem faltar nenhum, não há quem
não tenha essa Odù.
Aquele que não tivesse essa Odù não poderia consultar ifá.
No dia em que ele tiver Odù,
nesse dia ele se tornará alguém, que Odù não abandona ao sofrimento.
Eu tenho uma outra versão com a continuação desta história contada pelo
Bàbáláwo Pópóólá.
Ọ̀rọ̀ mọ̀dímọ̀dí, também conhecido como Odù, era filha de Olówu
Ṣàkoorogbále. A partir do momento que sua mãe passou a levar
ela em seu ventre, ficou claro que Ọ̀rọ̀ mọ̀dímọ̀dí não era uma
pessoa normal.
Quando ela nasceu, os eventos que aconteceram em torno dela e
de todo o mundo confirmaram que ela não era um ser humano
comum. Durante a cerimônia Ìkọsẹ̀dáyé, o Awo que estavam lá
para realizar os ritos colocou ênfase no fato de que o bebê foi
especialmente dotado de qualidades únicas e de poderes do orun.
Ela não podia, e não deve ser casada com uma pessoa comum,
quando ela crescesse para a sua maturidade.
Eles a chamaram de Ọ̀rọ̀ mọ̀dímọ̀dí , também conhecida como
Odù.
Odù estava abaixo da média em beleza e aparência física. Ela era
muito ciumenta das outras mulheres. Numa fase de sua vida, Odù
só poderia ser encontrada no meio dos homens, como resultado
de seu ciúme por seus colegas mulheres.
Todos aqueles ao seu redor estavam convencidos de que Ọ̀rọ̀
mọ̀dímọ̀dí era dotada de poderes espirituais extremamente
elevados. Ela aplicou esses poderes para ajudar seu pai Olówu
Ṣàkoorogbále para ter sucesso e tornar-se grande na vida. Outros
homens que se aproximaram dela para serem ajudados foram
igualmente assistidos.
Quando ela estava amadurecida o suficiente para ir para o
mercado de casamentos, muitos homens, no entanto, a temiam.
Eles sabiam que não podiam suportar sua proeza espiritual. Foi
por isso que seu pai Olówu Ṣàkoorogbále se aproximou Ọ̀rúnmìlà
para ele se casar com ela, em conformidade com a orientação de
Ifá, durante sua Ìkọsẹ̀dáyé, que nenhum homem comum poderia
se casar com ela.
Ọ̀rúnmìlà consultou Ifá e Ifá lhe deu o sinal verde para se casar
com ela. Ifá no entanto advertiu que ele deve chamar esta mulher
e pedir-lhe para ela lhe dizer que ela gostava e o que não gostava
antes de ela entrar em sua casa.
Como resultado deste aviso de Ifá, Odù foi convidado pelo
Ọ̀rúnmìlà para uma discussão um-para-um. Ela pediu a
Ọ̀rúnmìlà para 1taca1ra-la na casa de seu pai em uma data
especificada. Quando se conheceram, ela prometeu a Ọ̀rúnmìlà
que ela iria assisti-lo ao sucesso e grandeza. Ela disse que
ninguém seria capaz de vencê-lo. Ela disse que nenhum dos seus
companheiros Irúnmole seriam tão grandes quanto ele. Ela disse
que adorava ser paparicada, adorada e respeitada por seu futuro
marido. Ela concluiu que ela não gostava de ser visto por outras
mulheres – como uma questão de fato, ela nunca iria tolerar ser
vista por qualquer mulher em terra. Ela colocou ênfase no fato de
que qualquer mulher que se atrevesse a vê-la, encontraria com
uma terrível consequência.
Quando ela disse isso, Ọ̀rúnmìlà disse-lhe que ele já estava
casado com muitas mulheres, em consequência disso, ele teria de
discutir isso com as suas outras mulheres antes que ele pudesse
dar-lhe qualquer resposta sobre seus gostos e desgostos. Ọ̀rọ̀
mọ̀dímọ̀dí concordou com ele. Outra data foi fixada para uma
nova rodada de discussão antes de Ọ̀rúnmìlà partir para sua
casa.
Em casa, Ọ̀rúnmìlà convocou todas as suas mulheres e explicou-
lhes o que tinha acabado de ser conversado entre ele e Odù.
Disse-lhes que Odù foi intransigente sobre o aspecto de que
nenhuma mulher deve vê-la. Pediu-lhes para dizer-lhe a sua
opinião verdadeira e consciente de que se elas sentiram que
poderiam acatar o pedido incomum de Odù, e se não, ele estaria
disposto a não de casar com ela.
Todas as mulheres disseram Ọ̀rúnmìlà que não havia nada de
espetacular com isso. Elas disseram que desde que a mulher não
estava preparada para vê-las ou ser visto por elas, elas também
não estavam prontos para vê-la. Elas pediram a Ọ̀rúnmìlà ir em
frente e casar com Ọ̀rọ̀ mọ̀dímọ̀dí.
Quando Ọ̀rúnmìlà e Odù se encontraram novamente, ele disse a
ela que não havia nenhum problema. Odù disse Orúnmlla voltar
para casa e confirmar isso muito bem. Três vezes chamou
Ọ̀rúnmìlà suas esposas para perguntar-lhes se elas estavam
certas de que elas seriam capazes de lidar com Ọ̀rọ̀ mọ̀dímọ̀dí e
três vezes todas elas disseram que não havia problema. Por este
motivo, o casamento foi contraído.
Quando Ọ̀rọ̀ mọ̀dímọ̀dí mudou para a casa Ọ̀rúnmìlà, a ela foi
dada uma sala no extremo da casa. Ela amava o arranjo e todas
as outras mulheres adoraram também. Durante seis meses, eles
viveram juntos sem problema.
Um dia, no entanto, uma das mulheres na casa de Ọ̀rúnmìlà
chamou as outras mulheres e disse lhes que era um grande insulto
para uma mulher, ter que se submeter a mais nova esposa desta
maneira, pedindo-lhes para não a verem e e estabelecendo para
elas, esposas mais antigas uma regra! Ela disse que ficou claro
que essa mulher estava usando um truque sobre elas para que ela
evitasse de participar das tarefas domésticas. Para adicionar
pimenta a ofensa ela lembrou que eram elas que cozinhavam para
ela, buscavam-lhe água, varriam a casa e lavavam a roupa para
ela!
Ela alegou Ọ̀rúnmìlà fora enganado ao aceitar as regras da
mulher. Ela acusou Ọ̀rúnmìlà de dançar as músicas para a
mulher mais jovem. Como poderia Ọ̀rúnmìlà permitir que essa
mulher mais nova ser capaz de ditar regras às pessoas mais
antigas da casa? A situação deve ser tratada e corrigida!
Algumas das outras esposas admitiram que houve uma melhoria
significativa em suas vidas no pouco período pouco que Odù
entrou na casa. Eles sentiam que tal benefício deveria ser
considerado antes de tomar qualquer decisão contra a mulher.
E daí? A outra mulher gritou. Foi isso o suficiente para ela ser a
única a dar ordens na casa? Ela deve ser colocada em seu devido
lugar! Ela declarou.
Uma delas sugeriu que elas deveriam enfrentar Ọ̀rúnmìlà e pedir-
lhe para encontrar solução para o problema. Três outras
mulheres disseram que Ọ̀rúnmìlà não podia fazer nada porque
sua cabeça estava permanentemente na axila da mulher. A
mulher, Odù era quem controlava Ọ̀rúnmìlà.
Se houvesse qualquer solução, ela deveria ser encontrada pelas
mulheres. E, foi assim que todos elas concluíram que todas elas
iriam conhecer a mulher, arrastando-a para fora do quarto dela e
fazê-la a participar nas tarefas domésticas. Se ela era temida pelo
seu marido, elas não tinham medo dela, todos elas assim
concluíram.
Uma vez que Ọ̀rọ̀ mọ̀dímọ̀dí estava vivendo na sala no extremo da
casa, o lugar estava sempre escuro. Eles passaram a olhar para
as luzes que acendiam para vê-la em seu quarto. Ela estava
vivendo na escuridão desde que havia chegado nessa casa. A
mais velha das esposas disse a todas as outras mulheres para
trazerem as suas lâmpadas de seus quartos. Elas fizeram. Ela
declarou que elas deveriam arrastar Ọ̀rọ̀ mọ̀dímọ̀dí fora naquele
mesmo dia para expor a sua face. Sim! Todos elas disseram em
coro, e elas partiram.
Elas invadiram seu quarto com as suas lâmpadas e concentraram
as lâmpadas em sua cara. O que elas viram foi indizível e
indescritível. Naquele mesmo instante, todas elas desabaram,
caíram mortas!
Quando Ọ̀rúnmìlà chegou em casa, ele sentiu algo terrível tinha
acontecido, ele não conseguiu encontrar nenhuma das suas
esposas. Ele chamou-as e não havia ninguém para responder. Ọ̀rọ̀
mọ̀dímọ̀dí não deixou seu quarto. Ọ̀rúnmìlà se moveu para dentro
só para encontrar os corpos das mulheres empilhados uns sobre
os outros na porta de Ọ̀rọ̀ mọ̀dímọ̀dí. Quando ele percebeu que
elas estavam todas mortas, a dor tomou conta dele. Ele gritou e
acusou Ọ̀rọ̀ mọ̀dímọ̀dí de introduzir agonia em sua casa, dizendo:
Oro, eu não entrei em aliança com você para a morte
Nem eu negociei para ter aflição
E eu não acordei com você que minha casa seria
incendiada
Quando Ọ̀rọ̀ mọ̀dímọ̀dí ouviu isso, ela simplesmente respondeu
assim:
É verdade que você não entrou em aliança comigo para a
morte
E que você não fez barganha para aflição
Mas você também não me disse que a luz seria levado a
olhar na minha cara!
Foi assim que Ọ̀rúnmìlà soube que as mulheres de sua família
foram as que trouxeram luzes para o quarto de Odu para olhar
para seu rosto em desafio. Isso foi o que a provocou para 1taca-
las.
As folhas de Ọ̀dundun são grossas ao toque
as folhas de Tẹ̀tẹ̀rẹ̀gùn são longos e grande na aparência
Se você olhar para Adẹ́tẹ̀. As folhas do Cactus
E olhar para as folhas Ọ̀dundun
Eles se parecem exatamente o mesmo
Estas foram declarações de Ifá para Ọ̀rúnmìlà
Quando ele foi se casar com Ọ̀rọ̀ mọ̀dímọ̀dí
A descendência de Olówu Ṣàkoorogbále
Ele foi aconselhado a oferecer ebo
Ọ̀rúnmìlà começou a cantar e sua música se tornou uma
canção de lamentação, ele disse:
Ọ̀rọ̀ mọ̀dímọ̀dí, eu não entrei em aliança com você para a
morte
Nem eu negociei para ter aflição
E eu não acordei com você que minha casa seria
incendiada
É verdade que você não entrou em aliança comigo para a
morte
E que você não fez barganha para aflição
Mas você também não me disse que a luz seria levado a
olhar na minha cara!
Ifá diz que não importa o que aconteça nenhuma mulher
deve ser autorizado a ver Odù ou possuir Odù. Foi Odù ela
mesma, uma mulher companheira, que decretara contra a
ser visto por qualquer mulher.
Outra versão para a mesma história, desta vez de Ibie:
Odù não era uma mulher bonita, mas era conhecida no mercado
por ser uma mulher dotada de grandes poderes e com eles
ajudava muito seu pai. Essa sua capacidade havia sido
identificada no seu nascimento.
Ela era de fato temida por todos em razão do sei grande poder.
Quando chegou a idade de se casar, seu pai sabendo que ela não
poderia ser desposada por uma pessoa comum, procurou
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e a ofereceu em casamento.
Quando ela e Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) se encontraram pessoalmente
para combinar isso ela disse para ele que faria tudo para ajudá-
lo mas que nunca aceitaria ser desrespeitada por ninguém. Ela
jamais seria superada por ninguém. Ela queria ser mimada e
adorada por seu futuro marido, mas, não queria contato com
nenhuma outra mulher e qualquer mulher que colocasse os olhos
nela sofreria uma consequência terrível.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) reuniu suas mulheres e falou das exigências
de Odù para morar com ele, dizendo que Odù não queria ser
vista por nenhuma mulher e que elas deveriam concordar com
isso. Caso não concordassem ele desistiria de se casar com Odù.
Elas disseram que não havia nenhum problema naquelas
exigências e que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) poderia sim se casar com
ela. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) perguntou 3 vezes para suas esposas se
eles concordavam com as exigências de Odù e que se eles não
concordassem ele desistiria de se casar com ela. Três vezes elas
disseram que sim.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) concordou então com as condições de Odù
e a levou para casa colocando-a em um quarto em uma parte da
casa reservada somente para ela. Odù gostou muito de seu local e
as demais mulheres também.
Contudo 6 meses depois de ela ter se mudado para a casa de
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) uma das esposas de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà),
que havia concordado com as condições, juntou as demais
mulheres e disse era um insulto para as demais mulheres que a
esposa mais nova de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) vivesse na casa sendo
cuidada por elas as mais antigas. Elas tinham que cozinhar para
ela, lavar as roupas dela, limpar a casa para ela e que ela não
participava em nada das obrigações da casa.
Algumas argumentaram que depois que Odù foi para a casa que
a condição delas no mercado havia melhorado e que elas
deveriam levar aquilo em consideração antes de fazer qualquer
coisa contra Odù.
Outras disseram que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) devia ser consultado,
mas, as que estavam contra Odù disseram que ele estava
dominado por ela. Elas então decidiram procurar ela diretamente
e dizer que ela deveria assumir as obrigações da casa como todas
elas.
Para isso pegaram lâmpadas e foram para a parte da casa onde
ela ficava. Elas entraram no quarto e quando a luz da lâmpada
iluminou o rosto de Odù e as mulheres viram elas todas caíram
mortas.
Quando Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) chegou ele viu os corpos das
esposas empilhados na porta do quarto de Odù.
NOTAS DO AUTOR:
Esse verso é importantíssimo, mostra que Odù recebeu o poder absoluto de
Olódùmarè e depois se “casa” com Órunmila (Ọ̀rúnmìlà). A mulher não tem
nenhum espaço no sacerdócio de Ifá e isso está definido aqui.
Mas, é da mulher que orunmilá recebe o axé (àṣẹ) de Olódùmarè, o poder
absoluto e o controle sobre ajé (Àjẹ́).
Mais uma vez eu destaco a questão do equilíbrio, o sacerdote de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) é homem, mas seu poder vem de Odù a mulher.
Essa história mostra mais uma vez a narrativa comum dada em Ifá as
mulheres. Elas mentem e são traiçoeiras. Esse comportamento, como o
mostradona história de Pópoólá é a forma mais comum como a mulher é
mostrada nos versos de Ifá. Observe que minha experiência com os versos
mostra padrões e determinados personagens sempre surgem para se
comportar da mesma maneira.
O Olofin (rei, chefe, líder) da aldeia sempre tem o mesmo comportamento e
os animais também, cada um deles representa uma personalidade. A mulher é
tratada da forma como eu destaquei nessas histórias.
Se por um lado ela é dotada de poder destrutivo através de sua inerente
característica de ser ajé (Àjẹ́) por outro seu comportamento sempre reflete,
mentira, traição e falsidade.
Igbadu
O texto a seguir retirado de verso de Odù mostra como é criado o Igbadu.
Aquele que ofende padece a morte do faltoso,
Olá, Òsé’yèkú.
Ifá é consultado para Odù
que diz que ela se sente como seu apèrè (espécie de grande caixa
cilíndrica). Eles dizem, tu Odù, que se senta com seu apèrè, eles dizem,
faz uma oferenda.
Ela diz, por que deverá fazer uma oferenda?
Eles dizem, por causa de teus filhos, tu farás uma oferenda.
Eles dizem a Odù que ofereça dez ovos de galinha.
Eles dizem que ela prepare dez caracóis.
Eles dizem que ela prepare dois mil (búzios) (5 shillings).
Odù faz a oferenda.
Quando Odù fez a oferenda,
Ifá é consultado para ela, Odù que se senta com seu apèrè.
Eles dizem, tu Odù,
eles dizem, ela ficará idosa, ela se tornará uma velha.
Eles dizem, será dito que sua cabeça ficará toda branca, que ela se
tornará muito velha.
Eles dizem que ela permanecerá no mundo, que ela não vai morrer
rapidamente, tu Odù.
Quando Odù não morre rapidamente,
Odù goza de boa saúde.
Quando o tempo passa, Odù torna-se muito idosa.
Eles devem pedir a palavra a Odù.
Até quando irá sua velhice.
Odù nada mais sabe.
Talvez ela tenha ouvido a palavra que eles disseram?
Talvez não tenha ouvido a palavra que eles disseram?
Quando chegou o tempo, Odù chama todos os seus filhos.
Ela diz, vós, filhos deles,
ela diz, a velhice chegou para ela.
Ela diz, se eles quiserem pedir-lhe (a palavra),
ela diz, procurará algo que a ajude, algo ao qual eles podem pedir a
palavra.
Odù parte.
Odù retorna,
ela vai convocar todos os seus companheiros para que compareçam
juntos.
Naquele tempo Odù está com a cabaça.
Todos os seus companheiros, em conjunto, pensam na palavra que a
cabaça virá dar. São quatro (conselheiros).
Aquele que comparece naquele dia é Ọ̀bàriṣà.
Após ter chamado Ọ̀bàriṣà, ela chama Babalúayé.
Após ter chamado Babaluáyé, ela chama também Ògún.
Quando acabou de chamar Ògún, ela chama também Odùdúà.
Odùdúà é então o quarto entre eles.
Odù diz que ela está sentada em seu apèrè.
Odù diz que ela tornou-se muito idosa.
Odù diz que deseja ir ao lugar aonde os velhos vão.
Ela diz, a coisa que ela lhes pede.
Ela diz, se alguém quiser partir, deverá falar com sua gente, dizer que
ela quer partir.
Eles dizem, ah!
Eles dizem a ela que não parta.
Eles dizem, o lugar de que falaram, esses quatro então olharam o mato,
assim viram a cabaça coberta de excrescências.
Quando viram a cabaça coberta de excrescências,
Ọ̀bàriṣà diz a Ògún para ir colher a cabaça.
Ògún então colhe a cabaça, colhe quatro delas.
Ọ̀bàriṣà diz a Ògún para cortá-las.
Ògún corta essas cabaças.
Ọ̀bàriṣà diz que ele dê uma delas a Odùdúà, que Ògún também dê uma
a Ṣòpọ̀ná.
Ògún diz que é a cabaça deles que ele corta.
Quando Ògún cortou as cabaças, corta as cabaças em quatro
caminhos.
Ògún diz que cortou.
Odù diz, juntos batamos em nossos peitos com nossas mãos (a união
faz a força).
Ela diz, ela quer que toda a sua gente,
que todos ponham a mão (aceitem) por ocasião de sua partida, que
todos ponham a mão (aceitem) na coisa decidida, que os filhos e os
filhos de seus filhos, que eles peçam a palavra que ela vai dizer.
Quando ela assim falou.
Ọ̀bàriṣà gosta de ẹfun (pó branco).
Obàlúayé gosta de osùn (pó vermelho).
Ògún gosta do carvão vegetal,
Odùdúà gosta da lama.
Ọ̀bàriṣà pega a cabaça de ẹfun.
Ele diz, a cabaça de ẹfun,
Ele diz, ele a leva para ela, Odù.
Ele diz que ela a ponha com seu apèrè.
Ele diz, se seus filhos lhe prestarem culto, que eles a invoquem, ele diz,
assim eles farão o culto da cabaça de ẹfun.
Ele diz, ele a leva para ela, Odù.
Ele diz, todas as coisas que eles pedirem a essa cabaça, ele diz, essa
cabaça as fará por eles,
Ele diz, ele, Ọ̀bàriṣà, não os combaterá
ele diz, porque ele e ela, Odù, são uma única coisa.
Ele diz Ọ̀bàriṣà (a) dá a Odù.
Obàlúayé pega o osùn,
no osùn com o qual ele esfrega seu corpo.
Ele o leva na cabaça.
Ele diz, tu esta cabaça,
ele diz, ela se toma sua cabaça (de Odù) hoje.
Ele diz todas as coisas que teus filhos te pedirem, eles as receberão
todas.
Se for dinheiro que eles pedirem, então ele o fará por eles.
Aos apelos que seus filhos fizerem, ela responderá no interior dessa
cabaça, pois ela tornou-se idosa.
Assim ele fala.
Odù aceita e isso se torna duas cabaças.
Ògún também traz a cabaça de carvão vegetal.
Ele traz a cabaça para Odù.
Ele diz, tu Odù,
ele diz, eis a cabaça de carvão vegetal.
Ele diz, todas as coisas com as quais eles farão o culto de sua cabaça,
ele diz, eles também adorarão esta cabaça que ele te dá.
Ele diz, seus filhos não morrerão na infância.
Ele diz, seus filhos não envelhecerão em meio ao sofrimento.
Odù aceita, isso se torna três cabaças.
Odùdúà também traz a cabaça de lama.
Ele a traz para ela.
Odùdúà diz que eles adorem essa cabaça de lama com o apèrè de Odù,
com as cabaças que os outros orixá (Òrìṣà) têm levado a Odù.
Odù aceita, isso se torna quatro cabaças.
Essas quatro (cabaças) são aquilo que todos adoram.
Eles dizem, os quatro cantos do mundo estão nas quatro cabaças.
Odù diz, se seus filhos adoram o apèrè que lhe pertence, assim adoram
também a ela.
Ela diz, as coisas que eles lhes dizem para fazer, ela as fará para o
bem. Ela diz, se eles adorarem a cabaça de ẹfun que é de Ọ̀bàriṣà, que
eles também a venham adorar lá, ela responderá.
Ela diz, se eles adorarem a cabaça de osùn, ela responderá.
Ela diz, se eles adorarem a cabaça de carvão, ela responderá.
Ela diz, se eles adorarem a cabaça de lama, ela responderá.
Ela diz, mas se agora eles trouxeram o apèrè,
ela diz, vós, todos os seus filhos, é ela que vós adorais,
que vós queirais vir adorá-la em um único corpo que ela pôs nesse
apèrè.
Desde essa época, com obi branco e obi vermelho
eles adoram Odù.
Se eles sabem que querem entrar em seu aposento,
que eles irão adorá-la,
eles recorrem à água da calma,
esfregam os olhos com ela.
A água da calma com a qual esfregam os olhos naquele dia, é de folha
òdúndún, folha tètè, folha rínrín, limo-da-costa, caracóis.
Eles o esmagam na água.
Quando alguém esfregou os olhos com ela, pode entrar na casa de
Odù., pode ir ver igbádú.
Eles chamam o apèrè de igbá Odù.
Eles chamam o apèrè de casa de Odù.
Ah! ireis abrir o apèrè igbádú, ireis olhar.
Odù pôs suas coisas lá antes de morrer.
Ela disse que seus filhos vêm adorá-la, no corpo da cabaça que ela pôs
no apèrè.
Eles vão adorar Odù. naquele lugar.
Desde esse dia, adoramos Odù. no interior do apèrè.
Se o Bàbáláwo quiser adorar Ifá, ele irá na floresta de Ifá,
se (anteriormente) ele não adorou Odù. no apèrè, ele nada fez,
Ifá não sabe que ele veio adorá-lo, não sabe que ele tornou-se seu filho.
Ele diz que todos os seus filhos que vieram à floresta de. Ifá, adoram
novamente Odù. sua mulher no apèrè.
Análise das informações dos versos
As histórias relatadas nesses três grupos de versos estão longe de cobrirem
todas as existentes, mas foram escolhidas por terem alguma relevância ao
entendimento ou por trazerem informações importantes.
O primeiro conjunto de histórias mostra a visão negativa de Ifá sobre as
mulheres. É a mulher que faz Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) sofrer, é a mulher que trai
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e que o humilha. Em diversos Odù, quando temos uma
atitude humana ruim e mesquinha será sempre a mulher que tomará.
Assim, a mulher como ser humano é retratada como sendo a portadora dos
defeitos humanos. Mesmo sendo esposa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), sempre
parte dela as piores atitudes.
O segundo conjunto de mitos eu destaquei devido a representarem uma
importante relação entre o poder feminino, ajé (Àjẹ́) e Ifá. Óxun (Ọ̀ṣun) é a
esposa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), sua Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) e é ela quem recebe
de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) o oráculo dos búzios e ao mesmo tempo é ela
considera a líder das ajé (Àjẹ́).
Essa figura de Óxun (Ọ̀ṣun) sendo o Orixá (Òrìṣà) do amor e ao mesmo
tempo a contextualização do mal teológico é bem a representação de Odù a
esposa mítica de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà). Óxun (Ọ̀ṣun) espelha muito bem essa
dualidade.
O último conjunto de versos mostra os versos envolvidos diretamente em
ligar o poder feminino com Ifá e são os mais importantes.

Ògbóni e Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) o equilíbrio da


relação masculino-feminino
Esta é a religião do equilíbrio e Ifá tem isso em suas entranhas. Eu não coloco
Ifá acima de nenhum outro culto, todos que leem o que eu escrevo sabem
disso, mas, a realidade é que a noção do equilíbrio e também de dualidade
esta contida em tudo que Ifá faz e, também, nos versos de Odù.
No Odù Òdí Méjì temos a história principal sobre o equilíbrio de Ifá, quando
Ifá explica porque se marca um ou dois traços quando se consulta com Ikin.
Esse detalhe que pode passar despercebido para muitos, na verdade, é a base
fundamental de Ifá, o equilíbrio e a dualidade. Isso é perene em tudo de Ifá.
Dessa maneira, Ifá é um culto masculino, mas todo o poder do Bàbáláwo
para interferir no mundo físico, no Àiyé vem da mulher, de Odù sua esposa
mítica.
Também são muito especiais as histórias onde Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) se
encontra com as ajé (Àjẹ́) e obtêm delas cooperação, mostrando sempre que
não ha forma de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), ou qualquer um, superar o poder de
ajé (Àjẹ́). A atuação masculina de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) se une ao poder
feminino, que foi dado a elas por Olódùmarè para atuar no mundo.
Para eu cobrir todo o fundamento teológico disso precisaria destacar mais um
Odù com a história de Òdí Méjì (que não vou relatar aqui, porque é bem
longo e não está ligado a figura feminina) e o mito que está em Ọ̀sá Méjì, o
qual narra o momento em que Olódùmarè dá para Odù a cabaça com o
pássaro com poder absoluto e depois ela se entende com Eégún e dá para ele
o seu poder através do pássaro que ficará empoleirado no seu ombro.
Vejam um trecho final do verso:
ela diz, grita, eis Eégún eis Eégún.
Ela diz, eles gritam por causa dele.
Ela diz, ele arrasta seu chicote no chão, ela diz, a honra cabe a ele.
Ela diz, a partir de hoje,
ela diz, ela concede Eégún ao homem.
Ela diz, por causa dela,
ela diz, mulher alguma nunca mais ousará entrar na roupa deEégún.
Ela diz, por causa de Òrisàlá, ela diz, ela dá Eégún ao homem.
Ela diz, mas se ele deve sair,
ela diz, ela tem o poder que ele utiliza.
O motivo se deve à amizade entre Eégún e eleye.
No lugar de onde vem Eégún, as eleye (também) vêm.
Todo o poder utilizado por Eégún é o poder de eleye.
Odú diz, mulher alguma jamais entrará na (roupa) de Eégún. mas ela
poderá dançar, ir ao encontro de Eégún,
Quer dizer que se Eégún sair,
ela dançará diante dele,
ela dançará na estrada, ao encontro de Eégún.
Ela diz, a mulher fará isto unicamente.
Ela diz, a mulher não ousará nunca mais entrar de novo no pátio dos
fundos. Ela diz, a partir de hoje é o homem que levará Eégún para
fora.
Ela diz, ninguém, nem os netos, nem os velhos poderão zombar da
mulher. Ela diz, a mulher tem mais poder sobre a terra.
Ela diz, além do mais, a mulher nos pôs no mundo.
Ela diz, todo mundo nasceu da mulher.
Ela diz, todas as coisas que as pessoas quiserem fazer, se não forem
ajudadas pelas mulheres, ela diz, não podem fazer.
(É por este) motivo que os homens nada podem fazer na terra, se não o
obtiverem das mãos das mulheres.
Eles cantam.
Por essa razão
Òbàrisà também canta.
Quando é o quinto (dia), eles fazem (a festa) da semana.
Ele diz que todos os cânticos que eles cantarão serão este aqui, vi ndos
do (odu de ifá) òsá méji.
Ele diz, eles saúdam as mulheres,
Ele diz, se eles saudarem as mulheres, a terra será tranquila.
Eles cantam assim:
“Dobrai o joelho, dobrai o joelho para as mulheres.
A mulher nos pôs no mundo, assim somos seres humanos.
A mulher é a inteligência da terra, dobrai o joelho para a mulher. A
mulher nos pôs no mundo, assim somos seres humanos”.

Creio que esse Odù é bastante o suficiente para colocar esse equilíbrio entre
forças no qual o poder de Olódùmarè dado a ajé (Àjẹ́) se encontra com o
poder do homem depositado em Eégún.
Eégún é a representação do homem, o poder do homem, visto que a mulher
não é também representada em Eégún. Lembro a todos que a figura de Eégún
e do culto de Eégún é para mostrar a todos nós que a vida é contínua, que a
alma não morre, que vivemos para sempre e podemos reencarnar. Esta é
umas das razões da religião ter Eégún, seja pelo sentido de valorizar o
vínculo familiar contínuo e perene como por demonstrar que vida e um ciclo
sem fim.
Somente Eégún pode conter o poder de ajé (Àjẹ́). Essa é uma informação que
poucos têm. Além disso, existe um velho dito popular que fala que somente
Olódùmarè pode salvar o homem de uma esposa vingativa. É a mulher que
prepara a comida, as oferendas e isso é o caminho para o orun (Ọ̀run). Esses
dois exemplos mostram como é grande e terrível a força da mulher.
É uma sociedade patriarcal e se engana quem acha que isso foi diferente,
mas, as mulheres são dotadas de capacidades especiais para quebrar esse
domínio. Acredito que isso ficou, também, claro nas histórias que mostrei.
O assunto mulher não está restrito a teologia e Ifá e para falar sobre ele é
preciso entender alguns conceitos importantes sobre a sociedade Yorùbá e
outras estruturas da religião. Eu acredito que a maior parte dos erros de
entendimento aqui no Brasil e na diáspora, são advindos de nós não
entendermos de forma ampla a sociedade original e seus valores e também as
outras estruturas religiosas que completam o todo.
O equilíbrio do poder masculino-feminino na sociedade fica evidente quando
analisamos a estrutura dos cultos de Ògbóni e Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́), que são
coisas muito locais deles.
Ẹdan é o símbolo máximo da sociedade Ògbóni e representa uma figura
masculina e uma feminina unidas por uma corrente. Essa união é a
simbologia dos Ògbóni.
Ilé (Ilẹ̀) a terra, deve trazer paz, felicidade, estabilidade social e
sobrevivência, é a terra que dá poder a Ògbóni mas também alimenta ajé
(Àjẹ́) que é a ira de Ilé (Ilẹ̀).
As sociedades Ògbóni e Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) estão unidas no seu aspecto social,
muito mais do que uma estrutura religiosa é uma estrutura da sociedade
yorùbá e por esta razão não foram transportadas pela diáspora. O seu
significado é a busca de equilíbrio e pacificação do espírito feminino
representado por Ilé (Ilẹ̀).
Mesmo nas sociedades masculinas de Eégún e Orò a mulher tem cargos.
Observe que Eégún é o culto festivo e alegre e Orò representa sempre o poder
sombrio de Eégún, Orò é a manifestação de Eégún no seu aspecto punitivo
para a sociedade. É Orò que executas as mulheres feiticeiras, ajé (Àjẹ́) que
usam seu poder para o malefício.
Ilé (Ilẹ̀), a grande mãe Ògbóni em seu aspecto sombrio, se transforma em
Ọ̀gẹ́rẹ́, a manifestação irascível e vitimizadora, que traz morte a seus filhos.
Esta é a visão ambivalente da sociedade frente a terra. Ela mostra o potencial
explosivo da relação homem-mulher em uma sociedade masculina e a
necessidade de exercer a diplomacia.
Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) surge da visão Ògbóni de omón iya (Ọmọ ìyá), os filhos da
mesma mãe e tem o objetivo de sensibilizar a mãe natureza Ìyá Nlá aos
problemas dos filhos e da sua responsabilidade maternal.
O objetivo é fazer os membros da comunidade a amarem e interagirem um
com o outro como filhos da mesma mãe. A manifestação de Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́)
através do seu festival é feita para pedir saúde, vida-longa, prosperidade,
muitos filhos, evitar doenças, mortalidade infantil e evitar desastres. O
objetivo do culto que pode ser através de um grande festival ou de eventos
menores e até mesmo para apenas uma família, tem a finalidade de promover
a paz e o bem estar social. Pessoas de todos os cultos de orixá (Òrìṣà)
participam.
Os cultos de Ògbóni e Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) são assim mais uma manifestação do
equilíbrio dos poderes masculino e feminino.
Ninguém entende aqui o que é ajé (Àjẹ́) porque para entende ajé (Àjẹ́) tem
que se compreender uma dimensão muito maior de sua atuação. Não se trata
apenas de feiticeiras e sim do poder feminino no equilíbrio do mundo.
A feitiçaria em sí, o malefício é combatido pela sociedade.
Os Ògbónii são dedicados a Ìyá Nlá como Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́), o culto está nesse
respeito e, principalmente no temor a Ìyá Nlá. Mas o Ògbóni tem outros
objetivos na sociedade, orientados ao ordenamento e punição, controle do
comportamento social, isso, não existe na sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́).
Ògbóni é um conselho de anciões, está ligado a governabilidade e em manter
a lei, ordem e o código de conduta. O culto a Òró, uma manifestação noturna
de Egúngún, também está relacionado a eles, junto com a caça as mulheres,
ajé (Àjẹ́) que usam a feitiçaria como malefício.
Assim Ògbóni também busca o equilíbrio na relação masculino-feminino mas
de uma forma distinta, contudo, é a Ìyá Nlá que eles temem.

Uma religião dividida


Muitos aqui se questionam porque as pessoas dos cultos de orixá (Òrìṣà) e
demais segmentos desta religião não são unidas. As pessoas de Candomblé
sempre trazem esse comentário sobre a absoluta falta de união das pessoas
desta religião quando comparadas com qualquer outra religião. Porque as
pessoas são naturalmente separadas?
A razão é que, quando a religião foi introduzida no nosso país, os africanos
trouxeram para a prática apenas o culto ao indivíduo, seja através de Orí
como também das divindades. Em uma casa de Candomblé todo o culto é
feito apenas em função do indivíduo e do seu crescimento, sendo que a
comunidade se junta para colaborar entre si com esse objetivo. É esse foco no
indivíduo que, justamente, atrai as pessoas cada vez mais ao Candomblé.
As forças do supernatural estão desta maneira orientadas para esse foco e o
que se perde é justamente a questão social, a união da comunidade de uma
forma mais ampla. Não ha o que reclamar.
Claro que esta é uma visão minha, é minha interpretação do efeito na
sociedade de um aspecto teológico, mas é exatamente isso o que penso.
Sem incorporar os aspectos de harmonia e paz social, os aspectos votados
para sociedade não vai haver união nenhuma, as pessoas estão focadas em si
e no máximo em suas casas de Orixá (Òrìṣà), como uma sociedade maçônica
onde as pessoas se ajudam.

A mulher e o axé (àṣẹ)


Antes de encerrar tenho que relatar um conceito sobre axé (àṣẹ) que é
importante.
A mulher é considerada o receptáculo do axé (àṣẹ), quem recebe e armazena
o axé (àṣẹ), isso possivelmente ligado ao seu caráter de genitora, assim os
yorùbá entendem a mulher como armazenadora.
O homem por sua vez é a ação, a execução. Esse conceito está em Ifá na
interpretação dos Odù, a característica da energia feminina e da masculina.
Assim o homem é a ação.
Esta é a razão do homem ser o Bàbáláwo aquele que é o intermediário, que
dos seus dedos nascem os Odù e das suas mãos são feitos os ebós. O
Bàbáláwo é o exemplo primordial do uso adequado para a energia masculina.
O culto de orixá (Òrìṣà) misturou tudo, hoje todo mundo pode ser tudo, mas,
o de Ifá enquanto se mantêm ligado às suas origens, coloca o homem como o
único de papel de Bàbáláwo, porque esse é de fato o papel que lhe serve
como o movimentador do axé (àṣẹ), seja pelo Tefar como pela execução dos
ebó (Ẹbọ).
O papel do Bàbáláwo é de trabalho intensivo, tefando, falando, fazendo ebó
(Ẹbọ), fazendo sacrifícios, preparando ervas.
A mulher tem sua função projetada de ser o receptáculo do axé (àṣẹ) e por
isso, minha opinião é que são elas os elegun dos orixá (Òrìṣà), o orixá (Òrìṣà)
traz axé (àṣẹ) e a mulher é o receptáculo do axé (àṣẹ). O culto de orixá
(Òrìṣà) enquanto mantendo as mulheres no papel de eleguns de orixá (Òrìṣà)
está correto, esta é a destinação adequada.
Ao homem cabem as ações, fazer os ebós, pegar e preparar ervas, fazer a
música, preparar e executar os sacrifícios. Hoje em dia as pessoas acham que
tudo é preconceito e que tudo pode, mas, falar isso é desprezar o
conhecimento da religião.
A religião coloca as mulheres como elegun. Eu lembro de ter lido que os
africanos dizem que Xangô (Ṣàngó) prefere as elegun mulheres e se homens
são feitos em uma parte da cerimônia eles seriam tratados como mulheres.
Isso me pareceu estranho, mas agora isso é claro. A mulher é o receptáculo
de axé (àṣẹ) e o Orixá (Òrìṣà) vem ao Àiyé para trazer axé (àṣẹ).
Por esta razão, Ifá que ainda se mantêm ligado a usa origem estabelece que o
homem é o Bàbáláwo este é o papel que lhe cabe.
Essa mesma explicação que dei até aqui, justifica porque eles permitem uma
atuação restrita depois que a mulher fica estéril e entra na menopausa, ela
perde a fertilidade e dessa maneira a capacidade de ser o receptáculo do axé
(àṣẹ).
Ainda preserva o poder feminino, o mesmo poder de Óxun (Ọ̀ṣun) e das ajé
(Àjẹ́) e por essa razão ainda condensa poder demais e somente poderá atuar
quando não houver Bàbáláwo para atender. Lembrar que a mulher tem o
poder sobre ajé (Àjẹ́) e sobre os ajogun. Ajé julga as pessoas em suas
reuniões noturnas e somente ataca pessoas que sejam julgadas por elas como
culpadas.
Uma pessoa vai a Ifá com seus erros e acertos e não cabe ao Bàbáláwo julgar
e sim ajudar, o Bàbáláwo é um ministro e não o verdugo. Assim a mulher
com seu poder intrínseco sobre as ajé (Àjẹ́), querendo ou não, não é a melhor
pessoas para confrontar as pessoas e sua natureza humanamente falha.
Para finalizar isso eu digo que não existe sentido no culto de Ifá na presença
da mulher.
A presença da mulher no culto de Ifá se faz através do Igbbàdú, que é a
representação do útero feminino que o Bàbáláwo recebe e como está no
verso, Odù fica guardado no quarto afastada de todos.
Em Òfún Méjì existe uma definição muito importante em relação ao útero
feminino
Não existe em Ifá nenhum verso ou mito colocando a mulher atuando.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) é o Bàbáláwo e Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) somente teve
filhos homens e seguidores homens.

A ligação de Odù com Ìyá Nlá e Onilé (Onílẹ̀)


Antes se seguirmos com mais afirmações, agora relacionadas com Gélede
(Gẹ̀lẹ̀dẹ́) precisamos fazer a ligação teológica que conecta Ìyá Nlá com o
poder feminino e com Onilé (Onílẹ̀) porque essa conexão é a base da
sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) e Ògbóni , desta forma de onde vêm isso?
Temos que voltar ao mesmo Odù osá (Ọ̀sá) Méjì porque dentro do seu textos
é estabelecida esta ligação:
Ela diz, tu Olórun
Ela diz, o Àiyé para onde eles assim vão.
Ela diz, Ògún,
ela diz, tem o poder dos combates, ela diz, ele tem o sabre, ele tem o
fuzil,
ela diz, ele tem todas as coisas para fazer a guerra.
Ela diz, Òbàrisà, ela diz, ele também tem o poder.
Ela diz, com o poder que ele tem, ela faz tudo o que quiser.
Ela diz, é mulher entre eles, ela é Odú.
Ela diz, que poder é o seu?
Olódùmarè diz, qual é teu poder?
Ele diz, tu serás chamada, para sempre, mãe deles.
Ele diz, porque quando todos os três partistes, ele diz, tu a única
mulher retomaste.
Ela diz, a ti, esta mulher, é dado o poder, que faz dela mãe deles.
Ele diz, tu, tu susterás a terra.
Olódùmarè lhe confere este poder.
Ao Ihe conferir o poder, ele lhe confere o poder do pássaro, ele lhe dá
o poder de eleye (ẹlẹyẹ) (proprietária do pássaro).
Quando ele lhe deu o poder de eleye (ẹlẹyẹ) , Olódùmarè diz, está bem.
Ela diz, esta cabaça de eleye (ẹlẹyẹ) que ele lhe deu, ele diz, conhecerá
ela seu emprego no Àiyé?
Ele diz, que ela conheça seu emprego no Àiyé.
Odu diz, ela o conhecerá.
Ela recebe o pássaro de Olódùmarè.
Então ela recebe o poder que ela utilizará com ele.
Ela parte.
Ela está na iminência de partir.
Olódùmarè a chama para que ele volte novamente.
Ele diz, está bem.
Ele diz, retorna.
Ele diz, tu Odú, ele diz, retorna.
Ele diz, quando ela chegar à terra, ele diz, como irás utilizar teus
pássaros, e as forças que ele lhes deu?
Ele diz, como irá ela utilizá-los?
Odú diz, todos aqueles que não lhe tiverem dado ouvidos, ela diz, ela os
combaterá com os pássaros.
Ela diz, aqueles que não vieram pedir-lhe uma indicação,
(aqueles) que assim fizeram,
que não ouvirem tudo aquilo que ela disser,
ela diz, ela os combaterá.
Ela diz, aquele que dela se aproximar para pedir ter dinheiro, ela diz,
ela lhe dará.
Ela diz, aquela que pedir-lhe para gerar
ela diz, ela o concederá.
Ela diz, se tivesse dado dinheiro a alguém,
se, em seguida, ele se mostrasse impertinente para com ela,
ela diz que o tomaria de volta.
Ela diz, se tivesse dado um filho a uma pessoa,
se, em seguida, ela se mostrasse impertinente para com ela,
ela diz que o tomaria de volta.
Ela diz, tudo aquilo que ela fizer por alguém,
se, em seguida, ele se mostrasse impertinente para com ela,
ela diz que ela o tomaria de volta.
Olódùmarè diz, está bem.
Ele diz, nada mau.
Ele diz, utiliza com calma o poder que te conferi.
Se ela o utilizasse com violência, ele o tomaria de volta, e de todos os
homens que te seguirão, faço de ti a mãe deles.
Toda coisa que agradar-lhes fazer, é coisa que deverão anunciar a ti,
Odú.
A partir de então Olódùmarè conferiu o poder à mulher, porque aquele
que então recebeu o poder se chamava Odù.
Ele dá às mulheres o poder de dizer tudo aquilo que lhes agradar.
Sozinho o homem nada poderá fazer na ausência da mulher.
Neste texto de Odù Méjì, fica estabelecida a ligação de Odù com Ìyá Nlá e
Onilé (Onílẹ̀). Olódùmarè diz a Odù que ela vai ao Àiyé que será a mãe deles
(desta maneira a grande mães primordial) e susterá a terra.
Logo a seguir Odù é quem recebe o poder o pássaro e o poder de dar as
coisas às pessoas e de tirar as coisas caso na avaliação dela as pessoas não
sejam merecedoras, estabelecendo assim o conceito de mal teológico.
Os Yorùbá são bastante confusos nesta questão de nomes, não podemos ser
literais, temos que ser elásticos para compreender porque uma mesma coisa
recebe nomes diferentes e assim também o é com divindades que recebem
múltiplos nomes. Olódùmarè é um caso desses, tem vários nomes e isso fez
os primeiros europeus a entenderem que eram vários deuses.
Esse verso antecipa o tratamento que as sociedades Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) e
Ògbóni dão a Ìyá Nlá, ele documenta isso e cria a base teológica. Assim, é
Odù além da esposa mítica de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), Ìyá Nlá e Onilé (Onílẹ̀).
Os versos inclusive dão significado a uma cerimônia do Candomblé,
chamada de Onilé (Onílẹ̀) e que é usada quando se vai fazer uma obrigação
séria em uma pessoa. Nessa liturgia se faz um buraco no chão e se alimenta a
terra com materiais que serão usados nas comidas que serão oferecidas ao
Orixá (Òrìṣà) da pessoa que está passando pela obrigação. Fazer o Onilé
(Onílẹ̀) está ligado com o que será oferecido posteriormente.
O sentido desta cerimônia, no meu entender está ligada a explicação contida
na história na qual Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) vai propor casamento para Odù e
vai a Ifá e os Bàbáláwo indicam que ele faça uma oferenda a terra:
Os Bàbáláwo de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) dizem ei!
Eles dizem, Odù que tu queres tomar como mulher, eles dizem, um poder está em suas mãos.
Eles dizem, (para) esse poder Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) fará uma oferenda ao chão, por causa de
toda a sua gente.
Eles dizem (para que) com seu poder ela não mate e coma, porque o poder dessa mulher é
maior do que o de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Eles dizem a Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) que faça rapidamente essa oferenda sobre o chão.
Eles dizem as coisas que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) preparará sobre o chão.
Eles dizem que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) tenha um rato òkété.
Dizem que ele tenha um rato.
Dizem que ele tenha um peixe.
Dizem que ele tenha um caracol.
Dizem que ele tenha azeite de dendê.
Dizem que ele tenha 8 shillings.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) faz a oferenda.
Quando Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) fez a oferenda, eles consultam ifá para ele.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) leva (a oferenda) para fora.
Ao chegar Odù, ela encontra a oferenda na rua.
Ah! o que veio fazer esta oferenda no chão?
Ah! diz Exu (Èṣù), Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) fez essa oferenda ao chão, porque quer desposar a ti,
Odù.
Odù diz, nada mau.
Todos aqueles que Odù leva atrás dela são as coisas más.
Ela diz que todos eles comem.
Odù também abre no chão a cabaça de Aragamago, seu pássaro.
Ela diz que ele come.
Odù entra na casa.
Desta forma a liturgia de dar comida à terra através de Onilé (Onílẹ̀), feita
pelo Candomblé, obrigatoriamente em suas obrigações, vai ao encontro de
aplacar o mal que vai atrás de Odù, Ìyá Nlá, a ajé (Àjẹ́) primordial e evitar
assim que o mal entre na casa onde será feita a obrigação e que ajé (Àjẹ́)
também não interfira com a obrigação.
O Candomblé não tem o entendimento desta base teológica, mas, faz as
coisas certas e por isso que digo que ele está muito acima das demais
tradições religiosas em termos de liturgias e de compreensão da religião.
Explicações e entendimentos podem ter se perdido, mas as liturgias corretas,
não.
Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) e a paz social
A sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) é um dos pilares da relação da religião com a
sociedade.
Infelizmente o entendimento disso e essa prática não foram trazidos para a
religião na diáspora e isso quebrou um elo da corrente teológica.
Possivelmente as pessoas, africanos, que estruturaram o Candomblé não
deram atenção a isso ou não entenderam a sua importância ou compreendiam
que essa sociedade era algo inerente apenas a sociedade Yorùbá e não teria
sentido no novo mundo. Impossível saber, pode ter sido apenas dificuldade
mesmo, complexidade em excesso.
Minha avaliação é que a falta desse elo levou a essa situação de
distanciamento religioso entre os praticantes e também da sociedade como
um todo.
O Candomblé e demais tradições afro-brasileira se organizaram como um
culto e liturgias voltadas para o indivíduo, mas, fracamente em relação a
sociedade. Essa é uma afirmação que merece restrições. Dentro de uma casa
de Candomblé existe uma integrada e íntima comunidade, os participantes da
casa e não posso dizer que isso não seja integração social.
O Candomblé, distinto de tradições como o Lukumi de cuba, por exemplo se
organizou majoritariamente através de casas, terreiros, como núcleo da
prática, que reúne os praticantes e se estabelece com um núcleo familiar
estendido, a família espiritual que se adiciona a família natural (ou carnal,
como se diz no Candomblé).
Mas as casas não se integram e as casas acabam se excluindo do resto da
sociedade, são muros cercado onde apenas quem está dentro sabe o que
ocorre.
O que atrai tanto nas pessoas a religião do Candomblé?
Sem dúvida o foco no sucesso de cada pessoa. A pessoa entra no Candomblé
e tudo o que a religião oferece é suporte para que ela seja feliz e tenha
sucesso. Existe uma comunidade que se ajuda com esse foco. Tudo gira em
torno disso de ajudar as pessoas, socorrer as pessoas, resolver os problemas
das pessoas. O oráculo esta ali para te orientar e os Orixá (Òrìṣà) para te
socorrer.
Apesar do foco no indivíduo, é impossível praticar sozinho, você precisa da
comunidade em torno de você, aliás, todos dependem de todos.
Suportando tudo isso, Orixá (Òrìṣà) e uma liturgia bem elaborada, sofisticada
e complexa. Este é a tradição religiosa do Candomblé. Mas, o que falta?
Como eu disse no início a integração social.
Mas, Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) não é apenas isso, como vão ver Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) está
ligado a um dos aspectos mais importantes do poder feminino nesta religião.
Aqui no Brasil, por falta de entendimento acabou sendo associado a ajé (Àjẹ́),
como se Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) fosse um culto de ajé (Àjẹ́). Não é nada disso e vou
explica a seguir.

O que é a sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́)?


É um culto de unificação social e familiar, não divide pessoas, uni gêneros e
cultos, não promove privilégios. Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) busca a solução dos
problemas pela paz, amor e entendimento. Não promove conflitos, busca
dissuadir e mudar para obter a solução.
É um unificar social, cria um ambiente de convivência para membros da
família e comunidade, adultos e crianças, homens e mulheres. Ele pune o
sagrado e o profano, o temporal como atemporal, o místico e o histórico.
Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) inspira a maternidade, incentiva a colaboração de gêneros,
encoraja membros da comunidade a interagirem para minimizar os incidentes
e o mal na sociedade humana.
Sua face mais conhecida é o festival público, vespertino e noturno que dura
de 3 a 7 dias e conta com os famosos dançarinos mascarados. Realizar
festivais é uma das estratégias importantes da prática da religião na religião
yorùbá, porque envolve a religião abertamente com a comunidade.
A sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) é aberta a toda a sociedade participar, devido ao
seu objetivo de promover a paz e o bem estar social. Pessoas de todos os
cultos de Orixá (Òrìṣà) participam e os festivais são tolerados por cristãos e
muçulmanos.
É um culto muito popular entre as mulheres, devido o tipo de problema que
propõe a resolver, mas, homens também recorrem e participam do culto. As
mulheres procuram fertilidade, os homens virilidade.
Não existe incorporação ou segredo. Os dançarinos dançam e são
reconhecidos, as máscaras não escondem o rosto (diferente de Egúngún).
Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) é uma abordagem de amor e boas intenções e é bem
diferente do caráter punitivo do culto de Oró.
A busca da Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) é pelo ìrẹ́pọ – harmonia social. O foco e no
convencimento e não na punição.
1. Montar um local e oferenda para aplacar Ìyá Nlá
2. Dança e música para entreter o público e aplacar ajé (Àjẹ́).

A base da sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) é definida por algumas palavras


importantes de significa complexo.
Ifọgbọ́ntaayéṣe
Estratégias sociais para promover paz, felicidade e união
Para isso depende de amor, tolerância e justiça, a religião que que tenhamos
Ìwà.
O importante para a sociedade é a união: Àṣùwàdà
Uma das práticas da sociedade é o que eles chamam de Àyájọ́ Àṣùwàdà, que
significa um encantamento coletivo para proteger a comunidade. Toas as
coisas vivas vivem em comunidade, as formigas, os elefantes, as algas, as
baleias, as plantas e árvores. A comunidade é a substância da bondade.
O indivíduo é importante, é a unidade da vida social, mas é parte de um todo
e necessita estar junto de outros para se sentir inteiro e completo.
Existe através de Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) a orientação para cooperação entre jovens
e velhos. Todos os membros da comunidade têm suas responsabilidades e a
necessidade de respeito mútuo e cooperação. Ninguém é auto-suficiente.
Todos têm que cultivar as virtudes de:
Confiança
Caráter
Coragem
Moderação
Precaução
Perseverança
Tolerância.
Aqueles que se desviam das normas ou código moral são punidos com
multas
ostracismo
ridículo público
castigos
Mas, o envolvimento feminino inicia através da divindade que é e referência
nesse culto que é Ìyá Nlá, mas, alguns comentários importantes.
Na região yorùbá existem muitos mascarados e muito pouco padronização.
Tudo lá é muito regional, considerando regiões pequenas, inclusive. O
espalhamento horizontal gera bastante variação da mesma coisa, de forma
que, ao analisar a questão Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) vamos esbarrar com vários
modelos e mitos distintos e especializados. Em cada região ou cidade as
coisas mudam. Assim, tratarei aqui do que é bem comum a tudo.
Voltando a divindade principal ela é Ìyá Nlá. Identificada também como Ilẹ̀,
a terra, a mãe terra que representa o poder feminino, sua energia fundamental.
Isso é muito interessante porque mostra também na religião yorùbá essa
identificação da terra como uma divindade. Estamos tão acostumados a
apenas lidar com Orixá (Òrìṣà) que acabamos esquecendo de outras
divindades não Orixá (Òrìṣà), os inrumolé (Irúnmọlẹ̀). Ilẹ̀ é um inrumolé
(Irúnmọlẹ̀), não é um Orixá (Òrìṣà).
Chamo a atenção sobre esse culto a terra porque isso está em muitas religiões
não cristãs. A religião yorùbá tem muitas divindades Orixá (Òrìṣà), todos
sabemos disso, são dezenas ou centenas. Conforme eu já comentei, a
quantidade de Orixá (Òrìṣà) ou quem são não é relevante, o aspecto regional
pesa muito e orixás mudam de nome ou surgem novos. Repito, quem ou
quantos, não importa, o que importa é que Olódùmarè sempre coloca um
Orixá (Òrìṣà) para nos cuidar, os Orixá (Òrìṣà) são seu vínculo com nós e
vice-versa.
Mas aqui na sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) e Ògbóni surge, finalmente a
importância da terra como um grande espírito.
Ìyá Nlá é Ilẹ̀, a terra, a mãe terra e como a terra é da criação do mundo é a
energia fundamental feminina. A terra é a mãe principal, a mãe primordial,
que alimenta os homens e a sociedade. Ela é a mãe generosa.
Mas, vamos relembrar um conceito importante do cosmo Yorùbá que é a
dinâmica da interação entre opostos, assim na teologia temos Céu e terra, dia
e noite, homem e mulher, corpo e alma, vida e morte.
De acordo com a teologia, o mundo físico evolui entre o bem e o mal.
No seu aspecto sombrio, a grande mãe Ògbóni, Ilẹ̀ se torna irascível e traz a
morte a seus filhos. Nesse aspecto sombrio Ilẹ̀ vira Ọ̀gẹ́rẹ́. Temos acima
visão ambivalente da sociedade frente a terra:
ile x Ọ̀gẹ́rẹ́
Isso é o potencial explosivo da relação homem-mulher em uma sociedade
masculina a necessidade de exercer a diplomacia.
As sociedades Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) e Ògbóni se revestem dos mesmos objetivos,
mas de forma um pouco distintas. Mas em qualquer caso, ambas as
sociedades, com instrumentos um pouco diferente e objetivos taambém,
querem:
Pacificação e equilíbrio do espírito feminino
A sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) surge da visão Ògbóni de que todos somos
Ọmọ Ìyá, filhos da mesma mãe. A sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) tem o objetivo
de sensibilizar a mãe natureza, Ìyá Nlá, para os problemas dos filhos desta,
atraindo assim sua responsabilidade maternal.
Nos grandes festivais que duram de 3 a 7 dias e antes do qual são realizados o
festival do Orixá (Òrìṣà) Yewájọbí da região associado ao festival.
Os festivais são bastante regionalizados, mas, eles tem em comum:
Ìyá Nlá
aplacar ajé (Àjẹ́)
Orixá (Òrìṣà) Ọlọmọwẹ́wẹ́
Àbíkú
Mascaras
Òjá
Tornozeleiras
Homens vestidos de mulher
Tudo isso é compatível com as descrições que temos nos versos dos Odù de
Ifá.
Assim a divindade base da sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) é o poder feminino,
representado por Ìyá Nlá, a mãe de todos, a terra primordia, a provedora, mas
acima de tudo a mãe a energia feminina. A ambivalência faz com que essa
energia feminina se manifeste de duas faces, a sombria, ou cobradora de
atitudes e comportamento e a face doce de mãe protetora.
Ilẹ̀ vira Ọ̀gẹ́rẹ́, mas, mais uma vez, não se preocupem com nomes e em
decorar nada e em imaginar que tem mais uma divindade, eu já expliquei
sobre isso, a quantidade de divindades que existem é irrelevante, a
cosmogonia existe para entendermos o conjunto.
O poder feminino pode se tornar agressivo sobre nós, mais uma vez, Ifá é a
referência, os versos de osá (Ọ̀sá) Méjì explicam isso para o Bàbáláwo. Odù,
com o beneplácito de Olódùmarè se torna aquela que tira o que deu,
manifestando assim o mal teológico na religião.
Ajé (Àjẹ́) é assim, a manifestação do poder feminino em seu lado agressivo e
sombrio e por essa razão é que existe uma ligação de Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) com
ajé (Àjẹ́), ligação indireta. Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) trabalha para controlar a ira
feminina, a energia feminina que se descontrola. Ajé (Àjẹ́) é a ira de Ilẹ̀.
Em uma sociedade machista como a Yorùbá, existe um grande potencial da
relação homem-mulher se descontrolar.
Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) busca através de Ìyá Nlá o aplacamento do mal teológico, a
grande mãe é quem protegerá seus filhos.
No processo de fazer isso o festival se desenvolve tendo no centro dele a
união da sociedade em um momento de felicidade e dança. Os mascarados
usam máscaras especialmente feitas por pessoas designadas e que, cada uma
delas tem uma finalidade, as máscaras são contextuais, mas, isso não é o tema
aqui.
Os elementos básicos da sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) para se proteger de ajé
(Àjẹ́) e do mal teológico, são: os idés de metal, o pano de cabeça – Gẹ̀lẹ̀, o
pano para carregar a criança – Ọja, os aros de metais nos pés – Idẹ e a dança.
Por toda a região yorùbá os aros de metal, mais de um, de ferro ou bronze,
colocados nos pés é um conhecido elemento de proteção contra ajé (Àjẹ́). A
presença do metal ou seu barulho feito enquanto dançam é a proteção contra
ajé (Àjẹ́).
Esses aros são usados também em crianças para evitar a mortalidade infantil,
visto que ajé (Àjẹ́) é responsável por isso.
Como eu disse, antes, mulheres recorrem a sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) para
terem fertilidade e protegerem seus filhos de mortalidade infantil, estes são,
talvez os 2 principais motivos que as levam à sociedade. O aspecto de
proteção de mortalidade infantil liga a sociedade a 2 divindades, ajé (Àjẹ́)
como já citei e aos Àbíkú. Existe uma grande proximidade da sociedade
Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) com a questão dos Àbíkú.
Junto as manifestações da sociedade existe sempre o chamado Orixá (Òrìṣà)
Ọlọ́mọwẹ́wẹ́, que é um nome genérico dado a mais de um Orixá (Òrìṣà) que
está ligado a crianças e a sociedade egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Em muitos
lugares antes do festival Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) é feito o festival dedicado ao Orixá
(Òrìṣà) Ọlọ́mọwẹ́wẹ́ da região.
No sentido de buscar essa proteção existem duas cerimônias interessantes que
eu próprio já lancei mão, com sucesso. A primeira é a de lavar as crianças no
Rio na primeira hora da manhã quando as águas do Rio ainda não foram
tocadas. Quem já esteve e um Rio nesse horário sabe que a água é
completamente diferente.
A cerimônia no rio, de lavar as crianças, deve contar com a intervenção do
Orixá (Òrìṣà) Ọlọ́mọwẹ́wẹ́ e é usada para prevenir doenças e afastar a morte.
Lembro que além do rio estar ligado a Orixá (Òrìṣà) feminino, vários,
também o rio está ligado a sociedade egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).
A segunda é uma cerimônia radical de fertilidade, quando a mulher precisa
muito de filhos e é feita usando imagens de madeira Eré. A mulher e o
marido vão dançar no mercado, vestidos de forma especial e usando as
imagens.
Minha experiência em ambos os casos foi muito positiva, isso funciona de
fato.
O aspecto da dança é importante quando lidamos com ajé (Àjẹ́). Faz parte da
ritualística de oferecimento para ajé (Àjẹ́), dançar e cantar, ajé (Àjẹ́) gosta
quando se dança, é uma manifestação importante que traz o aplacamento de
ajé (Àjẹ́). Existem cantigas específicas que se faz para ajé (Àjẹ́) quando se
oferece para elas e no caso da sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́), que busca o
aplacamento de ajé (Àjẹ́) para toda a comunidade a dança o momento de
alegria e interação é o fator determinante.
O clima do festival é festivo, as pessoas interagem, como eu disse devem se
gostar e se amar. Ajé (Àjẹ́) ao perceber esse ambiente muda sua face obscura
para sua face alegre e vai trazer a solução que as pessoas esperam. Isso não é
invenção, esse aspecto mutável de ajé (Àjẹ́) esta documentado no Odù Ogbè
osá (Ọ̀sá), como eu disse para aprender teologia as pessoas precisam estudar
teologia e isso os Bàbáláwo tem acesso devido a Ifá.
Como Bàbáláwo eu conheço e já vi muita gente fazendo coisas para ajé (Àjẹ́)
porque a oráculo recomendava, mas, infelizmente a maior parte do que vi era
de placebos, as pessoas não buscavam informação e não sabiam o que fazer e,
o que faziam não tinha nenhum efeito. Elas lidavam com ajé (Àjẹ́) como se
estivessem lidando com outros espíritos, ou Egúngún ou Orixá (Òrìṣà) e isso
é inefetivo.
O uso dos Idẹ é um clássico associado a Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́). Mais uma vez, um
clássico desconhecido por muitos. Historicamente existem referências que
esses Idẹ seriam originalmente de búzios e estariam ligados a Olookun, mas,
depois, com o desenvolvimento da metalurgia do bronze foram convertidos
para bronze, com alguma ligação com Óxun (Ọ̀ṣun) nisso, um Orixá (Òrìṣà)
ligado tanto a água quanto às crianças.
Os Idẹ são um símbolo importante e são usados por todos os mascarados e
pelas crianças ainda no berço. O barulho é um proteção contra espíritos ruins,
contra o mal. Ikú é afastada colocando-se uma galinha viva, arrepiada que
deve ficar cantando. O barulho metálico afasta o mal, os Àbíkú são afastados
por barulho. No Candomblé, a pessoa que está passando pela feitura usa
como proteção um Xaorô, um guizo amarrado com palhas aos seus pés.
Desta maneira, a sociedade Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) é orientada a cuidar da
coletividade, de atenuar as tensões e de buscar o equilíbrio da energia
feminina quando ela se descontrola. A presença dos homens como dançarinos
é devido a duas coisas, primeiro a isso, os homens agradando a Ìyá Nlá para
obter a sua misericórdia e por outro eles substituem as mulheres que não
querem fazer o pesado trabalho de dançar e carregar máscaras e roupas. Não
existe proibição de que mulheres também sejam dançarinas.
Mulheres não podem ser sacerdotes
em Ifá
Esta afirmação é baseada em tudo o que já apresentei até agora.
Voltando ao início deste livro eu disse que ha 20 anos atrás a informação que
todos tínhamos era de que somente mulheres inférteis poderiam ser Iyanifa.
Posso agora voltar a esse tema.
É isso mesmo essa informação já estava correta ha 20 anos.
Como está explicado em Ifá no Odù osá (Ọ̀sá) Méjì, enquanto a mulher tiver
um útero e atividade, fértil esse útero domina a mulher é o útero que tem a
posse de sua vida, mas, mais tarde quando ela estiver estéril, ela será a dona
de seu útero. Desta maneira sob o ponto de vista religioso ela não é mais uma
mulher, mais uma outra coisa. Nesse estado, não sendo mais uma mulher e
não tendo ela o útero que a possui ela pode se iniciar em Ifá.
Essa posição de mulher sacerdote é uma violação do princípio básico de
equilíbrio da religião. A Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) foi dado o poder do oráculo e
à sua união com Odù foi trazido o poder feminino.
Não se trata apenas de ficar interpretando versos ou aceitar a história que está
em Orangun méjì. Trata-se de entender que não é possível sob o ponto de
vista teológico se reunir em uma única pessoa as duas coisas, uma mulher em
atividade fértil feminina não pode ser detentora de 2 poderes isso é romper
com os princípios da religião e da própria sociedade.
A iniciação de uma mulher em Ifá seria concentrar em uma única pessoa os
dois poderes, o do axé (àṣẹ) e o da execução e isso é contra o conceito de
equilíbrio que é base do axé (àṣẹ) e base de toda a teologia desta religião. O
sacerdote de Ifá é diferente do sacerdote de Orixá (Òrìṣà), o Bàbáláwo tem o
poder de Odù, de manipular a energia de Odù, coisa que não existe para o
sacerdote de Orixá (Òrìṣà) porque ele não é iniciado para isso. As iniciações
são muito diferentes, não tem nada a ver um processo com outro.
O Igabdu e´o útero feminino que o babalawo recebe, como está no verso,
para poder ter o axé para o seu trabalho. É a mulher quem recebeu o axé de
Olodumare é ela quem tem o poder do axé e o poder quase absoluto de fazer
o que quiser, o que sua consciência indicar e, isso, com a delegação de
Olodumare.
Para que o Babalawo pode exercer sua função ele se casa com Odù e esta lhe
confere o seu poder, com as condições que estabeleceu. O Igbadu é o útero
femino que traz o poder para que o Babalawo possa fazer seu trabalho e
apesar de não ser necessário que todo Babalawo tenha um Igbadu, ele não
nasce como Babalawo sem esse útero.
Uma mulher somente poderá ser Iyanifá quando não mais tiver um útero
fértil, quando seu corpo for equivalente a um homem. Ela tem que passar a
vida toda aprendendo para, somente quando ficar igual a um homem poder
eventualmente atuar com a consulta ao oráculo. Isso torna a aquisição desse
sacerdócio totalmente desmotivante para as mulheres.
Observem que um Babalawo não é nada de especial, é apenas um sacerdote
comum. Ele tem a única função de ser o mensageiro de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà), o Babalawo é apenas mais um operário.
Além disso, uma simples observação dos versos de Ifá mostrará que:
Em nenhum verso existem mulheres que consultam o oráculo.
Toda consulta é feita por homens.
Orunmila nunca teve filhas, apenas filhos.
Orunmila nunca teve mulheres como aprendizes.

Eu conheço os dois processos, fui de Candomblé e sou de Ifá. Participei de


várias feituras de Orixá (Òrìṣà) e obrigações e fui iniciado e consagrado em
Ifá. Existem alguns pontos em comum no processo, mas diferenças muito
grandes, tratam-se de finalidades diferentes.
A questão do poder do útero que quando fértil é quem controla a mulher está
no centro disso tudo. O Odù Òfún Méjì explica isso aos Bàbáláwo. No Odù
osá (Ọ̀sá) Méjì, conforme já explicado, define o poder feminino, mas o útero
volta no Odù Ìrsòsùn Méjì com o poder do sangue mestrual, em Òdí Méjì
quando esse poder sai da mulher e finalmente no Odù Oturupon Méjì que
trata do segredo da Placenta a memória de ajé (Àjẹ́).
O poder de ajé (Àjẹ́) se conduz com esse sangue e em período pré-menstrual
e menstrual a mulher é uma pilha de energia, mulheres fazem feitiços para
homens apenas usando roupas com esse sangue e não existe em Ajé (Àjẹ́) a
prática de fazer trabalhos, basta a mulher pensar ou desejar, o poder de ajé
(Àjẹ́) é inerente a elas.
Como explicado o culto Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) e o Ògbóni se dedicam a aplacar e
equilibrar o poder feminino, porque está nos dogmas desta religião a
dualidade das energias e tudo tem sua manifestação calma e agressiva, assim
é com Odù-ajé (Àjẹ́).
Como está na história do Igbàdú, Odù jamais se apresentou às mulheres e
quando isso ocorreu todas morreram. Odù apenas se apresenta ao Bàbáláwo.
Não se trata aqui de considerar apenas que a mulher pode ser iniciada, mas
não verá o Igbàdú, essa é uma compreensão idiota, não existe Bàbáláwo sem
Odù. O que esta história define é essa separação fundamental entre Ifá e as
mulheres no nível sacerdotal.
Ifá está ligado ao equilíbrio e a energia feminina, todo esse livro foi para
mostrar e explicar isso, mas, conforme também expliquei longamente não
existe possibilidade teológica de iniciação de mulheres.
Este é um equilíbrio que não pode ser quebrado no equilíbrio dessas energias.
Para aceitar a iniciação de mulheres um Bàbáláwo teria que fazer 2 coisas. A
primeira é jogar no lixo o que está escrito em Orangun Méjì. A segunda é
ignorar um princípio que norteia a sociedade e a religião. Entender o
equilíbrio masculino e feminino é tão importante quanto entender o que é axé
(àṣẹ).
Dessa forma não acredito e não aceito em iniciações para Ìyánifá ou qualquer
outro neologismo que se invente sobre isso.
Iniciação de mulheres no Ifá cubano
Conforme citei no início deste livro a tradição cubana de Ifá criou uma
posição para a mulher quando transformou a posição de Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí),
esposa do Bàbáláwo em um cargo feminino.
A seguir eu transcrevo um PATAKI que está no Odù Odi Méjì de tratados
cubanos de Ifá. Os pataki são diferentes de versos de Ifá, são histórias muitos
diferentes, mas, os pataki são a base do Ifá cubano e desta maneira são a
referência a ser usada. Vou manter no original cubanês porque é muito
complicado de traduzir.
Orunmila vivía con Yemayá, la cual en el traspatio de su casa tenía una cazuela de
brujo, con 3 cabezas de Eggún (muertos), pero ella no le había dicho nada a Orunmila
sobre aquello y se lo ocultaba, ella aprovechaba cuando él no estaba para trajinar con
su cazuela de brujo y hacer diferentes obras y hechicerías.
En el patio de la casa había una gran vegetación y allí era donde Yemayá tenía su
fundamento. En ocasiones Orunmila le veía ir para aquel sitio y cuando regresaba, que
le preguntaba que era lo que ella hacía allí, ella le respondía que buscando especies
para la comida y así pasaban los días.
Llegó el tiempo en que Yemayá viendo que Orunmila desconfiaba de ella, ideó sembrar
berro en el patio de la casa y otras hortali¬zas y le recomendó a Orunmila que cuando
ella no estuviera al tanto de las hortalizas, no dejara a nadie que cogiera de las
mismas.
Orunmila había hablado con ella para que cogiera su ikofafun, pero ella siempre
rehusaba, diciendo que más adelante, que todavía no era el tiempo en que ella tenía que
cogerlo.
Un día Orunmila sale y Yemayá se pone en los trajines de su cazuela de brujo y él al
regresar a la casa, notó un mal ambiente dentro de la misma y decidió hacerse un
Osodde en ese momento, viéndose Oddí Meyi y le marcó ifá: arun elese Eggún burukú.
También le indicaba este Oddun que no podía comer berro y las demás hortalizas que
estaban sembradas en su casa.
Después de esto Orunmila llamó a Yemayá y le dice: mujer hay tres muertos (Eggún
meta) en la casa. Yemayá se turbó y no sabía que hacer y le dijo: no lo entiendo, hoy
aquí no ha estado nadie. Entonces Orunmila le dijo: si es así, tú eres la que trajinas con
muertos. Yemayá se negaba pero era tanta la insistencia de Orunmila y viendo que
podía traer malas conse¬cuencias seguir ocultando su secreto, sacó la prenda de donde
la tenía y se la enseñó.
Orunmila le hizo Osodde a Yemayá y le vio este Oddun, que le decía que su mujer lo
que tenía era una cazuela de brujo y le traería pérdida a ambos y le indicaba que le
dieran camino en un río. Así se lo explicó Orunmila a Yemayá.
Yemayá, a regañadientes pero viendo las razones de su esposo, tomó la cazuela de
brujo e hizo todo lo indicado, al regreso Orunmila le dijo: para tú vivir conmigo lo
único que necesitas es tener ikofafun, que es el verdadero fundamento para la mujer de
Orunmila
Esta história descreve Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) casado com Iemanjá. A
referência a Iemanjá é muito importante da tradição religiosa afro-cubana, lá
tudo é Iemanjá e desta forma é bem natural eles colocarem, de forma inédita,
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) junto com Iemanjá.
Na história, Iemanjá vivia com Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) mas tinha suas próprias
atividades espirituais, por sua conta que de acordo com os cubanos envolvia a
feitiçaria e trabalhos.
Quando Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) descobre isso ele coloca um ponto final nisso
dizendo que para ser sua mulher, para viver com ele somente poderia estar
ligada a Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), deixando de lado essas atividades de feitiçaria,
fazendo a cerimônia de Ikofafun que, segundo o tratado é o verdadeiro
fundamento para a mulher de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
O pataki a seguir, no mesmo Odù continua essa história, agora com outra
personagem, Óxun (Ọ̀ṣun).
Ikú, (la muerte), convivía con Odduduwa y era el que le custodiaba el ifá, pero Ikú
estaba enamorado de Oshún lario y siempre la estaba cortejando, para ver como podía
ganarse el amor de Oshún lario, siempre le estaba dando muchos secretos y entre éstos
le entregó dos addeles (ikines) de los que Odduduwa tenía en su casa.
Pero resultó que ni con esto consiguió Ikú que Oshún lario le favoreciera con sus
amores, por el contrario Oshún lario a quien le correspondía el cortejo fue a Orunmila
y cuando Ikú se enteró de esto se puso tan bravo, que determinó llevarse a Ozun lario.
Todos los días Ikú le mandaba sombras malas a Oshún lario y ésta siempre se estaba
sintiendo mal. Ella estaba embarazada de Orunmila y sentía miedo de que Ikú acabara
con el hijo que iba a nacer. Entonces, como ella era muy amiga de Yewá, le llevó un
pescado fresco de regalo y empezó a llamarla.
"oromi oromi Omó yeye (2 veces)
Oro Yewá Omó yeyé
Omó do omí sharo Yewá oe
Omó waniba Omó ey
Entonces Yewá llegó donde estaba Oshún lario y venía con oboni oshe yakata , que era
una cesta muy bonita que estaba forrada de cuentas de Orunmila y se puso a camino
con Oshún lario a casa de Orunmila , cuando llegaron éste le hizo Osodde a Oshún
lario y le salió éste Oddun, Oddí Meyi , e ifá le dijo que, para que el niño naciera, había
que darle ikofafun a Oshún, que era un secreto muy grande y que ella tenía el secreto,
que eran los dos addele que le había dado Ikú que eran de Odduduwa y entonces Oshún
lario le entregó los dos addele y orun meta los puso en el piso y arrodilló a Oshún lario
detrás de la puerta y empezó a cantar:
Biti biti bitere
Eyi Meyi alanole ikofafun
Mara lori omafa
Y se los puso en las manos a Oshún lario y Orunmila llamó a Awó akide y Awó asheto y
Awó Awó que eran los hijos de Yemayá, para que le levantaran y consagraran el
secreto del ikofafun a Oshún lario y le dieron chiva y gallinas negras y el día de itá
atifa¬ron con una cesta y empezaron a cantar:
Aboni oshe yakata
Adelenifa abiti
Ala ikifafun iyami ifareo
Entonces movían los addele en la cesta y Oshún lario cojía hasta que sacó Oddun
toyale que fue Oddí Meyi y entonces le entregaron a Ozun lario el secreto del ikofafun y
así se salvó Oshún y todas las mujeres y los hijos de ellas nacían y se le entregó el
primer secreto de ikofafun en el mundo.
Donde la primera mujer que lo tuvo fue Oshún lario, gracias a Yewá y a Orunmila
Yemayá era apeterbí pero no tenía ikofafun sino el gran secreto de adelewanifa felo.
Nota: la verdadera forma de dar ikofafun es haciendo el ifá con aboni oshe yakata. Esto
se hace poniendo el ifá del padrino en la cesta y después de moyubar, se sacude la cesta
por tres veces y se dice:
Aboni oshe abetolawo
Adelenifa biti
Entonces se lanza ligeramente al aire los addeles de ikofafun que están junto con el ifá
del padrino y se dice:
Alaikofafun iyami ifare
Donde la mujer coge los addele en el aire. Si escoge none, cual¬quier número que sea,
se marcan dos líneas; si coge pares, se marca una sola línea. Esto se hace hasta
completar el Oddun toyale. Y entonces después no coge más, el padrino continúa
normalmente para sacar el iré o osobo, empleando los igbos
Para hacer esta ceremonia los ikofafun tienen que comer chiva junto con el ifá del
padrino.
Esta cesta se puede heredar en la muerte del awó dueño, pero hay que volverla a lavar
y darle de comer 2 palomas y el cuerpo de las mismas se mandan para la Ceiba.
Adelewanifa toloi. Se prepara a la madre del awó cuando ésta va a levantarle el ifá al
hijo o una mujer de mucha confianza que el awó designe para ser apeterbí.
Esto es que se lava una mano de 21 addele de ifá y se le da de comer chiva en el ifá.
Esto se le da a la mujer para que lo adore y el ikofafun que se le da lo guarda el awó
junto a su ifá.
Si es la madre y el awó tiene Odduduwa, el ikofafun lo guarda con la mano de
Odduduwa. Si la mujer es hija de Shangó, el ikofafun vivirá dentro de Shangó y así
Shangó se siente contento.

Neste pataki, se define bem a relação da mulher com o Ifá cubano.


Óxun (Ọ̀ṣun) esposa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) estava em perigo sendo
assediada pela morte ou flertando com ela. Em determinado momento, para
poder escapar da morte ela pede a ajuda de Yewa, que na Santeria cubana é
um Orixá (Òrìṣà) ligado ao cemitério, a morte.
Com a presença de Yewa, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) consulta Ifá para Óxun
(Ọ̀ṣun) e determina que para salvá-la tem que dar a Óxun (Ọ̀ṣun) o segredo
do Ikofafun. Mas Óxun (Ọ̀ṣun) já havia recebido de Oduduwa um segredo de
Ifá com 2 ikins. Cabe comentar que Oduduwa é outro Orixá (Òrìṣà) da
Santeria cubana ligado a morte.
Com o trabalho de 3 filhos de Iemanjá, sem envolvimento de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) seu esposo (ou par), Óxun (Ọ̀ṣun) passa pela cerimônia de
Ikofafun, recebendo esse “segredo”.
No pataki tem uma descrição interessante da cerimônia de Ikofafun onde não
é sacado o Odù em Ifá pelo Bàbáláwo, os ikins são jogados para o alto e a
mulher pega antes que caiam na cesta, se ela pegar impar é 1 traço se pegar
par são 2 traços.
A base da iniciação de uma mulher está então definida nesse Odù e nesses 2
pataki.
Meu primeiro comentário é que estamos tratando de uma cerimônia voltada
para salvar a mulher da morte, seja nesse pataki seja no anterior. Basicamente
um processo de purificação. Não existe na descrição qualquer ritualística
especial e a relação entre a mulher envolvida é com Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e
não com Ifá. A cerimônia de ikofafun não passa nenhum segredo de Ifá ou
mesmo algum poder.
Observem que a mulher recebe apenas 2 ikins e esses ikins não foram dados
através desta cerimônia, eles vierem de oduduwa. Além disso como está na
descrição todo o trabalho é feito em uma cesta decorada com contas de
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), não estamos lidando com ópon Ifá (Ọpọ́n Ifá).
Nota: la verdadera forma de dar ikofafun es haciendo el ifá con aboni oshe yakata. Esto
se hace poniendo el ifá del padrino en la cesta y después de moyubar, se sacude la
cesta por tres veces y se dice
Igualmente toda a relação desta mulher com Ifá ocorre através de Orixá
(Òrìṣà). Observe que Oduduwa, Yewa e Iemajá estão envolvidos, Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) pouco é citado neste pataki, apesar do filho de Óxun (Ọ̀ṣun) ser
de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Desta forma, baseado no pataki, não posso estender o entendimento de que
uma Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí), sob o ponto de vista cubano, tenha alguma relação
com Ifá, para ser um cargo e que essa iniciação Ikokafun transmita algum
poder ou segredo. Tudo o que foi descrito se enquadra mais em uma liturgia
para salvar a mulher da morte e de problemas aproximando-a de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà).
O entendimento cubano de que Apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí) seja uma iniciada ou parte
de culto não se sustenta a este pataki.
O que a mulher pode fazer em ifá?
Após todos esses textos, explicações e opinião, muitos podem surgir com
essa questão. Não vou deixar de responder.
O que acho que mulher não deve fazer em Ifá é o que nigerianos e cubanos
querem que elas sejam, apenas empregadas domésticas deles. Ser Apétebi
(Apẹ̀tẹ̀bí) é primariamente isso na visão dos estrangeiros.
Ha, sim, elas também cozinham, seja as comidas de axé (àṣẹ) como
principalmente as comidas de “branco”.
Se você, mulher, se satisfaz com isso, ok, Ifá será um bom lugar para você.
Sobre comida de axé (àṣẹ), que no Candomblé, culto de orixá (Òrìṣà) é uma
coisa importante, requer conhecimento, confiança e tem até cargo para isso,
lembro que pouco se cozinha para orixá (Òrìṣà) em Ifá, não existe
complexidade e volume.
O que as mulheres deveriam fazer?
Conforme descrevi e fundamentei ao longo de dezenas de páginas, mulheres
não podem ser sacerdotes de Ifá. O sacerdócio é masculino que herda o poder
feminino e sem o poder feminino não existe um Babalawo.
Mulheres podem aprender Ifá. Não existe nada que impeça qualquer pessoa
de aprender Ifá, não existe segredo, não existem proibições para isso.
Qualquer mulher que queira conhecer as mensagens de deus para nós, que
queira aprender a analisar essas mensagens pode fazê-lo. Podem inclusive
aprender em uma casa de Ifá como se interpreta, como se analisa os versos.
Não existem impedimento para mulheres que saibam Ifá para participar de
interpretação de consultas. O impedimento é o de elas realizarem a consulta
porque não são sacerdotes, mas uma vez que exista um sacerdote fazendo a
consulta elas podem com o conhecimento de Ifá auxiliar na consulta.
Podem trabalhar junto com o Babalawo na preparação dos ebós e ajuda-lo no
procedimento, mas, o procedimento será operado pelo Babalawo. Inclusive
executar os ebós e sacrifícios, mesmo no Candomblé é algo feito
majoritariamente por homens e está ligado a energia masculina.
Mulheres podem aprender e usar búzios como oráculo, e podem usar os Odù
Méjì, podem aprender a rezar em Ifá, podem semanalmente fazer oferenda de
obi (ou coco) para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e sim deveriam preparar oferendas e
ebós. Não existe razão para o Bàbáláwo não fazer tudo o que uma mulher faz
como atividade, mas, todo mundo precisa de ajuda ter uma apetebi (Apẹ̀tẹ̀bí)
pata manter a casa preparada para uso é importante.
Assim como relatei que nos versos não existem mulheres consultando Ifá
através de Opele e Ikin e que, também, Orunmilá não tem filhas e nem
aprendizes mulheres, Orunmilá sempre se casa e sempre tem filhos. O núcleo
familiar faz parte do mundo do Babalawo e a mulher faz parte da vida do
Babalawo.
Repetindo para encerrar, mulheres não podem ser sacerdotes enquanto tem
útero fértil, mas, podem aprender Ifá e trabalhar junto com um Babalawo e
posteriormente se consagrarem em Iyanifa.
O mesmo se aplica a essas pessoas que fazem cerimônia de Awofakan, afinal,
o que eles aprendem?i
RESUMO DO LIVRO
Este livro apresenta de forma extensiva as referências sobre a mulher e poder
feminino da forma como estão especificados na teologia Yoruba através dos
versos de Ifá, mitos e da própria sociedade.

A religião Yoruba é bastante completa e complexa, possui vários cultos


especializados, alguns abertos para todos, como os cultos de orixá e outros
mais fechados e com restrição de gênero em seus dogmas, como o culto de
Ifá, a sociedade Ogboni, o culto de egungun, o culto de Oro e o culto de Ajé.
Hoje em dia a ortodoxia perdeu importância para o mercantilismo religioso,
não importa mais a teologia, os fundamentos religiosos e sociais. O que
importa são os dólares e os euros. As pessoas não querem mais saber o que é
certo ou a verdade, isso não interessa.

Mas, em religião tudo tem motivo, nada é por a caso e por esta razão que as
coisas e a vida sorri para uns e não para outros.
Este livro faz parte de uma série de livros que vão compilar a teologia, a
cosmogonia, a cosmologia e a teodicéia da religião Yoruba.

Nada neste conteúdo passou por processo criativo, tudo é baseado em Ifá,
está documentado em versos ou faz parte da oralidade. Todas as fontes
disponíveis foram usadas para consolidar e organizar o conhecimento da
teologia.

O objetivo deste livro é mostrar a enorme importância do poder femino da


teologia. Em uma sociedade patriarcal e machista a religião estabelece que
emana da mulher a fonte do poder máximo de deus, de maneira que apenas
através da cooperação a sociedade pode viver e evoluir.
A religião Yoruba é baseado no equilíbrio e na dualidade, conhecer o poder
feminino permite compreender isso de forma absoluta.

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